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Texto 01 - Arranjos Monetários Internacionais. EICHENGREEN, Barry

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ARRANJOS MONETÁRIOS INTERNACIONAIS - BARRY EICHENGREEN
Os arranjos monetários internacionais, bem sucedidos, apresentam certos atributos comuns, que sintetizam as vantagens dos dois regimes cambiais básicos, ou seja o regime de taxas fixas e o regime de taxas flutuantes:
Capacidade de ajustamento de preços relativos
Adesão de todos os participantes a regras monetárias robustas
Habilidade para conter pressões de mercado
O primeiro atributo incorpora a vantagem de se adotar taxas de câmbio flexíveis, enquanto os outros dois são formas de limitação da volatilidade cambial que poderia resultar destas taxas.
Capacidade de ajustamento de preços relativos
Quando ocorre uma queda na demanda por bens exportáveis de um país, torna-se necessária uma queda nos preços relativos desses bens para se evitar o surgimento de desemprego e problemas no balanço de pagamentos. Esse ajuste é feito quase que automaticamente pela variação na taxa de câmbio (no caso depreciação), quando ela é flexível.
Se as taxas de câmbio são realmente fixas o peso do ajuste recai totalmente sobre os preços internos. Quando as taxas são fixas, mas reajustáveis os choques externos mais fracos são absorvidos por meio de ajustamento de preços internos, mas quando os choques são excepcionais poderá haver variação no câmbio anteriormente fixado, para evitar-se queda na demanda de bens exportáveis e consequente desemprego interno.
Desse modo, mesmo os regimes de câmbio fixo devem sempre ter as chamadas cláusulas de escape (ou regra contingente). Na verdade todos os regimes de taxas de câmbio fixas que vigoraram nos últimos cem anos possuíam essas cláusulas de escape (mesmo sob o padrão ouro clássico).
As flutuações, quando ocorrem e permitidas pelas cláusulas de escape, se dão através de uma banda estreita que limita o campo de variação da taxa a um mínimo e um máximo, que quando atingidos exige a intervenção das autoridades monetárias (especulação estabilizante).
Regras monetárias robustas
No entanto se as flutuações não ocorrerem por motivos muito claros, ou de modo autônomo, pode faltar credibilidade às cláusulas de escape e as autoridades monetárias não conseguirão conter a taxa nos limites da banda. Pode faltar o que se chama de credibilidade da política doméstica e que somente é adquirida com o tempo, na medida que as autoridades monetárias adotem políticas consistentes com os objetivos traçados. É a isto que se chama de regras monetárias robustas.
Capacidade de conter pressões de mercado
Enquanto as autoridades não detêm a credibilidade esperada pelo mercado, a economia pode ficar sujeita a taxas de juros muito elevadas por períodos muito longos, para se manter a taxa cambial estável e o resultado pode ser indesejável para o nível de investimentos, o emprego, a dívida publica e para a saúde do sistema financeiro nacional.
Neste caso será necessário obter apoio externo para se obter a necessária estabilidade da taxa cambial. No curto prazo o auxílio externo diminui, para níveis aceitáveis, o custo da estabilização; no longo prazo a cooperação internacional serve como um seguro para que instabilidades não ocorram. Todos os arranjos monetários internacionais bem sucedidos, até aqui, ocorreram num quadro de cooperação internacional para a defesa da taxa de câmbio de um país específico.
Outra forma de conter as pressões de mercado é estabelecer sistemas, informais ou formais, de controle aos movimentos de capital.
No entanto, nem a ajuda externa, nem o controle de capital, podem adiar indefinidamente a necessidade de ajustes internos na política monetária e fiscal, quando estas são inconsistentes com a taxa de câmbio desejada. (os fundamentals). 
ARRANJOS MONETÁRIOS INTERNACIONAIS
	REGIME
	PERÍODO
	1. Padrão- ouro Internacional
	1879- 1914
	
	
	2. Instabilidade entre as Guerras
	1918- 1939
	a- Flutuação
	1918- 1925
	b- Volta ao Ouro
	1925- 1931
	c- Volta à Flutuação
	1931- 1939
	
	
	3.Padrão- dólar com taxa semi-fixa
	1945- 1971
	a- Conversibilidade a ser estabelecida
	1945- 1958
	b- Sistema de Bretton Woods
	1958- 1971
	
	
	4. Padrão Dólar com Taxa Flutuante
	1971- 1984
	a- Fracasso do Acordo Smithsoniano
	1971- 1974
	b- Volta à Flutuação
	1974- 1984
	
	
	5. SME e Zona do Marco Alemão
	1979- 1993
	
	
	6. Acordos de Intervenção Plaza- Louvre
	1985- 1993
	
	
	7. Tendência a Restabelecer a Flutuação
	1993-
O PADRÃO OURO CLÁSSICO (1880-1913)
As moedas dos países líderes mantiveram seu preço fixo em termos de ouro. Mantinha-se a conversibilidade com o metal e não se punha obstáculo às remessas de ouro. As taxas de câmbio variavam apenas dentro dos limites dos gold points (definidos pelos custos de remessa e seguro).
	Se o preço da prata em um país qualquer era na proporção de 15,5 onças de prata = 1 onça de ouro e o preço do ouro no exterior subisse para por ex. 16 onças de prata = 1 onça de ouro, e este país não alterasse seus preços, as pessoas no exterior venderiam 1 onça de ouro por 16 de prata, mandariam 15,5 onças de prata para trocar por 1 onça de ouro no primeiro país, lucrando assim 0,5 onça de prata em cada operação. Depois de algum tempo todo o ouro haveria saído deste país e apenas a prata permaneceria circulando (lei de Gresham, segundo a qual o dinheiro ruim expulsa o dinheiro bom). 
O crescimento das transações internacionais a partir de 1860 (reduções tarifárias e dos custos de transporte) resultou num aumento da circulação de moedas de prata estrangeiras em muitos países e na perda de controle do grau de pureza destas moedas. Isto acabava expulsando a moeda mais pura do mercado e começou então uma guerra na redução do grau de pureza das diversas moedas européias até que os principais países afetados (Bélgica, França, Itália e Suíça) se reuniram em 1865 e criaram a União Monetária Latina.
 Outros fatores como a guerra franco-prussiana encerrada em 1871 contribuíram para a adoção do padrão ouro.
	Mas foi a Revolução Industrial o fator decisivo. A máquina a vapor permitiu a cunhagem de moedas representativas confiáveis. A industrialização transformara a Inglaterra na grande potência e esta já adotava o padrão ouro. 
Quando a Alemanha aderiu ao sistema em 1871, os demais países foram induzidos a aderir ao ouro. Ao final do século XIX a Espanha era o único país europeu a não aderir. Os EUA aderiram na prática em 1879. 
Apenas Inglaterra, EUA, Alemanha e França praticavam verdadeiramente o padrão ouro e possuíam reservas em ouro suficientes para a conversibilidade de suas moedas circulantes. Mas mesmo nesses a conversibilidade era controlada. 
 As taxas de câmbios mantiveram-se fixas por longos períodos sem que fosse necessários controles de capital ou ajuda externa e sem que os salários fossem perfeitamente flexíveis. Mesmo assim o padrão ouro funcionou bem no período pré guerra. 
	O que foi crítico para a manutenção de taxas de câmbio fixas foi o fato de os governos estarem protegidos de pressões no sentido de sacrificar a estabilidade das taxas por outros objetivos.
Os direito de voto era limitado, os trabalhadores não dispunham de poder político para se por ao aumento da taxa de juros papa a defesa da moeda.
A prioridade da defesa da moeda não enfrentava assim oposição expressiva e os governos tinham plena liberdade para atuar.
Uma explicação para esse bom funcionamento ressalta a existência de cláusulas de escape. Crises agudas, econômicas ou financeiras, motivos políticos como a guerra, permitiam aos países centrais suspender temporariamente a conversibilidade da moeda e manter a taxa de câmbio fixa, sem que se perdesse a credibilidade da moeda. Uma vez superada a crise, a conversibilidade e a paridade eram prontamente restauradas. As elevações das taxas de juros, quando necessárias, não provocavam tantas reações quanto hoje, já que naquela época desconheciam-se seus efeitos deletérios sobre o emprego e o crescimento econômico. 
A América Latina suspendia a conversibilidade e depreciavaa moeda sempre que se interrompiam os fluxos de capitais ou caiam suas receitas de exportação. Neste caso, no entanto a credibilidade saía arranhada do processo. Tal diferença explica-se pela robustez do regime monetário e pela maior capacidade dos países centrais, de conter as pressões de mercado.
A credibilidade do compromisso com a conversibilidade era maior na Europa do que nos EUA, devido neste último país a existência de grupos mais poderosos com interesses contrários à manutenção da paridade cambial (setores agrícolas exportadores e de mineração de prata).
Da mesma forma que regras monetárias robustas e a existência de válvulas de escape bem definidas facilitaram o funcionamento do padrão ouro nos países centrais, a ausência delas provocou a falência do regime na periferia.
A contenção de pressões de mercado foi obtida nos países centrais por artifícios de ampliação da banda dos gold points e pela cooperação internacional.
Funcionamento do padrão-ouro. Modelo somente com ouro como moeda
	Quando um país era deficitário em comércio internacional sofria uma perda de ouro. Com menos dinheiro o país deficitário sofria uma deflação. Nos países superavitários acontecia o contrário: os preços aumentavam. Com o encarecimento das importações os moradores do país deficitário diminuíam suas importações e os moradores dos países superavitários aumentavam as suas, invertendo-se as tendências, até a eliminação dos desequilíbrios comerciais. 
Funcionamento do padrão-ouro. Modelo com fluxo de capitais e com remessas irregulares de ouro.
	Neste modelo pressupõe-se a circulação de ouro paralelamente a um papel-moeda. Quando um país incorria em déficit comercial em relação a um outro ele pagava a diferença de suas contas em moeda nacional. Os detentores dessa moeda a trocavam em ouro no banco central do país deficitário. Em poder do ouro eles o trocavam no seu país de origem pela moeda local. A oferta monetária diminuía no país deficitário e crescia no país superavitário. Como no modelo anterior. Mas aqui os bancos centrais poderiam atuar para apressar a correção. Estes poderiam por ex. reduzir o meio circulante (deflação) no país deficitário através da taxa de redesconto e exercer uma pressão para baixo nos preços eliminando o déficit. Isto chamava-se jogar segundo as regras. Um outro uso (mais limitado, pois a maioria dos bancos centrais eram privados) constituíam as taxas de juros . 
A estabilidade do sistema
Estabilidade na taxa de câmbio e políticas monetárias mecânicas, traços emblemáticos do padrão ouro, eram mais exceção do que normas. Foram a própria abertura dos mercados e o crescimento do comércio que deram sustentação ao funcionamento do mecanismo de ajuste característico do padrão ouro
sistema era uma instituição solidamente construída e cuja viabilidade dependia do contexto no qual operava; o banco central da Inglaterra funcionava como o maestro do sistema internacional (faça o que o mestre mandar).
A pedra de toque do sistema foi a prioridade atribuída pelos governos à conversibilidade (Inglaterra, França e Alemanha).
Os trabalhadores, os que mais sofriam com os ajustes, não tinham condições de fazer sentir suas objeções.
Os choque se refletiam mais em ajustes de preços e custos do que no emprego. Inexistia uma teoria sobre a relação entre políticas dos bancos centrais e as flutuações da demanda agregada.
Os bancos centrais, mesmo quando se afastavam das regras do jogo (atuando compensatoriamente) mantinham a credibilidade do sistema.
Havia uma periferia funcional, fonte produtora de matérias-primas e alimentos e sobretudo fronteira da expansão dos sistemas de créditos dos países centrais
Uma elevação na taxa de redesconto de um país que atraia capital financeiro e reservas de ouro, debilitava os balanços de pagamentos dos países de onde saíam ouro e capital. Uma elevação na taxa de redesconto poderia, portanto, desencadear uma rodada de aumentos nas taxas praticadas por outros bancos centrais. Mas isto não acontecia: havia uma convenção do tipo faça o que o mestre mandar. 
Arranjos no entre guerras (1918-1939)
O fraco desempenho dos arranjos monetários no período deve-se basicamente pela ausência de regras monetárias robustas. Os bancos centrais perderam muito de sua capacidade de impor sua política monetária às autoridades econômicas e foram obrigados a criar moedas e crédito incompatíveis com uma taxa de câmbio estável. Também foi difícil conter as pressões de mercado. As regras de política econômicas eram constantemente modificadas, deixando dúvidas quanto ao compromisso com as taxas de câmbio vigentes. 
Os anos de 1918 a 1939 podem ser considerados de desajustamento, com a queda no comércio mundial e recuo na expansão dos países. Esse período entre guerras provocou a assimetria nos processos de crescimento, com a Inglaterra sem expandir, a Alemanha buscando se ajustar e os Estados Unidos em condição mais favorável. A crise de 29 provocou a paralisação do comércio mundial, por conta das desvalorizações competitivas que os países passaram a praticar para proteger suas economias: o café caiu quase 70%, o que significou um desastre para o Brasil; e a carne e o trigo, principais produtos exportados pela Argentina, caíram mais de 40%.
A Primeira Guerra destruiu todo o sistema de pagamentos internacionais. Como sabemos, a substituição do velho imperialista (a Inglaterra) pelo novo ( os EUA) foi feita com lentidão. Entre as duas Grandes Guerras assistimos a uma grande confusão monetária aliada a forte instabilidade:
As economias nacionais fechavam-se. 
Os fluxos financeiros internacionais restringiam-se.
Neste período de grande instabilidade, a Inglaterra e os Estados Unidos abandonam o padrão-ouro, enquanto a França tentou manter-se nele. Porquê falar neste episódio ? É que ele encerra uma importante lição para todos. A estabilidade monetária era garantida no bloco-ouro, que tinha como principal economia a francesa. No outro bloco as desvalorizações sucediam-se. Ao nível global que acabávamos por ter ? A deflação nos países do bloco-ouro. Naturalmente que a deflação arrastava as economias para a recessão, para a rápida redução do ritmo de atividade econômica. E a deflação destruiu a estabilidade monetária.
A flutuação dos anos 20 e a flutuação administrada dos anos 30, fracassaram e o regime de flutuação saiu de circulação por quase meio século.
Após a 1ª Grande Guerra:
A Inglaterra deixa de ser a potência dominante, passa a incorrer em déficits em conta corrente e suas indústrias perdem competitividade.
Os países que eram credores passam a ser devedores após o conflito (Inglaterra, Alemanha); os EUA passam a ser os credores do mundo e os fluxos de ouro fluem cada vez mais em sua direção.
Os demais países industriais passam a exercer controle sobre o fluxo de capitais, principalmente em direção à Inglaterra.
Avanço do sindicalismo faz com que os salários já não sejam tão flexíveis como antes e o ajuste se faz com mais desemprego.
Novo regime padrão ouro tentado pela Inglaterra carecia de credibilidade. O capital financeiro que era estabilizador torna-se agora especulativo, ampliando as crises financeiras.
Somente o dólar americano manteve a conversibilidade, mas sua política econômica interna impedia que o dólar cumprisse o mesmo papel anterior da libra. 
Até 1925 prevaleceu um sistema de câmbio flutuante, que era limitado por controle governamental sobre as transações com moedas estrangeiras.
Surge o fenômeno da hiperinflação (Áustria, Alemanha, Hungria e Polônia).
Após 1926 (França) surge um movimento de restauração do padrão ouro., mas em 1931 (como consequência da crise de 1929) esse período se encerra com a desvalorização da Libra inglesa e com aumento das tarifas e da taxa de juros nos EUA e ainda desvalorização do dólar.
 
O sistema de Bretton Woods (1945-1971)
O acordo construído em Bretton Woods em 1945, tentou restabelecer as pré condições para a viabilidade de um sistema monetário internacional. Foi estabelecido um sistemade taxas fixas, mas reajustáveis através de válvulas de escape. No caso de depreciação de suas moedas os países deveriam obter previamente a concordância do FMI. Caso não houvesse a autorização os países poderiam sacar recursos bloqueados pelo fundo para sustentar a moeda. Os países centrais evitaram usar as válvulas de escape, com medo que seu uso indiscriminado minasse a credibilidade de suas políticas monetárias.
O sistema de BW afastou-se em 3 aspectos fundamentais do padrão-ouro que se complementavam entre si:
O câmbio fixo tornou-se ajustável.
Aceitavam-se controles para limitar os fluxos de capital internacionais
Foi criado o FMI para monitorar as políticas econômicas nacionais e oferecer financiamentos para equilibrar os balanços de pagamentos de países deficitários 
Destes 3 aspectos o único que funcionou a contento foi o controle de capitais. Foi um período de abrangentes intervenções dos governos na economia:
Havia limites às taxas de juros
Restrições aos tipos de ativos que os bancos podiam investir
Os mercados financeiros eram estritamente regulados pelos governos, que canalizavam o crédito para setores estratégicos
Prevaleceram os objetivos de reduzir o desemprego e estimular o crescimento
Não havia mais conversibilidade das moedas, que somente foi restaurada para a balança de transações correntes a partir de 1959
O compromisso dos bancos centrais com a paridade da moeda era muito menor no pós guerra do que no período do padrão ouro. As políticas keynesianas de pleno emprego e do estado do bem estar eram prioritárias então (relativa robustez das regras monetárias).
O artigo XX do acordo exigia que os países fixassem suas moedas em valor expresso em ouro ou em moeda conversível em ouro (o dólar) e mantivessem suas taxas de câmbio dentro de uma banda de 1% para cima ou para baixo. Os valores da paridade poderiam ser ajustados em até 10% para se corrigir eventual desequilíbrio fundamental após consultas ao FMI, e em margens até mais amplas desde que com aprovação de ¾ dos países com direito a voto 
Os países com dificuldades no balanço de pagamentos poderiam recorrer sem restrições às sua cotas no FMI e tomar ainda, empréstimos adicionais (condicionados a aprovação). Nos anos 50 criou-se os standby (assistência financeira prévia às crises e ataques especulativos).
Os artigos do acordo permitiam os controles de capitais internacionais e até controles sobre as importações comerciais (cláusula de escassez de divisas). Havia um prazo de 3 anos para a permanência dos controles e mais 5 anos para a adoção progressiva de políticas de relaxamento dos controles.
A Europa do pós guerra tinha uma imensa demanda insatisfeita por alimentos e bens de capital produzidos pelos EUA. e uma capacidade apenas limitada de exportar. Daí surgiram enormes déficits comerciais com os EUA. e apesar da ajuda intergovernamental dos EUA, para financiar este déficit, em 1949 as moedas européias se desvalorizaram em média cerca de 30% em relação ao dólar. Mas os países europeus somente poderiam eliminar seus déficit se exportassem mais, mas isso era impossível sem maior liberalização comercial.
O Banco Mundial que também fora criado quando do acordo de Bretton Woods, fornecia empréstimos baratos a estes países necessitados de investir em infraestrutura, mas seus recursos mostraram-se insuficientes. O acordo previa também a instalação da OIC, que no entanto não foi ratificada pelos EUA.; posteriormente firmou-se o GATT que veio a tornar-se o embrião da OMC.
Os países industrializados apoiavam-se, também, mutuamente, através do Acordo de Basiléia de 1961 e do estabelecimento do pool do ouro que tinha como objetivo sustentar as reservas de ouro dos EUA. 
O declínio e a falência de Bretton Woods começaram, no final dos 60, com a crescente perda de sua robustez de regras, quando os EUA começaram a abandonar a sustentação do preço do ouro (U$ 35,00 a onça) por causa da guerra do Vietnã e na Europa prevaleceram objetivos econômicos domésticos de curto prazo em detrimento de uma visão internacional mais de longo prazo. A resistência dos diversos governos em promover alterações nas taxas de câmbio e a crescente dificuldade dos controles de capitais minaram o sistema.
A organização das finanças de Bretton Woods foi baseada na expansão do crédito bancário:
As políticas monetárias e de crédito tinham objetivos nacionais
As taxas fixas mas ajustáveis de câmbio e as limitações dos fluxos financeiros internacionais de curto prazo impediam a instabilidade das taxas de juros domésticas
isolamento dos sistemas nacionais de crédito uma regulação de acordo com os interesses nacionais
As relações estreitas entre bancos centrais e bancos privados criava uma capacidade de resposta mais elástica às necessidades de liquidez do sistema e da economia
A rentabilidade dos bancos dependia do crescimento dos empréstimos
A combinação de elevação do gasto público e a regulação dos sistema bancário funcionaram como estabilizadores do ciclo econômico
1944
	Em 1944 havia um consenso de que o gerenciamento da interdependência entre os países – para administrar os mecanismos de compensação para as flutuações cíclicas da economia mundial e evitar-se o caos monetário, o protecionismo, as restrições comerciais, o controle do câmbio, a escassez de empréstimos internacionais e a discriminação – necessariamente deveria significar abrir-se mão de uma parte da soberania nacional em troca da participação em um poder supranacional de regulação.
Duas categorias de desafio se colocavam aos diversos países àquela época: uma era o problema financeiro concernente às questões de balanço de pagamentos, taxas de câmbio e empréstimos internacionais; outra era o problema comercial envolvendo protecionismo, discriminação e o crescimento do comércio e do emprego.
As negociações, em torno destes problemas, realizadas em 1944 com a participação dos principais países aliados, levaram à criação do acordo de Bretton Woods e suas duas instituições gêmeas: o FMI e o Banco Mundial.
Ao FMI caberia a responsabilidade da supervisão das taxas de câmbio, da liquidez internacional e dos desequilíbrios financeiros dos balanços de pagamentos. Ao Banco Mundial caberiam as políticas de financiamento de longo-prazo e de desenvolvimento.
O Sistema Monetário do Pós Guerra
	O sistema monetário criado com os acordos de Bretton Woods, estabelecia a paridade fixa de câmbio entre as moedas dos países, que poderiam variar sua paridade, apenas dentro de uma margem estreita de 1 % em relação a outras moedas. Mas se um país qualquer comprasse e vendesse livremente ouro no mercado internacional a um dado preço fixado, este país estaria liberado de fixar sua taxa de câmbio (cláusula IV, b). 
Como os EUA eram o único país com força para atuar no mercado de ouro desta maneira, o sistema era assimétrico e na verdade constituía um padrão dólar ancorado ao ouro. O tamanho do déficit dos EUA determinava o acréscimo nas reservas do resto do mundo. Os EUA se tornaram compradores (ou vendedores) residuais de ouro e os demais países, compradores (ou vendedores) residuais de dólares. 
Quando a política monetária dos EUA era muito expansiva, os demais países (a Europa principalmente) tinham de comprar uma grande quantidade de dólares e isto tinha um impacto inflacionário em suas economias; inversamente quando a política monetária dos EUA era restritiva havia escassez de dólares e este fato tinha um impacto deflacionário nas demais economias européias. Os EUA tinham de comprar qualquer excesso de ouro no mercado ou suprir qualquer excesso de demanda pelo metal. Se não o fizesse, o preço do dólar se afastaria da paridade estabelecida anteriormente. A Europa, por sua vez tinha de comprar ou vender dólares, conforme houvesse excesso ou escassez no mercado. Se não agisse assim suas taxas de câmbio se afastariam das paridades estabelecidas no acordo. 
O controle do sistema repousava na política monetária dos EUA de um lado e na composição dólar-ouro do portfólio europeude reservas. A proteção da Europa contra excesso ou escassez de dólares era modificar a composição do déficit americano, afetando as suas reservas. Quando a política monetária americana era excessivamente frouxa os países europeus poderiam converter seus dólares em ouro; isto deixava suas reservas no mesmo valor mas afetava as reservas de ouro dos EUA. Do mesmo modo quando os EUA adotavam política monetária muito restritiva, os europeus podiam converter seu ouro em dólares, contornando assim a escassez de dólares. Portanto, a liberdade dos EUA não era absoluta; havia a necessidade de se coordenar as políticas entre os dois blocos, para que não houvesse confronto, o que poderia significar perdas para ambos os lados.
O Desenvolvimento da Crise de Bretton Woods (1959-1971)
	Rápida recuperação das economias européias e do Japão provocam desgaste das regras monetárias e cambiais acertadas em Bretton Woods:
A concorrência das renovadas economias européias e do Japão provocam o enfraquecimento do dólar.
Entre 1950 e 1971 houve um grande deslocamento das reservas em ouro dos EUA para a Europa (especialmente no fim dos 50 e início dos 60). A política norte-americana era limitada pelo montante de suas reservas, enquanto a Europa tentava controlar a inflação mundial colocando pressão sobre a composição do balanço de pagamentos dos EUA. 
Houve uma progressiva perda de controle sobre os fluxos de capitais internacionais que se agravou com o surgimento do mercado de euro-dólares na Europa no fim dos anos sessenta.
Devido à guerra do Vietnã e a luta interna contra a pobreza, a política monetária dos EUA tornou-se excessivamente expansiva. As taxas de câmbio fixas transmitiram assim, à Europa, a taxa de inflação elevada dos EUA, devido a grande acumulação de reservas em dólar e ouro (inflação importada em países superavitários).
Como saída para a crise que se anunciava tentou-se a criação dos DES, um paliativo que substituiria o ouro e o dólar nas reservas dos países superavitários e aliviaria a pressão sobre o preço do ouro. Isto daria maior autonomia a que os EUA afrouxassem ainda mais sua política monetária, mas em contrapartida, a diminuição da pressão sobre o preço do ouro aliviaria o risco de que o dólar fosse declarado inconversível pelo governo americano o que certamente liquidaria com o sistema de Bretton Woods e traria um sistema de taxas flutuantes.
Apesar das tentativas em agosto de 1971 o governo Nixon declarou o dólar inconversível e a questão para os demais países ficou em continuar com suas moedas atreladas ao dólar (agora inconversível) ou deixá-las flutuar conjuntamente contra o dólar ou flutuar cada uma por si . 
O Sistema Smithsoniano
Ao tomarem conhecimento da decisão norte-americana de acabar com a conversibilidade do dólar e decretar uma sobretaxa de 10% sobre suas importações, vários países fecharam seus mercados cambiais. Quando estes mercados reabriram, uma semana após, diversas moedas estavam flutuando. Tratava-se, no entanto, de uma flutuação suja (dirty floating), pois o câmbio continuava a ser administrado pelos diversos governos. Embora suspendendo a conversibilidade os EUA resistiam a desvalorização do dólar, insistindo para que os países europeus valorizassem suas moedas. 
Afinal, quatro meses após agosto de 1971 (em 18/12/71) os principais países se reuniram no Instituto Smithsoniano, em Washington, para tentar construir um novo acordo monetário internacional. Houve um modesto realinhamento das taxas ( o dólar – 8% – lira italiana e a coroa sueca se desvalorizaram; o iene, franco suíço, marco alemão, franco belga e florim holandês se valorizaram; a libra esterlina e o franco francês permaneceram estáveis) e as moedas foram amarradas em seguida ao dólar. A sobretaxa de 8% foi eliminada, mas a inconversibilidade do dólar foi mantida. O novo sistema não era mais um padrão dólar ancorado no ouro, mas tão somente um padrão dólar. Os pontos de sustentação de câmbio, fixados pelo acordo de Bretton Woods em 1%, foram ampliados para 2,5% (portanto um intervalo total de 4,5%).
A crise de 1973
Em abril de 1972 os seis países membros do Mercado Comum Europeu (Alemanha, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Itália e França) concordaram em manter suas moedas flutuando dentro de um limite mais estreito do que o fixado pelo Acordo Smithsoniano (2,25%, acima ou abaixo) no que ficou conhecido como a serpente dentro do túnel (snake in the tunnel). 
Não obstante a desvalorização do dólar em 8%, esta mostrou-se insuficiente. Os EUA continuaram a ter déficit em sua balança de pagamentos, e empresas, bancos e investidores particulares continuaram a vender dólares. Os bancos centrais europeus foram obrigados a adquirir grandes quantidades da moeda norte-americana a fim de manter os novos pontos de sustentação fixados pelo Acordo Smithsoniano. Devido a esta situação, os EUA foram obrigados a desvalorizar novamente sua moeda em 14/02/1973, agora em mais 10% (1onça = U$ 42,22, contra os U$ 38,00). 
Em 11/03/1973 5 membros do MCE (Alemanha, França, Bélgica, Holanda e Dinamarca) concordaram em manter suas moedas dentro dos limites de 2,25% (a serpente), mas flutuando como um bloco contra outras moedas, porém dentro de certos limites (flutuação suja). Com isso desapareceu o túnel, permanecendo apenas a serpente.
Em novembro de 1975, a França e os EUA, alcançaram um acordo preliminar sobre as taxas cambiais acertando um sistema de flutuação, mas com direito à intervenção de cada governo, quando necessário. Em janeiro de 1976, na Jamaica, os países membros do FMI acertaram um acordo que se baseava em 3 pontos principais:
Reconhecimento oficial do sistema de taxas flutuantes, mas nunca se esquecendo da necessidade da estabilidade
Abolição do preço oficial do ouro e venda de parte do ouro do FMI para formação de um fundo de ajuda aos países em desenvolvimento
Acesso dos países subdesenvolvidos a empréstimos do FMI.
Embora a aprovação da flutuação, cada país poderia adotar uma paridade para sua moeda, que não fosse o ouro e flutuar sua moeda dentro de no máximo 4,5 para baixo ou para cima.
FMI
Criado com a finalidade de colaborar na manutenção do equilíbrio dos balanços de pagamentos, quando afetados por oscilações de caráter estacional ou cíclico.
Finalidades 
Promover a cooperação monetária entre as nações
Facilitar a expansão e o desenvolvimento equilibrado do comércio internacional
Promover a estabilidade cambial
Auxiliar o estabelecimento de um sistema multilateral de pagamentos e eliminar as restrições cambiais entre os países 
Corrigir os desequilíbrios nos balanços de pagamentos dos países membros através da utilização dos recursos do Fundo 
Estrutura e Administração
O capital do Fundo é constituído pelas quotas dos países membros especificadas em DES. Os DES quando foram criados valiam 1 dólar. Hoje são referidos a uma cesta de 16 moedas com o dólar tendo um peso de 40% do valor total, o marco alemão 21%, o iene 17% e a libra 11%.
A integralização da quota é feita parte (25%) em ativos de reserva (DES e/ou moedas fortes) e o restante em moeda nacional.
A magnitude da quota é fixada em função do tamanho do país: renda nacional, magnitude do balanço de pagamentos, reservas em divisas fortes, etc. atualmente a quota do Brasil é de 2.170 milhões de DES (1.627 milhões de Reais). Não pode o FMI reter mais de 200% do valor da quota em moeda do país. No caso do Brasil 200% correspondem a 4.340 milhões de Reais. Como o país já entregou ao Fundo 1.627 milhões de Reais, ele pode retirar mais 2.713 DES.
Existe ainda as operações de stand by. Trata-se de acordos específicos pelos quais o país solicitante poderá efetuar saques até um limite de crédito previamente aprovado dentro de um período fixado, cumpridas determinadas exigências do FMI.
A sede do FMI está situada em Washington, sendo a administração constituída de um conselho de governadores, com um diretor gerente. Cada país membro tem direito a 250 votos, mais um adicional proporcional a sua quota.
O BancoMundial (BIRD)
Finalidades 
Contribuir com as obras de reconstrução e desenvolvimento facilitando a inversão de capitais com fins produtivos
Promover investimentos estrangeiros, mediante garantias e empréstimos
Promover o crescimento equilibrado do comércio internacional e manter ajustados os balanços de pagamentos
Estrutura e Administração
O capital é constituído de ações subscritas pelos países associados em proporção a seus recursos econômicos. Somente 10% do capital foi integralizado até hoje. Hoje o capital é expresso em DES e o sistema de votação é idêntico ao do FMI.
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