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RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 147 ISSN 2238-1589 ASPECTOS ÉTICOS EM ANIMAIS DE LABORATÓRIO E OS PRINCIPAIS MODELOS uTILIzADOS EM ENSAIOS CIENTífICOS Ricardo Augusto leoni de Sousa1, Jymmys lopes dos Santos1, Fábio Bessa lima2, Anderson Carlos Marçal3* O uso de animais em experimentos científicos é uma prática necessária na busca por novas terapias, tanto para humanos quanto para animais. A presente reflexão tem como objetivo identificar as principais características no que tange aos animais utilizados em laboratório no Brasil. O uso de animais de laboratório é uma prática histórica de grande conteúdo ético. Através da legislação nacional vigente, foi criado o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) com intuito de esclarecer sobre o uso e manuseio, para aprimoramento ético no tratamento dos mesmos. Neste estudo iremos focar a estrutura de biotério, os procedimentos operacionais de acasalamento e manipulação, principalmente para camundongos e ratos. A metodologia utilizada nesta revisão caracterizou-se por captar pesquisa básica bibliográfica com animais utilizados em pesquisa experimental. A preocupação com o bem estar do animal deve ser constante e estar presente em todas as etapas da vida deste. Desta forma, o estudo e interpretação das leis a respeito desse tipo de pesquisa é uma obrigatoriedade aos que trabalham com ela. Palavras-chave: Aspectos éticos. Roedores. Laboratório. 1. ASPECTOS gERAIS A utilização de animais para finalidades cien- tíficas e didáticas é uma atividade cotidiana em distintas universidades brasileiras. Desta forma, é necessário que haja a consciência de que o ser vivo utilizado tenha as condições necessárias que garantam os hábitos próprios de sua espécie, bem como assegurem condições de subsistência apropriadas como, por exemplo: água, acesso ao alimento e condições de temperatura ideal para a manutenção de sua qualidade de vida. Por todas estas razões, é necessária uma postura ética que faça parte de todos os momentos no que se refere a pesquisa experimental1,2,3. O presente estudo tem como objetivo identificar as principais características em ratos wistar e ca- mundongos utilizados em pesquisa experimental, fazendo um breve relato histórico sobre os aspec- tos éticos em animais de laboratório e as técnicas de manuseio e local de acomodação. Para tanto, elaborou-se esta revisão pesquisando-se dados colhidos de diversos artigos, livros e leis vigen- tes, caracterizando-a, assim, como uma pesquisa básica bibliográfica com animais utilizados em pesquisa experimental. 2. CONTExTO hISTÓRICO A relação de harmonia entre o ser humano e as diferentes espécies de animais existentes é muito antiga e remonta aos séculos 582-500 A.C. Pitágoras afirmava que é um dever do ser humano ser amável com os animais. Nesta época alguns cientistas já relacionavam o aspecto de RE Su MO BReve CoMuniCAção 1. Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão – Sergipe. 2. Professor Titular do Departamento de Fisiologia e Biofísica, Universidade de São Paulo; São Paulo – São Paulo. 3. Professor Adjunto do Departamento de Morfologia, Universidade Federal de Sergipe, Membro Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Sergipe; São Cristóvão – Sergipe. Autor para correspondência: Anderson Carlos Marçal E-mail: acmarcal@yahoo.com.br Recebido para publicação: 16 de maio de 2013 Aceito para publicação: 25 de novembro de 2013 148 RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 aSPECTOS ÉTICOS EM aNIMaIS DE LaBORaTÓRIO E OS PRINCIPaIS MODELOS uTILIzaDOS EM ENSaIOS CIENTífICOS órgãos humanos doentes com o de animais, com o objetivo de observá-los didaticamente4. Di- versos anatomistas como Alcmaeon (500 a.C.), Herophilus (330-250 a.C.) e Erasistratus (305-240 a.C.) realizavam vivissecções em animais como forma de compreender a estrutura e sua relação com os processos fisiológicos5. Hipócrates (450 A.C), considerado como pai da medicina, realizou estudos que compararam estruturas anatômicas macroscópicas de animais com o de humanos para a compreensão de doenças e para o processo de ensino-aprendizagem. Por outro lado, relatos de Galeno (129-210 DC), em Roma, na Itália, provavelmente foram os primeiros a evidenciar a “vivissecção” (ato de dissecar o animal vivo com fins científicos), para fins experimentais. Todavia, apenas em 1638, William Harvey, foi considerado como pioneiro a realizar a primeira experiência com animais por ter documentado suas atividades em um livro intitulado “Exercitatio anatomica de motu cordis et sanguinis in animalibus“. Em 1860, Claude Bernard, um grande fisiolo- gista, documentou uma série de estudos compor- tamentais envolvendo a utilização de cachorros e a sua relação com a produção da secreção gástrica, marcando o início da utilização de animais de for- ma experimental com finalidades científicas e com critérios de análise e observação mais elaborados. Por outro lado, a própria esposa de Claude Ber- nard, Fanny Bernard, não apoiou a sua atitude e fundou uma associação com propósitos de defen- der os animais de laboratório, sendo considerada na época como a primeira organização preocupada com as condições e cuidados dos animais de labo- ratório1. Nas décadas de 60 e 70, após sucessivos escândalos com a utilização de seres humanos em experimentos que tornaram-se públicos, o National Institute of Health (NIH) propôs uma revisão ética. Estes fatos contribuíram para que em 1975, uma emenda fosse feita, a Declaração de Helsinque, documento que regulamentava as pesquisas envolvendo seres humanos no âmbito internacional, a partir de então, este documento foi submetido a revisões, o qual estabelece a obrigatoriedade de revisão ética dos protocolos de pesquisa por uma Comissão de Ética6. Partindo deste princípio, as semelhanças e diferenças entre os animais e seres humanos são pontos de con- trovérsias e, hoje, não existe uma definição exata do lugar ocupado pelos animais em relação aos seres humanos quando a racionalidade e huma- nismo da sociedade deveriam ser o diferencial2. É crucial para todas as pessoas envolvidas direta e/ou indiretamente com o uso de animais em suas atividades laboratoriais uma postura profis- sional e ética, que garanta ótimas condições aos animais e que não permita práticas que possam induzir o sofrimento, devendo assim, os riscos de dores serem minimizados. Estas atitudes estão de acordo com Russel e Burch, os quais propuseram na metade do século passado o conceito dos três R’s: substituir, reduzir e refinar1,7. Desta forma, as atividades experimentais devem ser conduzidas criteriosamente possibilitando uma melhor con- tribuição para o alcance dos resultados associado também a uma redução da utilização de animais em atividades laboratoriais. É comum que os estudos que envolvam animais, com fins experimentais, sejam utiliza- dos para os diferentes tipos de linhas de pesquisa existentes na comunidade científica Brasileira, bem como de outros países. No entanto, toda e qualquer pesquisa deve apresentar, além do ca- ráter científico, fundamentos éticos e legais nas atividades envolvidas8. Diante desta introdução histórica, os objetivos específicos do presente artigo foram evidenciar as principais leis no que tange ao uso de animais em laboratórios vigentes em nosso país, ressaltar o papel dos Comitês de Ética em Experimentação Animal como órgão que certificará quanto ao bem estar animal e as práticas laboratoriais, além de evidenciar as melhores técnicas quanto ao uso de animais na pesquisa experimental. 3. EvOLuçãO DO uSO DE ANIMAIS NO BRASIL E A LEgISLAçãO vIgENTE Os primeiros relatos no Brasilquanto ao uso do animal no âmbito experimental datam de 1934, RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 149 Ricardo Augusto leoni de Sousa, Jymmys lopes dos Santos, Fábio Bessa lima, Anderson Carlos Marçal com o Decreto nº. 24.6459, de 10 de julho de 1934, que preconiza medidas de proteção dos animais, e por meio deste, em seu Artigo 1º o Estado reconhece, pela primeira vez, todos os animais existentes no país como tutelados no país, havendo uma predominância de animais de grande porte, nesta época. Em 1941, a Lei nº 3.68810, no seu artigo 31, reforçam as medidas da lei de 1934, ao tratar da omissão, condução, irritabilidade e inexperiên- cia, na guarda ou condução de animais. No seu artigo 64, prevê pena para a prática de crueldade, estendendo-a para aquele que, embora para fins didáticos ou científicos, realiza, em lugar público ou exposto ao público, experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, além da crueldade e do trabalho excessivo. A Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 196711, resguarda a fauna silvestre como propriedade do Estado ou de proprietários de ambiente privado, devendo os últimos se responsabilizarem pelas ações executadas sobre os animais que lá habi- tarem, como por exemplo a caça, salvo em casos permitidos por lei. Dita também a respeito da possibilidade de se apanhar ovos, filhotes e larvas para determinados estabelecimentos, bem como o direito de destruição daqueles que se considera- rem nocivos à saúde pública. Além disso, proíbe a comercialização de subprodutos da caça, como peles, e materiais que se destinarem à quaisquer ações de destruição da fauna. Na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 199812, capítulo V que dispõe sobre os crimes contra o meio ambiente nas seções I, II e III (dos crimes contra a fauna) a lei conceitua e detalha os crimes contra a fauna, seus agentes e ações que implicam em crime ambiental, bem como suas penalidades. Quanto à criação de conselhos, a Lei no. 5.517, de 23 de outubro de 196813, estabelece a criação dos Conselhos Federais e Regionais de Medicina Veterinária. Então obtém-se o Decreto 24.635, que traz no seu artigo 3o assuntos relativos aos maus tratos. Destacam-se os principais itens que determinam a proibição quanto: I- Praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal. II- Manter animais em locais anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o mo- vimento ou o descanso, ou os privem de ar ou luz. III- Golpear, ferir ou mutilar voluntariamente qualquer órgão ou tecido, exceto a castra- ção, exigidas para defesa do homem ou no interesse da ciência. IV- Abandonar animal doente, ferido ou mu- tilado. V- Não dar morte rápida, livre de sofrimento prolongado a todo animal cujo extermínio seja necessário para consumo ou não. XX- Encerrar animais em locais ou em número total que não lhes seja permitido mover- -se livremente ou deixá-los sem água e alimento mais de 12 horas. XXVI- Despelar ou depenar animais vivos ou entregá-los vivos a alimentação de outros. Com relação ao controle da experimentação animal, um projeto de Lei 1.153/1995 apresen- tado pelo deputado Sergio Arouca, que propôs a regulamentação do inciso VII do paragrafo 1º do artigo 225 da Constituição Federal, estabeleceu os procedimentos de uso de animais para fins científicos. Deve-se ressaltar, que este projeto per- maneceu em tramitação por 13 anos nas diversas esferas, para somente em 8 de outubro de 2008 ser sancionada como Lei 11.794/2008, conhecida como “Lei Arouca”14. Podemos citar brevemente alguns de seus artigos: O artigo 1 da referida lei, define o que são consideradas atividades de pesquisa científica com utilização de animais, os estabelecimentos autorizados a realizá-las e quais são as espécies que podem ser utilizadas. Também preconiza o conceito de morte dos animais, que deve ser feito sem sofrimento físico ou mental dos animais14. O artigo 2 dispõe sobre a criação do CONCEA (Conselho Nacional de Controle de Experimen- tação Animal), suas atribuições, como órgão regulamentador das práticas com experimentação animal, em parceria com as CEUAS (Comissões de Ética no Uso de Animais) quando da transmis- são de informações periódicas das práticas ora 150 RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 aSPECTOS ÉTICOS EM aNIMaIS DE LaBORaTÓRIO E OS PRINCIPaIS MODELOS uTILIzaDOS EM ENSaIOS CIENTífICOS realizadas. Desta forma, auxilia o Poder Executivo e o Ministério da Ciência e Tecnologia quando da prática das leis por estes órgãos definidas. Este ar- tigo descreve o CONCEA, número de integrantes e disposições quanto a remuneração dos mesmos14. O artigo 3 dispõe sobre as CEUAS, fundamen- tais para o credenciamento das instituições com atividades de ensino ou pesquisa em animais, seus integrantes, enquanto cumpridoras dos critérios especificamente encontrados em lei, como no CONCEA, a comunicação e aplicação de sansões em caso de irregularidades, além da obrigatorie- dade de resguardar o sigilo industrial 14. O artigo 4 relata que, para que uma instituição adquira o credenciamento perante o CONCEA, este deve criar primeiramente a CEUA. Prevê também os cuidados especiais que o animal deve receber durante todas as fases da pesquisa ou estudo, os critérios para a realização da eutanásia do animal, os critérios para a saída do animal des- tinando-se a pessoas ou órgãos protetores, sempre observando a CEUA. O artigo ainda dispõe que o mínimo possível de animais deve ser utilizado nos estudos e pesquisas. Além disso, deve-se manter registros por meio de fotografias, filmagens ou gravações com a finalidade de evitar repetições de procedimentos desnecessários14. O artigo 5 descreve as penalidades que as instituições poderão sofrer caso transgridam as disposições da lei, considerando os efeitos que tais transgressões causaram. Também citam os órgãos fiscalizadores das atividades prescritas nesta lei 13. O artigo 6 define os prazos para criação das CEUAs, e para as adaptações das instalações físicas por parte das instituições, bem como os casos de indeferimentos de procedimentos, feitos pelo CONCEA14. 4. A CONCEA E AS RESOLuçõES NORMATIvAS • A RESOLUÇÃO NORMATIVA (RN) No 1 DO CONCEA – 9 de Julho de 201015, no Capítulo II da referida resolução, destaca-se que “...Da comissão de ética no uso de animais – CEUA: qualquer instituição legalmente estabelecida em território nacional, que crie ou utilize ani- mais para ensino ou pesquisa científica, deverá constituir ou estar vinculada a uma CEUA para requerer credenciamento no CONCEA...” O art. 4º, define que as CEUAs serão formadas por médicos veterinários, biólogos, docentes, pesquisadores, além de um representante da sociedade protetora dos animais. Em seguida no Art. 7º, as CEUAs realizarão reuniões ordi- nárias pelo menos uma vez por semestre regis- trando tudo em ata documentada. No Art. 8o, é condição indispensável para o credenciamento das instituições, com atividades de ensino ou pesquisa com animais, a constituição prévia de Comissões de Ética no Uso de Animais – CEU- As, além disso, deve propiciar a capacitação de todas as pessoas envolvidas no manuseio e cuidado dos animais, e manutenção da área em que será acondicionado os animais para atender às solicitações da CEUA. • RESOLUÇÃO NORMATIVA No 2 DO CONCEA – 30 de novembro de 201016 “... Altera dispositivo da RN 1, que dispõe sobre a instalação e o funcionamento das CEUAs...” Permitindo assim, que podem ser convidados consultores para avaliarem projetos, além dis- so, os mesmos, obrigatoriedade, devem manter sigilo durante a análise dos projetos e o com- promisso moral e científico de não plagiá-los. Ainda relata que, mesmo que em parceria com outro país, o projeto deve ser submetido a sua CEUA. • RESOLUÇÃO NORMATIVANo 3 DO CON- CEA - 14 de dezembro de 201117, estabelece o Credenciamento Institucional para Atividades com Animais em Ensino ou Pesquisa - CIAEP. Desta forma, todas as Instituições Públicas ou privadas que utilizem animais com fins para pesquisa científica ou ensino, deverão seguir as normas estabelecidas nesta resolução, cabendo ao CONCEA, como órgão fiscalizador, gerir a efetivação destes critérios • RESOLUÇÃO NORMATIVA No 4 DO CON- CEA - 18 de abril de 201218, versa sobre o formulário unificado (anexo I desta RN), que RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 151 Ricardo Augusto leoni de Sousa, Jymmys lopes dos Santos, Fábio Bessa lima, Anderson Carlos Marçal servirá de modelo para todo território nacional onde relatara as informações mínimas dos res- ponsáveis pelo projeto de pesquisa e ou ensino, o qual será encaminhado a CEUA para exame de deliberação. Os conteúdos destes formulá- rios foram unificados para solicitação de uso de animais para pesquisa científica e docência e que deverão ser encaminhados anualmente para o CONCEA por meio da CIUCA (Cadastro das Instituições de Uso Científico de Animais) com as ressalvas do roteiro definido pelo anexo II desta RN. • RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 5 DO CON- CEA - 14 de junho de 201219, Estabelece reco- mendações às agências de amparo e fomento à pesquisa científica, na forma prevista no art. 23 da Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, a seguinte recomendação: “... às agências de amparo e fomento à pesquisa científica que a assinatura dos contratos de financiamento seja condicionada à aprovação vigente do projeto que envolva a utilização de animais junto à Comissão de Ética no Uso de Animais CEUA da instituição.” • RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 6 DO CON- CEA - 10 de julho de 201220, Institui a figura do coordenador e do responsável técnico pelos biotérios. Cabe ao coordenador de biotério estar apto a gerir a unidade, visando o bem estar, a qualidade na produção, bem como o correto manejo dos animais dos biotérios. Quanto ao responsável técnico, caberá possuir o título de médico veterinário com registro ativo no respectivo conselho. 5. O uSO DE ANIMAIS DE LABORATÓRIO NO BRASIL E OS PRINCIPAIS MODELOS uTILIzADOS Para constituir um biotério fazem-se necessá- rias algumas exigências básicas e fundamentais, como por exemplo: espaço físico e planta baixa (adequada ao(s) tipo(s) de espécie(s) utilizada(s), equipamentos (sistema de ar condicionado e exaustão, autoclave, timer, microisoladores ven- tilados, cabines de segurança biológica, lavadora de caixas, lavadora de bebedouros, piso adequado, pintura anti-mofo), treinamento especializado para os técnicos envolvidos com o manuseio dos ani- mais e intensidade entre 350 a 400 lux, localizada no mínimo 1m acima do piso, onde é recomenda- do que a intensidade de luz dentro da caixa, não exceda os 60 lux, sendo a fonte de luz do tipo fluorescente (durante o dia) e ruído abaixo de 65 decibéis. Quanto ao manuseio e boas práticas do uso de animais experimentais, é imprescindível a presença de médico veterinário e microbiologista responsáveis para garantir a saúde dos animais e para a realização de exames laboratoriais2,23. Procedimentos operacionais padrões (POPs) são parâmetros norteadores, a serem seguidos nas técnicas laboratoriais, no que se refere a trato com animais. Exemplo de um POP são os proce- dimentos operacionais para padronização e pro- dução de populações heterogênicas e isogênicas3. A proposta deste procedimento seria que, após o desmame de filhotes, os machos sejam colocados em caixas diferentes das fêmeas. Assim, evita-se cruzamento de animais relacionados. Além disso, são sugeridos temas importantes referentes aos cuidados que devem ser tomados quanto a gené- tica, (heterogênico e isogênico), aspecto sanitário (convencional, definido) e o ambiente (tempera- tura, ciclo claro-escuro) em que os animais serão alocados. Quanto à classificação genética das espécies, seguem parâmetros específicos, como os pro- gramas de acasalamento utilizados de forma que garantam a transmissão dos caracteres genéticos. Os mais conhecidos são classificados como as populações INBRED (isogênica) e OUTBRED (heterogênica)3. O termo Inbred se refere a uma linhagem de animais obtida de um método mono- gâmico, através de acasalamentos entre irmãos, que após 20 gerações têm uma probabilidade próxima de 99% de serem geneticamente idênticos intensivos (um macho e uma fêmea), sendo este o método mais utilizado. Entre as vantagens pode-se citar a facilidade de registro, uma necessidade de reserva do mesmo número de animais, além de requerer menor espaço, trabalho e material a serem ANTENOR ANDRADE: LIfE AND LEgACy A life portrayed in black and white with colorful details. So was reading this emotional testimony of Dr. Antenor Andrade, sharing moments of struggle and determination of his life, from childhood to the present day. The happiest in her father’s house, hard times his years in the army and the realization of the dream of contributing to the Brazilian science, creating the Cecal the Oswaldo Cruz Institute, where he fought to implement good manufacturing practices of laboratory animals, training of professionals in the area through courses and publishing books, as well as the creation of a team of experts in laboratory animal science, showing us how you can open paths and paving ideas. 152 RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 aSPECTOS ÉTICOS EM aNIMaIS DE LaBORaTÓRIO E OS PRINCIPaIS MODELOS uTILIzaDOS EM ENSaIOS CIENTífICOS utilizados (caixas, alimento, produtos de limpeza, maravalha, etc), sendo a demanda do número de animais utilizados diretamente dependente das condições acima mencionadas22, 24, 25. Na manutenção de animais Inbred deve-se ter alguns cuidados, como a possibilidade do apareci- mento de animais inférteis, má formações, morte repentina e mutações. A manutenção das linhagens de roedores (camundongos e ratos) deve ser feita através de acasalamentos entre irmãos em pares monogâmicos, tendo o cuidado para que suas características não sejam modificadas 24,3. Desta forma, o acasalamento consanguíneo é o mais fácil para a conservação das características da linhagem consanguínea. Os animais Outbred por sua vez, apresentam o aporte genético variado devido aos cruzamentos aleatórios, evitando que os animais em acasalamento sejam parentes próximos 24,3. Temos ainda os animais Híbridos. São conside- rados animais híbridos, aqueles que cuja origem foi proveniente do cruzamento de duas linhagens de animais isogênicos que possuem alelos diferentes para uma determinada característica, já que esses animais são modificados geneticamente homogê- neos e heterozigotos para aqueles pares de genes em que as linhagens parentais diferem entre si. Como consequência, as respostas são constantes quanto às das linhagens consanguíneas e os animais são mais vigorosos e rápido crescimento. Ainda, podem ser utilizados em estudos que envolvam o transplante de tecidos dentre estas espécies 25. Por último, os animais geneticamente modifi- cados, tem o propósito de preservar ou controlar as causas genéticas para determinada caracterís- tica. Além disto, existem vários tipos de sistema de acasalamentos, dentre eles podemos destacar: O acasalamento ao acaso – se refere ao acasa- lamento cujo macho de uma espécie pertencente a qualquer população copule com uma fêmea nas mesmas condições de forma igualitária, para qualquer animal pertencente a colônia de animais. Tais modalidades subdividem-se em dois mé- todos, Poiley: que tem como o objetivo neutralizar fatores prejudiciais com o isolamento dos animais no espaço, vinculado ao seu tratamento nas caixas, e como característica o desenvolvimento de vários gruposcom números iguais de modo que seja economicamente vantajoso. Ao ser empregado este método a colônia desenvolve-se em vários grupos iguais números, de modo que a quanti- dade de caixas em todos os grupos seja sempre a mesma. Esse método vem sendo aplicado em muitos laboratórios por conta dos resultados sa- tisfatórios na produção em larga escala26. Método falconer, considerado uma alternativa do método de Poiley, mas com o mesmo objetivo de se evitar a consanguinidade, a colônia deve ser dividida por números de grupos iguais onde os acasalamentos serão feitos entre estes grupos. Para isso um dos sexos é fixado e o outro é alternado aleatoriamente. Esse sistema de acasalamento é recomendado para grandes colônias (acima de 100 unidades por gera- ção), que serão acasalados aleatoriamente sem ser observadas suas características ou parentesco27. 6. OS CAMuNDONgOS De nome científico Mus musculus, o peso ao nascer do camundongo ou rato doméstico, ou murganho, varia de 1 a 1,5 gramas, enquanto que o peso adulto de 20 a 40 gramas. Em média, a vida de um camundongo é de 3 anos, sendo que o consumo diário de ração e de água está em torno de 3 a 5 gramas e de 6 a 7ml, respectivamente. São sensíveis a perda de água e às variações de temperatura. Para o período de acasalamento os animais devem estar entre de 6 e 8 semanas de vida, sendo sugerido que as fêmeas utilizadas para a reprodução por um período de seis meses e que tenham entre 5 à 6 ninhadas, descartando as mesmas para obtenção de filhotes30. Atingem a puberdade por volta dos 40 dias de idade, são acasalados com 60 dias período evidenciado pela abertura vaginal, o qual marca o início do ciclo estral (estando aptas ao acasalamento). Além dis- so, o período gestacional das fêmeas é em média vinte e um dias, apresentando ninhadas de 10 a 12 filhotes e o desmame ocorre aos vinte e um dias de vida. Há uma enorme variedade de linhagens de camundongos, que vão do branco ao preto. RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 153 Ricardo Augusto leoni de Sousa, Jymmys lopes dos Santos, Fábio Bessa lima, Anderson Carlos Marçal Há várias linhagens albinas, que fenotípicamente (aparência externa) parecem iguais, mas geneti- camente são totalmente diferentes26. 7. OS RATOS Conhecido como Rattus norvegicus ou rato branco de laboratório. A principal linhagem utili- zada é a de pelagem albina Wistar. De uma forma geral, utilizam-se animais desta linhagem aqueles cujo peso médio está entre 180 e 250 gramas nos protocolos experimentais. Sua puberdade acontece por volta de 30 dias e a maturidade sexual, dos 50 aos 60 dias. Em termos gerais, o acasalamento ocorre nesse espaço de tempo, quando os machos já pesam de 200 g a 250 g e as fêmeas, de 150 g a 180 g. Os animais permanecem em reprodução até os 9 meses de idade. Os machos podem pesar de 500 à 600 gramas, as fêmeas de 300 à 40026. Possui orelhas alongadas e cabeça grande e o comprimento da cauda é sempre menor que o comprimento corporal. O período de gestação dura em média 20 à 22 dias. O desmame ocorre após os 21 dias de idade. A partir da linhagem Wistar, que é muito usada para pesquisas laboratoriais, foram desenvolvidas as linhagens Sprague Daw- ley, ideais para a estimativa de idade gestacional e pesquisas médicas, e Long-Evans, muito usados para pesquisa em obesidade e com outros fins31,32. 8. ASPECTOS IMPORTANTES NO uSO DE ANIMAIS EM LABORATÓRIO A preocupação com o bem estar do animal de laboratório nas pesquisas experimentais deve ser constante e estar presente em todas as etapas da vida do animal, minimizando, assim, as chances de estresse, desconforto e dor. A adoção de procedi- mentos adequados no trato com o animal em todos os aspectos deve ser permanente. A questão ética no tratamento dos animais de laboratório desafia o modo de vida dos seres humanos. Existe uma pos- sibilidade de crescimento da própria moral, bem como de virtudes dos seres humanos quando abor- dadas as questões éticas que envolvem animais nas pesquisas científicas. O estudo e interpretação das leis no que tange esse tipo de pesquisa é uma obrigatoriedade aos que trabalham nesta área. EThICAL ASPECTS IN LABORATORy ANIMALS AND ThE MAIN MODELS uSED IN SCIENTIfIC TESTS The use of animals in scientific experiments is a necessary practice in the search for new therapies for both humans and animals . This reflection aims to identify the main characteristics in relation to animals used in laboratory in Brazil. We found that the use of laboratory animals is a major historical practice of ethical content. By national law, the National Council for the Control of Animal Experimentation (CONCEA) was created with the purpose to clarify the use and handling, to improve the ethical treatment. In this study we focus on the structure of animal facilities, operational procedures mating and handling, especially for mice and rats. The methodology used in this review was characterized by capturing bibliographic basic research with experimental animals. The concern for the wellbeing of the animal should be constant and be present at all stages of their life. Thus, the study and interpretation of laws regarding this type of research is a requirement to working with her. Key words: Ethical aspects. Rodents. Laboratory. AB ST RA CT 154 RESBCAL, São Paulo, v.2 n.2, pg. 147-154, 2013 aSPECTOS ÉTICOS EM aNIMaIS DE LaBORaTÓRIO E OS PRINCIPaIS MODELOS uTILIzaDOS EM ENSaIOS CIENTífICOS 1. Paiva FP, Maffili VV, Santos ACS. Curso de Manipulação de Animais de Laboratório. Fundação Oswaldo Cruz. Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz. Salvador, 2005. 2. Rowe BD. Animal rights and human growth: intellectual courage and extending the moral community. Philosophical studies in education – 2009/Volume 40. 3. SBCAL (Sociedade Brasileira de Ciências em Animais de Laboratório). [citado em julho 2012]. Disponível em: http://www.cobea.org.br. 4. Silva MLPC, Espírito-Santo, NB. Bioterismo – Ciência e Biotecnologia. Rev Interdisc Estudos Experimentais. 2009;1(3):131-9. 5. Raymundo MM; Goldim, JR. Aspectos Históricos da Pesquisa com Animais. 1997. [citado em 17 janeiro 2012]. Disponível em: http://www.ufrg.br/ bioetica/animhost.htm. 6. Paixão RL. Os Desafios das Comissões de Ética no Uso de Animais. 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