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Monografia - DIREITOS DOS ANIMAIS E TESTES LABORATORIAIS A PROTEÇÃO CONTRA MAUS TRATOS E ATOS CRUÉIS EM PESQUISAS CIENTÍFICAS COM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL - Anna Geschwind

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Anna Carolina Geschwind Job 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITOS DOS ANIMAIS E TESTES LABORATORIAIS: A 
PROTEÇÃO CONTRA MAUS TRATOS E ATOS CRUÉIS EM 
PESQUISAS CIENTÍFICAS COM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cruz Alta - RS, 2018. 
 
 
Anna Carolina Geschwind Job 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITOS DOS ANIMAIS E TESTES LABORATORIAIS: A 
PROTEÇÃO CONTRA MAUS TRATOS E ATOS CRUÉIS EM 
PESQUISAS CIENTÍFICAS COM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Graduação em Direito da Universidade de 
Cruz Alta, como requisito parcial para obtenção do 
Título de Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Profª. Ma. Aline Antunes Gomes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cruz Alta - RS, junho de 2018. 
 
 
Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ 
Centro de Ciências Humanas e Sociais - CCHS 
Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITOS DOS ANIMAIS E TESTES LABORATORIAIS: A 
PROTEÇÃO CONTRA MAUS TRATOS E ATOS CRUÉIS EM 
PESQUISAS CIENTÍFICAS COM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL 
 
 
 
Elaborado por: 
 
Anna Carolina Geschwind Job 
 
 
 
 
Como requisito parcial para obtenção do Título de 
Bacharel em Direito 
 
 
 
 
Comissão Examinadora 
 
 
Profª. Ma. Aline Antunes Gomes (Orientadora)_________ UNICRUZ 
Profª. Ma. Raquel Busatti Souto _____________________UNICRUZ 
Prof. Me. Pablo Rodolfo Nascimento Homercher________UNICRUZ 
 
 
 
 
 
 
Cruz Alta - RS, junho de 2018.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
―Talvez chegue o dia em que o restante da criação animal 
venha a adquirir os direitos que jamais poderiam ter-lhe 
sido negados, a não ser pela mão da tirania. Os franceses 
já descobriram que o escuro da pele não é razão para que 
um ser humano seja irremediavelmente abandonado aos 
caprichos de um torturador. É possível que um dia se 
reconheça que o número de pernas, a vilosidade da pele ou 
a terminação do osso sacro são razões igualmente 
insuficientes para abandonar um ser senciente ao mesmo 
destino. O que mais deveria traçar a linha intransponível? 
A faculdade da razão, ou, talvez, a capacidade da 
linguagem? Mas um cavalo ou um cão adulto são 
incomparavelmente mais racionais e comunicativos do que 
um bebê de um dia, de uma semana, ou até mesmo de um 
mês. Supondo, porém, que as coisas não fossem assim, 
que importância teria tal fato? A questão não é ‗Eles são 
capazes de raciocinar?‘, nem ‗São capazes de falar?‘, mas, 
sim, ‗Eles são capazes de sofrer?'‖. Jeremy Bentham 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Aos animais, únicas criaturas capazes de amar incondicionalmente e que me 
ensinaram amor, carinho e o perdão. 
Aos meus pais, primeiramente, ao meu pai de coração, Alexandre, in memorian, por 
não ter medido esforços para que eu pudesse ingressar no ensino superior. Sei (e sinto) que 
onde quer que esteja, esta olhando por mim, obrigada por todo o amor e por toda a sabedoria. 
À minha mãe, Adelia, por ter sido meu alicerce a vida inteira, principalmente, durante a 
graduação, por todo amor e carinho. Ao meu pai, Enio, por sempre me incentivar e apontar 
minhas qualidades, mostrado que eu sou capaz de vencer, por ter me dado o dom do 
questionamento. 
Ao meu namorado, companheiro e amigo, Junior, por permanecer, incondicionalmente 
ao meu lado, me apoiando e me levantando todas as inúmeras vezes em que pensei não ser 
possível, não só durante a monografia, mas sim, durante todo o curso. 
Aos meus irmãos, Yuri, Ysadora e Alexia, por serem compreensivos e sempre me 
apoiarem, entenderem os pedidos de silêncio e ouvirem as lamúrias. 
À minha amiga e irmã de alma e coração, Gabriela, por sempre estar presente, apesar 
da distância, por me incentivar, incansavelmente e, principalmente, por acreditar no meu 
potencial. Tua amizade não pode ser explicada com simples palavras. 
Às mulheres excepcionais que proporcionaram meus maiores conhecimentos durante 
essa fase. Minha orientadora querida, Aline, por ser essa pessoa incrível, atenciosa e 
compreensível, por ter me ensinado o amor à escrita e a pesquisa, além de agarrar essa 
monografia com todo seu coração e me incentivar sempre a dar o melhor de mim. Minha 
primeira e eterna ―chefe‖, Ana Emília, por ter me ensinado a base de tudo o que sei hoje e 
ainda ser amiga, com certeza, sem você, eu não estaria concluindo a graduação. Minha atual 
―chefe‖, Lynn, por ser exigente e incisiva, (jamais esquecerei as vírgulas e crases). Vocês me 
ensinaram, além de todo o conhecimento jurídico, valores éticos e morais que levarei para a 
vida toda, são exemplos de mulheres inteligentes, guerreiras e batalhadoras. 
A todos vocês, que torceram por mim, que me deram forças com palavras de apoio 
para que eu concluísse essa monografia. A todos que lutam diariamente pelo fim do 
sofrimento animal, muito obrigada. 
 
 
RESUMO 
 
DIREITOS DOS ANIMAIS E TESTES LABORATORIAIS: A 
PROTEÇÃO CONTRA MAUS TRATOS E ATOS CRUÉIS EM 
PESQUISAS CIENTÍFICAS COM EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL 
 
Autora: Anna Carolina Geschwind Job 
Orientadora: Profª. Ma. Aline Antunes Gomes 
 
A relação homem versus natureza ocorre desde a pré-história, quando o homem precisou 
explorar a natureza para obter os recursos necessários à sua sobrevivência, seja quanto ao 
transporte, alimentação ou como forma de proteger a família de outros predadores. Com o 
passar do tempo e surgimento das novas tecnologias, o homem começou a utilizar animais 
como cobaias em testes e experimentos científicos variados, testes estes que resultam no 
sofrimento do animal. Por outro lado, surgiram os antivivisseccionistas e foram desenvolvidos 
métodos alternativos ao uso de animais, que não são muito aceitos pelos pesquisadores. 
Assim, houve uma crescente exploração do animal pelo homem, com a necessidade de 
regulamentar e garantir alguns direitos, a fim de reduzir a crueldade resultante da exploração 
desenfreada, o que foi realizado por meio de dispositivos legais, como, por exemplo, a 
Declaração Universal de Direitos dos Animais, ao vedar atos de crueldade ou maus tratos, 
além da Constituição Federal e outras Legislações Federais. Entre elas, a Lei Federal nº 
11.794/08 (Lei Arouca), que regulamenta a experimentação animal, e permite a utilização em 
estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica. 
Entretanto, essas pesquisas são realizadas por métodos cruéis, submetendo os animais a 
situações de maus tratos, o que possibilita a discussão acerca da violação dessas legislações e 
dos direitos dos animais, assim como da necessidade da utilização de métodos alternativos. 
Portanto, o presente trabalho, que se trata de uma pesquisa qualitativa bibliográfica, na qual 
foi utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, e os métodos de procedimento 
histórico e comparativo, foi estruturado em três capítulos. No primeiro apresentou-se a 
evolução histórica dos Direitos dos Animais até a legislação atual, com a introdução de 
conceitos da experimentação animal. No segundo capítulo houve a exposição dos 
experimentos mais utilizados em animais, e dos métodos alternativos e substitutivos 
existentes, com discussão da insegurança dos testes realizados em animais. E, ao final, foi 
analisada a experimentação animal a partir da Lei Federal 11.794/08 (Lei Arouca), de forma a 
demonstrar sua inconstitucionalidade em face do artigo 225, parágrafo 1°, inciso VII da 
Constituição Federal, as falhas legislativas, a falta de utilização de métodos alternativos e os 
procedimentos atuais que infligem extremo sofrimento aos animais utilizados nas pesquisas. 
 
Palavras-Chave: Direito dos Animais. Vivissecção. Experimentação Animal. Lei Arouca. 
Inconstitucionalidade. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
LABORATORY ANIMAL RIGHTS AND TESTING: PROTECTION 
AGAINST BAD TREATMENT AND CRIMINAL ACTS IN SCIENTIFIC 
RESEARCH WITH ANIMAL EXPERIMENTATION 
 
Author:Anna Carolina Geschwind Job 
Advisor: Teacher Md. Aline Antunes Gomes 
 
The relationship between man and nature occurs from prehistory, when man had to explore 
nature to obtain the resources necessary for his survival, whether in transportation, feeding or 
as a way of protecting the family from other predators. With the passing of time and the 
emergence of new technologies, man began to use animals as guinea pigs in tests and various 
scientific experiments, tests that result in the suffering of the animal. On the other hand, 
antivivisseccionistas appeared and alternative methods were developed to the use of animals, 
that are not very accepted by the researchers. Thus, there was a growing exploitation of the 
animal by man, with the need to regulate and guarantee some rights, in order to reduce the 
cruelty resulting from unbridled exploitation, which was done through legal provisions, such 
as the Universal Declaration of Animal Rights, prohibiting acts of cruelty or ill-treatment, in 
addition to the Federal Constitution and other Federal Laws. Among them, Federal Law No. 
11.794 / 08 (Lei Arouca), which regulates animal experimentation, and allows the use in 
institutions of professional technical education of medium level of the biomedical area. 
However, these surveys are carried out by cruel methods, subjecting animals to situations of 
mistreatment, which makes it possible to discuss breaches of these laws and animal rights, as 
well as the need to use alternative methods. Therefore, the present work, which is a qualitative 
bibliographical research, in which the hypothetical-deductive approach was used, and the 
methods of historical and comparative procedure, was structured in three chapters. The first 
one presented the historical evolution of Animal Rights up to the current legislation, with the 
introduction of concepts of animal experimentation. In the second chapter there was an 
exposition of the most used experiments in animals, and of the existing alternative and 
substitutive methods, with discussion of the insecurity of animal tests. Finally, animal 
experimentation was analyzed from Federal Law 11.794/08 (Lei Arouca), in order to 
demonstrate its unconstitutionality in the face of article 225, paragraph 1, item VII of the 
Federal Constitution, legislative failures, lack of use of alternative methods and current 
procedures that inflict extreme suffering on the animals used in the research. 
 
Keywords: Animal Law. Vivisection. Animal Experimentation. Lei Arouca. 
Unconstitutionality. 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9 
2 DIREITOS DOS ANIMAIS: CONCEITO, ASPECTOS GERAIS E LEGISLAÇÕES 
APLICÁVEIS ........................................................................................................................... 12 
3 EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL, MÉTODOS ALTERNATIVOS E SUBSTITUTIVOS 
NAS PESQUISAS CIENTÍFICAS: UM DIÁLOGO A PARTIR DO DIREITO 
COMPARADO.........................................................................................................................30 
4 UMA ANÁLISE DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL A PARTIR DA LEI FEDERAL 
11.794/2008 E SUA CONSTITUCIONALIDADE ................................................................ 54 
5 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 69 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 72 
ANEXO 01 ............................................................................................................................... 81 
ANEXO 02 ............................................................................................................................... 82 
ANEXO 03 ............................................................................................................................... 83 
ANEXO 04 ............................................................................................................................... 84 
ANEXO 05 ............................................................................................................................... 85 
ANEXO 06 ............................................................................................................................... 86 
ANEXO 07 ............................................................................................................................... 87 
ANEXO 08 ............................................................................................................................... 88 
ANEXO 09 ............................................................................................................................... 89 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A presente monografia, que se desenvolveu na área de direito constitucional e 
ambiental, trata do tema da proteção contra maus tratos e atos cruéis em pesquisas científicas 
com experimentação animal. Ressalta-se, inicialmente, que a escolha deste tema em 
específico ocorreu em razão de a pesquisadora ter, a vida toda, convivido com animais das 
mais diversas espécies, sendo eles gatos, cães, coelhos, pássaros, jabutis etc., o que a levou a 
compreender, ao longo dos anos, que todos os animais, independente de espécie, são seres 
capazes de sentir afeto, reconhecer o dono, demonstrar carinho e, serem capazes de sentir 
medo, dor e angústia, assunto pouco debatido na sociedade atual. 
Além da importância pessoal do tema, ele precisa ser abordado por possuir grande 
relevância social, uma vez que há a necessidade de interromper os maus tratos desenfreados 
contra a vida dos animais, especialmente porque apesar da disponibilidade de informações na 
sociedade atual, pouco se discute sobre o tema das experimentações científicas e dos métodos 
alternativos. De igual forma, possui relevância para o estudo acadêmico, haja vista que não 
há, no Curso de Direito, um estudo específico e aprofundado sobre o direito dos animais e sua 
utilização em experimentações científicas, sendo que abordar o assunto dentro do ambiente 
acadêmico apresentaria uma grande evolução para os Direitos dos Animais. 
O Direito dos Animais possui como fundamento principal a ideia de que os seres 
vivos, seres capazes de sentir dor e angústia, merecem proteção e tratamento paritário com os 
humanos, inclusive com limitações das suas ações que possam ser prejudiciais aos animais. O 
ordenamento jurídico brasileiro, que é objeto da presente pesquisa, veda a prática dos maus 
tratos aos animais, de qualquer natureza, entretanto, essa é uma proteção baseada na visão 
antropocêntrica, em que prevalecem os interesses do homem, pois a proteção e o interesse ao 
meio ambiente ocorrem conforme a necessidade humana e não pela consideração de que os 
animais são seres de direitos. 
Essa visão antropocêntrica fica evidente, por exemplo, ao ser analisada as legislações 
protetivas dos animais, que ao mesmo tempo em que os amparam da negligência humana, 
possibilitam a prática de experimentações científicas, vivendo o Brasil uma situação de 
constante negligência e atraso quando se trata de regulamentação e proteção dos direitos dos 
animais, o que fere o seu direito de dignidade. 
A relação do homem com o meio ambiente sempre ocorreu, pois, desde a pré-história, 
o homem precisou explorar a natureza para obter recursos para sua sobrevivência. A história, 
9 
 
evidência, baseada em dados resultantes de pesquisas arqueológicas, que o homem começou a 
ter a caça como uma prática característica no período Paleolítico (entre 4 milhões a.C. e 
12.000 a.C). Após, o ser humano passou por uma revolução cultural e, no período Neolítico 
(entre 12.000 a.C. e 6.000 a.C), surgiram as primeiras tentativas de domesticação de animais, 
à época, animaispara consumo como porcos, cabras e carneiros. Essa exploração começou a 
milhões de anos, ocorrendo tanto com relação ao espaço, quanto em relação aos animais, os 
quais eram usados (e ainda são) como transporte, tecelagem ou para alimentação. 
Assim, da mesma forma em que houve a necessidade de estabelecer alguns direitos 
quando o homem passou a viver em sociedade, também foi preciso regulamentar e garantir 
alguns direitos aos animais, a fim de reduzir a crueldade resultante da exploração desenfreada, 
o que foi realizado por meio de dispositivos legais, como, por exemplo, a Declaração 
Universal de Direitos dos Animais, proclamada na Assembleia da Organização das Nações 
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em Bruxelas, Bélgica, em 27 de 
janeiro de 1978. 
A referida Declaração veda a submissão do animal a atos de crueldade ou maus tratos, 
e define, inclusive, que a vivissecção
1
 é contrária ao direito dos animais, pois a 
experimentação implica em sofrimento físico e é incompatível com os direitos dos animais, 
seja ela uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra, motivo pelo qual as 
técnicas substitutivas devem ser utilizadas e desenvolvidas como métodos alternativos. 
Além da Declaração, há a Constituição Federal de 1988, que prevê, em seu artigo 225, 
parágrafo 1º, a obrigação do Poder Público e da coletividade de preservar o meio ambiente e 
sua fauna, proibindo toda e qualquer prática de crueldade animal; e a Lei de Crimes 
Ambientais (Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998), que em seu artigo 32 criminaliza os maus 
tratos aos animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. 
Entretanto, com a evolução do homem e da sociedade, houve o desenvolvimento de 
novos experimentos científicos, especialmente realizados em animais, para finalidades 
diversas, como medicamentos, produtos cosméticos, agrotóxicos, para fins de estudos 
acadêmicos etc. Assim, em razão desse contexto, em 2008, no Brasil, foi sancionada a Lei 
Federal nº 11.794/08 (Lei Arouca), que regulamenta a experimentação animal, e permite a 
utilização em estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área 
biomédica. 
 
1
 O termo vivissecção representa, em síntese, a dissecação anatômica ou qualquer operação congênere feita em 
animal vivo para estudo de algum fenômeno fisiológico. Trata-se, portanto, de um procedimento com finalidade 
científica utilizado com frequência em cursos voltados para área das ciências biológicas, tais como medicina, 
biologia, farmácia, odontologia e outros (LACERDA, 2013, p. 1). 
10 
 
As experimentações autorizadas pela Lei são, contudo, muitas vezes, realizadas por 
métodos cruéis, submetendo os animais a situações de maus tratos, o que é vedado pela 
Constituição e pela Declaração Universal e, ainda, considerado como crime ambiental pela 
Lei 9.605/98. 
Dessa forma, apresenta-se o seguinte questionamento: a utilização de animais para 
testes científicos, à luz do ordenamento jurídico brasileiro, incorre em violação dos direitos 
dos animais e do texto constitucional? 
O questionamento parte justamente do contraponto existente no ordenamento jurídico 
brasileiro, visto que ao mesmo tempo em que há legislações que visam a proteção dos 
animais, especialmente contra atos que configuram maus tratos ou que sejam cruéis, de outro 
lado, indo contra todas as legislações já mencionadas, existe a Lei Arouca (Lei 11.794/08), 
que possibilita experimentações científicas com animais, as quais, na maioria dos casos, são 
realizadas sem a devida fiscalização, e resultam em sofrimento e maus tratos aos animais 
cobaias, o que possibilita a discussão acerca da violação dessas legislações e dos direitos dos 
animais, assim como da necessidade da utilização de métodos alternativos para evitar os maus 
tratos e atos cruéis. 
No presente trabalho de conclusão de curso, se utilizará o método de pesquisa 
qualitativo bibliográfico, tendo como método de abordagem o hipotético-dedutivo e como 
métodos procedimentais, o histórico e o comparativo. 
Assim, para ser possível apresentar o resultado da pesquisa realizada, a divisão do 
trabalho se dará em três capítulos principais. O ―Capítulo I‖ abordará o conceito de Direito 
dos Animais, bem como o surgimento desses direitos e as legislações existentes atualmente e 
introduzirá conceitos da experimentação animal; no ―Capítulo II‖ realizar-se-á a exposição 
dos experimentos mais utilizados em animais, bem como os métodos alternativos e 
substitutivos existentes à utilização de animais em testes científicos, discutindo, ainda, sobre a 
insegurança dos testes realizados em animais quando da aplicação nos seres humanos para 
que, no ―Capítulo III‖, seja analisada a experimentação animal em pesquisas científicas e 
testagem de produtos, a partir da Lei Federal 11.794/08 (Lei Arouca), a fim de promover a 
discussão acerca da sua constitucionalidade. 
Por fim, ressalta-se que a presente pesquisa enquadra-se na linha de pesquisa 
―República, Estado e Sociedade Contemporânea‖, do Grupo de Pesquisa Jurídica (GPJUR) do 
Curso de Graduação em Direito da Universidade de Cruz Alta, uma vez que se trata de um 
tema que deve ser fiscalizado e protegido pelo Estado e pela Sociedade, pois a fauna é parte 
do meio ambiente, que é um bem de todas as pessoas; e em casos de violações por maus 
11 
 
tratos, como nas experimentações, há a necessidade da intervenção estatal para que seja 
garantido o direito dos animais. 
 
12 
 
2. DIREITOS DOS ANIMAIS: CONCEITO, ASPECTOS GERAIS E 
LEGISLAÇÕES APLICÁVEIS 
 
A interação dos animais com o ser humano existe desde os tempos primitivos, na pré-
história, quando o homem deixou de ser nômade e passou a explorar a natureza para obter 
recursos para sua sobrevivência. A associação ocorria tanto em relação ao espaço, quanto para 
uso com transporte, alimentação e, mais tarde, para domesticação (NAVES; BERNARDES, 
2014, p. 11-12). 
A maior prova dessa antiga relação, que se deu inicialmente para garantir a sua 
subsistência e a sobrevivência, são as pinturas rupestres, pois as primeiras representações 
artísticas do homem retratavam animais e homens coexistindo. Alguns estudiosos, como 
Pereira (2009, p. 31-32), acreditam que os locais que possuíam as pinturas rupestres se 
assemelhavam aos santuários ao ar livre, uma vez que o homem primitivo idolatrava os seus 
deuses e a natureza que o rodeava, tendo em vista que os animais exerciam grande impacto 
sobre a vida das comunidades, principalmente, daquelas dependentes da caça. 
Com o passar do tempo, o homem foi percebendo que coabitar com animais trazia 
alguns benefícios, motivo pelo qual deu início ao processo de domesticação animal. Segundo 
a arqueologia, a domesticação começou há mais de 500.000 anos, na era glacial, primeiro com 
os lobos, ancestrais dos cães, que eram atraídos até as aldeias em razão da comida em 
abundância
2
. Para Beaver (apud VIARO, 2008, p. 16-20) várias especulações surgiram a fim 
de justificar essa relação, entretanto, a mais aceita é de que a interação decorreu do 
compartilhamento da caça, pois o instinto gregário de clã foi canalizado quando passou a 
interagir com a família humana como se fosse matilha. 
Por volta de 6.000 a.C., os gatos começaram o processo de domesticação a partir dos 
egípcios, os quais tinham a intenção de utilizá-los na proteção dos celeiros que eram atacados 
por roedores. Com o passar do tempo, o gato começou a caçar ratos nas comunidades e 
moradias; e, em seguida, passaram a ser honrados e adorados como um Deus no Antigo Egito, 
com direito a ser mumificado, sendo que mata-lo poderia resultar na morte do indivíduo. 
Quando um gato morria, os donos e sua família raspavam suas sobrancelhas em sinal de luto 
(SANTOIANNI, 1993, p. 265-266). Outros vestígios desta relação próxima foram 
encontrados em sítiosarqueológicos, onde vários ossos de seres humanos foram enterrados 
com ossos de animais (BARROS, 2008, p. 57). 
 
2 
Informação retirada do website Canal do Pet. Disponível em: <http://canaldopet.ig.com.br/curiosidades/2016-
07-22/domesticacao-de-animais.html>. Acesso em 10 mar. 2018. 
13 
 
Para Martins (2013, p. 24), pode-se dividir a relação do homem-animal em três fases: 
concepção arcaica, econômico-funcional e ética do animal, sendo que ―na última fase o 
animal começa a ser observado não mais como apenas um objeto a serviço do homem, 
passando a existir a concepção ética do mesmo‖, motivo pelo qual, com a exploração e 
convivência mais próxima do homem com os animais, começou a se questionar se eles seriam 
seres dotados de sensibilidade dignos de direitos como os humanos (DUTRA, 2008, p. 938-
939). 
Segundo Abreu (2010, p. 35-37), muitos filósofos tentaram fundamentar a necessidade 
da abordagem acerca dos direitos dos animais, razão pela qual surgiram duas teorias, a do 
animismo, doutrina que falava sobre os animais possuírem espírito e lhe garantiriam direitos; 
e a teoria do totemismo, que abordava, basicamente, que a dinâmica do universo se 
organizava de tal forma que os animais constituíam um grupo ao lado dos humanos, devendo 
ser tratados com equivalência de direitos. Para Ackel Filho (2001, p. 30), por mais que não 
possuam alma, os animais: 
 
[...] são obra da Criação, portanto criaturas de Deus, postos na Natureza para habitar 
a Terra, no mesmo reino que os homens, participando segundo a sua condição da 
integridade biológica e de seus processos. Aos animais devem ser reconhecidos, 
portanto, direitos inalienáveis, tal como se faz aos homens. 
 
Ackel Filho (2001, p. 30) discorre, ainda, sobre a existência de três fundamentos 
essenciais para os direitos dos animais, são eles: fundamento natural, fundamento moral e o 
fundamento da necessidade. O primeiro decorre da ordem natural das coisas, pois os animais 
fazem parte da natureza e possuem um papel fundamental no meio ambiente, por isso, seus 
direitos existem de modo intrínseco à própria natureza das coisas, independentemente de 
normatização formal pelo homem, porque é uma expressão do que é certo, justo e verdadeiro. 
 O segundo fundamento, o fundamento moral, leva em consideração o sentimento 
único de cada indivíduo, que permite a diferenciação entre o bem e o mal. Já o terceiro e 
último fundamento, abrange a importância dos animais para a vida na terra, pois a falta deste 
acarretaria em um meio ambiente desequilibrado, que comprometeria a vida como um todo, 
pois o homem depende dos animais para viver e garantir sua subsistência, razão pela qual 
devem ser reconhecidos os direitos que lhes são inerentes (ACKEL FILHO, 2001, p. 30). 
Dessa forma, tendo em vista a necessidade dos seres humanos na utilização e 
exploração dos animais para viver, bem como os danos que lhes são causados, não apenas 
diretamente (com a utilização do animal em si para transporte, alimentação etc.), mas também 
14 
 
indiretamente (por meio da exploração do ambiente), é preciso uma proteção dos animais por 
parte da sociedade, assim como um reconhecimento dos seus direitos (ABREU, 2010, p. 37-
38). 
Mas antes de entrar nas lutas, normas, decretos, em prol dos animais, é preciso 
compreender o que se entende por ―Direito Animal‖, ―Direitos Animais‖ ou ―Direitos dos 
Animais‖. Direito Animal é o ―conjunto de legislações criadas pelo ser humano para 
estabelecer princípios e regras para estabelecer de que forma devemos tratar os animais 
(direito positivo)‖, o que é complicado se considerar que animais não têm direitos nos 
mesmos termos em que seres humanos pelo fato de que, em nenhum lugar do mundo, a 
legislação expressamente afirma que animais não são propriedades ou que não devam ser 
explorados (ANDA, 2016, [s.p.]). 
Já quando se faz menção a Direitos Animais, é feita com um intuito de aproximar os 
Direitos dos Animais, assim como os indivíduos possuem os Direitos Humanos. Rheda (apud 
FRANCIONE, 2013, [s.p.], ao traduzir o livro originalmente intitulado ―Introduction to 
animal rights: your child or the dog?‖, (―Introdução aos Direitos Animais: seu filho ou o 
cachorro?‖), afirmou que ―o termo direitos animais faz um paralelo linguístico com direitos 
humanos‖. 
Portanto, Direitos dos Animais é o direito natural, correto e justo, que disciplina que 
todo animal deve gozar à vida e à liberdade, independente da legislação, pois eles têm direitos 
inerentes simplesmente por serem sencientes, ainda que as leis permitam sua exploração, uma 
vez que estão sujeitas aos interesses do legislador, à moral da época, à cultura de cada povo, 
ao seu prazo de vigência e demais fatores. Muitas vezes o que está na lei contraria o que 
parece ser razoável ou justo ou, ainda, a legislação não goza de legitimidade; afinal, como 
referiam os romanos ―non omne quod licet honestum est‖ (nem tudo o que é legal é honesto) 
(ANDA, 2016, [s.p.]). 
A vontade em proteger os animais e o meio ambiente, bem como estabelecer direitos, 
pode ser observada desde 273 a 232 a.C., quando o Rei Ashoka, da dinastia Maurya, da Índia, 
instituiu a primeira Lei de proteção ao meio ambiente, ao proibir a morte e a mutilação 
desnecessária de qualquer animal para os fins de caça esportiva e a marcação de gado a ferro 
e, criar um hospital para animais (ALMEIDA, 2011, p. 16). 
Na Irlanda, em 1635, foi aprovada uma normatização que proibia arrancar os pelos das 
ovelhas e amarrar arados nos rabos dos cavalos (MENDES, 2010, [s.p.]). Alguns anos depois, 
em 1750, Jean-Jacques Rousseau, filósofo, argumentou que os seres humanos são animais e 
por isso todos os animais têm o direito inerente de não ser maltratado (SANTOS, 2011, p. 48). 
15 
 
Trinta e nove anos mais tarde, em 1789, o filósofo Jeremy Benthan, trouxe 
questionamentos que, até hoje, são debatidos, sendo a base para a posição atual sobre a 
proteção dos animais. Benthan (apud FRANCIONE, 2013, p. 17), basicamente rejeitava a 
visão comum de que, pelo fato de os animais não se comunicarem pela linguagem, os 
humanos poderiam, justificadamente, tratá-los como coisas, sem qualquer tipo de obrigação 
moral direta, defendendo que a senciência
3
 era o suficiente para provar o devido status moral 
dos animais. 
 
[...] um cavalo ou cachorro adulto é um animal incomparavelmente mais racional e 
mais sociável do que um bebê de um dia, uma semana ou mesmo um mês de idade. 
Mas suponha que não fosse esse o caso; de que isso serviria? A questão não é Eles 
podem raciocinar?, nem Eles podem falar?, mas sim Eles podem sofrer? 
(FRANCIONE, 2013, p. 17). 
 
Dias (2000, p. 62) refere que uma das primeiras proposições de Lei que surgiu foi 
―para impedir as lutas entre touros e cães, introduzida na Câmara dos Comuns em 1800‖. 
Entretanto, George Canning, Ministro de Assuntos Exteriores, a rejeitou por julgar um 
absurdo, comparando que, se assim fosse, teria que proibir o boxe. O assunto foi destaque no 
jornal The Times, que condenou a intromissão da Lei no direito de propriedade e no modo 
como a pessoa dispunha de seu tempo. 
Londres, a maior cidade do mundo ocidental do século XIX, foi a pioneira em tratar de 
normas de proteção animal. Isso porque entre os anos 1800 e 1809, dois projetos de Leis 
foram propostos: um que visava a proibição da luta entre cães, e outra que previa punição para 
quem maltratasse animais domésticos. Apesar de nenhuma das duas ter sido aprovada, elas 
abriram caminho para que o tema fosse amplamente discutido (MÓL; VENANCIO, 2014, p. 
19). 
Logo depois, com o aumento gradativo das lutas em prol dos animais, outros países 
também se manifestaram, como por exemplo, a Alemanha (1838) e a Itália (1948), que 
editaram normas com o intuito de coibir os maus-tratos aos animais (RODRIGUES, 2012, p. 
65). 
Em 1821, Richard Martin fez uma proposiçãode Lei para impedir os maus-tratos a 
cavalos; contudo, da mesma forma que a Lei que procurou impedir lutas entre cães e touros 
 
3
 A senciência é a capacidade de ser afetado positiva ou negativamente. É a capacidade de ter experiências. Não 
é a mera capacidade para perceber um estímulo ou reagir a uma dada ação, como no caso de uma máquina que 
desempenha certas funções quando pressionamos um botão. A senciência, ou a capacidade para sentir, é algo 
diferente, isto é, a capacidade de receber e reagir a um estímulo de forma consciente, experimentando-o a partir 
de dentro (ÉTICA ANIMAL, [s.a.], [s.p.]). 
16 
 
foi rechaçada, esta também foi. Apenas em 1822, ele obteve êxito com a aprovação da 
primeira Lei de proteção aos animais, que proibia que alguém submetesse a maus-tratos o 
animal que fosse propriedade de outrem, tornando, pela primeira vez, uma infração dessa 
seara punível (DIAS, 2000, p. 62). 
Em 1831, o neurologista Marshall Hall, um dos primeiros cientistas a se preocupar 
com o bem estar dos animais utilizados em pesquisas, escreveu os princípios nos quais os 
experimentos deveriam se basear para que a ciência fisiológica pudesse minimizar as 
incertezas e a crueldade, e fosse vista como um importante ramo do conhecimento e da 
pesquisa científica. Dentre eles, havia a ideia de somente realizar experimentos quando a 
simples observação não fosse capaz de fornecer as respostas, bem como evitar a repetição 
desnecessária de experimentos, que deveriam ser conduzidos com um mínimo de sofrimento 
animal (PAIXÃO, 2001, p. 19). 
Destaca-se, contudo, que apesar da intenção de instituir normas protecionistas, havia 
uma grande dificuldade no cumprimento dessas legislações, em razão da falta de interesse na 
fiscalização e para postular em juízo. A primeira sociedade que se apresentou, efetivamente, 
contra a crueldade animal, surgiu em 1824 na Inglaterra, intitulada de Royal Society for the 
Prevention of Cruelty to Animals. Sob os auspícios da Rainha Vitória, surgiu para postular em 
juízo o cumprimento da lei, e foi, posteriormente, ampliada para abranger a proteção a todos 
os animais domésticos (ALMEIDA, 2011, p. 16). Existe até os dias atuais e, inclusive, possui 
filiais em países como Escócia (1836), Irlanda (1840), Estados Unidos (1866) e Nova 
Zelândia (1882) (SCHNEIDER, 2017, p. 13). 
A Revolução Industrial também teve uma significativa contribuição para a evolução 
da proteção animal, porque o crescimento das cidades resultou no aumento da exploração 
animal das mais diversas formas, tanto no desenvolvimento de abatedouros para consumo, 
quanto no uso de animais de transporte. O aumento populacional, fez com que o tratamento 
que era dado aos animais, até então desconsiderado, passasse a ser visto de maneira diferente, 
que foi o estopim para que se iniciassem os movimentos modernos em prol da proteção aos 
animais (SCHNEIDER, 2017, p. 11-13). 
Aymoré (2008, p. 404) menciona que a postura filosófica na relação entre homem e 
animal começou a se modificar na Inglaterra, a partir da adoção dos princípios básicos de 
experimentação animal, pela British Association for de Advancement of Science, no ano de 
1871 e, em seguida, com o advento da Lei de crueldade contra animais, pela Royal Comission 
no ano de 1876. 
17 
 
No mesmo ano, foi proposta no Reino Unido, a primeira Lei que buscava não só 
proteger o direito dos animais, mas regulamentar o uso de animais em pesquisas, proposta por 
meio do ―British Cruelty to Animal Act‖. Ficou conhecida como ―Martin Act‖, em memória 
do ativista Richard Martin (1754-1834); entretanto, só era aplicável a animais domésticos de 
grande porte (GOLDIM; RAIMUNDO, 1997, [s.p.]). 
Outros acontecimentos históricos marcantes na luta pela proteção dos direitos dos 
animais ocorreram na Inglaterra, como a fundação do primeiro estabelecimento com a 
finalidade de abrigar animais que viviam nas ruas: o Lar Temporário para cães de Mary 
Talby. O segundo acontecimento ocorreu em 1906, quando estudantes de medicina 
praticaram, publicamente, procedimentos experimentais, como vivissecção, em cachorros 
adotados em instituições com esta finalidade; e o Conselho Antivivissecção Internacional 
ergueu uma estátua marrom no Battersea Park, como forma de protesto, tornando o evento 
conhecido como ―Caso do Cachorro Marrom‖. Em 1910, a estátua desapareceu 
misteriosamente, ano em que se realizou um protesto contra o uso de animais para 
experimentos, e uma grande discussão sobre o assunto, que impulsionou a aprovação de uma 
Lei de proteção aos animais, em 1911, com alcance a toda legislação existente para este fim 
(ALMEIDA, 2011, p. 17). 
Em meio a tantas manifestações em prol da proteção aos animais e seus direitos, 
discussões entre cientistas e antivivisseccionistas, importante mencionar que um alicerce 
moral sobre a questão começou a ser construído em 1959 pelos cientistas Russel e Burch ao 
publicarem em seu livro, o ―The Principles of Humane Experimental Techique‖, as diretrizes 
internacionais que ficaram conhecidas como ―o princípio dos 3R‘s‖ (DALBEN; EMMEL, 
2013, p. 281). Entretanto, os princípios serão mais propriamente abordados no Capítulo II, 
quando discutidos os métodos alternativos à utilização animal, momento que será pertinente 
melhor compreensão sobre o assunto e sua aplicação no ordenamento jurídico brasileiro. 
No ano de 1970, foram numerosas as manifestações, com passeatas e protestos, que 
realizavam a remoção de animais usados em pesquisas, fazendas de criação intensiva e 
sabotagens a práticas de caça, laboratórios e criadouros, que resultou na divisão dos grupos de 
proteção animal em duas categorias: a de bem-estar, que aceitava que os animais servissem 
para o uso do homem de forma humanitária e, a corrente que acreditava no direito dos animais 
e pretendia acabar com toda forma de exploração animal em favor dos humanos (ALMEIDA, 
2011, p. 17). 
O ano de 1972, nesse sentido, representou um avanço significativo, pois, na 
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, foi quando começou a ser 
18 
 
abordada, com mais seriedade, a necessidade de proteção do meio ambiente, bem como dos 
animais, com a aprovação de uma Declaração, que ficou conhecida como Declaração de 
Estocolmo, que contém 26 (vinte e seis) princípios que norteiam a preservação do meio 
ambiente (SOARES, 2014, p. 15-16). 
Após essa conferência, foi elaborada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais 
(DUDA), introduzida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação 
(UNESCO), em 1978, que teve como objetivo resguardar os animais contra maus-tratos e 
crueldades, como forma de mostrar ao homem o melhor caminho para manter uma relação 
saudável e equilibrada com o meio ambiente, com o reconhecimento do valor da vida de todo 
e quaisquer seres vivos, independentemente de sua espécie, incluindo, também, a proteção de 
sua dignidade, respeito e integridade. Entretanto, essa Declaração apesar de especificar as 
obrigações, não impôs penalidades em caso de descumprimentos, o que representa um avanço 
legal, mas tem pouca eficácia prática (SOARES, 2014, p. 15-16). 
A primeira nação Europeia a incluir a proteção animal em sua Constituição foi a 
Alemanha, ao estabelecer que ―O Estado tem responsabilidade de proteger os fundamentos 
básicos da vida e dos animais em prol das gerações futuras‖, seguida da Suíça que reconheceu 
os animais em sua Constituição a partir de uma emenda constitucional (ALMEIDA, 2011, p. 
17-18). 
Desde o final do século passado e, sobretudo, no início deste século, a legislação de 
diversos países passou a contemplar a proteção dos animais por meio de convenções, decretos 
e normas. Nesse sentido, Dias (2000, p. 62-64) menciona algumas delas: 
 
República Libanesa (sob mandato da França) — decreto de 2 de março de 1925, 
que regula a proteção animal. Itália— Lei de 12 de junho de 1913: que regulamenta 
a proteção animal, confirma e amplia os dispositivos do Código Penal, dispondo 
sobre crueldade, trabalho excessivo, tortura, experimento científico, animais de 
carga, caça de aves migratórias e maus-tratos. Bélgica — Lei de 2 de março de 
1929: que dispõe sobre crueldade, maus-tratos, pássaros cantores cegos, trabalho 
doloroso e superior às forças, lutas de animais, vivissecção. Código Penal Belga — 
arts. 557, § 6º, que dispõe sobre matar maldosamente e ferir animais:— Decreto real 
de 28 de junho de 1929, que dispõe sobre transporte e abate de animais. — Decreto 
real de 25 de outubro de 1929, que dispõe sobre pássaros insetívoros.— Decreto real 
de 20 de novembro de 1931, que dispõe sobre transporte de cavalo por estrada de 
ferro. Luxemburgo — Código Penal, arts. 538 a 541 e 557 a 561, que dispõe sobre 
envenenamento de animais e poluição dos rios, abate de animais, condutores de 
veículos, crueldade, maus-tratos, luta entre animais, espetáculos cruéis. Espanha — 
Ordem real de 26 de dezembro de 1925, que considera que em todo país civilizado, 
deve-se fazer esforço para tratar bem os animais:— Decreto do Ministro do Interior, 
de 17 de novembro de 1931, que cria um escritório central para proteção dos 
animais e plantas.— Lei de 19 de setembro de 1896, que dispõe sobre proteção das 
aves.— Ordem de 1º de julho de 1927, que dispõe sobre captura de animais 
errantes.— Ordem de 7 de fevereiro de 1928, que dispõe sobre touradas.— Ordem 
de 28 de fevereiro de 1929, que dispõe sobre briga de galo e jogo de enterrar aves 
19 
 
até a cabeça.— Ordem de 31 de julho de 1929, que dispõe sobre crueldade, 
trabalhos excessivos, pássaros cegos e vivissecção. Portugal — A legislação 
portuguesa compreende leis e decretos relativos à proteção em geral e uma 
regulamentação especial sobre a interdição da corrida de touros com morte do 
animal:— O Decreto de 16 de setembro de 1886, que se incorporou ao Código 
Penal, os arts. 478 a 481, sobre envenenamento, animal de carga, animal de 
consumo, matar e ferir animais. — O Decreto 5.864, de 12 de junho de 1919, que se 
refere a trabalhos excessivos. Argentina — Desde 1891, a Lei 2. 786, de 3 de 
agosto, que protege os animais. Inglaterra — Desde 1809, lorde Erskine tentou 
junto ao Parlamento, obter justiça em favor dos animais, mas foi em 1822 que 
Richard Martin conseguiu o primeiro ato em favor dos animais. Os primeiros atos na 
Inglaterra foram os de 1849 (animais domésticos), 1854 (cães), 1876 (vivissecção), 
1906 (proibindo o uso de cães e gatos para experimentos científicos), 1921 (tiro ao 
pombo), ato 1925 (aprisionamento de ave em gaiolas insuficientes). Alemanha — A 
primeira lei, em 26 de maio de 1926, pune com pena de prisão e multa aquele que 
tratasse o animal com crueldade. Áustria — A punição para aquele que maltratasse 
animais em público data de 1855. Hungria — A lei Fundamental XI, de 1879, em 
seu § 86, punia com prisão e multa quem submetesse os animais a maus-tratos. 
Suécia — Desde 1988 está na vanguarda da proteção animal, com o The Animal 
Protection Act, de 2 de julho. A lei sueca trata do bem-estar dos animais de 
consumo, além dos animais de companhia, animais usados para corrida e exibição, e 
animais para propósitos científicos. (...) Com o novo Ato, aos rebanhos é concedido 
o direito de pastagem, as galinhas não recebem hormônios e drogas e aos criadores é 
concedido o prazo de dez anos para libertá-las das prisões. Os abates devem ser 
humanitários. Enfim é uma das melhores leis do mundo para os animais. Suíça — 
Alguns cantões já puniam os maus-tratos a animais desde o fim do século passado. 
Hoje, a Lei Federal de 9 de março de 1978 é uma das mais avançadas do planeta. Ela 
trata dos experimentos científicos envolvendo animais, do sistema de estabulação 
dos animais, da detenção de animais selvagens, do comércio de animais, do 
transporte de animais e do abate de animais. As disposições penais referem-se aos 
maus-tratos aos animais, à negligência, ao abate de forma cruel, à promoção de lutas 
entre animais e à realização de experimentos dolorosos, que são crimes puníveis 
com prisão e multa. O processo penal e o julgamento são de competência dos 
cantões. Essa Lei foi regulamentada pelo decreto de 27 de maio de 1981. França — 
Podem ser citados a Lei Grammont, de 2 de julho de 1850, e o Código Penal de 
1791, que qualificam como crime o envenenamento de animais pertencentes a 
terceiros e os atentados a bestas e cães de guarda em território de outrem. O novo 
Código Penal, no art. 38, prevê pena de multa e prisão para aquele que submeter 
animais domésticos ou cativos a maus-tratos, publicamente ou não. De forma 
expressa, coloca-se que este artigo não se aplica a corridas de touros ou a brigas de 
galos. O art. 39 trata da reincidência e do aumento da pena. A crueldade está 
tipificada no art. 453, que prevê pena de 15 dias a 6 meses e multa. Com a mesma 
pena é punido quem abandonar voluntariamente o animal, exceto para 
repovoamento. O art. 453 impõe limitações à pesquisa científica. 
 
Quando se trata do Brasil, em uma abordagem a partir do seu descobrimento, é 
possível perceber que os colonizadores portugueses viam as florestas como símbolos de 
pestilência e todo bicho que fosse perigoso ou repelente deveria ser morto (SILVA, 2001, p. 
35), ou seja, a relação histórica homem versus animal no Brasil teve um início conturbado. 
Segundo Levai (2004, p. 25): 
 
[...] nos bastidores da história, aliás, sempre a devastadora imagem de um animal 
subjugado pelo homem. A nau Bretoa voltou para Portugal, em 1511, repleta de 
papagaios, bugios, saguis, inaugurando a rota marítima das grandes explorações. Na 
mesma época – informam os registros históricos – interceptou-se em águas 
20 
 
europeias uma embarcação francesa pirata, a nau Pelérine, carregada de produtos 
aqui contrabandeados: 5.000 toras de pau-brasil, 3.000 peles de felinos, 600 aves e 
300 macacos. 
 
Importante mencionar que, somente com a emancipação política, ocorrida em 7 de 
setembro de 1822, o Brasil começou a elaborar suas próprias leis, ficando ―liberto‖ da tutela e 
cultura colonialista. A legislação penal brasileira começou, nesse período, com contribuição 
das normas portuguesas, a sua formação em prol da proteção da fauna, mas somente visando o 
valor econômico dos animais, não seus direitos à vida e ao não sofrimento (LEVAI, 2004, p. 
28). 
Somente em 1886, 64 (sessenta e quatro) anos mais tarde, no Município de São Paulo, 
houve a instituição de norma protecionista por meio do Código de Posturas
4
. O Código 
regulamentava diversas posturas que deveriam ser rigorosamente adotadas pelos cidadãos, 
principalmente, relacionadas a poluição. Neste período, os burros eram utilizados para puxar 
bondes em São Paulo e Rio de Janeiro, e eram frequentemente maltratados, motivo pelo qual 
houve a criação de um artigo que regulamentasse a atividade (SILVA, [s.a.] p. 3): 
 
Art. 220. É proibido a todo e qualquer cocheiro, condutor de carroça, pipa d‘água, 
etc., maltratar os animais com castigos bárbaros e imoderados. Esta disposição é 
igualmente aplicada aos ferradores. Os infratores sofrerão a multa de 10$, de cada 
vez que se der a infração (LEVAI, 2004, p. 29)
5
. 
 
Durante o governo Vargas, a primeira iniciativa federal foi o Decreto-Lei n° 16.590, 
de 1924, o qual dispôs sobre o funcionamento de casas em que utilizassem animais para 
diversão pública, com proibição das rinhas de galo e canário, corridas de touros, novilhos e 
garraios (RODRIGUES, 2012, p. 66). 
Em 1934, foi promulgado o Decreto-Lei n° 24.645
6
, a partir de uma iniciativa da 
União Internacional de Proteção aos Animais (UIPA), entidade fundada em 1895 e 
considerada a mais antiga do Brasil em Proteção Animal, que tornou contravenção penal os 
maus-tratos aos animais com previsão de penalidades, que se limitavam à pena restritiva deliberdade cumulada com multa (DIAS; SILVA apud SCHNEIDER, 2017, p. 44). 
Esse decreto foi a única e maior referência que se tem hoje para o conceito de maus-
tratos, pois disciplinava diversas formas e estabelecia sanções penais para aqueles que os 
 
4
 Esse Código foi instituído antes do Brasil República, sendo a primeira norma legal protecionista que passou a 
existir no país (SILVA, [s.a.], p. 3). 
5
 Considerando a impossibilidade de localizar o Código de Posturas, fez-se a citação do autor que a citou em sua 
obra, qual seja, Levai. 
6
 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d24645.htm>. Acesso em 25 abr. 
2018. 
21 
 
praticassem. Exemplo disso é que, no artigo 3°
7
, ficou estabelecido o que pode ser 
considerado maus-tratos, com destaque para: praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer 
animal; engordar aves mecanicamente; ministrar ensino a animais com maus-tratos físicos; 
não dar morte rápida, livre de sofrimento prolongado, a todo animal cujo extermínio seja 
necessário para consumo ou não, entre outros. 
Levai (2004, p. 32) afirma que, apesar de esta norma ter sido considerada parcialmente 
revogada, ―o Decreto n° 24.645/1934 não foi revogado por nenhuma lei posterior a ele, nem 
expressa nem tacitamente. Sua natureza é de lei, de modo que somente uma outra lei poderia 
 
7
 Art. 3º. Consideram-se maus tratos: I - praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal; II - manter 
animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento ou o descanso, ou os privem 
de ar ou luz; III - obrigar animais a trabalhos excessivos ou superiores ás suas forças e a todo ato que resulte em 
sofrimento para deles obter esforços que, razoavelmente, não se lhes possam exigir senão com castigo; IV - 
golpear, ferir ou mutilar, voluntariamente, qualquer órgão ou tecido de economia, exceto a castração, só para 
animais domésticos, ou operações outras praticadas em beneficio exclusivo do animal e as exigidas para defesa 
do homem, ou no interesse da ciência; V - abandonar animal doente, ferido, extenuado ou mutilado, bem coma 
deixar de ministrar-lhe tudo o que humanitariamente se lhe possa prover, inclusive assistência veterinária; VI - 
não dar morte rápida, livre de sofrimentos prolongados, a todo animal cujo extermínio seja necessário, parar 
consumo ou não; VII - abater para o consumo ou fazer trabalhar os animais em período adiantado de gestação; 
VIII - atrelar, no mesmo veículo, instrumento agrícola ou industrial, bovinos com equinos, com muares ou com 
asininos, sendo somente permitido o trabalho etc. conjunto a animais da mesma espécie; IX - atrelar animais a 
veículos sem os apetrechos indispensáveis, como sejam balancins, ganchos e lanças ou com arreios incompletos 
incomodas ou em mau estado, ou com acréscimo de acessórios que os molestem ou lhes perturbem o 
funcionamento do organismo; X - utilizar, em serviço, animal cego, ferido, enfermo, fraco, extenuado ou 
desferrado, sendo que este último caso somente se aplica a localidade com ruas calçadas; XI - açoitar, golpear ou 
castigar por qualquer forma um animal caído sob o veículo ou com ele, devendo o condutor desprendê-lo do tiro 
para levantar-se; XII - descer ladeiras com veículos de tração animal sem utilização das respectivas travas, cujo 
uso é obrigatório; XIII - deixar de revestir com couro ou material com idêntica qualidade de proteção as 
correntes atreladas aos animais de tiro; XIV - conduzir veículo de terão animal, dirigido por condutor sentado, 
sem que o mesmo tenha bola é fixa e arreios apropriados, com tesouras, pontas de guia e retranca; XV - prender 
animais atrás dos veículos ou atados ás caudas de outros; XVI - fazer viajar um animal a pé, mais de 10 
quilômetros, sem lhe dar descanso, ou trabalhar mais de 6 horas continuas sem lhe dar água e alimento; XVII - 
conservar animais embarcados por mais da 12 horas, sem água e alimento, devendo as empresas de transportes 
providenciar, saibro as necessárias modificações no seu material, dentro de 12 meses a partir da publicação desta 
lei; XVIII - conduzir animais, por qualquer meio de locomoção, colocados de cabeça para baixo, de mãos ou pés 
atados, ou de qualquer outro modo que lhes produza sofrimento; XIX - transportar animais em cestos, gaiolas ou 
veículos sem as proporções necessárias ao seu tamanho e número de cabeças, e sem que o meio de condução em 
que estão encerrados esteja protegido por uma rede metálica ou idêntica que impeça a saída de qualquer membro 
da animal; XX - encerrar em curral ou outros lugares animais em úmero tal que não lhes seja possível moverem-
se livremente, ou deixá-los sem água e alimento mais de 12 horas; XXI - deixar sem ordenhar as vacas por mais 
de 24 horas, quando utilizadas na explorado do leite; XXII - ter animais encerrados juntamente com outros que 
os aterrorizem ou molestem; XXIII - ter animais destinados á venda em locais que não reúnam as condições de 
higiene e comodidades relativas; XXIV - expor, nos mercados e outros locais de venda, por mais de 12 horas, 
aves em gaiolas; sem que se faça nestas a devida limpeza e renovação de água e alimento; XXV - engordar aves 
mecanicamente; XXVI - despelar ou depenar animais vivos ou entregá-los vivos á alimentação de outros; 
XXVII. - ministrar ensino a animais com maus tratos físicos; XXVIII - exercitar tiro ao alvo sobre patos ou 
qualquer animal selvagem exceto sobre os pombos, nas sociedades, clubes de caça, inscritos no Serviço de Caça 
e Pesca; XXIX - realizar ou promover lutas entre animais da mesma espécie ou de espécie diferente, touradas e 
simulacros de touradas, ainda mesmo em lugar privado; XXX - arrojar aves e outros animais nas casas de 
espetáculo e exibi-los, para tirar sortes ou realizar acrobacias; XXXI transportar, negociar ou cair, em qualquer 
época do ano, aves insetívoras, pássaros canoros, beija-flores e outras aves de pequeno porte, exceção feita das 
autorizares Para fins científicos, consignadas em lei anterior. 
22 
 
inviabilizá-lo‖. Asseverou, ainda, que o decreto traz o próprio animal como destinatário da 
proteção jurídica e delega a competência para representá-lo em juízo ao Ministério Público. 
Posteriormente, em 1938, foi elaborado o primeiro Código de Pesca, Decreto-Lei n° 
794, porém, os animais ainda eram vistos como coisas de ninguém e como recursos 
ilimitados, inexistindo preocupação com esses seres (SILVA, 2001, p. 104). 
Em 1941, houve uma complementação do Decreto n° 24.645 com diretrizes que 
visavam a proteção animal, a partir do Decreto Lei n° 3.688, conhecido também como a Lei 
das Contravenções Penais (RODRIGUES, 2012, p. 66). Em 1967, por meio da Lei de 
Proteção à Fauna, ocorreu um novo acréscimo, com proibição da caça, da perseguição e 
aprisionamento dos animais das florestas e matas; sendo, tais medidas reafirmadas pela Lei da 
Política Nacional do Meio ambiente (MÓL; VENANCIO, 2014, p. 26). 
Apesar de ter representado um significativo progresso para o país, o referido Decreto 
limitou-se apenas a coibir as condutas, sem a criação de órgãos específicos para fiscalizar os 
maus tratos, motivo pelo qual, restou, ineficiente (CASTRO JUNIOR; VIDAL, 2015, p. 23-
24). 
Com a marcha ascensional da cultura e do progresso no Brasil, durante o século XX, 
várias leis surgiram com o intuito de proteger os animais dos maus tratos e da crueldade, 
como por exemplo: Código de Caça (Lei Federal n° 5.197 de 3 de janeiro de 1967, alterada 
pela Lei 7.653, de 12 de fevereiro 1988), também chamada de Lei de Proteção à Fauna; Lei 
Federal n° 4.591/64, que regula a condição dos animais que vivem em condomínios de 
apartamentos; Lei da Vivissecção (Lei 6.638, de 8 de maio de 1979); Lei 6.938/81, que define 
a fauna como meio ambiente; Lei dos Zoológicos (Lei 7.173, de 14 de dezembro de 1983);Lei n° 7.347/85, que instituiu a ação civil pública, conferindo ao Ministério Público a defesa 
dos animais; Lei dos Cetáceos (Lei 7.643, de 18 de dezembro de 1987), também conhecida 
como Lei de Proteção à Baleia; Lei da Inspeção de Produtos de Origem Animal (Lei 7.889, de 
23 de novembro de 1989); Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998); 
entre outras (RODRIGUES, 2012, p. 67) (DIAS, 2000, p. 65). 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil passou a prever de fato a 
proteção aos animais, pois antes de seu advento, não havia, em nenhuma legislação, referência 
ao termo fauna, apenas a Constituição de 1934 que estipulava a competência para legislar 
sobre pesca e caça à União, mas nada sobre proteção. O texto constitucional passou a prever, 
assim, em seu artigo 225, parágrafo 1º
8
 a obrigação do Poder Público e da coletividade de 
 
8 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e 
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e 
23 
 
preservar o meio ambiente e sua fauna, proibindo toda e qualquer prática de crueldade animal 
(SILVA, [s.a.], p. 3). 
Ao discorrer sobre a matéria, Machado (2013, p. 952) sustenta que ―o texto 
constitucional não disse expressamente que os animais têm direito à vida, mas é lógico 
interpretar que os animais a serem protegidos da crueldade devem estar vivos, e não mortos‖, 
sendo dever do Poder Público preservar a vida desses seres. 
Machado (2009, p. 02) menciona, ainda, que a Constituição Federal vedou as práticas 
que submetam os animais à crueldade e, no mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal tem 
decidido pela proteção dos animais em casos que se tornaram paradigmáticos, como a ―farra 
do boi‖, no Estado de Santa Catarina e a decretação da inconstitucionalidade de Leis estaduais 
que permitem rinhas de galos e outras práticas consideradas ―culturais‖ que submetam os 
animais a qualquer tipo de sofrimento e crueldade. 
Outrossim, o Brasil também é signatário de Tratados e Convenções internacionais 
referentes ao tema. Em 1975 o país adotou a Convenção sobre o Comércio Internacional das 
Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES). Essa convenção 
―estabelece medidas a serem observadas pelos países importadores e exportadores. Prevê 
obrigações para as autoridades administrativas e científicas que devem se manifestar toda vez 
que houver transação comercial‖ (DIAS, 2000, p. 93). 
Em 1991, o Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) editou um 
documento chamado ―Princípios éticos na experimentação animal,‖ que trata sobre a 
importância, a responsabilidade e os cuidados que o pesquisador deve ter com o animal. Além 
disso, determina a necessidade de se verificar a existência de métodos alternativos, para que a 
utilização animal ocorra somente em último caso (ABREU, 2010, p. 48). 
 
preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao 
poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das 
espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as 
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da 
Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a 
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos 
atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade 
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a 
que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e 
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação 
ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - 
proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, 
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
24 
 
Já o Código Civil brasileiro de 2002, trata os animais como coisas, segundo a 
definição disposta em seu artigo 82
9
, que os considera como parte do patrimônio de quem 
detêm a sua propriedade. Segundo Fiorenza (2013, p. 1-2) podem ser denominados também 
como semoventes, ou seja, coisas que se movem por si próprias. 
À nível estadual, o Rio Grande do Sul foi o primeiro Estado do país a estabelecer uma 
norma de proteção aos animais. Foi instaurada a Lei n° 11.915/2003, que estabelece o Código 
Estadual de Proteção aos Animais e objetivou harmonizar o desenvolvimento econômico 
juntamente a preservação do meio ambiente. Além disso, no seu artigo 2º
10
, incisos I ao VII, 
vedou diversas condutas que atentem contra a vida ou integridade física ou psicológica desses 
seres, ao determinar, por exemplo, que não se deve agredi-los, sujeitá-los a experiências que 
possam causar-lhes sofrimento, mantê-los em locais que lhe impossibilitem de movimentar-
se, obter descanso ou privação de luz, obrigá-los a trabalhar excessivamente, não dar morte 
rápida nos casos de extermínio necessário para consumo, entre outras condutas. 
Além dos dispositivos legais que determinam que os animais devam ser protegidos, 
há, ainda, a Lei 9.605/98, conhecida como Lei dos crimes ambientais, que surgiu com intuito 
de proteger a fauna, e engloba todos os animais em qualquer fase de desenvolvimento 
(ABREU, 2010, p. 50-51). Em seu artigo 32
11
, passou a considerar o ato de maus tratos, a 
qualquer espécie, seja ela doméstica ou exótica, como crime ambiental. 
Importante mencionar que o Estado de Minas Gerais foi mais além, e inaugurou, em 
2013, a primeira Delegacia Especializada de Investigação de Crime contra a Fauna 
(DEICCF). Entretanto, durante uma visita técnica, foi constatado que, atualmente, a delegacia 
está inoperante devido à falta de efetivo para dar andamento às denúncias de maus tratos 
(CIPRIANI, 2016, [s.p.]). 
Conforme observado por Gomes (2010, [s.p.]), os Estado-membros tem se preocupado 
em proteger os animais e o meio ambiente, sendo que alguns são destaques na questão do 
 
9 
São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da 
substância ou da destinação econômico-social (FIORENZA, 2013, p. 2). 
10 
Art. 2º. É vedado: I - ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência 
capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência; II - manter 
animais em local completamente desprovido de asseio ou que lhes impeçam a movimentação, o descanso ou os 
privem de ar e luminosidade; III - obrigar animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força; IV - 
não dar morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja necessário para consumo; V - exercer a venda 
ambulante de animais para menores desacompanhados por responsável legal; VI - enclausurar animais com 
outros que os molestem ou aterrorizem; VII - sacrificar animais com venenos ou outros métodos não 
preconizados pela Organização Mundial da Saúde - OMS -, nos programas de profilaxia da raiva. 
11 
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, 
nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, emulta. § 1º Incorre nas mesmas penas quem 
realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando 
existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. 
25 
 
bem-estar animal, e preocuparam-se com as condições reais em que eles vivem, mas, ainda 
assim, só com o bem estar e não em garantir tratamento humanitário. Isso complementa a 
visão de Levai (2006, p. 2) ao referir que o repertório jurídico brasileiro é suficiente para 
proteger os animais dos maus tratos e da negligência humana; contudo, apesar da previsão 
legal, não há interesse ou fiscalização para garantir eficácia na prática. 
Como já mencionado anteriormente, um dos motivos que colocou em pauta a 
discussão acerca dos direitos dos animais foi a evolução do homem e da sociedade, mas o 
surgimento de novas ciências foi determinante, pois deu início a experimentos científicos cujo 
objetivo é o desenvolvimento de novos medicamentos, produtos cosméticos, agrotóxicos, para 
fins de estudos acadêmicos etc. (ABREU, 2010, p. 45-46). Isso impulsionou os debates acerca 
da capacidade que esses seres vivos possuem de sentir dor, tema que iniciou sendo discutido 
no século XVIII e perdura até os dias atuais (VENTURA; PASSOS, 2015, p. 98). 
Para Paixão (2001, p. 6-8), a experimentação animal é um procedimento que busca 
―descobrir princípio ou efeito desconhecido, pesquisar uma hipótese ou ilustrar um [...] fato 
conhecido‖. A terminologia pode se referir tanto ao estudo dos próprios animais, quanto para 
obter conhecimentos benéficos para a espécie humana, o que é mais comum. Além disso, os 
animais também são utilizados para testes de outras finalidades, como toxicidade, eficácia de 
armas militares, produtos de beleza, e outras situações. Pode ser entendida, assim, como a 
prática de intervenções em animais vivos (vivissecção) ou recém-abatidos (dissecação) com a 
finalidade de beneficiar o conhecimento científico. 
É um procedimento desenvolvido desde a Antiguidade, capaz de ferir a sensibilidade 
humana e que tem despertado a discussão entre a comunidade acadêmica e a sociedade 
protetora dos animais, que vai além do argumento ético e questiona, inclusive, a real 
eficiência desse método de ensino e pesquisa diante do presente avanço tecnológico-científico 
atual (GUIMARÃES; FREIRE; MENEZES, 2016, p. 218). 
A experimentação animal, propriamente dita, se baseia na observação dos efeitos de 
substâncias sobre organismos vivos, da qual o experimentador se vale de técnicas fisiológicas 
ou bioquímicas. A partir das observações feitas, podem ser obtidos dados qualitativos ou 
quantitativos sobre a ação de medicamentos ou substâncias (PRESGRAVE, 2006, p. 361). 
Em 1979, foi sancionada, no Brasil, a Lei nº 6.638
12
, que disciplinava as ―Normas para 
a Prática Didático-Científica da Vivissecção em Animais‖. Esta lei era sucinta, mas deixava 
livre a prática da experimentação com animais, com a limitação de que somente os 
 
12
 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6638.htm>. Acesso em 25 abr. 2018. 
26 
 
estabelecimentos de ensino superior poderiam realizar atividades didáticas com animais, e que 
as pesquisas deveriam ser realizadas de forma a não causar sofrimento aos animais utilizados 
nas pesquisas (BITENCOURT, 2015, p. 29). 
Em seu texto, descrevia os critérios regulamentadores necessários, tais como: o 
registro dos biotérios e centros de pesquisas em órgãos competentes
13
, a obrigatoriedade do 
uso de anestesia
14
, a necessidade de supervisão competente por técnico especializado
15
, a 
proibição da vivissecção em estabelecimentos de primeiro e segundo grau e em quaisquer 
locais frequentados por menores de idade
16
, que o animal só poderia ser submetido às 
intervenções recomendadas nos protocolos das experiências que constituem a pesquisa ou nos 
programas de aprendizagem cirúrgica, quando, durante ou após a vivissecção, receber 
cuidados especiais
17
 e a permissão para o sacrifício do animal ―sob estrita obediência às 
prescrições‖
18
. 
Ainda que as atividades vivisseccionistas estivessem, por muito tempo, respaldadas 
por esta lei, haja vista que logo no seu artigo 1º já revelava seu intuito ao preconizar que ―fica 
permitida, em todo o território nacional, a vivissecção de animais, nos termos desta lei‖, ela 
 
13
 Artigo 2º e 3º da Lei nº 6.638/79. Art. 2º. Ficam proibidos em todo o território brasileiro o plantio, a cultura, a 
colheita e a exploração, por particulares, de todas as plantas das quais possa ser extraída substância entorpecente 
ou que determine dependência física ou psíquica. § 1º As plantas dessa natureza, nativas ou cultivadas, existentes 
no território nacional, serão destruídas pelas autoridades policiais, ressalvados os casos previstos no parágrafo 
seguinte. § 2º A cultura dessas plantas com fins terapêuticos ou científicos só será permitida mediante prévia 
autorização das autoridades competentes. § 3º Para extrair, produzir, fabricar, transformar, preparar, possuir, 
importar, exportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir para qualquer 
fim substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, ou matéria-prima destinada à sua 
preparação, é indispensável licença da autoridade sanitária competente, observadas as demais exigências legais. 
§ 4º Fica dispensada da exigência prevista no parágrafo anterior aquisição de medicamentos mediante prescrição 
médica, de acordo com os preceitos legais ou regulamentares. 
Art. 3º. Fica instituído o Sistema Nacional Antidrogas, constituído pelo conjunto de órgãos que exercem, nos 
âmbitos federal, estadual, distrital e municipal, atividades relacionadas com: I - a prevenção do uso indevido, o 
tratamento, a recuperação e a reinserção social de dependentes de substâncias entorpecentes e drogas que causem 
dependência física ou psíquica; e II - a repressão ao uso indevido, a prevenção e a repressão do tráfico ilícito e da 
produção não autorizada de substâncias entorpecentes e drogas que causem dependência física ou psíquica. 
Parágrafo único. O sistema de que trata este artigo será formalmente estruturado por decreto do Poder Executivo, 
que disporá sobre os mecanismos de coordenação e controle globais de atividades, e sobre os mecanismos de 
coordenação e controle incluídos especificamente nas áreas de atuação dos governos federal, estaduais e 
municipais. 
14
 Artigo 3º, inciso I da Lei nº 6.638/79. 
15
 Artigo 3º, inciso III da Lei nº 6.638/79. 
16
 Artigo 3º, inciso V da Lei nº 6.638/79. 
17
 Artigo 4º da Lei nº 6.638/79. Art. 4º. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino ou hospitalares, ou de 
entidade sociais, culturais, recreativas, esportivas ou beneficentes, adotarão, de comum acordo e sob a orientação 
técnica de autoridades especializadas todas as medidas necessárias à prevenção do tráfico ilícito e do uso 
indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, nos recintos ou 
imediações de suas atividades. Parágrafo único. A não observância do disposto neste artigo implicará na 
responsabilidade penal e administrativa dos referidos dirigentes. 
18
 Artigo 4º, §1º da Lei nº 6.638/79. 
27 
 
nunca foi de fato regulamentada, conforme estabelecia o seu artigo 6º
19
, pois permitia que os 
vivissectores continuassem a exercer livremente a sua atividade, mesmo sabendo da 
existência de recursos substitutivos, ―martirizando milhares de animais a cada dia em salas de 
aula, laboratórios e centros de pesquisa‖ (BITENCOURT, 2015, p. 30). Assim, logo foi 
substituída pela legislação mais recente e atualmente em vigor. 
Portanto, o uso de animais em pesquisa, ainda que houvesse a Lei anteriormente 
mencionada, nãotinha regulamentação específica no Brasil até a entrada em vigor da Lei 
Federal nº 11.794/08 (Lei Arouca), que passou a permitir e regulamentar a utilização de 
animais em estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área 
biomédica. A legislação não caracteriza os animais como sujeitos de direitos, pois, se assim 
fosse, o seu uso em experiências não estaria sendo regulamentado e sim proibido (SANTOS, 
2016, p. 95-97). 
Já é uma grande representação do descaso com o bem-estar animal um país do porte 
brasileiro, até 2008, não possuir nenhum tipo de regulamentação quanto à utilização de 
animais em pesquisas científicas, haja vista que anteriormente chegou a sancionar uma Lei 
que nunca veio a ser efetivamente regulamentada. Entretanto, com sua instituição, apesar de 
oferecer uma regulamentação e criar órgãos responsáveis pela fiscalização do cumprimento de 
suas normas, a Lei Arouca foi e, ainda é, motivo de embate polêmico entre a comunidade 
científica e a sociedade protetora dos animais, visto que não correspondeu à expectativa de 
abolição do uso de animais em práticas científicas (GUIMARÃES; FREIRE; MENEZES, 
2016, p. 218). 
Na presente pesquisa, será abordada a experimentação científica realizada com 
animais vivos, ou seja, vivissecção e uso de cobaias em laboratórios. Portanto, imprescindível 
delimitar o que configura como maus tratos, segundo entendimento doutrinário. 
A Lei nº 9.605/98, Lei de Crimes Ambientais, em seu artigo 32, penaliza os crimes de 
maus tratos, mas não especifica o que é ou não considerado como maus tratos. Portanto, de 
acordo com as leis de proteção animal, consideram-se maus tratos: abandonar, espancar, 
golpear, mutilar e envenenar; manter preso permanentemente em correntes; manter em locais 
pequenos e anti-higiênicos; não abrigar do sol, da chuva e do frio; deixar sem ventilação ou 
luz solar; não dar água e comida diariamente; negar assistência veterinária ao animal doente 
ou ferido; obrigar a trabalho excessivo ou superior a sua força; capturar animais silvestres; 
 
19
 Art. 6º. O Poder Executivo, no prazo de noventa dias, regulamentará a presente Lei, especificando: I - o órgão 
competente para o registro e a expedição de autorização dos biotérios e centros de experiências e demonstrações 
com animais vivos; II - as condições gerais exigíveis para o registro e o funcionamento dos biotérios; III - órgão 
e autoridades competentes para a fiscalização dos biotérios e centros mencionados no inciso I. 
28 
 
utilizar animal em shows que possam lhe causar pânico ou estresse; promover violência como 
rinhas de galo, farra-do-boi, entre outras
20
. 
Importante mencionar que a referida Lei promoveu considerações sobre a proibição da 
experimentação animal. Em seu artigo 32, parágrafo 1º
21
, trata da crueldade e tipifica como 
crime ambiental os casos em que há a possibilidade de se utilizar métodos alternativos e, 
mesmo assim, se utilizam de animais. 
Quanto a este dispositivo, Levai e Daró (2008, p. 56) apontam que nossa legislação 
reconhece a crueldade implícita na atividade experimental envolvendo animais, de modo que 
se apressou em buscar alternativas para evitar tamanho sofrimento, entretanto, a expressão 
―recursos alternativos‖ sugere que o pesquisador tem a opção entre escolher utilizar o animal 
ou não, quando deveria ser expresso o termo ―métodos substitutivos‖, pois a substituição 
implica em uma mudança procedimental. 
Assim, mostra-se necessário o desenvolvimento e a utilização de métodos 
substitutivos capazes de livrar os animais de abusos ou maus tratos. Ou seja, pela lógica, uma 
vez que a experimentação animal é condicionada à inexistência de recursos alternativos para 
sua utilização, a prática se encontra automaticamente abolida (SILVA, 2008, [s.p.]), pois 
existem inúmeros métodos substitutivos ou não-invasivos que tornam desnecessária a 
vivissecção ou experimentação animal de qualquer natureza. 
Santos (2016, p. 78-80) refere que, segundo a Lei Arouca, o uso de cobaias seria 
restrito apenas para pesquisas com a finalidade de melhorar e prolongar a vida do ser humano, 
pois todas as pesquisas devem resguardar o bem-estar da cobaia utilizada. Além disso, todo 
laboratório deve possuir um biotério
22
, e os animais precisam ser anestesiados antes dos 
procedimentos e medicados com analgésicos; porém, essa não é a realidade apresentada nas 
pesquisas do nosso país. 
Portanto, no capítulo a seguir, serão analisados os métodos experimentais mais usuais 
pela comunidade científica, bem como os métodos alternativos e substitutivos existentes. 
Além disso, será realizada uma discussão a partir do direito comparado, haja vista que outros 
 
20
 Informação retirada da cartilha Pet Vet sobre maus tratos contra animais. Disponível em: 
<http://www.petvet.ufra.edu.br/images/cartilha20147.pdf>. Acesso em 24 mar. 2018. 
21
 Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, 
nativos ou exóticos. Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins 
didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. 
22 
Segundo Santos (2016, p. 78-80), biotério é um ―local onde os animais-cobaias são mantidos. Apesar da lei, 
aparentemente, estar zelando pelo bem-estar das cobaias, ainda que tal fato fosse verdade, não existe biotério que 
não provoque sofrimento para os animais. Os locais são frios, muitos sem higiene adequada, os animais estão 
confinados, privados das suas necessidades básicas e são tratados como máquinas e não como seres que sofrem‖. 
29 
 
países já proibiram a utilização de animais em alguns casos, como forma de obrigar o 
investimento e uso de métodos alternativos e substitutivos. 
 
 
30 
 
3. EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL, MÉTODOS ALTERNATIVOS E 
SUBSTITUTIVOS NAS PESQUISAS CIENTÍFICAS: UM 
DIÁLOGO A PARTIR DA LEGISLAÇÃO COMPARADA 
 
“Se fôssemos capazes de imaginar o que se passa, constantemente, 
nos laboratórios de vivissecção, não poderíamos dormir em paz; e em 
nenhum dia estaríamos felizes e tranquilos” (BIRCHER apud 
GONSALVES, 2004, p. 114). 
 
Para podermos adentrar esse capítulo, é preciso analisar a temática sob um viés 
histórico. Quanto à origem da utilização de animais em experimentação científica, pode-se 
dizer que a crescente lógica mecanicista cartesiana foi determinante, pois destituiu os animai 
de sensibilidade ou consciência, já que para que o animal pudesse ser dotado de estado de 
consciência, era necessário que ele possuísse habilidade linguística. Em razão disso, eles 
foram totalmente excluídos desse grupo, motivo pelo qual a comunidade científica 
automaticamente passou a não atribuir para eles a capacidade de sofrer, justificando, 
teoricamente, os atos de insensibilidade e crueldade utilizados na experimentação (BARROS, 
2001, p. 20). 
Historicamente falando, não se sabe ao certo quando foi o marco inicial das 
experiências com animais, pois as práticas são muito antigas. Segundo Santos (2011, p. 21), 
um marco referencial são as práticas do médico Galeno
23
, pois antes desse período o homem 
era o animal utilizado nas pesquisas. 
Foi a partir do século XIX, quando a experimentação se firmou como o método 
científico mais importante, que o pensamento cartesiano começou a ser mais seriamente 
questionado e muitos cientistas passaram a pensar e discutir sobre o sofrimento animal e a 
questão ética envolvida na necessidade de usar os animais em suas pesquisas científicas. 
Na época, a prática era inspirada pelas razões filosóficas e científicas de Claude 
Bernard (1813-1878), considerado o maior fisiologista de todos os tempos, e a vivissecção, 
então, se tornou institucionalizada. Autor do

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