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1 POEB – POLITICAS E ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA PLANEJAMENTO EDUCACIONAL E SUA ABRANGÊNCIA Conceito de planejamento O ato de planejar está presente em todos os níveis da educação escolar brasileira, seja nos sistemas de ensino federal, estadual ou municipal, seus órgãos administrativos e na unidade escolar. A elaboração ocorre do projeto politico‑pedagógico até o plano de aula, onde a tarefa educacional se realiza na concretude da relação professor e aluno, buscando a melhor qualidade de ensino. Podemos citar o planejamento global, setorial, regional ou local. Os termos planejamento, plano e projeto são usados cotidianamente nas escolas. Para Padilha (2001), precisam ser explicitados e, no nosso caso, para que ocorram as práticas de racionalização do trabalho, a busca de eficiência deve fazer parte da organização das atividades educativas, quaisquer que sejam o local e o seu nível de abrangência, sendo realizadas com vistas a atingir os objetivos mais amplos da educação nacional e da aprendizagem escolar. O planejamento é discutido por vários autores, como Azanha (1993), Vasconcelos (1995), Fusari (1988) e Libâneo (2001). No processo de planejar (ato coletivo, contínuo e sistemático), há a tomada de decisões em relação a objetivos claramente definidos. Para Fusari (1988), é um processo de análise da realidade escolar, com o objetivo de conhecer mais sobre os problemas do cotidiano pedagógico e superá‑los. Já Vasconcelos (1995) destaca que é um processo permanente de reflexão sobre a realidade, possibilitando planejar o futuro e escolher as atitudes melhores para se atingir o objetivo. Abrangência Encontramos o ato de planejar nas várias instâncias da educação escolar nacional. Para Padilha (2001), são eles: • Planejamento educacional: planejamento de maior abrangência, geralmente dos sistemas de ensino. Padilha (2001) afirma que esse planejamento: [...] é, antes de tudo, aplicar a própria educação aquilo que os verdadeiros educadores se esforçam por inculcar a seus alunos: uma abordagem racional e cientifica dos problemas. Tal abordagem supõe a determinação dos objetivos, recursos disponíveis, a análise das consequências que advirão das diversas atuações possíveis, a escolha entre as possibilidades, a determinação das metas especificas a atingir em prazos bem definidos e, finalmente, o desenvolvimento dos 2 meios mais eficazes para implantar a política escolhida. Assim concebido, o planejamento educacional significa bem mais que a elaboração de um projeto contínuo que engloba uma serie de operações interdependentes. Os itens abordados na definição desse conceito de planejamento nos deixa claro seu papel, sua importância, os passos de sua elaboração e sua abrangência. Se pesquisarmos os programas, a ação e os planos propostos e desenvolvidos pelo MEC, entenderemos sua organização e sua forma de atuação, assim como a abrangência de cada um dos projetos. • Planejamento curricular: trata a dinâmica das ações internas da escola. Isso significa cuidar do desenvolvimento escolar dos alunos e do modo como será a vida na escola. E o planejamento responsável pelo tipo de relação que o aluno vai ter com os conteúdos escolares, com os colegas, professores, funcionários e a escola. Segundo Padilha (2001, p. 34), “é o processo de tomada de decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É a previsão sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno”. É também um instrumento que regula as ações escolares em prol dos objetivos a serem alcançados, integrando a escola e garantindo a interdependência entre todos os setores, áreas e ações. • Planejamento escolar: é voltado a coordenação da ação docente e sua relação com o contexto social. Para Libâneo (2001, p. 221), esse planejamento: [...] é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino. É um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. O autor nos chama a atenção para a ação planejada das ações didáticas, introduzindo ao mesmo tempo o conceito de revisão como reflexão sobre a ação para a tomada de decisão em função dos objetivos propostos. Essa ação tem como orientadora de seu desenvolvimento a política educacional adotada. • Planejamento de ensino: processo para decidir ações e interações entre os educadores e alunos da escola. Para Fusari (1988, p. 10), [...] e o processo que envolve a atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre educadores e entre os próprios educandos. 3 A abrangência da atuação das políticas educacionais escolhidas chega ao cotidiano escolar e está presente nas tomadas de decisão, nas ações e em como estas são desenvolvidas. • Planejamento coletivo: tem como meta organizar a ação, a responsabilização e a divisão das tarefas a serem realizadas. Esse conceito introduz a importância da organização das ações entre todos os participantes de um projeto, programa ou plano. Organizar a ação não quer dizer que todos vão fazer juntos todas as tarefas, e sim organizá‑las e dividi‑las, tendo em vista o coletivo das ações. • Planejamento participativo: e aquele realizado a partir da participação de todos os atores envolvidos naquela situação. Para Cornely (1977, p. 37), [...] se constitui num processo politico, num continuo proposito coletivo, numa deliberada e amplamente discutida construção do futuro da comunidade, na qual participe o maior numero possível de membros de todas as categorias que a constituem. Significa, portanto, mais do que uma atividade técnica, um processo político vinculado a decisão da maioria, tomada pela maioria, em beneficio da maioria. O conceito de participação está presente em todos os momentos das ações educacionais. É o que vai dar autoridade as decisões na medida em que representam a maioria, por isso a importância da transparência, impessoalidade, lisura, responsabilidade e compromisso dos envolvidos nas ações e tomadas de decisão. • Planejamento das aulas: refere‑se a tomada de decisões sobre os conteúdos das aulas. Nesse aspecto, refere‑se as tomadas de decisão frente as ações pedagógicas propriamente ditas, na sala de aula, envolvendo o professor e o aluno, como conteúdos, metodologias, temas, recursos didáticos e avaliação. Pode se referir ao planejamento de uma aula ou de um plano que vai ser desenvolvido em um ano ou mais. Nesta disciplina, tratamos do planejamento educacional para a compreensão das políticas públicas de educação. O planejamento, definidas as políticas públicas, tem objetivo de apontar os planos, programas, ações e projetos que vão desenvolver as atividades necessárias para garantir o alcance das metas propostas pelas políticas públicas. Ainda nesse sentido, podemos apontar o planejamento em longo, médio e curto prazos. Para isso, e importante saber 4 que cada ação, cada conteúdo ou atividade envolve dimensões diferentes, assim definindo abrangências, especificidades, limites e possibilidades. Tudo isso e próprio do ato de planejar: especificar bem seu tema de atuação, pessoas e locais que lhe dão contornos e especificidades próprias. Porém, todas envolvem a importância da racionalização das ações e do caminho a perseguir, das ações a serem desenvolvidas e da reavaliação das ações para que os objetivos sejam atingidos. Concepções de planejamento Tratamos do planejamento educacionalmais amplo da educação nacional. Porem, podemos ainda identificar as concepções de planejamento presentes em nossa realidade educacional, e o estudo das teorias da administração permite a compreensão das relações entre educação, planejamento e administração. Atualmente, o planejamento educacional tem privilegiado dois grandes temas de investigação: a qualidade do ensino e a gestão educacional. É nesse sentido que, na perspectiva da gestão escolar – o destaque ao clima participativo da comunidade –, a escola é considerada o centro da ação pedagógica. Insere‑se a concepção do Projeto Político‑Pedagógico, instrumento que permite a gestão atingir o importante papel de garantir a globalidade da organização e buscar o comprometimento de todos os seus elementos na construção de consensos e na identificação de princípios, valores e políticas que orientarão a tomada de decisões para a resolução de problemas e, consequentemente, buscando a qualidade de ensino. No fim do século XIX e início do XX, a Teoria da Administração Científica é proposta por Taylor e Fayol, que introduzem princípios administrativos para organizar as atividades dos operários da indústria, subdividindo as funções e defendendo sua especialização e a previsão das ações, tendo como objetivo a eficiência. O planejamento tem o objetivo de prever as ações, racionalizando as atividades dos operários e os recursos materiais. Identificamos a relação burocrática nas ações e relações do planejar, priorizando a divisão das tarefas. Os princípios da racionalidade técnica, da elaboração de objetivos e metas, o estabelecimento de prazos para avaliação das ações e a especialização das ações e atividades refletiram na educação escolar de forma profunda. A escola passou a ser 5 entendida como uma organização que deveria planejar suas ações em função de objetivos a longo, médio e curto prazos, com vistas a eficiência e eficácia. Os princípios da educação escolar nacional deveriam ser comuns a todas as instituições escolares e orientar a elaboração do planejamento educacional. Por meio do planejamento educacional, presente em todas as atividades desenvolvidas na escola, tanto na área curricular como administrativa, voltado ao mesmo objetivo, teria como meta a expansão da educação escolar, com vistas ao necessário desenvolvimento nacional, por meio da educação do trabalhador para as atividades produtivas brasileiras, o desafio da industrialização do país. Posteriormente, no século XX, a Teoria das Relações Humanas abandona a visão mecanicista do ser humano e vê nos operários seres que agem influenciados pelas interações sociais dentro e fora da fábrica. Essa teoria chama a atenção para o indivíduo e para o fato de que é ele o responsável pela produtividade, sendo as relações humanas discutidas nas “dinâmicas de grupo”. O planejamento se preocupa com o comportamento humano e tem uma perspectiva de planejamento particular para cada situação. As ações têm o objetivo de integração. Na década de 1950, a Teoria Neoclássica defende a eficiência, a busca de objetivos concretos e de resultados, a racionalidade da tomada de decisões e a coordenação das ações, introduzindo inovações e mudanças. Nela, o planejamento assume características diferenciadas, pois, apesar de ainda se preocupar com a racionalidade na tomada de decisões, é dinâmico, interativo e deve ser realizado de forma permanente. Podemos identificar relações ao mesmo tempo burocráticas e integradoras no planejamento. Em todas essas teorias administrativas, podemos identificar diferentes usos do planejamento: técnico, político, administrativo, sistêmico e tático. Atualmente, o planejamento educacional está voltado a conquista da qualidade do ensino e da aprendizagem do aluno, sendo estabelecida a escola como o local privilegiado dessa conquista e para a qual todos os esforços das políticas públicas devem estar direcionados. A Lei 9.394/96 prevê como instrumento para essa conquista a gestão democrática da escola pública, e a concepção do planejar deve estar voltada para essa conquista. A gestão escolar tem como instrumentos os princípios de participação e autonomia, e não e mais o diretor da escola que quem deve decidir, de forma solitária, as ações, planos e programas escolares. O diretor, atualmente compreendido como gestor, deve ser o coordenador 6 das ações, o elemento integrador da organização escolar e o mediador das informações e do conhecimento construído pelos integrantes da comunidade escolar, e são estes que regem a tomada de decisões, assim como a definição das metas do projeto político‑pedagógico. Os atores presentes na instituição escolar devem usar os instrumentos da participação de forma a conquistar a autonomia necessária para garantir a discussão da qualidade de ensino na comunidade escolar. A concepção de planejamento e participativa e coletiva, sendo realizada de forma contínua e sistemática. As ações dos planejamentos globais e sistêmicos devem priorizar programas, ações, planos e projetos que priorizem a qualidade de ensino oferecido pelas escolas. Para isso temos o PDE (Plano de Desenvolvimento do Ensino), que com diversas orientações auxilia a escola a elaborar seu planejamento. A relação políticas públicas, planejamento e gestão No início do século XX, segundo Freitas (2000), o modelo de administração educacional no Brasil baseava‑se na administração cientifica, desenvolvida por Taylor. No início da sociedade industrial no Brasil, a Administração Cientifica tinha como características a centralização e a hierarquização das funções. As decisões eram responsabilidade do chefe hierárquico superior, sendo que o chefe geral tornou‑se o centro das decisões de toda a organização. A tomada de decisões tinha o formato de pirâmide, com o chefe no topo dela, e as atividades eram divididas a partir de tarefas especializadas. Quanto mais perto da base da pirâmide, menor poder de decisão possuía o funcionário, cujas atividades seriam de natureza mecânica. Esse funcionário tinha como características menor respeito social e educação formal inexistente. A principal consequência para o setor educacional, influenciado pela politica econômica e cultura dominante, foi a adoção do planejamento educacional elaborado pelos órgãos superiores e administrativos da educação escolar, que não representavam a realidade escolar local. O cumprimento desses planejamentos era supervisionado pelos representantes do sistema educacional, e o não atendimento ao planejamento elaborado e padronizado pela administração central da educação escolar era considerada falta grave, sendo passível de punição. Foi na década de 1980, com a abertura política e a demanda social por escola para todos e igualdade de oportunidades educacionais, que a instituição escolar passou a ser considerada 7 um ponto integrador, no qual o desenvolvimento do processo educacional ocorria. Repensou‑se a forma de gerenciamento da educação escolar e do planejamento educacional, e sua elaboração a partir da realidade escolar se firmou. No final do século XX, já encontramos mudanças nas políticas públicas educacionais brasileiras em função das novas necessidades sociais. A relação entre políticas públicas, planejamento educacional e gestão escolar se compreende pelas relações entre instituição escolar e sociedade, pelas concepções de para que, para quem e o que é administrar, além do papel atribuído socialmente às diferentes esferas e instituições da vida social. A organização da sociedade em instituições públicas e privadas tem na administração a forma de organização para atingir os objetivos sociais mais amplos, a qualidade de vida almejada, os sonhose as utopias sociais. A administração possibilita que se planejem e coordenem as ações, acompanhe o processo de desenvolvimento social, avalie resultados e os replanejem para que se ajustem as necessidades e demandas sociais. O gerenciamento e gestão garantem que o caminho seja percorrido e adaptado, para que a sociedade tenha a garantia de que seus objetivos serão alcançados. NOGUEIRA, M. E. A. C. Política e organização da educação básica. São Paulo, 2014.
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