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TEMAS CONTEMPORÂNEOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

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RICARDO BACELAR PAIVA 
(Organizador) 
 
 
 
 
 
TEMAS CONTEMPORÂNEOS 
DE PROPRIEDADE INTELECTUAL 
 
 
 
COLABORADORES 
Cláudio Lins de Vasconcelos 
Eduardo Lycurgo Leite 
Eliane Y. Abrão 
Flavia Mansur Murad Schaal 
Francisco Humberto Cunha Filho 
Gabriel Leonardos 
Marcos Wachowicz 
Milton Lucídio Leão Barcellos 
Patricia Peck Pinheiro 
Pedro Mastrobuono 
Ricardo Bacelar Paiva 
Rodrigo Azevedo 
Rodrigo Otávio Cruz e Silva 
Ticiano Tôrres Gadêlha 
Walker Sales Silva Jacinto 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília – DF, 2017 
© Ordem dos Advogados do Brasil 
Conselho Federal, 2017 
Setor de Autarquias Sul - Quadra 5, Lote 1, Bloco M 
Brasília - DF 
CEP: 70070-939 
 
Capa: reprodução de pintura a óleo de Giovanni Battista Castagneto (1851-1900). 
 
Distribuição: Gerência de Relações Externas - GRE 
Fones: (61) 2193-9606 
E-mail: oabeditora@oab.org.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
T278 
 
Temas contemporâneos de propriedade intelectual / organizador: 
Ricardo Bacelar Paiva – Brasília: OAB, Conselho Federal, 2017. 
330 p. 
 
ISBN 978-85-7966-071-9 
 
 
1. Propriedade intelectual. 2. Direito Autoral – Brasil. 3. Lei de 
Direitos Autorais (Lei nº 9.610/1998). I. Paiva, Ricardo Bacelar. II. 
Título. 
 
CDDir: 342.28 
CDU: 347.78 
 
Elaborada por: Lityz Ravel Hendrix Brasil Siqueira Mendes (CRB-1/3148). 
 
GESTÃO 2016/2019 
 
DIRETORIA 
Claudio Lamachia Presidente 
Luís Cláudio da Silva Chaves Vice-Presidente 
Felipe Sarmento Cordeiro Secretário-Geral 
Ibaneis Rocha Barros Junior Secretário-Geral Adjunto 
Antonio Oneildo Ferreira Diretor-Tesoureiro 
 
CONSELHEIROS FEDERAIS 
AC: Erick Venâncio Lima do Nascimento, João Paulo Setti Aguiar e Luiz Saraiva Correia; AL: Everaldo Bezerra 
Patriota, Felipe Sarmento Cordeiro e Thiago Rodrigues de Pontes Bomfim; AP: Alessandro de Jesus Uchôa de Brito, 
Charlles Sales Bordalo e Helder José Freitas de Lima Ferreira; AM: Caupolican Padilha Junior, Daniel Fábio Jacob 
Nogueira e José Alberto Ribeiro Simonetti Cabral; BA: Fabrício de Castro Oliveira e Fernando Santana Rocha; CE: 
Caio Cesar Vieira Rocha, Francilene Gomes de Brito e Ricardo Bacelar Paiva; DF: Ibaneis Rocha Barros Junior, 
Marcelo Lavocat Galvão e Severino Cajazeiras; ES: Flavia Brandão Maia Perez, Luciano Rodrigues Machado e 
Marcus Felipe Botelho Pereira; GO: Leon Deniz Bueno da Cruz, Marcello Terto e Silva e Valentina Jugmann Cintra; 
MA: José Agenor Dourado, Luis Augusto de Miranda Guterres Filho e Roberto Charles de Menezes Dias; MT: 
Duilio Piato Júnior, Gabriela Novis Neves Pereira Lima e Joaquim Felipe Spadoni; MS: Alexandre Mantovani, Ary 
Raghiant Neto e Luís Cláudio Alves Pereira; MG: Eliseu Marques de Oliveira, Luís Cláudio da Silva Chaves e 
Vinícius Jose Marques Gontijo; PA: Jarbas Vasconcelos do Carmo, Marcelo Augusto Teixeira de Brito Nobre e 
Nelson Ribeiro de Magalhães e Souza; PB: Delosmar Domingos de Mendonça Júnior, Luiz Bruno Veloso Lucena e 
Rogério Magnus Varela Gonçalves; PR: Cássio Lisandro Telles, José Lucio Glomb e Juliano José Breda; PE: 
Adriana Rocha de Holanda Coutinho, Pedro Henrique Braga Reynaldo Alves e Silvio Pessoa de Carvalho Junior; PI: 
Celso Barros Coelho Neto, Eduarda Mourão Eduardo Pereira de Miranda e Cláudia Paranaguá de Carvalho 
Drumond; RJ: Carlos Roberto de Siqueira Castro, Luiz Gustavo Antônio Silva Bichara e Sergio Eduardo Fisher; 
RN: Aurino Bernardo Giacomelli Carlos, Paulo Eduardo Pinheiro Teixeira e Sérgio Eduardo da Costa Freire; RS: 
Cléa Carpi da Rocha, Marcelo Machado Bertoluci e Renato da Costa Figueira; RO: Bruno Dias de Paula, Elton José 
Assis e Elton Sadi Fülber; RR: Alexandre César Dantas Soccorro, Antonio Oneildo Ferreira e Bernardino Dias de 
Souza Cruz Neto; SC: João Paulo Tavares Bastos Gama, Sandra Krieger Gonçalves e Tullo Cavallazzi Filho; SP: 
Guilherme Octávio Batochio, Luiz Flávio Borges D’Urso e Márcia Machado Melaré; SE: Arnaldo de Aguiar 
Machado Júnior, Maurício Gentil Monteiro e Paulo Raimundo Lima Ralin; TO: Andre Francelino de Moura, José 
Alves Maciel e Pedro Donizete Biazotto. 
 
CONSELHEIROS FEDERAIS SUPLENTES 
AC: Odilardo José de Brito Marques, Sérgio Baptista Quintanilha e Wanderley Cesário Rosa; AL: Adrualdo de Lima 
Catão, Marié Alves Miranda Pereira e Raimundo Antonio Palmeira de Araujo; AP: Lucivaldo da Silva Costa e 
Maurício Silva Pereira; AM: Alberto Bezerra de Melo, Bartolomeu Ferreira de Azevedo Júnior e Diego D’Avila 
Cavalcante; BA: Antonio Adonias Aguiar Bastos, Ilana Kátia Vieira Campos e José Maurício Vasconcelos Coqueiro; 
CE: Vicente Bandeira de Aquino Neto; DF: Carolina Louzada Petrarca, Felix Angelo Palazzo e Manuel de Medeiros 
Dantas; ES: Cláudio de Oliveira Santos Colnago, Dalton Santos Morais e Henrique da Cunha Tavares; GO: Dalmo 
Jacob do Amaral Júnior, Fernando de Paula Gomes Ferreira e Marisvaldo Cortez Amado; MA: Antonio José 
Bittencourt de Albuquerque Junior, Alex Oliveira Murad e Rosana Galvão Cabral; MT: Josemar Carmelino dos 
Santos, Liliana Agatha Hadad Simioni e Oswaldo Pereira Cardoso Filho; MS: Gustavo Gottardi e Marilena Freitas 
Silvestre; MG: Bruno Reis de Figueiredo, Luciana Diniz Nepomuceno e Mauricio de Oliveira Campos Júnior; PA: 
Antonio Cândido Barra Monteiro de Britto, Jeferson Antonio Fernandes Bacelar e Osvaldo Jesus Serão de Aquino; 
PB: Alfredo Rangel Ribeiro, Edward Johnson Gonçalves de Abrantes e Marina Motta Benevides Gadelha; PR: Edni 
de Andrade Arruda, Flavio Pansieri e Renato Cardoso de Almeida Andrade; PE: Carlos Antonio Harten Filho, Erik 
Limongi Sial e Gustavo Ramiro Costa Neto; PI: Chico Couto de Noronha Pessoa, Eduardo Faustino Lima Sá e 
Robertonio Santos Pessoa; RJ: Flávio Diz Zveiter, José Roberto de Albuquerque Sampaio e Marcelo Fontes Cesar 
de Oliveira; RN: Aldo Fernandes de Sousa Neto, André Luiz Pinheiro Saraiva e Eduardo Serrano da Rocha; RS: 
Luiz Henrique Cabanellos Schuh; RO: Fabrício Grisi Médici Jurado, Raul Ribeiro da Fonseca Filho e Veralice 
Gonçalves de Souza Veris; RR: Emerson Luis Delgado Gomes; SC: Cesar D’Avila Winckler, Luiz Antônio Palaoro 
e Reti Jane Popelier; SP:Aloísio Lacerda Medeiros, Arnoldo Wald Filho e Carlos José Santos da Silva; SE: Clodoaldo 
Andrade Junior, Glícia Thais Salmeron de Miranda e Kleber Renisson Nascimento dos Santos; TO: Adilar Daltoé, 
Nilson Antônio Araújo dos Santos e Solano Donato Carnot Damacena. 
 
EX-PRESIDENTES 
1.Levi Carneiro (1933/1938) 2. Fernando de Melo Viana (1938/1944) 3. Raul Fernandes (1944/1948) 4. Augusto 
Pinto Lima (1948) 5. Odilon de Andrade (1948/1950) 6. Haroldo Valladão (1950/1952) 7. AttílioViváqua 
(1952/1954) 8. Miguel Seabra Fagundes (1954/1956) 9. Nehemias Gueiros (1956/1958) 10. Alcino de Paula Salazar 
(1958/1960) 11. José Eduardo do P. Kelly (1960/1962) 12. Carlos Povina Cavalcanti (1962/1965) 13. Themístocles 
M. Ferreira (1965) 14. Alberto Barreto de Melo (1965/1967) 15. Samuel Vital Duarte (1967/1969) 16. Laudo de 
Almeida Camargo (1969/1971) 17. Membro Honorário Vitalício José Cavalcanti Neves (1971/1973) 18. José Ribeiro 
de Castro Filho (1973/1975) 19. Caio Mário da Silva Pereira (1975/1977) 20. Raymundo Faoro (1977/1979) 21. 
Membro Honorário Vitalício Eduardo Seabra Fagundes (1979/1981) 22. Membro Honorário Vitalício J. Bernardo 
Cabral (1981/1983) 23. Membro Honorário Vitalício Mário Sérgio Duarte Garcia (1983/1985) 24. Hermann Assis 
Baeta (1985/1987) 25. Márcio Thomaz Bastos (1987/1989) 26. Ophir Filgueiras Cavalcante (1989/1991) 27. 
Membro Honorário Vitalício Marcello Lavenère Machado (1991/1993) 28. Membro Honorário Vitalício José 
Roberto Batochio (1993/1995) 29. Membro Honorário Vitalício Ernando Uchoa Lima (1995/1998) 30. Membro 
Honorário Vitalício Reginaldo Oscar de Castro (1998/2001) 31. Rubens Approbato Machado (2001/2004) 32. 
Membro Honorário Vitalício Roberto Antonio Busato (2004/2007)33. Membro Honorário Vitalício Cezar Britto 
(2007/2010) 34. Membro Honorário Vitalício Ophir Cavalcante Junior (2010/2013) 35. Membro Honorário 
Vitalício Marcus Vinicius Furtado Coêlho (2013/2016). 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
Claudio Lamachia 
 
 
A evolução da sociedade contemporânea, particularmente 
no que se refere às tecnologias voltadas para a reprodução, a 
disseminação e o uso de informações, tem suscitado numerosas 
questões relativas à propriedade intelectual. A fim de assegurar o 
avanço do entendimento e da regulação de matéria tão relevante, 
cumpre fomentar o debate democrático e plural, considerando 
distintas perspectivas e buscando a conciliação ponderada dos 
diversos interesses envolvidos. 
Assim, é absolutamente oportuna a publicação desta obra, 
organizada pelo Conselheiro Federal e Presidente da Comissão 
Especial de Propriedade Intelectual do Conselho Federal da OAB, 
Ricardo Bacelar Paiva, cuja destacada atuação como pianista, 
compositor e arranjador musical é também amplamente reconhecida. 
Reunindo textos densos e inspiradores, o livro traça um vasto 
panorama das discussões mais atuais acerca da propriedade 
intelectual, abordando temas como patentes, direito de marca, 
direitos autorais e educação, biopirataria, acesso ao conhecimento, 
cumulação de direitos, indústria cultural, propriedade de bases de 
dados digitais, direito de sequência, gestão empresarial, jurisprudência 
brasileira, transmissão de grandes eventos e regulamentação de 
direitos autorais – sem descurar, evidentemente, do papel 
 
 Advogado e Presidente Nacional da OAB. 
imprescindível desempenhado pela advocacia e pela Ordem dos 
Advogados do Brasil. 
Em lugar de apenas expor didaticamente o teor da 
legislação vigente ou compilar a doutrina concernente, os artigos 
fornecem também reflexões autênticas, propositivas e multifacetadas 
acerca de fatos, normas, sentenças e conceitos, fugindo à reprodução 
automática de ideias, à crítica estéril ou às simplificações 
reducionistas. Por conseguinte, a obra oferece aos leitores um 
primoroso acervo de textos, os quais certamente se tornarão 
referência obrigatória para aqueles que buscam compreender, em 
toda a sua complexidade, as questões atinentes à propriedade 
intelectual. 
Diante dessas razões, não se pode deixar de congratular os 
autores pela generosa contribuição às letras jurídicas pátrias, 
destacando também o admirável trabalho de organização desta 
coletânea, cuja publicação reafirma o compromisso estatutário da 
OAB com o aperfeiçoamento da cultura jurídica no País e com a 
defesa do Estado Democrático de Direito. Trata-se, ademais, de uma 
forma de reiterar a crença na criatividade, na inovação e na difusão 
legal do conhecimento como meios de promover o pleno 
desenvolvimento humano. 
PREFÁCIO 
 
 
Ricardo Bacelar Paiva 
 
 
“O romantismo fica por conta deste autor, que, ao elaborar o 
texto, enfim introduzido no art. 5º, inciso XIX, da Carta de 
1988, entreteve esperanças de que, efetivamente a 
Propriedade Intelectual seria tutelada tendo em vista o 
interesse social e o desenvolvimento tecnológico do País”1. 
Denis Borges Barbosa (1948 – 2016) – Uma homenagem ao 
grande jurista brasileiro. 
 
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 
por intermédio de sua Comissão Nacional de Propriedade Intelectual, 
apresenta à comunidade jurídica do País a primeira edição de Temas 
Contemporâneos de Propriedade Intelectual. A Ordem caminha 
firme, alinhada às finalidades institucionais, estimulando o 
desenvolvimento da cultura e da ciência jurídica, com publicações que 
prestigiam a construção e difusão do conhecimento, com 
protagonismo dos valorosos advogados e advogadas brasileiros. 
A Comissão de Propriedade Intelectual do Conselho 
Federal da OAB foi instalada em 2016, pelo Presidente Cláudio 
Lamachia. Teve como semente a Comissão Especial de Estudo de 
Reforma da Lei de Direito Autoral, inaugurada na gestão anterior 
pelo então Presidente Marcus Vinícius Furtado Coêlho, que nomeou 
a advogada Eliane Y. Abrão como Presidente. 
 
 Conselheiro Federal da OAB. Presidente da Comissão Nacional de Propriedade Intelectual da 
OAB. 
1 BARBOSA, Denis Borges. Uma Introdução à Propriedade Intelectual, 2. ed. Rio de Janeiro: 
Lumen Juris, 2003, p. 11. 
Com um histórico de relevantes inserções na seara da 
Propriedade Intelectual, é imperioso que a OAB mantenha-se 
vigilante e posicione-se de forma combativa nas questões atinentes à 
matéria, diante das rápidas inovações que geram vácuos normativos. 
Tais lacunas causam insegurança das relações jurídicas no ambiente 
de desenvolvimento econômico. A maturidade no trato das questões 
de Propriedade Intelectual traduz o grau civilizatório de determinada 
nação. 
Na presente coletânea, compilamos um balaio de pontas 
sem nó, costuradas em alto relevo, agregando consagrados 
doutrinadores a jovens promissores para tecer, artesanalmente, em 
comunhão com a ciência e as boas práticas de pesquisa, o conjunto 
de feixes interdisciplinares afetos aos institutos da Propriedade 
Intelectual. A representatividade é parte do munus da Ordem cidadã, 
que se espraia além dos limites da entidade classista, transmutando-se 
em prestigioso abrigo dos mais pródigos ideários de justiça e 
liberdade. 
A sutileza dos caminhos que circundam a criação humana 
e a materialização objetiva dos frutos de sua produção inspira o 
estudo da Propriedade Intelectual. O arsenal tecnológico proporciona 
constante inovação de artefatos, técnicas e processos de superposição 
de axiomas paradigmáticos nas artes, nas ciências, nos métodos 
protegidos pela distintividade e novidade, e demais objetos de 
proteção. 
Os direitos autorais e conexos, as marcas, o desenho 
industrial, as patentes, o direito de software, os cultivares, as indicações 
geográficas, as topografias de circuitos integrados, o segredo 
industrial e o know-how são elementos tutelados pelas normas da 
Propriedade Intelectual cujas relações constituem desafio permanente 
para o operador e o estudioso do Direito. Os advogados, como 
figuras essenciais à justiça, são responsáveis por construir 
argumentações e teses a serem apreciadas pelos tribunais, gerando 
precedentes e consolidando jurisprudências que, demais das vezes, 
são substrato para a produção legislativa. Sendo assim, a advocacia 
alimenta o sistema de justiça com a força de sua atuação profissional, 
modificando a interpretação de institutos jurídicos com a riqueza do 
caso concreto. 
Os dogmas simplistas, segundo os quais predominava a 
proteção de interesses exclusivamente econômicos, industriais e de 
mercados de produção de massa, evoluíram para a necessidade de 
proteção do conhecimento tradicional associado ao patrimônio 
genético. O reconhecimento desses direitos comunga com a gênese 
constitucional de garantia fundamental de direitos e interpretação 
sistêmica da Carta Constitucional de 1988, alinhando sofisticados 
princípios de direitos culturais. 
O presente trabalho congrega temas de interesse 
contemporâneo, relacionados a questões palpitantes da Propriedade 
Intelectual, tais como: o depósito ilegal da marca “Rapadura”; o 
plágio nas instituições de ensino; a biopirataria e patente ilegal do 
conhecimento tradicional dos índios Wapixana; a reforma na lei de 
direitos autorais; a marca constituída pelo nome e a imagem de 
pessoa física; a lei da inovação e as patentes originadas do Brasil; os 
limites da publicação de conteúdo produzido em estabelecimento de 
ensino; a cumulação de direitosde propriedade intelectual sobre uma 
mesma criação intelectual; o direito de sequência no Brasil e no 
mundo; disputa sobre a propriedade das bases de dados digitais; 
violações de direito autoral na internet; gestão de crises empresariais na 
sociedade da informação; a propriedade intelectual e os direitos de 
transmissão e a eficiência da lei de direitos autorais. 
Agradecemos a participação de todos os autores, que 
prontamente produziram um conteúdo de qualidade para estabelecer 
marco de discussão sobre tópicos contemporâneos, muitos deles 
ainda a serem desbravados pela comunidade científica e dirimidos nos 
tribunais. Reconhecemos, ainda, o importante apoio do Diretor do 
Conselho Federal da OAB, Tesoureiro Antônio Oneildo Ferreira, e 
do corpo de colaboradores da Ordem, que encetaram todas as 
providências para a elaboração desta obra. 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTROITO ....................................................................................................... 13 
Antonio Oneildo Ferreira 
 
O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO 
BRASIL (OAB) E SUA ATUAÇÃO EM QUESTÕES 
RELACIONADAS À PROPRIEDADE INTELECTUAL ..................... 17 
Ricardo Bacelar Paiva 
 
A LEI DA INOVAÇÃO (LEI 10.973/2004) E AS PATENTES 
ORIGINADAS DO BRASIL ........................................................................ 39 
Gabriel Leonardos 
 
A OBTENÇÃO DE DIREITO DE MARCA CONSTITUÍDA PELO 
NOME E A IMAGEM DE PESSOA FÍSICA, TUTELA E POSSÍVEIS 
CONFLITOS .................................................................................................... 63 
Flavia Mansur Murad Schaal 
 
OS LIMITES DA PUBLICAÇÃO DE CONTEÚDO PRODUZIDO EM 
ESTABELECIMENTO DE ENSINO: ESTUDO DE CASO ENTRE A 
LEI DOS DIREITOS AUTORAIS E O MARCO CIVIL DA 
INTERNET ...................................................................................................... 87 
Marcos Wachowicz e Rodrigo Otávio Cruz e Silva 
 
REFLEXÕES SOBRE CONHECIMENTOS TRADICIONAIS E O 
CASO DE BIOPIRATARIA SOFRIDA PELOS ÍNDIOS WAPIXANA 
DE RORAIMA .............................................................................................. 119 
Walker Sales Silva Jacinto 
 
O SISTEMA AUTORAL: PROTEÇÃO PRIVADA, ACESSO PÚBLICO 
E ENTREMEIOS .......................................................................................... 147 
Eliane Y. Abrão 
 
A CUMULAÇÃO DE DIREITOS DE PROPRIEDADE 
INTELECTUAL SOBRE UMA MESMA CRIAÇÃO 
INTELECTUAL ........................................................................................... 165 
Milton Lucídio Leão Barcellos 
 
A CRISE DO CAPITALISMO AUTORAL ............................................ 187 
Francisco Humberto Cunha Filho 
 
A DISPUTA SOBRE A PROPRIEDADE DAS BASES DE DADOS 
DIGITAIS ...................................................................................................... 201 
Patricia Peck Pinheiro 
 
DIREITO DE SEQUÊNCIA (DROIT DE SUITE) NO BRASIL E NO 
MUNDO: ARTISTAS PLÁSTICOS CONFRONTADOS COM 
ATIVIDADE INFORMAL E A LEGISLAÇÃO PERTINENTE ..... 223 
Pedro Mastrobuono 
 
GESTÃO DE CRISES EMPRESARIAIS NA ERA DA INFORMAÇÃO: 
O PAPEL DO ADVOGADO DE PROPRIEDADE 
INTELECTUAL ........................................................................................... 241 
Rodrigo Azevedo 
 
VIOLAÇÕES DE DIREITO AUTORAL NA INTERNET: A 
JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA QUANTO À APLICAÇÃO DA 
RESPONSABILIDADE CONTRIBUTIVA E VICÁRIA ................... 261 
Cláudio Lins de Vasconcelos 
 
A PROPRIEDADE INTELECTUAL E OS DIREITOS DE 
TRANSMISSÃO: DESAFIOS PARA A REALIZAÇÃO DE UM 
MEGAEVENTO .......................................................................................... 281 
Ticiano Tôrres Gadêlha 
 
EM BUSCA DE UMA LEI AUTORAL EFICIENTE ........................... 303 
Eduardo Lycurgo Leite 
 
- 13 - 
INTROITO 
 
 
Antonio Oneildo Ferreira 
 
 
O conhecimento é a mola propulsora do progresso. 
Outrossim, é o que demarca o limiar entre a civilização e a barbárie, 
ao acentuar a dimensão propriamente humana da vida; ao contrastar 
o mundo da cultura com o mundo da natureza. Pelo domínio da 
técnica, dos saberes, da ciência, das informações, pelo emprego da 
criatividade, da inventividade, da inovação, homens e mulheres 
tornaram-se propriamente sujeitos – linguísticos, políticos e sociais –, 
donos de sua própria história, capazes de intervir na realidade e 
construir um futuro mais ajustado aos seus anseios. Arte e ciência 
revelam a mais suprema elevação do espírito humano. 
Também produto da engenhosidade humana, o Direito 
consubstancia as noções difundidas, através de uma sociedade, sobre 
como devemos organizar a vida em comum. Estabelece padrões de 
justiça de modo peremptório, categórico, positivo. E busca, a um só 
passo, proteger tanto os interesses da sociedade – o bem comum – 
quanto os interesses dos indivíduos que a compõem – as liberdades e 
garantias individuais – sempre trazendo a essa dialética – 
frequentemente problemática – pretensões de equilíbrio, de 
harmonização, de conciliação. O que o Direito almeja, senão 
contemporizar os conflitos entre os cidadãos e a coletividade; as 
disputas teóricas entre liberalismo e republicanismo; ou, dito de outro 
modo, a justiça com o bem comum? 
 
 Advogado. Diretor-Tesoureiro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. 
 
- 14 - 
Aqui se encontra a chave compreensiva de princípios – à 
primeira vista paradoxais – como a função social da propriedade 
privada, cujo conteúdo é tão incerto, vacilante e obscuro quanto 
relevante e revelador para os Estados Democráticos de Direito. O 
desafio que a Constituição Cidadã tem diante de si é o de como, ao 
mesmo tempo, assegurar a igual consideração e o igual respeito a cada 
membro da comunidade, e promover um desenvolvimento social, 
cultural e econômico que possa vir a ser partilhado por todas e todos. 
Esse desafio fascinante se espraia em quaisquer circunstâncias nas 
quais se discute a legitimidade da propriedade dos bens e valores de 
uma sociedade civilizada. Não seria diferente ao falar-se de 
propriedade intelectual. 
Qual é o sistema de propriedade intelectual mais justo e 
solidário? Que, na mesma medida, recompensa o sujeito por sua 
criatividade, por seu esforço, por seu labor admirável, como também 
favorece a sociedade a usufruir dos benefícios daquele conhecimento 
assimilado e lapidado e, por conseguinte, a alcançar alguma melhora 
no nível geral de satisfação coletiva? Toda criação intelectual é 
produto ambivalente: tanto da subjetividade do criador quanto da 
tradição em que ele está imerso. Ninguém cria a partir do nada, senão 
escorado em contribuições de seus antepassados, de seus 
contemporâneos, com quem compartilha uma linguagem, um estado 
de arte do conhecimento empírico e especulativo, uma plêiade de 
preocupações e de angústias existenciais que impulsionam o processo 
criativo. De outro lado, nada se cria espontaneamente nem 
completamente em conjunto, sem a intervenção de uma subjetividade 
única, curiosa, dedicada, talentosa e ambiciosa, que se porte como um 
alquimista perante os saberes tradicionais, transformando-os em algo 
desfrutável, útil, esteticamente aprazível para o gênero humano. Em 
 
- 15 - 
certo sentido, criar é inserir-se na tradição, modificando-a e deixando-
se modificar por ela. 
As leis e os princípios que regulam a propriedade 
intelectual devem ser constantemente aprimorados para, diante dos 
eventos provocadores que emergem a todo tempo em uma 
modernidade dinâmica e surpreendente, estimular o engajamento no 
trabalho intelectual e o consequente aperfeiçoamento da vida social.Tendo esse critério em vista, podemos avaliar a legitimidade e a 
eficiência de um sistema jurídico de regulação da propriedade 
intelectual, seus institutos, suas características, suas completudes, suas 
lacunas e suas contradições. 
A obra que ora se apresenta à comunidade jurídica – ela 
própria um exemplar inconteste das façanhas da criação humana – 
insere-se nesse ambiente de dignas preocupações. O conjunto de 
notáveis autoras e autores que a tecem são homens e mulheres de seu 
– de nosso – tempo: formulam perguntas e buscam respostas para as 
questões mais efervescentes e desafiadoras acerca do tema da 
propriedade intelectual e de suas implicações teóricas e práticas. É 
certo que o Direito está em incessante construção. Certo é, 
igualmente, que as mulheres e os homens responsáveis por esta 
valiosa obra são parte indissociável dessa construção. 
 
- 16 - 
 
- 17 - 
O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS 
ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) E SUA ATUAÇÃO 
EM QUESTÕES RELACIONADAS À PROPRIEDADE 
INTELECTUAL 
 
 
Ricardo Bacelar Paiva 
 
 
O presente artigo destina-se a consignar importantes 
iniciativas do Conselho Federal da OAB na seara da Propriedade 
Intelectual. Cumpre destacar, como fundamento para a atuação da 
Ordem em questões dessa natureza, sua competência para defender 
os interesses difusos, cuja violação representa, prima facie, desrespeito 
à Constituição, à ordem jurídica do estado democrático de direito, aos 
direitos humanos e à justiça social. O Estatuto da Advocacia, Lei nº 
8.906 de 1994, consolida relevantes atribuições da entidade em seu 
artigo 441. 
 
 Conselheiro Federal da OAB. Presidente da Comissão Nacional de Propriedade Intelectual da 
OAB. Presidente da Comissão de Direitos Culturais da OAB/CE, Professor do curso de pós-
graduação em Direito Internacional da Universidade de Fortaleza-UNIFOR, Mestrando em 
Direito e Gestão de Conflitos pela UNIFOR, Especialista em Política Cultural pela Universidade 
de Brasília – UnB, Direito Empresarial pela Pontifícia Universidade de São Paulo, PUC–SP e 
Direito Tributário pela UNIFOR. No Conselho Federal da OAB, presidiu a Comissão Nacional 
de Defesa da República e Democracia e participou das Comissões de Direito Internacional, 
Relações Institucionais e Comissão Especial de Reforma da Lei de Direitos Autorais. Na OAB 
CE, ocupou os cargos de Vice-Presidente, Corregedor Geral, Secretário Geral Adjunto, 
Conselheiro, Presidente do Conselho Editorial e Presidente do Órgão Especial. E-mail: 
ricardo@queirozbacelar.com.br. 
1 Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade 
jurídica e forma federativa, tem por finalidade: I – defender a Constituição, a ordem jurídica do 
Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação 
das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições 
jurídicas [...] (BRASIL. Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994. Art. 44, inciso I. Diário Oficial [da] 
República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 jul. 1994). 
 
- 18 - 
Quando a OAB atua de forma institucional, não se limita 
a contribuir com questões exclusivamente relacionadas à advocacia, 
mas a toda a sociedade, com repercussão coletiva, consideradas sua 
relevância social e sua competência para a defesa de interesses 
transindividuais. 
A participação da Ordem em assuntos atinentes à 
proteção do estado de direito é histórica e indiscutivelmente 
importante na construção do Brasil. Trataremos, neste artigo, de 
inserções da OAB Federal no campo da Propriedade Intelectual, com 
a participação institucional do subscritor do artigo nos casos 
expostos, verificando os relevantes aspectos técnico-jurídicos para a 
defesa dos temas ventilados. 
 
 
1 O DEPÓSITO ILEGAL DA MARCA “RAPADURA” EFETUADO 
POR EMPRESA ALEMÃ E A VITÓRIA DA OAB 
 
O primeiro caso, que aqui se retrata, é o da rumorosa 
questão internacional envolvendo o depósito da marca Rapadura. O 
procedimento foi efetuado pela empresa alemã Rapunzel Naturkost 
AG, sediada na cidade de Legnau, Allgäu, perante os órgãos 
americano e alemão de registro, respectivamente United States Patent 
and Trademark Office (USPTO), sob o número 1997779, desde 1996 e 
Deutsches Patent - und Markenamt (DPMA), sob o número 1143357, 
iniciado em 1989. 
A empresa iniciou a comercialização, no mercado 
internacional, de açúcar mascavo, acondicionado em uma caixa de 
papelão similar à de cereal, com o termo Rapadura, indicando ser 
uma marca registrada. 
 
- 19 - 
Em tese, os produtores de rapadura, doce tipicamente 
brasileiro, estariam impedidos de exportá-la, ante os vigentes efeitos 
do depósito da marca mencionada. Produzida no Brasil desde os 
tempos do Império, a rapadura é subproduto da cana de açúcar, item 
de subsistência de milhares de famílias pobres do Nordeste, que a 
produzem de forma artesanal. 
Pontuando sua importância no cenário histórico 
brasileiro, há forte identificação simbólica da Rapadura com a 
cultura nordestina. Era o alimento que viajava no alforje de Lampião 
e Maria Bonita integrando o plano imagético que alicerça a cultura 
popular do Nordeste e reproduz signos e axiomas conectados à seca, 
ao sertão e à formação do sertanejo. 
Nesses termos, defende-se que a iguaria é considerada 
Patrimônio Cultural Brasileiro, independentemente de registro 
próprio, inventário ou formas de acautelamento, guardando 
correspondência com o artigo 216 da Carta Maior, sendo “portador 
de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos 
formadores da sociedade brasileira, [...]”.2 
O registro indevido do termo Rapadura, que faz parte da 
cultura brasileira, ofendeu o artigo 15 do Acordo Trip´s - Agreement on 
Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights, pacto multilateral 
celebrado no âmbito da Organização Mundial do Comércio, 
 
2 Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, 
tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à 
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as 
formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e 
tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às 
manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, 
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL. Constituição 
(1988). Art. 216. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, 
Brasília, DF, 5 out. 1988). 
 
- 20 - 
contrariou a Convenção de Paris e outros tratados que regulam a 
propriedade intelectual. 
Tomando conhecimento do fato, em 2006, os advogados 
Patrícia Luciane de Carvalho, o subscritor e o então Presidente da 
OAB/Ceará, Hélio das Chagas Leitão Neto, encetaram esforços com 
o então Presidente do Conselho Federal, Cezar Britto, e o Presidente 
da Comissão de Relações Internacionais, Roberto Busato, ex-
Presidente do Conselho Federal, para as devidas providências. 
Inicialmente foram encaminhadas notificações 
extrajudiciais para as Embaixadas dos Estados Unidos e da 
Alemanha, no Brasil, narrando o depósito indevido, considerando 
serem aquelas seções diplomáticas extensões dos referidos países em 
território brasileiro. Na ocasião, ressaltaram-se as responsabilidades 
dos órgãos de registro de verificar os termos genéricos, quando estes 
são apresentados para depósito, pesquisandosua origem. 
No corpo das notificações, foi enfatizada a necessidade de 
cancelamento dos registros indicados, sob pena de responsabilidade 
frente à ordem jurídica internacional. Naquela oportunidade, foram 
enviadas cópias da documentação para o Ministério das Relações 
Exteriores do Brasil. O assunto foi amplamente abordado pela 
imprensa, e o Ministério Público Federal oficiou à OAB no sentido 
de que ela apresentasse cópia da notificação e da documentação 
correspondente, no bojo da Representação no 1.16.000.000894/2006-
16 que foi instaurada, visando investigar o caso. 
Diante do silêncio das Embaixadas, a OAB, em 2008, 
oficiou à Presidência da República e ao Ministério da Cultura 
requerendo providências. Iniciou-se, então, uma interlocução entre a 
Ordem e o Ministério das Relações Exteriores, buscando alternativas 
de resolução. 
 
- 21 - 
O Itamaraty, por intermédio do Grupo Interministerial de 
Propriedade Intelectual (GIPI), inaugurou rodada de negociação com 
representantes da empresa Rapunzel Naturkost AG, objetivando a 
solução do impasse. A tratativa consistia em tentar operacionalizar a 
adição do nome da empresa à marca, tornando-a composta 
(Rapadura Rapunzel). 
Na argumentação do GIPI, a marca composta formada 
por um elemento genérico e outro não-genérico poderia ser 
registrada, conforme a lei brasileira, sem constituir qualquer direito de 
exclusividade sobre o termo genérico. A hipótese não incorreria, 
portanto, na impossibilidade de registro, prevista no artigo 124, VI, 
da Lei n° 9.279, de 14 de maio de 1996.3 
Defendendo essa via para o deslinde do conflito, o 
Ministério das Relações Exteriores do Brasil consultou previamente 
as autoridades da Alemanha e dos Estados Unidos. O objetivo foi 
verificar a hipótese de haver permissivo legal nos sistemas jurídicos 
daqueles países, que albergasse a concessão de marcas compostas sem 
direito de exclusividade ao termo genérico, conforme comunicação 
enviada à OAB pelo Chefe da Divisão de Propriedade Intelectual, 
Kenneth Félix Haczynsky da Nóbrega. 
Em resposta às consultas, a equipe do United States Patent 
and Trademark Office (USPTO) respondeu que haveria dificuldade do 
órgão em identificar elemento genérico em marca composta no 
idioma estrangeiro. Comunicou, também, que inexistindo a cláusula 
 
3 Art. 124. Não são registráveis como marca: [...] VI - sinal de caráter genérico, necessário, 
comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a 
distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica do produto ou 
serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de 
prestação do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva (BRASIL. Lei n° 
9.279, de 14 de maio de 1996. Art. 124, inciso VI. Diário Oficial [da] República Federativa 
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 15 maio 1996). 
 
- 22 - 
de ressalva (disclaimer) quanto ao caráter genérico do termo 
Rapadura, o detentor da marca poderia, em tese, questionar as 
eventuais exportações de rapadura brasileira para os Estados Unidos. 
O USPTO sugeriu que o governo brasileiro estudasse a alternativa de 
registrar o termo Rapadura como indicação geográfica, sendo viável 
apenas se não houvesse uso consagrado do termo em outros países 
de língua portuguesa. 
O escritório alemão Deutsches Patent - und Markenamt 
respondeu que não haveria a possibilidade de garantir, erga omnes, que 
o registro composto por termo distintivo e termo genérico atendesse 
aos interesses do governo brasileiro. Entretanto, sinalizou que o 
Poder Judiciário alemão, naquelas circunstâncias e conforme o caso 
fosse apresentado, poderia, eventualmente, desconsiderar o termo 
genérico como marca. 
Como tratativa final, o MRE enviou solicitação de 
consulta por intermédio da Embaixada Brasileira em Berlim, sobre a 
viabilidade de apresentação de disclaimer voluntário pela empresa para 
dar um fim à querela, como sugestão do Instituto Nacional de 
Propriedade Industrial (INPI). A empresa propôs consignar a 
transferência de titularidade do registro da marca para o governo 
brasileiro, com licença de uso para a própria empresa. A proposta não 
foi aceita pelo Itamaraty. 
O caso da Rapadura foi amplamente discutido pela 
imprensa brasileira e internacional, mobilizando associações de 
produtores de cana de açúcar e a população em geral, que não 
aceitava a apropriação do termo de origem brasileira por alemães. 
Considerando a inércia da empresa, que sinalizava a 
intenção de manter o depósito ilegal produzindo efeitos, a Ordem 
iniciou estudos para viabilizar medidas judiciais. Promoveu, para 
 
- 23 - 
tanto, encontro com o Ministério das Relações Exteriores e buscou 
alianças com as entidades congêneres à OAB na Alemanha e nos 
Estados Unidos. 
Após o exame aprofundado do caso pelo Itamaraty e pela 
OAB, discutiu-se a celebração de convênio para eleger escritórios de 
advocacia nos Estados Unidos e na Alemanha, com o propósito de 
ajuizar medidas de nulidade em desfavor da empresa. Foram 
desenvolvidas pesquisas sobre os dados históricos e culturais do 
termo Rapadura, bem como o reflexo econômico de sua produção 
no Brasil. 
Diante das notícias, veiculadas na grande mídia, de que o 
Ministério das Relações Exteriores e a OAB estariam 
operacionalizando o ingresso de medidas judiciais, a empresa 
Rapunzel Naturkost AG, em julho de 2008, desistiu, finalmente, de 
sua pretensão, abrindo mão da exclusiva titularidade da marca 
Rapadura, alterando o depósito da marca nos órgãos alemão e 
americano. 
A atuação persistente da OAB foi importante na resolução 
da questão, com a sua colaboração técnica e institucional na defesa do 
Patrimônio Cultural Brasileiro e das normas de Propriedade 
Intelectual. 
 
 
2 A PROPOSIÇÃO SOBRE O COMBATE AO PLÁGIO, 
APROVADA PELO CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS 
ADVOGADOS DO BRASIL (OAB) 
 
Importantes ferramentas tecnológicas proporcionaram 
irrestrito acesso a bancos de dados, informações e notícias de toda 
parte do mundo, por meio da internet. Com a disseminação das 
 
- 24 - 
pesquisas no ambiente virtual, começaram a se apresentar distorções 
das novas formas de acesso ao conhecimento e à informação. 
A prática do plágio nas universidades e escolas de ensino 
médio no País alcançaram índices alarmantes. Com a facilidade de 
copiar e colar textos extraídos da internet, muitos alunos apropriam-se 
de obras de outros autores e formatam seus trabalhos sem efetuar a 
aposição dos créditos devidos, cometendo graves ilícitos. 
Essa conduta infecciona a pesquisa acadêmica, produz 
danos originados pela falta de integridade dos dados técnicos e põe 
em xeque a própria produção científica. A prática ocorre nas mais 
prestigiadas publicações da academia e nos trabalhos escolares das 
crianças, que não recebem, nas próprias instituições onde estudam, 
instruções e informações sobre a gravidade da prática do plágio. 
Como decorrência da nefasta artimanha, muitos 
estudantes não sabem escrever, construir uma ideia original ou 
realizar a composição de um texto simples. Outras consequências 
subjacentes são a impossibilidade de desenvolver o senso crítico e a 
dificuldade de organizar o pensamento lógico. Sem a pesquisa, alunos 
somente copiam textos de terceiros pelo computador, muitas vezes 
sem ler o que estão reproduzindo. 
O plágio é conduta antijurídica e corrobora com o 
ambiente de falta de princípios morais e éticos. Por meio desse 
comportamento, os discentes subtraem, usualmente, ideias de outras 
pessoas. Duas característicaspredominantes no plágio são: a) o 
plagiador utiliza-se da obra de terceiro intitulando-se, falsamente, 
como autor da obra protegida pelo direito autoral; b) geralmente, o 
plagiador procura encobrir e dissimular a existência do plágio. 
Nas universidades, o problema pode manifestar-se de 
outra forma: por meio do comércio ilegal de monografias. Trata-se de 
 
- 25 - 
serviço escuso, em que terceiros recebem encomendas de trabalhos 
acadêmicos. Alguns transacionam trabalhos acadêmicos prontos, 
outros distribuem o mesmo texto para vários clientes, trocando o 
título ou traduzindo monografias de autores estrangeiros. 
A sofisticação é tamanha, nesses procedimentos, a ponto 
dos alunos repassarem para os orientadores os textos adquiridos, com 
modificações provenientes dos vendedores de monografia, após as 
recomendações e correções do professor, no processo de 
desenvolvimento da monografia. Ou seja, há uma triangulação: o 
aluno recebe o material escrito do terceiro, repassa para o orientador; 
este devolve ao aluno e é enviado novamente para o terceiro, que é 
quem, realmente, está escrevendo e/ou copiando textos dos 
verdadeiros autores. O professor não percebe, muitas vezes, o 
embuste. 
O comércio ilegal de monografias acontece às escâncaras, 
via internet, com pagamento por meio de cartão de crédito. Basta 
colocar o termo monografia no buscador do Google para surgirem 
inúmeros serviços oferecendo a confecção de trabalhos acadêmicos. 
Quando o aluno deposita sua monografia para ser 
aprovada como requisito de final de curso (TCC) e intitula-se 
falsamente como autor, incorre em dois tipos penais, sem prejuízo da 
ofensa às normas de direito civil e normativos universitários. 
Primeiro, alcança a prescrição do artigo 1844 do Código Penal, por 
 
4 Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 
1 (um) ano, ou multa. §1o Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de 
lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual, interpretação, 
execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, 
do produtor, conforme o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 
(quatro) anos, e multa. §2o Na mesma pena do §1o incorre quem, com o intuito de lucro direto 
ou indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire, oculta, tem em 
depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma reproduzido com violação do 
direito de autor, do direito de artista intérprete ou executante ou do direito do produtor de 
 
- 26 - 
violação de direito autoral – a usurpação do nome alheio foi 
revogada, aplicando-se o caput do artigo 184. E o segundo, a ofensa 
ao artigo 2995 do Código Penal, cometendo crime de falsidade 
ideológica, por entregar documento falso, considerando que as 
monografias de final de cursos têm que ser inéditas e escritas pelo 
aluno. 
Diante da gravidade desse cenário, o subscritor do 
presente artigo elaborou uma proposição que foi lida e aprovada por 
unanimidade do Pleno do Conselho Federal, tratando da temática, 
por meio do Processo no 2010.19.07379-01, aprovado em sessão do 
dia 19 de outubro de 2010, mediante relatório e voto do então 
Conselheiro Federal Norberto Campelo, publicado no Diário da 
Justiça, em 22 de novembro de 2010. 
 
fonograma, ou, ainda, aluga original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa 
autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente. §3o Se a violação consistir no 
oferecimento ao público, mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema 
que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e 
lugar previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro, direto ou 
indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do artista intérprete ou 
executante, do produtor de fonograma, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 
4 (quatro) anos, e multa. §4o O disposto nos §§1o, 2o e 3o não se aplica quando se tratar de 
exceção ou limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com o 
previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra intelectual ou 
fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista, sem intuito de lucro direto ou 
indireto (BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1948. Código Penal. Art. 184. 
Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 
1940). 
5 Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou 
nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de 
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: Pena - 
reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e 
multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular. Parágrafo 
único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a 
falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte 
(BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1948. Código Penal. Art. 299. Diário 
Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1940). 
 
- 27 - 
O formato de proposição foi apresentado, respeitando o 
artigo 2246 da Constituição Federal de 1988, que prestigia a 
autonomia administrativa das universidades. O documento foi 
gestado com o propósito de coibir o plágio nas instituições de ensino 
médio e superior do País, com envio de ofício e cópia das 
recomendações a todas as instituições superiores de ensino do Brasil. 
Dentre as diretrizes, constam a utilização de softwares de busca de 
similaridade antes do depósito das monografias e a adoção de 
políticas internas de conscientização e informação sobre o direito 
autoral, visando refrear o plágio nas atividades acadêmicas. 
Para a verificação da ocorrência do plágio, além do software 
específico, foi orientada a formação de comissões nas instituições de 
ensino, para avaliar os resultados obtidos no programa de forma 
objetiva, aferindo a gravidade das cópias encontradas. 
O então Presidente do Conselho Federal, Ophir 
Cavalcante Júnior, juntamente com o Presidente da OAB Ceará, à 
época, Valdetário Andrade Monteiro, diligenciaram o envio das 
cópias das recomendações, conforme requerido, a todas as secionais 
da OAB dos estados, ao Ministério da Educação, Ciência e 
Tecnologia, ao Ministério da Cultura, ao Conselho Federal de 
Educação, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico (CNPQ), à Associação Nacional de 
Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior e à 
Associação Brasileira dos Reitores das Universidades Estaduais e 
Municipais. 
 
6 Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão 
financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e 
extensão (BRASIL. Constituição (1988). Art. 207. Diário Oficial [da] República Federativa 
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 out. 1988). 
 
- 28 - 
No tópico relacionado ao comércio ilegal de monografias, 
foram expedidos ofícios para o Ministro da Justiça, Procurador Geralda República, Procuradores Gerais de Justiça dos Estados, 
requerendo às autoridades providências, “[...] com averiguação 
através de rigorosas investigações e medidas exemplares de 
responsabilização, conforme as normas legais vigentes”. 
Após o envio dos ofícios e a publicização da iniciativa da 
OAB, a CAPES adotou o documento em suas diretrizes e enviou 
comunicado7 para todas as instituições de ensino públicas e privadas 
brasileiras, nos seguintes termos: 
 
Adotem políticas de conscientização e informação 
sobre a propriedade intelectual, adotando 
procedimentos específicos que visem coibir a prática 
do plágio quando da redação de teses, monografias, 
artigos e outros textos [...]. A Capes concorda com as 
orientações da Ordem dos Advogados do Brasil e 
reforça a necessidade de combate ao plágio onde quer 
que este se manifeste. 
 
Inúmeras universidades adotaram as recomendações e o 
documento foi utilizado em muitas publicações científicas, cartilhas, 
monografias, teses acadêmicas e comunicados administrativos das 
instituições de ensino. A Ordem foi convidada a integrar o grupo de 
trabalho do Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication 
Ethics (Brispe), que estuda a integridade científica e teve assento na 
mesa de abertura da 4ª Conferência Mundial da Integridade da 
Ciência, juntamente com cientistas de 43 países e gestores de 120 
instituições públicas, apresentando o documento, como exemplo da 
 
7 CAPES. Orientações Capes: combate ao plágio. CAPES, Brasília, 4 jan. 2011. Disponível em: 
<https://goo.gl/2x6e6M>. Acesso em: 16 out. 2017. 
 
- 29 - 
participação da sociedade civil no combate às más práticas da 
produção científica. 
A proposição foi citada em editorial da Revista da Scielo, 
nos Livros: “Manual de Produção Científica” – Sílvia H. Koeller, 
Maria Clara Couto e Jean Hojendorff – “Plágio, palavras escondidas” 
– Debora Diniz e Ana Terra – e “Integridade na Pesquisa e 
Propriedade Intelectual na Universidade” – Lívia Haygert Pithan. 
 
 
3 O REQUERIMENTO DA OAB AO SENADO PUGNANDO 
PELA ATUALIZAÇÃO DA LEI DE DIREITOS AUTORAIS – LEI 
Nº 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998 
 
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 
por meio do Presidente Cláudio Lamachia e da Comissão de 
Propriedade Intelectual, oficiou ao Presidente do Senado Federal, em 
2017, requerendo a atualização da Lei de Direitos Autorais - Lei nº 
9.610, de 19 de fevereiro de 1998. 
Os direitos autorais são relacionados à criação intelectual e 
regulam as disposições que tratam das obras literárias, artísticas e 
científicas. Sua regulamentação alcança as indústrias cultural e do 
entretenimento, a academia e outros setores. A grande cadeia 
produtiva guarda relação direta com a música, cinema, artes visuais, 
fotografia, arquitetura, teatro, dança, literatura, obras científicas na 
forma escrita – compreendendo os textos científicos produzidos – 
programas de computador e outras formas de expressão previstas no 
texto normativo. 
A Lei nº 9.610/98 (Lei de Direitos Autorais), norma de 
regência, carece de urgente atualização, considerando a 
predominância das novas tecnologias e a utilização da internet como 
ambiente no qual se disponibilizam obras literárias, artísticas e 
 
- 30 - 
científicas. Em 2018, a lei completará 20 anos. Diante das discretas 
alterações encetadas não se conseguiu regulamentar, 
satisfatoriamente, as inovações que se sucederam na indústria criativa. 
O termo internet ainda não consta do texto legal que 
disciplina os direitos autorais. A lógica da fruição de produtos e bens 
culturais se transformou consideravelmente nos últimos anos. 
Atualmente, o consumidor adquire ou aluga cópia de obra 
audiovisual, acessa fonograma musical e transaciona outros bens de 
consumo cultural por meio do telefone celular e aparelhos portáteis, 
utilizando-os em dispositivos instalados no automóvel, residência e 
em espaços de frequência coletiva. Os arquivos digitais substituíram 
antigos suportes, como o CD, o DVD e as formas tradicionais de 
transmissão. 
Nessa quadra, a contrafação, a pirataria, o plágio e o 
desrespeito aos direitos autorais tornaram-se práticas banais. O 
cenário se agrava com o atraso da regulamentação das novas formas 
de relação jurídica no meio digital. 
As redes sociais, fenômeno de impacto a redimensionar 
toda a indústria do entretenimento, observado o marco legal das 
redes, ainda carece de normatização específica relativa à utilização de 
obras protegidas. 
Nesse ambiente virtual, convivem artistas, autores, 
intérpretes, consumidores, gravadoras, rádios, televisões, editoras, 
livrarias, jornais, produtores de conteúdo, galerias de arte, cinemas, 
teatros, comércio de produtos, bibliotecas, agências de publicidade e 
muitos outros, além de inúmeros profissionais liberais que interagem 
com a grande cadeia de produção de bens simbólicos e culturais no 
País. 
 
- 31 - 
Os tribunais enfrentam desafios para interpretar antigos 
conceitos de execução pública e pagamento de direitos, considerando 
as novas tecnologias de streaming – spotify, apple music. São novas 
formas de utilização de obras musicais, que não se confundem com o 
rádio, nem com o comércio de fonogramas, gerando um vácuo 
normativo. 
Assim, os criadores, os consumidores e a indústria de bens 
culturais e de entretenimento carecem de normas capazes de regular, 
com precisão, as novas formas de relacionamento. Novas acepções 
de flexibilização de direitos, relacionadas ao acesso às bibliotecas 
digitais, ao uso de obras com finalidade educacional e regras de 
reprografia, necessitam ser disciplinadas. 
Por essas razões, a OAB Federal oficiou o Senado Federal 
para que se produzam normas visando aplacar o atual ambiente de 
incerteza, insegurança jurídica e distorções de exegese na seara dos 
direitos autorais. 
No atual estágio de nossas instituições democráticas, é 
imperioso que o sistema normativo brasileiro contemple, de forma 
contemporânea, as demandas dos autores e da indústria cultural. É 
importante garantir aos autores uma justa remuneração por seu 
trabalho intelectual e estimular os investimentos na indústria cultural, 
gerando um ambiente harmonioso que favoreça o desenvolvimento 
da cultura, educação e economia do Brasil. 
 
 
 
- 32 - 
4 PARECER DA COMISSÃO NACIONAL DE PROPRIEDADE 
INTELECTUAL DO CONSELHO FEDERAL DA OAB NO CASO 
DA PATENTE DO “BIRIBIRI” E “CUNANI”, 
CONHECIMENTO TRADICIONAL DOS ÍNDIOS WAPIXANA 
DE RORAIMA 
 
A Comissão Nacional de Propriedade Intelectual do 
Conselho Federal da OAB emitiu parecer, mediante requerimento, 
avaliando a possibilidade de anulação das patentes do biribiri e do 
cunani, itens que integram o conhecimento tradicional dos índios 
Wapixana de Roraima, efetivada por um químico estrangeiro. As 
patentes foram alienadas para a empresa Biolink, do Canadá, 
fabricante de medicamentos anticoncepcionais, com princípio ativo 
produzido a partir dos antigos conhecimentos e de espécies da flora 
brasileira. Nenhum royalty é pago aos índios Wapixana, constituindo 
típico caso de biopirataria. 
A defesa do patrimônio cultural brasileiro guarda 
referência estrita com a atuação da OAB. No caso em exame, o 
patrimônio genético nacional e todo o conhecimento tradicional a ele 
associado são legados que encontram resguardo no ordenamento 
jurídico, conforme a Lei no 13.123, de 20 de maio de 20158. 
 
8 Art. 1º. Esta Lei dispõe sobre bens, direitos e obrigações relativos: I - ao acesso ao patrimônio 
genético do País, bem de uso comum do povo encontradoem condições in situ, inclusive as 
espécies domesticadas e populações espontâneas, ou mantido em condições ex situ, desde que 
encontrado em condições in situ no território nacional, na plataforma continental, no mar 
territorial e na zona econômica exclusiva; II - ao conhecimento tradicional associado ao 
patrimônio genético, relevante à conservação da diversidade biológica, à integridade do 
patrimônio genético do País e à utilização de seus componentes; III - ao acesso à tecnologia e à 
transferência de tecnologia para a conservação e a utilização da diversidade biológica; [...] §1º O 
acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional associado será efetuado sem 
prejuízo dos direitos de propriedade material ou imaterial que incidam sobre o patrimônio 
genético ou sobre o conhecimento tradicional associado acessado ou sobre o local de sua 
ocorrência. §2o O acesso ao patrimônio genético existente na plataforma continental observará o 
disposto na Lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993. Artigo 2º - Além dos conceitos e das 
definições constantes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), promulgada pelo 
Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998, consideram-se para os fins desta Lei: I - patrimônio 
 
- 33 - 
No tópico investigado, tem-se a ocorrência de patentes 
formalizadas por estrangeiro em escritório fora do Brasil e 
comercializadas para pessoa jurídica de outra nacionalidade. A 
empresa explora, economicamente, elementos provenientes da flora 
nativa brasileira, juntamente com o conhecimento tradicional dos 
Wapixana, com prejuízo aos povos nativos, legítimos titulares do 
direito ao aproveitamento econômico de antigos saberes ancestrais e 
das patentes deles provenientes. 
Distribuído para a Comissão Nacional de Propriedade 
Intelectual do Conselho Federal da OAB, o feito foi apreciado por 
meio de parecer. O exame do tema teve como importante subsídio 
uma publicação específica, editada em 2015, pelo Conselho Federal 
da OAB – Biopirataria e Apropriação dos Conhecimentos 
Tradicionais: Um Estudo de Caso dos Índios Wapixana de Roraima, 
de Walker Sales Silva Jacinto, subscritor do requerimento. 
O Ministério do Meio Ambiente, em seu sítio virtual, 
destaca que o acesso ao patrimônio genético significa: 
 
Atividade realizada sobre o patrimônio genético com o 
objetivo de isolar, identificar ou utilizar informação de 
origem genética ou moléculas e substâncias provenientes do 
metabolismo dos seres vivos e de extratos obtidos destes 
organismos, para fins de pesquisa científica, desenvolvimento 
tecnológico ou bioprospecção, visando a sua aplicação 
 
genético - informação de origem genética de espécies vegetais, animais, microbianas ou espécies 
de outra natureza, incluindo substâncias oriundas do metabolismo destes seres vivos; II - 
conhecimento tradicional associado - informação ou prática de população indígena, comunidade 
tradicional ou agricultor tradicional sobre as propriedades ou usos diretos ou indiretos associada 
ao patrimônio genético; III - conhecimento tradicional associado de origem não identificável - 
conhecimento tradicional associado em que não há a possibilidade de vincular a sua origem a, 
pelo menos, uma população indígena, comunidade tradicional ou agricultor tradicional; [...]. 
(BRASIL. Lei n° 13.123, de 20 de maio de 2015. Art. 1º. Diário Oficial [da] República 
Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 maio 2015). 
 
- 34 - 
industrial ou de outra natureza (Orientação Técnica nº 1 do 
CGEN)9. 
 
No mesmo site, o Ministério do Meio Ambiente trata 
sobre o conhecimento tradicional associado, nos moldes da Lei nº 
13.123, de 20 de maio de 2015, em seu artigo 2º, II: 
 
Acesso ao conhecimento tradicional associado: obtenção de 
informação sobre conhecimento ou prática individual ou 
coletiva, associada ao patrimônio genético, de comunidade 
indígena ou de comunidade local, para fins de pesquisa 
científica, desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção, 
visando sua aplicação industrial ou de outra natureza. 
 
Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, artigo 2º, [...] II - 
conhecimento tradicional associado - informação ou prática 
de população indígena, comunidade tradicional ou agricultor 
tradicional sobre as propriedades ou usos diretos ou indiretos 
associada ao patrimônio genético; 
 
A Medida Provisória nº 2.186-16, revogada pela Lei nº 
13.123, de 20 de maio de 2015, definia patrimônio genético como: 
 
[...] informação de origem genética, contida em amostras do 
todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico, microbiano 
ou animal, na forma de moléculas e substâncias provenientes 
do metabolismo destes seres vivos e de extratos obtidos 
destes organismos vivos ou mortos, encontrados em 
condições in situ, inclusive domesticados, ou mantidos em 
condições ex situ, desde que coletados in situ no território 
nacional, na plataforma continental ou na zona econômica 
exclusiva. 
 
Inobstante a vigência de normas que regem o patrimônio 
genético, há um reflexo da discussão quanto aos saberes ancestrais 
serem considerados Patrimônio Cultural Imaterial. “Os saberes 
 
9 BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho de Gestão do Patrimônio Genético. 
[2015?]. Disponível em: <https://goo.gl/blj3Vm>. Acesso em: 03 out. 2017. 
 
- 35 - 
ancestrais despertam interesse econômico dos grandes 
conglomerados empresariais. As companhias exploram, muitas vezes, 
ao arrepio da lei, os produtos advindos desta propriedade coletiva de 
cunho cultural e simbólico” (PAIVA, 2008, p. 379)10 
Arrematando a questão, a Lei nº 13.123, de 20 de maio de 
2015, em seu artigo 8º, faz a correspondência do patrimônio genético 
com o patrimônio cultural. 
 
Art. 8o Ficam protegidos por esta Lei os conhecimentos 
tradicionais associados ao patrimônio genético de populações 
indígenas, de comunidade tradicional ou de agricultor 
tradicional contra a utilização e exploração ilícita. 
§1o - O Estado reconhece o direito de populações indígenas, 
de comunidades tradicionais e de agricultores tradicionais de 
participar da tomada de decisões, no âmbito nacional, sobre 
 
10 PAIVA, Ricardo Bacelar. O Patrimônio Cultural Brasileiro e a Propriedade Intelectual. In: 
CARVALHO, Patrícia Luciane de (coord.). Propriedade Intelectual. Curitiba: Juruá, 2008. “A 
expressão "Patrimônio Cultural", utilizada na Carta Política de 1988, é forma mais abrangente e 
completa do que Patrimônio Histórico e Artístico, antiga denominação. Essa concepção mais 
robusta compreende todas as expressões simbólicas da memória coletiva, constitutivas da 
identidade de um lugar, uma região ou uma comunidade. O termo insculpido na Constituição 
Federal, artigo 216, sugere forma conjunta dos três entes da Federação: União, Estados e 
Municípios: Artigo 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e 
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à 
ação à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas , 
artísticas e tecnológicas; [...] Os conhecimentos tradicionais têm outra natureza: são criações do 
intelecto coletivo e cultural de um povo. Constituem-se, portanto, tais conhecimentos, quando 
portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da 
sociedade brasileira como Patrimônio Cultural Brasileiro. [...] A Medida Provisória nº 2.186/16, 
de 23.08.2001, determina, objetivamente, que o conhecimento tradicionalassociado ao 
patrimônio genético integra o Patrimônio Cultural Brasileiro: Artigo 8". [...] § 2º O 
conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético de que trata esta Medida Provisória 
integra o patrimônio cultural brasileiro e poderá ser objeto de cadastro conforme dispuser o 
Conselho de Gestão ou legislação especifica. O pleno exercício dos direitos culturais é 
indispensável para o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades na preservação de 
seus conhecimentos tradicionais. [...] Esse princípio inspira política pública determinante, na 
forma do Decreto nº 6.040, de 07.02.2007, que trata das atividades para o desenvolvimento das 
comunidades tradicionais. Não obstante o pensamento esposado, os saberes ancestrais 
despertam interesse econômico dos grandes conglomerados empresariais. As companhias 
exploram, muitas vezes ao arrepio da lei, os produtos advindos desta propriedade coletiva de 
cunho cultural e simbólico”. 
 
- 36 - 
assuntos relacionados à conservação e ao uso sustentável de 
seus conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio 
genético do País, nos termos desta Lei e do seu regulamento. 
§2º - O conhecimento tradicional associado ao 
patrimônio genético de que trata esta Lei integra o 
patrimônio cultural brasileiro e poderá ser depositado em 
banco de dados, conforme dispuser o CGen ou legislação 
específica. (grifo nosso). 
 
Diante disso, o dispositivo em exame guarda direta relação 
com o Artigo 216 da Carta Maior, que dispõe sobre o Patrimônio 
Cultural Brasileiro e suas formas de proteção. 
O respeito à biodiversidade e ao conhecimento tradicional 
também é objeto da Convenção 169 da Organização Internacional do 
Trabalho, que trata de povos indígenas, previsto no artigo 8º. 
(JACINTO, 2015, p. 133)11. 
O Decreto nº 2.519/1998, que promulga a Convenção 
sobre Diversidade Biológica12, de 5 de junho de 1992, estabelece no 
 
11 JACINTO, Walker Sales e Silva. Biopirataria e Apropriação dos Conhecimentos 
Tradicionais: um estudo do caso dos índios Wapixana de Roraima. Brasília: OAB, Conselho 
Federal, 2015. 
12 Convenção sobre Diversidade Biológica. Artigo 8º - Conservação in situ. Cada Parte Contratante 
deve, na medida do possível e conforme o caso: [...] j) Em conformidade com sua legislação 
nacional, respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades 
locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e à 
utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com a 
aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas; e encorajar 
a repartição equitativa dos benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e 
práticas; [...] Artigo 10 - Utilização Sustentável de Componentes da Diversidade Biológica. Cada 
Parte Contratante deve, na medida do possível e conforme o caso: [...] c) Proteger e encorajar a 
utilização costumeira de recursos biológicos de acordo com práticas culturais tradicionais 
compatíveis com as exigências de conservação ou utilização sustentável; [...] Artigo 15 - Acesso a 
Recursos Genéticos - 1. Em reconhecimento dos direitos soberanos dos Estados sobre seus 
recursos naturais, a autoridade para determinar o acesso a recursos genéticos pertence aos 
governos nacionais e está sujeita à legislação nacional; 2. Cada Parte Contratante deve procurar 
criar condições para permitir o acesso a recursos genéticos para utilização ambientalmente 
saudável por outras Partes Contratantes e não impor restrições contrárias aos objetivos desta 
Convenção; 3. Para os propósitos desta Convenção, os recursos genéticos providos por uma 
Parte Contratante, a que se referem este artigo e os artigos 16 e 19, são apenas aqueles providos 
por Partes Contratantes que sejam países de origem desses recursos ou por Partes que os 
tenham adquirido em conformidade com esta Convenção; 4. O acesso, quando concedido, 
 
- 37 - 
artigo 8º, alínea “j”, que os estados membros devem “respeitar, 
preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas das 
comunidades locais e populações indígenas com estilo de vida 
tradicionais relevantes à conservação e à utilização sustentável da 
diversidade biológica”. 
O Acordo TRIP’s, vale destacar, consigna tão somente 
disposições gerais e princípios básicos que estabelecem padrões 
mínimos de normatização a serem complementados e especificados 
pelos ordenamentos domésticos. 
A conclusão do parecer da Comissão Nacional de 
Propriedade Intelectual da OAB foi no sentido de reconhecer a tutela 
jurídica para a proteção dos conhecimentos tradicionais dos índios 
Wapixana, com vistas ao resguardo do patrimônio nacional, das 
comunidades indígenas, não podendo haver apropriação dos saberes 
por agentes estrangeiros, em prejuízo dos interesses nacionais e do 
patrimônio cultural e genético brasileiro. 
O parecer ressaltou, ainda, a pertinência da matéria com as 
funções institucionais da OAB, para que seja processada e 
apresentada ao Pleno do Conselho Federal. 
Opinou pelo envio de ofício ao Ministério das Relações 
Exteriores para, em conjunto com a OAB, como no caso da marca 
Rapadura, providenciar as comunicações de cunho diplomático aos 
interessados e, a posteriormente, contratar escritórios nos locais onde 
há depósito das patentes para os trâmites legais aptos a desfazer a 
ilegalidade trazida ao conhecimento da OAB. 
Sugeriu, ainda, acaso haja uma composição amigável entre 
as partes, a elaboração de instrumento jurídico que garanta a 
 
deverá sê-lo de comum acordo e sujeito ao disposto no presente artigo; 5. O acesso aos recursos 
genéticos deve estar sujeito ao consentimento prévio fundamentado da Parte Contratante 
provedora desses recursos, a menos que de outra forma determinado por essa Parte. 
 
- 38 - 
titularidade das patentes para os índios Wapixana, bem como um 
contrato entre a empresa Biolink e os índios Wapixana para 
estabelecer o recebimento conjunto sobre os proveitos econômicos, 
caso queiram. 
 
- 39 - 
A LEI DA INOVAÇÃO (LEI 10.973/2004) E AS 
PATENTES ORIGINADAS DO BRASIL

 
 
 
Gabriel Leonardos 
 
 
[...] isso me lembra de comentar, que o primeiro ato oficial 
que eu fiz em minha administração - e foi em seu primeiro 
dia - foi abrir um escritório de patentes, pois eu sabia que um 
país sem um escritório de patentes e uma boa lei de patentes 
é como um caranguejo, que não pode andar de outra forma 
que não seja de lado ou para trás. 
A Connecticut Yankee in King Arthur's Court, IX, Mark 
Twain, 18891 
 
Neste breve artigo farei uma análise da evolução do 
número de patentes depositadas no Brasil por entidades nacionais a 
partir da edição da Lei de Inovação (Lei nº 10.973, de 02.12.2004), a 
fim de verificar se a referida lei atingiu um de seus principais 
objetivos, que era o de estimular o desenvolvimento tecnológico 
nacional. 
Desde logo faz-se necessária uma curta explicação 
terminológica: na sistemática da Lei de Inovação, as universidades e 
 
 Este artigo é dedicado à memória do Prof. Denis Borges Barbosa, o maior estudioso do Direito 
da Inovação entre nós, que nos deixou prematuramente. É possível que o querido e saudoso 
professor não concordasse com alguns pontos de vista expressos neste artigo, mas o seu amor 
ao debate e a generosidade com que ouvia todas as opiniões certamente fariam com que ele se 
alegrasse pelo simples fato do tema estar sendo discutido. Denis tinha profunda convicção do 
papel crucial que pode ser desempenhado pela inovação tecnológicano desenvolvimento 
econômico e social nacional, algo que ainda não se concretizou com plenitude nas políticas 
públicas brasileiras. 
 Advogado no Rio de Janeiro, Mestre em Direito (USP) e Conselheiro Seccional Titular da 
OAB/RJ. 
1 Agradecemos a Antonio Abrantes pela divulgação dessa citação. A obra citada é uma alegoria 
escrita por Mark Twain na qual um engenheiro estadunidense do final do Séc. XIX é 
transportado para a Corte do Rei Artur, na Inglaterra do Séc. VI, lá atingindo uma posição de 
proeminência equivalente à de um Primeiro Ministro. 
 
- 40 - 
instituições públicas de pesquisa são denominadas de Instituições 
Científicas e Tecnológicas – ICTs. Segundo a versão original lei, 
ICT seria o órgão ou entidade da administração pública com a missão 
institucional, dentre outras, de executar atividades de pesquisa básica 
ou aplicada de caráter científico ou tecnológico (cf. art. 2º, V da Lei 
10.973/2004). 
Com a modernização da lei em 2016, pela Lei nº 13.243, de 
11.01.2016, a definição de ICT foi ampliada para abranger entidades 
privadas sem fins lucrativos e, atualmente, a definição do 2º, V da Lei 
10.973/2004 é a seguinte: 
 
Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação (ICT): 
órgão ou entidade da administração pública direta ou indireta 
ou pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos 
legalmente constituída sob as leis brasileiras, com sede e foro 
no País, que inclua em sua missão institucional ou em 
seu objetivo social ou estatutário a pesquisa básica ou 
aplicada de caráter científico ou tecnológico ou o 
desenvolvimento de novos produtos, serviços ou 
processos (grifo nosso). 
 
Na Exposição de Motivos2, enviada em 27.04.2004 pela 
Presidência da República ao Congresso Nacional, do projeto de lei 
que resultaria na Lei de Inovação era possível perceber claramente 
quais eram os principais objetivos da legislação proposta, a saber, 
estimular a criação de invenções patenteáveis em nosso país e 
possibilitar a aproximação entre as forças produtivas da indústria 
e a Academia. 
 
2 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 3476. Dispõe sobre os incentivos à inovação 
e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, e dá outras providências. Projetos 
de Lei e Outras Proposições, Câmara dos Deputados, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 maio 
2004. Disponível em: <https://goo.gl/s2a1d6>. Acesso em: 27 set. 2016. 
 
- 41 - 
Quanto ao estímulo ao patenteamento, além do texto 
do projeto de lei por diversas vezes referir-se à obtenção de direitos 
de propriedade intelectual, constava da Exposição de Motivos o 
seguinte: 
 
A proposição destaca atenção ao pesquisador independente, 
garantindo um canal de interlocução entre esse particular e as 
instituições científicas e tecnológicas. Pretende-se 
assegurar o suporte técnico necessário à viabilização de 
uma ideia inovadora objeto de pedido de patente (grifo 
nosso). 
 
O objetivo da Lei de Inovação de estimular a apropriação 
da tecnologia através de patentes foi também percebido por Denis 
Borges Barbosa: 
 
A nossa análise até aqui esteve centrada na questão da 
apropriação. No nosso modelo constitucional, tal como 
implementado na Lei de Inovação, a tecnologia é 
primordialmente apropriável. A tecnologia é apropriável em 
favor - não da ICT, não do criador, não da equipe de 
pesquisa -, mas basicamente em favor do sistema produtivo 
nacional. Essa é uma tônica essencial da Lei de 
Inovação. 
[...] 
Os aspectos administrativos, funcionais, estruturais da lei de 
licitações têm até agora tomado prevalência da atenção de 
todo mundo, mas é esse aspecto que parece particularmente 
relevante. A Lei de Inovação implementa o artigo 218 da 
Constituição e cria um dever de proteção genérico para a 
produção de conhecimentos no Brasil. É algo que foi 
novo a sua época, e que, do ponto de vista da estrutura dos 
direitos, reverteu o procedimento costumeiro anterior.3 
 
 
3 BARBOSA, Denis Borges. Direito ao desenvolvimento, inovação e a apropriação das 
tecnologias após a Emenda Constitucional no. 85. 2015, p. 30. Disponível em: 
<https://goo.gl/KvzPwh>. Acesso em: 27 set. 2017. 
 
- 42 - 
Um instrumento importante da Lei de Inovação adotado 
com o objetivo de estimular o patenteamento é a proibição, contida 
em seu art. 12, de que o pesquisador divulgue ou publique as suas 
descobertas sem que ele ou ela tenha antes obtido a prévia e expressa 
anuência da ICT à qual estiver vinculado. Com isso, o legislador 
enviou uma mensagem forte à Academia, qual seja, a de que não 
havia mais espaço para o conhecido adágio publish or perish 
(publique ou pereça), que até então regia as atividades dos 
pesquisadores brasileiros. Evita-se, desta forma, que a publicação 
precoce da tecnologia, muitas vezes feita inadvertidamente, acarrete a 
preclusão da possibilidade de obter a patente de invenção, em 
decorrência da perda do requisito da novidade, sem a qual a patente 
não pode ser concedida. 
Por seu turno, no que concerne ao objetivo da Lei de 
Inovação de promover a aproximação entre as empresas privadas e 
as universidades e instituições públicas de pesquisa, lia-se na 
Exposição de Motivos: 
 
Com a disposição acima proposta, findam-se os inúmeros 
obstáculos que impediam a exploração pela sociedade dos 
produtos e processos inovadores produzidos dentro das 
universidades e instituições públicas de pesquisa. É selada, 
assim, de forma objetiva a relação entre tais entidades 
públicas e o setor produtivo nacional (grifo nosso). 
 
A Lei de Inovação foi justificadamente saudada, portanto, 
como o primeiro instrumento legislativo que visava retirar entravas 
legais para que fosse efetivada a parceria entre universidades e 
instituições públicas de pesquisa, de um lado, e empresas privadas, de 
outro. Sua inspiração foi o conhecido Bayh-Dole Act, dos Estados 
Unidos, que em 1980 passou a permitir acordos entre empresas e 
universidades cujas pesquisas são financiadas com recursos públicos. 
 
- 43 - 
Nesse sentido, um dos principais dispositivos da Lei 10.973/2004 é o 
que permite a celebração de, entre outros4, contratos de parceria 
para o desenvolvimento de novas tecnologias. 
A respeito dos acordos de parceria entre ICTs e empresas 
privadas assim dispunha a já citada Exposição de Motivos: 
 
No contexto de estímulo à participação das entidades 
públicas de pesquisa no processo de inovação, o Capítulo III 
traz mecanismo de suma relevância. Trata-se da 
transferência e o licenciamento de tecnologia de nossas 
universidades e institutos de pesquisa públicos para o 
setor produtivo nacional. Evitando tangenciar o problema 
da aplicação inadequada da Lei nº 8.666/1993, cuja 
formulação não foi direcionada para a matéria tecnológica, o 
presente Projeto traz modificação ao texto dessa Lei, 
dispensando das modalidades de licitação a contratação para 
transferência e licenciamento de tecnologia pelas instituições 
científicas e tecnológicas. 
[...] 
O texto apresentado estabelece duas formas de tratamento à 
questão. Primeiramente, em se tratando de contratação com 
cláusula de exclusividade para exploração da criação, o 
Projeto prevê a modalidade de chamada pública, cujo 
procedimento será oportunamente regulamentado. Em outra 
hipótese, havendo fundamento para contratar sem 
exclusividade de exploração, as entidades públicas de 
pesquisa poderão fazê-lo diretamente com os 
interessados do setor produtivo (grifo nosso). 
 
Percebe-se, pois, o intuito claro do legislador de dispensar 
diversos contratos na área de inovação dos ditames das normas 
aplicáveis a licitações e contratos da Administração Pública

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