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Carvalho e Campos Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica a experiência brasileira 2014

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Tensões atuais entre a criminologia feminista 
e a criminologia crítica: a experiência brasileira
Carmen Hein de Campos
Salo de Carvalho
1. Introdução: A Lei Maria da Penha como Referencial 
Normativo do e para o Movimento Feminista
Desde a década de 70, o movimento feminista brasileiro vem lutando para 
obter reformas políticas e jurídicas no tratamento da violência doméstica. Neste 
período, várias estratégias foram utilizadas pelas feministas e vários avanços na 
esfera da justiça criminal foram alcançados com o estabelecimento de políticas 
públicas específicas.
Nesses quarenta anos de luta, importantes progressos podem ser perce-
bidos. Dentre os mais significativos, é possível citar (a) a criação de Delegacias 
Especializadas no Atendimento a Mulheres (DEAMs) e sua incorporação como 
política pública; (b) a reforma da legislação com a inclusão da violência domés-
tica como circunstância agravante ou qualificadora de crimes, sobretudo nos de 
lesão corporal; e consequentemente (c) a mudança na interpretação doutrinária 
e jurisprudencial dos crimes praticados com violência doméstica; (d) a alteração 
na interpretação doutrinária e jurisprudencial da tese da legítima defesa da honra 
nos crimes de adultério; (e) a revogação de inúmeros tipos penais discrimina-
tórios, como os crimes de atentado violento ao pudor, de atentado violento ao 
pudor mediante fraude, de sedução, de rapto violento ou mediante fraude e 
de rapto consensual, inclusive a revogação do próprio delito de adultério; (f) a 
modificação na redação do crime de estupro, englobando a anterior tipicidade 
do atentado violento ao pudor; (g) a revogação do dispositivo que permitia a ex-
tinção da punibilidade com o casamento da vítima com seu ofensor nos crimes 
sexuais. Por outro lado, (h) a definição de inúmeras medidas protetivas, como o 
afastamento do cônjuge violento do lar, colaborou para fomentar uma nova cul-
tura jurídica no que diz respeito à violência contra mulheres e meninas no Brasil. 
A trajetória de lutas, porém, foi consolidada com a publicação, em 2006, da 
Lei Maria da Penha. Fruto do esforço do movimento de mulheres brasileiro no 
sentido de sistematizar em um estatuto único as conquistas históricas do femi-
nismo, a Lei 11.340/06 cria novas situações jurídicas que impõem mudanças de 
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rumo no campo jurídico. Tais alterações enfrentam inúmeras e notórias resis-
tências pelo atores da cena jurídica, sobretudo por serem os espaços das justiça, 
notadamente aqueles que entrecruzam direito de família e direito penal, no mí-
nimo conservadores – para não afirmar genericamente serem efetivamente regi-
dos por uma racionalidade androcêntrica e sexista. 
A Lei Maria da Penha, portanto, define verdadeira mudança conceitual e 
operacional no entendimento do tratamento das violências contra mulheres no 
Brasil, motivo pelo qual são injustificáveis omissões e ausências no enfrentamento 
destes problemas latentes, sejam na esfera do direito material, do direito proces-
sual e, no que diz respeito a esse trabalho, da criminologia e da política criminal. 
2. Principais Inovações Trazidas pela Lei Maria da Penha 
A Lei Maria da Penha é considerada pelas Nações Unidas um exemplo de 
legislação efetiva para o tratamento da violência doméstica contra mulheres. 
Dentre inúmeros motivos, o acolhimento no corpo da Lei dos tratados interna-
cionais de direitos humanos das mulheres, a conceituação da violência contra 
mulheres com o uma violência de gênero e a perspectiva de tratamento integral. 
A integralidade no tratamento da violência doméstica prevista na Lei Maria 
da Penha diz respeito à aliança entre as medidas assistenciais, as de prevenção e 
as de contenção da violência, além do vínculo da esfera jurídica com os serviços 
de assistência em rede. 
Diferentemente da expectativa tradicional dos atores do campo jurídico-
penal, a Lei 11.340/06 estabelece um catálogo extenso de medidas de natureza 
extra-penal que amplia a tutela para o problema da violência contra mulheres 
e, ao mesmo tempo, transcende os limitados horizontes estabelecidos pela dog-
mática jurídica. Dentre as medidas destacam-se (a) os programas de longo prazo 
como planejamento das políticas públicas, promoção de pesquisas e estatísticas, 
controle da publicidade sexista; (b) as medidas emergenciais como a criação de 
cadastro de programas assistenciais governamentais nos quais as mulheres em 
situação de violência doméstica tenham prioridade de assistência, sobretudo 
quando há risco à sua integridade física e psicológica, e a previsão de remoção 
ou de afastamento do trabalho de forma prioritária quando a servidora pública 
é vítima ou sua integridade física e psíquica encontra-se em risco; e (c) as medi-
das de proteção ou contenção da violência como criação de programas de aten-
dimento ou proteção, fornecimento de assistência judiciária gratuita, possibili-
dade de atendimento por equipe multidisciplinar (CAMPOS, 2008). 
Desta forma, o estatuto se desvincula daquele campo nominado exclusi-
vamente como penal e cria um sistema jurídico autônomo que deve ser regido 
por regras próprias de interpretação, de aplicação e de execução da Lei. Guias 
interpretativas que, necessariamente, devem seguir os instrumentos normativos 
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internacionais que consolidaram os direitos das mulheres. Conforme previsto, 
“na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, es-
pecialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e 
familiar” (art. 4º, Lei 11.340/06). 
A combinação das medidas de natureza penal e extrapenal estabelece, por-
tanto, uma nova proposta de política para as mulheres. Política que ultrapassa 
o terreno estrito da política criminal. Assim, no campo das políticas criminais e 
extrapenais, inúmeras inovações podem ser destacadas. 
(a) Limitação da tutela penal para as mulheres. Ao criar “mecanismos para 
coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher”, a Lei definiu formas 
de tutela penal exclusiva para as mulheres vítimas de violência. A exclusão da 
possibilidade de proteção aos homens causou, inclusive, inúmeras reações, sob 
o argumento de que a Lei 11.340/06 seria inconstitucional em razão da violação 
do princípio constitucional da igualdade. No entanto trata-se de tese argumen-
tativamente débil, que tende a ser refutada pelos Tribunais Superiores, em razão 
de ser comum na experiência legislativa nacional pós-Constituição de 1988 a in-
corporação de instrumentos normativos que podem ser considerados como de 
efetivação positiva da igualdade material, ainda que impliquem, aparentemente 
em desigualdade formal (p. ex. Estatuto do Idoso e Estatuto da Criança e do 
Adolescente, no que tange ao fator etário, e Lei que define os crimes resultantes 
de preconceito de raça ou de cor, no que diz respeito à questão racial e étnica). 
(b) Criação normativa da categoria ‘violência de gênero’. A Lei Maria da 
Penha, seguindo as orientações das normativas internacionais e sobretudo em 
conformidade com o disposto na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir 
e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará), con-
ceituou normativamente violência de gênero. A conceituação é significativa pois 
rompe com a tradição jurídica de incorporação genérica da violência de gênero 
nos tipos penais incriminadores tradicionais. A nova conceituação define essa 
violência como violação dos direitos humanos das mulheres e dispõe sobre as 
suas formas (artigos 5º, 6º e 7º1). A Lei 11.340/06 não cria, porém, novos tipos pe-
1 “Art. 7º. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I – a violência física, 
entendida como qualquer condutaque ofenda sua integridade ou saúde corporal; II – a violência psicológica, 
entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe pre-
judique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, 
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância cons-
tante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir 
ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III – a violência sexual, 
entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não 
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de 
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matri-
mônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que 
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nais incriminadores da violência de gênero, mas exemplifica diversas situações 
que caracterizam essa violência e estabelece a condição de violência doméstica 
como circunstância de agravamento ou qualificação das penas nos crimes espe-
cíficos2. 
(c) Redefinição da expressão ‘vítima’. Questão relevante que parece des-
percebida na literatura jurídica sobre a Lei Maria da Penha é a da intencional 
mudança provocada pela expressão ‘mulheres em situação de violência domés-
tica’ em contraposição ao termo ‘vítimas’ de violência . A mudança operada pela 
Lei (de vítima de violência para mulheres em situação de violência) é mais do 
que um mero recurso linguístico e tem por objetivo retirar o estigma contido na 
categoria ‘vítima’. Aliás o termo indica a verdadeira complexidade da situação 
de violência doméstica, para além dos preceitos classificatórios e dicotômicos do 
direito penal ortodoxo (p. ex., sujeito ativo e passivo, autor e vítima). A expressão 
‘mulheres vítimas de violência’ foi muito utilizada pelo feminismo na década de 
1980 e, de certo modo, seu uso aconteceu de forma acrítica. O próprio feminismo 
revisitou esta questão e percebeu que esta forma de adjetivação colocaria as mu-
lheres na posição de ‘objeto’ da violência, sem autonomia (ou com autonomia re-
duzida) e no lugar de um não-sujeito de direitos. A crítica fez, inclusive, com que 
algumas feministas americanas utilizassem o termo ‘mulheres sobreviventes da 
violência doméstica’ (HOFF, 1990; HAGUE & MULLENDER: 2005). No entanto 
essa categoria não ganhou muitas adeptas no Brasil3. A expressão ‘mulheres em 
situação de violência’ foi igualmente contestada por autores que justificam que 
o termo remeteria ao do ‘menor em situação irregular’, circunstância que indi-
caria a mulher como um sujeito deficitário em sua capaciadade jurídica. No en-
tanto, superando as crítica, a expressão ‘mulheres em situação de violência’ foi 
consolidada e indica a recuperação da condição de sujeito. Ao mesmo tempo, a 
expressão permite perceber o caráter transitório desta condição, fato que projeta 
o objetivo da Lei, que é a superação da situação momentânea de violência em 
que vivem estas mulheres. 
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV – a violência patrimonial, entendida como 
qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos 
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a 
satisfazer suas necessidades; V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, 
difamação ou injúria.”
2 Neste sentido, exemplar a inclusão, pela Lei Maria da Penha, do parágrafo 9º no art. 129 do Código 
Penal, que trata da lesão corporal: “se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge 
ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)”. Além disso as 
inclusões do inciso IV no art. 313 e da alínea f no inciso II do art. 61, ambos do Código Penal.
3 Suely de Almeida utiliza a expressão em seu livro Femicídio (1997). 
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(d) Exclusão dos atos de violência doméstica do rol dos crimes conside-
rados de menor potencial ofensivo. Até o advento da Lei Maria da Penha, os 
crimes de lesão corporal de natureza leve e de ameaça, os mais recorrentes nos 
casos de violência doméstica (como será demonstrado), por força da categori-
zação realizada pela Lei 9.099/95, eram enquadrados no conceito de infração de 
menor potencial ofensivo. A Lei 9.099/95, conhecida como Lei dos Juizados Espe-
ciais, regulamentou comando constitucional (art. 98, inciso I, Constituição) que 
determinava a criação de varas especiais para processamento e julgamento célere 
de demandas de menor gravidade, no âmbito civil e penal. No que tange à juris-
dição criminal, seguindo a linha despenalizadora, a referida Lei criou institutos 
diversificacionistas que possibilitam ao autor do fato submeter-se a determina-
das condições para não responder ao processo penal – os institutos criados são a 
composição civil, a transação penal e, para delitos de ‘médio potencial ofensivo’, 
a suspensão condicional do processo. Neste sentido, fato que foi muito criticado 
pelo movimento feminista, o agressor poderia aceitar a transação penal – como 
instituto despenalizador é voltado para o acusado, constituindo-se direito pú-
blico subjetivo – e, durante período determinado pelo juiz, cumprir determina-
das exigências como, p. ex., comunicar ausência da Comarca por mais de 30 dias, 
comunicar mudança de residência, indenizar a vítima ou realizar prestações ou 
serviços comunitários. Ao fim do período, se cumpridos os requisitos, é operada 
a extinção da punibilidade. A Lei Maria da Penha proibiu expressamente a inci-
dência da Lei 9.099/95 nos casos de violência doméstica4, sobretudo em face da 
crítica feminista à universalização da aplicação de prestações comunitárias (con-
tribuições financeiras à entidades filantrópicas, conhecidas vulgarmente como 
“penas de cestas básicas”) como resposta judicial às violências praticadas contra 
mulheres. Situação que foi projetada igualmente para as modalidades de sanção 
previstas na Lei5. Ademais, diferentemente do que acontecia na vigência da Lei 
9.099/95, houve a limitação das possibilidade de renúncia à representação nos 
crimes de lesão corporal de natureza leve6. Outrossim, a não-incidência da Lei 
dos Juizados Especiais Criminais operou importante mudança nos códigos de 
interpretação, pois, para além das questões simbólicas, a exclusão da adjetiva-
ção da violência doméstica como infração de menor potencial ofensivo permitiu 
compreender estas formas de agressão como penalmente relevantes. 
4 “Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da 
pena prevista, não se aplica a Lei no. 9.099, de 26 de setembro de 1995.”
5 “Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta 
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado 
de multa.”
6 “Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será 
admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, 
antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.”
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(e) Previsão de a companheira ser processada nos casos de relações ho-
moeróticas.A Lei Maria da Penha, ao estabelecer os critérios gerais para definir 
as espécies diversas de violência doméstica e familiar contra mulheres, incluiu a 
possibilidade de processamento da mulher que, no âmbito das relações homoe-
róticas, agride sua parceira. Segundo o parágrafo único do art. 5º, “as relações pes-
soais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.” O estatuto incorpora 
as constatatações alcançadas pelos estudos feministas de que as relações homos-
sexuais entre mulheres igualmente podem ser violentas e que esta situação de 
violência, mesmo entre mulheres, reproduz a mesma lógica dessaa violência de 
gênero, circunstância que legitima a intervenção protetiva. 
(f) Inovação nas medidas cautelares de proteção. Inegavelmente a previ-
são de várias medidas autônomas de proteção trazidas pela Lei 11.340/06 cons-
tituem um dos seus aspectos mais inovadores. Diferentemente da lógica do pro-
cesso penal, na qual as prisões provisórias adquirem o papel de medida cautelar 
por excelência para proteção da vítima contra a reiteração delitiva, a Lei Maria 
da Penha ofereceu uma série de possibilidades para além da prisão cautelar – 
embora a prisão preventiva seja mantida como possibilidade. Neste sentido, a 
Lei criou duas espécies de medidas, voltadas à ofendida e ao agressor. Dentre 
as medidas protetivas de urgência que obrigam o agressor, o art. 22 prevê (a) a 
suspensão da posse ou restrição do porte de armas, (b) o afastamento do lar, do-
micílio ou local de convivência com a ofendida; (c) proibição de aproximação da 
ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de dis-
tância entre estes e o agressor; (d) proibição de contato com a ofendida, seus fa-
miliares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; (e) proibição de fre-
quentar lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; 
(f) restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores; (g) prestação de 
alimentos provisionais ou provisórios. Em relação às medidas voltadas à mu-
lher, o art. 23 estabelece a possibilidade de (a) encaminhamento da ofendida e 
dos seus dependentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de aten-
dimento; (b) recondução da ofendida e a de seus dependentes ao domicílio, após 
afastamento do agressor; (c) afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos 
direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; (d) separação de corpos. 
Conforme indicam as pesquisas, as medidas de proteção são os procedimentos 
mais solicitados pelas mulheres, demonstrando o acerto legal de sua previsão. 
(g) Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar com compe-
tência civil e penal. A previsão de Juizado Especial com competência para pro-
cessar e julgar as matérias cíveis e penais que envolvam violência doméstica é, 
inegavelmente, no campo jurídico uma das maiores inovações da Lei 1.340/06. 
A demanda surgiu a partir de problemas concretos enfrentados pelas mulhe-
res, que percorriam vários caminhos e inúmeras esferas burocráticas para tentar 
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resolver problemas decorrentes de uma única situação geradora: a violência do-
méstica. Se a situação de violência é que deflagra a demanda jurídica, o movi-
mento de mulheres entendeu como inconcebível a fragmentação na prestação 
jurisdicional, com a construção de uma trajetória no âmbito criminal (a partir do 
registro da ocorrência na Delegacia de Polícia e, posteriormente, a processuali-
zação nas Varas Criminais) e outra no âmbito civil (processo nas Varas de Famí-
lia). A propósito, importante perceber que mesmo quando havia a incidência da 
Lei 9.099/95 nos problemas de violência doméstica e familiar contra mulheres, a 
previsão da composição civil não abrangia a possibilidade de definição de ques-
tões entendidas como extrapenais, como a separação judicial, guarda dos filhos, 
alimentos entre outras. Com a Lei Maria da Penha, a violência contra mulheres 
passa a ser tratada como um problema complexo, originado em uma relação 
afetiva marcada pela desigualdade de gênero, cuja complexidade o direito deve 
responder de forma minimamente satisfatória. Desde o ponto de vista do movi-
mento de mulheres, era injustificável cindir artificialmente a situação, como se 
as questões de família e criminais fossem instâncias distintas da relação afetiva 
que as originou. Logicamente a racionalidade jurídica, através dos detentores 
dos discursos autorizados (doutrina e jurisprudência), refutou (e ainda refuta) 
radicalmente esta aproximação do problema em uma única esfera jurisdicional, 
visto ser inconcebível para dogmática ortodoxa a superação das fronteiras da ju-
risdição civil e criminal. A grande questão, porém, é que o movimento feminista, 
a partir da Lei Maria da Penha, realizou um choque de realidade no campo jurí-
dico, impondo que as formas e os conteúdos do direito tenham correspondência 
com a realidade dos problemas sofridos pelas mulheres. Contrariramente à tra-
dição do pensamento jurídico, a partir da reforma legal, é o sistema jurídico que 
necessita se adequar à realidade e não o contrário. Especificamente em relação 
à violência contra mulheres, a possibilidade de que, na mesma esfera jurisdicio-
nal, de forma concentrada e com economia de atos, possam ser resolvidas ques-
tões penais e de família representa importante inovação e, em termos pragmáti-
cos, significa efetividade dos direitos. 
De todas as inovações trazidas pela Lei 11.340/06, os pontos centrais de 
enfrentamento entre a Criminologia Crítica, em seu viés minimalista, e a Cri-
minologia Feminista foram as alterações nos tipos penais incriminadores (au-
mento de penas) e nas circunstâncias de aumento das sanções (agravantes) e a 
obstrução dos institutos diversificacionistas (composição civil, transação penal 
e suspensão condicional do processo). Essas reformas específicas provocaram 
diversas reações dos criminólogos críticos, para além das críticas explicitadas 
decorrentes do pensamento jurídico conservador.
Dentre os argumentos mais comuns, o de que ao se propor aumento de 
penas e ao se obstruirem medidas diversificadoras, estar-se-ia consolidando uma 
visão punitivista da administração da justiça que se aproximaria dos movimentos 
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político-criminais maximalistas, notadamente à esquerda punitiva (KARAM, 
2001: 11-15) ou das teses retributivas (BATISTA, 2007), fato que, em consequên-
cia, converteria os grupos feministas em empresários morais atípicos (SCHEE-
RER, 1986). 
No entanto três questões merecem reflexão. A primeira é a de que os atos 
de violência contra as mulheres, em sua maioria, podem ser traduzidos no que 
o direito penal e a criminologia caracterizam como criminalidade tradicional, ou 
seja, tais condutas implicam danos concretos, praticados por e contra ‘pessoas 
de carne e osso’7, em que são afetados bens jurídicos tangíveis, palpáveis, como 
vida, integridade física e liberdade sexual. Encontram-se, pois, no rol daque-
las condutas que as políticas criminais alternativas – derivadas da criminolo-
gia crítica e atualmente identificadas como direito penal mínimo ou garantismo 
– entendem como lícita a criminalização. Conforme destaca Larrauri, são “bienes 
jurídicos tradicionales del derecho penal mínimo” (LARRAURI, 2007: 58) e, diferen-
temente do que é projetado atualmente como política criminal punitivista, não 
inovam ampliando as hipóteses de criminalização – com a criminalização da 
mera desobediência, com a antecipação da pena aos atos preparatórios, com a 
criminalização de condutas que violam bens jurídicos abstratos, p. ex. A con-
clusão, portanto, é a de que a mera especificação da violência de gênero para 
hipóteses de condutas criminalizadas já existentes não produz o aumento da 
repressão penal,sendo compatível inclusive, conforme explicitado, com pautas 
político-criminais minimalistas.
No plano processual, não se pode esquecer que a Lei Maria da Penha in-
viabilizou inúmeros mecanismos diversificacionistas como a composição civil, a 
transação penal e a suspensão condicional do processo. Neste aspecto, é inegável 
que, no plano da criminalização secundária, há maior incidência do sistema for-
mal de controle social. Todavia, embora se tenha ciência de constituir o processo 
penal uma pena em si mesmo, reitera-se a ideia de que a Lei 10.340/06 impõe a 
criação de um sistema processual autônomo que não pode ser interpretado den-
tro das categorias ortodoxas da dogmática jurídica, ou seja, não pode ser qualifi-
cado exclusivamente como ‘penal’ ou ‘civil’. Trata-se, conforme destacado, de um 
novo modelo que tende a superar esta lógica binária, inclusive porque os temas 
abordados transcendem os problemas tradicionais das jurisdições penal ou civil.
A segunda questão relevante, superando o debate normativo sobre a justifica-
ção própria do direito penal e ingressando no campo empírico da criminologia, é a 
de que o número de prisões efetivamente realizadas em decorrência da Lei Maria 
da Penha não permite afirmar que o estatuto colabore com o aprisionamento mas-
sivo, de modo a não caracterizar faticamente a visão punitivista ‘oraculada’.
7 Neste sentido, sustenta Ferrajoli que o “principio de lesividad permite considerar ‘bienes’ sólo a aquellos 
cuya lesión se concreta en un ataque lesivo a otras personas de carne y hueso” (FERRAJOLI, 1995: 478). 
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A terceira questão diz respeito à efetividade da Lei Maria da Penha em di-
minuir as violências contra as mulheres e os eventuais custos da restrição dos 
direitos dos acusados em optar por mecanismos processuais diversificacionistas 
(composição civil, transação penal ou suspensão condicional do processo). Frise-
-se, contudo, que não existem dados que permitam afirmar que o afastamento 
desses institutos contribua para o aumento da aplicação da pena de prisão, so-
bretudo em razão de a Lei não proibir sua conversão em pena restritiva de di-
reitos. O debate está diretamente relacionado ao problema central desse artigo, 
expresso na tensão entre o excessivo encarceramento decorrente do punitivismo 
denunciado pela Criminologia Crítica e o alto índice de violência contra as mu-
lheres exposto pela Criminologia Feminista.
3. Criminologia Crítica e Criminologia Feminista: 
Perspectivas de Vanguarda nas Ciências Criminais
Como é possível perceber, a Lei Maria da Penha representou o momento 
ótimo da consolidação das lutas do movimento feminista no Brasil. A Lei consa-
gra a longa caminhada do movimento feminista para dar visibilidade aos pro-
blemas de violência doméstica e criar mecanimos legais e institucionais para 
conter as agressões contra mulheres. Com a Lei 11.340/06, as demandas do mo-
vimento feminista são inseridas no centro das políticas públicas brasileiras. 
No entanto, se a Lei 11.340/06 efetivamente merece ser festejada como a 
grande conquista do movimento feminista, como instrumento de positivação 
dos direitos das mulheres, no plano político-criminal tem produzido forte tensão 
entre duas perspectivas criminológicas de vanguarda: a criminologia feminista 
e a criminologia crítica. Ambas as perspectivas criminológicas (criminologia fe-
minista e criminologia crítica) se estruturam originalmente como discursos de 
denúncia e se consolidam posteriormente como perspectivas político-criminais. 
A criminologia crítica, após o criminological turn operado pelo paradigma 
do etiquetamento, possibilitou que o foco de análise criminológico fosse am-
pliado da visão atomizada no criminoso, próprio da (micro)criminologia etio-
lógica, para os mecanismos institucionais que definem os processos de crimina-
lização. Com a crítica criminológica, o próprio sistema de punitividade passa a 
ser o objeto de investigação, sobretudo os mecanismos seletivos de definição das 
condutas puníveis (criminalização primária), os critérios desiguais de incidência 
das agências de controle sobre as populações vulneráveis (criminalização secun-
dária) e os instrumentos perversos que transformam a execução das penas em 
fontes de reprodução de estigmas. A partir do diagnóstico da seletividade intrín-
seca ao sistema penal, as distintas correntes que se identificam sob o rótulo cri-
minologia crítica projetaram inúmeras ações no campo político, em sua grande 
maioria voltadas à constrição das hipóteses de criminalização e superação da 
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forma carcerária de penas. As tendências críticas apresentaram, ao longo das 
décadas de 80 e 90, uma série de propostas político-criminais (políticas criminais 
alternativas) que abrange desde a reforma e a humanização dos sistemas penais 
à sua abolição. Dentre as principais, destacam-se as correntes minimalistas (rea-
lismo de esquerda, realismo marginal e garantismo penal) e abolicionistas. 
A criminologia feminista, porta-voz do movimento feminista no campo de 
investigação sobre o sistema penal, permitiu ao ‘malestream’ criminológico com-
preender a lógica androcêntrica que define o funcionamento das estruturas de 
controle punitivo. Ao trazer a perspectiva das mulheres para o centro dos estu-
dos criminológicos, a criminologia feminista denunciou as violências produzi-
das pela forma mentis masculina de interpretação e aplicação do direito penal. O 
sistema penal centrado no ‘homem’ (androcêntrico) invariavelmente produziu o 
que a criminologia feminista identificou como dupla violência contra a mulher. 
Em um primeiro momento, invisibiliza ou subvaloriza as violências de gênero, 
ou seja, as violências decorrentes normalmente das relações afetivo-familiares e 
que ocorrem no ambiente doméstico, como são a grande parte dos casos de ho-
micídios, lesões corporais, ameaças, injúrias, estupros, sequestros e cárceres pri-
vados nos quais as mulheres são vítimas. No segundo momento, quando a mu-
lher é sujeito ativo do delito, a criminologia feminista evidenciou o conjunto de 
metarregras que produzem o aumento da punição ou o agravamento das formas 
de execução das penas exclusivamente em decorrência da condição de gênero. 
Elena Larrauri percebeu de forma muito perspicaz esta dupla violência pu-
nitiva contra as mulheres, seja no papel de vítima ou de autora da violência, em 
todos os âmbitos de incidência do controle penal punitivo: na elaboração das 
normas penais pelo Legislativo, na aplicação do direito pelos Tribunais e na exe-
cução das sanções pelo Executivo (LARRAURI, 1996: 13-26).
Os estudos que possibilitaram à criminologia crítica identificar a seletivi-
dade do sistema penal foram realizados pela Escola de Chicago, notadamente 
Sutherland em White Collar Criminality. Segundo Sutherland, nas conclusões da 
pesquisa, “the theories of the criminologists that crime is due to poverty or to psycho-
pathic and sociopathic conditions statistically associated with poverty are invalid be-
cause, first, they are derived from samples which are grossly biased with respect to socio-
economic status; second, they do not apply to the white-collar criminals; and third, they 
do not even explain the criminality of the lower class, since the factors are not related to 
a general process characteristic of all criminality”8 (SUTHERLAND, 1940:12).
Assim, a Escola de Chicago altera o olhar tradicional da criminologia e 
insere no campo de investigação os processos que imunizam determinados 
8 “As teorias criminológicas baseadas nas teses de que o crime deriva da pobreza ou de patologias psíquicas as-
sociada à pobreza são inválidas porque, primeiro, são derivadas de amostras manifestamente tendenciosas em 
relação ao nível socioeconômico; segundo, nãose aplicam aos criminosos de colarinho branco; terceiro, não são 
suficientes para explicar a criminalidade das classes inferiroes, pois os fatores apontados não derivam de uma 
característica geral de todo o processo de criminalização” (SUTHERLAND, 1940:12, tradução livre).
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
153
segmentos sociais da incidência das agências punitivas. Trata-se de mudança de 
perspectiva que abdica de olhar a criminalidade e concentra-se na criminalização. 
Lola Anyar de Castro, parafraseando o clássico da literatura marxista, sintetiza 
esta mudança de paradigma ao referir que “a grande miséria da Criminologia [po-
sitivista] é de ter sido somente uma Criminologia da miséria.” (CASTRO, 1983: 75).
Sutherland nomina, portanto, uma espécie de criminalidade que era invi-
sibilizada pelos mecanismos formais e informais de seletividade penal: a cri-
minalidade dos poderosos. A partir dos seus estudos, o fenômeno crime passa 
a ser compartilhado por todos os atores sociais que habitam o espaço público, 
independentemente de sua posição social.
A questão é que se os estudos da Escola de Chicago definiram uma nova 
forma de olhar o problema criminal, operando verdadeiro giro criminológico, 
as pesquisas da criminologia feminista no mínimo causam impacto similar. Se 
Sutherland irá universalizar o crime para todos os atores do espaço público, 
o pensamento feminista demonstrará que existem formas cruéis de violências 
no espaço privado. Diferentemente do que a tradição do pensamento patriarcal 
demonstra, no âmbito da vida privada e familiar as pessoas não se encontram 
em plena segurança. Pelo contrário, é na vida doméstica que formas brutais de 
violência são perpetradas e perpetuadas. 
As consequências dos saberes críticos e feministas são para o pensamento 
criminológico arrasadoras e irreversíveis. No entanto é possível dizer que no 
plano epistemológico são saberes complementares na desconstrução da raciona-
lidade etiológica que fundamenta a criminologia ortodoxa e na ampliação dos 
horizontes de investigação (objeto) e das formas de abordagem (método). Os 
conflitos entre os modelos criminológicos ocorrerão, porém, no plano político-
-criminal, com a tensão entre os distintos projetos que orientam as agendas crí-
ticas e feministas. Projetos que podem ser identificados na constante resistência 
da criminologia crítica aos processos de criminalização e amplicação dos níveis 
de punitividade social (punitivismo) e na incessante luta da criminologia femi-
nista para redução dos altos índices de violência contra a mulher.
A pergunta cuja resposta permitiria harmonizar crítica e feminismo igual-
mente no plano político-criminal seria: é possível estabelecer pautas de ação que 
viabilizem a redução das violências privadas contra as mulheres e das violências 
público-institucionais contra as populações vulneráveis (femininas e masculinas)?
Antes de enfrentar a questão teórica é importante visualizar a concretude 
dos problemas das violências no Brasil.
4. O Problema da Criminologia Crítica no Brasil: 
O Grande Encarceramento em Números
Carmen Hein de Campos e Salo de Carvalho 
154
A atividade legislativa no Brasil, após a promulgação da Constituição de 
1989, ampliou as hipóteses de criminalização (primária) e enrijeceu o modo de 
execução das penas, ou seja, paralelamente à criação de inúmeros novos tipos 
penais houve substancial alteração na modalidade de cumprimento das sanções. 
O resultado desta experiência político-criminal foi a dilatação do input e o es-
treitamento do output do sistema punitivo, fato que provocou aumento vertigi-
noso nos índices de encarceramento. O exemplo mais significativo da tendência 
punitivista que orientou a política criminal brasileira das últimas décadas foi a 
edição da Lei 8.072/90, a qual aumentou as penas dos delitos classificados como 
hediondos e, no que diz respeito à execução penal, estabeleceu vedação da pro-
gressão de regime9, aumento de prazo para livramento condicional e obstrução 
de comutação e de indulto aos crimes nela dispostos.
Não obstante a ampliação das hipóteses de aplicação e da execução das 
penas privativas de liberdade, em matéria processual penal as alterações no 
Código fomentaram o alargamento da criminalização secundária. Assim, não 
apenas as possibilidades de prisão cautelar foram (re)estruturadas – v.g. prisão 
temporária (Lei 7.960/89) e novas espécies de inafiançabilidade e vedação de li-
berdade provisória (Leis 7.716/89, 8.072/90, 9.034/95 e Lei 9.455/97) –, como foi 
criada modalidade de execução de pena sem o trânsito em julgado de sentença 
condenatória (Lei 8.038/90), denominada execução penal antecipada.10
Nota-se, portanto, que a política legislativa contribuiu significativamente 
para o incremento dos índices de encarceramento, cujos resultados podem ser 
sintetizados da seguinte forma: (a) criação de novos tipos penais a partir do 
novo rol de bens jurídicos expressos na Constituição (campo penal); (b) am-
pliação da quantidade de pena privativa de liberdade em inúmeros e distintos 
9 A obstaculização do processo de desinstitucionalização progressiva da pena estabelecida pela Lei 
dos Crimes Hediondos foi uma das principais causas do aumento da taxa de encarceramento no 
país. Não obstante algumas decisões monocráticas isoladas que reputavam junto com a doutrina 
como inconstitucional a Lei 8.072/90, sobretudo a partir da edição da Lei 9.455/97 (Lei dos Crimes de 
Tortura), o Supremo Tribunal Federal (STF), com o intuito de pacificar a matéria, emitiu a Súmula 
698 – “não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão de regime de execução da 
pena aplicada ao crime de tortura.” No entanto, mesmo após a publicação da Súmula 698, a 1ª Turma do 
STF decidiu em dois Habeas Corpus (HC 87.623 e HC 87.452), à unanimidade, afastar a proibição da 
progressão de regime em casos de extorsão mediante sequestro (art. 159, § 1º CP) e de tráfico ilícito 
de entorpecentes (art. 12 c/c art. 18, III da Lei 6.368/76), respectivamente. Com o julgamento do HC 
82.959 pelo Pleno, por maioria de votos o STF entendeu, após 16 anos de vigência, pela inconstitucio-
nalidade do § 1º do art. 2º da Lei dos Crimes Hediondos (STF, Tribunal Pleno, Habeas Corpus 82.959/
SP, Rel. Min. Marco Aurélio de Mello, j 23.02.06).
10 O Superior Tribunal de Justiça, em 2005, revisou a posição que admitia cumprimento de pena sem 
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória — execução penal antecipada (STJ, 6ª Turma, 
Habeas Corpus 25.310, Rel. Min. Paulo Medina, DOU 02.02.05). Até a revisão do posicionamento, 
os Tribunais entendiam que a interposição de Recursos Federais (Especial e Extraordinário) contra 
acórdão condenatório não suspendia os efeitos da decisão, conforme disciplina o art. 27, § 2º, da Lei 
8.038/90. O Entendimento havia sido pacificado na Súmula 267 do STJ (“a interposição de recurso, sem 
efeito suspensivo, contra decisão condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão”).
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
155
delitos (campo penal); (c) sumarização do procedimento penal, com o alarga-
mento das hipóteses de prisão cautelar (prisão preventiva e temporária) e di-
minuição das possibilidades de fiança (campo processual penal); (d) criação de 
modalidade de execução penal antecipada, prescindindo o trânsito em julgado 
da sentença condenatória (campo processual e da execução penal); (e) enrijeci-
mento da qualidade do cumprimento da pena, com a ampliação dos prazos para 
progressão e livramento condicional (campo da execução penal; (f) limitação 
das possibilidades de extinção da punibilidade com a exasperação dos critérios 
para indulto, graça, anistia e comutação (campo da execução penal); (g) am-
pliação dos poderes daadministração carcerária para definir o comportamento 
do apenado, cujos reflexos atingem os incidentes de execução penal (v.g. Lei 
10.792/03) (campo penitenciário). 
O diagnóstico normativo possibilita dizer que o Brasil, nas duas últimas dé-
cadas, aderiu ao punitivismo, tendência político-criminal que obstaculiza a con-
solidação da democracia nos países ocidentais, sobretudo nos países da América 
Latina que lograram superar os períodos de Ditaduras civis-militares. 
Desta forma, se até os anos 80 os representantes da criminologia crítica la-
tino-americana, em conjunto com inúmeras correntes da sociedade civil e com 
os movimentos sociais organizados, concentraram esforços para superar a polí-
tica criminal autoritária imposta pelo terrorismo de Estado, após o processo de 
redemocratização enfrentam novo e paradoxal problema: apresentar alternati-
vas ao processo gradual e constante de densificação dos níveis de punitividade. 
A primeira e mais nítida resposta ao punitivismo, entendido neste trabalho 
como sinônimo de altas taxas de encarceramento, seria a tentativa de criar con-
dições para uma reforma geral no quadro legislativo, atingindo todas as fases 
da persecução criminal, da investigação policial à execução da pena, orientada 
pelos princípios de subsidiariedade e de intervenção mínima. 
Todavia, apesar de se entender correta a necessidade de racionalização 
e de ressistematização do quadro geral dos delitos, das sanções, dos proce-
dimentos e da execução (law in books), é igualmente possível afirmar que as 
mudanças devem operar, de igual forma e com intensidade, na cultura dos 
atores jurídicos (law in action). Isto porque ao longo do processo de formação 
do grande encarceramento nas duas últimas décadas, inúmeras hipóteses con-
cretas de estabelecimento de filtros minimizadores da prisionalização foram 
obstaculizadas pelo próprio Poder Judiciário, nitidamente influenciado pela 
racionalidade punitivista11.
11 Em relação ao tema, verificar algumas importantes investigações atuais: Associação dos Magistrados 
Brasileiros (AMB, 2006: 18-20); Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, 2007: 24-41); Instituto 
Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente (2006: 
24/5); Azevedo (2005: 18-78).
Carmen Hein de Campos e Salo de Carvalho 
156
A fusão entre a adoção do populismo punitivo pelo Poder Judiciário e a 
tradição inquisitória da cultura dos atores do sistema punitivo elevou super-
lativamente as taxas de punitividade. Os dados sobre encarceramento são re-
veladores:
Tabela 01: Presos por 100.000 Habitantes no Brasil entre 1994 e 2010
Ano População Presos Presos/100.000 hab.
1994 147.000.000 129.169 87,87
1995 155.822.200 148.760 95,47
1997 157.079.573 170.207 108,36
2000 169.799.170 232.755 137,08
2001 172.385.826 233.859 135,66
2002 174.632.960 239.345 137,06
2003 176.871.437 308.304 174,31
2004 181.581.024 336.358 185,24
2005 184.184.264 361.402 196,22
2006 186.770.562 401.236 214,83
2007 183.965.854 419.551 228,06
2008 189.612.214 451.219 238,10
2009 189.612.214 473.626 247,35
2010/1 191.480.630 494.237 258,11
Fonte: Censos Penitenciários (Ministério da Justiça) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Segundo o informe do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), re-
lativo ao primeiro semestre do ano de 2010, a população carcerária atingia o 
número de 494.237. Com base no índice populacional apontado pelo Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil teria atingido o índice de 
258,11 presos por 100.000 habitantes.
Ao ser analisada a curva do aumento da população carcerária, nota-se que 
a opção político-criminal de recrudescimento dos aparelhos do sistema penal 
tem obtido êxito no incremento do punitivismo. Dados que desde o ponto de 
vista da crítica criminológica tomam dimensões preocupantes.
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
157
Gráfico 1: Presos por 100.000 Habitantes no Brasil entre 1994 e 2010
87,87 95,47
108,36
137,08 135,66 137,06
174,31
185,24
196,22
214,83
228,06
238,1 247,35
258,11
0
50
100
150
200
250
300
1994 1995 1997 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Índice de Encarceramento
Fonte: Censos Penitenciários (Ministério da Justiça) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Na comparação dos índices apresentados pelo Brasil com os dos países 
da Comunidade Europeia, percebe-se que o grau de encarceramento (número 
de presos por 100.000 habitantes) supera em grande medida países como Por-
tugal (109), Espanha (148), França (92), Itália (77), Inglaterra (148) e Alemanha 
(92), aproximando-se de países do Leste como Azerbaijão (211,9), Lituânia (239), 
Moldávia (227) e Polônia (230). Os países mencionados são ultrapassados ape-
nas pela Estônia (322), Georgia (302), Ucrânia (332) e, notoriamente, pela Rús-
sia (613), país com a maior densidade populacional encarcerada do continente 
(ICPS, 2010). 
Em relação aos países da América do Sul, o Brasil é superado em número 
de presos por 100.000 habitantes pela Guiana Francesa (365), Suriname (356), 
Chile (297) e Guiana (260). Todos os demais países do continente apresentam 
níveis de encarceramento inferiores aos dos brasileiros: Argentina (140), Bolívia 
(80), Colômbia (135), Equador (134), Paraguai (95), Peru (141), Uruguai (202) e 
Venezuela (79) – dados relativos ao biênio 2006-2008 (ICPS, 2010). 
Os Estados Unidos, segundo dados de 2007 apresentados pelo Federal Bu-
reau of Prisons, permanecem com a maior taxa de encarceramento mundial (758), 
atingindo o número absoluto entre presos provisórios e definitivos de 2.298.041 
encarcerados ICPS, 2010; BUREAU OF JUSTICE ESTATISTICS, 2007: 04). 
Ademais do acréscimo constante das taxas de prisionalização, nota-se que a 
maior parte do encarceramento masculino nacional decorre de prática de delitos 
patrimoniais, ou seja, refletem o caráter econômico da política de exclusão so-
cial. Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), 16,8% 
dos presos no Brasil resultam de imputações de crimes patrimoniais não-vio-
lentos como furto, estelionato e receptação; 24,46% decorrem de crimes patri-
moniais praticados com violência ou grave ameaça, fundamentalmente roubo; 
dos quais 12,88% seriam decorrentes de crimes contra a vida e 3,68% por crimes 
sexuais. Note-se que 15,73% da população encarcerada masculina é fruto de en-
volvimento com tráfico de drogas (DEPEN, 2010). 
O contingente de mulheres presas, embora infinitamente menor que o mas-
culino, tem crescido proporcionalmente com maior força na última década. E 
o que chama atenção é a grande quantidade de presas por envolvimento com 
comércio de drogas ilegais (48,31%). Em relação aos crimes patrimoniais não-
-violentos, a proporção de mulheres presas é de 11,3%, crimes patrimoniais 
praticados com violência ou grave ameaça 10,96% e crimes contra a vida 7,33% 
(DEPEN, 2010).
Carmen Hein de Campos e Salo de Carvalho 
158
Frente a esta realidade, um dos principais problemas colocados pela cri-
minologia crítica brasileira nas últimas décadas é o da possibilidade de gerar 
condições políticas e sociais para a diminuição dos índices de punitividade e, 
paralelamente, diminuir as distorções em matéria de seletividade da população 
masculina e feminina vulnerável. 
5. O problema da criminologia feminista no Brasil: 
a violência contra as mulheres em números
Apesar de existirem inúmeros centros de apoio à mulher vítima de vio-
lência no Brasil (serviços públicos, privados e instituições do terceiro setor), os 
dados quantitativos, principalmente sobre violência doméstica, ainda carecem 
de maior sistematização – para além, logicamente, do sério problema que é o 
alto índice de invisibilidade(cifra oculta) desta forma peculiar de delito. Em 
razão de os números levantados pelas instituições de defesa dos direitos das 
mulheres serem normalmente circunscritos ao levantamento regional de Esta-
dos ou Municípios, os dados quantitativos de maior consistência estão vincu-
lados à sistematização realizada pela Ouvidoria da Secretaria Especial de Po-
líticas para as Mulheres, notadamente em relação aos atendimentos prestados 
pela Rede de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, instrumentalizada pela 
Central de Atendimento à Mulher. Entende-se, para uma das finalidades que este 
artigo se propõe (mapear em números os problemas principais enfrentados pela 
Criminologia Crítica e Criminologia Feminista), que os dados oficiais registra-
dos pela Secretaria de Políticas para as Mulheres fornecem uma dimensão geral e 
confiável do quadro das violências contra a mulher no Brasil.
A Central de Atendimento à Mulher é um serviço de utilidade pública em âm-
bito nacional destinado a atender gratuitamente mulheres em situação de vio-
lência. O serviço foi implantado em caráter experimental em novembro de 2005, 
a partir de acordo entre a Secretaria de Políticas para as Mulheres e o Ministério 
da Saúde, objetivando criar canal de comunicação constante e ininterrupto com 
as mulheres em situação de violência. Após a experiência e a efetivação do ser-
viço, foi oficialmente incorporado às políticas públicas do Governo Federal com 
a publicação do Decreto Presidencial 7.393/10.
Embora o principal serviço prestado seja o de orientação e de encaminha-
mento através de linha telefônica (Ligue 180), a Central de Atendimento tam-
bém pode ser acessada através de e-mail, carta, fac-símile ou pessoalmente. A 
principal preocupação da Secretaria foi criar mecanismo ágil de acesso à infor-
mação e para denúncia de violências contra a mulher, em horário integral e sem 
interrupções (24h/dia, sete dias por semana). 
Nota-se que o serviço preencheu importante lacuna porque, segundo dados 
da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), entre abril de 2006 e dezembro 
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
159
de 2010, a Central de Atendimento à Mulher prestou 1.658.294 atendimentos (SPM, 
2010: 05). Comparando os números desde a criação do sistema em 2005 até de-
zembro de 2009, houve aumento de 1.890% de denúncias no período. De igual 
forma, a Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres, a partir de 2003, 
passou a receber denúncias diretamente, sendo registrados 2.551 casos. Impor-
tante referir que o registro numérico contabilizado é aquele realizado na primeira 
demanda, embora seja comum sua reiteração ou o seu acompanhamento12. 
Conforme frisado anteriormente, tem-se ciência de que os dados não rela-
tam com precisão o número de violências praticadas contra mulheres no Brasil, 
inclusive porque é notório na literatura especializada o alto número de casos 
não-registrados (cifra oculta). Todavia os números permitem dimensionar a gra-
vidade do problema e projetar políticas de prevenção e repressão.
Neste sentido, a criação dos referidos mecanismos de acesso à informação e 
à denúncia, com investimentos em tecnologia e com capacitação de pessoal para 
atendimento e acolhimento de vítimas da violência doméstica, efetivamente in-
centiva a criação de uma cultura de visibilidade das violências praticadas contra 
mulheres. Fatos que, inclusive, explicam o constante aumento no número de 
casos registrados pela Secretaria especializada. Assim, a criação e ratificação de 
instrumentos normativos, como a Lei Maria da Penha e o Pacto Nacional pelo 
Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, contribuem 
muito para ampliar a visibilidade e construção de uma nova linguagem para o 
enfrentamento da violência contra mulheres. 
Neste sentido, os dados de registro de violência contra a mulher tabulados 
pela Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres podem ser apresen-
tados da seguinte forma.
Tabela 02: Registros Total de Atendimentos (2005-2010)
Ano Registros de Violência Contra a Mulher
2006
2007
46.423
2007 204.514
2008 271.212
2009 401.729
12 “Importante ainda ressaltar que muitas pessoas demandam mais de uma vez. Em geral, contabilizamos apenas 
a primeira demanda, pois quem demandou em 2004, por exemplo, ao procurar a Ouvidoria novamente, terá 
seu registro de 2004, que será atualizado no mesmo relatório. Assim, os números trabalhados são referentes à 
quantidade de registros e não ao número total de demandas recebidas. Por este motivo, alguns atendimentos 
chegam a durar meses” (SPM, 2009: 17).
Carmen Hein de Campos e Salo de Carvalho 
160
2010 734.416
Total 1.658.294
Fonte: Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres
Segundo as informações do Relatório de 2009 da Ouvidoria da Secretaria 
de Políticas para as Mulheres, dos 401.729 registros 51,72% ocorreram através 
de e-mail, 22,26% através do link da Ouvidoria no site da Secretaria e 20,46% 
através de telefonema, diretamente ao número dos órgãos da Secretaria que re-
cebem denúncia (1,15%) ou pelo serviço especial ‘Ligue 180’ (19,31%).
Em relação ao tipo de atendimento, do total apresentado em 2009, foram 
registradas 32,09% denúncias (relatos de ocorrência de algum crime contra a 
mulher), 29,5% pedidos de informação ou orientação (demandas de esclareci-
mentos sobre legislação e direitos da mulher, rede de atendimentos, políticas e 
ações da Secretaria entre outras), 18,82% solicitações (pedidos de providências 
ou intervenções da Ouvidoria ou da Secretaria), dentre outros (sugestões, elo-
gios, convites e reclamações) (SPM, 2009: 17). Em 2010, do total de 734.416 regis-
tros, 40,5% foram de denúncias, 17,8% solicitações, 16,5% informações, dentre 
outros (SPM, 2010: 05).
Quanto aos tipos de denúncia das agressões mais frequentemente relatadas, 
embora a tipologia utilizada não corresponda necessariamente à estrutura do tipo 
penal incriminador previsto no Código Penal ou na Legislação Especial e Com-
plementar, a Secretaria de Políticas para as Mulheres classifica as violências da 
seguinte forma: ameaça, assédio moral, discriminação, violência doméstica, vio-
lência sexual, tráfico de pessoas, violência física, cárcere privado, violência psicoló-
gica, violação dos direitos humanos das presas, apologia ao crime e perseguição13.
13 “Ameaça: quando alguém promete um mal futuro, injusto e grave que, para se consumar, depende da vontade 
do agente. O crime admite todos os meios de execução (por escrito, oral, gestos, símbolos, etc). A ameaça pode 
se voltar também contra terceira pessoa ou coisa pela qual a vítima tenha afeição (família, etc.)
 Assédio Moral: são todos aqueles atos e comportamentos provindos do patrão, gerente, superior hierárquico 
ou dos colegas, que traduzem uma atitude de contínua e ostensiva perseguição que possa acarretar danos rele-
vantes às condições físicas, psíquicas e morais da vítima.
 Discriminação: toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado 
prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, 
com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos 
político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.
 Violência Doméstica: são as lesões corporais praticadas contra 4 categorias de pessoas: 1) contra parentes 
próximos (ascendentes, descendentes, irmãos); 2) contra cônjuges ou companheiros em união estável; 3) contra 
quem conviva ou tenha convivido com o agente; e 4) contra pessoa que seja hóspede ou coabite com o agente.
 Violência Sexual: violência sexual pode ser definida como qualquer tipo de atividade de natureza erótica ou 
sexual, que desrespeita o direito de escolhade um dos envolvidos. É a penetração genital, oral ou anal, por 
alguma parte do corpo do agressor ou por objeto, utilizando a força e/ou sem o consentimento da vitima.
	 Tráfico	de	Pessoas: consiste em promover, intermediar ou facilitar a entrada no país, ou a saída, de pessoa 
para exercer a prostituição (internacional). O tráfico interno de pessoas visa promover, intermediar ou facilitar 
o transporte, o recrutamento ou o alojamento de pessoa que venha a exercer a prostituição.
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
161
A partir desta categorização das violências contra a mulher, dos 401.729 re-
gistros em 2009, a incidência ocorreu nas seguintes proporções:
Tabela 03: Espécies de Denúncia (2009)
Espécie de Violência Contra a Mulher Percentual
Violência Doméstica (2007) 9,95%
Discriminação 6,47%
Violência Sexual 1,49%
Perseguição 0,5%
Violência Psicológica 1,49%
Cárcere Privado 48,76%
Violação dos Direitos das Presas 1,99%
Ameaça 3,48%
Assédio Moral 3,98%
Apologia ao Crime 2,49
Tráfico de Mulheres 9,95%
Outros 9,45%
Total 100%
Fonte: Ouvidoria da Secretaria de Políticas para as Mulheres
Dos relatos de violência no período apontado (2006-2010), os dados reve-
lam que os agressores são, na sua maioria, os próprios companheiros, fato que 
reforça a tese histórica demonstrada pelo movimento feminista e comprovada 
 Violência Física: é a ofensa à integridade corporal ou à saúde física ou mental do ser humano. A integridade 
corporal diz respeito a alteração física do corpo (amputações, feridas, manchas, inchaços, etc). A ofensa à saúde 
é a debilitação funcional do organismo (doença), seja fisiológica ou mental, podendo incluir também o agrava-
mento de doença já existente.
	 Cárcere	Privado: é o confinamento em um cômodo isolado particular (...). 
	 Violência	Psicológica: é entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da 
auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas 
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, iso-
lamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limita-
ção do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
	 Violação	dos	Direitos	Humanos	das	Presas: violação da dignidade da pessoa humana e o acesso ao pleno 
aos direitos fundamentais, tendo em vista as particularidades da mulher encarcerada.
	 Apologia	ao	Crime: é defender, louvar, elogiar publicamente crime ocorrido ou criminoso.
	 Perseguição: ato de perseguir pessoa de forma ostensiva e contumaz.” (SPM, 2009: 13-14)
Carmen Hein de Campos e Salo de Carvalho 
162
pela criminologia feminista de que a violência contra a mulher é fundamental-
mente violência praticada por pessoas próximas e não por desconhecidos – em-
bora esta seja a imagem deflagrada nas campanhas de pânico moral, sobretudo 
em relação aos crimes sexuais (estupro).
A constatação consolidada nos dados da Secretaria de Políticas para as Mu-
lheres é validada pela mais recente pesquisa da Fundação Perseu Abramo, reali-
zada no período de agosto de 2010, ocasião em que foram ouvidas 2.365 mulhe-
res e 1.181 homens com idade superior a 15 anos, nos 25 Estados da Federação. 
Na pesquisa de opinião pública intitulada Mulheres Brasileiras e Gênero no Espaço 
Público e Privado (2010), que atualiza investigação análoga realizada em 2001, 
constatou-se que no país em média uma em cada cinco mulheres (18%) sofre ou 
sofreu “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido”. 
Os números demonstram a constância das violências, pois na pesquisa de 2001 o 
percentual era praticamente idêntico (19%). Segundo o relatório final, ao serem 
especificadas formas de violências distintas das agressões físicas e sexuais, como 
violência psíquica, o número de mulheres que afirmam ter sido vítimas aumenta 
para duas em cada cinco mulheres (40%). Dentre as violências citadas prepon-
deram formas variadas de controle ou cerceamento (24%), violência psíquica 
ou verbal (23%), restando ameaças e violências físicas propriamente ditas com 
percentual de 24%. 
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo (2010) revela ainda que além do 
alto número de ameaças sofridas, em média 13% das consultadas, uma em cada 
dez (10%) teria sido efetivamente espancada ao menos uma vez na vida (12% na 
pesquisa de 2010 e 11% em 2001). E considerando a última ocasião da ocorrência, 
o contingente de mulheres representado em ambos os levantamentos revela que 
a média de agressões contra as brasileiras permanece altíssimo, a dizer, uma a 
cada 24 segundos ou cinco mulheres agredidas a cada 2 minutos.14 
Dado importante e que permite projetar minimamente as cifras ocultas nos 
casos de violência de gênero são relativos aos recursos utilizados pelas mulheres 
para auxílio após sofrerem violências. Na investigação, as mulheres agredidas 
informam que após as agressões frequentemente pedem auxílio para familia-
res próximos, com destaque para as mães e irmãs. Este procedimento seria o 
utilizado em dois terços dos casos. Em nenhuma das modalidades de violência 
pesquisadas o número de denúncias prestadas à autoridade policial ou judicial 
supera um terço dos casos.
Embora incipiente na tradição das investigações criminológicas brasileiras, 
algumas pesquisas de vitimização realizadas por agências públicas fornecem 
14 Na pesquisa realizada em 2001 o número de mulheres espancadas era de uma a cada 15 segundos 
ou 8 mulheres a cada 2 minutos. Embora a incidência tenha diminuído, as taxas de violência seguem 
extremamente altas.
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
163
importantes elementos de análise. Pesquisa nacional realizada no período de 
08 a 28 de fevereiro de 2011 pelo DataSenado (2011) intitulada Violência Do-
méstica e Familiar Contra a Mulher, entrevistou 1.352 mulheres e concluiu que 
mais de 50% entendiam não ser tratadas com respeito pelos seus maridos ou 
companheiros. O mesmo percentual de entrevistadas (50%) informou conhe-
cer alguma mulher que já havia sofrido algum tipo de violência doméstica e 
familiar, sendo a violência física preponderante em mais de 70% dos casos. É 
contrastante o fato de que cerca de 80% das entrevistadas informarem nunca ter 
sofrido violência doméstica ou familiar, o que sugere a hipótese de que há ver-
gonha em ser reconhecida com uma mulher agredida. Do universo que havia 
sido vítima, 60% dos agressores foram maridos ou companheiros. Em relação 
às denúncias, o medo do agressor seria a principal causa do silêncio (65%) (DA-
TASENADO, 2011).
Nas análises sobre a atuação do sistema Judiciário, o Relatório Anual do Con-
selho Nacional de Justiça (2010), no item sobre a eficácia da Lei Maria da Penha, 
informa dados de vitimização semelhantes aos apresentados anteriormente. 
Segundo o Relatório, em 2010 existiam 43 Juizados de Violência Doméstica e 
Familiar contra a Mulher. Nestes juizados especializados havia em andamento 
328.964 processos, tendo sido proferidas 108.882 decisões judiciais desde a en-
trada em vigência da Lei (CNJ: 2010, 15). No que se refere aos crimes com maior 
incidência, lesões corporais e ameaças são citadas como prevalentes, como de-
monstram os dados das pesquisas anteriormente mencionadas. 
Tabela 04: Dados sobre a Judicialização 
da Violência Doméstica no Brasil (2010)
Juizados Especializados de 
Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher
43
Processos em Andamento nos 
Juizados
328.964
Carmen Hein de Campos e Salo de Carvalho 
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Crimes (ou Contravenções) 
com Maior Incidência
Lesão Corporal
Ameaça
Dano
Crimes contraa Honra: Injúria e 
Difamação
Invasão a domicílio
Desobediência
Atentado violento ao pudor
Estupro
Contravenções Penais: Vias de Fato e 
Perturbação do Sossego
Sentenças Proferidas 108.882
Prisões Decretadas 11.659
Medidas Protetivas Deferidas 96.098
Processos em Tramitação 216.011
Estados com maior quantidade 
de processos
Rio de Janeiro
Rio Grande do Sul
Minas Gerais
Fonte: Conselho Nacional de Justiça
Dados sobre a formalização processual dos registros relativos à violência 
doméstica no Estado do Rio Grande do Sul permitem dimensionar a lacuna 
entre comunicação e processualização. O Ministério Público do Rio Grande do 
Sul (MPRS) informa que nas 140 comarcas do Estado, no período de 27/11/2008 
a 31/12/2010, foram cadastrados 36.904 procedimentos referentes à Lei Maria da 
Penha. Dos procedimentos, 14.280 (38,7%) referem ameaças e 9.472 (25,7%) le-
sões corporais contra esposas e companheiras. No período haviam sido solicita-
das 13.966 (37,8%) medidas protetivas, sendo concedidas 10.301 (27,9%). Dentre 
as medidas protetivas deferidas computam-se 16.368 (44,4%) ordens de proibi-
ção de aproximação, 13.678 (37,1%) ordens de proibição de contato e 516 ordens 
de prisões do agressor (1,4%) (MPRS, 2010).
Por fim, registra-se que no Juizado de Violência Doméstica e Familiar da 
cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, tramitam hoje 
mais de 16 mil processos referentes à Lei Maria da Penha. O perfil das vítimas, 
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
165
como na grande maioria dos casos nacionais, é predominantemente constituído 
por mulheres pobres e socialmente vulneráveis15. 
Os números apresentados pelas distintas pesquisas revelam paradoxo de 
difícil resolução, pois ao mesmo tempo em que há uma crescente judicialização 
na busca da democracia nas relações de gênero no âmbito doméstico e familiar, 
é notório o alto índice de invisibilidade da violência doméstica (cifras ocultas), 
fato decorrente em grande medida pelo temor das vítimas em relação ao agres-
sor. Paralelamente, o sistema de justiça recebe número de denúncias que dificil-
mente tem capacidade de processar. Esta tensão entre crescente demanda, cifra 
oculta e incapacidade operativa do sistema em relação à violência contra mulhe-
res parece, igualmente, reforçar o paradoxo entre as perspectivas da Criminolo-
gia Crítica e da Criminologia Feminista.
6. Considerações Finais: As Tensões Entre a Criminologia 
Crítica e a Criminologia Feminista (ou “É Possível ser 
Feminista e Crítico/a ou Crítico e Feminista?”)
Retomamos a pergunta inicial formulada: é possível estabelecer pautas de 
ação que viabilizem a redução das violências ‘privadas’ contra as mulheres e das 
violências público-institucionais contra as populações vulneráveis (femininas e 
masculinas)? Em outros termos, seria possível compatibilizar as pautas político-
-criminais das Criminologias Feminista e Crítica?
Conforme reconhecido pela academia internacional, o feminismo é um dos 
mais importantes movimentos políticos e teóricos das últimas décadas, tendo 
contribuído de forma decisiva para o avanço das humanidades. Outrossim, a 
crítica feminista à criminologia (ortodoxa e crítica) provocou verdadeira “ferida 
narcísica”, pois não apenas deu visibilidade à violência praticada pelos homens 
contra as mulheres, mas apresentou as metarregras sexistas que orientam a ela-
boração, a aplicação e a execução do direito (penal), bem como expôs a lacuna 
das investigações críticas em relação ao caráter falocêntrico do sistema penal. É 
incompreensível, portanto, que a criminologia tenha ignorado por décadas as 
análises feministas e que tenha se preocupado com esta nova forma de enfren-
tar os problemas do sistema penal apenas quando em questão a necessidade 
de responsabilização dos homens pelas violências contra as mulheres. Isto tudo 
porque não é aceitável – para um modelo de pensamento criminológico que se 
intitule crítico – o tradicional olhar androcêntrico que demonstra complacência 
com os danos provocados às mulheres quando atoras ou vítimas de delitos. A 
criminologia tem-se recusado a ouvir as mulheres, e quando o faz, não apoia 
15 Dados fornecidos diretamente pela Vara de Violência Doméstica, na ocasião do Fórum pelo Fim da 
Violência Doméstica contra Mulheres, Porto Alegre, em 28/01/2011.
Carmen Hein de Campos e Salo de Carvalho 
166
ou valoriza o projeto feminista, mas valoriza e legitima “certas posições dentro do 
feminismo acadêmico, posições que acomodam os interesses pessoais do crítico ou as pre-
ocupações teóricas androcêntricas, ou ambas”. (LAURETIS,1994:232).
Por outro lado, o feminismo criminológico incorporou de maneira signifi-
cativa as contribuições da criminologia crítica, inclusive avançando no debate 
sobre os riscos da utilização do sistema penal por parte das mulheres (SMART, 
1995; GELSTHORPE, 2002; LARRAURI, 2007). 
As análises apresentadas apontariam para algumas impossibilidades de 
superação da tensão em razão de algumas incoerências entre os discursos da 
Criminologia Feminista e da Criminologia Crítica. 
Todavia a perspectiva de elaboração de um sistema absolutamente coe-
rente, sem contradições ou lacunas, pressupõe a adoção de uma forma de pen-
samento que não condiz com o período além-da-modernidade. A vontade de 
sistema (vontade de verdade) é traço característico dos modelos científicos mo-
dernos que se sustentam pela elaboração de grandes narrativas. Modelos em 
crise e que não dão conta da complexidade dos fenômenos contemporâneos.
Perspectivas que questionam a estabilidade no campo da coerência cien-
tífica parecem, portanto, responder de forma mais adequada aos problemas 
prático-teóricos da atualidade. Neste sentido, Sandra Harding (1993) chama a 
atenção para a necessidade de as categorias analíticas feministas permanece-
rem instáveis e incoerentes, pois teorias com pretensão de coerência não apenas 
não são adequadas ao mundo instável e incoerente do Século XXI como criam 
obstáculos intransponíveis ao conhecimento e às práticas sociais. Aderindo ao 
argumento da autora, é possível sustentar que as hipóteses de reinterpretação 
ou subversão da Criminologia – tarefa última que tem sido realizada pela Cri-
minologia Feminista – são opções conceituais que criam dilemas insolúveis ao 
feminismo, motivo pelo qual “em vez da fidelidade ao princípio de que a coerência 
teórica é um fim desejável em si mesmo e a única orientação válida para a ação, podemos 
tomar como padrão a fidelidade aos parâmetros de dissonância entre os pressupostos dos 
discursos patriarcais e dentro de cada um deles” (HARDING, 1993: 13). 
Inevitável, pois, acolher alguns desconfortos intelectuais, políticos e emo-
cionais e “considerar inadequados e mesmo derrotistas determinados tipos de soluções 
luminosas que nos colocamos” (HARDING, 1993: 13). 
Desde esta perspectiva, entendemos que a Lei Maria da Penha pode pro-
porcionar uma importante agenda para a superação e o enfrentamento aberto 
das tensões apresentadas, sobretudo porque sua proposta ultrapassa o campo 
meramente repressivo e os maniqueísmos determinados pela lógica binária das 
jurisdições cíveis ou criminais. Neste aspecto entendemos crucial reforçar a ideia 
de que estamos perante um novo modelo, regido por uma lógica diversa da forma 
mentis misógina que vem regendo o Direito na Modernidade. É uma nova ló-
gica que se fundamenta na realidade vivida pelas pessoas que se envolvem em 
Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira
167
conflitos, para além das coerências e plenitudes dos sistemas que só interessam 
aos que nutrem vontade de sistema.
Assim, ao que tudo indica, ser feminista e crítica/o seria possível apenas 
à medida que formos nos submetendo à complexidade e àfragmentariedade 
da contemporaneidade. Instabilidades que se refletem em desconfortos teóricos 
voluntariamente aceitos e, sobretudo, desejados, e que podem ser resumidos na 
tensão vontade de verdade versus vontade de desconforto. 
O debate proporcionado pela Lei Maria da Penha é uma ótima oportuni-
dade para o exercício dessa capacidade.
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