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Feminicídio no brasil
Jean Rodrigo Da Silva Gomes
RESUMO
O presente estudo busca analisar e compreender o Direito Penal como mecanismo de prevenção e combate a violência pratica contra a mulher. Ao longo da história, a mulher sempre foi inferiorizada, subjugada e tratada como propriedade do homem, em decorrência a essas concepções arcaicas, a construção da mulher na sociedade sempre foi limitada pelo homem. Ao longo foram se permitindo e “naturalizando” condutas violentas praticadas em desfavor da mulher. Nessa ótica surgiu movimentos feminista na busca por direitos e proteção. Por conseguinte, a Constituição da República Federativa de 1988, marco histórico na afirmação de direitos humanos e fundamentais, disciplinou a igualdade de gêneros em seu texto, ficando sua eficácia condicionada a politicas publicas. Frente a crescente violência e em decorrência da pressão por organismos internacionais, adveio a Lei Maria da Penha, mecanismo de combate prevenção à violência contra a mulher. Porém ao longo dos anos não se mostrou eficaz, dessa forma elaborou-se a Lei 13.104/2015, conhecida atualmente como qualificadora do crime de Feminicídio, a qual promoveu alteração no artigo 121, do Código Penal. O direito penal na atual situação representa mecanismo de combate e prevenção ao crime de feminicídio.
Palavras-chave: feminicídio; mulher; violência doméstica; violência familiar.
Abstract
The present study seeks to analyze and understand Criminal Law as a mechanism to prevent and combat violence against women. Throughout history, women have always been inferior, subjugated and treated as the property of men, as a result of these archaic conceptions, the construction of women in society has always been limited by men. Throughout, violent conducts were practiced and “naturalized” against the woman. From this perspective, feminist movements arose in the search for rights and protection. Consequently, the 1988 Constitution of the Federative Republic, a historic landmark in the affirmation of human and fundamental rights, regulated gender equality in its text, its effectiveness being conditioned to public policies. In the face of increasing violence and as a result of pressure from international organizations, the Maria da Penha Law was introduced, a mechanism to prevent violence against women. However, over the years it has not proved effective, thus Law 13,104 / 2015 was drafted, currently known as a qualifier for the crime of Feminicide, which promoted an amendment to Article 121 of the Penal Code. Criminal law in the current situation represents a mechanism for combating and preventing the crime of femicide.
Keywords: feminicide; woman; domestic violence; family violence.
Introdução
O objeto do estudo ora proposto é a análise acerca do Feminicídio, qualificadora introduzida no ordenamento jurídico brasileiro por meio da alteração legislativa promovida pela Lei 13.104/2015, como proteção conferida a mulher vítima de violência. A qualificadora do crime de homicídio ganha evidencia e merece analise em razão do grande aumento das praticas criminosas homicidas em desfavor da mulher, assim surge no direito penal, proteção jurídica a mulher. 
Assim nesta pesquisa será evidenciado os aspectos culturais que a violência contra a mulher possui em nosso contexto histórico, isto em razão do comportamento pregado no período passado. A mulher, ao longo dos anos sofreu com o machismo, a ela foi imposta condições duras, e desumanas, muito se lutou, e luta-se por alcançar parâmetros igualitários entre o gênero masculino. 
As mulheres brasileiras frequentemente são violentadas fisicamente, e estudos apontam que tal violência ocorre com mais habitualidade no regime patriarcal, submetidas assim ao controle do homem. A violência contra a mulher possui é envolta de algumas formas, sendo físicas, psicológicas, sexual, patrimonial e moral. 
Para desenvolver a pesquisa, a metodologia utilizada foi à análise doutrinária, apoiada em manuais de direito penal, de grandes juristas que corroboram com o tema proposto. 
Desta forma o problema que permeia a pesquisa é atuação do código penal como mecanismo de proteção e defesa das mulheres no que concerne à violência de gênero. Será o código penal instrumento a destinar a devida proteção com a inclusão da qualificadora? E este é suficiente a coibir a pratica deste homicídio qualificado? Tendo em vista a proteção jurídica proposta na Lei nº 11.340/06 não ser suficiente a coibir a pratica de homicídio.
 A lei 13.104/2015 promoveu alteração no artigo 121, do Código Penal, inserindo a qualificadora feminicídio ao crime de homicídio. Embora a vida da mulher e de qualquer outro ser humano era tutelada conforme preconiza o artigo em comento, a mulher careceu de maior proteção. Assim, o feminicídio é uma continuidade dessa tutela, conferindo caráter especial, considerando homicídio qualificado e hediondo a conduta de matar a mulher, valendo-se de sua condição de sexo feminino.
Assim no decorrer deste trabalho apoiando-se na doutrina brasileira e nos estudos que se desenvolverá, com intuito de analisar a proteção jurídica conferida pelo código penal, cujo tema ganha evidencia social e jurídica na contemporaneidade. Objetiva demonstra e analisar, se o código penal com a inserção da qualificadora atua no combate a violência contra a mulher. 
Desse modo apontaremos o contexto histórico da violência contra a mulher, os direitos fundamentais os quais possuem correlação direta com os direitos humanos, na defesa de uma sociedade mais justa e na luta pela igualdade de gênero, a figura do feminicídio, o conceito e sua origem, a introdução da lei Maria da Penha no ordenamento jurídico como mecanismo de combate e defesa de direitos, a qualificadora inserida no código penal evidenciando seus desdobramentos.
Medidas protetivas como meio de prevenir a violência doméstica e familiar
Como exposto, para assegurar a integração proteção à mulher, a Lei nº 11.340 de 2006 prevê as chamadas medidas protetivas de urgência, que referenciam medidas a serem adotadas pelo Poder Judiciário contra o agressor ou a favor da mulher caso constatada a prática de violência doméstica, que podem, inclusive, levar à prisão preventiva do agressor, podendo ser requeridas não somente pela mulher, mas também pelo Ministério Público, nos termos da Lei.
As espécies de medidas protetivas segundo a Lei
A Lei Maria da Penha classificou as medidas protetivas duas espécies: aquelas que ‘obrigam o agressor’ e que ‘protegem a ofendida’. As medidas contra o agressor estão previstas no artigo 22 da Lei e sua aplicação não impede a concessão de outras previstas na Lei previstas ou a adoção de outros atos previstos na legislação, podendo o juiz, inclusive requerer auxílio policial para efetivá-las (BRASIL, 2006).
A Lei Maria da Penha prevê, em seu art.22: “I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003” (BRASIL, 2006). A medida pretende resguardar a integridade física e a segurança da mulher vítima de violência por parte de um companheiro que possui porte de arma, mesmo que em razão de sua profissão. Segundo o parágrafo II: “II - Determinar a recondução da ofendida e seus dependentes ao respectivo domicílio após afastamento do agressor” (BRASIL, 2006). 
A medida visa assegurar a segurança física e psicológica da mulher, evitar a destruição de seus bens pessoais pelo agressor e impedir que a vítima viva sob tensão psicológica compartilhando seu domicílio com o agressor. Pelo parágrafo III: “III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor” (BRASIL, 2006). O afastamento é fixado em metros, garantindo à mulher vítima de violência a preservação de seus espaços de convivência. “b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;” (BRASIL, 2006). Esse contato pode prejudicara saúde mental da vítima, afinal, o agressor pode pressionar e ameaçar a vitima e suas testemunhas. Ainda: “c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida” (BRASIL, 2006).
O agressor pode utilizar do fato que a vítima frequentar determinados locais, como um pressuposto para se aproximar dela, a fim de cometer mais atos de violência. Nos termos do parágrafo IV: “IV - Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar”. (BRASIL, 2006). Visa evitar o encontro da vítima com o agressor e a alienação parental. Porém, como atinge o direito dos filhos à convivência familiar, é prevista a manifestação da equipe de atendimento multidisciplinar para mediar essa visita. Por fim, no parágrafo V: “V - Prestação de alimentos provisionais ou provisórios.” (BRASIL, 2006). É importante para impor limites ao poder econômico do agressor, e auxilia a mulher a sustentar seus dependentes, não deixando com que os mesmos passem por abandono material.
Nos artigos 23 e 24, por sua vez, estão previstas as medidas de proteção à mulher ofendida, bem como aos seus bens pessoais ou da sociedade conjugal. Tais medidas protetivas de urgência, retratadas nos arts. 22 a 24, são medidas cautelares diversas da prisão, que almejam proteger a mulher vítima de violência, garantindo sua integridade física e psicológica antes e durante o processo (BRASIL, 2006).
As medidas protetivas de urgência estão dispostas nos arts. 22 a 24 e estão divididas em medidas que obrigam o agressor (art. 22) e aquelas que dizem respeito à ofendida (arts. 23 e 24). Algumas dessas medidas são de natureza civil, outras de penal e outras de ordem administrativa. Importante o esclarecimento sobre a não taxatividade do rol de medidas contidos na lei, pois de acordo com o final dos arts. 22 a 24 o juiz pode determinar a concessão de outras não existentes no texto legal. (VIDAL et al, 2010).
As mulheres também podem ser submetidas a algumas medidas protetivas que tem como objetivo assistir e proteger a vítima de uma nova violência, a partir do encaminhamento à equipe multidisciplinar, inclusão em programas sociais, afastamento do trabalho com manutenção do vínculo trabalhista e acesso prioritário à remoção (SENADO FEDERAL, 2013).
Sobre a (in)efetividade das medidas protetivas
Em que pese a criação da Lei Maria da Penha e a estipulação específica de medidas de proteção à mulher, na prática, a Lei não parece alcançar seu objetivo principal de coibir a violência doméstica. Segundo os dados apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (BRASIL, 2013, p. 11), sendo que, “no primeiro ano vigência efetiva da Lei Maria da Penha, em 2007, as taxas sofreram discreto decréscimo e voltaram a crescer rapidamente em seguida, até o ano de 2010”.
Segundo o CNJ, no ano de 2010 ocorreram aproximadamente 4.465 (quatro mil quatrocentos e sessenta e cinco) homicídios contra as mulheres, bem superior ao índice apurado nos anos 2000, que era de, aproximadamente, 3.743 (três mil setecentos e quarenta e três casos). Sobre as agressões,
os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do MS informam que foram registrados no Brasil, em 2009, 107.572 atendimentos relativos à violência doméstica, sexual e/ou outras violências. Do total de registros de violência no Brasil, 65,4% dos atendimentos foram a mulheres, ou seja, 70.285 casos (BRASIL, 2013, p. 12).
Com base nestes dados, concluiu o CNJ que, mesmo na vigência da Lei Maria da Penha, os casos de violência doméstica permaneceram expressivos, sendo que os índices de agressão e homicídios contra as mulheres permaneceram em alta, apesar de ter havido uma expressiva queda no período subsequente a sua publicação, cenário que foi, ao longos dos anos seguintes, novamente revertido e tendente ao crescimento.
Cerqueira et al (2015, p. 09), menciona também que, apesar de não haver no Brasil nenhuma avaliação quantitativa sobre os efeitos da Lei Maria da Penha ou sua contribuição para a diminuição nos índices de violência doméstica, o estudo de Garcia et al (2013), também apontou, com base na evolução temporal dos homicídios de mulheres no Brasil, que não houve redução nas taxas de mortalidade.
De acordo com Cerqueira et al (2015, p. 33), as críticas acerca da efetividade da Lei Maria da Penha têm fundamento, defendendo que uma das principais questões que envolvem essa ineficiência relaciona-se à regionalização de seus efeitos, ou seja, a Lei não tem eficácia de forma heterogênea em território nacional, vez que
o aumento da probabilidade de condenação depende da institucionalização dos serviços descritos na lei. Portanto, nos locais onde a sociedade e o poder público não se mobilizaram para implantar delegacias de mulheres, juizados especiais, casas de abrigo etc., é razoável imaginar que a crença dos residentes não tenha mudado substancialmente no que se refere ao aumento da probabilidade de punição (CERQUEIRA et al, 2015, p. 33).
A ausência de efeitos práticos de forma uniforme, ou seja, a inaplicabilidade ou ineficácia de medidas protetivas propostas, a falta de implementação de instituições, órgãos, serviços e políticas públicas previstas na Lei contribuíram para este cenário:
No momento em que a LMP foi implementada, em face da grande divulgação sobre a mudança nas chances de punição, é possível que as crenças a priori conferissem alta probabilidade de punição. Com o passar do tempo, tendo em vista que em muitas regiões os serviços previstos pela lei não foram implementados, é razoável imaginar que houvesse uma atualização das crenças dos ofensores em potencial no sentido de uma menor punição. Com isso, é razoável imaginar que o efeito da LMP não tenha se dado de forma homogênea, não apenas do ponto de vista espacial, mas também temporal. (CERQUEIRA et. al, 2013, p. 34).
É possível concluir, ao menos, que a tutela jurídica proposta pela Lei e os instrumentos previstos para sua efetivação - as medidas protetivas - não tem sido capazes de garantir a real proteção à mulher vítima de violência doméstica, considerando que, há anos em vigência, a Lei Maria da Penha não foi capaz de reduzir consideravelmente os índices de violência doméstica praticada contra as mulheres.
Todavia, o que deve ser discutido é se tais medidas realmente são ineficazes pela sua natureza, ou seja, se são ações que não são capazes de contribuir para diminuição do índice de prática da violência doméstica, ainda que adequadamente aplicadas, ou se, em verdade, as medidas protetivas, apesar de potencialmente eficazes, não são adequadamente aplicadas, bem como se existem alternativas que proponham um aprimoramento do sistema jurídico de maneira a torná-las mais efetivas.
Feminicídio
No dia 8 (oito) de março de 2015, foi comemorado o dia internacional da mulher. Oportunamente, no dia seguinte, segunda-feira, 9 (nove) de março, não podendo ser em melhor data, as mulheres brasileiras tiveram outro motivo digno de comemoração. A Presidente da República, Dilma Rousseff, procedeu à sanção da Lei n.º 13.104/2015, instituindo o feminicídio (crime definido, em síntese, como homicídio de mulher por razões de gênero quando envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher). Isto é, a priori, a promulgação da referida lei gera uma situação de maior segurança e proteção às mulheres (OLIVEIRA, 2016).
Esta nova vertente do homicídio decorre do Projeto de Lei do Senado nº 8.305, de 17 de dezembro de 2014, em 9 de março de 2015 foi publicada a Lei nº 13.104, alterando o artigo 121 do Código Penal, criando-se uma modalidade de homicídio qualificado, que passou a ser denominado de “feminicídio”. O referido texto legal promoveu ainda a alteração no artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, que trata dos crimes hediondos, incluindo o feminicídio no seu rol (BRASIL, 2015).
Deste modo o art. 121, do Código Penal passou a ter a seguinte redação:
Art. 121. Matar alguém: Pena- reclusão, de seis a vinte anos.[...] Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: [...] Pena - reclusão, de doze a trinta anos. [...] § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) I - violência doméstica e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.104, de 2015) II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
O feminicídio ocorre, portanto, quando uma mulher é vítima do ápice da violência de gênero, consubstanciada na morte. 
De acordo com Rodrigues (2019), podemos conceituar feminicídio como violência contra mulheres em razão do gênero, causado por alguém que não seja um psicopata ou tenha problemas mentais, mas de um modo que demonstra uma sociedade subjugada onde se estabeleceu ao longo da história esse tipo de relação social.
Por ultimo, mas não menos importante Nucci (2019), revela em sua obra que o feminicídio revela uma busca com o exclusivo objetivo de conferir maior proteção à mulher, em face da nítida opressão enfrentada quando em convívio com alguém do sexo masculino, como regra. Com bem apontado nesta pesquisa, culturalmente, em várias partes do mundo, a mulher é inferiorizada sob diversos prismas.
No cenário brasileiro, verificou-se (e ainda se constata) uma subjugação da mulher no nível cultural, que resvala em costumes e tradições arcaicas. Já abordado, constitucionalmente, todos são iguais perante a lei. Esse comando normativo constitucional, não obsta com satisfação e proteção jurídica a situação em comento, tendo em vista que as mulheres continuam a sofrer dentro de seus lares (principalmente) inúmeras formas de violência física e psicológica. Em decorrência de grandes anseios sociais e políticos, adveio a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) contendo normas explicativas, programáticas e determinadas, com o fito de tutelar, de maneira mais eficiente, a condição do sexo feminino, em particular nos relacionamentos domésticos e familiares (NUCCI, 2019). Para Nucci (2019):
O feminicídio é uma continuidade dessa tutela especial, considerando homicídio qualificado e hediondo a conduta de matar a mulher, valendo-se de sua condição de sexo feminino (vide nota abaixo). Trata-se de uma qualificadora objetiva, pois se liga ao gênero da vítima: ser mulher.
Igualmente, Oliveira (2016) adverte que o feminicídio está inserto como condição qualificadora do crime homicídio, o que eleva tal tipo penal à condição de crime hediondo, segundo dicção do Art. 1º, I, da Lei de Crimes Hediondos (Lei n.º 8072/90), o que impede a concessão graça, indulto, anistia ou fiança ao criminoso, bem como assenta que a progressão de regime do transgressor desta norma dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente12, ou seja, trata-se de tipo penal incriminador deveras gravoso (OLIVEIRA, 2016).
A origem do termo feminicídio foi utilizada pela primeira vez por Diana Russell diante do Primeiro Tribunal sobre Crimes contra as mulheres, realizado em Bruxelas, na Bélgica, em 1976, para cerca de 2.000 mulheres de 40 países. Diana Russel é uma escritora e ativista feminista, nos últimos 25 anos se dedicou ao estudo da violência contra a mulher (RODRIGUES, 2019).
Diana Russel explica que utilizou o termo feminicídio, pois assim como o homicídio, suicídio, genocídio, infanticídio, matricídio, patricídio, o prefixo “fem” quer dizer fêmea e “icide” denota assassinato e por que a questão de gênero não é específica sobre qual gênero seria a vítima de um assassinato por motivo de desigualdade (RUSSEL, 2011).
Assim em contribuição ao termo conceituado inicialmente por Diana, varias outras feministas começaram a utilizar o termo e aos poucos conferindo outras qualidades, mas sempre mantendo seu conceito basilar.
O termo feminicídio, que etimologicamente significa a morte de uma mulher, não seria suficiente para abranger a complexidade dos crimes perpetrados contra as mulheres em virtude de gênero (OLIVEIRA, 2019). Em contribuição ao conceito originário Lagarde, escritora mexicana de suma importância no contexto latino-americano, que indica ser mais correta a utilização do termo feminicídio:
Esta é em sua maior parte uma violência exercida por homens contra mulheres, mas não só por homens, por homens em situação de supremacia social, sexual, jurídica, econômica, política, ideológica e de todo tipo, sobre mulheres em condições de desigualdade, de subordinação, de exploração ou de opressão, e com a particularidade da exclusão (LAGARDE aput OLIVEIRA, 2019, p. 37, tradução nossa).
Para a feminista, o feminicídio não contextualizaria todo o complexo que permeia a violência de gênero, já que se baseava em situações individuais sem menção aos reflexos que a mulher sofria diante do papel discriminatório do Estado. Permanece ainda o conflito sobre a sinonímia entre feminicídio e feminicídio (OLIVEIRA, 2019).
Logo com a introdução legislativa a doutrina vigente apontou a aplicabilidade do feminicídio, como bem se evidenciará o feminicídio não abarca grande conteúdo protecionista, mas inicia-se um movimento de combate com caráter punitivo severo.
Lei 13.104/2015 - Feminicídio como mecanismo de defesa
A Lei Maria da Penha, analisada no tópico acima, previu medidas protetivas para essas mulheres em situação de vulnerabilidade, mas ainda assim com a progressão dos crimes contra a mulher, mostrou-se ineficiente, assim tornou-se necessário criar medidas mais severas, tendo em vista a grande crescente da violência, que em sua maioria, culminava na morte da vítima, ou seja, homicídio.
Deste modo, buscou-se proporcionar uma sociedade mais justa, democrática, sob o prisma da ordem constitucional, fundada na igualdade de gênero. Após grandes anseios sociais, deu se início ao processo de criação da alteração do artigo 121, do código penal vigente, assim, se iniciou o procedimento legiferante, a qual, projeto de lei 8305/2014, objetivava:
Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. (CAMARA DOS DEPUTADOS, 2014).
O projeto se baseia, na necessidade de combater os avanços dos crimes contra a mulher, além de tornar a pena mais branda, e promover ações aptas a afastar essa violência. Como se pode ver até aqui, o homicídio de mulheres é uma realidade mundial e com premissas antigas, amplamente divulgado pelos meios de comunicação, sua crescente no cenário nacional e mundial.
Como medida a reforçar a legislação, a lei 13.104/2015, decorrente do projeto em comento, trouxe significativa alteração para o art. 121, do Código Penal, incluindo o inciso VI em seu bojo, afirmando que o homicídio praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino terá pena de reclusão, de doze a trinta anos. Pormenoriza, em seu § 2o-A, que se consideram razões de condição de sexo feminino (conforme reza o inciso VI) quando o crime envolve: violência doméstica e familiar, assim como menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Adiciona, também, o § 7o, ao Art. 121, do Código Penal, dispondo que a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência e/ou na presença de descendente ou de ascendente da vítima. Outrossim, insta ressaltar que o feminicídio está inserto como condição qualificadora do crime homicídio, o que eleva tal tipo penal à condição de crime hediondo, segundo dicção do Art. 1º, I, da Lei de Crimes Hediondos (Lei n.º 8072/90), o que impede a concessão graça, indulto, anistia ou fiança ao criminoso, bem como assenta que a progressão de regime do transgressor (BRASIL, 2015).
Sob a nova inovação Nucci (2019) comenta que a vida sempre foi tutelada emnosso ordenamento jurídico, na forma do homicídio. Apesar da tutela mencionada, se fez necessário algumas edições ao longo do tempo, de modo a conferir maior proteção a tal direito, e não tão diferente, a mulher ao longo da história careceu de proteção jurídica, em face das diversas formas de opressão enfrentada quando em convívio com alguém do sexo masculino, como regra.
Como exposto nesta pesquisa inicialmente, a mulher sempre foi inferiorizada, subjugada, humilhada, violentada e até mesmo morta, em decorrência de costumes tradições (passadas), ou historicidade familiar a qual pregava a inferioridade e subordinação da mulher ao homem. No Brasil, tal tratamento inferiorizado, desigual e subordinado, é visto comumente nas relações, ainda que pese, constitucionalmente, todos são iguais perante a lei, mas tal “efeito normativo” não foi e nem é suficiente. Embora exista a Lei 11.340/2006, intitulada Maria da Penha, “contendo normas explicativas, programáticas e determinadas, com o fito de tutelar, de maneira mais eficiente, a condição do sexo feminino, em particular nos relacionamentos domésticos e familiares”, não viabilizou menor incidência dos crimes praticados em desfavor a mulher, respeitado sua proteção, mas segundo a ótica do autor em comento, se faz necessário promover maior proteção as mulheres. Seguindo essa perspectiva, Nucci (2019), discorre sobre o feminicídio, como uma continuidade dessa tutela especial, considerando homicídio qualificado e hediondo a conduta de matar a mulher, valendo-se de sua condição de sexo feminino.
O crime de feminicídio, refere-se a delito praticado contra a mulher, mas para tal, não basta que tenha sido cometido simplesmente contra uma mulher, ou seja, não é qualquer crime de homicídio praticado contra a mulher, que incidira na norma em análise.
Conforme dispões o parágrafo 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve. I - Violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher (BRASIL, 2015). Assim como disposto na norma, a preocupação do legislador era propiciar segurança as mulheres em situação de vulnerabilidade, abusos de seus companheiros (e companheiras) e demais pessoas que ali convivem no lar familiar. A lei buscou ampliar a proteção, mas observa-se que na perspectiva do legislador a criação dessa lei, decorre de uma ineficiência das normas e demais mecanismos de proteção e combate.
A doutrina vigente decorreu a cerca da aplicabilidade e da natureza da qualificadora introduzida pela lei em analise. Assim é necessário compreendermos os posicionamentos.
Considerações Finais
Com base no exposto, desde a antiguidade, no contexto social e cultural, a dominação do homem sobre a mulher vem sendo reforçada. Este contexto realçou, ao longo dos séculos, uma extrema desigualdade de direitos e deposição social entre homens e mulheres, o que acabou por criar nestas a necessidade lutarem pela emancipação dos padrões patriarcais e buscarem sua completa e efetiva igualdade. A violência contra as mulheres está enraizada social e culturalmente, e se manifesta em todas as esferas da sociedade pela prática de abusos e violações físicas, psicológicas, emocionais e até mesmo patrimoniais do homem contra a mulher, decorrendo da contrariedade imposta à posição sociocultural assumida pelo homem como dominador da mulher.
Após várias décadas sem tutelar especificamente a mulher em situação de violência doméstica, no ano de 2006 foi publicada no Brasil a Lei nº 11.340 de 2006, comumente conhecida como Lei Maria da Penha, criada com o objetivo de coibir a violência doméstica e familiar praticada contra a mulher. Todavia, em que pese a criação da Lei Maria da Penha e a estipulação específica de medidas de proteção à mulher, na prática, a Lei não parece alcançar seu objetivo principal de coibir a violência doméstica, pois que a tutela jurídica proposta pela Lei e os instrumentos previstos para sua efetivação (as medidas protetivas), não tem sido capazes de garantir a real proteção à mulher vítima de violência doméstica.
Neste cenário, fez-se necessário que se conjuguem outros instrumentos previstos na legislação brasileira para que se promova uma efetiva proteção à mulher, de maneira a garantir-lhe não somente resoluções ou medidas temporárias de proteção, mas mecanismos que possam, efetivamente, romper sua situação de vulnerabilidade e contribuir para a superação do conflito familiar. Por esta proposta, sugeriu-se, nesta pesquisa, alterações legislativas para: incluir a Justiça Restaurativa como forma de solucionar o conflito envolvendo a violência doméstica antes do julgamento da ação criminal, incitando a possibilidade de resolução uma forma alternativa da situação conflito e de violência familiar; prever a requisição compulsória de decretação de prisão preventiva do agressor quando a ofendida requerer a aplicação de nova medida protetiva, evitando assim a prática ou a reincidência da violência doméstica e o feminicídio.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 05 out 1988. 
BRASIL. Lei nº 11.340 de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. Diário Oficial da União, Brasília, 08 agos. 2006. 
BRASIL. Lei n. 13.104, de 09 de março de 2015. Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Brasília, DF: Presidência da República, [2015]. 
CAMPOS, Carmen Hein de; CARVALHO, Salo. Tensões atuais entre a criminologia feminista e a criminologia crítica: a experiência brasileira. Lei Maria da Penha comentada em uma perspectiva jurídico-feminista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
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