Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DA UNIVALI – SÃO JOSÉ CHEFIA DA POLÍCIA CIVIL PÓS-GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA A IMAGEM DA POLÍCIA CIVIL EM BLUMENU EUSÉBIO LUIZ FUCK São José – Santa Catarina Novembro/2006 EUSÉBIO LUIZ FUCK A IMAGEM DA POLÍCIA CIVIL EM BLUMENAU Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí/SC em parceria com a Chefia da Polícia Civil. Orientadora: Profª. Dra. Arceloni Neusa Volpato São José – Santa Catarina Novembro/2006 A IMAGEM DA POLÍCIA CIVIL EM BLUMENAU EUSEBIO LUIZ FUCK Monografia aprovada como requisito para obtenção do grau de Especialista em Segurança Pública do Curso de Pós-graduação Lato Sensu Especialização em Segurança Pública da Universidade do Vale do Itajaí em convênio com a Chefia da Polícia Civil de Santa Catarina. Banca Examinadora Profª.________________________________________ Arceloni Neusa Volpato, Dra. – Orientadora Profª.________________________________________ Maria Helena Hoffmann, Dra. em Psicologia – Membro Coordenadora da Pós-Graduação em Gestão de Segurança Pública – UNIVALI Profª.________________________________________ Clarice da Silva, Especialista em Recursos Humanos – Membro Coordenadora da Pós-Graduação em Gestão de Segurança Pública - UNIVALI São José – Santa Catarina Novembro/2006 4 Sumário Resumo ................................................................................................................................. 6 1 Introdução ......................................................................................................................... 7 1.1 Justificativa ...................................................................................................................... 9 1.2 Problema.......................................................................................................................... 9 1.3 Hipótese......................................................................................................................... 10 1.4 Objetivo Geral................................................................................................................ 10 1.5 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 10 1.6 Metodologia ................................................................................................................... 11 1.7 Definição de termos ....................................................................................................... 17 2. O Processo de Formação da Imagem Institucional....................................................... 18 2.1 A importância da comunicação empresarial.................................................................... 18 2.2 A Identidade Institucional .............................................................................................. 22 2.3 A Imagem Institucional .................................................................................................. 24 2.3.1 O que é imagem institucional ...................................................................................... 25 2.3.2 O Processo de Formação da Imagem Institucional ....................................................... 26 3 A Imagem da Polícia Civil em Blumenau ...................................................................... 37 3.1 Satisfação quanto à apuração dos crimes ........................................................................ 37 3.2 A confiança na Polícia Civil ........................................................................................... 38 3.3 O atendimento policial ................................................................................................... 39 3.4 Percepção sobre aspectos gerais da Polícia Civil ............................................................ 41 3.4.1 Quanto à eficácia......................................................................................................... 41 3.4.2 Quanto à honestidade .................................................................................................. 42 3.4.3 Quanto ao direcionamento do serviço .......................................................................... 43 3.4.4 Quanto à preparação policial ....................................................................................... 44 3.4.5 Quanto à parceria com a comunidade .......................................................................... 45 3.5 Avaliação quantitativa.................................................................................................... 46 3.6 A administração da Polícia Civil .................................................................................... 47 3.7 A confiança do policial na instituição ............................................................................. 48 4 Considerações finais........................................................................................................ 50 5 Apêndice .......................................................................................................................... 54 6. Referências bibliográficas.............................................................................................. 57 Lista de Tabelas e Gráficos Tabela 01 – Distribuição da amostra por região.......................................................................15 Tabela 02 – Distribuição por faixa etária..................................................................................17 Gráfico 01 – Satisfação quanto à apuração dos crimes.............................................................38 Gráfico 02 – A confiança na Polícia Civil................................................................................39 Gráfico 03 – O atendimento policial.........................................................................................40 Gráfico 04 – Quanto à eficácia.................................................................................................41 Gráfico 05 – Quanto à honestidade...........................................................................................42 Gráfico 06 – Quanto ao direcionamento do serviço.................................................................44 Gráfico 07 – Quanto à preparação policial...............................................................................45 Gráfico 08 – Quanto à parceria com a comunidade..................................................................46 Gráfico 09 – Avaliação quantitativa.........................................................................................47 Gráfico 10 – A administração da Polícia Civil.........................................................................47 Gráfico 11 – A confiança do policial na instituição................................................................. 48 6 Resumo Esta pesquisa tem por objetivo caracterizar a imagem da Polícia Civil na cidade de Blumenau/SC, tanto na perspectiva dos agentes policiais civis quanto na perspectiva da comunidade blumenauense, tendo a pesquisa de campo como método capaz de responder à demanda proposta. Também se propôs, no âmbito dos objetivos específicos, a exploração teórica dos conceitos de identidade, imagem e comunicação institucionais, por se considerar supedâneo à pesquisa sobre imagem institucional da Polícia Civilem Blumenau/SC. Para o alcance dos objetivos propostos, o segundo capítulo apresenta um apanhado geral sobre as conceituações de identidade, imagem e comunicação institucionais, julgadas de fundamental importância para a correta compreensão de como se forma a imagem institucional, que é objeto desta pesquisa. Neste capítulo também são observadas algumas circunstâncias que contribuem para o processo de formação da imagem das instituições e, por ilação, ao processo de formação da imagem da Polícia Civil. Tendo esse arcabouço teórico por suporte, no terceiro capítulo é apresentado o resultado da pesquisa de campo realizada junto à comunidade e aos policiais civis blumenauenses. Por meio de instrumentos específicos para a coleta de opiniões, foram apresentadas aos pesquisados assertivas com atributos de caráter positivo relacionadas à Polícia Civil em Blumenau/SC, com as quais o pesquisado concordou ou discordou. Cada assertiva contém uma temática específica, a partir das quais, no conjunto, tem-se uma imagem geral sobre a instituição. Buscou-se captar a opinião da comunidade e dos policiais civis sobre a mesma temática, de modo que o resultado é apresentado paralelamente em gráficos. Por fim, conclui-se o trabalho. Faz-se uma volta às indagações primeiras, num processo de retroalimentação. Nessas considerações finais, com base no conjunto do trabalho, crê-se ter alcançado o objetivo traçado à pesquisa: desenhar a imagem da Polícia Civil em Blumenau sob a ótica da comunidade e dos próprios policiais civis. Ainda, como sugestão, propõe-se uma pesquisa complementar, de caráter qualitativo, que enfoque as circunstâncias que sedimentaram e sedimentam a imagem da Polícia Civil junto aos pesquisados. Palavras-chave: Imagem institucional, Polícia Civil e Segurança Pública. 7 1 Introdução A relevância ou não do conhecimento da imagem que a comunidade e os policiais civis têm da Polícia Civil foi a indagação que permeou as reflexões quando da escolha da temática para a realização do trabalho de conclusão do curso de Especialização em Segurança Pública - latu sensu - da Universidade do Vale do Itajaí/SC. Em complemento àquilo que a instituição afirma ser, ou àquilo que de fato o seja, está a forma como a instituição é percebida externa e internamente. A essa percepção externa e interna os autores (NEVES, 2000; NASSAR e FIGUEIREDO, 2004 e outros) chamam de imagem institucional. Por considerar importante o conhecimento da imagem institucional da Polícia Civil, tomou-se essa temática como objeto da presente pesquisa. Importante, porquanto possibilita conhecimento sobre como a instituição é percebida, o que faculta a retroalimentação das atividades policiais e possibilita uma ferramenta a mais no processo de gestão destas mesmas atividades. Em termos de espaço geográfico, optou-se por escolher a cidade de Blumenau/SC para a realização da pesquisa. Esta delimitação fundamenta-se no fato do pesquisador exercer seu múnus policial nesta cidade; aliada, ainda, à limitação de tempo e de recursos. Assim, estabeleceu-se a temática para o trabalho: A Imagem da Polícia Civil em Blumenau, e traçou-se como objetivo geral a caracterização da imagem da Polícia Civil na cidade de Blumenau, ou seja, como as pessoas vêem e percebem esta instituição; percepção esta tanto aos olhos da comunidade quanto aos olhos dos próprios policiais civis. Como suporte teórico à pesquisa, fez-se necessária uma síntese conceitual de algumas terminologias importantes, como identidade, imagem e comunicação institucionais, que estão intrinsecamente relacionadas ao tema da pesquisa. Segundo os autores já mencionados, identidade e imagem se complementam e interagem; não se concebem separadamente. Nessa tessitura, é a comunicação, nas suas diversas faces, que faz o liame entre identidade e imagem, de modo a propiciar maior ou menor fidelidade de uma para com a outra. Nesse contexto conceitual, foi realizada a pesquisa de campo, tendo por fim caracterizar a imagem da Polícia Civil. O trabalho, tanto em nível teórico quanto de pesquisa de campo, por coerência aos objetivos propostos, não se focalizou na caracterização da identidade da Polícia Civil, antes somente na imagem. 8 Buscou-se, no entanto, junto à instituição Polícia Civil e junto à Secretaria de Segurança Pública e Defesa do Cidadão, a visão de identidade que essa instituição possui de si mesma, refletida nos objetivos, visão e missão. Esse conhecimento fundamentaria a construção dos instrumentos de leitura da imagem junto aos pesquisados, considerada a inter- relação existente entre ambos os conceitos. Porém, nem na Polícia Civil nem na Secretaria de Segurança obteve-se informação sobre a identidade pensada ou pretendida para a instituição Polícia Civil. Construiu-se, assim, um rol de assertivas com atributos de caráter positivo e que abordaram temas específicos e genéricos sobre a instituição policial civil em Blumenau, por meio das quais se acredita possível traçar um perfil que caracterize a imagem dessa instituição junto aos públicos pesquisados. Desse modo, a pesquisa de campo foi realizada junto aos policiais civis que atuam em Blumenau, com intuito de verificar como eles percebem a instituição em que trabalham e como acham que a comunidade a percebe. Em paralelo, a pesquisa também foi feita junto à comunidade, tendo o mesmo escopo: verificar como a Polícia Civil é vista e percebida. Por meio de instrumentos próprios para aferição de opinião, foram apresentadas assertivas positivas a respeito da Polícia Civil em Blumenau, com as quais os pesquisados concordaram ou discordaram, e manifestaram, assim, sua opinião. As proposições, em sua maioria, foram idênticas tanto aos policiais quanto à comunidade. Cada assertiva foi construída de modo a tematizar um viés considerado relevante na construção imagética da Polícia Civil, pois, segundo Nassar e Figueiredo (2004), a imagem geral da instituição é formatada a partir de várias imagens, que relacionadas umas às outras, formam a imagem da instituição. Assim, fazem parte do rol temático questões relacionadas à confiança, à satisfação quanto às investigações desenvolvidas, ao atendimento ao cidadão, à eficácia, à honestidade, à preparação para o trabalho e outras, conforme se pode constatar no apêndice deste trabalho. Finda a pesquisa, o resultado foi devidamente compilado e apresentado neste trabalho. Em termos de organização textual, o trabalho é dividido em quatro capítulos, os quais encerram os conteúdos apresentados. No primeiro capítulo encontram-se as diretrizes gerais que dão sentido ao trabalho; abordagens que são fundamentais na delineação da pesquisa, como o problema, os objetivos e a metodologia. 9 Já numa segunda etapa, o capítulo seguinte faz uma síntese teórica das concepções de identidade, imagem e comunicação institucionais. Apresenta elementos que contribuem no processo de construção positiva ou negativa da imagem institucional. No terceiro capítulo, apresenta-se o resultado da pesquisa de campo, ou seja, as respostas dos policiais e da comunidade aos questionamentos propostos. Faz-se um paralelo entre as percepções dos policiais e da comunidade, pondo lado a lado os percentuais de concordância ou discordância para com as assertivas propostas. Por fim, no quarto capítulo, faz-se um olhar inverso, de retroalimentação. Um confronto entre o que se objetivou e o que se alcançou: as considerações finais. 1.1 Justificativa Percebe-se atualmente um grande aporte governamental em publicidade dos serviços públicos prestados, entre os quais, ações realizadas em nível da atividade policial. No entanto, não se sabe precisar qual é a imagem que a comunidade tem da Polícia Civil. Igualmente, nãose sabe precisar qual a imagem que os próprios policiais têm da instituição em que trabalham. A temática imagem institucional é bastante trabalhada por autores das ciências da comunicação e da administração, como Neves (2000), Torquato (2002), Nassar e Figueiredo (2004), entre outros. No entanto, não muitos trabalhos de pesquisa têm sido realizados neste sentido na atividade policial, entre os quais se pode citar a pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, sob coordenação da pesquisadora Cardia (2003). Ao se propor a pesquisar a imagem da instituição Polícia Civil junto à comunidade e aos policiais civis blumenauenses, esta pesquisa encontra sua relevância científica, porquanto proporciona conhecimento, ainda que limitado, da imagem da instituição Polícia Civil na cidade de Blumenau. Igualmente, encontra relevância social ao viabilizar o repensar das técnicas utilizadas e a sistematização das ações governamentais na esfera policial pertinentes aos aspectos da imagem da instituição Polícia Civil. 1.2 Problema Tomada a questão da imagem institucional como referencial, elege-se a imagem da Polícia Civil na cidade de Blumenau como questão a ser investigada, sob dois enforques: o da comunidade e o dos próprios policiais civis. 10 Nesse contexto, toma-se como questão de pesquisa a seguinte indagação: qual é a imagem da Polícia Civil em Blumenau na percepção da comunidade e dos agentes policiais civis? 1.3 Hipótese Num sentido amplo, a imagem das instituições públicas brasileiras, segundo Godinho (2002), está relacionada a conceitos de morosidade, burocracia e falta de foco no cliente. Igualmente, o autor adjetiva aos funcionários públicos atributos como desmotivação e descomprometimento com os resultados daquilo que realizam. A partir dessa perspectiva, tem-se como hipótese de pesquisa que a imagem institucional da Polícia Civil em Blumenau corresponda a essa visão negativa de instituição pública apresentada por esse autor. 1.4 Objetivo Geral A partir do problema de pesquisa colocado, toma-se como objetivo geral deste trabalho caracterizar a imagem da Polícia Civil na cidade de Blumenau sob a percepção da comunidade e dos agentes de Polícia Civil blumenauenses. 1.5 Objetivos Específicos De forma mais detalhada, conforme preceitua Gil (1991), pretende-se alcançar os seguintes objetivos específicos, que contribuem para o alcance do objetivo geral proposto: • Investigar na literatura as concepções de comunicação, identidade e imagem institucionais; • Caracterizar a imagem institucional da Polícia Civil em Blumenau por intermédio de pesquisa de campo junto a policiais civis e à comunidade blumenauenses; • Comparar as percepções da comunidade e dos agentes policiais blumenauenses quanto à imagem institucional da Polícia Civil. 11 1.6 Metodologia Para o desenvolvimento do trabalho proposto, utiliza-se, sob a conceituação de Gil (1991), a pesquisa exploratória quantitativa. Segundo o autor, as pesquisas exploratórias têm a finalidade de propiciar o aprimoramento da idéia que fundamenta o problema de pesquisa e se concentram na busca bibliográfica e em contatos com pessoas que, por experiência, podem contribuir para o aprofundamento do estudo. Igualmente concentram-se no esclarecimento, por meio da pesquisa, de intuições pertinentes ao problema formulado. Já para Lakatos e Marconi (2003), o enquadramento do que se realiza neste trabalho encontra definição sob a conceituação de pesquisa de campo, em sua subdivisão quantitativo- descritivo. Nesse tipo de pesquisa, as autoras atribuem como objetivo a coleta de informações ou conhecimento acerca de um problema que demanda resposta. Constitui-se em duas fases, sendo a primeira delas a pesquisa bibliográfica sobre a temática proposta, na qual se busca um resgate do aporte teórico já existente e ao mesmo tempo um referencial à formulação dos modelos de pesquisa de campo. Na segunda fase, determinam-se as técnicas propriamente ditas para a coleta dos dados e para a determinação da amostra a ser pesquisada. Sob um enfoque pragmático, a pesquisa foi realizada junto aos policiais civis que atuam na cidade de Blumenau e junto às demais pessoas que integram a comunidade blumenauense, e busca uma leitura interna e externa da imagem da instituição Polícia Civil. Quanto à seleção dos policiais pesquisados, configura-se a cidade de Blumenau com quatro unidades policiais de campo, ou seja, locais em que a população se dirige para o registro de ocorrência policial. Há ainda a Delegacia Regional, que realiza serviços na esfera administrativa, cujos policiais não são sujeitos desta pesquisa. Isso considerado, segundo informações da Delegacia Regional de Polícia de Blumenau, à época da pesquisa, eram quarenta e seis (46) os policiais lotados nessas quatro unidades: Central de Polícia, Delegacia de Proteção à Mulher, à Criança e ao Adolescente, 1ª e 2ª Delegacias, e por representarem pequena população, foi realizada a pesquisa censitária. Segundo Lakatos e Marconi (2003), esse tipo de abordagem abrange a totalidade dos componentes do universo a ser pesquisado. Desse universo populacional, excetuaram-se como sujeitos de pesquisa os Delegados de Polícia, por exercerem atividades de administração dessas unidades policiais. Quanto à seleção da comunidade, foram tomadas amostras do universo populacional de Blumenau, que, segundo o censo realizado em 2000, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), possui 261.808 habitantes. Ante a inviabilidade da abordagem censitária, os sujeitos foram selecionados por meio de amostra não probabilística, do tipo por 12 quotas. Para Lakatos e Marconi (2002), entre as técnicas não probabilísticas, esse tipo de amostragem é o mais utilizado em sondagens de opinião pública e em pesquisas eleitorais. Segundos essas autoras, a amostragem pressupõe três etapas, a saber: 1) especificação da propriedade pela qual a população será classificada e que se constitua, presumivelmente, relevante à pesquisa; 2) constituição da proporção amostral da população a ser pesquisada, em relação ao universo especificado na primeira etapa; 3) e, por fim, a pesquisa propriamente dita, com subdivisão de quotas para cada pesquisador, quando o caso ensejar tal divisão em virtude da amplitude da amostra. A coleta dos dados junto aos policiais e à comunidade se deu por meio de técnicas que, tanto para Gil (1991) quanto para Lakatos e Marconi (2003), são usuais nos levantamentos de campo: o questionário e o formulário, respectivamente, os quais empregam procedimentos de amostragem. Aos policiais, os dados foram colhidos pela aplicação do questionário, conforme se dessume do parágrafo anterior, posto que proporciona mais liberdade de resposta e garantia de sigilo, haja vista que o pesquisador participa da mesma classe profissional dos pesquisados, o que lhes poderia causar constrangimento. Por outro lado, o formulário foi aplicado junto à comunidade em decorrência de sua praticidade. O questionário, segundo Gil (1991, p. 90), consiste em “um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisado” e sua elaboração está diretamente relacionada aos objetivos da pesquisa. Por esse método, as questões são formuladas e encaminhadas ao pesquisado, o qual responde e re-encaminha as questões ao pesquisador. Não há a mediação pessoal do pesquisador na oportunidade em que o pesquisado responde às questões. Já o formulário, segundo Lakatos e Marconi (2003), é igualmente composto por uma série de questões que visam buscar respostas correlacionadas aos objetivos da pesquisa. A diferenciação com o questionário está na forma de aplicação. No questionário não há mediaçãodo pesquisador; no formulário há o contato face a face entre o pesquisador e o pesquisado, sendo as respostas aos questionamentos anotadas pelo próprio pesquisador. Tanto o questionário quanto o formulário foram elaborados com questões fechadas, nas quais as opções de respostas são fixas e preestabelecidas, conforme anota Richardson (1989). As questões foram elaboradas em forma de afirmações de caráter positivo atribuído à instituição Polícia Civil e visavam verificar a concordância ou não do pesquisado. O questionário foi formatado com sete questões e buscou captar a percepção sobre a política da administração policial, a confiança do próprio policial na instituição em que trabalha e a percepção do policial sobre como a instituição é vista pela comunidade, considerados aspectos 13 de confiança, eficácia, honestidade e outros. Por sua vez, o formulário foi composto por cinco questões e buscou caracterizar a percepção da comunidade sobre a Polícia Civil em Blumenau. As três primeiras questões, tanto do questionário quanto do formulário, e as duas últimas do questionário, foram elaboradas com três alternativas de resposta: concordo, discordo e não tenho opinião a respeito. Como o objetivo da pesquisa é focado na caracterização da imagem da instituição policial, julgou-se que essas opções de resposta davam conta de captar a percepção do pesquisado sobre o tema proposto. Quanto ao conteúdo das questões propostas, as cinco primeiras questões do questionário e do formulário são coincidentes. A primeira questão tem por objetivo verificar a satisfação ou não a respeito da eficácia das investigações criminais desenvolvidas pela Polícia Civil em Blumenau sob a ótica da comunidade. Tanto os policiais civis quanto a comunidade tinham como opção de resposta a concordância, discordância ou abstenção, conforme já explicitado acima, ao analisar a seguinte afirmação: As investigações desenvolvidas pela Polícia Civil para apurar os crimes que ocorrem em Blumenau satisfazem as expectativas da comunidade. Com a segunda questão, quis-se abordar a temática da confiança na instituição por parte da comunidade, ou seja, se a comunidade blumenauense confia na Polícia Civil de sua cidade. A afirmação submetida à análise foi a seguinte: O cidadão blumenauense confia na Polícia Civil. Na mesma linha de abordagem, a terceira questão foi direcionada à temática do atendimento ao público por parte da Polícia Civil em Blumenau. A proposição apresentada, tanto no questionário quanto no formulário, foi se A Polícia Civil em Blumenau atende bem os cidadãos. De igual forma, as opções de resposta estabeleceram-se conforme já exposto. A quarta questão foi formulada de modo diferenciado das iniciais. Estabeleceu-se uma pergunta genérica sobre a percepção do pesquisado a respeito da Polícia Civil e foram apresentados cinco itens temáticos, genéricos e com proposições antagônicas entre si. A apresentação deu-se sob forma de alíneas – de a até e –, e a marcação da opção constituiu-se na escolha de uma ou outra alternativa em cada alínea, havendo, ainda, a opção de não emitir opinião a respeito da temática apresentada. Dessa forma, após o questionamento: Qual a percepção que você tem da Polícia Civil de Blumenau, foram estes os itens que se seguiram: a) eficaz, ineficaz; b) honesta, desonesta; c) a serviço da comunidade, a serviço de grupos abastados; d) preparada, despreparada; e) parceira da comunidade, sem compromisso com a comunidade. A todos eles, soma-se a terceira alternativa: não tenho opinião a respeito. Todas 14 essas temáticas visaram uma abordagem geral da imagem da instituição; assim, ao indagar sobre a eficácia e ineficácia, buscou-se uma análise macro da imagem que o pesquisado tem da Polícia Civil em Blumenau a partir desse viés. Com enfoque idêntico, foram abordadas as questões sobre honestidade, direcionamento dos serviços, preparação para o trabalho e parceria com a comunidade. A quinta questão buscou avaliar de forma quantitativa a Polícia Civil em Blumenau por meio da atribuição de uma nota. Para tanto, estabeleceu-se uma escala de 0 (zero) a 10 (dez), formada somente com números inteiros. Como critério valorativo, convencionou-se, como o é no senso comum, que quanto mais próxima de dez fosse a nota atribuída, mais positiva seria a avaliação. De igual forma, a opção de não emitir opinião foi apresentada. Além das questões mencionadas, o questionário conteve mais duas, as quais buscavam verificar a percepção dos policiais a respeito da administração policial e a respeito da confiança do próprio policial na instituição em que trabalha. Desse modo, a sexta questão do questionário buscava verificar a satisfação do policial quanto à política de administração desenvolvida na Polícia Civil. Como já declinado em parágrafo anterior, ao policial foram apresentadas as opções de concordar, discordar ou não emitir opinião a respeito da seguinte assertiva: A política desenvolvida pela administração da Polícia Civil satisfaz as expectativas do policial civil em Blumenau. A sétima questão do questionário abordou a temática da confiança do policial na instituição Polícia Civil. Estabeleceu-se a seguinte assertiva como objeto da análise nesta questão: O policial civil em Blumenau confia na instituição em que trabalha. Diferentemente da questão dois, que abordou a confiança da comunidade na polícia, esta questão visou captar a confiança do policial na instituição em que trabalha. No apêndice deste trabalho encontram-se modelos tanto do questionário quanto do formulário. Ressalta-se que, tanto para Lakatos e Marconi (2002) quanto para Hair (2005), o resultado da pesquisa realizada por meio da técnica de amostragem por quotas não deve ser generalizado à população, uma vez que não foram utilizados métodos probabilísticos na seleção da amostra. No entanto, quanto à quantidade da amostra da comunidade, ainda que a técnica utilizada seja não probabilística, mas a fim de se manter um referencial, observou-se a tabela apresentada por Gil (2002), na qual, considerando-se um coeficiente de confiança de 95,5% e uma margem de erro de 10%, para uma população acima de cem mil, toma-se uma amostra de cem unidades. Como já mencionado, a cidade de Blumenau possui população 15 superior a cem mil habitantes, razão pela qual a amostra foi constituída de cem pessoas da comunidade. O processo de seleção da amostra, considerando-se a técnica de amostragem por quotas, deu-se sob as etapas pressupostas por Lakatos e Marconi (2002), já citadas em parágrafo anterior. Como primeira etapa, estabeleceu-se a faixa etária e a distribuição geográfica da população como propriedades relevantes ao estudo proposto. Assim, foram inclusas no universo a ser pesquisado as pessoas com idades entre 15 e 69 anos. Com base nesse critério, estratificou-se esse universo em grupos etários, conforme subdivisão apresentada no censo/2000 do IBGE: 15-19, 20-24, 25-29, 30-39, 40-49, 50-59, 60-69. Para uma melhor representatividade da população, a seleção da amostra foi obtida proporcionalmente à distribuição geográfica dos habitantes no município de Blumenau. No sítio da Prefeitura Municipal de Blumenau na Internet, obteve-se informação quanto à distribuição da população por bairro. Tendo em vista a viabilidade dessa subdivisão, que requer números inteiros e positivos, por se tratar de pessoas, os bairros foram agrupados em cinco regiões, que congregam os bairros mais próximos entre si. Na tabela abaixo, visualiza- se esse agrupamento e o percentual da amostra correspondente a cada região: Região Bairros Percentual da amostra Região 01 Vorstardt, Centro, Ribeirão Fresco, Garcia, Da Glória, Progresso, Valparaíso, Vila Formosa, Jardim Blumenau e Bom Retiro. 20% Região 02 Velha, VelhaCentral, Velha Grande, Passo Manso, Salto Weissbach. 16% Região 03 Do Salto, Escola Agrícola, Água Verde, Vila Nova, Itoupava Seca e Victor Konder. 17% Região 04 Boa Vista, Ponta Aguda, Nova Esperança, Itoupava Norte, Fortaleza, Tribess, Fortaleza Alta, Fidélis e Salto do Norte. 27% Região 05 Badenfurt, Testo Salto, Itoupavazinha, Itoupava Central e Vila Itoupava. 20% Tabela 01 – Distribuição da amostra por região 16 Definidas as propriedades que se quis atribuir à população alvo, construiu-se uma maqueta da população, distribuindo-a nos grupos etários e geográficos, como segunda etapa pressuposta por Lakatos e Marconi (2002). Para tanto, foram utilizadas as estatísticas do censo/2000 do IBGE, pertinentes a cidade de Blumenau, igualmente encontradas no sítio mencionado. De acordo com os dados do censo, Blumenau possuía 261.808 habitantes no ano 2000, compreendida a população rural e urbana. Desse total, 176.237 habitantes pertencem à faixa etária compreendida entre 15-69 anos de idade, que corresponde a aproximadamente 67% dos habitantes. Quanto à distribuição por faixa etária do universo selecionado, segundo dados colhidos no sítio da Prefeitura Municipal de Blumenau na Internet, 14% incluem-se entre 15-19 anos (24.092), 15% incluem-se entre 20-24 anos (26.449), 16% incluem-se entre 25-29 anos (27.758), 25% incluem-se entre 30-39 anos (44.779), 15% incluem-se entre 40-49 anos (27.234), 9% incluem-se entre 50-59 anos (15.712) e 6% incluem-se entre 60-69 anos (10.213). Considerando-se cem as pessoas que compõem a amostra, encontrou-se relação direta entre os percentuais de representatividade populacional das cinco regiões com a quantidade de pessoas a serem pesquisadas em cada região, ou seja, 20% correspondem a 20 pessoas. Por exemplo, a região 01 congrega 20% da população, logo, 20 foram as pessoas pesquisadas. Para se obter a quantidade de amostra por faixa etária em cada uma dessas regiões, multiplicou-se a quantidade representativa de cada região pelo percentual representativo de cada faixa etária na população total selecionada. Assim, por exemplo, para a faixa etária de 15-19 anos, na região 01, obteve-se: 20x14% = 2,8, onde vinte é a quantidade de pessoas a serem pesquisada na região mencionada, quatorze por cento é o percentual da faixa etária e dois vírgula oito é a quantidade de pesquisados para a faixa etária exemplificada. Conforme já mencionado, houve a necessidade de se arredondarem tais números, posto ser impossível pesquisar 2,8 pessoas. Manteve-se, no entanto, a proporção entre a quantidade de pessoas pesquisadas em cada região e o total da amostra. Do exposto, obteve-se a tabela 02, com a quantidade de pesquisados em cada região, por faixa etária e com os devidos arredondamentos. Pertinente à terceira etapa apresentada por Lakatos e Marconi (2002), a aplicação dos formulários foi feita pelo próprio pesquisador, não sendo delegada a tarefa a terceiras pessoas. Referente à aplicação do formulário, a abordagem das pessoas pesquisadas ocorreu nas ruas, terminais de ônibus, estabelecimentos comerciais e residências, observando-se a quantidade de pessoas pesquisadas por região e por faixa etária. A aplicação do formulário foi realizada na segunda quinzena do mês de julho/06. 17 Faixa Etária Região 01 Região 02 Região 03 Região 04 Região 05 Total p/ faixa etária 15-19 3 2 2 4 3 14 20-24 3 2 3 4 3 15 25-29 3 3 3 4 3 16 30-39 5 4 4 7 5 25 40-49 3 2 3 4 3 15 50-59 2 2 1 2 2 9 60-69 1 1 1 2 1 6 Total região 20 16 17 27 20 100 Tabela 02 – Distribuição por faixa etária Por sua vez, o questionário foi entregue a quarenta e seis policiais civis, em conformidade com as propostas para este trabalho. A entrega foi pessoal e ocorreu no início do mês de julho/06. Dos questionários entregues, foram respondidos e devolvidos quarenta e quatro. Um policial não foi localizado em virtude de estar em gozo de férias. 1.7 Definição de termos Para uma melhor compreensão da pesquisa realizada, faz-se oportuna a delimitação das terminologias ‘comunidade’ e ‘policiais’, ou ‘agentes policiais’, usadas neste trabalho. Ao se apresentar ‘comunidade’ e ‘policiais’ em concepções diferenciadas neste trabalho, não se quer afirmar que os policiais não sejam partes constitutivas da comunidade. Antes, faz-se esta diferenciação para perceber a imagem da Polícia Civil junto aos próprios policiais, integrantes dessa instituição, e junto às demais pessoas que residem em Blumenau, definidas neste trabalho pela expressão ‘comunidade’. Portanto, nesta pesquisa, a expressão ‘comunidade’ quer se referir às pessoas residentes em Blumenau e que não são policiais civis. 18 2. O Processo de Formação da Imagem Institucional A partir dos objetivos traçados para esta pesquisa, busca-se contextualizar neste capítulo noções teóricas necessárias para uma melhor compreensão do complexo processo de formação da imagem institucional, processo no qual está abarcada a imagem da Polícia Civil em Blumenau, que é objeto da pesquisa de campo. Ainda que o objetivo da pesquisa tenha seu enfoque principal na caracterização da imagem institucional da Polícia Civil em Blumenau, a busca de um referencial teórico tanto de identidade quanto de imagem institucionais é importante, pois ambas são interdependentes, assumindo na obra de Torquato (1991; 2002) a alegoria de objeto – identidade – e sombra – imagem. De igual forma, ao se falar em identidade e imagem institucionais há que se considerar o processo de comunicação que se dá no entorno destes conceitos. Não se pretende, no entanto, o aprofundamento dessas conceituações, posto que o objeto principal da pesquisa centra-se na caracterização junto à comunidade e aos policiais civis da imagem da instituição policial civil, colocando-se este capítulo como um referencial teórico ao resultado obtido. Para tanto, este capítulo é dividido em três partes, as quais buscam aduzir ao trabalho noções básicas de comunicação empresarial, de identidade e imagem institucional, evidenciando-se a relação sistêmica que se processa entre elas. 2.1 A importância da comunicação empresarial Ainda que a Polícia Civil seja uma instituição estatal e não comercial, seu processo de comunicação se desenvolve de forma muito similar, uma vez que tanto possui um público a atender quanto um produto ou serviço a oferecer: comunidade e segurança, respectivamente. Nas empresas comerciais, em tempos recentes, o ponto principal da comunicação estava focado na propaganda, conforme sublinham Nassar e Figueiredo (2004). Não restam dúvidas de que a propaganda é um instrumento eficaz de comunicação, usada em larga escala tanto pelas empresas privadas quanto pelos governos. Porém, estes autores afirmam que a propaganda é apenas uma das linguagens de comunicação das empresas e, ainda assim, tratam-na como sendo uma “linguagem dourada”, pois reflete somente o melhor da empresa e do produto: as pessoas aparecem sempre felizes, com os problemas equacionados, satisfeitas com os produtos..., o que, na maioria das vezes, se contrapõe à realidade social. Como o 19 objetivo desta pesquisa tem seu foco principal na busca pela imagem real da instituição policial civil em Blumenau, a linguagem da propaganda não completa o sentido de comunicação que se quer abordar. Assim, quer-se tomar a comunicação na acepção de Volpato (2006), para a qual “comunicar é tornar comum uma informação, uma idéia, uma atitude”. Esta definição encontra supedâneo em Bordenave (1992, p.36), para o qual “pela comunicação as pessoas compartilham experiências, idéias e sentimentos”. Na mesma linha conceitual, Chiavenato (1999) afirma que a comunicação consiste na troca de informaçõesentre os indivíduos. Pautado nesses conceitos de comunicação, percebe-se que a prática da comunicação estará, então, na forma e nos instrumentos usados para fazer comum a informação, as idéias, as atitudes, as experiências e os sentimentos. Volpato (2006) afirma que esse processo de comunicação se dá por intermédio dos mais variados modos, que vão desde o contato face a face até por intermédio de instrumentos específicos de comunicação, no qual se insere a propaganda, a imprensa escrita e televisionada, os boletins, os jornais internos, internet e tantos outros instrumentos. Nessa mesma linha, Neves (2000) também evidencia a amplitude do processo de comunicação empresarial, que não se restringe somente ao uso da palavra – oral ou escrita – mas perpassa toda uma gama de comportamentos e idéias que a empresa exterioriza, tais como gestos, gostos, símbolos, cheiros, espaços, atendimentos... É esse conjunto de relacionamentos com o consumidor que vai sedimentar, num processo continuado, a imagem da empresa, de forma que Nassar e Figueiredo (2004) afirmam que seria muito pouco uma boa propaganda se o consumidor percebesse em outras frentes uma má atuação da empresa; por exemplo: produto de má qualidade, atendimento insatisfatório ao cliente, depredação do meio ambiente e tantas outras possibilidades de exteriorização das idéias e das atitudes das empresas. A essas outras formas de se comunicar com o consumidor, com a sociedade e com outros organismos sociais, Nassar e Figueiredo (2004) chamam de linguagens de comunicação, as quais, quando articuladas conjuntamente e de forma integrada, mostram a realidade da empresa, ou dizendo de outra forma, explicitam sua personalidade à sociedade. Assim, para os autores, a comunicação empresarial se concretiza pelo somatório das várias atividades de comunicação da empresa. Nesse mesmo sentido, Grönroos (1993), ao tratar do gerenciamento da comunicação com o mercado e da imagem institucional, sob a perspectiva do marketing institucional, estabelece uma diferenciação entre a comunicação havida na função tradicional 20 do marketing e na função interativa do marketing. Para o autor, a comunicação estabelecida no marketing tradicional, no qual inclui a publicidade e a propaganda, trabalha em nível abstrato, envolvendo promessas e conceitos que podem ou não ser verdadeiros. Já no que chama de função interativa do marketing, a comunicação se dá no relacionamento com o cliente, o qual percebe a empresa da forma como ela se apresenta a ele. Estabelece-se, então, por um lado, uma expectativa de qualidade e, por outro, uma experiência daquilo que era esperado. À interação entre ambas, chama de Comunicação Total, ou seja, uma simbiose entre a comunicação estabelecida quando do anúncio do serviço ou do produto e quando da experimentação por parte do cliente daquele serviço ou produto anunciado. Não é, então, a comunicação empresarial uma parte isolada das demais atividades da empresa, mas parte que interage com o todo e reflete a sua essência, tanto quanto não é a empresa uma ilha em relação à sociedade, conforme metaforizam Nassar e Figueiredo (2004). Antes, todos os seus passos são percebidos pelo público, positiva ou negativamente. Neste sentido, pode-se ainda buscar em Cahen (2003) a definição de comunicação empresarial como uma atividade sistêmica e que tem por fim criar ou manter a imagem positiva da empresa junto aos públicos com quem se relaciona. Atividade sistêmica porque não se processa somente em alguns momentos pontuais, mas é perene e reflete o próprio agir da empresa. Em concorrência à comunicação com os públicos externos, outro aspecto interessante na comunicação empresarial é o relacionamento com os clientes internos: os funcionários. Nassar e Figueiredo (2004) afirmam que a comunicação com o público interno deve seguir os mesmos parâmetros da comunicação externa, direcionada às massas, pois consideram o público interno exigente e que não se satisfaz com modelos antigos e tradicionais de comunicação. Ao abordar este aspecto da comunicação empresarial, Torquato (1991) exemplifica que muitos funcionários não reconhecem a empresa em que trabalham quando vêem os anúncios publicitários (propagandas, jornais, folderes etc) direcionados ao público externo. Percebem a empresa de forma diferente daquela que a empresa quer ser vista pelo público externo. O autor atribui esta diferenciação à comunicação, que não se processa sistemicamente. Estabelece como ideal uma só imagem da empresa tanto por parte do público interno quanto do externo, e apresenta como uma das soluções a interligação dos sistemas de comunicação, pelo qual a “interdependência precisa ocorrer no terreno das linguagens, valores, conceitos, processos, pessoas” (TORQUATO, 1991, p. 230). 21 Logo, a identificação do público interno com as linguagens, valores, conceitos e processos da empresa – pública ou privada –, ou em outras palavras, a imagem que o público interno tem da empresa, torna-se essencial. E essa essencialidade se fará sentir, numa das frentes, no contato entre este público e os consumidores, principalmente quando o produto oferecido tratar-se de serviços, oportunidade em que há o contato direto entre consumidor e funcionário. No entanto, nesse complexo sistema de comunicação, tanto percebido pelo público externo quanto interno, nem tudo é planejado e consciente. Muitos gestos, atitudes e comportamentos da empresa, que são instrumentos de comunicação, não fazem parte do planejamento, principalmente o contato entre o público interno com os consumidores. A essa comunicação não planejada, mas que é um eficaz fio condutor de mensagens, Bordenave (1992, p.50) atribuiu a denominação de paracomunicação ou paralinguagem, que se dá num processo involuntário, “sem querer”, onde até mesmo apertos de mãos, tons das falas, vestes, olhares, tudo comunica alguma coisa ao interlocutor. Neves (2000, p.160) igualmente trabalha essa questão da comunicação não controlada, à qual atribuiu a denominação de comunicação simbólica. Para esse autor, a comunicação simbólica deve ser gerenciada por intermédio do controle de inúmeros fatores relacionados à empresa, que abrangem a “sua história, seus produtos e serviços, o perfil dos clientes, o comportamento dos dirigentes, as atitudes dos empregados, as propagandas, as parcerias, programação visual, relacionamento com os diversos públicos, a arquitetura dos prédios, a segurança, patrocínios, eventos, brindes, posicionamentos em questões públicas, posicionamentos em crises e qualidade em geral”. Tudo isso comunica alguma coisa ao consumidor, que capta a mensagem e a associa à imagem institucional que já possui da empresa, ou, ainda, vai criando uma imagem da empresa caso não possua. Ao gerenciar esses inúmeros fatores apresentados pelo autor, a empresa estaria gerenciando a comunicação simbólica, ou seja, a identidade institucional, de forma a administrar as dissociações que se formam a partir das mensagens conflitantes, ou seja, diz-se uma coisa e apresenta-se outra. Esse controle da comunicação propiciaria a compatibilização entre as mensagens que se emitem com a imagem institucional que se deseja formar. A disseminação dessa imagem oriunda das comunicações não controladas – simbólicas para Neves (2000) e paracomunicação ou paralinguagem para Bordenave (1992) – gera uma forma de comunicação peculiar, que Grönroos (1993) chama de comunicação boca a boca. O autor não atribui a formação do conteúdo da mensagem transmitida boca a boca somente às percepções oriundas das comunicações não controladas, mas do que chama 22 de Comunicação Total, já citada anteriormente. No entanto, explicita uma observação contrastante entre a comunicação boca a boca e os instrumentos formais de comunicação.Segundo esse autor, o impacto da comunicação boca a boca é quase sempre maior do que as comunicações formais planejadas pela empresa, e qualquer publicidade que venha de encontro às mensagens passadas boca a boca terá sua credibilidade posta em dúvida. Isso se deve ao fato de que o interlocutor da mensagem passada boca a boca vê no emissor uma fonte de credibilidade, uma vez que não mantém vínculo com a empresa e teve um contato pessoal com ela, donde se originou sua percepção. Grönroos (1993) também trabalha os aspectos das comunicações planejadas e não planejadas. Caracteriza as comunicações planejadas no contexto de controle da empresa, mas que, no entanto, ultrapassam a fronteira das comunicações formais. Vê as comunicações não planejadas como facilmente prejudiciais à percepção do consumidor em relação à instituição. É nesse contexto que se percebe a importância da comunicação empresarial no processo de sedimentação da imagem institucional, que se estabelece a partir dos processos formais e informais, planejados e não planejados, ou nas palavras de Nassar e Figueiredo (2004, p.24): “Uma boa comunicação empresarial é condição primária para uma boa imagem institucional da empresa”. 2.2 A Identidade Institucional Em épocas anteriores, segundo Nassar e Figueiredo (2004), talvez bastasse às empresas a exposição de seus produtos por meio das propagandas. No entanto, esses autores concluem que hodiernamente a sociedade quer mais do que propaganda; exige das empresas compromissos com a qualidade dos produtos e serviços, com o meio ambiente, com o comprometimento social, enfim, deseja “ver o que move a empresa além do lucro” (NASSAR e FIGUEIREDO, 2004, p. 13). Nesse contexto de imposição por parte do consumidor e da sociedade civil organizada, as empresas necessitam manter-se no mercado e evitar boicotes aos seus produtos e serviços. E o meio utilizado é a comunicação. Para Neves (2000) as empresas precisam comunicar à sociedade e a seus consumidores os valores pertinentes à empresa, tais como bons produtos e serviços, uma boa administração, um bom local de trabalho para os funcionários e apresentar valor agregado para a sociedade no desenvolvimento de suas atividades, tais como ética, responsabilidade social, criatividade, transparência, entre tantos outros atributos valorativos. Todas essas 23 qualidades devem ser mostradas à sociedade. No entanto, o autor alerta para a correspondência que deve existir entre o comunicar e o ser, ou seja, “jamais opte pela estratégia do fingir que é ou de que tem. ‘Parecer ser’ sem realmente ‘ser’. ‘Parecer ter’ sem realmente ‘ter’” (NEVES, 2000, p. 25). Esse conteúdo a ser comunicado define como sendo identidade institucional. Seguindo essa linha, Torquato (1991) trata a identidade institucional como o caráter, o conceito básico, a personalidade da organização. Pode-se, então, por ilação, dizer que a identidade institucional está vinculada àquilo que a instituição realmente é, ou, conforme o próprio Torquato (2002, p.105) afirma, “é a verdade da pessoa ou do produto. Não há sombra”. Essa metaforização da sombra, apresentada pelo autor, ajuda na compreensão do que é a identidade institucional, pois a sombra, associada à imagem institucional, reflete o objeto, que representa a identidade institucional. O objeto é real e a sombra, a percepção da projeção dele. A identidade institucional está relacionada, então, segundo esses autores, àquilo que a empresa realmente é ou deseja ser junto à sociedade e a seus consumidores, consideradas as somas de suas características fundamentais, de seus limites, de seu caráter, do conceito básico em que se fundamenta e de sua personalidade. Com fundamentação nessas noções de identidade institucional, é pertinente a afirmação, segundo sublinha Fascioni (2004), de que uma instituição não pode furtar-se de uma identidade que a caracterize e a qualifique junto à sociedade e aos consumidores de seus produtos ou serviços. A própria empresa é a essência de sua identidade. Ainda que a instituição não planeje estrategicamente suas ações, seus objetivos e metas, com vistas ao fortalecimento ou à implantação de uma identidade institucional, as suas ações e condutas, produtos e serviços irão ser percebidos pela sociedade e pelos consumidores. Porém, a questão da identidade não pode se restringir à percepção estética que a instituição aufere junto à sociedade e aos consumidores, como logotipos, símbolos e cores, segundo afirma Altenfelder (1999). Isto seria um reducionismo do valor potencial da identidade institucional. O autor amplia o conceito de identidade à consciência que a própria instituição tem de sua cultura e da maneira como a expressa para seu público interno – funcionários – e para seu público externo – sociedade e consumidores. Considera que somente quando essa consciência é obtida pela instituição é que todo o potencial do conceito de identidade é alcançado. 24 Em sintonia com esse pensamento, Nassar e Figueiredo (2004, p.38) apresentam um exemplo real ocorrido na empresa de tintas Coral: os funcionários perceberam que as condições visuais do prédio da fábrica não eram boas. Perguntaram-se, então, “afinal de contas, nós fabricamos e comercializamos o quê”. Como resposta a essa indagação, chegaram à conclusão de que o produto final era a beleza e não a tinta em si mesma. Repintaram a fábrica e embelezaram-na. A tempestividade desse exemplo está calcada na pergunta feita pelos funcionários e pela administração daquela empresa: “afinal de contas, nós fabricamos e comercializamos o quê”. Essa mesma pergunta se feita em outras empresas levaria a um repensar de sua consciência como instituição, adaptando-se logicamente ao ramo de atividade próprio: produção, serviço ou comércio; pública ou privada. Essa pergunta, contextualizada na especificidade desta pesquisa, encontra eco junto à instituição Polícia Civil, que poderia se fazer a mesma indagação, com intuito de clarear sempre mais sua identidade institucional. Afina, qual o serviço prestado pela Polícia Civil? Ao se responder esse questionamento, facilitar-se-ia a conscientização da identidade institucional da polícia. No entanto, havendo ou não a formulação consciente da identidade, ela não deixa de se fazer presente no agir, o que leva a sociedade a percebê-la, formando-se, então, o que se chama de imagem institucional. 2.3 A Imagem Institucional A pesquisa da imagem institucional só faz sentido quando inserida no contexto da comunicação e da identidade dessa mesma instituição; temas já abordados neste capítulo. Em linhas gerais, é o “ser” da instituição, aliado ao processo de comunicação, que irá delimitar a percepção da imagem dessa mesma instituição junto à sociedade e aos consumidores. Neste tópico, enfocar-se-á a fundamentação teórica da imagem institucional, gravitando no entorno do que é e do como se forma a imagem institucional. Para tanto, divide-se esta parte em dois momentos: um que aborda a conceituação e outro que explora aspectos do processo de sedimentação da imagem das instituições junto à sociedade e aos consumidores. 25 2.3.1 O que é imagem institucional Essa temática já foi tratada indiretamente nos tópicos anteriores. Quer-se, no entanto, aprofundar um pouco a noção. De pronto, pelo já visto até aqui, não é possível dissociar imagem institucional da identidade dessa mesma instituição. Imagem e identidade estão inter-relacionadas. Da mesma forma, a imagem está inter-relacionada com a comunicação, da qual é resultante, em última análise, conforme Torquato (1991). Tem-se um sistema complexo. Torna-se oportuna a retomada da alegoria da sombra e do objeto, feita por Torquato (2002), pela qual define a imagem como a sombra de um objeto,sendo este, por sua vez, a identidade. Ou seja, define a imagem como o reflexo da instituição, reflexo que assume formato de acordo com a percepção das pessoas. Por conseguinte, quanto mais a imagem institucional representar aquilo que a instituição realmente é – ou seja, quanto mais a imagem representar a identidade – melhor terá sido o processo de comunicação. Ou ainda, falando na linguagem alegórica: quanto mais perfeita e nítida a sombra, melhor representa o objeto que a projeta. Assim, segundo o autor, a imagem está relacionada no plano dos simbolismos, percepções e intuições das pessoas. Ainda Torquato (1991), apresenta a imagem não somente como a representação daquilo que a empresa efetivamente é, mas daquilo que a empresa deseja projetar a respeito de si, ou seja, como a empresa deseja ser vista junto à sociedade e a seus consumidores. Para Costa (1995 apud FARIAS, 2006), a imagem é resultante da identidade e se expressa nas atitudes e nas mensagens emitidas pela instituição. A partir desse conceito, Farias (2006) conclui que a imagem representa a visão externa da instituição, uma tradução no imaginário das pessoas daquilo que é a própria instituição. Dessa forma a imagem institucional revela-se um instrumento estratégico pelo qual cria e fixa na memória das pessoas os valores da instituição. Da mesma forma, Neves (2000, p.19) define a imagem institucional como “o que está na cabeça das pessoas”, ou seja, a percepção que elas possuem em relação a determinada instituição. Essa percepção é formada a partir de “níveis diferenciados de preferência, tolerância, compreensão, boa vontade, simpatia em relação a outras pessoas, amigos, filhos, irmãos, parentes, colegas de trabalho, homens públicos, empresas, produtos, lugares, coisas”. No entanto, essas mesmas pessoas, segundo o autor, não têm clareza sobre os fundamentos que a levam a perceber diferentemente uma instituição da outra, ainda que possam apresentar razões como afinidade, empatia e outras. 26 No entanto, o contexto institucional não comporta uma única imagem, donde Nassar e Figueiredo (2004) falam diversas imagens que vão se formando a partir do complexo sistema de comunicação. Ao se mencionar, então, imagem institucional, está se falando do amálgama de imagens da instituição, de uma síntese. Por exemplo, o atendimento prestado por uma instituição pode ser bom, mas a eficácia de seu serviço pode deixar a desejar. Tem- se, em nível das percepções, uma boa imagem quanto ao atendimento e uma má imagem quanto à eficácia. A síntese dessas imagens, associadas às demais imagens resultantes de outras frentes de ação e comunicação, resultará na imagem institucional, ou seja, nas palavras de Nassar e Figueiredo (2004, p.21), “aquela imagem que é a soma de todas as outras imagens da empresa”. Na raiz dessas visões imagéticas diversas, segundo Motta e Caldas (1997), está a compreensão das organizações na sociedade moderna, que se encontra envolta numa dimensão bastante simbólica, resultante da crescente turbulência e complexidade das organizações. Faz-se necessário o gerenciamento da imagem dessas organizações. Esses autores citam Alvesson (1990), para o qual a imagem é caracterizada a partir do pouco e superficial contato com a instituição, caracterizado pelo contato indireto, donde se tem a necessidade de formulação de um quadro simplificador: a imagem institucional. Esses mesmos autores, ainda fundamentados em Alvesson (1990), também falam da multiplicidade de imagens das instituições. Essas imagens se formam a partir das muitas informações sobre uma instituição sem que se esteja diretamente ligado a ela, o que torna complexo a assimilação de seu conceito em uma única imagem. Ainda, “quanto mais ambígua for uma determinada realidade, maior será a necessidade de se construir imagens em torno dela” (ALVESSON, 1990, p. 205). Nesse contexto, quer-se dar ênfase à importância da administração da imagem institucional, que Neves (2001) chama de administração da comunicação simbólica, uma vez que, segundo esse autor, é pela administração dos componentes simbólicos da comunicação que a imagem forma-se e sedimenta-se no imaginário coletivo. 2.3.2 O Processo de Formação da Imagem Institucional Numa análise geral, segundo Neves (2000), principalmente as empresas, mas sem descartar categorias profissionais, a imagem das instituições e classes é um lixo na percepção das pessoas. Não é bem vista. Tanto às instituições do setor privado quanto do público e às classes profissionais, não ser bem vista representa prejuízos diretos ou indiretos. 27 Ao abordar o processo de formação da imagem institucional é necessário ter por pressuposto que se trata de um sistema complexo, multifacetado, razão pela qual não se pretende compreender neste trabalho todos os meios pelos quais se forma a imagem institucional. A formação da imagem institucional, segundo Fascioni (2005), é “o resultado de uma abstração que cada indivíduo forma em sua mente a partir de operações de simplificação com atributos mais ou menos representativos para ele” (publicação sem número de páginas). A imagem, então, é formada a partir da percepção individual frente a situações específicas, as quais possuem atributos que fazem sentido para o indivíduo. A mesma autora afirma que, no geral, os atributos que influenciam na formação da imagem são oriundos de três fontes: os meios de comunicação de massa, as relações interpessoais e a experiência pessoal. Ao se considerar essas três fontes de propagação de atributos, Grönroos (1993), ao tratar da comunicação total, já abordada neste capítulo, ressalta que o aspecto da relação interpessoal no processo de formação da imagem institucional é de fundamental importância. Afirma que a comunicação boca a boca, decorrente da disseminação da experiência pessoal em relação a uma instituição, pode ser de maior impacto junto à comunidade do que as comunicações oriundas da comunicação de massa e da comunicação direta feitas pelas instituições. A esse processo de comunicação, Grönroos (1993) chama de círculo de comunicação. Segundo o autor, esse círculo de comunicação constitui-se da comunicação boca a boca, de expectativas, de interações e de experiências. A partir da mensagem comunicada boca a boca, geram-se expectativas em relação à instituição (produtos, serviço, atendimento...), as quais serão ou não confirmadas numa possível interação com a instituição e, decorrente dessa interação, estabelece-se uma experiência, que corroborará ou não a expectativa, iniciando-se novamente o círculo. Por ilação, percebe-se que nas quatro fases desse processo (comunicação boca a boca, expectativa, interação e experiência) são construídas imagens da instituição, sejam elas positivas ou negativas. No entanto, considerando-se que o círculo nem sempre se completa, tem-se que os destinatários da mensagem comunicada podem ser clientes existentes (círculo completo) ou em potencialidade (círculo não completo), os quais não irão manter contato com a instituição necessariamente. Tomado este último aspecto, a imagem institucional que tende a se formar e a se firmar no imaginário das pessoas é a que foi passada boca a boca, pois, conforme já citado anteriormente, o emissor da mensagem boca a boca é naturalmente acreditado pelas pessoas e tende a se multiplicar. Grönroos (1993) afirma que se a mensagem sobre a imagem da 28 instituição passada boca a boca for negativa, tende a se propagar com maior velocidade e em maior quantidade do que se a mensagem for positiva, donde alerta para a importância da comunicação boca a boca ao processo de comunicação e, conseqüentemente, de formação da imagem institucional. Outro aspecto relevante ao processo de formação da imagem institucional, abordado tanto por Grönroos(1993) quanto por Neves (2000), é o da comunicação planejada e da comunicação não planejada. Para esses autores, nem todas as comunicações mantidas com os diversos públicos são planejadas pela instituição; o que não quer dizer, segundo Grönroos (1993, p.204), que as comunicações planejadas sejam necessariamente formais e estruturadas, “aquelas que parecem que o vendedor decorou o texto”. Tanto Grönroos (1993) quanto Neves (2000) vinculam a formação da imagem institucional ao processo de comunicação, planejada e não planejada. Estabelecem como necessário a uma boa comunicação e, conseqüentemente, a uma boa imagem, o gerenciamento por parte da instituição das comunicações com seus públicos. A esse gerenciamento, Grönroos (1993) chama de gerenciamento da comunicação total e Neves (2000), de gerência da comunicação simbólica ou comunicação integrada. Neste trabalho, por se considerar mais relacionado ao objetivo da pesquisa, quer-se apresentar os itens do gerenciamento da comunicação simbólica apresentados por Neves (2000), nos quais, segundo o autor, a imagem institucional tem supedâneo. Sugere-se, no entanto, a leitura da obra de Grönroos (1993) sobre esta temática. Para Neves (2000) os itens que constroem e fortalecem a cara da empresa nas mentes das pessoas, ou seja, a imagem institucional, são elementos constitutivos da identidade da própria instituição, e são esses que devem ser gerenciados. Ao apresentar os itens propostos pelo autor, sintetizando a sua idéia, faz-se aqui um paralelo lacônico com o objeto da pesquisa, um paralelo entre a relação de cada item de identidade institucional com o gerenciamento da imagem da Polícia Civil. São eles: História da empresa: toda empresa possui um curriculum, no qual apresenta suas atividades, seus valores, seus comportamentos, sua ética, os quais são conhecidos ou percebidos pelas pessoas, e pesam no conceito dessa instituição. Se o histórico for positivo, serve como penhor à boa imagem; caso contrário, tem influência negativa sobre a imagem. Muniz (2001) afirma que as polícias brasileiras têm histórico de repressão social, representado no maniqueísmo: proteção do estado, opressão da sociedade. Essa postura levou-as a um progressivo afastamento da sociedade. A mesma autora pontua que a sobrevivência das polícias está condicionada ao retorno de seu foco de interesse à comunidade. Esse caráter de 29 negatividade faz parte do histórico das polícias, o que em muito contribui para a formação de uma imagem negativa. Ainda que o retorno à comunidade já se tenha iniciado, permanece no imaginário popular a visão da polícia como ente repressivo. Seus produtos e serviços: há uma relação direta entre produtos e serviços de qualidade, com uma instituição de qualidade, ou seja, de uma instituição de qualidade, esperam-se produtos e serviços de qualidade. Se a instituição quer ser percebida positivamente, deve apresentar produtos e serviços de qualidade. Ser eficiente e eficaz: fazer bem feito e com resultados e, segundo Neves (2000), em todos os atributos, tais como modernidade, criatividade etc. Trazendo a questão ao aspecto policial, encontra-se um desafio à polícia brasileira, o qual, segundo Muniz (2001), é o de estabelecer parâmetros sistemáticos de medição da eficácia e da qualidade dos serviços, pois, segundo a autora, não há indicadores capazes de fazer essa medição, restando prejudicado, portanto, uma avaliação mais sistêmica da qualidade e eficácia dos produtos e serviços policiais. Em algumas pesquisas realizadas no Brasil, pode-se perceber, ainda que não seja um processo sistemático, o grau de avaliação da qualidade das atividades policiais. Beato e Paixão (1997), em Minas Gerais, concluíram que 23% das vítimas de crimes afirmam não acreditar na polícia, ou seja, não acreditam no serviço investigativo e preventivo da polícia. Outra pesquisa, realizada por Ferreira (2002) no Rio de Janeiro, obteve como resultado que 2/3 dos entrevistados não confiam na polícia. Por conseguinte, essa parcela da população não percebe qualidade nos serviços policiais. Em pesquisa mais detalhada no que se refere às avaliações da comunidade sobre a qualidade dos produtos e serviços policiais, Cardia (2003) obteve informações bastante pertinentes a esta temática junto à comunidades do Estado de São Paulo. No tocante à estruturação da polícia civil paulista, os integrantes da pesquisa percebiam haver desvio de funções nas atividades policiais, os quais ficavam confinados em Delegacias de Polícia exercendo atividades carcerárias, que não eram atributos de suas funções. Percebiam, igualmente, a falta de equipamentos essenciais, como computadores e impressoras, e a desarticulação entre os trabalhos realizados pelas polícias civil e militar, resultando na falta de cooperação entre essas corporações policiais. Esses resultados chamam atenção à importância dada à qualidade dos produtos e serviços prestados pela polícia, seja na falta de confiança, seja na percepção dos problemas estruturais existentes e que impedem a boa qualidade nos serviços e produtos. Produtos e 30 serviços que não imprimem confiança e a percepção de deficiências estruturais básicas, marcam fortemente a imagem institucional. Ainda que os resultados dessas pesquisas não se refiram à polícia catarinense, os problemas lá evidenciados não são estranhos às polícias brasileiras. Perfil dos seus clientes: os clientes também podem gerar percepções que se associam ao estigma ou preconceito sociais pertinentes a classes sociais. No caso policial, a gama de clientela é variada, mas se concentra nas classes menos favorecidas econômica e socialmente. Silva (2001), em artigo publicado, faz distinção, no âmbito do atendimento policial, entre pessoas, indivíduos e elementos. Afirma que as pessoas detêm os privilégios econômico-sociais e são bem atendidas; os indivíduos precisam lutar para ter seus direitos respeitados e elementos são os que perderam as prerrogativas de cidadãos e são alvos de abusos de poder e de injustiças. Considerada essa estratificação social numa leitura atual da ação policial, principalmente das polícias civis e militares, dir-se-ia que os clientes cotidianos são os elementos e, mais raramente, os indivíduos. Não atinge as pessoas. Essa realidade também contribui para a formação da imagem da instituição policial. Comportamento dos seus dirigentes: é direta a associação da imagem do dirigente, diretor, chefe, presidente, seja qual for a denominação, com a imagem da instituição. Nesse aspecto, Neves (2000) associa sobretudo como referencial ao público interno, aos funcionários. São critérios de percepções a honestidade, a seriedade, a sociabilidade, entre outros atributos do dirigente. Silva (2001a) afirma que o maior interesse dos executivos policiais concentra-se na manutenção do status quo conquistado e que a inserção de mudanças estruturais implica em desconforto e, portanto, é rechaçada por tais executivos. Afirma que os chefes policiais vêem a instituição como uma máquina, a qual não precisa mais do que uma básica manutenção para se manter. Posturas como essas, ainda que não estejam generalizadas no comando policial, implicam em imagens negativas, tanto no plano interno – servidores policiais – quanto no plano externo – comunidade. Atitude dos empregados: da mesma forma que o comportamento do dirigente é referencial para a formação da imagem, o agir dos empregados é percebido e associado com a instituição. Se o empregado atende mal, a instituição poderá ser vista como ruim; se o atendimento é bom, a instituição poderá ser vista com qualidade. Neves (2000, p.161) apresenta como requisitos comportamentais dos empregados, que interferem positivamente na formação da imagem institucional, o bom tratamento aos clientes, “educação, boasmaneiras, cortesia, atenção, estar – ou parecer estar – de bem com a vida. E a permanente atitude de resolver o problema do cliente ou outro interlocutor.” 31 Nesse sentido, oportuno novamente o resultado da pesquisa de Cardia (2003), no qual restou evidenciada a falta de preparo dos policiais para o atendimento do público que acorre às Delegacias. Há relatos de pessoas que se sentiram humilhadas ou como se tivessem atrapalhado as atividades policiais com sua presença; relatos de policiais que conversavam entre si enquanto a pessoa que demandava os serviços ficava esperando; relatos de falta de informações básicas e de desmotivação. Na mesma linha, Silva (2000) ressalta o treinamento recebido pelo policial, que identifica como direcionado para o trato com o crime e com os criminosos e praticamente nulo quanto ao relacionamento com as pessoas que se constituem a maioria em seu cotidiano: vítimas, testemunhas ou outras que buscam informações. Ainda que este treinamento seja diferente nos vários Estados brasileiros, ou que as constatações obtidas na pesquisa coordenada por Cardia (2003) não se verifiquem na sua totalidade em todas as instâncias do serviço policial, são condições que fazem parte da realidade policial e denotam a falta de efetivo foco no bom atendimento. É uma questão preocupante, tanto no aspecto da cidadania quanto de formação da imagem institucional. A propaganda: deve estar relacionada com a imagem desejada pela instituição e em conformidade com o público alvo, seus costumes, cultura etc. Nassar e Figueiredo (2004), conforme já citado, mencionam a propaganda como linguagem dourada. No entanto, estes autores não descaracterizam a importância da propaganda, antes chamam atenção ao hiato que na maioria das vezes se estabelece entre a propaganda e a experiência do produto ou do serviço. A propaganda tem a capacidade de se propor a essa faceta. Essa mesma preocupação é mencionada em Neves (2000), ao afirmar que não é boa estratégia querer ser, sem realmente ser; querer ter, sem realmente ter. Ou seja, há a necessidade de que o parecer ser seja complemento do ser e não um atributo sem correspondência na realidade. Também Grönroos (1993, p.217) menciona que “quando há incoerência entre o desempenho real e a imagem comunicada, a realidade vence. A comunicação da empresa é percebida como não sendo digna de confiança, o que prejudica ainda mais a imagem.” A atividade policial, por se prestar a interesses político-partidários, entre outros tantos interesses, sobre os quais não cabe abordagem neste estudo, fica à mercê de propagandas que, na linguagem figurada de Neves (2000, p.25), muitas vezes tentam “pintar o urubu de verde-e-amarelo e tentar vendê-lo como papagaio”. Concentrar atenção nesse item é fundamental na formação da boa imagem institucional da polícia. 32 Parcerias: Nesse aspecto, Neves (2000) chama atenção para a qualidade dos parceiros, os quais devem transmitir a mesma austeridade que a instituição deseja ser portadora. Caso contrário, podem, inclusive, pôr em dúvida a credibilidade da instituição. A atividade policial brasileira, por seu processo histórico, gerou um afastamento entre a polícia e a comunidade, conforme já mencionado. Em decorrência dessa postura, a polícia faz poucas parcerias, ensimesmando-se numa atitude de avestruz – em alusão à alegoria de Silva (2001a) –, colocando a cabeça no buraco e não interagindo com a sociedade civil organizada. Para Muniz (2001), um pressuposto da polícia moderna reside no fato de a polícia estar a serviço do público e este, por sua vez, ser a própria polícia. Passa a idéia de total interação entre polícia e comunidade, ao ponto desta ser a própria polícia, restando evidente a intensidade da parceria necessária entre ambas. Por outro lado, experiências novas vêm surgindo nas polícias brasileiras, na esteira das polícias internacionais, sendo uma delas a filosofia de Polícia Comunitária, com experiências positivas em várias localidades brasileiras, conforme narrado no livro de Marcineiro e Pacheco (2005, p.91), o qual ressalta que “o modelo de Polícia Comunitária tem como um de seus fundamentos a relação estreita entre a Polícia e os membros e instituições da comunidade”, ou seja, o de estabelecer parcerias. É um bom caminho para a construção da boa imagem policial. Programação visual: esse aspecto chama atenção pela simplicidade e ao mesmo tempo pela importância: todas as instituições têm seus símbolos e cores que as identificam. Neves (2000), no entanto, afirma que uma confusão na apresentação desses itens também gera confusão na percepção produzida e conseqüentemente na imagem institucional. Pertinente a esse aspecto, o que se percebe nas polícias catarinense – civil e militar – é um amálgama de cores, dísticos, desenhos e emblemas, tanto na identificação das unidades policiais quanto em viaturas e em uniformes. Essa diferenciação nos elementos que identificam visualmente a polícia pode induzir à construção de uma imagem de desorganização, desentendimentos e falta de gerenciamento na instituição. Referindo-se ao tema, Neves (2000, p.162) afirma que “todas as coisas que usam esses elementos devem ser analisadas por especialista...”, ou seja, tudo o que comporta programação visual deve passar pelo crivo de especialistas. Relacionamento com públicos: nesse item, Neves (2000) não se refere especificamente aos clientes, mas com os diversos outros públicos, tais como mídias (meios de comunicação social), a comunidade, autoridades, formadores de opinião (jornalistas, igrejas...). O atendimento, o relacionamento, a transparência no trato com esses públicos e a 33 participação em problemas comuns é visto como oportunidade de se produzir uma boa imagem institucional. Destaca-se, neste item, o papel da imprensa, escrita e televisada, que tem participação relevante no contexto de formação da imagem institucional. Principalmente para a polícia, este aspecto é muito importante, até porque como já visto, a história policial revela um afastamento entre a polícia e esses públicos. Ainda que a mídia, compreendida como os meios de comunicação social, segundo Bordenave (1992), representa pequena parte de nossa comunicação total, ela se mostra um referencial bastante influente junto à sociedade quando a questão é a construção ou desconstrução da imagem policial. “A crescente exposição na mídia das mazelas das organizações policiais tem conduzido a um sentimento crescente, entre autoridades públicas e na população, de que a estrutura atual das polícias brasileiras deve ser profundamente modificada” (POLICIAMENTO COMUNITÁRIO, 2002, p.114). De fato, a mídia tem forte impacto sobre a opinião pública. De forma assemelhada, o relacionamento com os demais públicos, diga-se, o bom relacionamento, é de suma importância para a construção de uma imagem positiva da polícia. Arquitetura dos prédios: a estética dos prédios: pinturas, luminosidade, limpeza, transparência, tem poder de despertar no imaginário das pessoas conceitos que influenciam fortemente na formação da imagem. Um exemplo é o caso citado por Nassar e Figueiredo (2004), em que os empregados da empresa de tintas Coral embelezaram as fachadas dos prédios da fábrica. Fizeram-no porque entenderam qual era a essência do produto: a beleza. Da pesquisa realizada por Cardia (2003), obteve-se algumas respostas que vem ao encontro dessa temática. Houve reclamações das pessoas entrevistadas quanto à precariedade das instalações físicas das unidades policiais paulistas, principalmente pertinentes a banheiros e locais adequados para se aguardar o atendimento: as salas de espera. Tais problemas não são desconhecidos da realidade da polícia catarinense e contribuem sobremaneira para a formação negativa da imagem policial.
Compartilhar