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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA DISCIPLINA DE EPIDEMIOLOGIA I Roteiro de estudo elaborado pelos monitores da disciplina de Epidemiologia – Candice Esmeraldo, Filipe Marinho, João Victor Cabral, Lívia Freire, Luciana Ami, Marcelo Gallo, Mariela Costa e Victor Oliveira. Professora: Garasiela Piuvezam Natal – RN 10/03/2013 1-‐ O conjunto de processos interativos compreendendo “as interações do agente, do suscetível e do meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo, até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte” é a definição para: a) Ambiente ou entorno. b) História natural da doença. c) Multifatorialidade. d) Processo saúde doença. e) Epidemiologia. 2-‐ De acordo com a Constituição Brasileira de 1988, a saúde é um A) direito de todos, garantido por políticas sociais e econômicas. B) completo bem-‐estar físico, psíquico e social, não apenas a ausência de doenças. C) direito do consumidor, assegurado pela regulamentação do mercado. D) dever do Estado, que deve garanti-‐la através do financiamento da assistência médica. 3-‐ Considere as seguintes afirmativas, a respeito do Processo Saúde-‐Doença. I. A saúde deve ser entendida, em sentido mais amplo, como componente da qualidade de vida. Assim, não é um “bem comum”, mas um “bem de troca”. Cada I um (nem sempre todos) pode ter assegurado o direito à saúde, a partir da aplicação e da utilização de toda a riqueza disponível, dos conhecimentos e da tecnologia desenvolvida pela sociedade nesse campo. II. Em termos da determinação causal, pode-‐se dizer que o processo saúde-‐doença representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona os estados de saúde e de doença de uma população, modificando-‐se nos diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. III. Reconhecendo a abrangência e a complexidade causal, saúde e doença podem ser consideradas de causação aleatória. IV. Em relação ao processo saúde-‐doença, deve-‐se considerar também os conceitos de que é ser ou estar doente ou que é ser ou estar saudável, que envolvem, como IV base de discussão preliminar e de compreensão, as categorias “representação dos indivíduos” e “representação dos profissionais” ou, mesmo, das instituições de saúde. A opção em que todas as afirmativas estão corretas é: A) II e IV B) I, II e IV C) I, III e IV D) II e III 4-‐ Qual das alternativas a seguir contém exemplos de variáveis demográficas? a) Idade, renda e instrução b) Sexo, grupo étnico e idade c) Ocupação, hábito de fumar e uso de drogas d) Idade, grupo étnico e estado civil 5-‐ São características de uma variável independente: a) Ser caracterizada como um fator causal e, portanto, uma variável antecedente. b) Ser caracterizada como um fator causal e, portanto, uma variável consequente. c) Ser caracterizada como o efeito e, portanto, uma variável antecedente. d) Ser caracterizada como o efeito e, portanto, uma variável consequente. 6-‐ Em relação ao conceito de epidemiologia, pode-‐se afirmar que: a) É uma área da ciência com a função estrita de criar evidências para uso clínico b) É uma área da ciência que estuda o processo saúde-‐doença e seus determinantes no nível individual c) É uma área da ciência que estuda o processo saúde-‐doença e seus determinantes no nível coletivo d) É uma área da ciência que tem a função de definir estatisticamente as doenças 7-‐ A alternativa que contém usos não correspondentes à área da epidemiologia é: a) Determinação de incidência e prevalência da Tuberculose b) Definição do método diagnóstico mais apropriado para Tuberculose c) Elaboração de medidas para controle da Tuberculose d) Leitura crítica de ensaios clínicos randomizados sobre a Tuberculose e) Nenhuma das alternativas anteriores 8-‐ Sobre a identificação dos perfis e fatores de risco através da epidemiologia, tanto na medicina clínica quanto nos serviços de saúde, analise: I. Foi uma prática incorporada à epidemiologia moderna que se tornou bastante útil no estudo das doenças crônicas, uma vez que não buscará exclusivamente a causa das doenças mas sim a sua associação com determinados fatores. II. Pode ser utilizada para identificar grupos e populações vulneráveis, auxiliando no planejamento e avaliação das ações em saúde pública III. É bastante útil na medicina diagnóstica e em programas de rastreamento de doenças Estão corretas: a) Apenas I b) I e II c) II e IIId) I e III e) I, II e III 9-‐ Marque a alternativa INCORRETA a) A medida de Risco trata-‐se de um coeficiente. b) Risco e fator de risco não são sinônimos. c) O conceito de Risco poderá ser empregado a nível individual para determinar o futuro de alguém exposto a determinado fator d) A definição epidemiológica de risco compreende três elemento que são a ocorrência dos eventos relacionados à saúde, a referência populacional e a referência temporal e) No cálculo de risco, o denominador nunca poderá ser igual ao denominador 10-‐ Suponha que em determinado município há 847.543 habitantes, dentre os quais há um total de 399.500 homens e 448.043 mulheres. Nesse município, houve um total de 200 casos de câncer de próstata durante o ano de 2012. Com base nisso, calcule o risco de um idoso do sexo masculino desenvolver essa patologia: a) 0,24/1000 b) 0,50/1000 c) 0,45/1000 d) Impossível calcular com os dados fornecidos 11-‐ A história Natural da doença é um conjunto de processos interativos entre agente, hospedeiro e meio ambiente, que são capazes de gerar estímulo patogênico. Neste conceito, o horizonte clínico pode ser definido como: A) o momento em que surgem os sinais e sintomas da doença, que pode ser diagnosticada B) o conjunto de atividades diagnósticas e terapêuticas da prática clínica C) a fase do raciocínio clínico que vai permitir a definição do tratamento D) o limite entre o período de pré-‐patogênese e o de patogênese 12-‐ Considerando-‐se o modelo de História Natural da Doença, é uma intervenção classificada como prevenção primária: A) a realização de campanhas de hanseníase na televisão B) a vacina BCG para tuberculose pulmonar cavitária C) a instalação de esgotamento sanitário D) o auto-‐exame de mama 13-‐ Com base no modelo da história natural das doenças proposto por Leavel e Clarke, constitui uma ação de prevenção secundária: A) Programas de melhoria habitacional. B) Campanhas de prevenção contra acidentes. C) Inquéritos populacionais para descoberta de casos. D) Programas de aconselhamento genético. E) Fisioterapia. 14-‐ A epidemiologia descritiva evidencia, de forma quantitativa, que o processo saúde-‐doença está distribuído desigualmente na população. Sobre a epidemiologia descritiva, é correto afirmar: A) Estuda a ocorrência das doenças em função de variáveis ligadas a pessoa, ao espaço e ao tempo, com o objetivo de identificar diferenças entre os grupos populacionais. B) Sobre as variáveis relacionadas às pessoas, são utilizados fatores demográficos como idade, gênero, estado civil, grupo étnico, ocupação, nível de instrução e socioeconômico, não fazendo parte o estado de vida ou hábitos das pessoas. C) A respeito das variáveis relacionadas ao lugar, a epidemiologia descritiva detém-‐se ao espeço físico ou ambiental, não se detendo ao espaço enquanto processos sociais, que está mais relacionado à antropologia. D) Quanto a variável tempo, existem, dentre outros, alguns conceitos, que são: variação atípica, variação cíclica e variação sazonal. Na primeira, um dado padrão de variação é repetido; na segunda, o fenômeno é periódico, repetindo-‐se sempre na mesma estação do ano; e na terceira, não se evidencia coerência. E) Na variável lugar, o recorte das unidades a serem comparadas pode ser geográfico (relevo, solo, clima, vegetação, fatores ambientais artificiais) e geopolítico. O recorte político-‐administrativo não faz parte do processo. 15-‐ O que é o processo saúde-‐doença? Qual o papel da epidemiologia do processo saúde-‐doença? 16-‐ Sobre o Processo Saúde-‐Doença, é correto afirmar: a) a saúde está relacionada apenas com a ausência de doença; b) ter saúde não está relacionada com ausência de doença; c) fatores socioeconômicos tem relação com o estado de saúde; d) uma boa rede de atendimento hospitalar garante ausência de doença. 17-‐ Cite algumas ações de promoção à saúde. 18-‐ Fale sobre o conceito de prevenção e suas três fases. Gabarito 1-‐ B Nessa questão, é importante atentar para a diferença entre os conceitos de processo saúde-‐doença e história natural da doença. O PSD admite gradações entre o estado saudável e o estado de enfermidade, e ultrapassa o conceito puramente biologicista da doença, levando em consideração os aspectos sociais, históricos e psicológicos que influem no adoecimento. Portanto, o estudo do PSD permite uma maior humanização das praticas em saúde, abandonando o olhar puramente tecnicista diante do ser humano. Com isso, propicia uma melhor qualidade de vida à população sendo atendida. O PSD, portanto, se constitui em um processo e não é algo estanque ou isolado. Para cada época histórica, uma determinada forma de conceber o PSD foi elaborada. A presença das doenças, então,era interpretada de formas diferentes e com maneiras distintas de conceber sua origem, terapêutica e cura. O homem, diante disso, produziu modelos explicativos de causalidades e elaborou concepções históricas múltiplas e heterogêneas que se reproduzem no tecido sócio-‐cultural. O PSD, então, é orientado por paradigmas, os quais são definidos como realizações científicas, universalmente reconhecidas, que, durante certo tempo, proporcionam modelos de problemas e soluções em uma comunidade científica. Os paradigmas, assim, permitem a compreensão da evolução do PSD e do pensamento epidemiológico. No caso, a história natural das doenças seria um desses paradigmas que permite, então, a compreensão da evolução do PSD. A partir do surgimento dos modelos unicausais, em decorrência do advento da Era Bacteriológica, há um isolamento do fator causal de seu contexto, uma homogeneização da população e a ausência da consideração de resistências a doenças (biológico-‐individuais ou sociais). Esses fatores limitam esse tipo de modelo e, por isso, foi preciso que outros modelos mais abrangentes fossem criados, os modelos multicausais, sendo um deles, o modelo da história natural da doença, abordado na questão. 2-‐ A Na questão acima, há um enfoque para o conceito de saúde. Revise-‐os e perceba a evolução desse conceito ao longo do tempo. 3-‐ A 4-‐ B Variáveis Demográficas Variáveis Sociais Variáveis Comportamentais Idade Sexo Grupo étnico Estado Civil Renda Ocupação Instrução Hábito de fumar Consumo alimentar Prática de exercício físico Uso de drogas 5-‐ A Variável Independente: Caracterizada como fator causal, causa presumida, é portanto, uma variável antecedente. Variável Dependente: Caracterizada como o efeito, resultante de uma variável independente, é portanto, uma variável consequente. 6-‐ C 7-‐ E 8-‐ E I à Para Almeida-‐Filho (1989), “é em torno do conceito de risco que a moderna pidemiologia vai-‐se estruturar, instaurando-‐se, a partir da incorporação deste conceito, um novo modelo explicativo: a Epidemiologia dos fatores de risco. Uma vez que o modelo de determinação causal das doenças, tão bem aplicado pela Epidemiologia dos modos de transmissão, não pode dar conta das doenças crônicas, como a hipertensão, o cancer, as doenças cardiovasculares, a Epidemiologia, a partir da utilização do conceito de risco, não procurará mais a causa e sim a associação de determinados fatores (os fatores de risco) com as patologias.” II e II à Na medicina clínica, o conceito de risco pode ser aplicado para predizer o desenvolvimento de doenças, auxiliar na detecção das causas das doenças, estabelecer a probabilidade da doença em testes diagnósticos, como também em programas de rastreamento. Já nos serviços de saúde, ele é capaz de identificar grupos e populações vulneráveis, identificar áreas prioritárias para ações governamentais e auxíliar no planejamento e avaliação dessas ações. 9-‐ C Assim como explicita a alternativa D, o conceito de risco tem como referência uma base populacional, não podendo ser aplicado em análises individuais. Lembrar que risco se refere a um valor número indicativo de probabilidade enquanto fator de risco representa uma característica ou atributo de determinado grupo populacional (chamado grupo de risco). 10-‐ D Lembrar que para todos os coeficientes, é importante excluir do denominador as pessoas não expostas ao risco. Não foram fornecidos o número de habitantes idosos do sexo masculino, o qual deveria ser o denominador do cáculo. 11-‐ A Questão conceitual. O horizonte clínico é o limite entre a fase sintomática e assintomática da doença. Na fase assintomática, a doença já está instalada, já há dano tecidual, mas este é insuficiente para produzir no sujeito os sintomas. Por exemplo: um nódulo de mama, detectado ocasionalmente ao exame do toque. A doença pode ser diagnosticada também nesse período, sendo aí o que se chama de “diagnóstico precoce”. As doenças, nesse estágio, estão no que se chama de “período subclínico”. Na fase sintomática já houve dano tecidual importante e o sujeito já apresenta sintomas. Geralmente, é nessa fase que a maioria das doenças é diagnosticada, infelizmente. Exemplo: após décadas de exposição ao tabagismo, o sujeito desenvolve carcinoma pulmonar de células escamosas. Inicialmente, esse processo não produzirá qualquer sintoma no paciente; com o desenvolvimento do processo neoplásico, ocasionalmente será superado o horizonte clínico da doença; ela estará em tal estágio que produzirá sintomas no sujeito, tais como dispneia, hemoptise ou sintomas decorrentes da síndrome paraneoplásica ou mesmo de metástases. Atenção para não confundir com a alternativa “E”. O período pré-‐patogênico é a fase da exposiçãoaos fatores relacionados à doença, mas sem ela estar instalada. Por exemplo: as décadas de exposição ao tabagismo do paciente acima. O horizonte clínico começa no momento em que surge a doença e vai até o momento que ela produz sintomas e sinais clínicos importantes, já num estágio avançado da doença. 12-‐ C 13-‐ C Sobre a questão 12 e 13: Como vocês devem saber, o modelo de Leavel e Clark divide a prevenção das doenças em três níveis de atuação: • Prevenção primária: atua no período pré-‐patogênese, fazendo a promoção da saúde e proteção específica. Nesse tipo de prevenção ocorre interferência sobre o ambiente, impedindo que o agente susceptível seja exposto ao estímulo da doença. Exemplos: campanhas informativas, incentivo ao uso de camisinha, instalação de esgotamento sanitário, programas de melhora habitacional, programas de aconselhamento genético. Percebam que em todas essas medidas o contato do sujeito com o agente causal das doenças é evitado. • Prevenção secundária: atua já no período da patogênese, isto é, quando já houve interação do agente com o estímulo da doença, mas antes que se desenvolva a incapacidade resultante da doença. Consiste no diagnóstico precoce e tratamento imediato da doença e na limitação da incapacidade. Exemplos desse tipo de prevenção é o auto-‐exame da mama e as campanhas de vacinação (cuidado para não confundir: vacinação não é uma medida de prevenção primária, uma vez que não visa alterar o ambiente, e sim impedir que a doença se instale ao sensibilizar o sistema imunológico do sujeito), realização de campanhas de Hanseníase na televisão (outro detalhe: as campanhas de Hanseníase visam o diagnóstico precoce, e não impedem a transmissão da doença, como é o caso das campanhas pelo uso da camisinha, vacina de BCG, Inquéritos populacionais para descoberta de casos. • Prevenção terciária: atua na Reabilitação do Sujeito, isto é, com doença já em estágio avançado, em que houve dano tecidual importante. Exemplo: fisioterapia. 14-‐ A 15-‐ Pode-‐se dizer que o processo saúde-‐doença representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, que se modifica nos diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. A epidemiologia surge como instrumento científico com foco no planejamento, administração e avaliação das ações de saúde. E tem o papel de propor medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação das doenças. 16-‐ C Lembrar que a saúde é garantida por vários fatores: econômicos, sociais, boa rede básica de atendimento. “Como alternativa para a superação dos modelos causais clássicos, centrados em ações individuais, como os métodos diagnósticos e terapêuticos, a vacinação, a educação em saúde, ainda que dirigidos aos denominados grupos de risco, haveria que privilegiar a dimensão coletiva do fenômeno saúde-‐doença, por meio de modelos interativos que incorporassem ações individuais e coletivas. Uma nova maneira de pensar a saúde e a doença deve incluir explicações para os achados universais de que a mortalidade e a morbidade obedecem a um gradiente, que atravessa as classes socioeconômicas, de modo que menores rendas ou status social estão associados a uma pior condição em termos de saúde. Tal evidência constitui-‐se em um indicativo de que os determinantes da saúde estão localizados fora do sistema de assistência à saúde. (EVANS; STODDART, 2003; SCHRAIBER; MENDES-‐GONÇALVES, 1996 apud OLIVEIRA; EGRY, 2000)”. 17-‐ Inclusão social, promoção de equidade, diagnóstico, tratamento de doenças, ações de prevenção. Dica: pensar em todas as ações que o governo/SUS podem realizar para melhorar a qualidade de vida/saúde da população. 18-‐ O conceito de prevenção é definido como “ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença”. A prevenção primária é a realizada no período de pré-‐patogênese. O conceito de promoção da saúde aparece como um dos níveis da prevenção primária, definido como “medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima”. Um segundo nível da prevenção primária seria a proteção específica “contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente”. A fase da prevenção secundária também se apresenta em dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce e o segundo, limitação da invalidez. Por fim, a prevenção terciária que diz respeito a ações de reabilitação.
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