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Consumo alimentar de crianças com base na pirâmide alimentar brasileira infantil

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CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS | 633
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005 Revista de Nutrição
1 Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana, Instituto de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Av. Pedro II, 260, 22410-002, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Correspondência para/Correspondence to:
R.M.S. BARBOSA. E-mail: <roseanesampaio@ig.com.br>.
2 Fundação Ataulpho de Paiva. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3 Acadêmicas, Instituto de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universiade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
4 Instituto de Nutrição, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, RJ, Brasil.
5 Instituto de Nutrição, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, RJ, Brasil.
ORIGINAL | ORIGINAL
Consumo alimentar de crianças com base
na pirâmide alimentar brasileira infantil
Food intake by children based on the Brazilian
food guide pyramid for young children
Roseane Moreira Sampaio BARBOSA1,2
Carolina CROCCIA3
Carolina Guimarães do Nascimento CARVALHO3
Viviane Carvalho FRANCO3
Rosana SALLES-COSTA4
Eliane Abreu SOARES4,5
R E S U M O
Objetivo
Este estudo tem como objetivo comparar o consumo alimentar durante a semana com o do final de semana
de vinte crianças de uma creche filantrópica, com base na pirâmide alimentar de crianças brasileiras de dois e
três anos, proposta por Philippi.
Métodos
A avaliação sociodemográfica foi realizada por meio das variáveis: renda mensal familiar, escolaridade,
condições de moradia e saneamento básico. Para a avaliação dietética foram utilizados os métodos de
pesagem direta de alimentos (na creche) e registro alimentar (na residência) após três meses de freqüência
da criança na creche. Os alimentos e preparações consumidos pelas crianças durante a semana e no final
de semana foram transformados em porções em função dos oito grupos de alimentos correspondentes,
conforme recomendado por Philippi. Posteriormente, compararam-se as médias das porções consumidas
no final de semana com o consumo semanal de cada grupo de alimentos, utilizando o teste “t” de
Student para verificar significância estatística entre os grupos, considerando o nível de significância
de 5%.
634 | R.M.S. BARBOSA et al.
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005Revista de Nutrição
Resultados
Observou-se uma diferença significativa (p<0,05) entre a média de porções de carnes, leguminosas, legumes
e frutas consumidos nos dois momentos avaliados.
Conclusão
A dieta do final de semana é mais inadequada do que a dieta oferecida às crianças durante a semana.
Termo de indexação: consumo alimentar, criança, pirâmide alimentar, nutrição da criança.
A B S T R A C T
Objective
The objective of this study was to compare the food consumption during the week of twenty children at a
nonprofit day care center, with that consumed at the weekend, based on the Brazilian Food Guide Pyramid for
two to three year old children proposed by Philippi.
Methods
The social demographic evaluation was based on the following variables: income, educational level, housing
and sanitation conditions. The food intake was measured by direct weighing of the food (in the day care
center) and registry of the food consumed (at home), after three months attendance of the child at the day care
center. The food and meals consumed by the children during the week and at the weekend were transformed
into portions based on the eight corresponding food groups, according to Philippi. The average daily
consumption of each food group, in portions, at the weekend, was then compared with that consumed on
weekdays using the Student “t” test, considering a 5% significance level.
Results
A significant difference (p<0.05) was observed between the average number of portions of meat, legumes,
vegetables and fruits consumed in the two periods evaluated.
Conclusion
The results suggest inadequacy of the diet consumed by the children at the weekend when compared to that
consumed during the week.
Indexing Terms: food consumption, child, food guide pyramid, child nutrition.
I N T R O D U Ç Ã O
Os guias alimentares têm sido utilizados
para descrever as recomendações quantitativas e
qualitativas dos padrões dietéticos baseados em
evidências científicas1. De acordo com a Food and
Agriculture Organization/World Health
Organization2, “os guias alimentares oferecem
recomendações dietéticas através de comunicados
à população para promover o bem-estar
nutricional”.
O primeiro guia alimentar foi proposto por
Caroline Hunt, no ano de 1916, e traduz as
recomendações de uma dieta saudável. Por volta
de 1940, após as novas recomendações do NRC
de 1941, foi desenvolvido um guia alimentar
popularmente chamado Basic 7, que tinha a
intenção de orientar as pessoas a se alimentarem
sozinhas, porém era muito complexo e ainda
faltavam as porções dos alimentos. Em 1956,
especialistas em nutrição publicaram um novo guia
alimentar, o Basic 4, com números de porções
recomendadas dos quatro grupos de alimentos:
leite, carnes, vegetais e frutas e pães e cereais3.
A partir da década de 1970, pesquisadores
associaram o alto consumo de certos alimentos
com o aparecimento de determinadas doenças3.
Foram elaborados diversos guias alimentares e,
em 1979, pela primeira vez, foi acrescentado o
quinto grupo com alimentos que forneciam
energia a partir de gorduras e açúcares de adição
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS | 635
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005 Revista de Nutrição
e álcool, chamando a atenção para a necessidade
do seu consumo moderado3.
Nos anos 1980 e 1990 enfatizaram-se não
somente as quantidades recomendadas dos
diferentes grupos de alimentos, mas também o
aspecto qualitativo baseado na sua composição
em nutrientes4.
O mais recente guia alimentar, a pirâmide
alimentar, foi desenvolvido pelo Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 19925,
sendo representado graficamente por uma
pirâmide e tendo como princípio a variedade,
moderação e proporcionalidade. Amplamente
reconhecida como uma ferramenta de educação
nutricional, a pirâmide é utilizada para monitorar
o consumo atual e recomendado dos cinco
maiores grupos de alimentos6. A forma gráfica de
distribuição de alimentos permite uma fácil
compreensão por parte da população, fazendo
com que haja o consumo de vários alimentos e
em quantidade suficiente para juntos comporem
uma dieta adequada nutricionalmente7 .
Em 1999, o USDA realizou uma adaptação
da pirâmide alimentar para crianças de dois a seis
anos de idade com o objetivo de focar as
preferências alimentares e as recomendações
nutricionais para essa faixa etária8. Sabe-se que,
nessa fase, a criança deve consumir a quantidade
de alimentos necessária para alcançar seu
potencial de crescimento. O atraso no crescimento
devido às circunstâncias nutricionais e ambientais
está associado com maiores taxas de morbimor-
talidade, com dificuldades no aprendizado e com
menor capacidade física e intelectual na vida
adulta9.
Nessa faixa etária há necessidade de um
maior cuidado em relação à alimentação,
principalmente pelo fato de ocorrer a incorporação
de novos hábitos alimentares que implica o
conhecimento de novos sabores, texturas e cores,
experiências sensoriais que irão influenciar
diretamente o padrão alimentar a ser adotado pelo
infante10.
Considerando a complexidade dos fatores
envolvidos na alimentação da criança e a dificulda-
de na oferta de uma dieta adequada, Philippi
et al.10 desenvolveram um instrumento para
orientação nutricional com base na proposta da
pirâmide alimentar Norte-Americana, adaptada
às crianças brasileiras de dois e três anos de idade.
Essa pirâmide foi baseada em uma dieta padrão
para essa faixa etária, contendo os alimentosmais
comumente consumidos10.
Ela é útil no monitoramento nutricional
para verificar as diferenças entre o consumo
alimentar atual e o recomendado. Vem sendo
utilizada como uma ferramenta de educação
nutricional, além de avaliar os padrões do
consumo dietético das populações10. Este estudo
tem como objetivo comparar o consumo alimentar
durante a semana na instituição, complementado
com o consumo na residência com a dieta do final
de semana de crianças pertencentes a uma creche
filantrópica.
M É T O D O S
O desenho deste estudo é transversal e os
dados foram coletados pela própria pesquisadora
e três estagiárias treinadas. Participaram da
pesquisa todas as crianças (n=20), de dois e três
anos, de ambos os sexos, matriculadas no ano de
2003 em uma creche filantrópica na Ilha de
Paquetá, Rio de Janeiro. Esta pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto
de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira
da Universidade Federal do Rio de Janeiro sob o
nº 04/03.
A avaliação socioeconômica foi deter-
minada com a aplicação de um questionário
constando de informações sobre renda mensal
familiar, escolaridade do responsável, condições
de moradia e saneamento básico.
A avaliação dietética do dia da semana
(creche + residência) foi realizada após três meses
de freqüência da criança na creche. Foi analisada
a composição nutricional das refeições consumidas
durante dois dias não consecutivos na creche
(desjejum, colação, almoço, merenda e jantar)
636 | R.M.S. BARBOSA et al.
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005Revista de Nutrição
utilizando o método de pesagem direta de
alimentos11.
Para quantificar os alimentos consumidos
na creche, os alimentos sólidos foram pesados com
auxílio de uma balança digital da marca Plena
com capacidade de dois quilos, com escala de
um grama, e os líquidos foram medidos com
auxílio de recipientes graduados (com graduação
de 10mL e capacidade máxima de 250mL), sendo
todos os valores registrados em formulários
próprios. Ao final de cada refeição foram pesadas
as sobras alimentares individuais do prato ou
caneca de cada criança. Para a obtenção da sobra
de cada alimento das preparações fornecidas foi
considerado o peso da sobra proporcional ao peso
dos alimentos dessas preparações inicialmente
porcionadas na refeição. Após esse cálculo foi
obtido o consumo alimentar individual de cada
alimento, para cada criança, por meio da
fórmula: consumo alimentar individual= porção
oferecida - sobra alimentar individual.
Nesse período de dois dias, para estimar
outros possíveis alimentos e bebidas consumidos
pela criança em sua residência (antes e depois do
período de permanência na creche), foi solicitado
ao responsável o preenchimento do registro
alimentar, indicando, por meio de medidas
caseiras, os alimentos consumidos a fim de
complementar o consumo alimentar do dia.
Para complementar a informação do
consumo dietético semanal, foi realizado pelos
responsáveis o registro alimentar de um dia do
final de semana (FS) nas residências das crianças.
Após estimar o consumo alimentar durante
a semana e no final de semana, os alimentos e
preparações consumidos pelas crianças foram
transformados em porções em função dos oito
grupos de alimentos correspondentes (cereais,
vegetais, frutas, leguminosas, carnes, leite,
gordura e açúcar). Tais porções dos grupos de
alimentos consumidas, tanto no final de semana
quanto durante a semana, foram comparadas com
a pirâmide alimentar para crianças de dois e três
anos recomendada por Philippi10 para verificar
possíveis inadequações.
Para comparar o consumo do final de
semana com o consumo semanal de cada grupo
de alimentos, compararam-se as médias das
porções utilizando o teste “t” de Student para
verificar significância estatística entre os grupos,
considerando o nível de significância de 5%
(p<0,05). Os procedimentos de análise foram
realizados no programa STATA versão 6.0.
R E S U L T A D O S
Em relação às condições sociodemo-
gráficas das crianças, verificou-se que todas as
famílias residiam em casa de alvenaria com acesso
ao saneamento básico (água, esgoto e coleta de
lixo). Cerca de 40% das famílias eram constituídas
por cinco ou mais pessoas no mesmo domicílio,
70% tinham o pai como o chefe da família e em
90% das famílias a mãe era a pessoa que tinha
maior conhecimento sobre a saúde da criança.
Quanto à escolaridade, observou-se que 60% das
mães e 75% dos chefes de família possuíam o
ensino fundamental incompleto.
Quanto à distribuição da renda mensal
familiar segundo tercis, a amplitude variou de
R$200,00 a R$2.800,00, sendo a renda mensal
familiar per capita R$100,50 (1º tercil), R$145,28
(2º tercil) e R$277,5 (3º tercil) (Tabela 1).
Comparando o consumo durante a semana
com o do final de semana observa-se uma
diferença significativa (p<0,05) entre a média de
porções de carnes, leguminosas, frutas e legumes
(p<0,001). O consumo do grupo das carnes no
final de semana foi menor do que a porção
consumida durante a semana. O consumo de
leguminosas durante a semana foi maior do que
no final de semana. No grupo das frutas e
legumes, a porção consumida no final de semana
foi menor do que a recomendada pela pirâmide
alimentar brasileira, principalmente em relação à
porção de legumes. Apesar de o grupo das
gorduras e do leite ser menos consumido no final
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS | 637
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005 Revista de Nutrição
de semana e de o grupo dos cereais ser mais
consumido nesse período, as diferenças
encontradas não foram significativas.
Quanto à comparação entre as porções
consumidas e as porções recomendadas pela
pirâmide alimentar brasileira infantil10, observou-
-se que durante a semana a média do consumo
de açúcar e de feijão foi três vezes maior do que
Tabela 1.Distribuição das características sociodemográficas de
crianças matriculadas em uma creche filantrópica na
Ilha de Paquetá, Rio de Janeiro.
Tipo de construção
Alvenaria
Abastecimento de água
Rede pública com canalização
Rede pública e poço
Rede de esgoto
Rede pública
Coleta de lixo
Regularmente
Número de pessoas no domicílio
2
3
4
≥ 5
Chefe da Família
Pai
Mãe
Avó
Outros
Escolaridade do chefe
Fundamental incompleto
Fundamental 2º grau incompleto
Médio
Universitário
Pessoa que conhece a saúde da criança
Mãe
Tia
Escolaridade da mãe
Fundamental incompleto
Fundamental 2º grau incompleto
Médio
Superior completo
Tercis de renda mensal familiar
1º tercil - até R$500,00
2º tercil - R$501,00 a >R$800,00
3º tercil - R$>800,00
Características
20
18
2
20
20
1
7
4
8
14
1
1
4
15
2
2
1
18
1
12
3
4
1
6
7
7
n %
Crianças
100
85
15
100
100
5
35
20
40
70
10
5
15
75
10
10
5
90
5
60
15
20
5
30
35
35
Figura 1. Pirâmide alimentar infantil durante a semana.
Figura 2. Pirâmide alimentar infantil do final de semana.
o recomendado (Figura 1). A média do consumo
de carne e gordura foi adequada e a média dos
demais grupos alimentares (legumes, frutas, leite)
foi abaixo da recomendada. No final de semana
(Figura 2) o consumo de todos os grupos, com
exceção do grupo do açúcar e das leguminosas,
foi abaixo das porções recomendadas por
Philippi10.
638 | R.M.S. BARBOSA et al.
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005Revista de Nutrição
D I S C U S S Ã O
As práticas de alimentação são impor-
tantes determinantes das condições de saúde na
infância e estão fortemente condicionadas ao
poder aquisitivo das famílias, do qual dependem
a disponibilidade, a quantidade e a qualidade dos
alimentosconsumidos12.
A avaliação do consumo alimentar em
pesquisas destinadas a estabelecer condições de
saúde torna-se necessária, pois permite
caracterizar o nível de risco e a vulnerabilidade
da população às deficiências nutricionais, assim
como adequar ou propor medidas de intervenção
que garantam a saúde, particularmente no
segmento da população menor de cinco anos,
idade na qual a dieta constitui um dos fatores
determinantes da velocidade de crescimento e
desenvolvimento13.
Para avaliar o consumo alimentar deve-se
levar em consideração a variabilidade intra e entre
indivíduos, pois essa variação é um dos fatores
que reduzem a precisão do método para estimar
o consumo alimentar. Erros podem ocorrer em
estudos dietéticos que avaliam somente um dia
do consumo alimentar, pois os indivíduos não
consomem os mesmos alimentos todos os dias14.
A coleta do consumo alimentar das crianças foi
realizada durante três dias (dois dias da semana
e um dia de final de semana) e, de acordo com
alguns autores, esse período é suficiente para obter
o consumo alimentar médio de um grupo de
indivíduos15,16. Utilizou-se o método de pesagem
de alimentos para avaliar o consumo alimentar,
pois, segundo Menchú17, é um dos métodos mais
precisos para estimar o consumo usual.
No presente estudo (Tabela 2), observou-
-se que o consumo de açúcar foi três vezes maior
que a porção recomendada (uma porção) por
Phillippi et al.10, tanto durante a semana como
no final de semana, principalmente pelo alto
consumo de refrescos industrializados, refrige-
rantes, balas e açúcar de adição. Sabe-se que
esses refrescos industrializados não oferecem a
variedade de nutrientes encontrados em sucos
naturais, além de serem adicionados de açúcar18.
No estudo nacional, realizado em 1994, com 1810
crianças de dois a dezoito anos encontrou-se um
consumo médio de bebidas industrializadas de
150ml por dia19. Aquino & Philippi12 , estudando o
consumo infantil de alimentos industrializados,
encontraram um alto consumo de açúcar em
crianças com menor poder aquisitivo (1º quartil -
renda per capita R$59,19) e, de acordo com a
Associação Brasileira das Indústrias de
Alimentação, a produção de refrigerantes vem
apontando significativo aumento nos últimos
anos20,21. Nesta pesquisa encontrou-se um alto
consumo de açúcar em todos os tercis de renda.
Conforme dados do “Estudo multicêntrico sobre
consumo alimentar”, realizado nas cidades de
Campinas e Goiânia, os refrigerantes foram
consumidos em todas as faixas de renda e a
participação no valor energético total da dieta
diminuiu conforme o aumento da renda da
família21. Resultado semelhante foi encontrado por
Sichieri22, no estudo realizado em uma amostra
Tabela 2.Comparação da média do número de porções consumidas dos diferentes grupos de alimentos pelas crianças matriculadas
em uma creche filantrópica durante a semana e no final de semana.
3,1 ± 1,2
1,0 ± 0,7
2,1 ± 0,8
2,2 ± 0,7
3,4 ± 1,2
1,2 ± 0,5
2,2 ± 0,6
4,2 ± 1,4
Açúcar
Gordura
Leite
Carne
Leguminosas
Frutas
Legumes
Cereais
Grupo dos alimentos
3,3 ± 2,5
0,7 ± 0,6
1,8 ± 1,0
1,6 ± 0,7
1,6 ± 1,0
0,4 ± 0,6
0,5 ± 0,5
4,8 ± 2,7
p>0,050
p>0,050
p>0,050
p<0,050
p<0,050
p<0,050
p<0,001
p>0,050
 M ± DP
p-valor
Obs: população do estudo = 20 crianças.
Final de semanaDia da semana
 M ± DP
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS | 639
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005 Revista de Nutrição
representativa do município do Rio de Janeiro,
sendo observado um aumento de quase três vezes
no consumo de refrigerantes nessa população,
quando comparado com os resultados obtidos no
Estudo Nacional de Despesa Familiar20. O aumento
do consumo de refrescos industrializados,
refrigerantes, balas e açúcar de adição está
associado a uma maior prevalência de obesidade
infantil, sendo ainda investigada sua relação com
algumas doenças, como a cárie dental e as
doenças cardiovasculares23.
Foi observada uma diferença significativa
entre as porções consumidas durante a semana
no grupo de legumes e frutas (2,2 e 1,2 porções
respectivamente) e o consumo do final de semana
(0,5 e 0,4 porção, respectivamente) (Tabela 2),
pois na creche são oferecidos diariamente sucos,
sobremesa e outras preparações com alimentos
desses grupos. Apesar de o consumo de legumes
e frutas ser maior durante a semana, esse não
atingiu o porcionamento recomendado por Philippi
et al.10 (3 e 2 porções de legumes e frutas).
Resultados encontrados no estudo nacional dos
Estados Unidos mostraram que crianças
consomem menos frutas e legumes e mais gordura
e energia do que o recomendado para a idade24.
Encontrou-se uma diferença significativa no
grupo de carne: seu consumo durante a semana
(2,2 porções) foi maior que no final de semana
(1,6 porções). O consumo de carnes durante a
semana foi um pouco maior do que o
recomendado pela pirâmide brasileira (2 porções).
Esse resultado difere do encontrado por Harwood
et al.25, que, ao estudarem pré-escolares
mexicanos-americanos de baixa renda (n=211),
verificaram que o grupo das carnes encontrava-
-se abaixo da metade da porção recomendada25.
Já o consumo de leguminosas durante a semana
foi significativamente maior do que no final de
semana, porém, tanto durante a semana como
no final de semana, o seu consumo atingiu o
recomendado por Philippi et al.10 (1 porção).
O número de porções do grupo do leite
não atingiu a recomendação (3 porções) da
pirâmide brasileira tanto durante a semana (2,2
porções) como no final de semana (1,9 porções).
No estudo realizado por Schwartz19, encontrou-se
uma diminuição do consumo de leite nas crianças
que consumiam excesso de bebidas industriali-
zadas, levando a um aporte inadequado de cálcio
e vitamina D. A ingestão inadequada desse grupo
impede o crescimento e a mineralização do osso,
contribuindo para o maior risco de osteoporose
no indivíduo adulto26.
O grupo dos cereais também não atingiu
a recomendação da pirâmide infantil brasileira (5
porções) (Tabela 2). No final de semana o consumo
foi de 4,8 porções e durante a semana 4,2 porções,
principalmente pelo consumo de biscoitos
salgadinhos e recheados incluídos nesse grupo.
Briley et al.27, ao avaliarem os cardápios de creches
no Texas, observaram que o consumo de cereais
pelas crianças era metade da porção recomendada
pela pirâmide americana e 20% da população
estudada não consumiam alimentos integrais. Os
cereais e alimentos integrais não estão presentes
com freqüência nos cardápios das creches, porém
alguns autores consideram-nos de grande
importância, pois podem aumentar o aporte
nutricional nas crianças da creche por serem
fortificados com vitaminas e minerais23.
Resultados similares com relação à
inadequação do consumo do grupo dos legumes,
frutas, carnes, leite e cereais são encontrados em
outros estudos. Na pesquisa realizada por Cunha28,
em Uberaba, SP, com pré-escolares, encontrou-
-se a seguinte freqüência de consumo de alimentos
expresso em número de porções ingeridas por dia:
legumes (1,36 porções), frutas (2,04 porções),
carnes (1,79 porções), leite (2,57 porções), cereais
(3,16 porções) e açúcar (1,51 porções)28. Houve
uma inadequação da dieta principalmente no
grupo dos legumes, frutas, carnes, leite e cereais.
Munoz et al.29 relataram achados similares em
uma amostra nacional de crianças e adolescentes
na qual 30% não atingiram as porções recomen-
dadas do grupo das frutas, grãos, carne e leite e
36% para o grupo dos vegetais29.
São poucos os estudos sobre o consumo
alimentar de crianças brasileiras. Foram verificadas
640 | R.M.S. BARBOSA et al.
Rev. Nutr., Campinas, 18(5):633-641, set./out., 2005Revista de Nutrição
mudanças no hábito alimentar das famílias na
última Pesquisa Nacional sobre Orçamento
Familiar (POF)30. Nessa pesquisa observou-se a
intensificação doconsumo relativo de carnes em
todas as áreas metropolitanas do país. O consumo
relativo de leite e derivados prosseguiu
aumentando, apesar da estagnação e redução do
consumo de leguminosas, cereais, tubérculos,
verduras, legumes e frutas e sucos naturais e da
ascensão do consumo de açúcar refinado e
refrigerantes. Em linhas gerais, esses foram os
aspectos mais marcantes e negativos da evolução
do padrão alimentar observado entre as POF 1988
e 199630.
C O N C L U S Ã O
A fase pré-escolar é um excelente
momento para a formação de hábitos alimentares
saudáveis que respeitem as características de cada
criança. O estabelecimento de guias alimentares
tem a finalidade de orientar a população quanto
à seleção, à forma e à quantidade de alimentos a
serem consumidos.
Neste estudo observou-se que, no final de
semana, é maior a inadequação da dieta das
crianças quando comparada com a oferecida na
creche durante a semana. Há necessidade de um
maior cuidado em relação à alimentação desse
grupo, principalmente no final de semana, pois
nessa faixa etária ocorre a incorporação de novos
hábitos alimentares implicando o conhecimento
de novos sabores, texturas e cores, experiências
sensoriais que influenciarão diretamente o padrão
alimentar a ser adotado pela criança em toda a
sua vida.
Faz-se necessário orientar os responsáveis
quanto às inadequações alimentares para que
ocorra uma correta complementação na
residência, com objetivo de melhorar a qualidade
da dieta. A avaliação do consumo alimentar de
crianças por meio da pirâmide alimentar
desenvolvida por Philippi et al.10 poderá servir para
pais, educadores e profissionais de saúde como
um guia prático de orientação da alimentação de
crianças.
R E F E R Ê N C I A S
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p.359-74.
Recebido para publicação em 21 de maio e aceito em 18
de outubro de 2004.

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