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CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 1 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Obtenção do ferro gusa e ferro fundido Introdução O elemento químico ferro é o metal mais usado para as construções mecânicas. Nesta unidade, estudaremos como ele é extraído do minério e transformado em ferro gusa e depois em ferro fundido. Na próxima unidade (Aço), estudaremos como o ferro gusa se transforma em aço. Obtenção do ferro gusa Os minérios de ferro são rochas que contêm óxidos de ferro ou carbonatos de ferro agregados a quartzo, argila, composto de enxofre, fósforo, manganês. Minério Designação química Fórmula química Conteúdo de Fe Magnetita Óxido ferroso férrico Fe3O4 60...70% Hematita roxa Óxido de ferro anidro Fe4O3 40...60% Hematita parda ou limonita Óxido de ferro hidratado 2Fe2O3 + 3H2O 20...45% Siderita Carbonato de ferro FeCO3 30...45% Antes da fusão do minério no alto-forno para a obtenção do ferro gusa, o minério deve ser britado (quebrado). As impurezas pétreas são separadas por flotação e, em seguida, elimina-se a umidade e parte do enxofre. Os minérios de granulometria fina são compactados formando briquetes. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 2 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Transformação do minério em metal A transformação do minério em metal é feita no alto-forno que é um forno de cuba com uma altura de 30 a 80m e um diâmetro máximo de 10 a 14m. Neste forno entra o minério e sai o ferro gusa que contém 5 – 6% de carbono, 3% de silício (Si), 6% de manganês (Mn) assim como altos teores de enxofre e fósforo. Um teor alto de carbono, enxofre e fósforo tornam o ferro gusa muito frágil, não forjável e não soldável. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 3 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Alto-forno (funcionamento) A transformação do minério em ferro gusa é feita em dois movimentos: o movimento descendente de carga (sólidos) em oposição ao movimento ascendente dos gases. Alto-forno As cargas introduzidas na goela do alto-forno para ser obtido o ferro gusa são as seguintes: Minério Óxido de ferro (Fe2O3) quebrado e aglomerado. Coque metalúrgico Possui grande resistência ao esmagamento e uma excelente Porosidade para deixar passar a corrente gasosa. Fundente adicional Permite a separação do metal da ganga numa temperatura relativamente baixa. A composição do fundente depende da natureza da ganga. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 4 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP O ferro gusa que sai do alto-forno pode ser solidificado em pequenos lingotes que servirão de matéria- prima para uma segunda fusão, de onde resultará o ferro fundido, ou o gusa poderá ser transportado líquido (carro torpedo) para a aciaria. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 5 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Ferro fundido É uma liga de ferro carbono com um teor de carbono de 2% a 4,5%. Esse material se caracteriza frente ao aço por um ponto de fusão mais baixo e uma moldabilidade mais fácil. Portanto, para peças de forma complicada, a fundição em ferro fundido é mais econômica do que a fundição em aço. O ferro gusa é transformado numa segunda fusão em ferro fundido (FoFo). Esta fusão é feita em fornos tipo cubilô ou forno elétrico. A carga desses fornos é formada de lingotes de ferro gusa, sucata de aço e ferro fundido, coque e fundente (calcário), podem-se também adicionar elementos de liga como o cromo, níquel ou molibdênio. Através desta segunda fusão, obtém-se uma estrutura mais densa com a granulação mais fina e uniforme. Forno cubilô O forno cubilô é um forno de cuba, cilíndrico com um diâmetro de aproximadamente um metro, e uma altura de seis a oito metros. Compõe-se de uma camisa de chapa de aço revestida com um material refratário. Esse forno é carregado por cima, como o alto- forno. Forno cubilô CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 6 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Após o aquecimento, quando se encontra no estado líquido, o ferro fundido acumula- se em um cadinho, na parte inferior, e, em seguida, é feita a corrida. O ferro fundido é vertido em uma caçamba de fundição e transportado até os moldes onde são fundidas as peças. Tipos de ferro fundido O carbono contido no ferro fundido pode estar combinado com o ferro formando a cementita que é dura e quebradiça e apresenta uma fratura clara (ferro fundido branco). Quando o carbono está separado do ferro formando veios de grafite, apresenta uma fratura cinzenta (ferro fundido cinzento). A quantidade e o tamanho dos veios de grafite que se formam dependem da composição química e da velocidade de resfriamento. Aumentando o teor de silício e diminuindo a velocidade de resfriamento, há maior formação de grafite. No entanto, se aumentarmos o teor de manganês e a velocidade de resfriamento, o carbono ficará combinado com o ferro formando a cementita. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 7 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Ferro fundido cinzento (GG) Nesse tipo de ferro fundido, o carbono se apresenta na forma de veios de grafite. Esses veios de grafite (lamelas) são formados devido a um resfriamento lento no momento da fundição e/ou devido à composição química do material (alto teor de silício). O ferro fundido cinzento ou lamelar (GG ou GGL) é, comercialmente, barato e tem as seguintes características quanto ao processo de fabricação: Funde-se com facilidade Contrai-se pouco ao esfriar Tem pouca tendência a formar vazios internos Apresenta boa usinabilidade O ferro fundido cinzento apresenta também as seguintes propriedades mecânicas: Fragilidade (resiste pouco às solicitações por choque) Resistência baixa a tração (causada pelos veios de grafite) Boa capacidade de deslizamento (melhor que a do aço) Resistência a compressão elevada Grande poder de amortecimento interno de vibrações mecânicas A resistência a compressão e o poder de amortecimento de vibrações tornam o ferro fundido cinzento ideal para confecções de carcaças de motores e corpos de máquinas. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 8 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Ferro fundido nodular (GGG) Se se adicionam, na hora do vazamento do ferro fundido na panela, ligas de magnésio (níquel-magnésio ou ferro-silício-magnésio), o grafite não se agregará sob a forma de lamelas e sim sob a forma de glóbulos. Por essa razão esse ferro fundido é chamado globular ou nodular. O grafite estando na forma globular proporciona ao ferro fundido maior resistência a tração, flexão e alongamento. Outra característica do ferro fundido nodular é que ele resiste bem a agentes químicos e ao calor. Por isso é muito usado em tubos e fornos de indústrias químicas, em máquinas agrícolas, na construção de tratores e automóveis, na construção de bombas e turbinas. Ferro fundido branco ou duro (GH) Nesse tipo de ferro fundido, o carbono está sempre combinado com o ferro, formando um componente duro na estrutura – a cementita (Fe3C). Composição típica de ferro fundido duro C...................................2,8 a 4,0% Si..................................0,2 a 1,0% Mn................................0,6 a 1,5% S...................................0,2 a 0,45% P...................................0,15 máx. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 9 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP A cementita é formada devido a um resfriamento rápido do ferro fundido e devido à influência de elementos químicos: um teor de silício baixo e de manganês elevado. Pela escolha adequada da composição química do ferro fundido e pelo controle da velocidade de resfriamento do metal no molde, é possível fazer uma peça onde a superfície seja de ferro fundido duro e o núcleo de ferro fundido cinzento. Essas características são interessantes para alguns tipos de peças como, por exemplo, a roda de trem que deve ter resistência ao desgaste e, ao mesmo tempo, resistência a impactos.Ferro fundido maleável (GT) O ferro fundido maleável é obtido a partir do ferro fundido branco que é submetido à maleabilização (tratamento térmico posterior à fundição) tornando-se, assim, bem tenaz, algo deformável e facilmente usinável. Composição típica de um ferro fundido branco destinado a ser maleabilizado. Carbono combinado...................3,0 a 3,50% Si................................................0,50 a 0,80% Mn..............................................0,10 a 0,40% S................................................0,20 a 0,05% P.................................................0,15% máx. Distinguem-se dois tipos de ferro fundido maleável: Ferro fundido maleável branco Ferro fundido maleável preto Ferro fundido maleável branco (GTW) É próprio para a fabricação de peças pequenas de pequena espessura de parede. Essas peças são fundidas em ferro fundido branco e depois, por um longo tratamento térmico de descarbonetação, reduz-se o teor de carbono da superfície da peça de 2 a 4% para 1 a 1,5% (com isso conseguimos um material menos frágil). CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 10 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP O tratamento de descarbonetação consiste em colocar as peças fundidas em ferro fundido branco em caixas contendo óxidos de ferro finamente granulado. Depois, colocamos essas caixas em fornos a temperatura de 900 a 10500C durante dois a cinco dias. Ou segundo procedimentos mais modernos, a peça é aquecida em fornos elétricos ou a gás com uma atmosfera oxidante. Através do aquecimento, o óxido de ferro se decompõe, liberando o oxigênio que irá reagir com o carbono contido na peça. Com isso se reduz o teor de carbono na superfície da peça de 2,5 a 3,5% para 0,5 a 1,8% C. A profundidade de descarbonetação é limitada e por isso se emprega esse tratamento em peças de paredes delgadas de até 12mm. Ferro fundido maleável preto (GTS) Para a obtenção de ferro fundido maleável preto, faz-se um tratamento térmico de recozimento no ferro fundido branco (800 a 9000C durante vários dias) em uma atmosfera neutra, por exemplo, envolvendo a peça em areia. Diagrama do tratamento térmico Nesse caso, a cementita do ferro fundido branco se decompõe em grafite em forma de nódulos e ferrita. Esse tipo de tratamento não depende da espessura da parede da peça. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 11 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Observação Na figura seguinte, observamos um resumo de como são obtidos os vários tipos de ferros fundidos. Obtenção dos vários tipos de ferro fundido CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 12 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Aços Definição de aço É uma liga de ferro e carbono que contém no máximo 2,0% de carbono, além de certos elementos residuais resultantes dos processos de fabricação. Obtenção do aço O ferro gusa que sai do alto-forno tem alto teor de carbono (3 a 5%) e elevado teor de impurezas como enxofre, fósforo, manganês e silício. Para transformar o ferro gusa em aço, é necessário reduzir o seu teor de carbono (0 – 2,0%), manganês, silício e eliminar, ao máximo, o seu teor de fósforo e enxofre. Para tanto, existem vários processos. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 13 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Processo Bessemer e Thomas-Bessemer O conversor Bessemer tem um revestimento de tijolos de sílica que não pode ser utilizado com ferro gusa rico em fósforo. O conversor Thomas-Bessemer, por sua vez, tem um revestimento de tijolos de dolomita rica em cal adequada para trabalhar com ferro gusa rico em fósforo. Em ambos os processos, Bessemer ou Thomas-Bessemer, reduz-se o teor de carbono do ferro gusa pela injeção de ar por orifícios que existem no fundo do conversor. O ferro gusa líquido procedente do misturador é vertido no conversor em posição horizontal, adicionando-se cal ou dolomita. Processo Bessemer e Thomas-Bessemer CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 14 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Colocando-se o conversor na posição vertical, o ar enriquecido com oxigênio é soprado durante dez a vinte minutos. Durante esse tempo o oxigênio reage com o carbono, e o silício, o manganês e a cal reagem com o fósforo formando a escória. A escória do conversor Thomas-Bessemer é moída e utilizada como adubo por possuir alto teor de fósforo. Produtos do conversor Bessemer e Thomas-Bessemer Aço ao carbono não-ligados. Conversor a oxigênio (LD) Nos conversores a oxigênio, é fabricada mais de 50% da produção mundial de aço. No Brasil, eles são também amplamente utilizados. A carga desse conversor é constituída de ferro gusa líquido, sucata de ferro, minério de ferro e aditivos (fundentes). Com uma lança refrigerada com água, injeta- se oxigênio puro a uma pressão de 4 a 12bar no conversor. Processo conversor a oxigênio (LD) CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 15 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP A oxidação do carbono e dos acompanhantes do ferro libera grande quantidade de calor. Para neutralizar essa elevada temperatura que prejudicaria o refratário, adiciona- se sucata ou minério de ferro. Pela adição de fundentes como a cal, os acompanhantes do ferro como o manganês, silício, fósforo e enxofre unem-se formando a escória. Para aumentar a qualidade do aço, adicionam-se os elementos de liga no final ou quando o aço está sendo vertido na panela. Os aços produzidos no LD não contêm nitrogênio pois não se injeta ar, daí a alta qualidade obtida. Esse conversor oferece vantagens econômicas sobre os conversores Thomas-Bessemer e Siemens-Martin. Produtos do conversor a oxigênio (LD) Aços não-ligados Aços para cementação Aços de baixa liga Conversor Siemens-Martin O forno Siemens-Martin é um forno de câmara fixo. A carga do forno pode ser constituída de 70% de sucata de aço e o resto de ferro gusa e fundentes (cal) para formar a escória. Representação esquemática de um forno Siemens-Martin A temperatura de fusão é de 18000C, que se consegue pela queima de gás ou óleo. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 16 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Os gases produzidos pela combustão saem do forno e passam, através de um empilhamento de tijolos, pela parte inferior do forno (recuperador) onde cedem calor dirigindo-se depois para a chaminé. A cada vinte minutos mais ou menos, o sentido dos gases é invertido de modo que o ar passe pelo recuperador que está aquecido. Produtos do conversor Siemens-Martin Aços carbono não-ligados Aços de baixa liga Aços-ferramenta que não exigem alta qualidade Forno elétrico Os aços finos, em particular os altamente ligados, são obtidos em fornos elétricos. Com o aço vindo do conversor a oxigênio ou Siemens-Martin e mais sucata selecionada alimenta-se o forno elétrico. Nesse forno, o aço é purificado e adicionam- se os elementos de liga desejados. Como a geração de calor se dá por uma corrente elétrica, não existe nenhuma chama de gás que desprenda enxofre. Existem dois tipos de fornos elétricos para a produção de aço: Forno de arco voltaico Forno de indução O forno de arco voltaico tem dois ou três eletrodos de carvão. Ao ligar, a corrente elétrica salta em arco voltaico das barras de carvão passando pelo material a fundir. A temperatura obtida neste processo é da ordem de 36000C, o que torna possível fundir elementos de liga como o tungstênio (temperatura de fusão 33700C) ou molibdênio (temperatura de fusão 26000C). Forno de arco voltaico CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 17 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP No forno de indução a corrente alternada passa por uma bobina situada ao redor de um cadinho, com isto se induzem correntes parasitas no material a fundir que aquecem o banho. Esse forno é empregado para fabricação de aços altamente ligados e de ferro fundido nodular. Forno de indução Solidificação do aço Os aços produzidosnos conversores são colocados em panelas e destas panelas são vertidos em moldes de fundição ou em lingoteiras onde se solidificam em forma de lingotes quadrados ou redondos. Esses lingotes serão transformados em produtos semi-acabados por meio de prensagem, forjamento ou laminação em chapas, barras de perfil L, U, redondas, sextavadas, etc. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 18 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP O aço líquido dentro do molde começa a se solidificar das paredes para o centro da peça. Com o processo de solidificação, há a formação de gases devido a reações químicas, tais como decomposição da água em hidrogênio e oxigênio, reação do carbono com o óxido de ferro gerando ferro e gás carbônico. As bolhas de gás ascendentes originam um forte movimento do aço que ainda está líquido, com isto os gases, o fósforo, o enxofre, o silício são deslocados para o interior do bloco que irá se resfriar por último. A esse processo chamamos segregação. Lingote com massalote As acumulações de fósforo no aço produzem fragilidade (perigo de ruptura na conformação a frio). As acumulações de enxofre no aço ocasionam fragilidade a quente (perigo de ruptura na laminação ou no forjamento). Altos teores localizados de W, Ti, Mo produzem pontos duros que podem ocasionar a ruptura das peças. Aços fundidos acalmados CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 19 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Para evitar o acúmulo de gases no interior do aço, são adicionados alumínio, silício ou manganês ao se fundir ou vazar o aço. O oxigênio se une a esses elementos formando óxidos metálicos que não podem ser reduzidos pelo carbono (equação 2FeO + Si + 2Fe + SiO2). Obtém-se por meio desse processo um aço acalmado. O aço solidificado acalmado possui uma boa homogeneidade e , desta forma, diminui- se a segregação. Os aços de qualidade são sempre acalmados, pois caso contrário o oxigênio oxidaria os componentes da ligação. Bolhas e cavidades em lingotes de aço Tratamento a vácuo Os gases absorvidos pelo aço líquido são prejudiciais, por isso aços ligados de alta qualidade devem ser desgaseificados. Os óxidos (de ferro ou elementos de liga) tornam o aço quebradiço; o nitrogênio produz envelhecimento; o hidrogênio produz fortes tensões e pequenas trincas entre os cristais. Para desgaseificar o aço líquido se emprega o tratamento a vácuo. A figura CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 20 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP seguinte mostra dois tipos desse tratamento. Tratamento a vácuo Os aços que passam por esse processo apresentam maior grau de pureza, o que resulta em maior tenacidade e melhor resistência à fadiga. Refusão elétrica sob escória Por esse processo, um bloco de aço ligado fundido em forno elétrico se torna um eletrodo e goteja através de uma escória, desembocando em uma coquilha de cobre refrigerada por água. A escória faz a vez de uma resistência elétrica, gerando calor necessário para a fusão, ao ser percorrida pela corrente elétrica. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 21 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Nessa escória, são retidas ao mesmo tempo as substâncias não desejadas e os gases dissolvidos no aço. Por esse processo, obtêm-se blocos (tarugos) de aço altamente ligados com uma textura uniforme sem segregação ou inclusões. Influência dos elementos de liga nos aços Devido às necessidades industriais, a pesquisa e a experiência possibilitaram à descoberta de aços especiais, mediante a adição e a dosagem de certos elementos no aço carbono. Conseguiram-se assim aços-liga com características como resistência a tração e a corrosão, elasticidade, dureza, etc. bem melhores do que as dos aços ao carbono comuns. Influência dos elementos de liga nas propriedades do aço N ão -m et ai s Elemento Eleva Abaixa Carbono C Resistência, dureza, temperabilidade Ponto de fusão, tenacidade, alongamento, soldabilidade e forjabilidade Silício Si Elasticidade, resistência a tração, profundidade de têmpera, dureza a quente, resistência a corrosão, separação da grafite no ferro fundido Soldabilidade Fósforo P Fluidez, fragilidade a frio, resistência a quente Alongamento, resistência a choque Enxofre S Quebra de cavaco, viscosidade Resistência a choque CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 22 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP M et ai s Manganês Mn Profundidade de têmpera, resistência a tração, resistência a choque, resistência a desgaste Facilidade de ser transformado (laminado, trefilado); separação da grafite no ferro fundido Níquel Ni Tenacidade, resistência a tração, resistência a corrosão, resistência elétrica, resistência a quente, profundidade de têmpera Dilatação térmica Cromo Cr Dureza, resistência a tração, resistência a quente, temperatura de têmpera, resistência a frio, resistência a desgaste, resistência a corrosão Alongamento (em grau reduzido) Vanádio V Resistência a fadiga, dureza, tenacidade, resistência a quente Sensibilidade ao aparecimento de trincas por aquecimentos sucessivos Molibdênio Mo Dureza, resistência a quente, resistência a fadiga Alongamento, forjabilidade Cobalto Co Dureza, capacidade de corte, resistência a quente Tenacidade, sensibilidade ao aparecimento de trincas por aquecimentos sucessivos Tungstênio W Dureza, resistência a tração, resistência a corrosão, temperatura de têmpera, resistência a quente, resistência a desgaste Alongamento (em grau reduzido) Classificação dos aços Podemos classificar os aços segundo a sua aplicação em: Aços de construção em geral Aços para tornos automáticos Aços para cementação Aços para beneficiamento Aços para nitretação Aços inoxidáveis Aços para ferramentas - para trabalho a frio - para trabalho a quente - aços rápidos Aços de construção em geral Os aços de construção em geral são aços básicos não-ligados que são selecionados pela sua resistência a tração e pelo seu limite de elasticidade, ou são aços não-ligados de qualidade que devem satisfazer a exigências tais como forjabilidade e soldabilidade. Nesse último caso, são controlados os teores de carbono, fósforo e enxofre. As aplicações comuns desses aços são em construção de edifícios, pontes, depósitos, automóveis e máquinas. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 23 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Norma DIN Aços para torno automático São aços de qualidade não-ligados ou de baixa liga utilizados na fabricação de peças em tornos automáticos e devem desprender cavacos quebradiços e curtos. Esta propriedade (cavaco curto) obtém-se mediante um teor conveniente de enxofre. Os aços para tornos automáticos contêm: 0,07 a 0,65% de carbono, 0,18 a 0,4% de enxofre, 0,6 a 1,5% de manganês, 0,05 a 0,4% de silício e, quando se pede uma melhor fragilidade do cavaco e superfícies lisas, o aço deve conter, além dos elementos já citados, 0,15 a 0,3% de chumbo. Exemplos: 10 S 20 11 S Mn 28 11 S Mn Pb 28 35 S 20 Aços para cementação São aços com baixo teor de carbono (0,1 a 0,2%) que, por meio de um tratamento termoquímico, sofrem uma elevação de seu teor de carbono na superfície da peça a CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 24 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP fim de aumentar a dureza superficial conservando o núcleo tenaz para resistir a choques. Trata-se de aços de qualidade não-ligados, aços finos ou aços finos ligados. Na superfície da peça endurecida por cementação alcança-se uma dureza de 59 HRC. Exemplos: C 10 CK 10 16 Mn Cr 5 17 Cr Ni Mo 6 Aços para beneficiamento São aços que, por meio de um tratamento térmico de beneficiamento (têmpera mais revenimento), consegue-se um aumento de resistência, dureza e tenacidade. Os aços para beneficiamento não-ligados possuem um teor de carbono acima de 0,3% e só se pode beneficiar uma camada delgada. Quandose deseja beneficiar uma camada mais espessa, empregam-se aços para beneficiamento ligados. As aplicações comuns desses aços são em: eixos, parafusos, engrenagens, molas. Exemplos: C 30 CK 60 42 Cr Mo 4 Aços para nitretação São aços que, pela introdução de nitrogênio por meio de tratamento termoquímico, aumenta-se a dureza superficial das peças (até 67 HRC). Esses aços contêm cromo, molibdênio e alumínio que favorecem a absorção do nitrogênio. As aplicações comuns desses aços são em: engrenagens, matrizes de trabalho a quente. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 25 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Exemplos: 31 Cr Mo 12 34 Cr A Ni 7 Aços inoxidáveis São aços que possuem um teor mínimo de 12% de cromo e se caracterizam pela sua grande estabilidade frente a substâncias agressivas (água, ar, gases, ácidos e bases). As aplicações comuns desses aços são na indústria química e na de alimentos e em aparelhos cirúrgicos, talheres, etc. Exemplos: X 3 Cr Ni 18 10 X 10 Cr Ni Mo Ti 18 12 X 5 Cr Ni 18 9 Aços para ferramentas São os que se empregam para trabalhar outros materiais com ou sem a remoção de cavacos. São subdivididos em: Aços para trabalho a frio Aços para trabalho a quente Aços rápidos Aços para trabalho a frio Destinam-se à fabricação de ferramentas utilizadas no processamento a frio de aço, ferro fundido e metais não-ferrosos. As principais propriedades destes aços são: Alta resistência a abrasão Elevada resistência de corte Alta tenacidade Alta resistência a choque Grande estabilidade dimensional As aplicações comuns desses aços são em facas e punções de corte, estampos de dobramento, estampagem, cunhagem, matrizes, trefilação, etc. Exemplos: X 210 Cr 12 X 210 Cr W 12 X 155 Cr V Mo 12 1 Aços para trabalho a quente CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 26 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP São aços que se destinam à fabricação de ferramentas utilizadas no processamento a quente de materiais. Suas principais características são alta resistência a revenimento, elevada resistência mecânica a quente, boa tenacidade, grande resistência a abrasão em temperaturas elevadas, boa condutividade térmica, elevada resistência a fadiga e boa resistência à formação de trincas provocadas por aquecimento e resfriamentos sucessivos. As aplicações comuns desses aços são em matrizes de forjamento, matrizes para fundição de latão ou alumínio sob pressão, matrizes para extrusão a quente, etc. Exemplos: X 37 Cr Mo W 5 1 X 40 Cr Mo V 5 1 50 Ni Cr 13 Aços rápidos São aços onde os elementos de liga formam carbonetos complexos que são duros e resistentes ao desgaste e a altas temperaturas. Norma DIN A seqüência dos componentes é sempre a mesma: W – Mo – V – Co Exemplo: S - 6 - 5 - 2 - 5 aço rápido 6% W 5% Mo 2% V 5% Co São assim designados pela sua capacidade de usinar metais com velocidade de corte maiores do que as possíveis com aços ferramenta ao carbono. As aplicações comuns desses aços são em: bits, fresas, brocas especiais, machos, brochas. Normas ABNT – SAE – AISI CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 27 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP A ABNT se baseou nos sistemas americanos SAE e AISI, resultando a norma NBR 6006. Aço é a liga composta de ferro (Fe) e carbono (C). Contém, ainda, pequenas porcentagens de manganês (Mn), silício (Si), enxofre (S) e fósforo (P), que são considerados elementos residuais do processo de obtenção. O elemento que exerce maior influência é o carbono e o seu teor nos aços ao carbono varia de 0,008 a 2% C aproximadamente. O aço é representado por um número como nos exemplos abaixo. Exemplos: Os aços mais usados industrialmente possuem teores de carbono que variam entre 0,1 a 0,95%C, ou seja, aço 1010 a 1095. Acima de 0,95%C são considerados como aços ao carbono especiais. Para fins de aplicações industriais e de tratamentos térmicos, os aços ao carbono classificam-se em: Aços de baixo teor de carbono 1010 a 1035 Aços de médio teor de carbono 1040 a 1065 Aços de alto teor de carbono 1070 a 1095 A tabela seguinte apresenta aços ao carbono para construção mecânica. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 28 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Classificação ABNT dos aços ao carbono Designação Carbono % Manganês % 1006 A 1008 A 1010 A 1015 A 1020 A 1025 A 1026 A 1030 A 1035 A 1038 A 1040 A 1041 A 1043 A 1045 A 1050 A 1060 A 1070 A 1080 A 1090 A 1095 A 0,08 max 0,10max 0,08 – 0,13 0,13 – 0,18 0,18 – 0,23 0,22 – 0,28 0,22 – 0,28 0,28 – 0,34 0,32 – 0,38 0,35 – 0,42 0,37 – 0,44 0,36 – 0,44 0,40 – 0,47 0,43 – 0,50 0,47 – 0,55 0,55 – 0,66 0,65 – 0,76 0,75 – 0,88 0,85 – 0,98 0,90 – 1,03 0,25 – 0,40 0,25 – 0,50 0,30 – 0,60 0,30 – 0,60 0,30 – 0,60 0,30 – 0,60 0,60 – 0,90 0,60 – 0,90 0,60 – 0,90 0,60 – 0,90 0,60 – 0,90 1,35 – 1,65 0,70 – 1,00 0,60 – 0,90 0,70 – 1,00 0,60 – 0,90 0,60 – 0,90 0,60 – 0,90 0,60 – 0,90 0,30 – 0,50 A tabela seguinte apresenta a classificação dos aços-liga, segundo ABNT. Classificação ABNT dos aços-liga Designação C % Mn % Si % Cr % Ni % Mo % 1340 4130 4135 0,38 – 0,43 0,28 – 0,33 0,33 – 0,38 1,60 – 1,90 0,40 – 0,60 0,70 – 0,90 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,80 – 1,10 0,80 – 1,10 - - 0,15 – 0,25 0,15 – 0,25 CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 29 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP 4140 4320 4340 5115 5120 5130 5135 5140 5160 E52100 6150 8615 8620 8630 8640 8645 8650 8660 E9315 0,38 – 0,43 0,17 – 0,22 0,38 – 0,43 0,13 – 0,18 0,17 – 0,22 0,28 – 0,33 0,33 – 0,38 0,38 – 0,43 0,55 – 0,65 0,95 – 1,00 0,48 – 0,53 0,13 – 0,18 0,18 – 0,23 0,28 – 0,33 0,38 – 0,43 0,43 – 0,48 0,40 – 0,53 0,55 – 0,65 0,13 – 0,18 0,75 – 1,00 0,45 – 0,65 0,60 – 0,80 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 0,60 – 0,80 0,70 – 0,90 0,75 – 1,00 0,25 – 0,45 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 0,75 – 1,00 0,75 – 1,00 0,75 – 1,00 0,75 – 1,00 0,45 – 0,65 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,20 – 0,35 0,80 – 1,10 0,40 – 0,60 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 0,80 – 1,10 0,80 – 1,05 0,70 – 0,90 0,70 – 0,90 1,30 – 1,60 0,80 – 1,10 0,40 – 0,60 0,40 – 0,60 0,40 – 0,60 0,40 – 0,60 0,40 – 0,60 0,40 – 0,60 0,40 – 0,60 1,00 – 1,40 - 1,65 – 2,00 1,65 – 2,00 - - - - - - - - 0,40 – 0,70 0,40 – 0,70 0,40 – 0,70 0,40 – 0,70 0,40 – 0,70 0,40 – 0,70 0,40 – 0,70 3,00 – 3,50 0,15 – 0,25 0,20 – 0,30 0,20 – 0,30 - - - - - - - 0,15 – 0,25 0,15 – 0,25 0,15 – 0,25 0,15 – 0,25 0,15 – 0,25 0,15 – 0,25 0,15 – 0,25 0,08 – 0,15 O tipo 6150 tem 0,15% de vanádio A tabela seguinte apresenta as classes de aços com suas respectivas composições segundo normas SAE – AISI – ABNT Sistema SAE e AISI de classificação dos aços Designação Tipo de aço SAE AISI 10XX 11XX 13XX C 10XX C 11XX 13XX Aços-carbono comuns Aços de usinagem (ou corte) fácil, com alto S Aços-manganês com 1,75% de Mn CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 30 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP 23XX 25XX 31XX 33XX 303XX 40XX 41XX 43XX 46XX 47XX 48XX 50XX 51XX 501XX 511XX 521XX 514XX 515XX 61XX 86XX 87XX 92XX 93XX 98XX 950 XXBXX XXLXX 23XX 25XX 31XX E 33XX - 40XX 41XX 43XX 46XX 47XX 48XX 50XX 51XX - E511XX E521XX - - 61XX 86XX 87XX 92XX 93XX 98XX - XXBXX CXXLX X Aços-níquel com 3,5% de Ni Aços-níquel com 5,0% de Ni Aços-níquel-cromo com 1,25% de Ni e 0,65% de Cr Aços-níquel-cromo com 3,50% de Ni e 1,57% de Cr Aços resistentes à corrosão e ao calor ao Ni-Cr Aços-molibdêniocom 0,25% de Mo Aços-cromo-molibdênio com 0,50% ou 0,95% de Cr e 0,12%, 0,20% ou 0,25% de Mo Aços-níquel-cromo-molibdênio, com 1,82% de Ni, 0,50% ou 0,80% de Cr e 0,25% de Mo Aços-níquel-molibdênio com 1,57% ou 1,82% de Ni e 0,20 ou 0,25 de Mo Aços-níquel-cromo-molibdênio com 1,05% de Ni, 0,45% de Cr e 0,20% de Mo Aços-níquel-molibdênio com 3,50% de Ni e 0,25% de Mo Aços-cromo com 0,27%, 0,40% ou 0,50% de Cr Aços-cromo com 0,80% a 1,05% de Cr Aços de baixo cromo para rolamentos, com 0,50% de Cr Aços de médio cromo para rolamentos, com 1,02% de Cr Aços de alto cromo para rolamentos, com 1,45% de Cr Aços resistentes à corrosão e ao calor ao Cr Aços resistentes à corrosão e ao calor ao Cr Aços-cromo-vanádio com 0,80% ou 0,95% de Cr e 0,10% ou 0,15% de V (min.) Aços-níquel-cromo-molibdênio com 0,55% de Ni, 0,50% ou 0,65% de Cr e 0,20% de Mo Aços-níquel-cromo-molibdênio com 0,55% de Ni, 0,50% de Cr e 0,25% de Mo Aços-silício-manganês com 0,65%, 0,82%, 0,85% ou 0,87% de Mn, 1,40 ou 2,00% de Si e 0%, 0,17%, 0,32% ou 0,65% de Cr Aços-níquel-cromo-molibdênio com 3,25% de Ni, 1,20% de Cr e 0,12% de Mo Aços-níquel-cromo-molibdênio com 1,00% de Ni, 0,80% de Cr e 0,25% de Mo Aços de baixo teor em liga e alta resistência Aços-boro com 0,0005% de B min. Aços-chumbo com 0,15% - 0,35% de Pb A figura seguinte ilustra os principais meios de obter ferro fundido e aço. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 31 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 32 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Diagrama ferro-carbono Liquefação e solidificação do ferro puro Da mesma forma como foram apresentados os metais na unidade anterior, podemos apresentar a curva de solidificação (liquefação) do ferro puro, como mostra o gráfico seguinte. Solidificação do ferro puro CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 33 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Existem quatro pontos de parada: A 1 5360C o ferro puro se solidifica em rede cúbica de corpo centrado (c.c.c.), chamada ferro (delta) e assim permanece até 1 3920C. A 1 3920C o ferro muda de estrutura para a estrutura cúbica de face centrada (c.f.c.) chamada ferro (gama) ou austenita. Abaixo de 9110C o ferro muda de estrutura novamente para a cúbica de corpo centrado (c.c.c.) chamada ferro (alfa). Abaixo de 7690C o ferro é magnético. Isso ocorre devido a um rearranjo dos elétrons de cada átomo. A distância entre os átomos na estrutura c.f.c. é maior do que na estrutura de c.c.c., portanto nesse estado é mais fácil aceitar átomos estranhos, como por exemplo, átomos de carbono. A esse fenômeno damos o nome de solubilidade no estado sólido. O ferro puro raramente é usado, o mais comum é estar ligado com o carbono. Em função da adição de carbono no ferro puro, as temperaturas de transformação irão se alterar conforme veremos a seguir. Diagrama ferro-carbono O diagrama ferro-carbono pode ser dividido em três partes: - de 0 a 0,05%C – ferro puro - de 0,05 a 2,06%C – aço - de 2,06 a 6,7%C – ferro fundido Construção do diagrama ferro-carbono O diagrama ferro-carbono é fundamental para facilitar a compreensão sobre o que ocorre na têmpera, no recozimento e nos demais tratamentos térmicos. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 34 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Para melhor entendermos o diagrama completo, que será visto no fim da unidade, façamos uma série de experiências com seis corpos de provas conforme tabela seguinte. Corpo de prova Teor de carbono (%) 1 0,2 2 0,4 3 0,6 4 0,86 5 1,2 6 1,4 Aquecemos os corpos de prova com aplicação constante de calor e medimos em intervalos regulares (cada cinco minutos) a temperatura dos corpos de prova. Já sabemos que a característica da curva é semelhante à das outras ligas. No corpo de prova no 1 com 0,2% de C, observamos que há uma variação na velocidade da elevação da temperatura a 7230C (Ac1) e a 8600C (Ac3) – que chamamos de ponto de parada. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 35 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Determinando as temperaturas Ac1 e Ac3 ou Accm dos outros corpos de prova, conforme figuras abaixo, poderemos construir parte do diagrama ferro-carbono simplificado, unindo todas as temperaturas Ac1 e todas as temperaturas Ac3, conforme veremos no exercício a seguir. Exercício 1 Com base na tabela abaixo, construa o diagrama Fe – C simplificado (figura abaixo): Coloque no gráfico todos os pontos de parada. Trace uma linha ligando todos os pontos Ac1. Trace outra linha ligando todos os pontos Ac3 e Accm. Observação O diagrama Fe – C completo pode ser visto na figura “Diagrama ferro-carbono completo”. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 36 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Pontos de parada dos corpos de prova Corpo de prova Temperatura Ac1 0C Ac3 ou Accm 0C 1 723 AC3 = 860 2 723 AC3 = 820 3 723 AC3 = 775 4 723 .......... 5 723 ACcm = 890 6 723 ACcm = 990 Diagrama ferro-carbono (simplificado) Estrutura do aço no resfriamento lento O diagrama de fases encontrado na figura anterior corresponde ao diagrama de uma mistura de cristais como já foi visto na unidade Comportamento das ligas em função da temperatura e composição (diagrama de fases Pb – Sn) com a diferença que para o sistema Pb – Sn a transformação era líquido-sólido e neste diagrama (Fe – C) ocorre uma transformação de estrutura dentro do estado sólido. A presença do carbono faz com que o ferro mude de estrutura cúbica de face centrada (austenita) para cúbica de corpo centrado (ferrita) a uma temperatura diferente de 9110C. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 37 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Essa temperatura varia em função do teor de carbono no ferro e é representada no gráfico abaixo pela linha G – S – E . Acima da linha G – S – E há uma solução com uma única fase: o ferro + C = austenita. Estrutura austenítica Abaixo da linha G – S – E o ferro começa a mudar de estrutura, de cúbica de face centrada (ferro ) para cúbica de corpo centrado (ferro ). CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 38 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Como o ferro não consegue dissolver todo o carbono, forma-se uma segunda fase que é a cementita (Fe3C) que contém 6,67% de C. Estrutura da cementita Fe3C Abaixo da linha P – K, vamos ter uma solução sólida com duas fases – ferro + cementita. Agora vamos estudar novamente os corpos de prova. Começamos com o corpo de prova nº 4 com 0,86% de carbono. Aço eutetóide – 0,86% de C Aço eutetóide Este aço quando está acima de 7230C tem uma estrutura cúbica de face centrada (austenita) e todo o carbono está dissolvido nela. Abaixo de 7230C o ferro muda de estrutura para cúbica de corpo centrado (ferrita). A ferrita não consegue dissolver o carbono e por isso forma-se uma estrutura mista constituída de lâminas de ferrita (ferro puro) e lâminas de cementita (Fe3C). A essa estrutura dá-se o nome de perlita. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 39 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Micrografia de um aço eutetóide mostrando a estrutura de perlita. com 0,86% de carbono tem uma única temperatura de transformação e por isso ele é chamado também de aço eutetóide. A figura anterior mostra um aço eutetóide visto ao microscópio, observa-se que 100% da estrutura é perlita. Vamos agora estudar o corpo de prova no 3 com 0,6% de carbono. Aço hipoeutetóide O diagrama da figura abaixo indica que acima da linha G – S o aço apresenta-se com a estrutura do ferro ou austenita. Abaixo da linha G – S, tem início a transformação do ferro (austenita) em ferro (ferrita). CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 40 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Como a ferrita não contém carbono, a austenita que ainda não se transformou, vai se enriquecendo de carbono. Quando o aço atinge a temperatura de 7230C (linha P – S) a austenita que ainda não se transformou,transforma-se em perlita. Na figura abaixo observamos a estrutura de um aço hipoeutetóide (carbono entre 0,05% até 0,86%), constituído de ferrita (parte clara) e perlita (partes com lamelas). Micrografia de um aço hipoeutetóide com estrutura de ferrita e perlita. Agora vamos estudar o corpo de prova no 5 com 1,2% de carbono. Aço hipereutetóide Os aços com teor de carbono acima de 0,86% até 2,06% são denominados aços hipereutetóides. O diagrama da figura ao lado indica que acima da linha S – E o aço apresenta-se com a estrutura de ferro (austenita). CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 41 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Abaixo da linha S – E, a austenita já não consegue dissolver todo o carbono e por isso começa a se formar cementita (Fe3C) que contém 6,7% de carbono. Essa cementita vai se localizar nos contornos dos grãos de austenita. A austenita por sua vez vai se empobrecendo de carbono. Ao atingir 7230C no resfriamento, tem-se cementita (Fe3C) e austenita com 0,86%C. Ao abaixar mais a temperatura, essa austenita se transforma em perlita (lamelas de ferrita + cementita). Na figura seguinte vemos um aço hipereutetóide onde observamos a perlita e a cementita (parte clara) nos contornos dos grãos. Micrografia de um aço hipereutetóide com estrutura de perlita e cementita. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 42 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP O diagrama de equilíbrio ferro-carbono Na figura seguinte apresentamos o diagrama de equilíbrio Fe – C completo. Diagrama ferro-carbono completo CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 43 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Exercícios 1 A figura seguinte mostra as várias regiões do diagrama Fe – C pelas quais passa um aço com 0,4%C ao ser resfriado. Complete o quadro abaixo informando: Qual o estado físico? Quais as fases presentes? Comente qual é a estrutura do ferro e como se encontra o carbono. Ponto Temperatura aproximada Estado físico Fases presentes Comentários A > 1 5000C líquido líquida Todo o C dissolvido B 15000C C 14500C D 14300C E 10000C F 8000C G 7600C H 7230C (T. crítica) I < 7230C CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 44 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP 2 A figura seguinte mostra as várias regiões do diagrama Fe – C pelas quais passa um aço 0,9%C ao ser resfriado. Complete o quadro abaixo informando: Qual o estado físico? Quais as fases presentes? Comente qual a estrutura do ferro e como se encontra o carbono. Ponto Temperatura aproximada Estado físico Fases presentes Comentários A > 1 6000C líquido líquida Todo o C dissolvido no Fe B 1 4800C C 1 4500C D 1 3500C E 1 0000C F 7800C G 7500C H 7230C I <7230C CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 45 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Considerações gerais Tudo o que foi dito com relação ao resfriamento vale também para o aquecimento. A condição para que essas transformações de estrutura ocorram é a baixa velocidade de resfriamento. Se resfriarmos um aço rapidamente, outras estruturas diferentes das descritas no diagrama Fe – C se formarão. Esse é o princípio dos Tratamentos térmicos, que veremos na próxima unidade. Resumo Ferrita Ferro na forma cúbica de corpo centrado. carbono é insolúvel na ferrita. É mole e dúctil. Cementita Carbeto de ferro – a composição da cementita corresponde à fórmula Fe3C. Isso corresponde a um teor de carbono de 6,67%. É muito dura. Perlita É uma combinação de ferrita e cementita. Possui um teor médio de carbono de 0,86%. Austenita Ferro na forma cúbica de face centrada. Consegue dissolver até 2% de carbono. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 46 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Comportamento das ligas em função da temperatura e composição Introdução à liquefação e solidificação dos metais Toda matéria possui três estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Fundamentalmente o que diferencia um estado do outro é o grau de agregação dos átomos. O sólido é um estado no qual os átomos estão fortemente ligados, já no estado líquido essa ligação não é tão forte e, no estado gasoso, essa ligação não existe. A mudança de estados da matéria ocorre com ganho ou perda de energia (calor). Para o estudo dos metais, o estado gasoso é pouco importante, portanto, trataremos apenas das fases sólida e líquida. Ao fornecermos calor a um material sólido, sua fusão ocorre em duas fases bem distintas: Ao receber energia, os átomos aumentam sua vibração. Isso se traduz fisicamente em um aumento de temperatura do corpo, até o ponto de sua temperatura de fusão. Nesta altura os átomos ainda estão fortemente ligados. Uma vez atingido o ponto de fusão, inicia-se o enfraquecimento das ligações entre os átomos. Isso ocorre através do calor fornecido ao material. O calor não mais servirá para aumentar as vibrações dos átomos, mas sim para enfraquecer as suas ligações, não haverá aumento em sua temperatura até que todas as ligações sejam enfraquecidas, tornando-se líquido o material. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 47 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Ao calor necessário para aumentar o estado de vibração dos átomos (aumentar a temperatura) chamamos de calor sensível. Já o calor necessário para enfraquecer (ou destruir completamente, no caso de vaporização) as ligações atômicas é chamado calor latente. Vamos usar o zinco para exemplificar esse processo. No diagrama seguinte, coloca-se na coordenada vertical a temperatura (em 0C) e na coordenada horizontal, o tempo (em segundos). Liquefação e solidificação do Zn No aquecimento contínuo, a temperatura aumenta em função do tempo. Quando chegar ao ponto de sólido (4190C), o metal começa a se liquefazer. Apesar da mesma quantidade de calor recebida, a temperatura permanece constante, isso porque todo o calor é gasto pela mudança do estado de agregação. Esta zona horizontal é chamada ponto de parada. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 48 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP A temperatura voltará a aumentar somente quando todo o metal estiver liquefeito. Embaixo do ponto sólido, o estado de agregação é sólido, acima do ponto de líquido, passa a ser líquido. Na zona dos pontos de parada, o estado de agregação é líquido ou sólido. No processo de resfriamento a seqüência ocorre na ordem inversa. Ligas metálicas Antes de falarmos sobre ligas metálicas, é importante definir o que vem a ser uma solução sólida. Dá-se o nome de solução a uma mistura na qual não se consegue distinguir os seus diversos componentes. Cada um dos componentes possíveis de serem distinguidos será chamado fase. Uma solução que se encontra em estado sólido é chamada solução sólida. Esquema de estrutura bifásica. Uma fase é ferro puro (ferrita) e a outra cementita. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 49 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Exemplo: nos aços temos uma solução sólida de Fe e C. Essa solução é chamada cementita. Ligas metálicas são misturas, em solução, de dois ou mais metais: Exemplo: Cu – Ni Cu – Zn (latão) Cu – Sn (bronze) Fe – C (aço) Praticamente, todos os metais utilizados na indústria não são puros, mas sim ligas de uma ou mais fases. Composição de ligas metálicas Os diferentes elementos que compõem uma liga metálica são chamados componentes. Observe os exemplos seguintes. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 50 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Liquefação e solidificação da ligas Solução sólida ou cristal misto No processo de solidificação de uma liga de dois metais, que formam cristais mistos, a transformação do estado líquido para o estado sólido não se faz no ponto de parada, mas durante um intervalo de solidificação. No ponto líquido começam a se formar os primeiros cristais mistos. A formação e o crescimento desses cristais continuam até o ponto sólido. Em temperaturasabaixo do ponto sólido, a liga está totalmente no estado sólido. Os componentes de uma liga têm diferentes pontos líquidos e necessitam de diferentes quantidades de calor para a sua solidificação, portanto se variarmos as porcentagens dos elementos de ligas, variarão as temperaturas dos pontos líquidos e dos pontos sólidos. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 51 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Unindo todas as temperaturas de ponto líquido e todas as temperaturas de ponto sólido, obtemos o diagrama de fases. Desenvolvimento de um diagrama de fases para uma liga Cu – Ni (cristais mistos) Interpretação do diagrama de fases Exemplo: para uma liga de 20% Ni e 80% Cu. A linha horizontal mostra a composição (em %). Quando temos 20% Ni, automaticamente teremos 80% Cu. Para cada composição temos uma temperatura inicial e uma final de solidificação. Para a liga com 80% Cu – 20% Ni, a solidificação inicia-se no ponto B e termina no ponto D, abaixo do qual a liga está totalmente sólida. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 52 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Acima do ponto B a liga está totalmente líquida. Para cada composição, temos então dois pontos que geram duas linhas, dividindo o diagrama em três partes. Para resfriamento, a linha chamada líquidus indica, para cada composição, a temperatura em que se inicia a solidificação e a sólidus, onde termina. Cada região do diagrama indica fases. Acima da linha líquidus, fase totalmente líquida, abaixo da linha sólidus – fase totalmente sólida, e, entre as duas, temos o intervalo de solidificação, onde estão presentes duas fases, sólida e líquida. Seguindo a linha ABCDE (figura anterior), traçada no diagrama, teremos para a liga 80 Cu – 20 Ni o que está descrito na tabela a seguir. Ponto No de fases presentes Tipo da fase Interpretação da liga A 1 líquida totalmente líquido B 1 líquida inicia-se solidificação C 2 líquida e sólida líquido – sólido D 1 sólida final de solidificação E 1 sólida totalmente sólido Mistura de cristais No processo de solidificação de uma liga de dois elementos que formam uma mistura de cristais, temos uma concentração definida, onde a curva de resfriamento dessa mistura é igual à curva de resfriamento de um metal puro. Curva de resfriamento do eutético CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 53 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP A liga com essa concentração tem o ponto líquido mais baixo que todas as outras concentrações e é chamada de liga eutética. Componentes Temperatura de fusão Temperatura de fusão do eutético Ferro fundido Ferro 96% Carbono 4% 15350C 38400C 12000C Solda prata Cobre 55% Prata 45% 10830C 9610C 6200C Alumínio fundido por pressão Alumínio 88% Silício 12% 6600C 14140C 5770C Chumbo duro Chumbo 87% Antimônio 13% 3270C 6300C 2510C Na solidificação de uma liga que tem composição diferente da composição eutética, o elemento que está em maior proporção que a liga eutética começa a se solidificar até que a fase líquida atinja a composição eutética, ocorre então a solidificação da fase eutética em uma única temperatura. Curva de resfriamento de concentração diferente do eutético CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 54 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Diagrama de fases de um sistema que forma mistura de cristais Na figura abaixo vemos o diagrama de fases Pb – Sn que forma uma mistura de cristais. A forma de obter este diagrama é análoga à do diagrama de fases de cristais mistos vista na figura “Desenvolvimento de um diagrama de fases para uma liga Cu-Ni (cristais mistos)”. Combinações intermetálicas A curva de resfriamento de uma combinação intermetálica corresponde à curva de um metal puro e será estudada no diagrama Fe-C, na unidade 5. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 55 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Tratamentos térmicos dos aços Introdução Os tratamentos térmicos consistem de aquecimento, tempo de permanência a determinada temperatura e resfriamento. A estrutura de aço estudada na unidade anterior, no diagrama Fe – C só é obtida se o resfriamento for bem lento. Se o resfriamento for mais rápido, obtêm-se outras estruturas que estudaremos nesta unidade. Fatores que influenciam nos tratamentos térmicos Velocidade de aquecimento A velocidade de aquecimento deve ser adequada à composição e ao estado de tensões do aço. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 56 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Como tendência geral o aquecimento muito lento provoca um crescimento excessivo dos grãos tornando o aço frágil. Entretanto, um aquecimento muito rápido em aços ligados ou em aços com tensões internas (provocadas por fundição, forjamento, etc.) poderá provocar deformações ou trincas. Temperatura de aquecimento A temperatura de aquecimento deverá ser adequada para que ocorram as modificações estruturais desejadas . Se ela for inferior a essa temperatura, as modificações estruturais não ocorrerão; se for superior, ocorrerá um crescimento dos grãos que tornará o aço frágil. Tempo de permanência na mesma temperatura O tempo de permanência na mesma temperatura deve ser o suficiente para que as peças se aqueçam de modo uniforme em toda a secção, e os átomos de carbono se solubilizem totalmente. Se o tempo de permanência for além do necessário, pode haver indesejável crescimento dos grãos. Resfriamento As estruturas formadas no diagrama de equilíbrio Fe – C só vão se formar se o resfriamento for muito lento. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 57 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Diagrama Fe – C Para a austenita se transformar em ferrita, cementita e perlita não há só a necessidade de o ferro mudar de reticulado cristalino mas também envolve a movimentação dos átomos de carbono, através da austenita sólida, e isso leva algum tempo. A austenita possui um reticulado cúbico de face centrada (c.f.c.) e consegue dissolver o carbono; já na ferrita (cúbico de corpo centrado – c.c.c.) o carbono é praticamente insolúvel. Quando resfriamos rapidamente um aço ele se transforma de c.f.c. para c.c.c. e o carbono permanece em solução. Isso cria uma estrutura deformada, supersaturada de carbono que recebe o nome de martensita que é tetragonal e não cúbica. Devido a essas microtensões criadas no reticulado cristalino pelo carbono é que a martensita é dura, resistente e não dúctil. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 58 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Efeito do teor de carbono sobre a dureza de martensita Nos tratamentos térmicos, variando as velocidades de resfriamento, obtemos diferentes estruturas e com isso obtemos diferentes dureza, resistência a tração, fragilidade, etc. Com o auxílio do diagrama de transformação isotérmica também chamado de curva T.T.T. (tempo, temperatura, transformação), poderemos entender melhor os fenômenos que ocorrem quando o aço é resfriado a diferentes velocidades de resfriamento. Curvas de velocidade de resfriamento A austenita E ferrita P perlita B bainita M martensita D dureza em HRC Curva T.T.T. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 59 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Curva T.T.T. A figura anterior mostra a curva T.T.T. do aço 43 MnCr6. Se esfriarmos esse aço lentamente, com a velocidade de esfriamento da curva V, obtém-se uma estrutura com 15% de ferrita e 85% de perlita, que terá uma dureza de 22 rockwell C. Se aumentarmos a velocidade de resfriamento, obtém-se uma estrutura mais fina e com maior dureza (curva IV). Se resfriarmos como na curva II, obtém-se a estrutura de bainita que é uma estrutura intermediária entre a martensita e a perlita, isto é, é cementita dispersa em ferrita. Com a velocidade de resfriamento da curva I, obtém-se uma estrutura de 100% de martensita que teráuma dureza máxima para esse aço (61HRC). Essa velocidade é chamada de velocidade crítica. Os meios de resfriamento são os responsáveis pelas diferentes velocidades de resfriamento. O quadro seguinte apresenta em ordem decrescente de velocidade alguns meios de resfriamento. Meios de resfriamento Solução aquosa a 10% NaOH Solução aquosa a 10% NaCl Solução aquosa a 10% Na2CO3 Água 00C Água a 180C Água a 250C Óleo Água a 500C Tetracloreto de carbono Água a 750C Água a 1000C Ar líquido Ar Vácuo Os elementos de liga no aço, de uma forma geral, diminuem a velocidade crítica de resfriamento para a formação da martensita. Em linha cheia vê-se o diagrama T.T.T. de um aço 1050 comum. Em linha CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 60 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP tracejada pode-se observar a influência da adição de 0,25% molibdênio sobre o mesmo aço. Portanto, o meio de resfriamento deve ser mais brando, como é, por exemplo, o óleo, ou mesmo o ar. Recozimento É o tratamento térmico realizado com a finalidade de alcançar um ou vários dos seguintes objetivos: Remover tensões de trabalhos mecânicos a frio ou a quente; Reduzir a dureza do aço para melhorar a sua usinabilidade; Diminuir a resistência a tração; Aumentar a ductilidade; Regularizar a textura; Eliminar efeitos de quaisquer tratamentos térmicos. Recozimento total ou pleno Consiste em aquecer o aço a mais ou menos 500C acima da linha G – S – K e manter esta temperatura o tempo suficiente para que ocorra a solubilização do carbono e dos outros elementos de liga no ferro gama (austenita). Em seguida, deve-se fazer um resfriamento lento. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 61 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP O resfriamento é feito dentro do próprio forno, controlando-se a velocidade de resfriamento. Obtém-se desse recozimento uma estrutura de perlita grosseira que é a estrutura ideal para melhorar a usinabilidade dos aços de baixo e médio teor de carbono (0,2 a 0,6%); para aços com alto teor de carbono é preferível a estrutura de esferoidita que veremos no recozimento de esferoidização. A figura seguinte mostra a curva T.T.T. do aço AISI 5140 com a curva de resfriamento do recozimento. Curva T.T.T. de aço AISI 5140 com 0,43%C, 0,68%Mn e 0,93%Cr. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 62 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Recozimento de esferoidização O recozimento de esferoidização objetiva transformar a rede de lâminas de cementita em carbonetos mais ou menos esféricos ou esferoiditas. Esse tratamento melhora a usinabilidade e a ductilidade dos aços de alto teor de carbono. Para ocorrer essa transformação, o aço deve ser aquecido a uma temperatura entre 6800C a 7500C, em função do teor de carbono. Processos de recozimento Esta temperatura deve ser mantida o tempo suficiente para homogeneizar a temperatura em toda a peça e o resfriamento deve ser lento, cerca de 100C a 200C por hora. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 63 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Recozimento subcrítico Consiste em aquecer o aço a uma temperatura entre 550 a 6500C (abaixo da zona crítica – figura a seguir) com a finalidade de promover uma recristalização em peças que foram deformadas a frio (laminação, forjamento) ou para aliviar tensões internas provocadas nos processos de soldagem, corte por chama, solidificação de peças fundidas. Normalização A normalização consiste em aquecer as peças 200C a 300C acima da temperatura de transformação (linha G – S – E) e resfriá-las mais rápido que no recozimento porém mais lento que na têmpera. O mais comum é um resfriamento ao ar. Temperatura para normalização CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 64 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP O objetivo deste tratamento é obter uma granulação mais fina e uniforme dos cristais, eliminando as tensões internas. A normalização é usada em aço, após a fundição, forjamento ou laminação e no ferro fundido após a fundição. Têmpera dos aços A têmpera é um tratamento térmico que executamos em um aço quando desejamos aumentar sua dureza e resistência mecânica. Conseguimos isso mudando a estrutura do aço (de ferrita + perlita) para uma estrutura martensítica. A operação consiste basicamente em três etapas: Aquecimento Manutenção de uma determinada temperatura Resfriamento Aquecimento O aço deve ser aquecido em torno de 500C acima da zona crítica (linha G – S – K – figura ao lado) para que nos aços hipoeutetóides a perlita e a ferrita se transformem em austenita. Temperatura de têmpera CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 65 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Para os aços hipereutetóides, a temperatura pode ser mais baixa ( 500C acima da linha S – K – figura acima). Nessa temperatura a perlita se transforma em austenita e a cementita já é um constituinte duro. Manutenção da temperatura É o tempo necessário para que toda a peça chegue a uma mesma temperatura e se solubilize totalmente o carbono. Resfriamento O resfriamento deve ser feito em um meio que possibilite uma velocidade crítica, permitindo obter a estrutura de martensita. Esse meio pode ser: água, sal moura, óleo ou mesmo o próprio ar dependendo da velocidade de resfriamento que se precise. A figura ao lado mostra a curva de resfriamento para temperar o aço 1080, a linha Ms indica o início e a linha Mf, o fim da transformação da austenita em martensita. Curva T.T.T. do aço ABNT 1080 mostrando a curva de resfriamento para a têmpera CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 66 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Revenimento dos aços O revenimento é um tratamento térmico que normalmente se realiza após a têmpera (figura seguinte) com a finalidade de aliviar as tensões internas; diminuir a dureza excessiva e fragilidade do material, aumentando a ductilidade e a resistência ao choque. O revenimento consiste em aquecer a peça entre 100 e 4000C e resfriar lentamente. Beneficiamento Consiste em fazer uma têmpera, seguida de um revenimento a uma temperatura entre 4500 a 6500C. Os fabricantes de aço costumam fornecer diagramas semelhantes aos da figura seguinte de onde se escolhe a temperatura de revenimento em função das características mecânicas desejadas. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 67 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Efeito da temperatura de revenimento sobre a dureza e a resistência ao choque de um aço ABNT 1045 Alguns tipos de aços quando revenidos dentro de uma faixa de temperatura apresentam um aumento da fragilidade, medida em ensaio de resistência ao choque. Essa faixa de temperatura deve ser evitada revenindo-se a uma temperatura mais baixa ou a uma temperatura mais alta seguida de um resfriamento rápido (água ou óleo). Por exemplo: Aços Cr – Ni (tipo SAE 3140 e semelhantes) quando revenidos na faixa de 4550C a 5930C ou se aquecidos acima desta temperatura e resfriados lentamente, apresentam baixa resistência ao choque. Entretanto se aquecidos, por exemplo, a 6200C e resfriados rapidamente, sua resistência ao choque será satisfatória. As causas deste fenômeno ainda estão sendo estudadas. Atribui-se esse fato a uma possível precipitação de uma fase frágil dentro desta faixa de temperatura. Sabe-se que elevados teores de manganês, fósforo e cromo acentuam o fenômeno enquanto o molibdênio o retarda. Tratamento térmico de aços ligados Para a determinação das temperaturas deve-se sempre consultar as tabelas e diagramas do fornecedor. Aço ABNT 4340 Composição % C Si Mn Cr Ni Mo 0,38 – 0,43 0,15 – 0,30 0,60 – 0,80 0,70 – 0,90 1,65 – 2,00 0,20 – 0,30 CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 68 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Diagrama de revenimento do aço ABNT 4340 Em geral, os aços ligados necessitam de temperaturas altas para dissolver os carbonetos de elementos de liga (Cr, W, Mo, Ni). O resfriamentoé menos brusco (óleo, ar) e a estrutura obtida é mais fina (grãos menores). O revenimento após a têmpera deve ser iniciado o mais depressa possível, e em alguns casos é recomendado mais de um revenimento devido ao problema da austenita retida. Austenita retida Alguns aços ligados ao serem resfriados da temperatura de têmpera não se transformam inteiramente de austenita em martensita. Essa austenita que não se transformou (austenita retida) pode se transformar depois de algum tempo. Isso provoca uma variação dimensional da peça que poderá causar uma trinca. Nesses casos, recomenda-se fazer mais de um revenimento. No primeiro, a austenita retida se transformará em martensita; observa-se um aumento de dureza. Em seguida, em um segundo revenimento, as tensões da martensita serão aliviadas e o material se estabilizará. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 69 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Outro tratamento que pode ser executado nesses aços é o tratamento subzero. Tratamento subzero Consiste em se resfriar o aço a temperaturas muito inferiores a ambiente, para que ele atinja a linha de fim da transformação martensítica Mf, na curva T.T.T. Recorre-se a esse tratamento quando a estabilidade dimensional de ferramentas ou calibres situa-se em faixas muito apertadas de tolerância. Normalmente o primeiro tratamento subzero é executado após um primeiro revenimento, pois seria fatal para a peça um resfriamento direto da temperatura de austenitização. Em instrumentos de alta precisão podem ser adotadas séries de cinco a seis ciclos sucessivos de resfriamentos subzeros e revenimentos. Os meios usados podem ser uma mistura de gelo seco em álcool (-700C) ou nitrogênio líquido (-1950C). A figura abaixo apresenta a curva T.T.T. do aço SAE D3 que apresenta forte tendência à retenção de austenita após a têmpera. Devido a essa tendência, recomenda-se resfriar o material a temperaturas de –70 a –800C, logo após a têmpera, seguido de revenimento normal. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 70 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Curva T.T.T. aço SAE D3 – (Villares VC130) Composição 2,00%C, 12,00%Cr A figura seguinte mostra a variação da dureza em função da temperatura usada para revenir. Curva de revenimento para o aço SAE D3. A experiência foi feita com corpos de prova quadrados com 20mm de lado, austenitizados a 9600C e revenidos na temperatura indicada por uma hora. Têmpera superficial Na têmpera superficial produz-se uma mudança da estrutura cristalina localizada apenas na superfície do aço, que adquire as propriedades e características típicas da estrutura martensítica. Esse processo tem como objetivo aumentar consideravelmente a resistência ao desgaste na superfície e manter a tenacidade do núcleo. Devem ser empregados aços de 0,3% a 0,6% de teor de carbono. A têmpera superficial pode ser realizada por dois processos: chama e indução. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 71 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Têmpera por chama O aquecimento da peça é feito por meio da incidência de uma chama oxiacetilênica na superfície da peça, a uma temperatura acima da zona crítica (7230C), atingindo uma camada predeterminada a endurecer; em seguida é feito um resfriamento por jateamento de água. Existem vários métodos de aquecimento. As duas próximas figuras mostram os tipos de aquecimento para têmpera superficial: - circular e linear. Têmpera superficial circular método combinado progressivo-giratório Têmpera superficial linear CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 72 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Têmpera superficial por indução O calor para aquecer a peça até a temperatura de austenitização pode ser gerado na própria peça por indução eletromagnética. A peça a ser temperada é colocada dentro de uma bobina. Um gerador fornece a corrente elétrica de alta freqüência, que cria um campo magnético na bobina. Esse campo magnético provoca um fluxo de corrente elétrica na peça (princípio da indução). O aquecimento da peça é gerado pela resistência do material ao fluxo da corrente elétrica. Processos de têmpera superficial por indução. Alcançada a temperatura de têmpera, resfria-se rapidamente a peça por meio de um jato de água ou óleo. Tratamentos termoquímicos Os processos termoquímicos são aplicados nos aços com baixo teor de carbono com o objetivo de aumentar sua dureza superficial e a resistência ao desgaste, mantendo o núcleo dúctil e tenaz. Absorvendo um elemento endurecedor, o material modifica sua composição química superficial CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 73 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Os tratamentos termoquímicos mais usados são: Cementação Nitretação Boretação Esses tratamentos são feitos com substâncias sólidas, líquidas ou gasosas. Cementação A cementação se aplica a aços com até 0,25% de carbono e com baixo teor em elementos de ligas. O aço é colocado em um meio rico em carbono e aquecido a uma temperatura acima da temperatura de transformação em austenita, pois neste estado ele consegue dissolver melhor o carbono. A profundidade de penetração do carbono depende do tempo de cementação. Como o processo se dá por difusão, a camada superficial apresentará grande saturação do elemento carbono, decrescendo em direção ao núcleo como mostra a figura ao lado. Difusão do carbono na cementação CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 74 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Temperatura de cementação As temperaturas de cementação mais elevadas favorecem a penetração reduzindo o tempo de cementação, porém, conferem uma granulação mais grosseira, o que reduz os limites de resistência a tração, torção, flexão, etc. Os valores mais usuais de temperatura de cementação oscilam de 8500C a 9500C. Tempo de cementação O tempo de cementação é determinado em função da espessura da camada cementada desejada, da temperatura e do meio cementante. Obviamente, quanto maior for o tempo e mais alta a temperatura, mais profunda será a camada. Meios de cementação A cementação, quanto aos meios cementantes (tabela abaixo), pode ser: Sólida (caixa) Liquida (banho em sais fundidos) Gasosa (fornos de atmosfera) Cementação Meios cementantes Sólida Carvão vegetal duro Carvão coque 20% Ativadores 5 a 10% Líquida Cianetos de sódio Cianetos de bário Cianatos de sódio Cianatos de bário Outros sais Gasosa Gás metano Gás propano, etc. Aplicação da cementação Peças como engrenagens, eixos, parafusos, etc., que necessitam de resistência mecânica e de alta dureza na superfície e núcleo dúctil com boa tenacidade. Nitretação A nitretação, semelhantemente à cementação, é um tratamento de endurecimento superficial em que se introduz superficialmente nitrogênio no aço até uma certa profundidade, a uma temperatura determinada em ambiente nitrogenoso. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 75 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Exemplos: 34 Cr A Mo 5 31 Cr Mo 12 34 Cr A Ni 7 A nitretação é realizada com os seguintes objetivos: Obtenção de elevada dureza superficial, maior do que nos outros processos, exceto na boretação; Aumento da resistência ao desgaste; Aumento da resistência à fadiga; Aumento da resistência à corrosão; Melhoria de resistência superficial ao calor. A nitretação é realizada com temperatura inferior à zona crítica de 500 a 5600C, tornando as peças menos suscetíveis a empenamentos ou distorções. Após a nitretação não há necessidade de qualquer tratamento. A nitretação pode ser feita em meio líquido ou gasoso, devendo ser aplicada em peças temperadas. O nitrogênio introduzido na superfície combina-se com o ferro, formando uma camada de nitreto de ferro de elevada dureza. Na nitretação gasosa, o elemento nitretante é a amônia que se decompõe, parcialmente, fornecendo o nitrogênio. Nesse processo, o tempode formação da camada é muito grande, como mostra o gráfico seguinte. Diagrama da nitretação gasosa CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 76 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Na nitretação líquida, o meio nitretante são banhos de sais fundidos, em geral cianetos e cianatos, responsáveis pelo fornecimento do nitrogênio. A nitretação líquida apresenta vantagens sobre a gasosa, pois confere ao aço camadas mais profundas em menos tempo e reduz a possibilidade de deformações. Oferece bons resultados também para os aços comuns ao carbono. O gráfico abaixo nos mostra a influência do carbono e das ligas na profundidade da camada nitretada. Diagrama de nitretação líquida Boretação É o processo mais recente dos tratamentos superficiais nos aços liga, ferro fundido comum e nodular. O processo se efetua em meio sólido de carboneto de boro a uma temperatura de 8000C a 1 0500C. O composto formado na superfície é o boreto de ferro, com dureza elevadíssima, na faixa de 1 700 a 2 000 vickers. A alta dureza da camada boretada oferece elevada resistência ao desgaste e, inclusive, elevada resistência à corrosão. Essa camada é resultado do tempo de boretação. Um aço SAE 1 045 boretado a 9000C apresentou o seguinte resultado: Camada 100 em 4 horas Camada 150 em 8 horas Camada 200 em 12 horas O aço boretado é usualmente temperado e revenido. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 77 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Resumo dos ciclos de tratamentos térmicos CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 78 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Tratamento Finalidade Remover tensões de trabalhos mecânicos a frio ou a quente. Reduzir dureza. Melhorar a usinabilidade. Obter granulação mais fina. Eliminar tensões internas originadas na fundição, forjamento ou laminação. Aumenta a dureza, resistência a tração. Aumenta a dureza superficial e mantém o núcleo da peça dúctil e tenaz. Aumenta a dureza superficial, resistência a fadiga, a corrosão, melhora a resistência superficial a calor. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 79 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Exercício Preencha os quadros a seguir de acordo com o gráfico. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 80 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Metais não-ferrosos e ligas Introdução Os metais não-ferrosos têm aumentado cada vez mais a sua importância no mundo moderno, quer substituindo o ferro, quer formando ligas com o ferro para melhorar as suas características. Podemos classificá-los em dois grandes grupos: 1. Metais pesados cuja densidade é maior ou igual a 5kg/dm3. 2. Metais leves cuja densidade é menor que 5kg/dm3. A maioria dos metais puros são moles e têm baixa resistência a tração. Mas essas propriedades podem ser melhoradas pela adição de elementos de liga. Pela adição de elementos de liga quase sempre aumentam-se a dureza e a resistência a tração, diminui-se o alongamento, e a condutibilidade elétrica piora. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 81 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP A obtenção dos metais Os minérios de onde são retirados os metais, além do próprio metal, contêm também impurezas, tais como: oxigênio, hidrogênio e enxofre. A quantidade (porcentagem) de metal varia em função do tipo de minério. O quadro abaixo mostra esquematicamente o processo de obtenção da maioria dos metais. Para obter um metal quase que totalmente puro (99,99%) usam-se normalmente outros processos além do processo normal de obtenção do metal siderúrgico, os quais dependem do tipo de metal. Normalização Segundo DIN 1700 Para metais puros escreve-se o símbolo do elemento químico seguido do grau de pureza. Designação de metais puros Zn 99,99 CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 82 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP símbolo grau de pureza Para ligas adota-se a seguinte forma: Produção ou aplicação Composição Propriedades especiais G = Fundido GD = Fundido a pressão GK = Fundido em coquilha Gz = Fundido por centrifugação V = Liga prévia de adição Gl = Met. antifricção para mancais L = Metal para solda 1. Símbolo químico do metal base 2. Símbolo químico dos elementos de liga seguidos de seu teor em porcentagem F-40 = Resistência a tração em kgf/mm2 W = mole h = duro Wh = dureza de laminado Zh = dureza de trefilado P = dureza de prensagem 150Hv = dureza vickers bk = brilhante gb = decapado g = recozido dek = oxidável com efeito decorativo Exemplos: 1 GD-Zn A 4 Cu1 Liga de zinco fundido sob pressão com 4% de A , 1% de Cu. 2 A Cu Mg1 F40 Liga de alumínio com 1% de Cu e resistência a tração de 40kfg/mm2 390N/mm2. Exercício Explique as denominações das ligas abaixo: G Sn80 A Cu Mg1 W A Mg Si1 dek F28 CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 83 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Gk Cu A 10 Ni Metais não-ferrosos pesados Cobre(Cu) Propriedades: é um metal de cor avermelhada, bom condutor de eletricidade e calor, resistente a corrosão, dúctil e maleável (pode atingir mais de 90% de deformação a frio, sem recozimento intermediário). Propriedades do cobre Densidade 8,96g/cm3 Ponto de fusão 1 0830C Resistência a tração 200...360N/mm2 Alongamento 50...35% Coeficiente de dilatação térmica 16,5X10-6cm/cm/0C (200C) É utilizado para transmissão de energia elétrica (fios, chaves, conexões) e energia térmica (trocadores de calor). Quando são necessárias propriedades mecânicas mais elevadas, usam-se ligas de cobre. Liga cobre-zinco (latões) São ligas de cobre e zinco onde o teor de zinco varia de 5 a 50%, podendo ainda conter outros elementos de liga como o chumbo, estanho e alumínio em pequenos teores. Exemplos de liga cobre-zinco Cu Zn30 F43 Cu Zn20 Al F35 Cu Zn39 Sn F35 Liga cobre-estanho (bronzes) Os bronzes são ligas de cobre com estanho (2 a 16%). À medida que cresce o teor de estanho, aumenta a resistência mecânica e diminui a ductilidade. As propriedades mecânicas podem ser melhoradas com a adição de até 0,4% de fósforo que atuará como desoxidante, dando origem ao chamado bronze fosforoso. CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 84 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP O chumbo é adicionado para melhorar as propriedades de antifricção, a usinabilidade e a estanqueidade (de peças fundidas); o zinco é adicionado para atuar como desoxidante (nas peças fundidas) e melhorar a resistência mecânica. Exemplos de liga cobre-estanho Cu Sn8 F53 Cu Sn6 Zn F70 Liga cobre-níquel e liga cobre-níquel-zinco (alpacas) As alpacas contêm de 45 a 70% de cobre, 10 a 30% de níquel e o restante de zinco. Exemplo de alpaca Cu Ni25 Sn5 Zn2 Pb2 São utilizadas para confecção de peças decorativas, talheres e utensílios semelhantes, molas de contato de equipamentos elétricos e telefônicos, arames de resistores elétricos, válvulas hidráulicas. Liga cobre-alumínio São utilizadas para confecção de cestos de decapagem, sapatas de laminador, engrenagens internas, bombas resistentes a álcalis, assentos de válvulas, hastes, hélices navais, mancais, buchas. Exemplos de liga cobre-alumínio Cu A 10 Fe1 Cu A 11 Fe5 Ni5 CIÊNCIA DOS MATERIAIS II 85 COLÉGIO TÉCNICO DE CAMPINAS - UNICAMP Liga Propriedades mecânicas Uso Limite de resistência a tração kgf/mm2 Alongamento % Dureza brinell Cu – ETP* 22 – 45 48 – 6 45 – 105 Cabos condutores de eletricidade, motores, geradores, transformadores, bobinas. (latões) CuZn30 33 – 85 62 – 3 65 – 160 Tubos de trocadores de calor para água não poluída, cápsulas e roscas de lâmpadas, cartuchos, instrumentos musicais, carcaças de extintores de incêndio, componentes
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