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TCC João Lucas

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JOÃO LUCAS MARINHO DA SILVA
RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
BACHARELADO EM DIREITO
FMU/SÃO PAULO
OUTUBRO/2015
JOÃO LUCAS MARINHO DA SILVA
RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em direito apresentado à Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU.
Orientadora: Professora Adalgisa Falcão
	
FMU-SP
2015
JOÃO LUCAS MARINHO DA SILVA
RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DE INFECÇÃO HOSPITALAR
Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de graduação em direito apresentado à Faculdades Metropolitanas Unidas - FMU.
Aprovado em:
_______________________/__/___
Professora Adalgisa Falcão
FMU-SP
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a todos os professores que ao longo desses cinco anos de curso deram muito de si para que nós alunos tivéssemos precioso conhecimento em todas as áreas que o curso abrange.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus.
Agradeço ao meu pai José e a minha mãe Marli, por todo apoio e paciência nos momentos de dificuldade no decorrer do curso,bem como toda esperança que depositaram em mim, sem duvida nenhum obstáculo seria superado sem que eu tivesse contado com a confiança de ambos.
Agradeço aos meus amigos por todos os momentos vivenciados dentro e fora da universidade, que contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional.
"Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la." 
Voltaire
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1.	NOÇÕES GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL....................................12
1.1.	Evolução Histórica da Responsabilidade Civil................................12
1.2.	A Responsabilidade Civil...................................................................13
1.3.	Responsabilidade Contratual e Extracontratual..............................15
1.4.	Responsabilidade Civil Objetiva e Subjetiva....................................16
1.4.1.	Responsabilidade Civil Objetiva.............................................19
1.4.2.	Responsabilidade Civil Subjetiva...........................................21
1.5.	Excludentes da Responsabilidade Civil no Código de Defesa Do Consumidor.........................................................................................23
2.	PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL.....................................25
	2.1.	Conduta do Agente.............................................................................25
	2.2.	O Dolo ou Culpa do Agente................................................................26
	2.3.	O Dano..................................................................................................27
	2.4.	O Nexo de Causalidade......................................................................28
	2.5.	Excludentes do Nexo de Causalidade..............................................29
3.	INFECÇÃO HOSPITALAR..............................................................................31
3.1.	 O Programa de Controle de Infecções Hospitalares......................32
3.2.	As Principais Infecções Hospitalares...............................................36
4.	 A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CASOS DE INFECÇÃO HOSPITALAR..................................................................................................40
5.	CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................46
	BIBLIOGRAFIA...............................................................................................48
RESUMO
Esta monografia foi concebida sob a perspectiva de demonstrar a responsabilidade civil decorrente de infecções hospitalares ou decorrentes do evento de internação nas redes hospitaleiras. A motivação acima consignada encontra fundamento jurídico no Código Civil, lei que dispõe sobre a própria responsabilidade, bem como os atos ilícitos e fundamento no Código de Defesa do Consumidor. Foi dada ênfase no estudo da responsabilidade objetiva.
Palavras-chaves: indenização – infecção – responsabilidade – hospital – internação – consumidor – controle - dano
INTRODUÇÃO
Trata-se de trabalho de conclusão do curso de Direito, no qual será tratado o tema das infecções hospitalares como objeto da responsabilidade civil, ou seja, como causadora de dano a ser indenizado pelos responsáveis, representados pelas pessoas jurídicas das entidades mantenedoras dos hospitais.
	O objetivo deste trabalho resulta da análise da crescente demanda nos Tribunais de todo o país de ações de indenização em decorrência de infecção hospitalar e mais especificamente sobre a controvérsia existente no que tange a modalidade de responsabilidade civil a ser aplicada nos presentes casos, que atualmente diverge entre a responsabilidade civil e subjetiva.
	O trabalho decorre do estudo dos mais variados doutrinadores, bem como dos pareceres dos tribunais pátrios sobre o referido tema, além da análise da legislação específica sobre o controle das infecções hospitalares, a qual encontra-se devidamente regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, para que ao final dos estudos se possa esclarecer se há a necessidade de ser auferida a responsabilidade do nosocômio no evento danoso, ou se esta responsabilidade já é adquirida no momento da internação do paciente.
	Para melhor compreensão do tema, é importante definir o conceito de hospital, podendo ser definido como estabelecimento que se destinam a internação e tratamento de pacientes, disponibilizando assistência médica, através de sua equipe técnica e fornecendo os serviços de hospedagem e hotelaria visando a recuperação dos doentes.
1. 	NOÇÕES GERAIS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
1.1.	Evolução Histórica da Responsabilidade Civil
A idéia de compensar prejuízo injustamente causado é algo recente no Direito, trazida com o princípio da Lei de Talião, pelo qual se pagava o mal com o mal na chamada vingança privada. E isso porque, inexistiam mecanismos limitadores dessas reações humanas. Uma prática que talvez, perdurasse até os dias de hoje, se não se encontrasse impedimento no ordenamento jurídico vigente. 
Em fase mais avançada do século XIII a.C, com a presença de uma autoridade estatal imperante, foi que o legislador começou a regular a idéia de indenização, vedar a vingança particular e constranger o causador do dano a compor ofensas. Já em 450 a.C apareceram alguns ordenamentos modificadores da responsabilidade civil, como o Alcorão e o livro de Deuteronômio. 
Entretanto, foi no século III a.C que o ente estatal de forma exclusiva, passou a intervir nas lides privadas; dando valores aos danos e coagindo o lesado a aceitar a composição sem recorrer ao acerto de contas particular. E isso tudo, por meio da Lex Aquilia, considerada o marco da responsabilidade civil na época de Justiniano. 
A Lex Aquilia foi um plebiscito que datou o final do século III e que permitiu ao titular de bens destruídos ou deteriorados, o direito de receber pagamento de quem lhe deu causa como forma de penalidade pecuniária. Nesse contexto, surgiu a idéia de responsabilidade extracontratual, pois o Direito Romano interpretou esse diploma estabelecendo que havendo sido provocado dano injusto a alguém, o autor deveria ser punido independente de haver uma obrigação pressuposta. 
Ressalta-se, que a teoria da reparação de danos só começou a ser moldada de forma mais compreensível quando os juristas vislumbraram que seu fundamento consistia na ruptura sofrida no equilíbrio patrimonial em virtude do dano. A partir daí, os franceses aprimoraram as teorias romanas constituindo os princípios gerais da responsabilidade civil. 
Com o adventoda evolução tecnológica, econômica e industrial no ocidente, depois da Segunda Guerra, foram verificadas alterações no campo dos contratos e nos princípios reguladores do dever de indenizar. A partir disso, percebe-se que o histórico da responsabilidade civil na cultura ocidental sofre mudanças constantes que oscilam desde as idéias mais clássicas até as formas atuais, todas elas, frutos da necessidade de adequação social. 
1.2.	A Responsabilidade Civil
A expressão responsabilidade tem origem do latim “respondere” que consiste na idéia de segurança ou garantia da restituição ou compensação.
Sobre a conceituação de Responsabilidade Civil, Maria Helena Diniz assevera que:
Poder-se-á definir a responsabilidade civil como a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva). [1: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 15 ed. São Paulo. Saraiva, 2001, v. 7, p. 34.]
Sílvio de Salvo Venosa nos ensina sobre o assunto:
A responsabilidade civil leva em conta, primordialmente, o dano, o prejuízo, o desequilíbrio patrimonial, embora em sede de dano exclusivamente moral, o que se tem em mira é a dor psíquica ou o desconforto comportamental da vítima. No entanto, é básico que, se não houver dano ou prejuízo a ser ressarcido, não temos por que falar em responsabilidade civil: simplesmente não há por que responder. A responsabilidade civil pressupõe um equilíbrio entre dois patrimônios que deve ser restabelecido.[2: VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. 4 ed. São Paulo. Editora Atlas, 2004, v. 4, p. 24.]
Rui Stocco cita Crettela para fazer referência aos pressupostos da Responsabilidade Civil, são eles:
a) Aquele que infringe a norma; b) a vítima da quebra; c) o nexo causal entre o agente e a irregularidade; d) o prejuízo ocasinonado – o dano – a fim de que se proceda à reparação, ou seja, tanto quanto possível, ao reingresso do prejudicado no satatus econômino anterior ao da produção do desequilíbrio patrimonial.[3: STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial: doutrina e jurisprudência. 4 ed. São Paulo. RT, 1999, P. 154.]
A idéia de reparação é evidente na definição da responsabilidade civil, ou seja, é a equivalência de contra prestação, ou a própria correspondência entre o ato praticado a outrem e sua imposição de reparar.
1.3.	Responsabilidade Contratual e Extracontratual
Há dois tipos de responsabilidade nesta classificação e adotados pelo Código Civil Brasileiro, a contratual e a extracontratual, visto que o prejuízo pode resultar tanto do descumprimento de uma obrigação contratual, como da prática de um ato ilícito.
A responsabilidade contratual é quando a responsabilidade deriva de um contrato, sendo o agente inadimplente ou descumprindo o contrato. Abrange, também, uma obrigação proveniente de um negócio unilateral ou da leu. Já na responsabilidade extracontratual, não há qualquer relação jurídica anterior entre o agente que causou o dano e sua vítima. É a partir do ato lesivo daquele que a obrigação de indenizar surgirá, facultando-se à vítima o direito de acionar a máquina judiciária na persecução de uma reparação civil em desfavor do agente causador do dano.
Distinguiu a doutrina a responsabilidade decorrente do contrato ou das relações contratuais da responsabilidade decorrente do ato ilícito, ou seja, do mau relacionamento entre pessoas e do descumprimento de um direito preexistente. Esta, também designada de responsabilidade aquiliana, divide-se, no aspecto subjetivo ou da vontade, em responsabilidade: objetiva (sem culpa, quando o dever de reparar decorre do só fato do dano, desde que existente o nexo causal); subjetiva, que repousa fundamentalmente no conceito de culpa, se a qual não nasce a obrigação de indenizar; e quanto ao agente causador, em responsabilidade por fato próprio, por fato de terceiro, pelo fato dos animais. [4: Idem. Ibidem, p. 139]
O efeito principal, portanto, de ambas as responsabilidades é a obrigação de indenizar a vítima. O que as diferencia é o ônus da prova. Na responsabilidade extracontratual, incumbe à vítima ou queixoso demonstrar os seus requisitos caracterizadores, quais sejam a existência do dano, a culpa do agente e o nexo de causalidade entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima. Na responsabilidade contratual, por sua vez, a incumbência de provar que não houve descumprimento das cláusulas contratuais é do agente causador do inadimplemento contratual.
1.4.	 Responsabilidade Civil Objetiva e Responsabilidade Civil Subjetiva
A responsabilidade civil objetiva leva em consideração o dano ocasionado e nexo causal para a obrigação de indenização, não levando em conta a prova de culpa.
A lei impõe a obrigação de reparar o dano independentemente de culpa. É a teoria objetiva ou do risco, que prescinde de comprovação da culpa para ocorrência do dano indenizável. Basta haver o dano e nexo de causalidade para justificar a responsabilidade civil do agente. Na responsabilidade objetiva pode haver inversão no ônus da prova quando presentes a verossimilhança ou a hipossuficiência do paciente.
Silvio Rodrigues ensina que:
Segundo esta teoria, aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano para terceiros deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e o seu comportamento sejam isentos de culpa. Examina-se a situação, e, se for verificada, objetivamente, a relação de causa e efeito entre o comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima, esta tem o direito de ser indenizada por aquele. [5: RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, Responsabilidade Civil. São Paulo. Saraiva, v. 4, 2003. p.11.]
Ou seja, a reparação do dano será obrigatória, ainda que não se verifique culpa, nos caos especificados em lei e também quando o autor do dano, através de sua atividade, cria risco para terceiro.
Silvio Salvo Venosa assegura que:	
Na responsabilidade objetiva, como regra geral, leva-se em conta o dano em detrimento do dolo ou da culpa. Desse modo, para o dever de indenizar, bastam o dano e o nexo causal, prescindindo-se da prova da culpa.[6: VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. 4 ed. São Paulo. Editora Atlas, 2004, v. 4, p. 21.]
Aquele que cria um risco de dano para outrem, tem o dever de indenizá-lo, ainda que imune de culpa. A responsabilidade objetiva é diretamente ligada a teoria do risco, sendo a conduta culposa ou dolosa do agente é de menor importância, pois desde que haja nexo causal surge o dever de indenizar.
A teoria do risco consiste em dizer que toda pessoa que exerce alguma atividade que cria em risco de dano para terceiros, deve ser obrigada a rapará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. Isso significa dizer que a responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a idéia de risco.
No entanto a responsabilidade civil subjetiva se baseia na culpa do agente, que deve ser comprovada para gerar a obrigação indenizatória, para que o agente seja responsabilizado pelos danos causados à vítima, independentemente se o resultado danoso se dá por ação ou omissão. A responsabilidade do causador do dano, pois, somente se configura se ele agiu com dolo ou culpa. Trata-se da teoria clássica, também chamada teoria da culpa ou subjetiva.
A teoria da responsabilidade subjetiva exige como um dos pressupostos para impetrar a indenização do dano o comportamento culposo do agente, abrangendo a culpa propriamente dita e o dolo. Apesar disso, a culpa não pode ser presumida, necessitará ser comprovada pela vítima, motivo pelo qual se denomina responsabilidade subjetiva.
Sobre o tema em tela Caio Mário ensina:
 Especialmente a desigualdade econômica, a capacidade organizacional da empresa, as cautelas do juiz na aferição dos meios de provatrazido ao processo nem sempre logram convencer da existência da culpa, e em consequência a vítima remanesce não indenizada, posto se admita que efetivamente lesada. [...]
A doutrina objetiva, ao invés de exigir que a responsabilidade civil seja a resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo de causalidade entre uma e outro) assenta-se na equação binária cujos pólos são o dano e autoria do evento danoso. Sem cogitar da imputabilidade ou investigar a antijuridicidade do fato danoso, o que importa para assegurar o ressarcimento é a verificação se ocorreu o evento e se dele emanou o prejuízo. Em tal ocorrendo, o autor do fato causador do dano é responsável. Com a teoria do risco, diz Philippe Le Tourneau, o juiz não tem de examinar o caráter lícito ou ilícito do ato imputado ao pretenso responsável: as questões de responsabilidade transformam-se em simples problemas objetivos que se reduzem à pesquisa de uma relação de causalidade. [7: PEREIRA. Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro. 2001. P. 260.]
Assim, podemos afirmar que a responsabilidade extracontratual subjetiva é a regra geral utilizada pelo nosso ordenamento jurídico. O ato que resultou o dano deve ter sido originário de negligência, imprudência ou imperícia, três elementos fundamentais da culpa.
1.4.1.	Responsabilidade Civil Objetiva
A princípio, a responsabilidade civil fundou-se na doutrina da culpa, adotada pelo nosso Código Civil de 1916, a multiplicação das oportunidades e das causas de danos evidenciaram que a responsabilidade subjetiva mostrou-se inadequada para cobrir todos os casos de reparação.
A doutrina objetiva nasceu devido às técnicas de juristas que sentiram a necessidade desse novo elemento para desempenhar mais ampla cobertura para a reparação do dano, a corrente da responsabilidade objetiva é aquela que defende a responsabilidade civil com fundamento não apenas da culpa, mas também do risco, ou seja, quem desenvolve determinada atividade deve arcar com os riscos da atividade que podem, inclusive, criar riscos para terceiros. Temos, então, que a responsabilidade objetiva visa a estimulação do cuidado que as pessoas devem possuir com estados e condições adquiridas. Essa corrente tem caráter predominantemente social.
Conforme conceituado por STOCO:
(...) A teoria da "culpa presumida" é um dos meios técnicos que se identifica com essa doutrina. Trata-se de uma espécie de solução transacional ou escala intermediária, em que se considera não perder a culpa a condição de suporte da responsabilidade civil, embora aí já se deparem indícios de sua degradação (...) e aflorem fatores de consideração da vítima como centro da estrutura ressarcitória, para atentar diretamente para as condições do lesado e a necessidade de ser indenizado.[8: Idem. Ibidem.]
E, ainda:
 (...) A responsabilidade objetiva difere da culpa presumida. Na tese da presunção de culpa susiste o conceito genérico de culpa como fundamento da responsabilidade civil. Onde se distancia da concepção subjetiva tradicional é no que concerne ao ônus da prova.[9: Idem. Ibidem.]
Dentro da teoria clássica da culpa, a vítima tem de demonstrar a existência dos elementos fundamentais de sua pretensão, sobressaindo ao comportamento culposo do demandado. Na culpa presumida ocorre uma inversão do onus probandi. Em certas circunstâncias, presume-se o comportamento culposo do causador do dano, cabendo-lhe demonstrar a ausência de culpa, para se eximir do dever de indenizar. Foi um modo de afirmar a responsabilidade civil, sem necessidade de provar o lesado a conduta culposa do agente, mas sem repelir o pressuposto subjetivo da doutrina tradicional.
Diz STOCO, ainda, que: 
Em determinadas circunstâncias é a lei que enuncia a presunção. Em outras, é a elaboração jurisprudencial que, partindo de uma idéia tipicamente assentada na culpa, inverte a situação impondo o dever ressarcitório, a não ser que o acusado demonstre que o dano foi causado pelo comportamento da própria vítima.[10: STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil – Doutrina e Jurisprudência. RT, 2007, 7 ed.]
Pode-se afirmar ainda, que a impossibilidade de ciência sobre o infrator, não prejudica a ação a ser proposta, posto que responderá aquele que assumiu o risco da atividade.
1.4.2	Responsabilidade Civil Subjetiva
A responsabilidade civil subjetiva ou aquiliana, em sua concepção clássica, inserida no artigo 159 do Código Civil, tem como fundamento para responsabilização do agente, a culpa, cabendo à vítima o ônus probatório, a definição de culpa, conforme SÍLVIO RODRIGUES citando MARTY e RAYNAUD, divide-se em duas vertentes. A primeira considera a culpa do ponto de vista moral, levando-se em conta, além de uma infração a uma norma de conduta, o livre arbítrio da pessoa. Já a segunda vertente entende a infração de norma comportamental do ponto de vista social, sem considerações morais.
Para se verificar essa infração compara-se tal atitude com a atitude que normalmente tomaria um homem médio (in abstrato), sendo um padrão ao critério do julgador. Verificada a discrepância entre as atitudes - que pode ser intencional, ou por negligência, imprudência, ou imperícia - caracteriza-se a culpa. Porém a discussão da definição da culpa não se reveste, em nosso direito, de maior relevância, visto que nosso legislador foi preciso ao escolher as palavras, definindo o ato culposo.
Em nossa legislação, através do artigo 159 do Código Civil, exige-se para caracterizar a responsabilidade aquiliana a culpa em sentido amplo, uma vez que prescreve ação ou omissão voluntária (dolo), negligência e imprudência apurada em comparação com a atitude normal de um homem médio (culpa em sentido estrito). São considerados o dolo intencional e eventual. O dolo intencional é uma ação ou omissão deliberada do agente visando o resultado danoso, ou seja ele, deseja causar o dano e realmente a causa. O dolo eventual é consciência de que o fato danoso pode ocorrer em função de um ato do agente, que apesar de não ter a intenção de causá-lo, realiza o ato e acaba por causar o dano.
Na culpa não há a intenção do agente de causar o dano, contudo como agiu com negligência, imprudência, ou imperícia, acabou por causar o dano à vítima. A culpa pode ser graduada em grave, leve e levíssima, porém tal graduação e a diferenciação entre culpa e dolo, não são levadas em conta pelo legislador pátrio, no caso de reparação do dano, em virtude de determinar indenização em função do dano sofrido, independente do tipo de atuação do agente que deu causa ao mesmo.
Para SÍLVIO RODRIGUES, tal solução não parece justa, principalmente em relação a culpa levíssima, por isso enaltece o artigo 1003 do Anteprojeto de Código Civil de 1972 que concede ao juiz autorização para decidir por equidade em caso de culpa leve e levíssima. A verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade estão contidos nos artigos 1518 a 1532 e 1537 a 1553, conforme o artigo 159 do Código Civil vigente.
1.5	Excludentes da Responsabilidade Civil no Código de Defesa Do Consumidor
Apesar do Código de Defesa do Consumidor ter adotado o modelo da responsabilidade civil objetiva com culpa prescindível, existem hipóteses de exclusão da responsabilidade do fornecedor do serviço.
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (artigo 14, § 3º), o fornecedor do serviço se exime da responsabilidade quando provar, alternativamente que, tenha prestado o serviço e o defeito é inexistente, a culpa é exclusiva do consumidor ou de terceiro. Portanto, a exoneração da responsabilidade depende de prova a ser produzida pelo fornecedor do serviço, no presente caso os hospitais.
Observam ainda que, ao admitir a prova de culpa de outrem como excludente da responsabilidade, o Código acena para a responsabilidade civil com culpa presumida, o que implica dizer que a responsabilização do agente estaria assentada tão somente em uma presunção relativa de culpa, vencível, pois, por prova em contrário. A expressão, significativamenteenfática, independentemente da existência de culpa, inscrita no artigo 14, caput, não é de se admitir qualquer valoração comportamental, concluindo-se, por isso, que se adotou o modelo da responsabilidade civil com culpa prescindível e não simplesmente presumida.
 2.	PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Para que no mundo jurídico exista a responsabilidade civil e a obrigação de indenizar, é necessária a presença dos elementos da responsabilidade civil, podemos classificá-los como:
• A conduta do agente (ação ou omissão);
• O dolo ou culpa do agente;
• O dano;
• O nexo de causalidade, que estabelece o elo entre a conduta ofensiva do agente e a perturbação ocasionada à vítima.
2.1 	A Conduta do Agente
Não há responsabilidade civil sem determinado comportamento humano contrário à ordem jurídica, o qual advém de uma ação ou omissão por parte do agente.
Sobre o assunto, explana Maria Helena Diniz da seguinte forma:
Vem ser ao ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntários e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos lesados.[11: Idem. Ibidem, p. 37.]
Dessa forma, para que se caracterize a responsabilidade civil é fundamental que exista um ato praticado ou que deveria ser praticado, mas não foi, e que desse ato resulte um dano.
Para que se configure a responsabilidade civil, a ação ou omissão que cause prejuízo deve ser voluntária, de modo que sejam afastados todos os atos praticados sem vontade, verificados entre estes os oriundos de caso fortuito ou de força maior
.
2.2.	O Dolo ou Culpa do Agente
	Culpa é compreendido como a falta cometida através de ação ou omissão precedida de ignorância ou negligência, não existe a intenção, o dano ocorreu devido ao comportamento negligente do autor do dano.
	Assim, a culpa viola um dever preexistente, a falta ou inobservância da execução de algum ato.
O dolo, que é a violação intencional do dever jurídico, e a culpa em sentido estrito, caracterizada pela imperícia, imprudência ou negligência, sem qualquer, sem qualquer deliberação de violar um dever. Portanto, não se reclama que o ato danoso tenha sido, realmente, querido pelo agente, pois ele não deixará de ser responsável pelo fato de não ter-se apercebido do seu ato nem medido as suas conseqüências.
Conforme ensina Maria Helena Diniz:
É necessário que haja uma ação ou omissão voluntária, que viole norma jurídica protetora de interesses alheios, ou um direito subjetivo individual, e que o infrator tenha conhecimento da ilicitude de seu ato, agindo com dolo, se intencionalmente procura lesar outrem, ou culpa, se consciente dos prejuízos que advêm de seu ato, assume o risco de provocar evento danoso.[12: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 20 ed. São Paulo. Saraiva, 2006, p.45.]
A culpa não há a intenção de provocar um dano pelo agente, sendo que este ocorre devido a imperícia, a imprudência ou negligência, mas devido essas ações lesiona algo.
Já no dolo, existe a intenção, a vontade de provocar o dano, alcançando-se o resultado almejado.
2.3.	O Dano
	
Não há responsabilidade civil sem a existência de um dano a um bem jurídico, sendo imprescindível a prova real e concreta dessa lesão.
Maria Helena Diniz explica o conceito de dano:
O dano é um dos pressupostos da responsabilidade civil, contratual ou extracontratual, visto que não poderá haver ação de indenização sem a existência de um prejuízo. Só haverá responsabilidade civil se houver um dano a reparar. Isto é assim porque a responsabilidade resulta em obrigação de ressarcir, que, logicamente, não poderá concretizar-se onde nada há que reparar.[13: DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil, Ed. Saraiva, 17ª edição, 2003, p.58.]
O dano pode ser definido como a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sobre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral.
2.4.	O Nexo de Causalidade
A responsabilidade civil não pode existir sem a relação de causalidade entre o dano e a ação que o provocou.
Sem essa relação de causalidade não se admite a obrigação de indenizar, o dano só pode gerar responsabilidade quando for possível estabelecer um nexo causal entre ele e o seu autor.
Na mesma orientação ensina Maria Helena Diniz:
O vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se “nexo causal”, de modo que o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua consequência previsível. Tal nexo representa, portanto, uma relação necessária entre o evento danoso e a ação que o produziu, de tal sorte que esta é considerada como sua causa. Todavia, não será necessário que o dano resulte apenas imediatamente do fato que o produziu. Bastará que se verifique que o dano não ocorreria se o fato não tivesse acontecido.[14: Idem. Ibidem, p.100.]
Não haverá nexo de causalidade se houver interferência de terceiros, da vítima, ou de força maior ou de caso fortuito.
2.5.	Excludentes do Nexo Causal
Não haverá nexo se o evento se der:
Por exclusiva da vítima – caso em que se exclui qualquer responsabilidade do causador do dano, a vítima deverá arcar com todos os prejuízos, pois o agente que causou o dano é apenas um instrumento do acidente, não podendo falar em nexo causalidade entre a sua ação e a lesão;
Por culpa concorrente – é a culpa do agente causador juntamente com a culpa do lesionado, cada um responderá pelo dano na proporção em que concorreu para o evento danoso;
Por culpa comum - a vítima e o ofensor causaram culposa e conjuntamente o mesmo dano, caso em que se terá compensação de reparação. As duas responsabilidades se neutralizam e se compensam se as duas partes estiverem em posição igual, logo, não haverá qualquer indenização;
Por culpa de terceiro – isto é, de qualquer pessoa além da vítima ou do agente, de modo que, se alguém for demandado para indenizar um prejuízo que lhe foi imputado pelo autor, poderá pedir a exclusão de sua responsabilidade se a ação que provocou o dano foi devida exclusivamente a terceiro. Poderá o autor propor ação regressiva contra o terceiro que der causa para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado, nos termos do artigo 188, II, do Código Civil;
Por força maior ou caso fortuito – se caracterizam pela presença de dois requisitos, o primeiro o objetivo, que se configura na inevitabilidade do evento, e o segundo o subjetivo, que é a ausência de culpa na produção do acontecimento. Sempre haverá um acidente que produzirá o prejuízo, ora a lesão.
3. INFECÇÃO HOSPITALAR
Segundo a Portaria 196 de 24 de junho de 1983 do Ministério da Saúde, infecção hospitalar é "qualquer infecção adquirida após a internação do paciente e que se manifesta durante a internação ou mesmo após a alta, quando puder ser relacionada com a hospitalização".
Podendo ser utilizada também a definição da Dra. Cristina Hueb Barana Brito Ribeiro, que conceitua a infecção hospitalar como qualquer infecção adquirida durante a internação ou até mesmo após a alta do paciente, quando puder ser relacionada com a internação ou com os procedimentos hospitalares. No Brasil, o período de incubação padronizado das infecções hospitalares é após 72 horas de internação. Após a alta do paciente as infecções são consideradas hospitalares se manifestadas até 72 horas, em caso de procedimento cirúrgico até 30 dias após o ato e se houve implante até um ano.
Nos Estados Unidos a sua incidência atinge cerca de 3,5 a 15% dos pacientes hospitalizados, mas segundo estudos da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) revelam que nos hospitais latino-americanos ela oscila de 5 a 70%. No Brasil, a infecção hospitalar atinge hoje uma importância médico-social muito grande, pois se calcula que seja a quarta causa de morte, perdendo para as cardiopatias, gastroenterites e neoplasias em geral.A infecção hospitalar é um ônus para a sociedade devido ao gigantismo dos hospitais, à sofisticação da medicina, ao processo no campo dos antibióticos, ao número excessivo de leitos em um só local, as salas de cirurgias não isoladas e ao tráfego intenso de doentes, profissionais e visitantes.
Altas taxas de infecção hospitalar não significam, necessariamente, má qualidade de assistência médica, podendo traduzir, apenas a predominância de pacientes extremamente susceptíveis na clientela. Em princípio quanto melhor for o hospital, mais graves serão os pacientes nele internados e maior risco de infecção.
3.1.	 O Programa de Controle de Infecções Hospitalares
A administração hospitalar recebe o apoio de várias comissões em assunto específicos de ordem ética, técnica ou mesmo administrativa. Com este objetivo, são criados vários comitês, alguns até regulamentados por legislação específica. Destacam-se: Comissões de Ética; Comissão de Revisão de Prontuários; Comissão de Óbitos; Comissão de Farmácia e Terapêutica; Comissão de Padronização de Artigos e Insumos Médico-Hospitalares; Comissão de Prevenção Interna de Acidentes; Comissão de Controle de Qualidade e a própria Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Estes comitês fazem uma análise da situação local e aplicam os conhecimentos disponíveis sobre o assunto, apoiando e auditando o exercício profissional. Portanto, dentro de uma estrutura organizacional, o controle de infecção é um órgão de consultoria à direção do hospital e a todos os profissionais que atuam diretamente com o paciente ou em atividades de apoio, em assuntos relativos à prevenção e controle das infecções hospitalares.
A Lei Federal 9.431 de 06/01/97 obriga todos os hospitais brasileiros constituírem Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) que deverá atuar de acordo com Programa desenvolvido na própria instituição. A referida lei instituiu a obrigatoriedade da existência da CCIH e de um Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH), definido como um conjunto de ações desenvolvidas deliberada e sistematicamente, tendo como objetivo a redução máxima possível da incidência e gravidade das infecções nosocomiais. Em 13/05/98, o Ministério da Saúde editou a Portaria 2.616/98, com diretrizes e normas para a execução destas ações. Esta Portaria representou a adequação da antiga regulamentação ministerial às novas determinações da Lei Federal.
Como as Portarias anteriores, a 2.616/98 é composta por cinco anexos. O primeiro trata da organização e competências da CCIH e do PCIH. No anexo II temos conceito e critérios diagnósticos das infecções hospitalares; no anexo III temos orientações sobrea vigilância epidemiológica das infecções hospitalares e seus indicadores; nos anexos IV e V observamos recomendações sobre a lavagem das mãos e outros temas como uso de germicidas, microbiologia, lavanderia e farmácia, dando ênfase à observância de publicações anteriores do Ministério da Saúde.
Nesta nova Portaria, há melhor especificação da composição da CCIH, que deverá ter seus membros formalmente designados pela direção do hospital, incluindo seu presidente, que fará obrigatoriamente parte do conselho diretivo da instituição.
Os membros são divididos em consultores e executores, sendo estes últimos encarregados da execução do PCIH, representando o antigo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH). Uma importante novidade é que a sua composição deve ser informada ao órgão oficial municipal ou estadual.
Na composição deste serviço observamos importante alteração, ao recomendar preferentemente enfermeiro e que o segundo profissional de nível superior não seja necessariamente um médico, como recomendava a Portaria 930/92. A carga horária recomendada anteriormente (6 horas diárias para o enfermeiro e 4 horas diárias para o outro profissional, para cada 200 leitos) foram acrescidas duas horas de trabalho diárias para cada 10 leitos destinados aos pacientes críticos (terapia intensiva, berçário de alto risco, queimados, transplante de órgãos, pacientes hemato-oncológicos ou com AIDS). Isto parte do princípio que a vigilância e as medidas de controle nestas unidades requerem atenção diferenciada.
Resumidamente, a equipe que coordena as ações do controle de infecção hospitalar deve ter entre as suas principais atribuições: atualizar-se teoricamente sobre o tema, sendo o respaldo científico-legal de toda comunidade hospitalar; Avaliar todos os cuidados prestados direta ou indiretamente ao paciente a fim de se identificar problemas e apontar soluções; Medir o risco de aquisição de infecção hospitalar, avaliando prioridades para seu controle, auxiliando toda comunidade hospitalar na aplicação de recursos técnico financeiros; Verificar a necessidade de programas educativos e colaborar na sua execução; Intermediar as relações do hospital com as autoridades sanitárias.
O profissional do controle de infecções deve ser uma fonte permanente de consultas para toda a equipe hospitalar, por isso estar sempre atualizado tecnicamente e ter um bom relacionamento com todos, procurando agir pela competência e não pelo mero “poder do cargo”, quando coloca-se com prepotência acima de seus colegas ou dos pacientes e familiares que vêm à busca de informações. O espirito do trabalho em grupo deve nortear todas as interseções do controle de infecção com a equipe de atendimento. Muitas orientações aparentemente interferem com o caráter liberal da profissão e só serão aceitas se respeitarem a inteligência do interlocutor, fornecendo-lhe informações científicas e epidemiológicas que fundamentem uma nova conduta.
Estes dados, ao lado do estímulo à integração de todos os profissionais que prestam atendimento direto ou indireto aos pacientes e das orientações à clientela externa, são os principais produtos do controle de infecção.
Embora a ocorrência de um episódio de infecção hospitalar não signifique automaticamente falta de qualidade assistencial, existe um intercâmbio metodológico entre as comissões de controle de infecção e dos grupos internos de qualidade. Tanto o controle de infecção hospitalar como o de qualidade fundamentam suas ações em dados epidemiológicos e no estímulo ao trabalho em equipe, que baseia-se no princípio de que é muito difícil uma pessoa sozinha conseguir reunir conhecimentos e experiências para desenvolver tudo o que está envolvido em um processo.
Enquanto o controle de infecção centraliza suas ações no problema, a qualidade procura prioritariamente envolver a equipe na busca de soluções, focando sua abordagem nas ferramentas para se conquistar esta participação.
3.2.	As Principais Infecções Hospitalares
Os tecidos/sistemas orgânicos que são comunentes sítios de infecção hospitalar causados por microrganismos hospitalares são: urinários, respiratórios, ferida e sangue. A ferida operatória é qualquer ferida cirúrgica que elimine secreção purulenta com ou sem cultura positiva.
Classificam-se as cirúrgicas em: limpas que são realizados na ausência de processo infeccioso local, em condições ideais de sala cirurgia, em tecidos de fácil descontaminação, as potencialmente contaminadas que são realizadas na ausência de supuração local, em tecidos de difícil descontaminação (conjuntiva ocular, devido externo, duodeno, vesícula biliar, uretra e útero), contaminados que são realizados na ausência de supuração local, em feridas traumáticas recentes, em tecido ricos e, flora bacteriana residente e de difícil descontaminação (cavidade bucal, glândulas salivares, trato respiratório alto, cólon, reto, ânus, vulva e vagina) e os infectados que são realizados em qualquer tecido com presença de supuração local, feridas traumáticas sujas, úlceras perfuradas.
A maioria da infecções hospitalares manifesta-se como aplicações naturais de pacientes gravemente enfermos, decorrente de um desequilíbrio entre sua flora microbiana normal e seus mecanismos de defesa. Esse desequilíbrio é provocado por determinadas doenças responsáveis pela hospitalização e procedimentos invasivos ouimunossupressivos a que o doente, correta ou incorretamente, foi submetido.
Consequentemente, algumas infecções hospitalares são evitáveis outras não. As infecções hospitalares resultam de interações complexas e múltiplos fatores causais, que interagem diferentemente predispondo infecções de diversos tipos. Dentre as principais infecções hospitalares endêmicas, a infecção do trato urinário (ITU) é na maioria das vezes a mais comum. A instrumentação do trato urinário representa o fator de risco mais importante na aquisição de ITU, especialmente a sondagem vesical precedendo-a em mais de 80% dos casos, e outras manipulações em 5 a 10%.
Nos pacientes mantidos sob sondagem vesical, onde a urina é drenada para reservatório abertos (sistema aberto), o risco de infecção pode atingir 100% após 4 dias. Quando utiliza-se o sistema de drenagem fechado, aproximadamente 50% dos pacientes desenvolvem ITU após 10 a 14 dias, sendo possível prevenção de 70 a 85% destes episódios em relação ao sistema aberto.
Os fatores associados ao hospedeiro, que resultam em maior incidência de infecção relacionada ao cateter vesical são: idade avançada, sexo feminino, gravidez, puerpério, colonização do meato uretral, urina vesical residual, doenças subjacentes graves e uso indiscriminado de antimicrobianos.
A segunda topografia de infecção hospitalar em muitas situações é a ferida cirúrgica. O principal fator predisponente é o potencial de contaminação da cirurgia, mas a duração do procedimento e as condições pré-operatória do paciente também tem grande importância, tanto que estes 3 fatores determinam o índice de risco de infecção cirúrgica de acordo com a metodologia NNISS.
Outros fatores podem influir na ocorrência de infecção, como a permanência pré-operatória do paciente, predispondo-o a infecção por cepas hospitalares mais virulentas e residentes aos antibióticos, a presença de infecção concomitante, a utilização de corpos estranhos, como drenos e próteses, o estado nutricional dos tecidos operados e principalmente a técnica cirúrgica. A técnica de preparo da pele do paciente é outro fator destacado, onde a tricotomia realizada com lâmina há mais de duas horas do início da cirurgia destaca-se, aumentando significativamente o risco de infecção.
A infecção do trato respiratório é geralmente a terceira principal topografia de infecção hospitalar. Fatores como idade, patologia de base, instrumentação do trato respiratório, colonização da orofaringe com flora intestinal favorecida pela neutralização do pH do estômago e pelo uso de sondas, endoscopia, equipamentos de terapia respiratória, broncoaspiração e biópsia transbrônquica predispõem ao aparecimento dessas infecções.
As bacteremias primárias ocupam muitas vezes o quarto lugar dentre as infecções hospitalares. O avanço tecnológico contribuindo para maior sobrevida do paciente, introduziu também o uso de novas terapias mais invasivas e entre elas destaca-se o acesso vascular, favorecendo assim ao aumento da incidência de infecções da corrente sanguínea. Os fatores de risco associados à bacteremias são: idade, alterações dos mecanismos de defesa locais ou sistêmicos (perda da integridade da pele, diminuição da função dos granulócitos, imunodeficiência ou imunodepressão), utilização de insumos contaminados, emulsões lipídicas, severidade da doença de base, dentre outros.
Salientamos que as bacteremias primárias são documentadas por cultura positiva da corrente sanguínea, onde nenhum outro sítio de infecção foi achado como de origem, sendo somente estas consideradas hospitalares.
A Organização Mundial de Saúde promoveu, no período de 1983 a 1985, um estudo da prevalência de infecção hospitalar em 14 países, usando um protocolo padrão, sendo aplicado por médicos e enfermeiros locais. Os organizadores do estudo reconheceram a que a amostra não foi necessariamente representativa, mas ressaltaram a importância das infecções hospitalares. Neste estudo a média de prevalência de IH de 8,7%, variando de 3% a 21%.
4.	 A RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CASOS DE INFECÇÃO HOSPITALAR
Especificamente nos casos de infecção hospitalar é necessário afastar-se o critério da responsabilidade sem culpa, pois conforme explicitado por SEBASTIÃO, em quaisquer dos casos de morte do paciente ou agravamento de sua saúde poderá o hospital responsabilizado injustamente, baseando-se na hipótese de haver ocorrido defeito no serviço.
De acordo com SEBASTIÃO:
Cada pessoas tem sua forma própria de auto defesa biológica (status imunológico), restaurando o equilíbrio convivencial dos respectivos e próprios microorganismos (microbiota ou flora endógena), em sua respectiva “área” (derme, epiderme, mucosa e tecido). Essa reação pode ser estimulada ou coadjuvada por medicamentos específicos. Mas os mesmo medicamentos aplicados podem produzir diferentes resultados, em razão da singularidade biológica de cada pessoa. Por isso, todos podem ser contaminados e nem todos serão, obrigatoriamente, infectados. Se infectados, alguns podem prontamente restabelecer o antigo equilíbrio e outros, por não conseguirem, apesar do estímulo e auxílio medicamentoso, morrem.[15: SEBASTIÃO, Jurandir. Responsabilidade Médica Civil, Criminal e Ética, 3ª edição. Ed. Delrey. Belo Horizonte. 2003. Pag.162.]
Entretanto a maioria dos julgados acaba adotando a teoria de responsabilidade sem culpa, o que pode ocorrer equivocadamente, muito bem explicitado por SEBASTIÃO, alegando que quando ocorre a condenação dos hospitais pelo mero insucesso ou da terapia ou da evolução natural da doença ou até mesmo como ocorre em alguns casos, o inexplicável aparecimento da doença, e o que serve como base para as decisões, tem sido a interpretação literal e expressa do caput do artigo 14 do Código Defesa do Consumidor, deixando de se observar as exceções do § 3º, do referido dispositivo, como a análise das excludentes de ilicitude quando da ocorrência de caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva.
Os nosocômios são em tese “centros de doenças”, com uma grande diversidade de doenças conhecidas e desconhecidas, assim, os riscos são inevitáveis para os pacientes internados, acompanhantes desses, visitas, médicos, dentre outros funcionários do próprio hospital. Por regras de saúde pública previstas, as cautelas devidamente cumpridas com exatidão, o risco de contaminação e sequente infecção não podem ser interpretadas como risco empresarial, a impor, por isso mesmo, indenização pelo critério de responsabilidade sem culpa – como regra genérica literal, do artigo 14 do CDC.
SEBASTIÃO define o estabelecimento do hospital:
Pelo ângulo do Direito, o hospital é um estabelecimento sui generis, misto de hospedagem (como se hotel fosse) e terapia especializada, como complemento necessário da atividade médica. A relação principal é a do médico e paciente. A utilização do hospital é secundária e vem a reboque daquela (principal).
... O aspecto isolado de hotelaria hospitalar não é senão um dos itens acessórios (descanso, alimentação, aplicação medicamentosa, monitoramento, higienização, etc) da necessária terapia.[16: Idem. Ibidem.]
Nesse sentido a infecção hospitalar como resultado danoso da conduta reprovável nosocômio e que desencadeia obrigação de reparação no âmbito civil, para melhor interpretação e aplicação do artigo 14 do CDC, é necessário a análise da prova sob o prisma da culpa presumida, e não da responsabilidade sem culpa.
Em contrapartida pondera CARVALHO:
Mesmo não tendo obrigação de garantir a cura ou a vida do paciente, o prestador de serviços médicos assume a responsabilidade e o dever de resguardar o paciente dos danos previsíveis durante sua hospitalização, alegando ainda que a incolumidade do paciente durante o período de sua hospitalização é obrigação da prestação do serviço hospitalar, a qual é assumida independente de ajuste prévio.[17: CARVALHO, José Carlos Maldonado. Iatrogenia e Erro Médico sob o Enfoque da Responsabilidade Civil, Lúmen Júris, 2005.]
Nas jurisprudências, há expressivos julgados,cuja as ementas transcrevo para um bom entendimento:
Responsabilidade civil – Infecção hospitalar – Negligência evidenciada – Culpa- Aplicação, ademais da teoria do risco – Indenização devida. Restando demonstrado que a moléstia nosocômica adquirida pela autora se dera após sua internação na unidade hospitalar onde se submetera a operação cesariana, bem como evidenciada a manifesta desídia dos encarregados no que tange ao dever de manter o ambiente e os objetos instrumentais em condições de limpeza e assepsia exigíveis para minorar os riscos dos pacientes, impõe-se a obrigação da entidade mantenedora do hospital em indenizar pelos prejuízos causados à paciente, quais sejam todas as despesas por ela efetuadas até pleno restabelecimento, inclusive para a correção de cicatriz abdominal repugnante decorrente da infecção hospitalar.[18: PJ 40/135]
Indenização – Responsabilidade civil – Ato ilícito – Infecção Hospitalar – Sequela não decorrente do evento internação – Recurso não provido.
Corpo da decisum: Aqui se ventila a chamada ‘infecção hospitalar’, fatalidade que, com efeito e mercê da pobreza do País, atinge aqui índices insuportáveis se confrontados com outros tidos por admissíveis em países desenvolvidos. Nestes, verdadeiramente, altos investimentos controlam a disseminação de vírus e micróbios portados por doentes a obviar que aqueles internados em seus hospitais e/ou neles tratados – via de regra com sucesso - venham a contraí-los, detonando crises de variegadas consequências que podem chegar até a morte. Na hipótese sub examen, porém, é incontroverso já exibisse o autor, quando da sua internação, grave infecção, pelo que exibia quadro de apendicite aguda úlcero-flegmosa. Sob a ótica do perito oficiante, difundiu-se, malgrado os esforços da equipe médica, a já portada infecção, que ao cabo atravessou a parede diafragmática, detonado o processo que culminou com a parcial extração do pulmão.[19: RJTJSP-Lex 143/91.]
	
Neste norte, pode-se verificar que cada caso é um caso, se a infecção decorre do evento da internação a responsabilidade objetiva é do hospital, independentemente de culpa, já em outros casos quando o paciente já tem um quadro de moléstia que origina a infecção alguns magistrados tem o hábito de afastar a responsabilidade do hospital.
As demandas indenizatória originadas de infecção hospitalar, as vítimas argumentam que se submeteram a cirurgias limpas, tendo o processo infeccioso se instalado após a internação.
	
Aplica-se aos hospitais a responsabilidade objetiva, fulcrada no Código de Defesa do Consumidor, sistema que acarreta a inversão do ônus da prova. Nada impede, entretanto, que a vítima prove, ela mesma, a omissão configuradora da negligência do hospital, da qual adveio a infecção.
Sobre o referido tema podemos citar o artigo de Maria José Rodrigues de Andrade:
Quanto à infecção hospitalar, suas origens tanto podem localizar-se nas condições ambientais, como nas próprias condições pessoais do paciente, capazes de provocar a auto-infecção. Aceita-se que o risco de infecção é inerente ao ato cirúrgico e que não existe, em lugar algum do mundo, índice zero de infecção. Recomenda-se, em litígios em torno do assunto, a pesquisa probatória em torno das práticas adotadas pelo hospital para controle da desinfecção. Se há diligências constantes nesse sentido, não há culpa do estabelecimento. Se são ausentes ou insuficientes as medidas rotineiras de prevenção contra a infecção hospitalar, tem-se como configurada a culpa do hospital pela infecção contraída pelo paciente durante a internação. A responsabilidade civil dos hospitais, seja por infecção hospitalar, seja por qualquer outra lesão sofrida pelos pacientes em razão dos serviços de internação, não se inclui na regra do artigo 1545 do Código Civil (obrigação de meio). Aplicasse-lhes, portanto, a teoria comum da responsabilidade contratual, segundo a qual o contratante se presume culpado pelo não alcance do resultado a que se obrigou. Não se trata e teoria pura de risco, porque sempre será lícito ao hospital provar a não ocorrência da culpa para eximir-se do dever de indenizar. Mas ônus da prova da culpa não caberá, como ocorre no caso de erro médico, ao paciente ofendido. Quem se apresenta como vítima de lesão sofrida durante internamento somente terá de provar, para obter a competente indenização, o dano e sua verificação coincidente com sua estada no hospital. A culpa estaria presumida contra o estabelecimento, até provar em contrário.[20: In, Revista Meio Jurídico, Ano IV, n. 47, julho de 2001, pág.7.]
	
Ademais, como já se decidiu:
Não respondem por indenização decorrente de ato ilícito pela morte de paciente por infecção hospitalar os médicos que cuidaram da vítima, e sim o hospital onde permaneceu internada. A entidade hospitalar, como fornecedora de serviços, responde, independentemente de culpa, pela reparação de danos causados à família de paciente internado que veio a falecer em decorrência de infecção hospitalar, eximindo-se desta responsabilidade somente se conseguir provar a inexistência do defeito ou culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, nos termos do art. 14, caput e §3º, I e II, da Lei 8.078/90.[21: RT. 755/269.]
5.	CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho de conclusão de curso trata sobre a responsabilidade civil decorrente da infecção hospitalar, e no que tange as modalidade de responsabilidade civil a ser aplicada em cada caso quando há o evento danoso, que é a mencionada infecção.
Os hospitais, por serem fornecedores de serviços da área da saúde, possuem suas atividades reguladas pelas normas do direito do consumidor. Isso ocorre porque o Código de Defesa do Consumidor define “serviço” como qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, com exceção da relação de trabalho. Assim, a atividade desenvolvida pelos estabelecimentos hospitalares enquadra-se perfeitamente no conceito de serviço trazido pela legislação.
E do mesmo modo que os pacientes são considerados consumidores, por serem destinatários finais desses serviços.
Assim, os estabelecimentos hospitalares e assemelhados possuem responsabilidade objetiva na reparação dos danos causados aos seus pacientes, devendo responder, independentemente da existência de culpa, pela prestação defeituosa de serviços.
Dessa forma, a indenização aos consumidores, decorrentes de defeitos na prestação, ou seja decorrente de infecção que é o caso em tela, pode ser afastada mediante a comprovação pelo hospital que o evento ocorreu por culpa exclusiva do consumidor/paciente/vítima ou por culpa de terceiro.
A responsabilidade do hospital em relação aos danos decorrentes da infecção hospitalar é objetiva, pois a incolumidade do paciente internado é obrigação de resultado, e não simples obrigação de meio, como a atividade médica em geral.
Assim, ainda que na prestação de serviços na área da saúde não exista – e nem é possível que assim seja – a obrigação de garantir a cura do paciente, há a obrigação de garantir a incolumidade do paciente, resguardando-o da ocorrência de danos durante o período de internação.
De modo que, diante das normas estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor, verifica-se que nos casos em que o paciente adquire infecção hospitalar nas dependências de estabelecimento hospitalar ou assemelhado, em razão da prestação defeituosa de seus serviços, este é o responsável de forma objetiva pelos prejuízos causados, devendo, portanto, reparar estes danos.
 Portanto, conclui-se que a prestação de serviço por não ser obrigação de meio, aplica-se a teoria comum da responsabilidade contratual, segundo o qual o contratante se presume culpado pelo não alcance do resultado a que se obrigou, a obrigação de segurança, da incolumidade ao paciente. Porém sempre será lícito ao hospital provar a não ocorrência da culpa pra eximir-se do dever de indenizar, e o ônus da prova da culpa caberá sempre ao hospital, o paciente ofendido apenas deverá provar o dano e se a sua verificação coincide com sua estadiano hospital.
6.	BIBLIOGRAFIA
 
CARVALHO, José Carlos Maldonado. Iatrogenia e Erro Médico sob o Enfoque da Responsabilidade Civil, Lúmen Júris, 2005.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 2008.
DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil. 7º vol, Ed. Saraiva, 2003, 17ª Ed.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil. Ed. Saraiva. 2012. 7ª edição.
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade do Médico – 6ª edição, Editora Revista dos Tribunais, 2007.
PEREIRA. Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro. 2001.
PIOTKOWSKI, Maria Cristina Maciel, Rio de Janeiro, 1976. Apud Oliveira, Sérgio Rodrigues de, e Peixoto, Iranyr Marsicano. Da viabilidade de um seguro para cobertura de erro médico e infecção hospitalar. P. 11-18.
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil, Responsabilidade Civil. São Paulo. Saraiva, v. 4, 2003.
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SEBASTIÃO, Jurandir. Responsabilidade Médica, Civil, Criminal e ética. Ed. Delrey. 3ª Ed. 2003.
STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil – Doutrina e Jurisprudência.
STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial: doutrina e jurisprudência. 4 ed. São Paulo. RT, 1999.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil. 4 ed. São Paulo. Editora Atlas, 2004, v. 4.

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