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Stenzel Caps. 1 e 2 formacao do psicologo hospitalar

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A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR 
Gabriela Quadros de Lima Stenzel 
Mariana Esteves Paranhos 
Vinícius Renato Thomé Ferreira 
Vivian Roxo Borges 
A psicologia hospitalar ainda pode ser considerada como uma 
área recente da psicologia. Seu surgimento no Brasil, segundo De 
Marco (2003), data da década de 50, época na qual se instalaram os 
primeiros serviços de psicologia nos hospitais, mais precisamente, 
em 1954, com o início da implantação do primeiro serviço de psicolo-
gia, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Univer-
sidade de São Paulo, por Matilde Neder. Em 1974, Bellkis Wilma 
Romano implantou o Serviço de Psicologia no Instituto do Coração, 
também em São Paulô! Romano é Doutora em Psicologia Clínica e 
responsável pela organização e autoria de importantes publicações 
da psicologia na área hospitalar. 
Contudo, Bruscato et al. (2004) destacam que a inserção da psi-
cologia no contexto hospitalar se deu desde os primórdios da psicolo-
gia, mas só foi estabelecida como uma distinta área de atuação, com 
teoria e técnicas específicas, no momento em que o Conselho Federal 
de Psicologia (CFP) instituiu a Psicologia Hospitalar formalmente 
como uma especialidade, através. da resolução CFP Nº 013/2007 (que 
revogou a resolução CFP 014/2000). 
Antes da referida resolução e dos avanços no campo da psico-
logia hospitalar, a atuação do psicólogo em hospitais era entendi-
da como uma das atribuições do psicólogo clínico, sendo que este, 
segundo a contribuição do CFP (1992, p. 2) para o Catálogo Bra-
sileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho, atua em equipes 
multiprofissionais para "identificar e compreender os fatores emo-
cionais que intervêm na saúde geral do indivíduo, em unidades 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS / 27 
J/ 
básicas, ambulatórios de especialidades, hospitais gerais, prontos-
socorros e demais instituições". Sendo assim, o ambiente hospi-
talar era visto como mais um local para a prática da psicologia 
clínica e não como um campo específico de conhecimento. Pode-se 
dizer, então, que o trabalho da psicologia nos hospitais era, inicial-
mente, destinado ao atendimento puramente clínico, mas, com o 
passar do tempo, a psicologia foi assumindo outras áreas de atua-
ção dentro do hospital (institucional, trabalho) até configurar-se, 
de forma mais ampla, como Psicologia Hospitalar. 
Além dos conhecimentos teóricos e práticos indispensáveis para 
a formação das pessoas em qualquer profissão, o psicólogo hospi-
talar precisa estar preparado para trabalhar com problemas rela-
cionados à saúde, ser comprometido institucional e socialmente e 
ter condições para atuar em equipe multiprofissional, dentre tantas 
outras características indispensáveis para realizar tal prática com 
eficiência e qualidade. Barros (2003, p. 239) destaca que "aliviar o 
sofrimento da pessoa doente constitui-se no dever ético e prático 
das profissões inseridas na saúde, orientadas pela concepção da hu-
manização do cuidar", sendo que este também é o objetivo maior da 
psicologia no contexto hospitalar. 
Atualmente a psicologia hospitalar vem sendo incluída na grade 
curricu1ar de alguns cursos de graduação, principalmente depois 
da aprovação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os 
Cursos de Psicologia, em 2004 (Bruscato et al., 2004). Porém, ainda 
se constata que a formação profissional em nível de graduação não 
contempla a atuação do psicólogo nos hospitais como prioridade. As-
sim, o profissional da psicologia que deseja trabalhar e, portanto, 
se especializar na área hospitalar necessita, de forma geral, buscar 
formação complementar (congressos, cursos de extensão e pós-gra-
duação). Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresentar e revi-
sar teoricamente os recursos disponíveis para uma boa formação do 
profissional da psicologia para atuar no ambiente hospitalar. 
28 \ A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR - STENZEL, G. Q. L. et al. 
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1: 
1: Formação do psicólogo hospitalar: os cursos de graduação 
. O profissional psicólogo é aquele que estuda e analisa os proces-
sos intrapessoais e as relações interpessoais para compreender o 
comportamento humano individual e, também, de grupo, nos vários 
contextos em que ocorrem essas relações. Aplica conhecimento te-
órico e técnico da psicologia, com o objetivo de identificar e intervir 
nos fatores determinantes das ações dos indivíduos, considerando 
sua história biológica, pessoal, familiar e social, e, ainda, as condi-
ções políticas, históricas e culturais. O trabalho nos hospitais está 
inserido nas possíveis atuações dos psicólogos e, por isso, precisa 
fazer parte do conhecimento adquirido durante a formação. 
A maioria dos cursos de graduação em psicologia possui uma das 
suas ênfases na chamada psicologia clínica. Segundo o CFP (1992), 
o psicólogo clínico atua na área da saúde, contribuindo para a com-
preensão dos processos internos e interpessoais, empregando abor-
dagem preventiva ou curativa, isoladamente ou fazendo parte de 
equipes multi profissionais em instituições formais e informais. Ain-
da, realiza pesquisa, diagnóstico, acompanhamento psicológico e in-
tervenção psicoterápica (individual ou em grupo) por meio de dife-
rentes enfoques teóricos. Assim, os alunos de psicologia dispõem ao 
longo do curso de graduação dos ensinamentos básicos necessários 
para atuar no hospital, levando em consideração que a psicologia 
clínica se presta como indispensável pano de fundo para a plurali-
dade das atividades desempenhadas pelos psicólogos. 
Miyazaki et al. (2001) descrevem as características e capacidades 
básicas, porém imperiosas, que os profissionais da psic'ologia preci-
sam desenvolver para trabalhar com problemas de saúde no ambiente 
hospitalar: clareza de expressão, postura orientada para a interven-
ção, elaboração de relatórios sucintos, reconhecimento dos limites da 
sua profissão, comportamento profissional agradável e polido, flexibi-
lidade, habilidades para relacionamento interpessoal e para o traba-
lho em equipe, respeito à hierarquia da instituição, implementação 
de trabalhos baseados em dados de pesquisas e avaliação constante 
das intervenções realizadas e disponibilidade para trabalhar longas 
horas e fora do período normal de expediente. Algumas dessas carac-
terísticas são desenvolvidas ao longo das aulas e práticas do curso 
de graduação, mas outras necessitam de maior aprimoramento. Tal 
aprimoramento pode advir da participação em eventos Gornadas, 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS / 29 
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congressos etc.), principalmente àqueles vinculados às organizações 
representantes da área, como a Sociedade Brasileira de Psicologia 
Hospitalar (SBPH) e a Associação Brasileira de Psicologia da Saúde e 
Hospitalar (ABPSH). Os eventos se constituem em excelentes fontes 
de atualização e contato entre estudiosos e profissionais da área. 
Além dos eventos, os alunos de graduação têm oportunidade de 
participar de cursos de extensão, assim como cursos de curta du-
ração, promovidos pelos cursos de psicologia, ou áreas afins, e por 
outras instituições como os próprios hospitais vinculados às uni-
versidades. Essas modalidades de curso buscam aprofundar deter-
minadas temáticas da área hospitalar, auxiliando de forma signi-
ficativa para uma maior aproximação dos alunos com os estudos e 
intervenções do psicólogo no contexto hospitalar. Alguns cursos de 
graduaçãojá oferecem disciplinas específicas sobre psicologia hospi-
talar, mesmo que em caráter eletivo, o que representa um diferen-
cial relevante para a formação dos futuros psicólogos hospitalares. 
Por outro lado, destaca-se queas características pessoais in-
fluenciam fortemente na formação profissional de qualquer indiví-
duo, não sendo diferente para o aluno de psiCologia. Como men-
cionado anteriormente, determinadas características e capacidades 
precisam ser desenvolvidas para que o psicólogo realize um bom 
trabalho no hospital. No entanto, algumas habilidades não poderão 
ser ampliadas através dos estudos e do treinamento prático, pois di-
zem respeito aos aspectos e características individuais de cada um. 
Essas características poderão facilitar o processo de aprendizagem 
ou, ao contrário, dificultar. Sujeitos que apresentam características 
que incluem iniciativa, facilidade de comunicação, verbal e escrita, 
e :flexibilidade têm maiores chances de se adaptarem ao trabalho 
realizado nos hospitais do que sujeitos mais reservados e rígidos 
nas suas atitudes. 
A formação em psicologia tem como meta atender às necessidades 
de preparação do profissional e proporcionar aos estudantes um con-
junto amplo e diversificado de habilidades e competências que defi-
nam a formação profissional e caracterize a psicologia como ciência 
e profissão (PFROMM NETTO, 1990). Hoje em dia se sabe, segundo 
Calais e Pacheco (2001), que é necessária uma formação engajada 
nos movimentos de transformação social, que priorize trabalhos em 
JQ \ A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR - STENZEL, G. Q. L. et al. 
equipes multidisciplinares e gere conhecimento adequado para a 
prática do psicólogo na atualidade. 
A preparação para o exercício profissional durante a graduação, 
de acordo com Abçlalla (2007), deve ser desenvolvida pela maior 
articulação possível entre o arcabquço teórico necessário para esse 
fazer profissional e a realidade em que o aluno irá atuar. Nesse 
sentido, tomar a prática como eixo estruturante do processo de for-
mação possibilita que o aluno aprenda numa situação concreta que 
se estabelece com o cliente. Sendo assim, os estágios profissionali-
zantes se constituem em excelentes oportunidades de treinamento 
na área em que se almeja trabalhar. Portanto, sugere-se que os alu-
nos que possuem interesse na área hospitalar procurem o quanto 
antes experienciar o trabalho no ambiente hospitalar, consideran-
do que este possui características muito específicas e diferenciadas 
de outras instituições, como o consultório particular, as escolas e 
empresas. Trata-se de um ambiente cercado de tensão e incertezas. · 
É um local que, de modo geral, provoca sentimentos negativos e re-
presenta um desafio à capacidade de adaptação, gerando respostas 
diferentes em cada pessoa, e, inevitavelmente, marcando a história 
de vida de cada paciente e, muitas vezes, dos próprios profissionais 
da saúde. 
Contudo, todo o preparo recebido durante a graduação, muitas 
vezes, não é considerado suficiente, pois, quando o profissional, 
aluno de psicologia formado, se depara com a responsabilidade da 
prática do dia a dia nos hospitais, é que este percebe a necessida-
de constante de aprofundamento e atualização. A partir de então 
é importante considerar a possibilidade de realizar cursos de pós-
graduação, a fim de aprimorar o trabalho que é desempenhado. 
Os cursos de pós-graduação 
Considerando a realidade atual dos cursos de pós-graduação que 
envolve a psicologia hospitalar, é possível optar por duas modalida-
des: lato sensu, representada pelas especializações ou residências 
(em psicologia ou multiprofissionais), e stricto sensu, através dos 
cursos de mestrado e doutorado. 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS I 31 
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Especialização 
O desejo pela especialidade de psicologia hospitalar vem muitas 
vezes acompanhado pela vontade de aprofundar o conhecimento na 
área, de obter prática no ambiente hospitalar, mas, acima de tudo, 
de encontrar seu espaço no mercado de trabalho através do dife-
rencial do referente curso no currículo. Sendo assim, a escolha pelo 
curso de especialização em psicologia hospitalar deve ser realizada 
com cuidado, observando elementos que assegurem que a formação 
ofertada é atual e de qualidade, tais como o conhecimento do corpo 
docente no que diz respeito à formação deste~ e trajetória profissio-
nal, programa e disciplinas proporcionadas, oferta de locais para 
a realização da prática, satisfação de antigos alunos, assim como 
posições alcançadas por estes em termos de colocação profissional. 
Também é essencial a verificação de que o curso de especialização 
eleito atenda a determinações impostas pelos órgãos reguladores, 
como o Ministério da Educação e o Conselho Federal de Psicologia, 
para que o título obtido ao término do mesmo tenha reconhecimento 
legal e não seja somente bagagem de conhecimento. 
Os critérios do Ministério da Educação determinam que, em ní-
vel de pós-graduação lato sensu (especialização), a carga horária 
mínima deve ser de 360 horas de aulas efetivas, não contando com 
tempo destinado para trabalhos ou para a realização da monogra-
fia. Além disso, os cursos de pós-graduação lato sensu necessitam 
ter, pelo menos, cinquenta por cento de professores com titulação de 
mestre ou de doutor obtida em programa de pós-graduação stricto 
sensu reconhecido pelo Ministério da Educação (BRASIL, 2007). 
Para além da regulamentação do Ministério da Educação, os 
órgãos de classe também podem estabelecer critérios relacionados 
com as pós-graduações lato sensu. De acordo com a Resolução do 
CFP Nº 013/2007, que institui a consolidação das Resoluções rela-
tivas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia, os cursos 
de especialização, para todas as especialidades contempladas pela 
referida resolução, incluindo a área hospitalar, deverão pertencer 
a instituições de ensino superior legalmente reconhecidas pelo Mi-
nistério da Educação e credenciadas ao CFP, ou ser conferidos por 
pessoa jurídica habilitada para esta finalidade. Em qualquer um 
dos casos, para o credenciamento citado, o núcleo formador deve 
ter, pelo menos, uma turma com curso já concluído e obedecer às 
32 \A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR - STENZEL, G. Q. L. et al. 
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seguintes especificações: duração mínima de 500 horas; carga ho-
rária referente à concentração específica da especialidade, com um 
mínimo de 80% da carga total ( 400 horas); carga horária de prática, 
com um mínimo de 30% da carga horária referente à concentração 
específica da especialidade (120 horas); monografia de conclusão do 
curso voltada para a área da especialidade~ com horas para elabora-
ção não incluídas nas 500 horas. 
Vale ressaltar que tais normas dizem respeito aos critérios exigi-
dos para a concessão de título d,e Especialista pelo CFP com registro 
na Carteira de Identidade Profissional do Psicólogo. Este pode ser 
obtido não só mediante certificado ou diploma de conclusão de curso 
de especialização, mas também por aprovação no exame teórico e 
prático, promovido pelo órgão em questão, e comprovação de prá-
tica profissional na área por mais de dois anos (resolução CFP Nº 
013/2007). De qualquer forma, a instância máxima que regulamen-
ta as pós-graduações do Brasil é o Ministério da Educação, e cabe a. 
ela estabelecer os parâmetros mínimos aceitáveis. 
Ainda que o mercado de trabalho para psicólogos em hospitais 
não exija o título de especialista em psicologia hospitalar ou mes-
mo pós-graduação, parece-nos importante que os profissionais que 
desejam seguir neste campo de atuação busquem aprimoramento 
específico, conferindo desta forma maior consolidação da psicologia 
hospitalar como área que exige conhecimentos teóricos e técnicos 
próprios e que peritos nestes saberes podem fazer a diferença para 
um desempenho mais qualificado, beneficiando, assim, paciente, 
equipes de profissionais e a organização como um todo. 
Residência/\1ultiprofissional em Saúde e Residência em 
Psicologia Hospitalar 
No ano de 2005, através da Portaria Interministerial Nº 2.117 
(BRASIL, 2005a), a Residência Multiprofissional em Saúde foi 
instituída. Os programas criados seguem necessidades sociais 
e características regionais em ato conjunto dos Ministérios da 
Educação e da Saúde. Tem por finalidade possibilitar a formação 
de profissionais de saúde através do trabalho em equipe, bus-
cando compreender as necessidades em saúde, a humanização da 
assistência e a promoção da integralidade da atenção (BRASIL, 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR -ENCONTROS POSSÍVEIS I 33 
) 
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2005b). "A formação 'intercategorias' visa à formação coletiva in-
serida no mesmo 'campo' de trabalho sem deixar de priorizar e 
respeitar 'núcleos' específicos de saberes de cada profissão" (BRA-
SIL, 2006, p. 13). 
A vantagem para o psicólogo que opta por dar seguimento ao 
desenvolvimento de sua carreira através da participação em algum 
dos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde ofere-
cidos no país é que, além do aprendizado que a prática diária e 
direta na atenção ao paciente e/ou familiares proporciona, a inte-
gração entre diferentes áreas de atuação e as possibilidades de in-
tervenções conjuntas torna a experiência mais rica e, sem dúvida, 
imprime um diferencial entre esse profissional e outros inseridos 
no mercado. A chamada formação em serviço abastece também o 
conhecimento sobre as diferentes realidades de saúde e de vida vi-
venciadas pelos usuários, ampliando desta forma o próprio conceito 
de saúde e capacitando os futuros trabalhadores da área para um 
enfretamento mais adequado das situações que se configuram no 
dia a dia de um hospital. 
A maioria dos programas existentes tem seu ingresso através de 
concurso, que incluem prova teórica escrita, análise de currículo e 
entrevista. A dedicação é integral com duração que geralmente varia 
de dois a três anos. Durante este tempo, o profissional de psicologia 
tem a possibilidade de imergir na realidade hospitalar, compreen-
dendo o processo entre paciente, profissional e instituição como um 
todo, fortalecendo a visão integral do sujeito de uma maneira como 
nenhum outro curso proporciona. Ainda, verifica-se a existência de 
residências específicas em psicologia hospitalar, em que as turmas 
que ingressam são compostas exclusivamente por psicólogos, mes-
mo que a prática também seja de caráter multidisciplinar. 
Mestrado e Doutorado 
Em nível de pós-graduação stricto sensu, a Resolução CNE/CES 
Nº 1, de 3 de abril de 2001, do Ministério da Educação (BRASIL, 
2001), estabelece normas e regulamenta que os programas de mes-
trado e doutorado são sujeitos à autorização, reconhecimento e 
renovação. Cabe à Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de 
Pessoal de Nível Superior (CAPES) a autorização, o reconhecimento 
34 \ A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR - STENZEL, G. Q. L. et al. 
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e a renovação de reconhecimento de cursos de pós-graduação stricto 
sensu, que são concedidos por prazo determinado. No entanto, os 
cursos de mestrado e doutorado não se constituem na modalidade 
de pós-graduação mais procurada pelos profissionais da psicologia 
que trabalham nos- hospitais, pois são cursos mais direcionados 
para o meio acadêmico. Observa-se que a procura desses cursos por 
profissionais que trabalham no contexto hospitalar, quando ocorre, 
se concentra na área da psicologia clínica, tendo em vista que essa 
abordagem é a que mais se aproxima, em termos de estudo e técni-
ca, da prática aplicada nos hospitais. 
Contudo, ressalta-se que a elaboração de uma dissertação de 
mestradó e/ou tese de doutorado, aprofundando determinada te-
mática que se mostre relevante na prática, é de extrema valia e 
aplicabilidade para o' psicólogo hospitalar. Além disso, em função 
do grande número de hospitais universitários, as rotinas da aca-
demia se fazem presentes nesse ambiente, principalmente através 
dos estagiários de psicologia que precisam ser supervisionados de 
perto pelo profissional responsável. Considera-se então que, atual-
mente, é necessária uma aproximação constante entre as institui-
ções de ensino superior e os locais de assistência, principalrriente 
levando em consideração que a psicologia está ocupando cada vez 
mais as instituições públicas e privadas e não somente o consultório 
privado. O incentivo à pesquisa leva a qualificação da instituição 
e, sobretudo, adiciona conhecimento e produz alicerces para uma 
prática fundamentada na teoria e na comprovação empírica, forta-
lecendo, assim, a profissão como um todo. 
Considerações Finais 
Diante do momento atual, como bem lembram Feuerwerker e 
Cecília (2007), em que as concepções de saúde e de cuidado come-
çam a ser discutidas mais intensamente, mudando as expectativas 
em relação ao hospital no que diz respeito às práticas e à gestão, o 
psicólogo deve buscar seu espaço neste debate contribuindo para o 
entendimento da individualidade do sujeito, assim como para hu-
manização do cuidado com o. paciente e demais membros da equipe 
multidisciplinar, colaborando, assim, para que a instituição hospi-
talar se torne um ambiente de produção de saúde. 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS I 35 
')/1 ) 
No entanto, para a efetiva qualidade do trabalho, a formação do 
profissional de psicologia deve permanecer em constante atualiza-
ção teórica e técnica em prol da classe profissional. É necessário que 
a categoria se instrumentalize em relação às praticas prestadas, 
mas que também consolide seu espaço através de trocas e articula-
ções conjuntas, conferindo maior força e maior identidade profissio-
nal ao psicólogo. 
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36 \ A FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO HOSPITALAR - STENZEL, G. Q. L. et al. 
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A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR -ENCONTROS POSSÍVEIS / 37 
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REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO 
PSICÓLOGO NO CONTEXTO HOSPITALAR 
Gabriela Quadros de Lima Stenzel 
Natália Zancan 
Chaiane Simor 
A doença é uma causa relevante de sofrimento e pode desordenar 
significativamente a vida de uma pessoa. Assim, a atuação de um 
profissional da psicologia se torna indispensável nc:i cenário hospi-
talar, pois o impacto da doença diagnosticada e da hospitalização 
altera o modo de viver tanto do paciente quanto de sua família. 
A área da saúde atualmente se organiza em um conjunto de 
especialidades. Considerar o paciente de forma global pressupõe 
a aproximação dos integrantes da equipe de saúde por meio da 
construção coletiva de diversos saberes. Segundo Bruscato et al. 
(2004), uma das funções do psicólogo é a de redirecionar o olhar 
dos demais profissionais para a individualidade de cada pacien-
te, envolvendo a subjetividade do adoecer e favorecendo, assim, 
a importância dos aspectos psicológicos existentes no processo de 
adoecimento. Conforme Barros (2003), é necessário considerar o 
paciente em sua globalidade, compreendendo não só os aspectos fí-
sicos, mas também os aspectos psicológicos e sociais envolvidos na 
doença para que o profissional desenvolva uma visão humanizada 
ao prestar o seu atendimento. 
Nesse sentido, a psicologia procura compreender as variáveis 
psicológicas que interferem na manutenção da saúde, os comporta-
mentos associados à doença, bem como seu desenvolvimento, além 
de realizar intervenções a fim de prevenir ou de auxiliar no enfren-
tamento das enfermidades (MIYAZAKI, DOMINGOS, CABALLO, 
2001). Assim, a intervenção psicológica no hospital, segundo Oliveira 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS I 39 
~ ~ 
1 ·· 
e Sommermam (2008), propõe métodos de enfrentamento do conflito 
psíquico que se faz presente no momento da crise do adoecimento. 
Considerando o exposto, este capítulo pretende suscitar reflexões 
sobre as características da atuação do psicólogo no contexto hospita-
lar.Discute-se a promoção da saúde e o tratamento da doença, evi-
denciando a importância da redução de seus impactos sobre a vida 
do sujeito hospitalizado. A partir disso, verifica-se a importância 
do trabalho do psicólogo hospitalar, abrangendo sua atuação frente 
ao paciente, à família e à equipe de saúde, bem como o diferencial 
do atendimento psicológico que visa aliviar o grau de sofrimento de 
todos os envolvidos. 
O psicólogo no ambiente hospitalar: objetivos e atuações 
O hospital é um espaço cercado de tensão e incertezas. É um 
local que provoca sentimentos negativos e representa um desafio 
à capacidade de adaptação, gerando respostas diferentes em cada 
pessoa e, inevitavelmente, marcando a história de vida de cada pa-
ciente que precisa recorrer à instituição hospitalar por problemas 
de saúde. A manifestação de uma doença física, de acordo com Bar-
ros (2003), vem seguida de um impacto emocional que implica a 
desestabilização de sua rotina e da rotina daqueles com os quais o 
doente convive. 
A mesma autora afirma que os aspectos emocionais que acom-
panham as doenças orgânicas podem estar vinculados a alterações 
da autoimagem do indivíduo, a sentimentos de incapacidade, bem 
como ao prejuízo na qualidade de vida. A partir desse contexto, o 
trabalho do psicólogo se faz indispensável, pois promove a comuni-
cação equipe-paciente-família a fim de auxiliar na busca de recursos 
no processo de adaptação à nova situação, e busca da prevenção em 
termos de saúde mental. 
Nesse sentido, Lazzaretti (2007, p. 21) refere que a Psicologia 
Hospitalar é entendida como um desdobramento da Psicologia 
Clínica na instituição hospitalar, objetivando "acolher e traba-
lhar com pacientes de todas as faixas etárias, bem como com suas 
famílias, em sofrimento psíquico decorrente de suas patologias, 
internações e tratamentos". A autora acrescenta que o psicólogo 
40 \ REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO - STENZEL, G. Q. L. et al. 
r § 
~ ~ § deve estar disponível para triar cada caso, realizar avaliação diag-
nóstica em psicologia, formular e aplicar protocolos durante a hos-
pitalização e/ou em ambulatório, realizar interconsultas, intervir 
de modo psicoterapêutico individualmente ou em grupo, registrar 
dados, realizar grupós operativos com a equipe de saúde e orientar 
a família e a equipe. O profissional da psicologia ainda pode reali-
zar acompanhamento durante o processo de luto pós-óbito, atendi-
mento às famílias de pacientes em UTis, em pronto-atendimento, 
em pré e pós-operatório, assim como capacitar os cuidadores de 
pacientes crônicos. 
Para Simonetti (2004), a Psicologia Hospitalar é vista como um 
campo de entendimento de aspectos psicológicos do adoecimento, no 
qual não estabelece uma meta ideal para alcançar, mas submete-se 
a auxiliar o paciente a passar pela crise de estar doente. A partir 
disso, o autor (p.15) descreve que 
O adoecimento se dá quando o sujeito humano, car-
regado de subjetividade, esbarra em um "real", de natu-
reza psicológica, denominado "doença", presente no seu 
próprio corpo, produzindo uma infinidade de aspectos 
psicológicos que podem se evidenciar no paciente, na fa-
mília, ou na equipe de profissionais. 
Assim, para uma melhor assistência ao paciente hospitalizado, 
o psicólogo reúne conhecimentos científicos, educativos e profis-
sionais, aplicando-os sistematicamente para alcançar o bem-estar 
geral do indivíduo, independente do tempo de sua internação. A 
sua atuação busca o restabelecimento do estado de saúde ou, ao 
menos, o controle dos sintomas psíquicos que causam ainda mais 
sofrimento ao paciente (CASTRO; BORNHOLDT, 2004). Conforme 
Angerami-Camon et al. (2010, p. 10), o principal objetivo da Psico-
logia Hospitalar é "minimizar o sofrimento provocado pela hospita-
lização", tendo em vista que a atuação do psicólogo neste ambiente 
não é psicoterápica como nos padrões do setting terapêutico clássi-
co, pois, ao contrário do paciente que procura pela psicoterapia, na 
instituição hospitalar é o psicólogo que aborda a pessoa hospitali-
zada em seu leito. 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS I 41 
Muitas vezes a demanda, ou a solicitação de atendimento, parte 
da equipe de saúde, ou mesmo da família, que aguarda algo mágico 
ou explicativo da parte do psicólogo. Desse modo, a psicologia ofe-
rece seu trabalho com a função de ouvir e, através do diagnóstico 
realizado a partir do comportamento e da narrativa do paciente, ve-
rificar a real demanda de atendimento (LAZZARETTI, 2007). Para 
Oliveira e Sommermam (2008), o início do atendimento psicológico 
no ambiente hospitalar pode ocorrer de duas maneiras: mediante a 
solicitação da equipe de saúde, do paciente ou da família, ou através 
de entrevistas de rotina com a finalidade de identificar possíveis 
dificuldades sobre a condição da hospitalização. No hospital encon-
tram-se diversos perfis de pacientes, e aescuta, segundo Simonetti 
(2004), deve girar em torno de um sujeito que possui uma sintoma-
. tologia e do significado que este confere a sua doença. 
Além disso, é importante destacar que com muita frequência o 
psicólogo se depara com imprevisibilidades durante o atendimento. 
É comum ocorrer a alta hospitalar de um paciente que vinha acom-
panhando ou uma piora clínica que interrompa um atendimento 
que se mostrava produtivo. Também, em. vista das limitações do 
paciente, é possível que o foco de atendimento precise ser direcio-
nado aos familiares. Em virtude disso, a intervenção terapêutica 
deve considerar a brevidade que o atendimento pode exigir. Contu-
do, Amorim (2004, p. 71) ressalta que "valorizar a abordagem dos 
fatores ~ais pontuais da experiência subjetiva do paciente diante 
da doença, tratamento e hospitalização, não significa destituir a im-
portância de outros fatores da vida pregressa do paciente". 
Conforme Chiattone (2000), algumas vezes, o psicólogo não tem 
clareza de seu papel dentro da instituição hospitalar e não possui 
habilidades suficientes para lidar com esse contexto. Sendo assim, 
para que sua contribuição seja realmente significativa no processo 
de promoção da saúde, é imprescindível refletir sobre a sua capaci-
tação. Além da aprendizagem teórica e técnica, o psicólogo precisa 
estar preparado para lidar com os problemas de saúde, ser compro-
metido socialmente e ter condições de atuar em equipe com outros 
profissionais, dentre tantas outras características, como as apre-
sentadas no Quadro 1. 
42 \ REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO - STENZEL, G. Q. L. et al. 
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Clareza de expressão: utilização de uma linguagem clara e não de um jargão 
profissional, incompreensível para os outros profissionais da saúde. 
Postura orientada para a intervenção: ·em um hospital espera-se que o psi-
cólogo forneça sugestões que facilitem o manejo do problema apresentado pelo 
paciente, e não uma discussão sobre os sentimentos e os conflitos internos do 
mesmo; as solicitações para avaliação e intervenção devem ser rapidamente 
atendidas, geralmente no rriesmo dia em que são realizadas. 
Relatórios sucintos: o tempo é escasso, e a demanda de trabalho é grande para 
todos os profissionais. Assim, o relato sobre aspectos psicológicos e orientações 
sobre cada paciente deve ser breve e conciso. 
Reconhecimento de limites: o psicólogo é um profissional 'recente na saúde e 
precisa reconhecer os limites da atuação e de suas habilidades. A credibilidade 
perdida por intervenções inadequadas pode ser difícil de ser recuperada . 
Comportamento profissional agradável e polido: cooperação com os outros profis-
sionais e comportamento discreto são aspectos importantes a serem considerados. 
Flexibilidade: um mesmo hospital pode conter ambientes muito diferentes, 
como centro cirúrgico e ambulatórios para pacientes portadores de doenças crô-
nicas. É preciso que o psicólogo reconheça as necessidades específicas de cada 
contexto, adequando seu estilo de funcionamento aos diferentes tipos de ativi-
dades e às diferentes equipes. 
Habilidades para relacionamento interpessoal e para o trabalho em equipe: 
conflitos entre equipes e entre profissionais de uma mesma equipe podem ser 
frequentes. O psicólogo deve evitar alianças ou tomar partido nos problemas 
da equipe. Quando o funcionamento do grupo está tão prejudicado que requer 
intervenção, um psicólogo externo deve ser solicitado para auxiliar o grupo a 
lidar com suas dificuldades. 
Respeito à hierarquia da instituição: os hospitais têm um sistema hierárquico 
rígido, e o psicólogo deve procurar conhecer o estilo de funcionamento da insti-
tuição onde atua, adequar-se ao mesmo e, quando necessário, procurar interfe-
rir gradualmente para realizar as modificações necessárias. 
Trabalhos baseados em dados de pesquisas e avaliação constante das inter-
venções implementadas: as intervenções devem basear-se em dados advindos 
de estudo e pesquisas e ser constantemente avaliadas. 
Habilidade para avaliar e advogar custo/ benefício das intervenções e solici-
tações realizadas: as intervenções realizadas/planejadas e as solicitações para 
compra de materiais, contratação de novos profissionais ou outras necessidades 
do serviço devem estar baseadas em dados que demonstrem seu custo/benefício. 
Disponibüidade para trabalhar longas horas e fora do período normal de expedwnte. 
Quadro 1: Recomendações sobre a postura profissional do psicólogo da saúde. 
Fonte: Adaptado de Miyazaki et ai. (2001, p. 469). 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS f 43 
Para realizar o trabalho de psicólogo hospitalar, sendo este um 
campo complexo e repleto de exigências, são necessários profissio-
nais treinados, que buscam constante atualização, além de sua for-
mação básica, contemplando os requisitos teóricos e técnicos para 
que os processos de intervenção sejam desempenhados adequada-
mente. Ainda, o psicólogo é desafiado a desenvolver uma postura 
interdisciplinar, que possibilite uma prática integradora, focada na 
totalidade dos aspectos relacionados à saúde e à doença em benefí-
cio do melhor acolhimento aos envolvidos, aceitando e incorporan-
do a diversidade dos diferentes saberes. O trabalho do psicólogo 
vem sendo cada vez mais solicitado no cenário hospitalar e, deste 
modo, são exigidas ampla atuação e flexibilidade para suprir as ne-
cessidades encontradas em cada unidade da instituição hospitalar, 
incluindo a extensão da sua atenção e atendimento aos familiares 
do paciente. 
A familia do paciente hospitalizado 
Quando a hospitalização acontece existem repercussões impor-
tantes sobre os familiares. Segundo Lazzaretti (2007), compete ao 
psicólogo orientar a família sobre a melhor forma de lidar com a 
situação de angústia despertada pela hospitalização de um dos seus 
membros. Oliveira e Sommermam (2008) apontam que a internação 
é um acontecimento causador de estresse para o paciente e também 
para a sua família, sendo que a primeira dificuldade percebida pelos 
familiares é a mudança das rotinas do dia a dia. Além disso, ocor-
re um aumento de ansiedade devido aos sentimentos de medo que 
são ocasionados pelo conflito entre a vida e a morte. Diante dessa 
situação, encontram-se famílias com o nível de angústia elevado, 
ocasionando mudanças em seu funcionamento. Algumas famílias 
conseguirão se reorganizar, enquanto outras irão necessitar de au-
xílio para elaborar suas vivências. 
A compreensão do processo de doença na família, de acordo com 
Rodrigues (2004), deve considerar os aspectos da dinâmica familiar, 
sua estrutura, a fase do ciclo evolutivo e a tipologia da doença. Ve-
rificando os conflitos que surgiram a partir do adoecimento, o psicó-
logo poderá identificar o membro da família com o qual contará com 
o auxílio para encontrar alternativas melhores para a readaptação 
44 \ REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO - STENZEL, G. Q. L. et al. 
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funcional familiar. Para Oliveira e Sommermam (2008), o atendi-
mento pode ser multifamiliar (grupo) ou individual. Segundo os 
autores, o atendimento em grupo garante aos familiares da pessoa 
hospitalizada um espaço para expressar seus sentimentos e dúvidas, 
bem como, de acordo com Nicoletti et al. (2010), é a possibilidade 
de ofertar assistência a um maior número de famílias presentes na 
instituição. Os participantes se identificam por estarem enfrentando 
uma problemática semelhante, estabelecendo, assim, uma relação 
de confiança. Os grupos são conduzidos por psicólogos, mas ressalta-
se a importância da participação de outros profissionais da saúde 
para aumentar os benefícios terapêuticos. As sessões são estrutura-
das com início, meio e fim, abordando todas as questõeslevantadas, 
pois nem sempre será possível dar continuidade ao tema em outro 
momento. Sendo assim, os grupos são abertos para que em cada en-
contro novas famílias possam participar. 
Já a abordagem individual prioriza as famílias que possuem 
um grau de angústia e ansiedade maior, apresentando um maior 
comprometimento emocional, e com recursos psíquicos insuficien-
tes para lidar com a situação. Em um contato mais reservado, é 
possível aprofundar os dados e ampliar a compreensão sobre o caso. 
Deste modo, o psicólogo poderá agir com mais segurança em suas 
intervenções (OLIVEIRA, SOMMERMAM, 2008). 
No atendimento familiar, de acordo com Rodrigues (2004), o psi-
cólogo deve reforçar o trabalho estrutural de adaptação dos familia-
res ao enfrentamento da situação que se encontram, direcionando 
sua atuação em nível de apoio, compreensão, suporte ao tratamen-
to, clarificação dos sentimentos e, principalmente, fortalecimento 
dos vínculos familiares. É importante ressaltar que todo e qualquer 
atendimento prestado pelo psicólogo no ambiente hospitalar precisa 
estar em consonância com o plano de atendimento discutido pela 
equipe de saúde responsável pelo paciente. Ou seja, o psicólogo pre-
cisa estar em constante contato com os outros profissionais envolvi-
dos com o tratamento do paciente. 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS / 45 
A equipe multiproftssional 
Todos, e cada profissional a partir do seu conhecimento específico, 
têm como objetivo comum alcançar o bem-estar global do paciente. 
O ser humano, segundo Baptista e Dias (2003), deve ser entendido 
em todas as suas dimensões (pessoal, social e biológica) e, para isso, 
todas as especialidades devem trabalhar de forma conjunta para 
que haja uma complementação de saberes e atuações. 
Trabalhar com a equipe de saúde nein sempre se constitui uma 
tarefa fácil. Incredulidade dos demais profissionais para com o psi-
cólogo, de acordo com Lazzaretti (2007), é quase comum, pois é um 
novo e desconhecido profissional que se insere na equipe. O psicó-
logo também deve estar ciente de que o seu papel não está pronto 
a sua espera, nem para a equipe, nem para o hospital e, principal-
mente, perante o paciente. Este papel deverá ser construído e ocu-
pado pelo profissional da psicologia. 
Para Fossi e Guareschi (2004), a equipe multiprofissional deve 
ter sua formação centrada nas necessidades da pessoa, não seguin-
do um modelo pré-organizado, pois é a demanda do enfermo que 
fará com que ocorra a interação entre os diferentes profissionais 
para atender as necessidades gerais do indivíduo, tendo em vista 
sempre sua melhor condição de vida. Bruscato et al. (2004) enten-
dem o trabalho multiprofissional como disciplinas interatuando, 
partindo de uma simples comunicação de ideias até a integração de 
metodologias, conceitos e procedimentos. Assim, os profissionais de 
múltiplas especializações realizam suas atividades buscando criar 
a possibilidade de diálogo para praticar atos de saúde no seu am-
biente de trabalho. 
Nesse sentido, segundo os mesmos autores, o psicólogo precisa 
desenvolver diversas habilidades, como a de relacionamento inter-
pessoal, pois estará em contato constante com profissionais de ou-
tras áreas. Como integrante de uma equipe de saúde, compete ao 
psicólogo favorecer o funcionamento grupal para que a comunica-
ção interna seja facilitada. A partir disso, surgirão possibilidades de 
vínculos entre os membros do grupo e entre o paciente e seus fami-
liares e a equipe. Assim, o psicólogo estará representando suporte 
psicológico tanto para os pacientes quanto para a equipe. 
46 \ REFLEXÕES ACERCA DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO - STENZEL, G. Q. L. et al. 
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De acordo com Fossi e Guareschi (2004) é imprescindível que o 
psicólogo tenha conhecimento das atividades realizadas pelos de-
mais profissionais; bem como os limites de cada um. Ainda, pode ser 
desenvolvida uma análise da dinâmica multiprofissional, propondo 
reflexões sobre o papel de cada profissional diante do paciente e sua 
família e principalmente sobre o seu próprio papel como integrante 
da equipe de saúde que tem como objetivo maior humanizar as con-
diç~es do indivíduo durante a hospitalização. 
A humanização do atendimento, conforme Moré et al. (2009), é 
fundamentada em um processo de acolhimento "em que a confir-
mação do outro na sua alteridade é uma constante a ser constru-
ída no embate diário do cotidiano hospitalar, sob a luz da ética e 
da vincularidade" (p. 468). Sendo assim, o atendimento hospitalar 
humanizado leva ao reconhecimento do paciente, de sua condição 
física e emocional decorrentes do adoecimento, buscando, sempre, 
minimizar o sofrimento psíquico causado pela hospitalização. 
Considerações Finais 
O atendimento psicológico no hospital é indispensável em muitos 
casos. Em diversas situações percebe-se a complexa influência do 
psiquismo no processo de adoecimento. Portanto, o recurso do aten-
dimento psicológico no cenário hospitalar é fundamental e pode se 
tornar um diferencial frente à situação de enfermidade vivenciada 
pelo sujeito, pois proporciona apoio no enfrentamento da dor, doso-
frimento, das angústias e medos do paciente. O trabalho do psicólo-
go no ambiente hospitalar visa compreender o que está envolvido na 
queixa do paciente, no sintoma e na sua patologia, objetivando ter 
uma v~são ampla do que está se passando com o sujeito adoentado. 
No entanto, sabe-se que a psicologia hospitalar vai além do pa-
ciente e de sua doença. Durante o adoecer ocorrem alterações no 
sistema familiar e, sendo assim, a presença do psicólogo traz a pos-
sibilidade de auxiliar na reorganização da família. Nesse sentido, o 
psicólogo facilita a elaboração de medos e angústias, bem como das 
incertezas do tratamento e de seu prognóstico. Além de propiciar 
uma comunicação mais efetiva, possibilita que a família sinta-se 
mais segura e acolhida para o enfrentamento de uma situação pos-
sivelmente traumática. 
A PSICOLOGIA NO CENÁRIO HOSPITALAR - ENCONTROS POSSÍVEIS I 4 7 
1. 
Ao trabalhar em equipe, o psicólogo hospitalar precisa buscar 
conscientizar os demais profissionais para o trabalho multiprofis-
sional, facilitando a comunicação para que seja possível atuar como 
um grupo junto aos pacientes e seus familiares e auxiliando cada 
profissional a definir suas funções e objetivos. A partir de uma pos-
tura humanizada, os diferentes profissionais devem ver o paciente 
em sua totalidade. A proposta de humanização do atendimento hos-
pitalar leva ao reconhecimento da pessoa doente, seus conflitos e 
suas emoções implicadas no processo de adoecer. 
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