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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA CURSO DE BIOLOGIA Disciplina: GEOLOGIA Professor: Luiz Fernando W. Kitajima Apostila 1 – Introdução à geologia. Universo e Planetas 1 Introdução 1.1 Definição e história O que é geologia? Geologia é, de forma simples, “o estudo da Terra” (geo, Terra, logos, saber ou estudo). Corresponde ao estudo da estrutura e composição do planeta Terra; dos processos abaixo e acima da superfície responsáveis pela modificação da crosta terrestre e do seu interior; da história do planeta; da sua interação com a atmosfera / hidrosfera / biosfera / sociedade (ou antroposfera). A Geologia pode apresentar várias sub-divisões. Na prática emprega-se a sub-divisão para as diversas áreas de especialização da geologia, que são numerosas e podem ser criadas a partir da própria evolução do conhecimento sobre a Terra. Por exemplo: Mineralogia: estuda as propriedades químicas e estruturais dos minerais Petrologia: estuda os diferentes tipos de rochas e suas origens Geoquímica: estuda o comportamento dos elementos químicos nos processos geológicos e formadores de minerais e rochas Paleontologia: estuda as formas de vida passadas (preservadas na forma de fósseis), sua evolução e os ecossistemas que formavam Geologia estrutural: estuda as estruturas que as rochas formam Desde eras pré-históricas os fenômenos geológicos, que afetam a superfície da Terra, como terremotos, vulcanismo, inundações, impressionaram as civilizações primitivas, atribuindo-lhes caráter divino. Até hoje associa-se (metaforicamente) estes eventos ao destino ou à ações divinas. Havia também razões de ordem prática neste interesse: localizar ocorrência de minerais e rochas úteis ou áreas com solos de boa qualidade para o plantio ou uma área cujo relevo permitisse a fundação de um povoado. Antes de Cristo, filósofos como Tales de Mileto, Anaxímenes, Heráclito e Aristóteles observaram e descreveram vulcanismo e terremotos, procurando tentar encontrar explicações para os mesmos, observaram que os fenômenos geológicos podem ser extremamente lentos e tentaram encontrar teorias que explicassem a origem da própria Terra. Nos séculos XV e XVI, surgem dois nomes que ajudam a definir a geologia como ela é. Geórgio Agrícola e Nicolau Steno publicam obras em que descrevem os tipos de minerais e suas características e ocorrências, como também procuram explicar a formação das rochas. A geologia surge como ciência definida a partir do séc. XVIII (Hutton). Hutton resume todos os conhecimentos até então e define uma série de princípios até hoje aplicados em diversos campos da geologia, sendo assim esta época marcada como o nascimento da geologia como ciência. 1.2 Geologia e a biologia Na pesquisa científica, procura-se empregar os conhecimentos de duas ou mais áreas para resolver um dado problema. Na atualidade, estes problemas acumulam-se na mesma proporção em que se tem consciência dos impactos provocados pela atividade humana no meio físico e biológico. Ao mesmo tempo, precisa-se de ser encontrados novos recursos para manter os níveis de conforto ou desenvolvimento exigidos pela sociedade. Também há o fato de que muitas perguntas das ciências biológicas podem ser respondidas pelas outras áreas das ciências, como é o caso da geologia. A vida, objeto de estudo da biologia, é essencialmente a vida na Terra. A Terra é a base da existência da vida, fornece o abrigo, substrato para os ciclos de energia e matéria que sustentam os ecossistemas, forma as condições necessárias para que ela prospere. Ou seja: Sem Terra não há vida A Terra e a vida fazem parte de um todo complexo, de partes que constantemente estão interagindo, e que pode ser chamado de Sistema Terra. O Sistema Terra é um sistema composto pelas partes que ocorrem na superfície do planeta Terra, no espaço imediatamente o seu redor e abaixo dela. Para que esse sistema possa funcionar, é necessário energia. A energia do Sistema Terra vem de duas fontes básicas: -o calor interno da Terra. Este calor é causado, principalmente, pela radioatividade no interior da Terra, especialmente em suas áreas centrais, onde a temperatura alcança 6.000 graus Celsius. -do Sol Os componentes do Sistema Terra que funcionam com a energia do Sol são: -Atmosfera. Envoltório gasoso do planeta Terra. Nele ocorrem os fenômenos meteorológicos e climáticos (chuvas, ventos, nuvens...) -Hidrosfera. A água na Terra: Superfície (oceanos, lagos, rios), subsolo (água subterrânea) e atmosfera (vapor de água) -Biosfera. Matéria orgânica relacionada á vida. Os componentes do Sistema Terra que são acionados pela energia interna da Terra: -Camadas rochosas que constituem o interior da Terra: Litosfera / Crosta (a definição precisa de Crosta e Litosfera será apresentada mais adiante), Manto e Núcleo. A Litosfera / Crosta é de especial interesse pelo fato de ser a interface direta com os outros sistemas, assim como a humanidade e uma porção dos seres vivos viverem nela. Todos estes componentes interagem incessantemente entre si, influenciando-se mutuamente. Tais interações afetam profundamente a vida na superfície da Terra. A vida responde, reage às mudanças que a Terra sofre ou sofreu ao longo do tempo. Tais mudanças ainda ocorrem, fazem parte de todo um processo que ainda está em andamento. Conhecer melhor a Terra é conhecer a casa em que a vida existe. Por exemplo: Uma erupção vulcânica pode destruir extensas áreas diretamente ou mesmo induzir mudanças climáticas globais; destruindo grande número de espécies animais ou vegetais. A atmosfera atua sobre as rochas, fragmentando-as e retirando o material destruído, causando a erosão. Pode também formar o solo que sustenta a vida vegetal. A presença de vegetação também ajuda a definir o grau de ação da erosão em uma dada área. À esquerda, extinção em massa causado por atividade vulcânica. À direita, erosão no solo acelerada pela retirada de vegetação. O tipo de rocha define também a qualidade do solo, afetando a vegetação, que por sua vez pode afetar o clima. O comportamento da atmosfera pode ser modificado pela vegetação abaixo. Na Bacia Amazônica o clima é extremamente quente e úmido, com chuvas constantes. Esse tipo de clima faz com que as rochas sejam rapidamente destruídas e erodidas, formando relevos suaves e solos profundos e pobres em nutrientes, lixiviados pelas águas. A vegetação densa que se instala é obrigada a reciclar constantemente seus resíduos para poder se alimentar, o que é facilitado pelo clima quente. A vegetação densa, devido á intensa evapo- transpiração, também libera grandes quantidades de vapor de água que vão causar mais chuvas torrenciais, levando mais sedimentos que serão depositados nos rios maiores ou em alto mar, auxiliando na formação de novas rochas sedimentares. Já nas regiões temperadas, as variações de temperatura, bastante acentuadas, com calor intenso no verão e neve no inverno, permite o desenvolvimento de solos de tipos diferentes. Outro exemplo da importância da geologias para a biologia é que a evolução das espécies ao longo das eras geológicas só pode ser acompanhada graças aos fósseis. Estes restos vegetais e animais preservados nas rochas permitem: -acompanhar as mudanças que afetaram os seres vivos ao longo da história do planeta -determinar as origens da vida -definir os tipos de espécies, suas relações com outras espécies, determinar a composição dos ecossistemas e biomas -definir a distribuição dos mesmos. Esse trabalho de distribuição permite ainda estudar as leis que regem a evolução e a expansão das espécies na superfície da Terra; é a chamada Biogeografia. -transportar os fenômenos causadores de sua expansão e extinção(especialmente a extinção em massa) para determinar os riscos ambientais a que estão sujeitos os biomas atuais e a própria humanidade. Vale a pena aqui falar um pouco mais sobre a Biogeografia. O objetivo principal da Biogeografia “é a descrição e análise, em termos causais, da distribuição dos seres vivos, tanto em sua dimensão atual como no transcurso da história” (Zunino e Zullini 2003). A distribuição dos principais biomas e espécies atuais na superfície da Terra está sujeita a todo um conjunto de fatores, sendo que são o resultado de um processo que se estica há milhões de anos. Um dos elementos deste processo é a tectônica de placas, que permitiu a movimentação dos continentes e a formação dos diversos tipos de relevo existentes. Por conseqüência: -A movimentação dos continentes permitiu que espécies migrassem de um ponto para outro no planeta -gerou a mudança de relevo que criou áreas específicas para espécies -impediu ou facilitou o trânsito das espécies Regiões biogeográficas atuais Da mesma forma que a geologia é um ramo da ciência que afeta a biologia, e recíproca é verdadeira. Os fósseis, por exemplo, foram essenciais, desde o século XV e XVI, em servir de evidência da antiguidade do planeta Terra, das progressivas transformações que sofreu e da movimentação dos continentes (deriva continental). Já no século XVIII, observou-se a ocorrência de fósseis de conchas e peixes dentro do território francês, o que já na época foi interpretado como sendo produto da mudança de mar para continente naquela região da Europa. No Distrito Federal, na região próxima à Fercal, podem ser encontradas, em calcários, espécies de um tipo de fóssil bem primitivo – os estromatólitos – que foram formadas em águas marinhas rasas. Ou seja, há cerca de um bilhão de anos atrás, o Planalto central era fundo de um mar! Estromatólitos encontrados no estado de Minas gerais, próximos à Vazante. Foto do prof. J. C. Alvarenga (UnB). Fonte: http://vsites.unb.br/ig/glossario/fig/Conophyton_Museu.htm Finalmente, não deve ser esquecido que, conhecendo-se a importância dos recursos naturais de origem geológica (solos, água, minérios), sua exploração , uso e abuso podem ter impactos severos sobre o meio ambiente. Conhecer a geologia é também permitir prever possíveis problemas ambientais sobre os biomas. 2 Universo, estrelas e planetas 2.1 Origem do Universo O Universo é definido como “tudo que existe”. Para poder falar da origem da Terra e de tudo que nela existe, é preciso falar da origem do universo. A cosmologia estuda as diversas teorias para a origem e evolução do universo, sendo que há vários modelos para explicar a origem e evolução do universo. O modelo mais aceito até hoje é o denominado “Big Bang”. O modelo do Big Bang sugere que, há cerca de 14 bilhões de anos, todo o material que forma o Universo esteve concentrado em um único ponto, de densidade e temperaturas infinitas, que se tornou instável e começa a crescer aceleradamente, como uma explosão. Este modelo nasceu da determinação precisa das distâncias intergalácticas e da determinação de que as galáxias estão se afastando umas das outras. Quanto mais distantes, mais rapidamente estão se afastando de nós. Big Bang Logo após a “grande explosão”, devido às tremendas pressões e temperaturas existentes, a energia começou a interagir e formar partículas. As diversas forças que moldam o Universo (forte, fraca, gravitacional e eletromagnética) estabilizam-se nos primeiras frações de segundo. Os componentes básicos das partículas atômicas tornam-se então estáveis. Prótons e nêutrons estabilizam-se a seguir, formando os primeiros núcleos atômicos (H e He). Os elétrons são estabilizados logo depois. 10.000 anos após a explosão a matéria domina sobre a radiação. Os primeiros átomos (H, He) só apareceram, porém, cerca de 800.000 anos após a explosão, quando a temperatura cai para menos de 3000 K. Alguns elementos leves (Li, Be e B) também foram formados em pequenas quantidades devido a radiação cósmica. A imensa energia liberada pela explosão ainda pode ser detectada como a chamada “radiação de fundo”. Essa radiação corresponde a emissão de qualquer tipo de matéria a uma temperatura de 3K (-270°C) e foi detectada na década de 60 do século XX. Cerca de um milhão de anos após o Big Bang o universo era constituído numa imensa massa dispersa de gases (74% H e 26% He). Estes gases começaram a formar concentrações locais por força da gravidade. São as primeiras galáxias. Dentro destas primitivas galáxias começaram a formar concentrações menores de gases que vão formar as estrelas. 2.2 Estrelas e a formação dos elementos As estrelas são grandes corpos que emitem luz própria graças a reações nucleares em seu núcleo. Estas reações teoricamente tenderiam a fazer a estrela explodir, mas a força da gravidade a mantém unida. Por outro lado a gravidade poderia levar ao desmoronamento da estrela para si mesma, mas a energia radiante das reações nucleares a mantém contra essa contração. Assim, uma estrela também é um equilíbrio – a gravidade que a mantém unida e a energia emitida que a mantém brilhando e impede a implosão da estrela. Essas reações são imprescindíveis para explicar como os demais elementos apareceram no universo, já que o planeta Terra é formado por uma quantidade de elementos químicos que vão além do hidrogênio e o hélio. A vida, por exemplo, é calcada nas propriedades químicas do carbono, que não existia no universo primitivo. À esquerda: Nuvem de gás com estrelas em formação. À direita: Equilíbrio da estrela: equilíbrio das reações no núcleo e da gravidade. Graças a reações ditas de fusão termonuclear átomos são unidos ou fundidos com outros átomos resultando em átomos de elementos mais pesados e energia, como luz e calor. É aí que os demais elementos – até o ferro – são formados, na fornalha termonuclear no núcleo de uma estrela que converte hidrogênio e hélio em outros elementos mais pesados. Os elementos mais pesados que o ferro são formados por um processo chamado de captura de nêutrons, que pode ser lenta, ocorrendo ao longo da vida da estrela, ou rápida, que ocorre em estrelas muito massivas (muito mais “pesadas” que o Sol), que ao envelhecer, tornam-se instáveis e explodem (supernovas), ou em situações ainda mais incomuns, como no choque entre estrelas massivas. O produto final do processo que leva à morte de uma estrela – principalmente no caso de uma supernova – é uma nuvem de gás mais rico em elementos mais pesados que o H e He e uma estrela pequena e muito densa (anã branca ou estrela de nêutrons) ou um buraco negro. Assim, pode-se definir que os elementos foram assim formados: o H e o He foram formados com o próprio “big bang”; alguns elementos leves (Li, Be e B) foram formados pela radiação cósmica; Elementos mais pesados que o He até o Fe são formados por fusão termonuclear e os elementos mais pesados que o Fe são formados por captura de nêutrons. À esquerda: supernova. À direita: buraco negro. 2.3 O sistema solar 2.3.1 Origem e evolução dos planetas Há cerca de 5 bilhões de anos uma nuvem rica em gás e poeira começou a entrar em rotação, formando um disco. No centro deste disco formou-se um centro denso e grande que se transformou no sol. O movimento de rotação desta nuvem (giro ou “momento angular”) deve ter sido lento para poder formar um disco de matéria ao redor do sol. Se o giro fosse nulo, só formaria o Sol. Se o giro fosse rápido demais teriam formado dois sóis e o disco de matéria teria se dispersado no espaço. Neste disco de matéria, e ao redor do primitivo sol, devido a agitação do material solto no espaço, começou a se formarconcentrações de gás e material sólido, rico em Si, Al, Na Ca, K, Ferro, Mg e Ni, além de outros metais e gelo (principalmente gelo de água, metano (CH4) e amônia (NH3) e alguns compostos complexos de carbono). Essas concentrações começaram, por gravidade, a atrair mais matéria, ocorrendo choques entre esses corpos, o que aumentava as dimensões do corpo, formando planetésimos (centenas de metros a dezenas de km), e depois um protoplanetas (até algumas centenas de km de diâmetro). Formação do Sistema Solar Choques entre protoplanetas ocorreram até restar os nove planetas que conhecemos e os demais corpos (asteróides e cometas). Alguns astrônomos acreditam que os corpos que seriam os futuros planetas simplesmente atraíram para si massas de gás e material sólido até atingirem o tamanho atual; esse processo foi mais importante na formação dos grandes planetas externos. Com o início das reações nucleares no sol, este começa a brilhar e emitir calor. Ocorre então um processo importante na formação dos planetas: devido ao intenso calor os planetas mais próximos perdem grande quantidade de material volátil como H, He, CH4 e NH3, que se evapora no espaço, restando apenas os chamados elementos ditos refratários (rochas e metais). Porém os planetas mais distantes, como Júpiter e Saturno, mantêm suas atmosferas ricas em H e He devido não apenas a suas grandes massas, mas também devido a maior distância do sol. O calor não é suficiente pra faze-los perder seus gases. O resultado é a formação de duas classes gerais de planetas – os terrestres, telúricos ou internos, Mercúrio, Vênus, Terra e Marte, pequenos e compostos de rochas, e os externos, também chamados de jovianos ou gigantes gasosos, compostos principalmente de H, He, CH4 e NH3. A presença destes gigantes foi importante para a vida na Terra, pois eles, devido a sua atração gravitacional, atraíram para si grande quantidade de detritos, “limpando” o Sistema Solar. Isso não impediu que a Terra sofresse nos seus primórdios violentos impactos meteoríticos, que podem mais de uma vez ter atrasado o aparecimento da vida no planeta. Um desses corpos, do tamanho de Marte, chocou-se com a Terra. Devido ao ângulo de impacto grande parte dos destroços do corpo impactante ficou em órbita da Terra e aglutinou-se para formar a Lua. A presença da Lua para a vida é importante, pois a Lua também atraiu para si muitos meteoros, servindo de escudo para a Terra, além disso, estabilizou o eixo de rotação da Terra. Os resíduos deste processo evolutivo incluem os planetas anões (Ceres, Plutão e Eris), asteróides (espalhados entre as órbitas de Marte e Júpiter), cometas (espalhados para além de Plutão) e meteoros/meteoritos. Deve ser notado que o sistema solar apresenta regularidades que permitem inferir os processos envolvidos em sua formação, que são: as órbitas dos planetas estão aproximadamente em um mesmo plano (denominado de eclíptica), percorrem órbitas elípticas e no mesmo sentido, distribuição regular das distâncias planetárias e mesmo sentido de rotação (exceto Vênus e Urano). À esquerda: impacto que formou a Lua, há 5 bilhões de anos atrás. Direita: órbitas dos planetas. Obervar que salvo exceções a maioria dos corpos está concentrada em um plano. 2.3.2 Sistema Solar: o Sol O Sol é uma estrela de tamanho médio, de cor amarela, dividida internamente em núcleo (onde ocorrem as reações termonucleares em que a energia do sol é produzida, com temperaturas e pressões na ordem de 10 milhões de graus Kelvin), zona de irradiação e de convecção, e as camadas externas (fotosfera, cromosfera e coroa solar). As atividades solares produzem campos magnéticos que dão origem a violentas explosões, erupções ou grandes arcos de gás. Tais fenômenos podem afetar o clima e as comunicações eletrônicas na Terra. Máximos e mínimos de atividade solar ocorrem em ciclos de 11 anos. Também emitem gás (principalmente H) eletricamente carregado (ou ionizado) para o espaço, gerando o chamado vento solar. Este vento solar interage com o campo magnético terrestre, formando fenômenos como as auroras. Estrutura do Sol 2.3.3 Sistema Solar: os planetas Recentemente (em 2006) após intensas discussões a União Astronômica Internacional redefiniu o conceito de planeta como um corpo que não emite luz, apresenta atração gravitacional suficiente para manter a forma esférica e é capaz de limpar a sua órbita e arredores de detritos da sua formação. Com isto, três corpos – Plutão (planeta), Eris (candidato a planeta, também chamado de 2003UB313) e Ceres (asteróide) foram reclassificados como planetas anões. Dos planetas propriamente ditos, há duas classes distintas: os terrestres, telúricos ou internos, e os externos, ou gigantes gasosos. Os planetas internos, telúricos ou terrestres são Mercúrio, Vênus, sistema Terra/Lua e Marte. São planetas compostos principalmente por rochas e metal, com atmosferas comparativamente finas (ou quase ausentes) e poucos (ou nenhum) satélites. São densos (concentração de matéria por unidade de volume é alta, de ordem de 4 a 5 g/cm3) e pequenos. Os choques que formaram os planetas terrestres, aliados a presença de elementos radioativos (Th e U, além de potássio 40 e alumínio 26, entre outros) causou o derretimento destes corpos, formando imensas bolas de magma. O material mais pesado – como ferro e níquel – afundou até o meio, formando o núcleo, enquanto que o material mais leve, com o Si, Al, Mg, formou o envoltório, ou manto e crosta. A emissão dos elementos voláteis desta massa de magma formou as atmosferas planetárias. O núcleo de ferro e níquel formado permitiu a geração de um grande campo magnético que serve como blindagem para parte da radiação cósmica e solar, reduzindo assim os efeitos negativos destas radiações. Também permite calor interno suficiente para atividades como terremotos, vulcanismo e movimento dos continentes, que têm importância fundamental na existência da vida na Terra. Este processo de transformação de um corpo homogêneo em um corpo estruturado internamente em camadas é chamado de diferenciação, e pode ocorrer mesmo em corpos menores, como asteróides. Isso explica a variedade de asteroides e meteoritos que tem sido observado. Evolução do interior dos planetas terrestres ou telúricos Os planetas externos ou jovianos têm grandes dimensões, são compostos principalmente por hidrogênio (H), hélio (He), água (H2O), metano (CH4) e amônia (NH3). Têm numerosos satélites e anéis. É difícil definir alguma superfície sólida nestes planetas, que às vezes é representada pela passagem de uma atmosfera gasosa para os mesmos componentes, porém em estado líquido, como um grande oceano. Suas densidades são baixas (da ordem de 1 g/cm3). Possuem um núcleo central rochoso, pequeno se comparado com o tamanho do planeta. Planetas terrestres. Da esquerda para a direita: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Planetas Jovianos. Da esquerda para a direita: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. 2.3.4 Sistema solar: corpos menores Dentre os diversos corpos menores do sistema solar podemos citar os planetas anões, satélites naturais, asteróides, meteoros, meteoritos e cometas. Planetas anões Esta classe de corpos foi criada recentemente para designar os corpos que não emitem luz própria, giram ao redor de uma estrela mas não são capazes de, por gravidade, limpar a órbita deles dos detritos deixados pela sua formação. Estão nesta classe Plutão e Eris (no limite externo do Sistema Solar) e Ceres (o maior dos asteróides, entre Júpiter e Marte). Plutão apresenta pelo menos três satélites e Eris, um. Há pelo menos doze outros corpos além da órbita de Plutão que podemtambém ter a classificação de sub-planeta. À esquerda, Ceres. À direita, Plutão. Satélites naturais Satélites naturais são corpos que estão ligados gravitacionalmente a um planeta, planeta anão, asteróide ou mesmo um outro satélite natural e que gira ao redor dele. Há dezenas de satélites naturais no Sistema Solar, sendo que alguns são tão grandes quanto planetas (é o caso de Ganimedes e Titã, maiores que Mercúrio). Muitos apresentam características distintas, por exemplo: Titã apresenta uma densa atmosfera e lagos de metano em sua superfície; Io, Tritão e Enceladus apresentam atividade vulcânica, emitindo rocha derretida ou água. Satélites naturais. Da esquerda para a direita: Ganimedes (Júpiter), Titã (Saturno), Lua (Terra) e Fobos (Marte). Asteróides Asteróide é o nome dado a pequenos corpos irregulares que se concentram preferencialmente em um cinturão entre Júpiter e Marte. Conta-se aos milhões, com tamanhos variando desde alguns metros a até quase 1000 km. Podem ser compostos de rochas (80% do total), metais (5%) ou combinação de ambos (15%). Alguns formam grupos fora deste cinturão e se distribuem em órbitas que vão até Saturno ou a distâncias menores que a que separa Mercúrio do Sol. O estudo e rastreio destes corpos são de fundamental importância, entre outras coisas, para prever possíveis impactos com o planeta. Acredita-se que um destes corpos foi responsável pela extinção dos dinossauros e que define o fim da era Mesozóica. Exemplos de asteróides Meteoros e meteoritos Há muita confusão entre os termos meteoro e meteorito. Meteoro é o nome dado a qualquer corpo que ao entrar na atmosfera terrestre se incendeia e se desintegra numa explosão (estrela cadente). Se algum destroço consegue chegar a superfície, é chamado de meteorito. Os meteoritos são importantes no estudo de diversas áreas do conhecimento pois: -muitas vezes têm composição similar ao matéria mais primitiva que formou o sistema solar. Aliás, as idades obtidas para os meteoritos às vezes são semelhantes àquelas das rochas mais antigas da Terra. Assim, o estudo dos meteoritos permite inferir como era composta a Terra no começo de sua existência e como ela evoluiu. -meteoritos podem ter trazido para a Terra microorganismos ou matéria orgânica que foram fundamentais para a origem da vida -impactos de meteoritos podem ter causado extinções em massa, como a que causou a extinção dos dinossauros há 60 milhões de anos. Da esquerda para a direita: meteorito metálico, meteorito metal-rocha, meteorito rochoso, meteorito condrítico rochoso. Os meteoritos, a grosso modo, são classificados em três classes: os compostos só por metal (sideritos), os de composição meio-metal, meio-rocha (litosideritos) e os compostos só por material rochoso ou não metálico. São subdivididos em condritos (com presença de pequenas esferas ou côndrulos, de material rochoso ou rico em C), e acondritos (sem côndrulos). Cometas Os cometas são corpos de dimensões modestas (freqüentemente com menos de 10 km) irregulares, compostos por uma mistura de rochas e de materiais voláteis gelados, incluindo gelo de água (H2O), metano (CH4), amônia (NH3) e compostos mais complexos de carbono. Tais corpos foram formados pela condensação destes materiais a grandes distâncias do Sol. Estão concentrados em uma nuvem a cerca de um ano-luz do sol, a nuvem de Oort, e em um disco além da órbita de Plutão, o cinturão de Kuiper. Quando são afetados pela gravidade dos planetas mais externos ou por outras causas tais como estrelas errantes ou grandes nuvens de gás, estes corpos “caem” em direção ao Sol. O aumento do calor provoca a evaporação dos compostos voláteis na superfície, e o material evaporado, por efeito da pressão da luz e gases do Sol estende-se a milhões de km além do corpo formando uma cauda. Ao redor do corpo que está liberando os gases forma-se um envoltório denominado de coma. Tais cometas podem entrar em órbita regular ao redor do Sol (como o cometa de Halley) ou então serem ejetados para as profundezas do espaço e nunca mais voltarem. Podem também se chocar diretamente com o Sol ou com outro planeta (caso de Júpiter). Da mesma forma que ocorre com os meteoritos, acredita-se que os cometas podem ter, ao se chocar com a Terra nos primórdios da evolução do planeta, ter “semeado” a superfície com compostos de carbono que permitiram a formação da vida no planeta ou ter adicionado quantidades substanciais de água a hidrosfera terrestre. À esquerda, estrutura de um cometa: 1 – núcleo; 2 – coma; 3 – cauda. No centro: núcleo de um cometa (Tempel 1); à direita, cometa West. Bibliografia Bitar, O. Y.. Meio Ambiente & Geologia. São Paulo: Editora SENAC São Paulo 2004 Leinz, V. e Amaral, S. E.. Geologia geral. 11ª edição. São Paulo: Editora Nacional 1989. Press, F. et al. Para Entender a Terra. 4ª edição. Porto Alegre: Bookman 2006. Teixeira, W. et al. (organizadores). Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos 2000. Wicander, R. e Monroe, J. S.. Fundamentos de Geologia. São Paulo: Cengage Learning, 2009. Zunino, M. e Zullini, A. Biogeografía – La dimension espacial de la evolucion. México: Fondo de Cultura Económica 2003
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