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Anne Cooper CAMINHO SEM VOLTA

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Título: Caminho sem volta.
Autor: Anne Cooper.
Título original: Divine Right
Dados da Edição: Abril S. A., São Paulo, 1984.
Género: romance.
Digitalização: Dores Cunha.
Correcção: Edith Suli.
Estado da Obra: Corrigida.
Numeração de página: rodapé.
Esta obra foi digitalizada sem fins comerciais e destinada unicamente à leitura de pessoas portadoras de deficiência visual. Por força da lei de direitos de autor,
este ficheiro não pode ser distribuído para outros fins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente.
Copyright: Ann Cooper
Título original: "Divine Right" Publicado originalmente em 1983 pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra
Tradução: Lúcia de Barros
Copyright para a língua portuguesa: 1984 Abril S.A. Cultural - São Paulo
Esta obra foi integralmente composta e impressa na Divisão Gráfica da Editora Abril S.A.
Foto da capa: Keystone
CAPÍTULO I
- É linda... - Havia uma expressão indefinível, naquela voz carregada de um tom profundo.
Imediatamente, Laura percebeu que o elogio não era dirigido ao quadro Mona Lisa. Por sobre o ombro, comentou:
- Não é a primeira vez que dizem isso sobre essa pintura tão famosa. Sua ironia não fez com que o homem se afastasse. Pelo contrário, deu
chance para que ele começasse uma conversa.
- Esteve aqui ontem, não foi?
- É muito observador - ela respondeu ainda sem se virar. Por que ele não ia embora? Não devia ser francês, nem inglês, pois sua pronúncia era um pouco dura. Talvez 
alemão, ou austríaco...
- Gosta de pinturas? - ele tentou novamente.
Laura virou-se e observou o homem por alguns segundos. Nada mau! Um olhar insinuante, dentes muito brancos aparecendo no sorriso amigável.
- Gosto de algumas. - Ela não ia entrar em detalhes, explicando ao estranho que pretendia fazer ilustrações para livros.
- Sempre que estou em Paris, venho ao Louvre. - Os olhos, muito azuis, sorriram também. - Está aqui de férias, não é?
- Não. - Laura pegou os óculos escuros que estavam prendendo seus cabelos e os colocou no rosto. - Se me dá licença... - E se afastou.
Sentiu que o olhar do homem a acompanhava e sabia que devia estar causando forte impressão, com o vestido de verão bem decotado, sandálias de salto alto e cabelos 
caindo nos ombros. No entanto, a ideia de ser admirada não a entusiasmava nem um pouco.
Chegou ao prédio onde morava, subiu ao quarto andar e entrou. Dividia o apartamento com outras duas moças, que, no momento, deviam estar fora, talvez aproveitando 
para fazer compras. Ficou contente de poder estar sozinha. Abriu todas as janelas para ventilar. O dia estava ensolarado, poderia até aproveitar para tomar banho 
de sol depois do almoço.
Foi para a cozinha, preparou uma refeição rápida, só com legumes e frios. Viu que havia cartas para ela, mas nenhuma de sua madrasta Anthea. Talvez tivesse que ligar 
para Londres, para saber por que ela não tinha mandado o dinheiro da mesada. Nunca havia acontecido de ela atrasar!
Laura vestiu o biquini e foi para o pequeno terraço, que ficava nos fundos do apartamento. Era uma área bem protegida que não a expunha a olhares indiscretos. Colocou 
a toalha no chão, se ajeitou o melhor que pôde e começou a desenhar alguns esboços.
Foi enchendo as páginas, enquanto o sol forte queimava sua pele. Sem perceber, notou que tinha feito vários perfis de homem. Reparou que todos possuíam algo das 
feições do estranho charmoso que tentou conversar com ela no Louvre. Ali estavam os cabelos escuros, os olhos muito vivos, o queixo quadrado e voluntarioso.
Por que não conseguia esquecer aquela imagem? Ela mal falou com o desconhecido! Então por que ele perseguia sua imaginação? Laura pôs o bloco de lado e virou de
costas. Desamarrou as alças do sutiã, para que o sol não deixasse marcas em sua pele. Sua mente voltou a se ocupar com
o homem daquela manhã. Ele era alto, tinha
certeza, pois lembrava do modo como ele baixou os olhos para observá-la. Era muito sexy,
sem dúvida.
Seus pensamentos foram interrompidos por uma das garotas que moravam com ela.
 9
- Combinamos de passar o dia fora, amanhã - ela estava dizendoB
- Vai ser um domingo de sol e um passeio pelo campo vai fazer bem.
- Acho que não vou. Estou um pouco cansada e prefiro terminar uns desenhos que já estão começados. Preciso acabá-los até segunda-feira.
Colette era a dona do apartamento e Laura a tinha conhecido na escola
de arte. Trabalhava numa agência de publicidade e era muito alegre e divertida. Mas Laura preferia passar o dia seguinte tranquila e sozinha. Ia aproveitar para 
ligar para Anthea e saber de seu dinheiro. Já tinha escrito duas cartas, que ficaram sem resposta. Estranhou muito, pois Anthea sempre tinha sido muito pontual. 
É verdade que havia algumas reservas no banco, mas se o dinheiro não chegasse logo...
O domingo realmente amanheceu radioso. Laura esperou a hora do almoço, quando seria mais provável encontrar a madrasta em casa. Fez a ligação, mas ninguém atendeu. 
Será que tinha acontecido alguma coisa grave? Provavelmente não. As más notícias sempre chegam depressa.
O que ia fazer? Poderia ir até a beira do Sena e terminar seus desenhos lá. Sempre ficava mais inspirada quando em contato com a natureza. Previdente, tratou de 
fazer economia. Em vez de almoçar fora, preparou uns sanduíches, encheu de limonada uma garrafa térmica e foi para seu lugar favorito, de onde podia ver o Sena e 
a parte de Paris de que mais gostava.
Paris! Como adorava aquela cidade! Ir para lá estudar tinha sido uma oportunidade maravilhosa, principalmente porque pôde sair de casa. Após a morte de seu pai, 
Anthea se casou de novo, e ficou difícil continuar vivendo com ela. Se voltasse, ela e a madrasta iam recomeçar as brigas.
Mas os problemas de dinheiro eram grandes e ela ia ter que tomar uma atitude, caso o depósito não fosse feito. Mas não ia pensar nisso agora e estragar seu dia. 
Tornaria a ligar para Anthea ao voltar para o apartamento.
Passou o dia desenhando, observando as atitudes dos que passavam, tentando pôr no papel aquilo que via. Muitas pessoas paravam para ver o que ela fazia e teciam 
comentários sobre a beleza de seus desenhos. Ela estava feliz!
Na manhã seguinte foi para a aula de desenho e entregou seus trabalhos. Depois seguiu para o Louvre. O professor sempre dizia que. para aprender a usar- as cores,
nada como copiar os grandes mestres.
Acomodou-se diante do quadro A Forja, de Lê Nain. Tirou a tela de sua sacola, as tintas e os pincéis. Muito gentilmente, o guarda ajudou-a, arranjando um banquinho
para que pudesse colocar suas coisas. Era quase hora de almoço e o museu estava deserto.
Laura mergulhou totalmente em seu trabalho, desenhando as figuras
nas posições certas. O quadro representava o interior de uma forja, mostrando três gerações de uma família de camponeses, as chamas da fornalha iluminando seus rostos 
e o resto do local imerso em sombras que variavam do marrom escuro a um ocre esmaecido.
Desenhou a figura do ferreiro, sua mulher... o velho pai, já incapacitado de trabalhar, que abraçava o neto, um pouco apavorado com o fogo.
Algumas pessoas paravam para olhá-la, mas Laura não se perturbou. Pintava há cinco anos e estava acostumada a esse tipo de curiosidade. Começou a usar as cores, 
olhando de vez em quando para o que fazia. Depois, um pouco cansada, limpou a mão num pano, e se afastou para ver o efeito. Nem bom, nem mau...
- É linda! - ela ouviu a mesma voz dizer às suas costas, só que dessa vez a Mona Lisa não estava por ali.
- Ah! É você de novo! - ela comentou, mal se virando, mas o suficiente para notar que ele usava terno e gravata, bem no estilo europeu, .
Pegou as tintas, tentando preparar um pouco mais daquele tonB vermelho-brasa, que não tinha ficado bom. Foi então que seu
olhar encontrou aqueles olhos azuis, zombeteiros e alegres.
- Está estudando arte aqui em Paris? Laura não encontrou voz para responder e se limitou a continuar
misturando as tintas.
- Ou resolveu passar as férias, praticando sua arte na capital do mundo?
- Sou estudante de artee moro em Paris há quase um ano. E você, aproveita o museu para conhecer a arte ou fica por aqui apenas para suas caçadas?
- Caçadas?
- Caçadas, conquistas, paqueras, como quiser chamá-las. ? O homem riu com vontade.
- Tem razão. Faço minhas caçadas, mas somente quando encontro alguma coisa que valha a pena, que quero muito! - Ele usou um tom sensual, que deixou Laura um pouco 
assustada.
- Vá embora e me deixe em paz!
- Não fique aborrecida. Venha almoçar comigo.
- Ora... vá para o inferno!
- Só café, então?
Laura ergueu um dos pincéis numa atitude de ataque.
- É melhor me deixar em paz, senão vou chamar o guarda para prendê-lo.
Ele virou as costas e se afastou. Laura voltou sua atenção para a pintura, mas notou que, depois de dar alguns passos, ele parou. Tinha sentado num dos bancos colocados 
à disposição dos visitantes para um descanso. Mantinha os olhos cravados nela.
Laura procurou se concentrar no que fazia, sempre tentando descobrir o tom certo para colorir as chamas de seu quadro, mas, depois de ser observada por mais de quinze 
minutos, acabou desistindo.
- Está bem, vou tomar um café com você. - Acomodou as tintas e os pincéis. - Mas só se me prometer que depois vai me deixar sossegada.
O homem ficou de pé voltando para junto dela.
- Muito bem, srta. Laura Grant. Tomamos café e depois...
- Como descobriu meu nome?
Ele apontou a tampa da caixa de tintas, onde o nome estava gravado. Laura lembrou que o pai escreveu seu nome ali no dia em que tinha lhe dado a caixa de presente.
- Somente um café, então. - Guardou as coisas, conformada. Dez minutos e volto para cá.
Pegou a bolsa e pediu ao segurança do museu que desse uma olhada em seu material de pintura. Propositalmente, não tirou o avental que usava para pintar. Era bom 
que o desconhecido a achasse mal arrumada e desistisse de persegui-la.
Enquanto procuravam uma mesa vazia, ela analisou o estranho. Era bonito? Sem dúvida, mas o que impressionava era sua atração, a masculinidade, o porte ereto, o corpo 
musculoso. Devia ser um executivo porque estava usando um terno de corte elegante, uma camisa impecável e gravata combinando.
- É inglesa, não é? - Ele começou a conversar depois que sentaram.
- Sou. Como foi que percebeu?
- Seu francês é bom, mas, pelo sotaque, logo descobri que era inglesa. Está estudando aqui?
- Isso mesmo. E você? Vem a Paris muitas vezes?
- Muitas. Dessa vez, vou ficar até sexta-feira.
- É mesmo? E de onde é? Também notei seu sotaque diferente, mas não consegui localizar de onde.
- Sou italiano.
- Então me enganei completamente. Pensei que fosse alemão, austríaco, ou até suíço, mas nunca italiano.
- Mas não errou não! Sou do norte da Itália, de uma região que pertencia à Áustria. A maioria lá ainda fala o alemão na vida diária. Então, parece que ele se deu
conta de que não tinha se apresentado. Tirou um cartão do bolso e o entregou a Laura. - Sou Karl Rievenbeck.
Ela pegou o cartão mas não o olhou. O nome estava bem de acordo com ele. Simples, mas cheio de força. Será que ele tinha percebido que causou uma boa impressão? 
Reconhecia que o homem não fazia seu tipo, mas era obrigada a admitir que o achava atraente e sensual, simpático e misterioso.
O café chegou e dali em diante a conversa fluiu fácil.
- Você estava me dizendo que gostaria de fazer ilustrações, principalmente para livros de criança. - Karl se serviu de mais café.
- Exatamente. Já fiz vários desenhos e estou juntando os melhores para apresentar a uma editora. Participei de exposições e cheguei a vender algumas pinturas.
- Tenho inveja de você. Deve ser maravilhoso a gente poder dar vazão à criatividade.
- Estou feliz com o que faço e não gostaria de me dedicar a nada mais. - Muito à vontade, ela começou a contar sobre sua cópia do famoso quadro A Forja, e suas experiências 
na mistura das tintas.
- Quanto tempo ainda vai levar para terminá-lo?
- Não sei. É a primeira vez que tento fazer esse tipo de trabalho.
- Então estará aqui amanhã de novo?
- Sem dúvida. E provavelmente na semana que vem, no outro mês...
- Ela sorriu, encantada por perceber que aquele homem tão sofisticado estava procurando saber sobre suas atividades para conseguir vê-la outra vez.
- Então almoça comigo amanhã?
Hesitou por um instante, dividida entre a vontade de encontrá-lo novamente e o perigo a que se expunha, por estar se deixando envolver por ele.
- Não se preocupe, Laura, não vou tomar toda sua tarde. Estou pedindo apenas uma hora, o suficiente para almoçarmos. Depois, prometo mandá-la de volta para o seu
trabalho.
- Aceito o convite, mas estarei com estas roupas e...
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- Tudo bem. com o tempo vou acabar apreciando o cheiro de... de... como é mesmo o nome?
- Terebintina.
Ele riu, balançando a cabeça e ela o acompanhou. Tinha a impressão de que já o conhecia há muito tempo e que por isso se sentia à vontade em sua companhia. Havia 
surgido uma simpatia mútua, uma afinidade total entre os dois.
Karl pediu a conta e Laura se levantou, guardando no-bolso o cartão que ele lhe deu. Saíram do restaurante e, na rua, ele se despediu.
- Vejo você amanhã, Laura!
- Até amanhã. - Ela começou a andar de volta para o museu.
Foi somente quando já estava instalada para retomar o trabalho, que pegou, no bolso, o cartão que tinha guardado. Karl Rievenbeck, estava escrito, e havia ainda
dois endereços, um em Milão, outro em Roma. Provavelmente a firma onde trabalhava tinha a matriz numa dessas cidades e a filial na outra. Só que ali não estava escrito
o nome da empresa.
Laura se absorveu na pintura, procurando conseguir a cor exata para as chamas. O tempo passou e já passava das seis quando resolveu parar. Sentia um vazio no estômago 
e só então se deu conta de que não havia comido nada o dia todo.
Voltou para casa de metro. Abriu a porta assobiando, contente.
- Nossa, como ela está feliz! - Colette comentou, saindo do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça. - Está aceitando suas pinturas?
- Elas estão ficando ótimas. Não chegou nenhuma carta para mim?
- Nada. O correio já veio, mas não tinha nada.
Laura ficou preocupada. O que teria havido com Anthea? Não atendeu os dois telefonemas do domingo e não escrevia. Era muito esquisito!
- vou comer alguma coisa, Colette. Quer também?
- Não, obrigada. vou jantar fora.
Laura foi para a cozinha, preparou uns ovos e uma salada, cantarolando. Por que estava tão contente? Porque estava progredindo na pintura ou... porque estava se 
apaixonando por um homem que só tinha visto duas vezes... Devia estar é ficando louca!
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CAPITULO II
Na manhã seguinte, quando apareceu na cozinha para o café da manhã, as meninas assobiaram ao vê-la tão bem arrumada, com um vestido moderno, de decote redondo.
- Por que tanta elegância? - Colette perguntou. - Não vai pintar no Louvre, vai?
- vou, mas está quente demais para usar jeans. Depois, coloco o avental por cima e protejo minha roupa.
Pegou o metro e foi para o museu. A manhã passou rapidamente, mas várias vezes ela se pegou olhando para o relógio, ansiosa para que a hora do almoço chegasse logo.
Finalmente, ouviu os passos já familiares. Virou-se, e ficou surpresa com
o que viu. Karl estava ainda mais atraente, de calça esporte, camisa aberta no peito, deixando 
aparecer seus pêlos.
- Parece que hoje é feriado para você - Laura comentou com um largo sorriso.
- Não preciso trabalhar o tempo todo, não é? Se está pronta, podemos ir.
Dessa vez Laura tirou o avental e notou que Karl aprovava sua roupa.
- Está elegante como um turista, Karl. É até estranho!
- Mas eu sou uma espécie de turista! Aliás vou lhe pedir que me mostre aspectos interessantes dessa cidade. Conhece Paris muito melhor que eu.
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- Não temos tempo para isso. Não disse que depois de uma hora ia me mandar de volta para o trabalho?
- Disse mesmo, e já estou arrependido. - Ele pegou-a pelo braço e foram para o restaurante.
Fizeram o pedido ao garçom, e Karl escolheu um vinho branco para acompanhar a refeição.
- Acho que vou convencê-la a não voltar a trabalharhoje, Laura.
- Não foi o que combinamos. Não adianta insistir.
- Está bem.
Laura ficou ligeiramente desapontada. Queria tanto que ele insistisse em ficar com ela!
- E amanhã? Poderíamos nos ver? Lembre-se que vou embora na sexta.
- Posso dar um jeito de tirar umas horas de folga amanhã. - Laura concordou, o coração triste por pensar que ele ia embora em três dias.
- Que tal ficar o dia todo de folga? - Os olhos azuis brilharam intensamente. - Poderíamos ir onde quisesse. Um dia, é só o que lhe peço. Tenho um horário de trabalho
tão puxado, que seria bom poder passar um dia relaxado, sem obrigações.
Ela concordou. Seria tão bom passar o dia com Karl! O que ele gostaria de fazer? Deixou a escolha a critério de Laura, mas ela não sabia se ele ia gostar da sugestão.
- Conheço um lugar encantador, perto do Sena. Fica bem longe daqui, mas a paisagem é maravilhosa. Existe um castelo antigo e de lá a vista é ainda mais magnífica. 
Mas é uma longa subida! Poderíamos passar o dia por lá e fazer um piquenique. - Ela pensou que ele ia achar ruim, talvez preferisse um restaurante da moda, e depois 
dançar numa boate. Mas o lugar era tão lindo! Gostaria tanto de ir lá na companhia dele!
- Onde fica?
- Em Lês Andelys. - Laura teve a impressão de que ele já conhecia. Karl estendeu a mão por sobre a mesa e segurou a de Laura, muito de
leve.
- Escolheu bem. Andelys... - ele repetiu como se visse o local em sua imaginação. - Petit Andelys?
Laura balançou a cabeça, sem achar voz para falar.
- Um lugar perfeito. Um amigo meu tem um barco ancorado lá. Talvez pudéssemos pegá-lo e fazer nosso piquenique a bordo, atracar em algum lugar, nadar...
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- Não gosto muito de nadar.
- Então vamos fazer só o piquenique. Meu Deus! Há anos que não faço isso!
Combinaram que Karl a pegaria no apartamento na manhã seguinte. Laura voltou para seu trabalho e só então se deu conta de que ia passar o dia com um estranho, do 
qual não sabia nada. Além de conhecer sua origem, o que mais ele tinha contado? Nada!
E dai"? As pessoas não precisavam ter relatórios completos dos outros, para se divertir! O instinto lhe dizia que iam passar um dia maravilhoso!
Eram quase nove horas quando Karl parou o carro em frente ao apartamento. Ela acenou da janela, avisando que já estava descendo. Quando entrou no carro esporte vermelho, 
ela viu que a cesta do piquenique estava no banco de trás. Mas sua maior surpresa foi ver Karl, vestido com um minúsculo short branco! Ele parecia ainda mais atraente, 
as pernas queimadas, longas e musculosas, os braços cobertos de pêlos, tudo nele era muito sensual e masculino.
Seria um esportista? Casado? Seu coração doeu ao pensar nessa possibilidade. Mas não ia estragar o dia pensando em bobagens. Estava a fim de deixar as coisas acontecerem.
Andelys estava iluminada pela luz intensa do Sol. Desceram do carro e andaram pela marina, observando os barcos, muito brancos, ancorados no pequeno porto. Caminharam 
pelas ruas, estreitas e antigas. Para subirem ao castelo, Karl deu a mão a Laura e ajudou-a. Quando chegaram no topo do monte, ficaram extasiados diante da paisagem 
que se descortinava a seus pés.
O rio se apresentava calmo, muitos barcos indo e vindo, os campos muito verdes, o rochedo, onde se erguia o castelo, a pique sobre o rio.
- Conhece a história do castelo? - ele quis saber.
- Muito pouco. Sei apenas que era um dos lugares preferidos de Ricardo Coração de Leão e que era chamado Castelo Gaillard.
Deram umas voltas por cima do rochedo e Karl apanhou uma flor silvestre, entregando-a a Laura com ternura. Desceram, compraram pão e foram andando pela margem do 
rio, até que pararam diante de um barco, não muito grande, ancorado ali.
Karl deu a partida e o barco deslizou pela água, calma como um espelho. Laura estava sentada no convés e, tinha que admitir, sentia um pouco de medo de estar numa 
lancha.
14
- Vamos parar naquela ilha, no meio do rio. O que acha, Laura?
- Ótimo! - Ainda bem que ia poder pisar terra firme outra vez, ela pensou.
Karl deu a volta na ilha e encontrou um lugar seguro para ancorar. Foram para baixo de árvores muito copadas com suas sombras frescas e convidativas. Comeram pão, 
patê, frutas e vinho. Descansaram um pouco, conversando e rindo. Depois, tomaram banho de sol. Karl tirou a camisa e Laura tirou o vestido, pois estava com o biquini 
por baixo.
Que maravilha poder ficar ali na ilha, longe do movimento, só ele e ela! Laura tentou analisar seus sentimentos. Seria possível se apaixonar por um homem que havia 
visto tão poucas vezes? Mas alguma coisa diferente estava acontecendo, pois sentia o pulso bater mais rápido, seu corpo reagindo como nunca tinha acontecido antes.
Passou bronzeador no corpo, deitou de bruços e, num impulso, pediu que ele passasse creme em suas costas.
Por um segundo Karl hesitou, e ela sentiu o coração apertado. Mas logo ele pegou o tubo e se ajoelhou ao lado dela, começando a espalhar o creme, primeiro nos ombros, 
depois nas costas até alcançar a cintura. Quando as mãos se aproximaram da tira do sutiã, Karl desfez o laço, espalhando o creme nas costas todas.
- Você é tão tentadora! Uma promessa de prazer!
Muito devagar, ela rolou o corpo. A parte superior de seu biquini permanecia esquecida, enquanto os olhos azuis, muito intensos, percorriam seu corpo, detendo-se 
nos seios jovens.
Karl se abaixou até alcançar os lábios dela. Foi um beijo rápido, suave, mal tocando a boca entreaberta. Depois ele beijou o queixo e os olhos fechados, muito de 
leve, em cada ponto deixando uma marca de calor.
- Karl... - ela murmurou - ... quero que me beije! - Ela o abraçou, puxando-o para mais perto.
Dessa vez, o beijo foi ávido, os lábios se unindo numa ardente busca de prazer. Laura colou seu corpo ao dele para que cada centímetro de pele tocasse a de Karl.
Não era possível que isso estivesse acontecendo com ela! Estava numa ilha quase deserta, quase nua, abraçando e beijando um homem que mal conhecia e que, no entanto, 
já tinha conquistado um lugar definitivo emseu coração. Esse beijo era uma revelação! Compreendia agora o que era amar e desejar um homem! Sentia ondas de desejo 
encobrindo seu raciocínio, deixando-a pronta para gozar o encantamento do prazer.
15
- Como é bom estar assim com você! - Karl murmurou entre beijos.
- Muito bom! Não pare, Karl... por favor!
Karl beijou-a ainda com mais ardor, seus lábios descendo pelo pescoço esguio, até alcançarem os mamilos muito róseos.
Laura gemia de satisfação, as mãos subindo e descendo pelas costas de Karl, sentindo sua pele, seus músculos, seu calor... sabia que tinha despertado o desejo nele 
e que, a Cada nova carícia, esse desejo crescia...
No rio, um barco passou, apitando. Não era uma provocação, pois os dois estavam escondidos sob as árvores, no meio da ilha. Mas Karl se ergueu, o rosto sério, os 
olhos azuis percorrendo o rosto dela, vendo sua excitação.
Ele rolou o corpo, saindo de cima dela. Foi até a cesta de piquenique e se serviu de um copo de vinho. Laura ficou deitada, perguntando a si mesma o que tinha acontecido. 
Teria feito alguma coisa errada? Ou ele tinha achado que o pessoal do barco poderia vê-los?
Laura sentou e colocou a mão nos ombros de Karl.
- Vamos voltar, Laura. Está ficando tarde e tenho um compromisso no jantar - ele disse isso, mas o tempo todo não tirou os olhos dos seios de Laura, que subiam e 
desciam, à medida que respirava. - Venha. Ele pegou o vestido e ajudou-a a se vestir.
Amarrou os laços das alças com extrema facilidade nos ombros. Será que tinha muita prática com mulheres?, Laura se perguntou. Claro! Sem dúvida nenhuma! Um homem 
como Karl devia viver rodeado de mulheres... A este pensamento ela sentiu uma confusão interior, um misto de desejo, ciúme, frustração...
Karl ergueu o queixo de Laura de modo que ela fosse obrigada a encará-lo.
- Não fique zangada comigo, liebling - ele disse com muito carinho. - Acredite em mim. Ainda não chegou a hora.
Não chegou a hora? Como não? Logo seria quinta-feira, eele tinha que ir embora na sexta! Não havia tempo para nada!
- Temos todo o tempo do mundo - ele continuou com ternura. Seria um crime apressar as coisas. - Eles se abraçaram e Laura sentiu que podia acreditar nele. De uma 
certa forma, partilhavam alguma coisa muito importante.
- Acho que tem razão... - ela murmurou e seus lábios encontraram os dele, como se estivessem selando um pacto de confiança.
Juntaram as coisas do piquenique e voltaram para o barco, o sol da
16
tarde ainda alto no céu. Mas já eram quase sete horas quando Karl a deixou em frente do apartamento. Ele lhe deu um beijo de despedida, longo e carinhoso, combinando 
pegá-la no dia seguinte, à noite.
Laura subiu as escadas, feliz. Tinha o coração leve, sentia que Karl a amava. Tinha que amá-la, senão não diria que eles tinham todo o tempo do mundo para ficarem 
juntos.
O apartamento estava vazio e Laura ficou contente por esse momento de privacidade. Tinha sido o dia mais perfeito de sua vida e queria rememorá-lo em silêncio, vivendo 
de novo cada uma das emoções.
Seguiu para a cozinha para preparar um chá. Foi então que viu um recado que Colette havia deixado.
"Anthea está em Paris e pediu para você telefonar assim que chegasse." Embaixo do recado havia o nome de um hotel e o número do telefone.
Anthea estava em Paris? Por quê?
- Laura, onde esteve o dia todo? Tentei me comunicar com você desde cedo - Anthea reclamou do outro lado da linha.
- Passei o dia fora. O que aconteceu? Também tenho tentado ligar para sua casa, mas ninguém atende.
- Venha até aqui e conto o que está havendo.
- Agora? - Laura suspirou desconsolada. Queria ficar sossegada, pensando em Karl.
- Agora não! É muito tarde e vou sair. Venha amanhã, às cinco. Anthea desligou, sem dizer até logo.
No dia seguinte, depois de passar a tarde no Louvre, pintando, Laura foi para o hotel ver a madrasta. Estava de jeans e camiseta.
- Minha nossa! Como você está horrorosa! Como tem coragem de usar esses jeans, cheirando a terebintina? - Anthea demonstrou claramente o que achava da enteada. Era 
uma mulher alta, de cabelos ruivos e, embora tivesse quarenta anos, não aparentava mais de trinta.
- Vim direto de Louvre para cá, e como passei pintando o dia todo...
- Bem, tudo isso vai acabar agora. - Anthea pegou um cigarro. Estavam na suíte do hotel e Laura não podia entender onde Anthea arranjava dinheiro para essas extravagâncias.
- Parar! Por quê? Ainda tenho muito que aprender, se quiser fazer ilustrações.
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- Pode fazer o que quiser, mas vai ter que parar com a escola de arte, sair de Paris... O que quero dizer, Laura, é que o dinheiro acabou.
- O quê? - Como Anthea podia dizer que não tinha mais dinheiro, se estava ocupando uma suíte num hotel de classe, e usando um vestido de linho creme, simples mas
muito elegante e, por isso mesmo, muito caro? Nada disso fazia sentido.
- Você me olha como se eu estivesse nadando em dinheiro, Laura, mas não estou aqui às minhas custas. Vim com uma amiga e ela é que está pagando tudo. Vamos fazer 
uma excursão pela Europa, ela é muito rica e sozinha. Deve lembrar dela, Rachel Burton.
Laura não lembrava de ter conhecido essa amiga da madrasta, mas... que diferença fazia?
- Ela se divorciou do marido, um grego, construtor de navios, e recebe uma mesada tão grande que pode se dar esse luxo. Resolvi aproveitar a vida. Laura, porque 
seu pai me fez de boba.
- Não fale assim de papai!
Os olhos de Anthea brilhavam, cheios de ódio.
- Já é mais do que tempo que saiba tudo sobre seu paizinho querido. Um pedaço de homem, simpático e irresistível, não era? No entanto, você sabia que a firma de 
engenharia que tinha estava dando prejuízo há muito tempo?
- Não é possível!
- Pois foi o que aconteceu. E também a casa em Surrey, onde vivíamos, estava afundada em hipotecas.
- Anthea, não vou acreditar em você.
- Só que estou dizendo a verdade, Laura. Sempre vivi fingindo, para agradá-lo. E ele deu um grande show, não foi? A filha, educada em escolas particulares, frequentando 
um curso de arte em Paris, carros caros, férias sofisticadas. - A voz continuava amarga. - Pois olhe, tenho mais senso comercial em meu dedinho do que ele tinha 
naquela cabeça oca.
- Pare com isso! - Laura chegou mais perto da madrasta. - Se ele tinha uma vida de luxo, sem poder, era somente porque você queria e exigia que fosse assim. A vida 
que levava antes de casar com você era bem diferente. Quanto à firma ter ido mal, por que joga a culpa nele? Muitas outras, mais fortes que a dele, não tiveram 
que encerrar as atividades por causa dessa recessão económica que está aí?
Anthea não se deixou abater. Continuava em atitude de desafio.
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- Pois, agora, eu declarei a recessão. Vendi tudo, a companhia, ou o pouco que sobrou dela, os carros, a casa...
- Não tinha o direito de fazer isso!
- Pois já fiz. Vendi tudo e, com o pouco que sobrou depois de pagar as dívidas, comprei um apartamento.
- Onde? - Laura estava furiosa. Então não havia mais nenhuma lembrança da casa onde tinha crescido? E a mobília que tanto significava para ela? E suas coisas tão 
queridas? Quase chorou ao lembrar das pinturas da mãe, tão expressivas e de quem, provavelmente, tinha herdado o talento que possuía.
- Fica num bairro simples, em Islington. Deixei um quarto arrumado para você, assim não poderá dizer que não cumpri minha obrigação. Pelo testamento de seu pai,
eu seria a herdeira, desde que lhe desse um lar. Pois lhe dei um quarto, de acordo com o que recebi de herança. Se é que posso chamar tão pouca coisa de herança!
- Mas... e minhas coisas? - Laura estava muito pálida.
- Minhas coisas -? Anthea corrigiu com maldade. - Vendi as antiguidades que não precisava no apartamento. O resto da tralha, vendi junto com a casa. Eles queriam 
uma solução rápida e tive que resolver quase na hora. Não vai se preocupar por causa de meia dúzia de móveis e objetos, não é?
- E as pinturas de minha mãe? - Laura quase soluçava.
- Chamei um especialista e ele levou todas por oito libras. Não havia nada de valor ali.
Laura ficou chocada demais para falar. O último elo que a mantinha unida à mãe, falecida quando era tão pequenina, fora quebrado. Claro que comercialmente os quadros 
não valiam nada. Tinham sido a primeira tentativa de uma artista jovem, com o talento ainda não desenvolvido. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela virou o 
rosto para que Anthea não visse. O que adiantava chorar agora?
- Não vou voltar para Londres, Anthea. Fiz amigos aqui e posso me sustentar, se arranjar um emprego. Meu francês é bastante bom e talvez dê até para continuar na 
escola.
- Para ser bem sincera, Laura, não ligo a mínima para onde vai ou o que vai fazer. Se voltar para Londres, é bom que saiba que terá que dividir o apartamento com 
Vincent, meu atual marido.
Laura não lembrava desse nome como sendo do marido da madrasta. Seria outro? Já?
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- Você não o conhece, mas ele é um amor. O problema é que não tem um centavo. Aliás, se for para Londres, talvez Vincent dê um jeito de fazê-la aprender a viver. 
Já está na hora de crescer e usar seus encantos, mocinha.
Laura engoliu em seco para não mandar a madrasta para o inferno. Mas ia manter a classe até o fim.
- O que fez de minhas coisas, Anthea? Roupas, livros, esboços...
- Vincent fez uma pilha do que era seu e colocou no quarto, no apartamento - Anthea balançou a cabeça. - Nossa! Esse cheiro de terebintina é insuportável! Por que 
não se arruma um pouco melhor?
- Já lhe disse que vim direto do meu trabalho.
- Está bem. Mas é melhor ir embora agora, porque daqui a pouco Rachel vai chegar e não vai gostar nada de sentir esse cheiro horrível.
- Não se preocupe, Anthea. Já estou saindo. - Ela podia não gostar da madrasta, mas por um segundo ficou emocionada, pois ela era tudo que lhe restava do que podia 
chamar família.
Laura levantou e chegou mais perto de Anthea para se despedir.
- Até logo. Até uma próxima vez.
- Até logo. A propósito, se resolver ir para Londres, me avise, para que Vincent nãoleve um susto, vendo surgir uma desconhecida para ficar
em casa.
Laura voltou para o apartamento completamente atordoada. Tinha perdido tudo: pai, casa, e todas as coisas importantes.
Abriu a porta com as mãos trémulas e viu que as outras moças estavam ali, com algumas amigas. Ah... como queria estar sozinha para curtir sua dor! Foi direto para 
o banheiro. Tomou um banho, lavou os cabelos, tentando ficar entusiasmada porque ia sair com Karl. Mas pensar nisso também a deixava deprimida. Era a última noite 
que ele ia ficar em Paris!
O telefone tocou. Karl falou do outro lado da linha dizendo que havia se atrasado e que mandaria um carro pegá-la às oito.
- Está bem.
- O que há com você, Laura? Parece tão desanimada!
- Não é isso, Karl. O apartamento está cheio de gente e mal dá para ouvir o que você diz.
Laura reuniu forças para se vestir e arrumar os cabelos. Quando estava pronta, se olhou no espelho,
- Até que estou bem - comentou para si mesma. O vestido de musselina verde a deixava muito bonita.
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Pegou a bolsa e desceu as escadas para esperar o motorista na porta. Era muito melhor do que esperá-lo lá em cima e ouvir os comentários das
colegas.
O carro parou em frente ao prédio e um senhor de meia-idade, baixo, com um uniforme impecável, abriu a porta do veículo para que ela entrasse. com certeza, o carro
devia pertencer à firma onde Karl trabalhava, pois era enorme, preto, luxuoso.
O carro seguia pela cidade, atravessando ruas movimentadas, passando pelo centro bancário, lojas, galerias de arte, até que finalmente parou diante de um prédio
alto, numa rua um pouco mais sossegada. Não havia placas com o nome da firma ou janelas, no andar térreo. Apenas uma porta de madeira pesada, entalhada, que o motorista 
abriu com a chave.
Laura entrou e se viu num hall com as paredes cobertas de painéis de madeira com uma única outra porta, no fundo, que evidentemente era a do elevador.
- Monsieur Rievenbeck está lá em cima - o motorista falou em inglês fluente.
O que seria isso?, ela se perguntava. Que lugar esquisito! Em todo caso, entrou no elevador, que só tinha um botão que ela pudesse apertar e subir. Quando abriu 
a porta, encontrou Karl, muito sorridente, o cabelo ainda molhado, como se tivesse acabado de sair do banho.
- Laura, minha querida, sinto muito ter me atrasado tanto. - Ele inclinou a cabeça e beijou a mão que segurava entre as suas. - Passei o dia todo em Rouen e a reunião 
parecia não ter fim. Vamos entrar. - Ele a levou para o hall, de mármore branco, que tinha apenas uma mesa redonda com um vaso no meio, repleto de rosas vermelhas.
Continuaram andando e então Laura parou, maravilhada com o que via. A sala de estar, toda acarpetada em branco, tinha dois níveis. No nível inferior havia os sofás, 
de um verde suave e mesinhas laterais de cristal e aço, onde grandes abajures davam um ar romântico ao ambiente. Subindo dois degraus chegava-se à sala de jantar, 
mobiliada com peças em cana-da-índia, a mesa, com um enorme tampo de cristal. Vasos com plantas exóticas se espalhavam pelos dois ambientes.
Entre os dois sofás, ficava uma lareira e, sobre ela, um quadro de Mondrian, um dos grandes mestres da pintura. Na parede em frente, havia apenas portas de vidro
que davam para um terraço grande, também decorado com plantas e móveis de ferro, tendo até mesmo um pequeno jardim, com grama e folhagens.
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- Minha nossa! Isto aqui é maravilhoso! - Ela não escondeu sua
- admiração. - Esse apartamento é da companhia?
Karl vinha chegando com os aperitivos e balançou a cabeça concordando, mas mostrando que não valia a pena conversar sobre coisas tão corriqueiras.
- Fiz planos de irmos jantar num restaurante bem especial. - Ele entregou o copo a Laura, que já estava no terraço, apreciando a vista. Senti saudades de você. Não 
via a hora de sair daquela sala de reunião e poder ficar ao seu lado.
Laura se encostou naquele peito forte, suspirando de alegria. Trocaram um beijo leve, repleto de carinho e satisfação por estarem juntos.
- Linda... - ele murmurou bem junto ao ouvido dela. - Linda! Ele olhou-a bem dentro dos olhos. - Você também sente a mesma coisa, não é, Laura? Diga que não é apenas 
minha imaginação.
Trocaram um beijo apaixonado e ele a abraçou mais, querendo sentir cada centímetro daquele corpo delicado que correspondia intensamente a seus carinhos.
Laura pôs a mão por baixo da camisa dele, sentindo os músculos tensos, os pêlos, o cheiro gostoso da loção após barba. Como ia conseguir viver depois que ele fosse 
embora?
- Laura, liebling, o que há de errado? Por que está preocupada? Ela se afastou, não querendo mostrar o quanto estava perturbada.
- Fala alemão bem demais para um italiano! - Ela procurou brincar, para disfarçar suas emoções.
- Acha mesmo? É porque em casa falamos as duas línguas. - Ele segurou o rosto de Laura, obrigando-a a encará-lo. - Sei que está muito aborrecida. Por que não me 
conta tudo?
- Não posso.
- Pode sim. - Abraçou-a e levou-a para um dos sofás, onde sentaram bem juntos, abraçados.
Laura tomou coragem e resolveu se abrir. Contou sobre a venda da casa, as aulas na escola de arte que não poderia mais frequentar e, num fio de voz, ainda falou 
sobre a perda das pinturas. Sentia-se arrasada e, sem controlar mais sua tristeza, começou a chorar.
Karl a acariciava, devagar, com muito carinho, deixando-a desabafar e procurando lhe dar calma e coragem. Como ele podia adivinhar que grande parte da tristeza de 
Laura era porque iam ficar juntos pela última vez?
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Permaneceram juntos, ela contando suas mágoas, ele procurando confortá-la, enquanto os sinos da igreja batiam nove horas... nove e quinze... nove e meia. A noite 
começava a envolver a cidade no fim daquele luminoso dia de verão, tornando a sala mais aconchegante ainda, imersa nas sombras do anoitecer.
Laura gostaria de prolongar esse momento para sempre. Mas Karl, finalmente, fez com que ela caísse na realidade.
-- Ainda quer sair?
- Céus! - Tinha esquecido completamente que estava ali para irem jantar fora! E ele tinha dito que ia ser algo muito especial. Mas Laura não estava disposta a enfrentar 
outras pessoas, alegres e barulhentas.
- Preferia ficar aqui.
Por um instante, a intensidade daqueles olhos azuis a deixou hipnotizada.
- Pode não ser uma atitude muito esperta, minha pequenina.
Laura não tinha a menor vontade de ser esperta. Queria apenas viver aqueles momentos de paz ao lado de Karl, antes que ele saísse de sua vida.
-- Não teria coragem de enfrentar as pessoas - ela murmurou.
- vou cancelar a reserva. - Karl beijou a ponta dos dedos de Laura, antes de seu rosto se abrir num sorriso radiante.
CAPÍTULO III
As luzes se acendiam na cidade já escura. Laura ficou olhando para a Torre Eiffel que aparecia ao longe, enquanto Karl desmarcava a reserva no restaurante, num francês
perfeito. Como esse homem era interessante, ela pensou. Devia ter uma posição de muito prestígio na companhia para poder usar um apartamento tão luxuoso. -
Karl terminou o telefonema e acendeu as luzes dos abajures antes de voltar para junto dela.
- Quer comer alguma coisa? - Ele se aproximou e segurou-a pela cintura.
Laura balançou a cabeça, aceitando. Foram para a cozinha e prepararam uma omelete e uma salada, que acompanhados de queijo e frutas acabaram se transformando numa 
refeição deliciosa. Quando tudo estava pronto, sentaram para comer e beber vinho, ao som de uma sinfonia de Schubert.
- Acha que é indispensável continuar frequentando a escola de arte?
- Não preciso dela para obter um emprego, mas apenas para desenvolver meu talento. - Laura percebia o quanto também ele se aborrecia com a situação. - Bem, posso 
continuar com o curso em regime de meio período. Só que vai levar mais tempo...
- Precisa permanecer em Paris? Isto é, existe aqui algum professor em especial?
Laura sorriu.
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- Paris é um luxo. Posso aprender a mesma coisa em Londres.
- Mas não tem vontade de voltar a morar com sua madrasta, é isso?
- Não vou morar com ela de jeito nenhum.Terminaram a refeição e Karl sugeriu que tomassem o café no terraço. Sentaram no balanço e se deixaram ir para cá e para lá, braços e coxas se tocando, os olhares 
perdidos na cidade pontilhada de luzes.
Karl lhe segurava as mãos, os dedos brincando em seus pulsos. Laura fechou os olhos, sentindo a tristeza de ver que dentro de poucas horas teriam que se separar. 
Por ela, essa noite não devia ter fim, devia ser eterna!
Desejava Karl, sentia uma vontade desesperada de ser amada por ele. Ele havia dito que tinham todo o tempo do mundo, mas nem uma vez nesta noite havia mencionado 
a possibilidade de tornarem a se ver. Será que dali a poucas horas Karl teria de se resumir a apenas uma lembrança? Não, não queria acreditar nisso.
O relógio da igreja bateu meia-noite. Já era sexta-feira! Por que ela não conseguia fazer o tempo parar.
- Teve um dia muito agitado e deve estar cansada. Acho que vou levá-la para casa.
Laura não respondeu. Olhou para ele querendo lhe transmitir toda a sua angústia pela separação.
- Laura, liebling, não me olhe assim. Estou só tentando... Levantou a mão e acariciou-lhe o rosto com ternura.
- Não quero ir embora.
- Também não quero que vá.
- Então... - ela acrescentou, molhando os lábios.
- Precisamos conversar. Ainda não falamos sobre coisas importantes. Olhe, você não sabe nada a meu respeito e...
- Você é casado? - Essa hipótese realmente a atormentava.
- Não, Laura, não sou. incrível, não é?
Ele tinha razão. Como uma mulher ainda não o havia conquistado, se ele era tão insinuante e maravilhoso? Mas seu coração se alegrou. Pelo menos isso: ele era livre!
- Você é tão criança, Laura. Quantos anos tem? Vinte e um? Vinte e dois?
- Dezenove - ela avisou e ele arregalou os olhos, surpreso. - Mas, daqui a poucas semanas, completo vinte.
Karl sorriu e a beijou. 
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- Em compensação, tenho trinta e cinco. Sou quinze anos mais velho que você. É demais!
- Está querendo dizer que sou jovem demais para você?
- Ou que sou velho demais...
Laura chegou mais perto dele, passando a mão entre os botões da camisa para acariciar seu peito. Podia sentir o coração de Karl pulsando tão violentamente como o 
seu. Ainda bem que ele estava tão emocionado quanto ela! Foi por isso que conseguiu coragem para acrescentar, da maneira mais sensual possível.
- Só eu posso julgar se é velho demais para mim, mas desde já vou dizer que não acho.
- Não mesmo? Sério? - Karl levou as mãos dela aos lábios e as beijou com muito carinho, para depois abraçá-la com ardor, mantendo-a muito junto de seu corpo. - Quero 
tanto você, Laura... Ich werde dich me geften lassen - ele acrescentou em alemão sem que ela pudesse entender.
Depois, afastou-a um pouco, olhando-a profundamente.
- Quer ficar aqui... esta noite?
- Quero - ela murmurou muito baixinho.
- Sabe o que vai acontecer, se ficar? Ela apenas sacudiu a cabeça.
- Tem certeza de que é o que quer? Ela tornou a concordar.
- Então diga. Quero ouvir de seus próprios lábios.
- Quero ficar, Karl. Tenho certeza. Quero passar a noite com você e quero fazer amor com você.
A noite, escura e calma, começou a envolvê-la silenciosamente, dando a impressão de que o tempo havia parado e que os problemas estavam muito distantes. Só existia 
uma coisa, forte e quase palpável: o amor que os unia.
- Então, venha. Quisemos isso desde o início, não foi? Todo o resto pode esperar. - Ele a carregou no colo como se fosse uma pluma, e a levou até o quarto.
Por um instante, quando se viu no quarto, Laura sentiu medo. Estava se deixando levar cegamente, sem parar sequer um minuto para pensar nas consequências de seus 
atos. Mas logo abandonou as preocupações entregando-se à alegria daquele momento.
Karl a colocou no chão, e ela sentiu os pés afundarem no carpete
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macio. Ele a beijava levemente, mal tocando sua pele, mas parecendo queimar-lhe o corpo com o fogo da paixão.
Estremeceu ao sentir o zíper sendo aberto, e o vestido cair sobre sua cintura. Inclinou a cabeça para trás, recebendo os lábios quentes e tentadores de Karl, que 
seguiam a linha de seu pescoço, alcançando os ombros e em seguida descerem até encontrar a elevação suave de seus seios. , - Tem certeza? - ele tornou a perguntar.
Ela apertou o corpo contra o dele, para que seu calor demonstrasse o quanto estava segura do que queria.
- Você já... alguma vez?
Laura balançou negativamente a cabeça.
- Foi o que pensei. - Ele acabou de soltar o vestido, que caiu aos pés de Laura, deixando-a apenas de calcinha.
Era a primeira vez que ficava nua na frente de um homem e ela mesma se surpreendeu por não se sentir constrangida. Tudo lhe parecia tão natural e bonito... E mais: 
tinha certeza de que ele era o homem certo, aquele para quem tinha se guardado.
As mãos de Karl acariciavam suas costas, subindo e descendo, em movimentos ritmados, enquanto as pernas fortes forçavam as suas a se entreabrirem.
Quando ele percebeu que Laura começava a ficar um pouco tensa, afastou-a um pouco e falou:
- Agora é sua vez. - Segurando as mãos dela de encontro ao peito, levou-a a abrir o primeiro botão de sua camisa, um sorriso malicioso brincando na boca.
Continuava a ajudá-la, guiando-lhe a mão, até que alcançaram a fivela do cinto. Laura corou, virando um pouco o rosto e tentando escondê-lo no peito de Karl. 
Devia estar louca!, pensou. Por que estava nessa situação? Não sabia como agir! Não devia se envolver com um homem experiente como Karl!
Fechou os olhos, perdida em seus pensamentos, e, quando os abriu, viu Karl a sua frente, completamente nu.
Como ele era atraente! Forte e saudável, os músculos desenvolvidos como se fossem de uma estátua grega. Logo sentiu junto da pele o calor daquele corpo, excitando-a 
e assustando-a ao mesmo tempo. Estava hipnotizada pela virilidade que sentia nele, pelas emoções violentas que ele conseguia despertar.
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- Laura... não sabe o quanto a quero... desejo você... - Ele se inclinou e beijou os mamilos, que enrijeciam sob a intensidade da paixão.
As mãos de KarI a acariciavam, exploravam seu corpo, descendo por suas costas, cintura, sempre descendo, até levarem consigo o minúsculo biquini rendado.
- Karl... - Mal podia acreditar que estava deixando um homem, praticamente estranho, despi-la. E, no entanto, era isso que estava acontecendo e ela se sentia feliz...
Sentia-se em pleno vigor de sua sensualidade, desejando com a mesma loucura com que era desejada. Karl a fazia conhecer delícias jamais sonhadas, preparando-a para 
o inesquecível momento em que se tornaria mulher.
- Quero que faça amor comigo... - ela murmurou, os olhos brilhando de paixão.
Ele puxou as cobertas e deitou junto com ela, acariciando e recebendo carícias, os dois se deliciando numa ávida procura de prazer. Laura o beijou no peito, no estômago, 
nos quadris... sentindo o quanto ele gostava de seus carinhos.
com um gemido de prazer, Karl rolou sobre ela, aprisionando-a sob seu peso. Ele a beijava com violência, forçando-a a abrir os lábios e receber os seus, úmidos e 
quentes. Ele a segurou com firmeza, enquanto ela arqueava o corpo para juntar-se ainda mais a ele até que atingissem o êxtase.
Nada mais existia a não ser a satisfação plena e total, a segurança e felicidade, a certeza absoluta do que era o amor.
- Machuquei você, minha querida? - Karl perguntou, sem que Laura soubesse quanto tempo depois.
Ela sorriu com suavidade, sentindo uma deliciosa sensação de plenitude invadindo seu corpo.
- Não me lembro.
- Não se lembra de nada? ;
- Nada, absolutamente nada! - Ela brincou, feliz. O sol entrava pela janela, envolvendo-os na suave luz da manhã.
Karl a beijou mas seu rosto logo perdeu a expressão de tranquilidade.
- Céus! - exclamou, olhando para o relógio de cabeceira. - Eu deveria ter acordado mais cedo. Tenho um encontro importante daqui a pouco. Fique aqui e descanse. 
- Ele tornou a beijá-la, mas logo levantou e foi para o banheiro.
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Laura virou na cama, ocupando o lugar ainda quente onde Karl havia deitado. Podia sentir seu cheiro masculino no travesseiro,e isso provocou nela uma gostosa sensação
de intimidade.
De repente, como se fosse acordada de um sonho, tomou consciência da realidade. Era sexta-feira e isso significava que havia chegado a hora de Karl sair de sua vida! 
A que horas iria partir? Como queria que ele sentisse vontade de vê-la de novo! Queria tanto correr para seus braços e pedir para que ficasse... mas sabia que não 
podia exigir nada.
Levantou, pegou do chão a camisa de Karl e a vestiu. Chegava até o meio de suas coxas e teve que dobrar as mangas, para que as mãos aparecessem. Foi para a cozinha 
e preparou o café da manhã. Karl apareceu logo em seguida, já vestido. Apesar de elogiar a refeição que ela preparou, parecia outro homem. Estava sério e lia a correspondência 
com ar preocupado.
- Karl... - Novamente ela se viu observada pelos olhos mais azuis do mundo - ... sobre ontem à noite... Bem, você sabe que nunca fiz amor com ninguém antes, mas... 
sou adulta... e...
- O que está querendo dizer, Laura?
- Bem, é que... não quero que pense que... que por causa de ontem... não espero que...
- Não espera que eu lhe proponha casamento pelo que houve ontem?
- Isso mesmo. Não tem sentido... - Não pôde terminar porque Karl pôs os documentos de lado, segurou suas mãos e falou:
- Precisa sim, Laura. Não pelo que houve ontem à noite, mas porque quero casar com você. Desde a semana passada tenho pensado nisso. Você é linda, muito mais que
a Mona Lisa e me dominou completamente. Você me ama, não é? - Os olhos de Laura se encheram de lágrimas, a emoção a impedia de falar. Então ele levantou, deu a volta 
na mesa e a abraçou. - A ideia de casar comigo parece tão ruim que está com vontade de chorar?
- Claro que não!
- Então sorria para mim.
Não teve chance, pois Karl a beijou com paixão.
- Agora precisa se vestir, Laura - ele disse logo depois. - O carro estará aqui em vinte minutos e vou deixá-la em casa, no caminho para minha reunião.
- É o caso de Rouen, de novo?
- É.
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Laura foi para o banheiro e dez minutos depois tinha tomado banho e estava pronta para sair. Não lavou os pratos do café da manhã, porque Karl tinha dito que havia 
alguém para fazer aquilo. Foi para a sala enquanto ele acabava de pegar os documentos de que precisava. Seus olhos caíram sobre o quadro de Mondrian, acima da lareira. 
Realmente, era uma cópia magnífica.
Laura se aproximou mais e foi com espanto que constatou não se tratar de uma cópia. Era um quadro original! Quando Karl voltou para a sala, encontrou-a ainda examinando 
a pintura.
- Karl, esse quadro é original! Do próprio Mondrian! ,
- Acaba de conhecer uma de minhas fraquezas.
- Mas... deve valer uma fortuna!
- Acho que sim. - Ele estava muito quieto, observando as reações dela.
- Para quem você trabalha, Karl? - Essa companhia devia ser uma potência, para se dar ao luxo de ter um quadro tão famoso decorando uma sala!, ela pensou. - Quem 
é você, Karl?
- Sou... um banqueiro.
- Você "fabrica" dinheiro? Por isso foi fácil comprar esse quadro.
- Ela brincou.
Os dois riram juntos.
- Trabalho muito, Laura.
- Acredito que sim.
- Tenho trabalho duro pela frente, tão importante que preciso deixar Paris hoje mesmo e não há jeito de adiar essa viagem, querida.
- Compreendo.
- Preciso ir para Bruxelas. - Ele pegou um cartão no bolso do paletó. - Aqui tem meu telefone de lá. - Depois ele escreveu outro número. - Em seguida estarei em 
Londres, e depois Roma. - Outro número foi acrescentado aos anteriores.
Ela pegou o cartão, verificando que o número de Roma era o mesmo que aparecia no cartão que ele já lhe havia dado.
Karl chegou mais perto, acariciando a pele sedosa do rosto dela. Muito junto de seu ouvido, murmurou as palavras que lhe deram segurança e tranquilidade.
- Ontem, a noite foi maravilhosa, perfeita. Adoro você e gostaria de poder passar o dia todo com você, na cama.
Laura se aninhou entre os braços dele.
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- Eu também, Karl.
- Sinto muito, minha querida, mas temos que ir. Ficarei fora pelo menos
uma semana, talvez dez dias. - Laura suspirou de tristeza ao pensar em ficar tanto tempo 
longe dele. - Mas vou telefonar todos os dias e quando ficarmos juntos de novo... - Novo beijo, cheio de paixão.
Eles já estavam indo para a porta, quando Karl pareceu se lembrar de algo importante. Pôs a mão no bolso e tirou a carteira.
- vou deixar algum dinheiro para você.
- Não! - Ela deu uns passos para trás, apavorada diante da ideia.
- Mas, Laura, você mesma disse que Anthea suspendeu sua mesada! Vai precisar de dinheiro, querida.
- Não, vou ficar muito bem. De verdade, Karl - ela falou em tom firme. - Tenho algumas economias e meu aluguel já está pago.
Karl achou melhor não insistir. A campainha tocou e o motorista avisou que o carro já o estava esperando. Abraçando-a, eles tomaram o elevador e desceram. Laura 
se sentiu um pouco embaraçada por estar usando um vestido de musselina àquela hora da manhã, e, principalmente, ao ver que o mesmo motorista que a tinha trazido 
estava ali para levá-los. Felizmente, ele continuou impassível.
- Quero apresentar-lhe a futura sra. Rievenbeck - Karl falou em francês.
O motorista sorriu, apertando-lhe a mão com alegria. Karl estava todo orgulhoso, sorrindo feliz. Laura, por sua vez, sentia-se no paraíso. Não via a hora de poder
contar ao mundo a sua felicidade.
- Casar? Você? - Anthea riu, não acreditando. - Foi uma decisão muito rápida, não?
- Acho que sim. - Laura tinha levado dois dias para reunir coragem e contar as boas novas para a madrasta.
- Há quanto tempo o conhece?
- Não faz muito tempo.
- Acha mesmo que ele é coisa que preste?
- O que quer dizer com isso, Anthea?
- Bem, talvez ele tenha achado que você é uma herdeira rica, porque afinal de contas vive em Paris sem trabalhar, frequenta a escola de arte e...
- Acha mesmo que pareço uma herdeira .de milhões? - Laura mostrou seu jeans eternamente manchado de tinta, a camiseta comum, os ténis nos pés.
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Anthea não respondeu e sentou numa poltrona, parecendo um pouco cansada. Laura sugeriu que pedissem chá, agradecendo a boa sorte de não ter encontrado a amiga da 
madrasta. Enquanto esperavam que o pedido fosse atendido, permaneceram num silêncio constrangedor. Anthea fumava, como se na fumaça encontrasse a resposta a seus 
problemas.
Quando o chá chegou, Laura serviu-o, passando uma das xícaras para a madrasta.
- Pensei que fosse ficar feliz com a notícia, Anthea. Pelo menos pode ficar sossegada, sabendo que sua responsabilidade comigo terminou.
- Casando ou não, você não é mais responsabilidade minha, Laura. Pensei que tivesse deixado isso bem claro, quando veio me ver, no outro dia.
- Está bem, como quiser.
- Ainda bem que entendeu. Mas isso não significa que vou deixá-la casar com uma pessoa que não seja direita. Quem é esse fulano? Como se chama? O que ele faz? De 
onde é?
Laura teve vontade de rir. Era bem próprio da madrasta, fazer milhares de perguntas e não esperar pela resposta.
- Ele é italiano - Laura começou.
- Meu Deus! Deve ser um italianinho, um garçom que não tem onde cair morto... Paris está cheia deles.
- Ele não é garçom, embora isso não fizesse diferença nenhuma. Ele se chama Karl e é um homem de negócios.
Anthea não se deu por vencida. Olhando diretamente para Laura, insistiu.
- Karl... de que?
- Karl Rievenbeck. Anthea quase caiu da cadeira.
- Rievenbeck? Ele é um dos Rievenbeck?
- Não sei. - Laura engoliu em seco. Quem seriam esses Rievenbeck, que deixaram a madrasta tão alterada?
- Não sabe? - Anthea levantou, caminhando até a janela, como se precisasse de ar. Seu rosto estava hostil, áspero, ligeiramente espantado
- Se vai casar com ele tem obrigação de saber.
- Sei que ele é banqueiro. - Laura tentou mostrar que sabia alguma coisa sobre ele.
- Não posso acreditar! Eu estou aqui, na Europa, procurando conhecer as pessoas certas e, de repente, me cai uma do céu. Nunca ouviu
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falar dos Rievenbeck, de Viena? Eles são os mais poderosos negociantes e banqueiros da Europa. Minha amiga Rachel, com quem estouviajando, falou neles não faz muito
tempo. Ela tem açôes de uma companhia de transportes marítimos em Rouen, que está querendo construir docas maiores. É um projeto de milhões de libras e ela sabe
que a companhia pediu financiamento aos Rievenbeck. A notícia até apareceu nos jornais. Deve ter lido!
- Não, não sabia disso. Não costumo ler jornais. Mas sei que Karl esteve em Rouen na semana passada.
Anthea deu um risinho nervoso.
- Ele deve achar que é rica e que pode se divertir com você, Laura. No mínimo, quer levá-la para a cama. - Ela deu uma baforada do cigarro. - Onde está ele agora? 
Quero ver esse tal Karl Rievenbeck. Quero que ele saiba que não vai ser tão fácil assim casar com minha enteada. Temos que impor certas condições. - Anthea virou 
os olhos, provavelmente pensando numa maneira de conseguir um bom dinheiro com aquela situação.
- Tenho mais de dezoito anos, Anthea. Como deve saber, não preciso de seu consentimento para casar.
- Mas há outras coisas que deve levar em consideração. Eu poderia falar uma porção de coisas desagradáveis a respeito de seu pai, sabe o quê, não? Sobre ele estar 
falido, e sobre como nossa vida ficou difícil e como gastei até meu último centavo tentando lhe dar uma educação boa para que pudesse sobreviver. Não sei que efeito 
isso teria sobre esse tal Rievenbeck.
- Você não ousaria agir dessa forma! - Laura estava fora de si de tanta raiva.
- Já está começando a ficar preocupada? - Anthea riu com maldade.
- Está com medo de perder o bom peixe? - Ela andou até a janela, para voltar logo em seguida, irrequieta demais para ficar parada. - Talvez esteja certa, Laura. 
Talvez seja melhor eu esperar até que esteja convenientemente casada. Mas vou lhe dar somente um ano, no máximo dois. Você é uma idiota, se pensa que uma garota, 
insignificante como você, será capaz de satisfazer um homem daqueles. Só não consigo entender por que ele quer casar com você. - Ela se serviu de mais um pouco de 
chá, procurando adivinhar o motivo. - Você está grávida? Não que isso fizesse diferença, porque ele poderia dar um jeito e...
- Não estou grávida! - Laura gritou com ódio. No mesmo instante, seu coração se apertou. E se estivesse? Agora existia essa possibilidade...
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Anthea não pareceu surpresa. Ela sempre tinha deixado muito claro que não considerava a enteada atraente.
- Quantos anos tem esse Karl Rievenbeck? É do tipo velho e que adora garotas novinhas?
Assim também já era demais! Laura pensou indignada. Não ia mais ficar ali, ouvindo Anthea derramar seu veneno. Pegou a bolsa e saiu do quarto, sem nem olhar para 
trás.
Foi a pé até seu apartamento, pois precisava de tempo para pensar. Estava furiosa com Anthea e achava que a madrasta estava ficando louca. Para começar, poderia 
não ser a mesma pessoa, esse tal Karl que Anthea falava e seu querido Karl. Ia olhar na lista telefónica.
Ao chegar no apartamento, foi direto procurar o que queria. Chegou na letra R e logo achou Rievenbeck, no mesmo endereço onde passara a noite com Karl e o mesmo 
número de telefone. Então... era a mesma pessoa. Karl Rievenbeck, um bilionário e banqueiro.
Em vez de ficar contente, seu coração se encheu de dúvida, uma garota quase sem atrativos, de classe média, e agora... falida?
Qual era o motivo dele para querer casar com ela? Teria razões escusas? Essa ideia penetrou em sua mente como um demónio. Achava Karl tremendamente poderoso e perigoso, 
sofisticado e vivido.
Quando estivera na cama, com ele, havia notado que era dominador, orgulhoso e muito reservado. Mas ela o amava!
Agora, no entanto, se perguntava como era possível amar alguém e querer casar com esse alguém, se sentia medo.
Seu instinto a estava prevenindo de que havia algo errado. Ou deveria considerar sua apreensão como um nervosismo normal em uma garota que vai se casar?
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CAPITULO IV
Karl ficou fora durante duas Semanas. O tempo, até então quente e ensolarado, mudou, passando a nublado e chuvoso.
Laura procurou levar a mesma vida, indo ao Louvre quase todos os dias, mas, ainda assim, achou que seu trabalho de copiar A Forja não estava saindo muito bom. Sempre 
que podia, também, saía à procura de emprego. Era cansativo e frustrante carregar a pasta com seus trabalhos, tentando conseguir ilustrações. Se não desse certo 
com os editores, ia começar a oferecer seu trabalho nas agências de publicidade.
Não tinha contado às amigas que estava procurando emprego. Elas iam dizer que era loucura! Se ela casasse com Karl, jamais precisaria trabalhar para ajudar no orçamento 
doméstico. Mas... e se não casasse? E se tudo tivesse sido apenas um sonho e Karl houvesse mudado de ideia?
Mas, quando estava sozinha em sua cama, Laura se lembrava de cada um daqueles instantes mágicos em que esteve com Karl. Ele não era então o sr. Banqueiro e a srta. 
Ninguém, mas sim um homem e uma mulher, apaixonados, se tocando, se acariciando, fazendo amor...
Laura se virava na cama, revivendo aqueles instantes inesquecíveis. Como tudo tinha sido maravilhoso! Karl a levou ao paraíso, a uma doçura que ela jamais acreditou 
poder existir entre um homem e uma mulher. Ela o queria de volta, para abraçá-lo e beijá-lo com loucura, sentir o peso do corpo dele sobre o seu. Queria sentir aquela 
virilidade que a tinha transformado em mulher. Karl tinha sido delicado, carinhoso e a lembrança daqueles momentos divinos passados ao seu lado ainda persistia em 
seus sonhos.
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Karl telefonou para Laura quase todos os dias. Primeiro de Bruxelas, depois de Londres e, na segunda semana, de Roma. Na última vez, telefonou bem mais tarde do 
que de costume. Laura ouviu música e ruídos ao fundo, nada indicando que ele estivesse ligando de um quarto de hotel.
- Já estava dormindo? - ele perguntou.
- Não, estava lendo. Como vai?
- Sinto muita falta de você. - A voz dele era sensual, baixa. No mesmo instante alguém falou com ele e Karl respondeu em italiano.
- Está na casa de amigos? - Ela não queria parecer intrometida, mas estava intrigada. Tinha certeza de que a voz que ouviu era de mulher.
- Estou jantando na casa de amigos e perdi a noção das horas. Pretendia ligar para você do apartamento.
O que isso queria dizer? Que ele não ia voltar para casa essa noite? Laura sentiu-se repentinamente insegura. Afinal, ela sabia tão pouco sobre aquele homem...
- Laura, ainda está aí?
- Estou.
- O que foi que houve?
- Nada. Estou apenas cansada.
- Infelizmente, querida, preciso ir até Viena amanhã e acho que só vou poder voltar para Paris na próxima terça-feira à noite. Posso esperar que você venha preparar 
nosso jantar?
Laura sentia o coração bater descompassado. Ele só voltaria na terça-feira! Parecia que ela teria que esperar séculos, antes de vê-lo de novo! Mas compreendeu que 
não havia nada a fazer e prometeu estar lá quando ele chegasse.
Finalmente, a terça-feira chegou. Laura, muito bonita e bem arrumada, esperou que a porta do elevador se abrisse. Tinha um sorriso feliz nos lábios, para receber 
Karl.
Mas ele não estava ali. Havia um rapaz no hall, mais ou menos de sua idade, a gravata torta para um lado, a camisa com os primeiros botões abertos. E falava ao telefone, 
em francês muito rápido.
Ele se virou ao vê-la sair do elevador e sorriu, mas continuou no aparelho. Laura percebeu que estava irritado, falando sobre Estocolmo, ações, milhões... Laura 
piscou, um pouco confusa, e entrou no apartamento, mas logo ouviu o som de outras vozes. Entrou na sala, e finalmente viu Karl.
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Ele também falava ao telefone, estava com a camisa aberta, a gravata apenas passada no pescoço. Sem vê-la, ele virou de costas, e passou a mão no cabelo. Havia algumas 
outras pessoas na sala, todos homens. Documentos estavam espalhados sobre a mesa, um gravador, máquinas de escrever, copos sujos. O ar estava impregnado de fumaça 
de cigarro e Laura ficou parada, sem saber o que fazer. De repente, Karl se virou e a viu.
Continuou ao telefone, falando em alemão, mas fez um sinal com a mão para que ela se aproximasse. Os homens selevantaram e a cumprimentavam de longe.
- Não sabia que estava tão ocupado - ela comentou quando chegou mais perto.
Karl a abraçou, embora continuasse sua conversa telefónica. Depois beijou-a e fez sinal para que ela sentasse no sofá. Um dos homens lhe serviu um copo de refresco 
e ela ficou ali, tentando não atrapalhar. Um a um, os homens chegaram perto dela, se apresentaram e depois voltaram para o trabalho.
A atividade continuou intensa por mais de meia hora. Karl ia de um telefone para outro, os homens o chamavam para consultas, ele olhava os papéis e dava ordens rápidas 
que eram logo executadas. Um dos homens deveria ser advogado, pois muitas vezes era consultado sobre a maneira mais adequada de agir. Laura concluiu que todos eles 
trabalhavam ou tinham interesse na Rievenbeck, e, pelas conversas e movimentação, estavam enfrentando alguma crise no exterior.
- Diga-lhes que nos recusamos a ir além dos vinte milhões - Karl avisou, enquanto o secretário punha isso no relatório que batia à máquina.
Vinte milhões! Laura estava impressionada. A quantia parecia grande demais, qualquer que fosse a moeda. Aquilo tudo era uma experiência completamente nova para ela, 
que via a Europa toda desfilar pelo telefone, diversos idiomas sendo usados com a maior desenvoltura. Então esse era o mundo de Karl! E como ela se adaptaria nele? 
Olhou para sua roupa comum, uma saia escocesa e um blusão solto, e pela milésima vez se perguntou o que Karl tinha visto nela.
Mais algum tempo se passou, antes que todos fossem embora. Então, Karl foi para junto dela, segurou-a pela mão e levou-a até a mesa, onde ainda havia documentos 
espalhados. Ele pegou uma caneta para assiná-los, mas não largou a mão dela.
- Não foi essa a maneira que planejei para que você soubesse quem eu sou, querida. Mas surgiram problemas inesperados.
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- Foi o que pensei. Não tem importância, eu já sabia.
- É mesmo? Como?
- Anthea me disse. Claro, preferia que você tivesse me contado.
- Sabe, Laura, eu planejei conversar com você, antes... Queria mesmo namorá-la com calma, mas as coisas fugiram de meu controle na última vez em que estivemos juntos.
- Pelo amor de Deus, Karl, estamos no século XX e você não deve se sentir obrigado a casar comigo só porque...
- Há alguma coisa errada, Laura? Já lhe disse por que quero casar com você, não foi?
Laura olhou para aqueles olhos que a faziam sonhar. Na verdade,, ela ainda não compreendia por que ele queria casar com ela, mas era bom que ele quisesse. Sentiu-se 
mais feliz ao reafirmar suas intenções.
- Por que não vamos preparar nosso jantar? Não foi isso que combinamos? - Karl começou a guardar os documentos. - vou tomar um banho e logo estarei na cozinha para 
ajudá-la.
E assim, de repente, Laura se viu na cozinha. Mas o que havia com ela? Tinha esperado demais daquele reencontro e estava decepcionada? É que, definitivamente, faltava 
alguma coisa. Mesmo depois daqueles homens todos irem embora, Karl ainda não a tinha beijado. Será que não havia sentido saudades?
Bem, o melhor era se ocupar e não ficar imaginando coisas. Abriu a geladeira e os armários e não conseguiu encontrar nada para fazer o jantar. Havia bebidas de sobra, 
mas nada para comer, a não ser um ovo, um pouco de manteiga e um restinho de pó de café. Karl era engraçado! Um milionário que não tinha em casa o suficiente para 
preparar um lanche.
Ela voltou para a sala, e o viu na mesa, escrevendo alguma coisa. com certeza, ainda estava resolvendo os problemas daquela crise. Como um homem assim ocupado poderia 
pensar em comida? Talvez por isso ele quisesse uma esposa! Devia estar cansado dê chegar em casa e encontrar a geladeira vazia.
Karl percebeu que ela estava ali e levantou a cabeça.
- Não tem nada para fazer o lanche - ela explicou, passando a mão nas costas dele.
- vou ligar para o restaurante chinês e pedir alguma coisa. Gosta de comida chinesa? - Ele recostou na cadeira, pondo a caneta de lado. Estava mais bronzeado e seus 
olhos faziam um contraste ainda mais bonito na pele morena.
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- Adoro comida chinesa, mas não prefere terminar seu trabalho?
- Agora não. Isso pode esperar. Laura tentou começar a conversa.
- Como estava Londres? Faz tempo que não vou para lá.
- Tudo bem por lá. Choveu, como sempre.
- Aqui também.
- Em Bruxelas também. Fiquei o tempo todo cercado pela chuva.
- Então como conseguiu esse bronzeado?
- Em Roma. - Karl levantou, estirando os músculos cansados. Ele começava a ser o homem que ela tinha conhecido, mais descontraído e alegre. - Estou precisando de 
um bom banho, Laura. Volto já.
Ela foi para o terraço, sem ter certeza se era realmente querida ali ounão. Será que iria se acostumar com a vida agitada de Karl? com todas as implicações que a 
posição dele trazia?
Sem dúvida! O que importava realmente era estar perto dele, quer ele estivesse trabalhando ou descansando. O que queria era Karl, e o amor que sentiam. Se essa confusão 
fazia parte da vida dele, também ia fazer parte da dela. Não era isso o casamento? Uma partilha total, dos bons e maus momentos, na saúde e na doença, na riqueza 
e na pobreza?
Laura voltou para a cozinha, segura de que o que mais desejava no mundo era estar sempre perto daquele homem que amava. Surpreendeu-se ao encontrá-lo de banho tomado 
e pondo os copos sujos na máquina de lavar louça. Ele a olhou e largou tudo indo para junto dela.
- Não estou com muita fome ainda. E você? - Ele a abraçou. - Ou prefere que faça o pedido já?
- Não tenho fome. - Ela se deixou ficar entre os braços carinhosos, sentindo a excitação começar a crescer em seu corpo.
- Faz muito tempo que não ficamos juntos - ele murmurou, colocando a mão sobre os seios dela.
Laura passou os braços pelo pescoço dele, trazendo-o para junto de si. Sentiu que os botões de seu blusão eram abertos e que sua saia caía no chão. Ficou apenas 
de calcinha e Karl não se cansava de olhá-la com admiração. Trocaram um beijo saudoso, as bocas transmitindo um ao outro o quanto tinham sofrido naqueles dias de 
separação.
- Vamos para a cama, Laura. Não consegui pensar em mais nada durante esse tempo todo. - Ele a beijou no pescoço, descendo até
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encontrar os seios macios. - Venha até o quarto.
ele insistiu, carregando-a no colo.
Eles se casaram em julho, em Paris, duas semanas após Laura completar vinte anos. Tiveram que aguardar esse tempo para que Karl deixasse seus negócios em ordem e
pudesse tirar uma semana de folga para a lua-de-mel.
- Agora, querida, não podemos fazer a viagem que planejei, mas, mais tarde, será tudo como você quiser. No meio dessa crise, não posso ficar afastado daqui por mais 
de uma semana - ele explicou.
O mês que antecedeu o casamento foi de loucura e correria. Laura mal via Karl entre uma viagem e outra, embora se falassem por telefone todos os dias. Ele conseguiu 
passar algumas noites em Paris e era quando aproveitavam cada segundo dos poucos momentos de felicidade.
Laura tinha se mudado para o apartamento de Karl e, para ela, foi bom, pois representou um período de adaptação. Precisava se acostumar com a ideia de que ia fazer 
parte de uma família, cuja reputação e poder se espalhavam por toda a Europa, e também na América. Chegou até a se acostumar a ter um Mondrian original em casa, 
em vez de ter que ir ao museu para vê-lo.
Karl ia e vinha, sempre com muita pressa e, por vezes, ela se sentia muito solitária naquele apartamento tão grande. O pior eram as noites, na cama enorme em que 
tinha conhecido a felicidade, e que lhe parecia fria e vazia sem ele. Mas... quando Karl conseguia ficar uma noite em Paris, ficavam horas vivendo uma paixão selvagem. 
A única coisa estranha é que num certo dia Karl mostrou-se decepcionado ao constatar que até então Laura não tinha ficado grávida.
- Devíamos estar aliviados por causa disso, Karl. Acho até que vou começar a tomar pílulas.
- Não! Você não vai fazer nada disso! Se eu tivesse querido apenas uma aventura amorosa, teria me envolvido com uma mulher mais experiente. Quero vocêpara minha 
esposa, para ser a mãe de meus filhos. Nunca se esqueça disso! - Karl a tinha beijado com paixão, levando-a para a cama e demonstrando o quanto ela lhe era importante.
O casamento se limitara à cerimónia civil, muito simples. Tinham resolvido assim por ser mais rápido e porque daria um pouco mais de tempo a Laura para se acostumar 
com a nova situação, antes de conhecer a família de Karl.
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Agora ela já sabia alguma coisa sobre os Rievenbeck. A mãe era viúva, austríaca e morava em Viena, onde ficava a matriz do banco. Por uma questão de fronteiras, 
aquela parte do país onde vivia tinha passado a fazer parte da Itália. A casa da família ficava nos montes Dolomitas e Karl não se cansava de falar no lago e nas 
montanhas e do quanto ela ia gostar do lugar.
O banco tinha várias filiais, em Roma e Milão, e a matriz, em Viena, era dirigida por tios. Karl tinha mencionado sua posição com muita modéstia, mas Laura ficou 
sabendo que ele era o presidente do banco e não se consegue isso, mesmo dentro da família, se a pessoa não é inteligente e capaz.
Anthea tinha vindo para o casamento, trazendo de Nice o outro marido a tiracolo. Estava se tornando um hábito, para ela, trocar de companheiro com a mesma facilidade 
com que trocava de roupa. A todos ela chamava de marido, mas Laura desconfiou que ela só tinha mesmo casado com seu pai. Agora, queria "aproveitar a vida", como 
ela mesma dizia.
- Vamos ser quase vizinhas! - Anthea exclamou. Laura percebeu que a madrasta pretendia ficar por bastante tempo.
As amigas que moravam com Laura no antigo apartamento também vieram para a cerimónia, assim como alguns executivos do banco. O dia estava quente e bonito e Laura 
usava um vestido de seda creme muito claro, enfeitado com pequenas flores azuis. Era um modelo muito bonito que tinha comprado na loja Pierre Balmain. Karl fizera 
questão de dá-lo e estava sempre depositando dinheiro numa conta para ela.
- Já está na hora de começar a se acostumar com nosso dinheiro, querida - ele comentou.
A princípio, Laura não queria aceitar, porque parecia estranho aceitar dinheiro de um homem que ainda não era seu marido.
- Tenho que agir assim, Laura. Depois de casados, vou viajar muito e você precisa manter uma conta grande no banco, para fazer pagamentos quando eu estiver ausente. 
Além disso, sendo minha esposa, precisará usar roupas adequadas para comparecer às muitas reuniões que seremos convidados. Se não começar a se acostumar agora, levará 
mais tempo depois.
Laura sabia que eram apenas desculpas para que ela aceitasse, mas não viu como recusar.
A cerimónia havia sido rápida e logo eles estavam fora, Colette tirando fotos, Anthea bancando a mãe da noiva, muito extremosa e comovida.
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Foi então que Laura se deu conta de que havia mais pessoas tirando fotografias, com máquinas muito sofisticadas. Eram repórteres. Um deles, mais corajoso, se aproximou 
dela e lhe perguntou, em inglês, se queria fazer declarações. Ela balançou a cabeça, mas logo outro se aproximou.
- Foi você mesma quem fez o vestido de casamento?
Antes que ela pudesse responder, Karl a segurou pelo braço e a levou para o carro que já os esperava.
- Você ouviu o que aquele repórter perguntou, Karl? Parece mesmo que esse vestido foi feito em casa?
Karl ria com prazer da indignação dela. Ele a abraçou, fazendo com que ela encostasse a cabeça em seu ombro.
- Não se esqueça de que eles sabem que você é estudante de arte. Talvez pensaram que estava estudando desenho para modas.
- Mas como eles sabem o que sou? Que diferença faz? - Ela não podia compreender por que sua vida tinha se tornado de repente assunto para jornais ou revistas.
Karl não disse nada, se limitando a beijá-la na testa e segurar suas mãos. numa demonstração do quanto ela era importante para ele.
Laura ficou quieta entre os braços de seu amor, enquanto o carro deslizava macio para o hotel, onde haveria uma recepção muito íntima para os poucos convidados.
Um pouco nervosa, começou a pensar na mudança de sua vida. Será que enfrentaria muitas surpresas, como essa dos repórteres? Bem, de qualquer maneira, estava feliz. 
Era a esposa de Karl, e só isso importava!
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CAPÍTULO V
Aquele dia foi todo de sonho. Primeiro o casamento, a recepção muito íntima mas elegante, a partida dos noivos, alegre e cheia de brincadeiras.
Laura não continha sua felicidade. Tudo para ela era novo e maravilhoso. Pegaram um avião para Innsbruck, viajando na primeira classe. Para Laura, foi como se, de 
repente, ela tivesse se transformado em princesa.
Karl se divertia muito com o entusiasmo dela, talvez sem compreender muito, pois nunca em sua vida tinha viajado de avião sem ser na primeira classe.
Mas a maior supresa veio a seguir. Um jatinho, todo branco com frisos em vermelho, os aguardava para levá-los para casa. Ela ficou impressionada por viajar num jato 
particular. Voaram pelo passo Brenner, o caminho entre as montanhas que os levaria para a Itália.
Laura não tirava os olhos da janela, maravilhada com as montanhas, a neve, os pequenos lagos escondidos entre picos altos, os castelos medievais. Estavam sobre as 
montanhas Dolomitas e, de repente, Laura se deparou com o lago mais azul que já tinha visto na vida. Era o lago Ferno, com sua água cor de safira, rodeado de montanhas 
abruptas, com pequenas vilas pontilhando o verde profundo. Havia uma pequena cidadezinha, a torre de uma igreja, uma ilha...
- Maravilhoso! - ela murmurou, achando que ainda estava sonhando.
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O jatinho foi descendo, cada vez mais baixo, até que tocou o solo. Laura deu um suspiro de alívio. Não estava muito acostumada a andar de avião e sentiu um pouco
de medo. Mas não deixou que o marido percebesse. Já que era a esposa de um homem acostumado a esse tipo de vida, ia tratar de se adaptar o mais depressa que pudesse.
À medida que se aproximavam da casa onde iam morar, Laura notou que Karl parecia mudar de jeito, assumindo atitudes e expressões diferentes das que ela tinha se 
acostumado em Paris. Talvez fosse devido às responsabilidades que ia assumir de agora em diante, dirigindo o grupo de negócios da família.
Desceram do avião e um carro os esperava. Laura não se impressionou, mas quando foi levada para o porto, onde tomaram uma lancha, que os transportou velozmente através 
do lago, ficou de novo boquiaberta.
Era incrível! Tudo que não tinha feito durante toda a vida, agora acontecia num mesmo dia! Viajar de primeira classe, jato particular, a lancha, seguindo para uma 
ilha, no meio daquela água tão azul, tendo como fundo as montanhas com seus picos eternamente cobertos de gelo!
- Não posso acreditar, Karl! Vamos morar na ilha? Que maravilha!
- É uma surpresa. - Karl sorriu, segurando sua mão.
Laura deu um beijo leve no rosto do marido e continuaram de mãos dadas.
- Deve estar cansada, querida. Foi um dia exaustivo, com muitas emoções juntas. Mas... eu tinha que trazê-la para cá imediatamente.
Seus olhares se encontraram e Laura sorriu, feliz. Ainda não tinha se libertado da sensação de irrealidade. Tudo era tão diferente do que já tinha experimentado 
antes, que levaria algum tempo para se convencer de que aquele lugar perfeito era real.
Ela se aninhou entre os braços do marido, deixando que a brisa acariciasse seu rosto e desmanchasse seus cabelos. Como amava aquele homem! com ele, tinha conhecido 
o prazer indescritível de se dar e de amar.
Laura ia ser apresentada à família Rievenbeck, da qual agora fazia parte. Pelo jeito, Karl queria logo um filho. Por quê? O amor que sentiam não seria o suficiente 
durante algum tempo? Era estranho... E logo outros porquês começaram a surgir na mente confusa de Laura. Por exemplo, por que iam morar no meio de um lago, quando 
seria muito mais conveniente para os negócios, se ficassem em Milão ou Roma?
- Karl, por que quis me trazer direto para cá?
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- Porque aqui é meu lar, aliás, nosso lar, querida.
- É que você falou como se fosse importante passarmos aqui uma noite de núpcias, em vez de ficarmos em Paris e viajarmos

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