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O TRATAMENTO EPISTEMOLÓGICO DE GILLES DELEUZE ÀS CIÊNCIAS

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O TRATAMENTO EPISTEMOLÓGICO DE GILLES DELEUZE ÀS CIÊNCIAS
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BIOGRAFIA DE GILLES DELEUZE
Nascido na cidade francesa de Paris, em 18 de janeiro de 1925, Gilles Deleuze, dos dezenove anos aos 23, cursou Filosofia na universidade de Paris, em Sorbonne; tendo como professores Ferdinand Alquié, Georges Canguilhem, Maurice de Gandillac e Jean Hippolite.
Concluído o curso em 1948, ele dedica-se à história da Filosofia, tornando-se professor da matéria na Sorbonne de 1957 a 1960. Em 1962 conhece Michel Foucault, de quem se torna amigo até sua morte em 1984. Apesar da amizade, não trabalharam juntos, mas foram apontados como sendo os responsáveis pelo renascimento do interesse pela obra de Nietzsche. 
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BIOGRAFIA DE GILLES DELEUZE
Em 1964 e 1969, foi professor de história da filosofia na ainda unificada universidade de Lyon. Em 1968, Deleuze apresenta como tese de doutoramento Diferença e repetição (Différence et répétition), orientado por Gandillac, na qual critica o conhecimento via representação mental e a ciência derivada desta forma clássica lógica e representativa; e como tese secundária, Spinoza e o problema da expressão (Spinoza et le problème de l’expression), orientado por Alquié. No mesmo ano, ele conhece Félix Guattarri, e este encontro resulta numa longa e rica colaboração. Na universidade de Vincennes, onde ensinou até 1987, Gilles Deleuze promoveu um número significativo de cursos.
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BIOGRAFIA DE GILLES DELEUZE
Desde 1992, seus pulmões, afetados por um câncer, funcionavam com um terço da capacidade. Em 1995, só respirava com a ajuda de aparelhos. Sem poder realizar seu trabalho, Deleuze atirou-se pela janela de seu apartamento em Paris, em 04 de novembro de 1995. Seus seguidores consideraram seu suicídio coerente com a sua vida e obra: “para ele, o trabalho do homem era pensar e produzir novas formas de vida” 
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O CONTEXTO DAS OBRAS DE DELEUZE
A seguir, uma visão resumida de como Deleuze contextualizou as suas obras, que influências sofreu na formação de sua filosofia e como se dava o seu pensamento.
O trabalho de Deleuze se divide em dois grupos: por um lado, monografias interpretando filósofos modernos (Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bérgson, Foucault) e por outro interpretando obras de artistas como Proust, Kafka, Francis bacon – este último o pintor moderno, não o filósofo renascentista – e ainda por uma outra faceta de sua filosofia, temas filosóficos ecléticos centrados na produção de conceitos como diferença, sentido, evento, rizoma, etc.
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O CONTEXTO DAS OBRAS DE DELEUZE
Para Deleuze, o ofício do filósofo é inventar conceitos. Assim como Nietzsche cria a personagem-conceito de Zaratustra, Deleuze afirma em L'abécédaire, entrevista dada a Claire Parnet, ter criado com Félix Guattarri o conceito de ritornelo – refrão, forma de reterritorialização (povoamento), e desterritorialização. Uma filosofia da imanência, dos diagramas, dos acontecimentos. As principais influências sofridas por Deleuze serão de Nietzsche, Henry Bérgson e Spinoza. 
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EPISTEMOLOGIA
A respeito das incursões ao pensamento epistemológico feitas por Deleuze, poderíamos observar dois aspectos. Por um lado, apesar de criticar os procedimentos científicos quando eles exprimem uma cosmologia ou um entendimento do humano incompatível com sua filosofia, Deleuze jamais negou a cientificidade como um mal do pensamento moderno. 
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EPISTEMOLOGIA
Por outro lado, o não contentamento com o caráter da ciência, fê-lo propor uma alteração da metodologia científica. Assim em seus vários livros que abordam o assunto podemos encontrar, por exemplo, a “interpretação” de forças (livros dedicados a Nietzsche), a “experimentação” de estados não-extensivos (livro dedicado a Hume e Mille Plateaux), e o “cálculo de problemas” (Diferença e Repetição e Lógica do sentido). Todos esses aspectos são tratados não somente de maneira rigorosamente filosófica, como contam com exemplos que exploram as mais variadas disciplinas a partir de seus problemas internos. 
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EPISTEMOLOGIA
Em que pese essa abrangência de sua reflexão epistemológica, podemos afirmar que Deleuze somente chegou a fornecer dela uma síntese em Mille Plateaux, quando aponta dois tipos de cientificidade: a ciência maior e a ciência menor. (CARDOSO, pg. 09)
Nestas diferentes abordagens, pretendeu-se fixar atenção nos seguintes volumes: mil platôs, diferença e repetição, lógica dos sentidos e o artigo de Hélio Rebelo Cardoso Jr. por deterem-se mais acuradamente na perspectiva deleuziana de uma epistemologia voltada para o acontecimento. 
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EPISTEMOLOGIA
Deleuze parte do que ele vai chamar de ilusão das soluções na doutrina da verdade para desconstruir toda uma tradição aristotélica na afirmação do que se entende por verdade. Segundo ele, a ilusão natural, que consiste em decalcar os problemas sobre as proposições, nasce do fato de que uma determinada verdade de um problema reside tão somente na possibilidade de se encontrar uma solução para ele. (DELEUZE. Pg. 156) 
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EPISTEMOLOGIA
Deleuze explica que Aristóteles via na dialética a preceptora dos problemas e das questões, ou seja, a dialética para Aristóteles é a inventora dos “problemas” a serem por ela resolvidos. Deleuze vai desde Aristóteles explicar a origem da avaliação de um problema, que para Aristóteles se baseava na opinião da maioria dos homens, para depois ouvir a opinião dos sábios para daí se estabelecer um lugar comum para a solução de um dado problema, ou seja, ele via a solução do problema a partir da doxa, do senso comum, pois um dado problema será considerado falso se houver um determinado vício lógico de ordem de acidente, ou gênero, ou próprio ou à definição. Para Deleuze, Aristóteles vai reproduzir os problemas sobre o senso comum por causa de uma ilusão natural, e por sua vez, preso consequentemente à ilusão filosófica Aristóteles vai reduzir a verdade a lugares-comuns, ou seja, Deleuze vê a verdade como subproduto de uma determinada ocasião, de uma determinada geografia. (DELEUZE. Pg. 156)
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EPISTEMOLOGIA
Seguindo numa análise da história da Filosofia, Deleuze vai afirmar que os matemáticos no modernismo, tentam se opor à dialética, porém preservam o ponto em comum entre matemáticos e dialéticos: o ideal de uma combinatória ou o cálculo de problemas. Depois de Deleuze discorrer sobre Descartes, Kant, com sua analítica transcendental, possuindo o mesmo objetivo de definir a verdade de um problema pela possibilidade de ele receber uma solução, ele sintetiza dizendo:
Reencontramos sempre os dois aspectos da ilusão: a ilusão natural, que consiste em decalcar os problemas sobre proposições que se supõe preexistentes, opiniões lógicas, teoremas geométricos, equações algébricas, hipóteses físicas, juízos transcendentais; e a ilusão filosófica, que consiste em avaliar os problemas segundo sua "resolubilidade", isto é, de acordo com a forma extrínseca variável da possibilidade de sua solução. (DELEUZE. Pg. 157)
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EPISTEMOLOGIA
Dessa forma, Deleuze critica a tradição de como os problemas são constituídos sempre nas duas ilusões por ele apontadas, e que as ciências seguem nessa mesma perspectiva de reproduzir os problemas sempre numa cíclica interdependência entre a ilusão de que os preexistentes problemas são decifrados em um ambiente doméstico do próprio problema, seu lugar-comum, seguindo-se à ilusão filosófica de que só se pode pensar na solução de um dado problema somente pelo fato de que existe uma resolubilidade. 
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ANÁLISE CRÍTICA 
A princípio, se se pensa em uma filosofia que pode meditar no ‘assombro’ que Aristóteles viu pra poder explicar, ou pelo menos tentá-lo fazer, todas as brechas fenomenais que ‘saltam’ aos nossos olhos, devemos lançar mão de todos os ‘porquês’ que estão a nossa disposição. Deleuze fez isso, quando se contrapõe a toda uma tradição, resolutamente focado em problemas que para os outros não precisavam ser problematizados. 
Quando da ótica de Deleuze observamosas intensividades como sendo aquela forma de conhecimento que harmoniza tanto a realidade espaço-temporal como a sua virtualidade, podemos entender que o acontecimento encerra perfeitamente essas duas realidades.
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ANÁLISE CRÍTICA
Sendo, para Deleuze, o acontecimento uma ótica que pressupõe a fluidez da própria realidade, por se tratar, digamos, de uma síntese entre uma tese de uma teoria dos sólidos e uma antítese da teoria dos fluidos, a multiplicidade irá harmonizar as duas perspectivas. 
Que se observe que de fato não podemos pressupor apenas uma metodologia para se explicar as realidades que nos rodeiam, para que não ocorram discrepâncias. O acontecimento, no entanto, pressupõe uma forma de estruturação em que Deleuze fundamenta seus escritos. Por estruturação quero dizer aquela forma de pensar em que nada de fato pressupõe uma continuidade, como a história. Onde tudo passa a ser uma complexa, mas perfeitamente demonstrável estrutura, nada de fato nem pode ser construído e nem pode ser de fato definido como sendo um método pronto, fechado, do ponto de vista egótico e histórico. 
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ANÁLISE CRÍTICA
A proposta estruturalista é de fato, para que haja realmente uma cientificidade, necessário seja que haja a preclusão da própria humanidade desta ciência, ou seja, a proposta de dissolver o homem. 
Deleuze, como foi demonstrado no princípio deste trabalho, suicidou-se, não precisamente como sendo uma forma de desespero, mas em consonância com sua própria perspectiva estruturalista de encarar a vida. 
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REFERÊNCIAS 
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição (versão digital – Word)
 Lógica dos sentidos (versão digital – pdf) 
 Mil platôs (versão digital – pdf)
CARDOSO JR., Hélio Rebelo. Acontecimento e história: pensamento de Deleuze e problemas epistemológicos das ciências humanas. Artigo recebido em 06/2005; aprovado para publicação em 08/2005.
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APLICAÇÃO DO ESTUDO:
Márcio de Sousa Agostinho Vitório
Graduado em Filosofia Personalista
Mestrado (trancado) em Filosofia da Ciência
marcioagostinho70@gmail.com

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