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O filme enigma das cartas

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Enigma das cartas
O filme demonstra algumas sutilezas quanto à questão do adoecimento infantil, trás à tona uma discutição entre o rigor dos padrões médicos mecanicistas em diagnosticar, tratar e curar e esforçar em compreender a subjetividade das pessoas em sua individualidade.Observar e analisar atentamente o que foi mostrado no começo do filme e relacioná-lo ao seu enredo, é de grande importância para compreender a alteração do comportamento da garotinha.
Primeiramente em relação ao mutismo apresentado pela criança, uma das características apresentados pelos autistas, pode ter relação com o que o seu amigo do México lhe disse antes de partir de volta aos EUA, que em algumas situações para serem compreendidas deve se manter o silêncio. A criança havia passado por uma situação de luto, a perda do seu pai, seu silêncio pode estar relacionado ao conselho e a tentativa de compreender a situação que estava vivenciando, possível recurso que encontrou para lidar com a situação. Podemos relacionar também, ao fato de que quando a criança pergunta para este mesmo amigo sobre a morte, este lhe diz que as pessoas não morrem, elas mudam de casa, e justamente era o que esta criança estava vivenciando, uma mudança de lar, de casa. Sua fixação na lua, está relacionado também, ao fato do homem ter lhe dito que seu pai agora estava morando na lua.
Se ater a estes detalhes, modifica a visão que temos sobre o outro, sobre seu comportamento, pensamento e sentimento, contudo, sobre as crianças que se desenvolvem de maneira muito particular, possuem uma subjetividade toda peculiar ao seu momento de desenvolvimento.Com relação ao diagnóstico infantil, o filme aponta claramente para a necessidade de se considerar outros aspectos que não apenas as descrições médicas dos sintomas, é de suma importância manter uma escuta especial, buscar o histórico de vida desse paciente, ir além dos frios métodos de avaliação.
 Não questionando a efetividade do saber milenar da medicina, mas devemos levar em conta que o homem é constituído por um tripé, Biológico, Social e Psíquico, cada ciência possui seus limites por conta até mesmo de suas especializações, desta forma, questionar os próprios métodos e compreender suas limitações faz-se necessário, quando o objeto de estudo trata-se de uma vida.Isto é mostrado também no filme, quando a criança é observada através da sala de espelho, está pintando seu corpo, o médico se ausenta por instantes da observação e quando volta, a criança parece ter desaparecido, a princípio é a impressão que dá, mas com um segundo olhar mais atento, o médico percebe a criança na sala, ela estava como um camaleão por conta da pintura em seu corpo, nesse instante ele percebe que a criança, por conta da manifestação artística, está tentando dizer algo, que é contrário ao seu raciocínio médico em questão de diagnóstico, aquele comportamento estava carregado de um sentido simbólico muito particular. O mais importante mesmo é conhecer Sally, percebê-la, ouvi-la, estar com ela para compreender quais são suas dificuldades reais. Enquanto o médico busca tratar o sintoma, seguindo o paradigma médico, a mãe decide  arriscar “estar com”. Ao se tornar quase uma “psicoterapeuta”, Ruth abre espaço para resignificação, não só da filha, mas também do encontro com o próprio luto não vivenciado. O renascimento ocorre a partir desse encontro verdadeiro, onde todo a simbologia da  cartas podem ser experienciadas em conjunto, trazendo nova resignificação para toda a família. O paradigma médico, representando polaridade diversa a atuação da mãe, permite que esta reconheça a presença do “sintoma”, favorecendo a integração.
O papel da mãe foi fundamental, podendo-se comparar suas atitudes com o papel do Psicólogo, enquanto o médico buscava ajudar de acordo com sua metodologia e compreensão sobre o adoecer, a mãe se ateve em procurar uma forma de compreender o que para um era a configuração de um sintoma, para ela uma maneira alternativa de comunicação, uma forma particular e subjetiva de comunicar o que lhe estava acontecendo internamente. De acordo com o ocorrido em sua vida, a perda do pai, talvez esta linguagem simbólica foi o que lhe restou para traduzir seu mundo interno, descobrir uma maneira de entrar nesse mundo e se comunicar de acordo, foi fundamental. A mãe, com seus esforços, consegue por fim, comunicar-se com sua filha, através da reprodução da espiral e o mais essencial, ambas se olharam profundamente em silêncio por algum tempo, o vínculo foi novamente estabelecido e a criança pode voltar a compartilhar da realidade social.
Acreditamos que o mais importante esteja em considerar, além de tudo,  a subjetividade, os mecanismos psíquicos que funcionam como um pano de fundo e que influenciam em nossa vida como um todo, buscar alternativas para se compreender e se comunicar com o outro, perceber que na maioria dos casos as manifestações sintomáticas estão permeadas de um sentido, este sentido pode ajudar no processo de cura ou alívio.

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