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Preservar não é tombar, renovar não é por tudo abaixo.

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Em seu texto o autor critica a postura das renovações impostas à cidade através de tombamentos ou demolições de espaços inteiros perpretadas por arquitetos e urbanistas ávidos por implantar novas ideologias e métodos presentes à época, sobre o pretexto de modernizar ou preservar. Como ponto de partida, retoma a relação entre história e cidade - “espaço inventado para que nele acontecesse a história” - e transcorre, então, pelas relações do homem com o espaço e do espaço com as atividades que nele acontecem.
Chega a ser incompreensível o fato de que arquitetos/urbanistas fecharam seus olhos para a linguagem da cidade citada pelo autor. Infelizmente, e ainda hoje é assim, ignoram-se os códigos e as relações que são possíveis extrair simplesmente analisando a morfologia da cidade. Oque é, oque foi e oque será. Por não compreender nem a linguagem da cidade, nem sua história - contada através dos próprios edifícios de diferentes épocas – nem a relação dela com seus habitantes, estabeleceram-se, erroneamente, os processos de legitimação do que é patrimônio ou não. O que deve ser preservado? O que deve ser modernizado? Como isso deve ser feito?
Os grandes centros urbanos são os piores casos citados pelo autor. Neles as renovações substituem espaços inteiros que agregavam uma infinidade de atividades e relações por espaços de potencial inferior, criando grandes vazios urbanos sem relevância ou importância histórica, em suma, sem significado qualitativo. Segundo o autor, no Brasil as renovações urbanas tem apenas removido as camadas mais pobres de lugares a serem preservados ou renovados. No entanto foram estes moradores que, por terem estreita relação com o espaço em que viviam, exerceram talvez a maior preservação e modernização de nosso patrimônio histórico, ao ponto que enquanto cuidavam de seus bairros e moradias e as incrementavam, exerciam uma espécie de renovação orgânica do espaço.
Casarío preservado por moradores. Morro da conceição - Ladeira João Homem - Foto: Tom Hastenreiter
O cenário que nos é apresentado por Carlos Nelson é esse em que na cidade não há espaço para coexistência harmônica do velho com o novo. A renovação urge, e se precisa de espaço consome oque nele pré-existia. Por isso, sugere que o espaço seja dignificado e não desapropriado. Sugere que os arquitetos e urbanistas compreendam as relações entre usuário e espaço.
Em suma, este texto de mais de duas décadas de idade continua atual e pungente. Continuamos intervindo urbanisticamente de maneira violenta. Agredindo e poluindo o espaço devido a insensibilidade cultural, devido a nossa falta de tato com o meio em que vivemos. Resta saber até quando viveremos desconsiderando, assim como fazemos uns com os outros, nossa relação com a cidade.

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