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Avaliação da Vida Útil em Edificações Históricas

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2.1 Processo de avaliação da vida útil em edificações históricas
Conhecer a vida útil, a curva de deterioração de cada material empregado na edificação, é fator de suma importância para a elaboração de um programa de restauração/preservação adequada e realista. Um desempenho insatisfatório em um determinado momento não significa que o material ou componente esteja condenado. As patologias (problemas) que comprometem a durabilidade, usualmente, são relacionadas a aspectos como: agressividade ambiental, propriedades físicas e químicas do material, modelos de deterioração e envelhecimento da edificação e, finalmente, vida útil desejada, ou seja, período de tempo ao qual a edificação atenda certos requisitos funcionais com o mínimo de manutenção.
A estimativa da vida útil das pontes com base na deterioração dos materiais é um problema complexo, sujeito a grandes investigações em muitos países do mundo (CLIFTON, 1993). Essa estimativa inclui a definição dos estados limites associados ao fim da vida útil de projeto, a caracterização do ambiente, o estudo dos fenômenos de degradação e a definição de modelos matemáticos para simular essas degradações.
Clifton, J.R. (1993) - “Predicting the Service Life of Concrete”, ACI Materials Journal. pp. 611-617, Nov.- Dec.1993.
Enfim, a vida útil é o período de tempo compreendido entre o início de operação e uso de uma edificação até o momento em que o seu desempenho deixa de atender às exigências do usuário, sendo diretamente influenciada pelas atividades de manutenção e reparo e pelo ambiente de exposição.
A Norma de desempenho chama atenção para o fato de que “é necessário salientar a importância da realização integral das ações de manutenção pelo usuário”, destacando que se este não realizar a manutenção indicada corre-se o risco de a VUP não ser atingida.
A vida útil (VU) é o período de tempo durante o qual o sistema pode ser utilizado sob condições satisfatórias de segurança, saúde e higiene (ABNT NBR 15575-1: 2013). A vida útil de projeto (VUP) é o período estimado de tempo, em que um sistema é projetado para atender os requisitos de desempenho, desde que cumprido o programa de manutenção previsto no manual de operação, uso e manutenção. Orienta a fabricação de elementos e sistemas construtivos e também a previsão do desempenho contemplando as atividades interventivas de manutenção da edificação (ABNT NBR 15575-1:2013). A entrada em vigor da norma de desempenho ABNT NBR 15575:2013, nas suas versões de 1 a 6, que trata desde os requisitos gerais de desempenho até o desempenho específico de elementos e componentes do edifício, trouxe o caráter normativo de exigências legais e também novas perspectivas para o avanço em pesquisas que visem elucidar e dirimir patologias dos edifícios para garantir a durabilidade e vida útil exigida. Ainda de acordo com a ABNT NBR 15575-1:2013, o custo global da vida útil de projeto é fator determinante para definição da durabilidade requerida. O estabelecimento da vida útil de projeto se deu em função do processo de otimização do custo global. O ideal do ponto de vista da sociedade é estabelecer a melhor relação custo x benefício. Atualmente, a opção por construções de menor custo, entretanto menos duráveis está necessariamente transferindo o ônus desta escolha para as gerações futuras. A Figura 2.1 mostra a relação entre desempenho e o tempo em vida de edifícios. A garantia da vida útil de projeto (VUP) está diretamente relacionada às ações de manutenção. É necessário salientar a importância da realização integral das ações de manutenção pelo usuário, sem o que se corre o risco de a VUP não ser atingida. Por exemplo, um revestimento de fachada em argamassa pintado pode ser projetado para uma VUP de 25 anos, desde que a pintura seja refeita a cada 5 anos, no máximo. Se o usuário não realizar a manutenção prevista, a VU real do revestimento pode ser seriamente comprometida. Ou seja, as eventuais patologias resultantes podem ter origem no uso inadequado e não necessariamente em uma construção falha (ABNT NBR 15575-1:2013).
A vida útil de um edifício é condicionada, não só pela sua estrutura, mas também pelos seus elementos constituintes. Os revestimentos são os elementos mais expostos as condições adversas, constituindo um sistema de proteção da própria estrutura. Devem, por isso, conservar as suas características durante o período de vida útil, de modo a respeitarem os níveis mínimos de desempenho (SILVA, 2009).
Muitas vezes o conceito de vida útil é confundido com o de durabilidade, levando a utilização incorreta dos termos. Silva (2009) considera que a vida útil é a quantificação da durabilidade, e esta por sua vez é uma propriedade que apresenta característica de qualidade da estrutura, obtida desde que atenda às exigências da Tabela 2.1. Assim sendo, é cada vez mais importante que se projete e construa tendo em vista critérios de durabilidade, procedendo a uma manutenção periódica e eficaz para, desse modo, prolongar a vida útil das construções.
A publicação da norma brasileira de desempenho para edificações residenciais (ABNT NBR 15.575:2013) foi um marco no mercado de construção civil brasileiro, atualizando e reforçando especificações de desempenho e trazendo novos conceitos, com os quais o mercado imobiliário não estava acostumado a tratar; entre eles, o conceito de vida útil e vida útil de projeto, que trouxeram muitas dúvidas aos projetistas, construtores e moradores, que passaram a ter responsabilidade por projetar, executar ou manter o edifício e suas partes por toda a vida útil.
Para conseguir a avaliação da vida útil de uma edificação é realizada uma investigação sistemática baseada em métodos consistentes, capazes de produzir uma interpretação objetiva sobre o comportamento esperado do sistema nas condições de uso definidas. Em função disso, a avaliação do desempenho requer o domínio de uma ampla base de conhecimentos científicos sobre cada aspecto funcional de uma edificação, sobre materiais e técnicas de construção, bem como sobre os diferentes requisitos dos usuários nas mais diversas condições de uso.
Os métodos de avaliação estabelecidos nesta Norma consideram a realização de ensaios laboratoriais, ensaios tipos, ensaios de campo, inspeções em protótipos ou em campo, simulações e análise de projetos. A realização de ensaios laboratoriais deve ser baseada nas Normas explicitamente referenciadas, em cada caso, nesta parte da ABNT NBR 15.575.
Recomenda-se que a avaliação do desempenho seja realizada por instituições de ensino ou pesquisa, laboratórios especializados, empresas de tecnologia, equipes multiprofissionais ou profissionais de reconhecida capacidade técnica.
O Processo de avaliação da vida útil de uma edificação normal é um pouco diferente do processo para uma edificação histórica, deve-se, no primeiro momento partir da observação visual que se destina a visualização das patologias e dos elementos sobre os quais ocorrem. Em casos mais simples é possível elaborar diagnóstico conjugando a observação visual e as informações recolhidas através de estudos e documentação (HENRIQUES, 1994), ou seja, da etapa de identificação e conhecimento do bem.
Existem dois tipos de ensaios que podem ser realizados: destrutivos e não destrutivos. Em se tratando de edificações históricas, os ensaios não-destrutivos são os mais indicados, visando a manutenção da integridade e originalidade da edificação.
Os ensaios não-destrutivos realizados in situ, bem como os realizados em laboratório nas amostras recolhidas, destinam-se essencialmente à caracterização física, química e mecânica dos materiais e da edificação. Os ensaios estáticos ou dinâmicos envolvendo a construção no seu todo ou em partes, são destinados a validar o seu comportamento estrutural, quer em termos das suas cargas em serviço (exemplo: prova de carga), quer em termos de resultados comparativos para calibração do modelo estrutural (ROQUE & LOURENÇO, 2003) (LICHTENSTEIN, 1986).
Os ensaios devem ser sempre conduzidos por pessoas habilitadas capazesde avaliar corretamente os resultados, dando confiabilidade ao processo. Diferentes métodos podem ser usados e estes trabalham segundo princípios diferentes, e deve-se avaliar o "grau de perda" que a edificação poderá sofrer com a escolha dos ensaios necessários.
Visando a avaliação da vida útil da edificação histórica, opta-se pelos ensaios não destrutivos a serem realizados in situ, direcionando os estudos e suas possíveis aplicabilidades, conforma apresentado no quadro:
 
Soluções apontadas para recuperação estrutural
Para a recuperação de edificações antigas, são obviamente válidos os mesmos princípios da física e química, bem como a boa técnica construtiva das instalações como nos prédios novos. Porém, as edificações antigas impõem restrições ao uso de materiais, técnicas construtivas e detalhes pela incompatibilidade com materiais e técnicas antigas. Isso é valido também para edificações históricas, porém com um agravante que pode modificar todas as hierarquias e as restrições: manutenção do valor histórico, isto significa resguardar o existente. É proibida na recuperação de obras histórica a livre escolha de variáveis possíveis, se existirem outros métodos de recuperação com menor ingerência. As leis que regulamentam a preservação do acervo histórico não proíbem a adaptação da edificação histórica às necessidades atuais pelo menos na prática. As habitações devem ser atendidas com as necessidades de hoje sem interferir na edificação histórica.
Pode-se dizer, portanto, que de acordo com a da Carta de Veneza (1964), a preservação da autenticidade arquitetônica da construção deve ser extensiva à preservação da sua autenticidade estrutural, sendo que a introdução de materiais e de elementos estruturais diferentes deve ser cuidadosamente analisada e dosada. Ao recorrer-se exclusivamente a técnicas antigas e aos materiais originais, pode-se incorrer em maiores custos e prazos. Há então, às vezes, a necessidade de utilizar materiais e tecnologias mais avançadas, desde que respeitem o caráter original da construção antiga e ajudem a corrigir, de forma mais rápida e econômica, as anomalias e deficiências estruturais existentes.
Dentre os materiais existentes para reforço e/ou recuperação de estruturas das edificações, tem-se o aço. A estrutura de aço se adapta muito bem a outros materiais como o concreto armado e a madeira. Segundo SANTOS apud REIS (1996) estruturas metálicas empregadas para reforço e recuperação de edificações advém da época do renascimento. Em 1523, as cúpulas de São Marcos, em Veneza, datadas de 976 a 1071, foram envolvidas em anéis de ferro para eliminar os problemas estruturais caracterizados pelas fendas nelas existentes na ocasião. O Palazzo Ducale, em Gênova, Itália, datado do século XI, foi transformado em Palácio da Cultura em 1980, sendo que o aço foi utilizado na restauração das escadas principal e secundária, no anfiteatro e na cúpula sonora da sala de reuniões.
No Brasil, também se utiliza tal material para recuperação e reforço de edificações, mas ainda em proporções menores quando comparado com outros países, talvez em parte pela cultura do concreto armado. Os elementos em aço utilizados para a recuperação das edificações em geral podem ser perfis laminados, soldados e formados a frio bem como chapas e barras.

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