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O PROGRESSO DA ELETRICIDADE E DO MAGNETISMO

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Nome: Leandro Henrique Borges Barreto
DRE: 106047873
História da Eletricidade
História da Ciência – págs.:(388-397)
O PROGRESSO DA ELETRICIDADE E DO MAGNETISMO
A Ciência da eletricidade progrediu rapidamente durante o século XVIII, em contraste com a Óptica, que se desenvolveu de modo lento no mesmo período. Graças à descoberta do telescópio e do microscópio, os problemas de Óptica haviam sido estudados intensivamente no decurso do século xvii, mas tiveram poucos estímulos novos, no período subse​qüente. A Ciência da eletricidade, por seu turno, tornou-se muito popu​lar, em especial depois da descoberta do choque elétrico, em 1745, e a identificação do relâmpago com a descarga elétrica, pouco depois. Ale​gações médicas algo extravagantes foram feitas em favor das proprie​dades vitalizantes do choque elétrico, e algumas chegaram ao ponto de identificar a eletricidade com a força cósmica vital da natureza. Lamarck, como devemos estar lembrados, sustentou que a eletricidade, juntamente com o calor, eram as forças dirigentes da evolução orgâ​nica. E John Wesley (1703-1791), o fundador do metodismo, declarava que "a eletricidade é a alma do Universo", concepção de que os filóso​fos da natureza alemães estiveram próximos a compartilhar, fascinados como estavam pelas polaridades opostas que a eletricidade apresentava.
O estudo da eletricidade, nos tempos modernos, assim como o do magnetismo, pode ser considerado como tendo sido iniciado com as pesquisas de William Gilbert, de Colchester, durante o século xvi. Os antigos gregos sabiam que o âmbar revelava propriedades elétricas, mas Gilbert demonstrou não ser ele, de modo algum, o único a possuí-las, descobrindo que o vidro, o lacre, o enxôfre e as pedras preciosas tam​bém atraíam partículas de papel e de palha, quando friccionados. Observou que as forças magnéticas e elétricas eram de caráter diferente, atuando os ímãs somente sobre a magnetita ou os objetos de ferro, e orientando-os em uma direção determinada, ao passo que as forças elétricas se exerciam sôbre uma grande variedade de substâncias, e sem direção precisa. No decorrer do século xvii, Otto von Guericke, inven​tor da bomba de ar, fabricou uma máquina destinada a gerar fortes cargas elétricas. Dispôs uma bola de enxofre de modo a poder girar continuamente e ser atritada com a mão ou um pedaço de pano, a fim de produzir uma carga elétrica. Outro aparelho importante foi a garrafa de Leiden, para a concentração de cargas elétricas, e que fora in​ventada — simultaneamente com a descoberta do choque elétrico — por Pieter von Musschenbroek (1692-1761), de Leiden, no ano de 1745. Ele tentou conservar uma carga numa garrafa de água transportando aquela — de uma máquina elétrica — para o aludido recipiente, por meio de um fio metálico. Sustentava -a garrafa com uma das mãos, e tocou o fio com a outra, quando, segundo relatou, "o braço e o corpo foram afetados de um modo terrível, que não posso descrever; numa palavra: julguei que tudo estivesse acabado para mim". ,
Com esses aparelhos Benjamin Franklin (1706-1790), de Filadélfia, realizou uma série de pesquisas para demonstrar que o raio era um fenômeno elétrico. Em 1749, salientou serem tanto o relâmpago como a faísca elétrica praticamente instantâneos, produzindo uma luz e som semelhantes; ambos eram capazes de incendiar objetos e fundir metais; concentravam-se sôbre as pontas afiadas; podiam destruir o magnetis​mo ou inverter a polaridade de um imã, e também matar seres vivos. Em 1752 efetuou sua famosa experiência do papagaio de papel, reco​lhendo a carga elétrica de uma nuvem de tempestade numa garrafa de Leiden, e mostrando que dita carga produzia os mesmos efeitos que outra, produzida por máquina elétrica. Para explicar os fenômenos da eletricidade por êle conhecidos, Franklin supôs existir um imponderá​vel fluido elétrico, impregnando todo o espaço e todos os corpos ma​teriais— sendo estes eletricamente neutros, quando a concentração do fluido, neles e ao seu redor, era a mesma. Um excesso de fluido fazia, com que um corpo ficasse carregado positivamente, ao passo que uma insuficiência o tornava negativamente carregado. Franklin sustentava, também, consistir a luz em vibrações no éter que enchia todo o espaço, e como outros teóricos em Mecânica ondulatória — Leonard Euler, antes dele, e Thomas Young depois — imaginava a possibilidade de o fluido elétrico do espaço ser idêntico ao éter condutor da luz.
Uma das desvantagens da teoria de Franklin, posta em evidência em 1759 por Franz Aepinus (1724-1802), da Academia de Ciências de São Petersburgo, era a de que os condensadores de ar se descarrega​vam automaticamente, se houvesse um fluido elétrico no espaço a se​parar suas placas. Aepinus preferia considerar a atração elétrica como uma ação à distância, assim como a gravidade. Outra objeção prendia-se ao fato de a carga elétrica parecer estar localizada na superfície dos corpos, e não através de sua massa, como o fazia supor a teoria de Franklin. Stephen Gray, falecido cm 1736, estudante da Escola de Charterhouse, havia demonstrado, em 1729, que dois cubos de carvalho — um maciço e outro ôco — das mesmas dimensões, quando igual​mente carregados, manifestavam os mesmos efeitos elétricos, denotando que a carga permanecera totalmente na superfície dos cubos. Joseph Priestley fez uma experiência semelhante, em 1767, provando não exer​cer um corpo ôco e eletricamente carregado nenhuma influência sobre as cargas elétricas introduzidas dentro da sua cavidade. Newton havia demonstrado que, se a força gravitacional decrescia em função do qua​drado da distância da respectiva fonte, uma cápsula esférica de maté​ria não exerceria nenhuma atração gravitacional sobre corpos situados dentro de si própria; desse fato Priestley concluiu, por analogia, que a força elétrica também obedecia à lei do quadrado inverso.1 Em 1750, John MichelI (1724-1793), em Cambridge, já descobrira a lei do qua​drado inverso de repulsão entre pólos magnéticos semelhantes. Sus​pendendo um ímã por um fio, aproximou um outro ímã e mediu a fôr​ça de repulsão entre ambos por meio da curvatura comunicada ao fio. Na França, o engenheiro Coulomb (1738-1806) descobriu novamente a proporção da curvatura de MichelI, e com ela, de 1785 a 1789, demons​trou a variação da força do quadrado inverso da distância, tanto para a atração e repulsão elétricas como magnéticas. Essas descobertas pare​ceram evidenciar — ao menos para os físicos franceses — que as fôrças elétrica e magnética eram da mesma espécie que a da gravidade, atuando à distância, através do espaço vazio, e obedecendo à lei do quadrado inverso.
Os filósofos da natureza alemães interessaram-se por um aspecto diverso da eletricidade e do magnetismo, isto é, o fenômeno da polari​dade, que parecia exemplificar perfeitamente a tensão oposta por êles admitida entre os pólos ou forças contrárias que haviam introduzido ordem no caos. Uma vez existente apenas uma espécie de poder sub​jacente ao desenvolvimento da natureza — em sua Filosofia — isto é, do Espírito Universal, sustentavam êles que a luz, a eletricidade, o mag​netismo e as forças químicas estavam todos relacionados entre si e eram aspectos diferentes da mesma realidade. Um dos discípulos de Schelling, Hans Christian Oersted (1777-1851), professor de Física1 em Copenague, participou em 1807 que procurava a relação entre o magnetismo e eletricidade. Franklin havia demonstrado, em 1751, poderem agulhas de ferro ser imantadas e desimantadas eletricamente, por meio da des​carga de uma garrafa de Leiden. Esta fornecia apenas corrente elétrica momentânea, mas a pilha voltaica, inventada em 1799, fornecia uma fonte contínua de corrente, e com ela Oersted ficou capacitado a de​monstrar, em 1820, os efeitos magnéticos de tais correntes. Mostrou êle que um fio metálico conduzindo corrente elétrica havia de girar ao redor de um pólo magnético e, reciprocamente, um ímã tendia a mover-se em volta de um fio imóvel, portador de uma corrente. Empre​gando a terminologiade sua escola, Oersted escreveu:
"Ao efeito que tem lugar no condutor e no espaço circundante, damos o nome de conflito de eletricidade. Todos os corpos não mag​néticos parecem sensíveis ao conflito elétrico, enquanto que os cor​pos magnéticos resistem à passagem do mesmo. Conseqüentemente, podem ser movidos pelo impulso dos poderes opostos ... Dos fatos precedentes podemos também concluir que o aludido conflito efe​tua circuitos: pois sem essa condição parece impossível que uma parte do fio de ligação, quando colocada abaixo do pólo magnético, possa dirigi-lo em direção leste, e quando situada acima, para oeste: de vez que é da natureza de um circuito o fato de os movimentos de origens opostas deverem possuir uma direção contrária."
A descoberta de Oersted despertou considerável interesse, pois que as principais fôrças então conhecidas se exerciam no sentido da atra​ção ou repulsão retilíneas, como a força da gravidade, da eletricidade e as atrações e repulsões magnéticas; e agora surgia o caso de uma força atuante em circuito. O fenômeno desconcertou, em particular, a escola francesa de físicos newtonianos, pois eram êles os mais firmes defensores da teoria de todas as ações serem o resultado de forças centrífugas e centrípetas atuando à distância, segundo a lei do qua​drado inverso. Entretanto, Ampère (1775-1836) e a Politécnica2 haviam demonstrado, em fins de 1820, que uma bobina circular de fio metálico, conduzindo uma corrente, se comportava como um ímã comum, apresentando atrações e repulsõcs — do que presumiram, em 1825, provir o magnetismo de pequenas correntes elétricas circulares. livres de resistência, nas partículas dos corpos magnéticos.
Outro membro da escola alemã, Thomas Seebeck (1770-1831), que auxiliou Coethe em sua atividade científica, procurou uma relação entre calor e eletricidade. Em 1822, descobriu que o contato de dois metais diferentes e aquecidos produzia um potencial elétrico, e uma corrente, quando fechado o circuito. Ao contrário das pilhas voltaicas usadas na época, o gerador térmico de eletricidade, dc Seebeck, dava potenciais muito regulares, e por isso habilitou um outro alemão, Georg Ohm (1787-1854), mais tarde professor dc Física em Munique, a determinar —num circuito elétrico — as relações entre potencial, corrente e resistência. Ohm foi influenciado pela obra de Fourier, sôbre a propagação do calor nos condutores térmicos, publicada em 1822, e tentou realizar uma análise semelhante da propagação da eletricidade, definindo o po​tencial elétrico em comparação com a temperatura, e a quantidade de corrente elétrica em comparação com uma quantidade de calor.
As pesquisas mais importantes, relacionando os efeitos elétricos com outros fenômenos, foram efetuadas por Michael Faraday (1791-1867), assistente e sucessor de Davy na Instituição Real de Londres. Fara​day a princípio prosseguiu os trabalhos de Davy, no setor da Química, mas passou cada vez mais para o campo da Física. Descobriu, em 1826, o que pareceu ser um caso de isomerismo enquanto estudava butileno e etileno, e em 1833 estabeleceu que a mesma quantidade de eletricida​de efetuava a decomposição do mesmo número de equivalentes de diferentes substâncias químicas. A segunda descoberta indicava que, se a substância química era atômica, então a eletricidade também seria de um caráter particular. Contudo Faraday rejeitava tanto a premissa como a conclusão, preferindo a concepção de "a matéria estar presente em todo lugar, e não haver espaço intermediário por ela desocupado".
As pesquisas físicas do referido cientista foram mais dignas de nota. Era de há muito conhecido o fato de um ímã poder produzir magne​tismo num pedaço de ferro próximo, e a possibilidade de uma carga de eletricidade estática causar o aparecimento de uma outra carga num corpo vizinho. Faraday imaginou que o mesmo ocorreria com as cor​rentes elétricas, e começou a pesquisar tal efeito desde, cerca de 1822, quando pela primeira vez observou certo número de possíveis relações entre os fenômenos naturais, que subseqüentemente investigou e, em alguns casos, descobriu. Em 1831, constatou o fenômeno da indução eletromagnética, que provava uma corrente elétrica poder gerar uma outra e que vinculava o movimento mecânico em geral e o magnetismo com a produção da corrente elétrica. Verificou que uma corrente, va​riando de magnitude em uma bobina de fio metálico determinaria a aparição de uma corrente elétrica transitória, em uma bobina vizinha. O mesmo efeito podia ser produzido movimentando-se uma bobina por​tadora de corrente constante, ou — o que dava no mesmo — um ímã permanente, na proximidade de uma segunda bobina de fio metálico. Desse modo Faraday descobriu o princípio básico do dínamo, exata​mente como Oersted o fizera em relação ao princípio do motor elétrico.
Para explicar os fenômenos e eletricidade e magnetismo conhecidos em sua época, Faraday desenvolveu um conjunto de imagens caracte​rísticas, de sua autoria. Como vimos, rejeitava a teoria atômica da ma​téria, e com isso a concepção de que as forças atuavam à distância, no espaço vazio. Sustentava por outro lado ser a matéria onipresente, sob a forma de um éter sem lacunas, que funcionava como um veículo para as forças da natureza. Para Faraday esse éter, que ocupava todo o espaço, era composto de linhas ou tubos de força ligando cargas elé​tricas contrárias ou pólos magnéticos opostos. As linhas componentes de um campo magnético podiam ser delineadas por meio de uma pe​quena agulha imantada, ou espalhando-se limalha de ferro sobre uma folha de papel colocada no referido campo, ocasião em que ficavam vi​síveis as linhas unindo os pólos opostos. Para Faraday, as linhas e tubos de força possuíam o sentido de realidade física. Cada linha de força correspondia a uma unidade magnética ou a uma unidade de carga elé​trica. Certo número de linhas constituíam um tubo de força, ligando pólos ou cargas contrários, e a orientação de um tubo, em qualquer ponto, indicava a direção dos campos magnético ou elétrico naquele mesmo ponto. Os tubos aumentavam, e depois diminuíam de diâmetro no sentido de seu comprimento, à medida que as linhas de força divergiam, ao se afastarem de seus pontos de origem — os pólos ou as cargas. A área de uma seção transversal de um tubo era uma medida da força dos campos magnético ou elétrico, na mesma seção, pois que o produto da área desta última pela força do campo era constante ao longo de todo o tubo, sendo determinada a grandeza de tal constante pelo nú​mero de linhas de força que compunham o tubo. Faraday supôs que os tubos de força tendiam a se contrair, quanto ao comprimento, e a se dilatar, no tocante à largura, de modo que ao ligarem pólos magnéticos desiguais ou cargas elétricas contrárias tendiam a atrair os dois pólos ou cargas reciprocamente. Por sua vez, os pólos ou cargas idênticos re​peliam-se uns aos outros, de vez que os tubos que deles irradiavam não se podiam unir, exercendo pressão um contra o outro, devido à sua ex​pansão lateral. Além disso, era dada uma explicação para as leis do quadrado inverso das atrações e repulsões magnéticas e elétricas, já que as linhas de força magnética e elétrica se adelgaçavam em progressão geométrica, em função do quadrado da distância de seu ponto de ori​gem. No caso da indução eletromagnética, Faraday admitia a quanti​dade de eletricidade induzida num condutor depender do número de linhas de força magnética que êle atravessava, ao passo que a força eletromotriz gerada era proporcional à velocidade com que essas linhas eram cruzadas.
Depois da descoberta da indução eletromagnética, Faraday continuou a estudar a influência de corpos materiais sobre os campos elétricos de força. Em 1837, descobriu que um condensador, composto de duas pla​cas condutoras, separadas por um material isolante, podia receber de uma fonte mantida com um potencial constante uma quantidade de carga elétrica que dependia da qualidade do material isolante utilizado. Quando as placas eram simplesmente separadas pelo vácuo,o conden​sador recebia uma quantidade de carga menor do que quando empre​gado um isolante corpóreo. E Faraday designou a proporção das cargas recebidas pelo condensador, nos dois casos, de capacidade indutora es​pecífica do material isolante. A fim de elucidar sua descoberta, supôs acumularem-se as linhas de força elétrica mais densamente numa subs​tância isolante do que no vácuo, na proporção da capacidade indutora específica do isolador. De modo que as placas do condensador podiam aprovisionar mais carga elétrica nas extremidades das linhas de força. Em 1845, Faraday descobriu uma espécie análoga de interação entre corpos materiais e campos magnéticos de força. Verificou que amos​tras de forma alongada de muitas substâncias, denominadas diamagnéticas, tendiam a orientar-se transversalmente sobre o campo magnéti​co, tomando uma posição perpendicular às linhas de fôrça, em contras​te com barras de ferro e de algumas outras substâncias, qualificadas de paramagnéticas, que se orientavam ao longo do campo magnético, pa​ralelas às linhas de força. Para justificar tais efeitos, supôs Faraday que as linhas de força magnética se adelgaçavam nas substâncias diamagnéticas e se aglomeravam no ferro e em outros corpos paramagnéticos.
Deparou com o fenômeno do diamagnetismo, quando investigava a existência de alguma relação entre luz, magnetismo e eletricidade. Colocando um pedaço de vidro entre os pólos de um poderoso eletroímã, observou orientar-se o vidro em sentido perpendicular ao campo magné​tico. E fazendo passar um raio de luz polarizada pelo vidro, paralela​mente às linhas de força magnética, descobriu que o plano de polariza​ção da luz era modificado. Essa interação entre o magnetismo e a luz levou-o a admitir, em 1846, a possibilidade de a luz consistir em vi​brações ondulatórias, produzindo-se ao longo de linhas de força. Faraday perguntou:
"se não era possível que as vibrações, que numa determinada teoria são consideradas explicativas da irradiação, e dos fenômenos correlatos, se pudessem verificar nas linhas de força que unem partí​culas e, conseqüentemente, massas de matéria — noção essa que, na medida em que fôr admitida, dispensará o éter, o qual, sob outro ponto de vista, é tido como um meio ambiente onde ocorrem tais vibrações".
A dúvida de Faraday foi a primeira sugestão para a teoria eletro​magnética da luz, enunciada em 1862 por Clerk Maxwell (1831-1879). Um critério de pesquisa que estimulou o desenvolvimento dessa teoria foi o estudo da relação entre eletricidade estática e dinâmica; e, em especial, a avaliação da velocidade dessa última espécie. Charles Wheatstone (1802-1875), professor de Física em Londres, mediu a velo​cidade da eletricidade dinâmica, em 1834, pela observação — com um espelho giratório — das faíscas produzidas nas extremidades de um longo circuito elétrico. E calculou que a eletricidade se propagava a uma velocidade vez e meia superior à da luz. Em 1850, na França, Fizeau obteve valores para a velocidade da eletricidade, que variavam de um têrço (em fios de ferro) a dois têrços (em fios de cobre) da velocidade da luz. Finalmente, Kirchhoff (1824-1887), em Heidelberg, demonstrou no ano de 1857 que as eletricidades estática e dinâmica eram relacionadas por uma constante que tinha a dimensão de uma velocidade; e comparando a força de atração de duas cargas estáticas com a força magnética produzida quando são descarregadas, demons​trou possuir a constante a mesma grandeza da velocidade da luz.
Clerk Maxwell, professor de Filosofia natural em Londres e depois em Cambridge, decidiu pôr em forma quantitativa e matemática as explicações amplamente qualitativas que Faraday havia proposto para os fenômenos elétricos e magnéticos. Antes de mais nada, desenvolveu os aspectos qualitativos da concepção de linhas de força, de Faraday introduzindo no éter a teoria ondulatória da luz. As linhas de força — supunha Maxwell — eram tubos de éter girando nos respectivos eixos. A força centrífuga de tais rotações determinava a expansão dos tubos no sentido da largura e a contração no do comprimento, bem como Faraday admitira para explicar a atração e a repulsão. Mas dois tubos vizinhos, girando no mesmo sentido, deviam mover-se em direções opostas, nos pontos onde se tocavam — idéia mecanicamente impossível. Em vista disso, Maxwell supôs existirem camadas de partículas entre os tubos de éter, girando essas em direção contrária à dos tubos, à seme​lhança de rolamentos de esferas ou engrenagens de transmissão. Se todos os tubos de éter possuíssem a mesma velocidade de rotação, as partí​culas não mudariam de posição; em caso contrário, porém, uma dada partícula deslocar-se-ia em linha reta, com uma velocidade que seria a média das velocidades perimetrais dos tubos situados em cada lado. Assim, se por motivo qualquer a velocidade de rotação de um tubo fosse alterada, propagar-se-ia uma perturbação por todo o sistema, e as partículas seriam postas c
em movimento linear, passando suavemente de tubo a tubo. Maxwell considerava terem as partículas, um caráter elétrico, e imaginou que êsse seu movimento havia de constituir uma corrente elétrica.
Inversamente, se uma partícula fosse deslocada de sua posição nor​mal, uma força tangencial atuaria sôbre os tubos adjacentes e, uma vez que estes eram elásticos, tenderiam a restituir a partícula à sua posi​ção costumeira. Maxwell sugeriu existir um tal estado de tensão no campo eletrostático situado entre duas placas de condensador; as car​gas destas últimas deslocavam as partículas elétricas que, por seu turno, exerciam uma tensão sôbre os tubos de éter do espaço que mediava entre as ditas placas. Considerando a possibilidade de tensões e pres​sões vibratórias em seu modelo de éter, Maxwell deduziu das leis de dinâmica (que regiam o mecanismo de seu modelo) que as perturbações ondulatórias se propagariam em seu seio com a velocidade da luz. Pa​recia, em conseqüência, que a luz era um fenômeno eletromagnético, ou como Maxwell o exprimiu, "que a luz consiste em ondulações trans​versais do mesmo meio ambiente que é a causa dos fenômenos elétricos e magnéticos". Em uma substância diversa do meio etéreo do espaço vazio, demonstrou êle que as ondas eletromagnéticas propagar-se-iam com uma velocidade igual ao produto da velocidade da luz pela raiz quadrada da capacidade de indução específica da substância conside​rada. Uma vez que a velocidade da luz, em um meio transparente, de​pendia do índice de refração dêste, parecia que a capacidade de indução específica de uma substância equivaleria ao quadrado de seu índice refrativo — previsão que se verificou mais tarde.
Maxwell não se preocupou muito com a constatação experimental das várias hipóteses derivadas da sua teoria, nem desenvolveu mais além os aspectos qualitativos de seu exemplo de éter eletromagnético, com a sua concepção sugestiva de partículas de eletricidade ou elétrons. Em sua última obra abandonou seu modelo de éter, e concentrou-se nas equações matemáticas ou deduziu em razão das perturbações on​dulatórias no éter, aplicando as ditas equações aos fenômenos ópticos. Outros cientistas, especialmente Lord Kelvin, em Glasgow, que se ba​searam em exemplos da Mecânica para explicar, por analogia, os fe​nômenos naturais que estudavam, encontraram alguma dificuldade em compreender a obra matemática de Maxwell, e tentaram conciliar os fenômenos da luz, eletricidade e magnetismo, desenvolvendo outros mo​delos do éter. Kelvin observou em 1884:
"Não fico satisfeito até que tenha elaborado um exemplo mecâ​nico do assunto que estiver estudando. Se consigo produzir um, compreendo; caso contrário, não. Daí não poder entender a teoria eletromagnética da luz. Desejo compreendê-la de modo tão comple​to quanto possível, sem introduzir elementos de ainda menor com​preensão para mim. Por essa razão, atenho-me firmemente à dinâ​mica elementar, pois nela — e não na teoria eletromagnética — posso encontrar um modelo."
Conseqüentemente, em 1890, Kelvin tentou explicar os fenômenos da luz, eletricidadee magnetismo, por meio do éter óptico de MacCullagh, cujos elementos — então se presumia — resistiam a tensões giratórias, mas não a deslocamentos lineares. Kelvin admitia serem os efeitos elétricos ocasionados por movimentos translatórios dos elemen​tos do éter de MacCullagh, ao passo que os fenômenos magnéticos eram causados por movimentos de rotação, e a luz, por vibrações on​dulatórias. O exemplo de MacCullagh subentendia, contudo, que os campos elétricos aplicados a um meio transparente haviam de alterar a velocidade da luz, no referido ambiente; demonstrou-se, porém, que tal não era o caso. Muitos outros tipos de éter foram propostos du​rante a segunda metade do século XIX, tipos que explicavam com maior ou menor êxito os agora múltiplos fenômenos da luz, eletricidade e mag​netismo. Alguns tentaram conciliar até as propriedades da matéria com um tipo de éter, sugerindo Kelvin, em 1867, serem os átomos daquela anéis turbilhonantes neste, assim como os anéis de fumaça, no ar; mas era difícil explicar, em tal base, o peso e a densidade das substâncias materiais. Finalmente, tiveram de ser abandonados todos os tipos de éter, bem como o espaço absoluto que (se presumia) deles retirava a substância, quando se demonstrou que a concepção da velocidade abso​luta de um corpo, isto é, sua velocidade em relação ao éter, era sem sentido.
Uma conseqüência de máxima importância, da teoria eletromagnéti​ca da luz, foi assinalada em 1883 por Fitzgerald (1851-1901), professor de Filosofia natural em Dublim. Acentuou êle que, se fosse válida a teoria de Maxwell, seria possível gerar radiações eletromagnéticas ex​clusivamente por meio de eletricidade, fazendo-se variar periodicamente num circuito uma corrente elétrica. Kelvin demonstrara, em 1853, que a descarga de uma garrafa de Leiden e outros condensadores elétricos era de natureza oscilatória, alterando-se a carga de modo descompas​sado, enquanto diminuía até zero. Em conseqüência, Fitzgerald admi​tiu fôsse um condensador que se descarregava uma boa fonte das ondas eletromagnéticas previstas na teoria de Maxwell, e provou que, quanto mais curtas eram estas, no tocante ao comprimento de cada onda, tanto maior era a quantidade de energia que elas podiam conduzir, e assim tanto mais facilmente podiam ser descobertas.
Um detector para tais ondas foi inventado em 1886 por Heinrich Hertz (1857-1894), mais tarde professor de Física em Bonn. Percebeu ele que as faíscas elétricas podiam atravessar um pequeno intervalo existente entre as duas extremidades de uma curva de fio metálico, se essa curva fôsse mantida na proximidade de uma garrafa de Leiden a descarregar-se, ou de uma bobina de indução em funcionamento. A curva captava as radiações eletromagnéticas produzidas pela garrafa ou pela bobina, sendo transformadas essas radiações numa corrente elétri​ca que se descarregava no pequeno intervalo. Com êste simples apare​lho, Hertz conseguiu então provar possuírem tais radiações proprieda​des semelhantes à da luz. Em 1888, demonstrou que as ondas eletro​magnéticas eram refletidas pelas paredes do seu laboratório e podiam ser refratadas por prismas feitos de resina endurecida. Além disso, podiam ser difratadas e polarizadas como ondas luminosas. E propa​gavam-se em linha reta com uma velocidade da mesma ordem de gran​deza que a da luz. Desse modo Hertz provou a mais importante das previsões fornecidas pela teoria eletromagnética enunciada por Maxwell, e proporcionou também as descobertas fundamentais, em que se ba​searam os ulteriores inventos da radiodifusão e do radar.

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