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3 ~ HISTORIA DA ORTODONTIA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA Bailey N. jacobson Os Primórdios da Odontologia nos Estados Unidos Os praticantes da Odontologia, nos Esta- dos Unidos, no começo do Século XIX, bem como na Europa, eram: 1. Pessoas treinadas como joalheiros, ferrei- ro e outras com zrande habilidade manu- al, e que praticavam a odontologia ao lado e outras atividades. Eram, quase sempre, ão alfabetizados e sem qualquer qualifi- caçã . C1 icantes de medicina, sem nenhuma .formação em odontologia, e que se apre- entavam como dentistas aprendendo à medida que trabalhavam. 3. Homens qualificados através de estágios junto a profissionais de grande reputação. Este era o menor grupo, embora, provavel- mente, o mais influente. O primeiro curso para dentistas foi minis- trado, formalmente, por Horace Heyden, de 1823 a 1825, na Universidade de Maryland. Os estudantes eram também do curso médico e, como não apresentavam nenhum interesse no assunto, o curso foi suspenso. Os professo- res para dentistas, planejaram, então, a forma- ção de institutos isolados. A primeira licença para uma escola dentária independente foi fornecida em 1840, pelo Estado de Maryland. O Colégio de Cirurgia Dentária de Baltimore foi a primeira escola, na América do Norte, a oferecer um curso dentário completo; o pri- meiro grau de Doutor em Cirurgia Dentária (D.D.5.) foi conferido em 1841. Em 1865 havia quatro escolas de odontologia; naquela época, porém, o meio mais procurado para a forma- ção de dentistas era o estágio em consultórios particulares. Em 1870, apenas um sexto dos dentistas eram formados por escolas. A primeira tentativa de organização de uma possível classe odontológica, ocorreu em 1834, quando se fundou a Sociedade dos Ci- rurgiões-Dentistas de Nova York. Esta socie- dade policiava a prática profissional indevida e regulamentava a atividade odontológica, tendo sido a primeira entidade desta nature- za, no mundo. Vinte e dois anos depois ela se desorganizava e, em 1859, fundou-se a Asso- ciação Dentária Americana. O Início da Ortodontia A primeira publicação formal sobre a "nor- malização" da posição dos dentes é atribuída ao francês Pierre Fauchard, tido, freqüente- mente, como o pai da odontologia moderna. Em 1728, ele publicou o "Tratado de Odontolo- gia", em que foi apresentado o "bandelette", do qual se originou o arco expansor. Entre 1728 e 1888 foram publicados, na França, mais de sessenta e seis livros de texto, nos quais foram abordados, pelo menos em parte, assuntos relacionados às irregularida- ·22 ORTODONTIA - BASES PARA A INICIAÇÃO des de posição dentária. A principal finalida- de do tratamento, na época de Fauchard, era de ordem estética, e se consideravam somente os dentes anteriores. Alguns de seus métodos incluíam desgastes, extração e luxação de dentes em má posição. O inglês [ohn Hunter, aproximadamente na mesma época, também sugeria extração e reimplantação na correção das irregularidades, tendo introduzido um plano inclinado para a movimentação vesti- bular dos dentes anteriores superiores, na cor- reção da mordida cruzada anterior, resultante de prognatismo mandibular. A introdução da correção das irregularida- des de posição dos dentes ocorreu em 1839, quando, em um dos primeiros números do "American Journal of Dental Science", B.A. Rodrigues descreveu o emprego daquele plano inclinado, na correção das mordidas cruzadas. Até 1840, a odontologia não se servia de nomenclatura própria e dependia completa- mente de termos médicos e antropológicos. WilliamRogers, em 1845,publicou o primeiro dicionário de termos dentários. Foi nesta épo- ca que a palavra "Ortodontia" começou a ser adotada, tendo se originado dos trabalhos de Le Foulon que reservou o termo "orthodonto- sie" para o "tratamento das deformidades congênitas e acidentais da boca". Chapin Har- ris, em 1849,modificou-a para "ortodontia", em seu "dicionário de ciência dentária". Com a introdução da borracha vulcaniza- da, a natureza dos aparelhos dentários come- çou a se modificar. Até então, a maioria dos aparelhos ortodônticos consistia no emprego de bambu, cunhas de madeira, placas cons- truídas de madeira, alguns arcos metálicos de ouro. Chapin Harris, em 1842, assim descre- via seu aparelho e o correspondente trata- mento: "... isto (Fig.3.1) representa um mode- lo de gesso dos dentes, borda alveolar, arco palatino, e o aparelho empregado para a repa- ração da deformidade. Primeiramente foram extraídos os segundos premolares e, então, através de amarrilhos aplicados entre os se- gundos molares e primeiros premo lares e adaptados a uma banda de ouro na parte ex- terna da arcada e renovados diariamente, conseguiu-se que os dentes fossem levados às suas posições, em onze semanas; feito isto, observou-se um espaço de, aproximadamen- te, um oitavo de polegada entre os caninos e os primeiros premolares, o que foi fechado, trazendo para trás, com amarrilhos, aqueles primeiros dentes em direção a estes últimos". A descrição continua, informando como cada Fig. 3.1 - Desenho demonstrativo do tratamento ortodôntico no arco superior, segundo a descrição de Chapin A. Harris, em 1842. ente dos anteriores, foi movimentado para a posição final. Na arcada inferior (Fig. 3.2), uma placa de ouro foi estampada e adaptada aos primeiros e segundos molares, após a ex- tração dos primeiros premolares. À custa de botões de ouro, soldados em cada lado deste duplo dispositivo, foi empregado amarrilho que se adaptou anteriormente, ao redor dos caninos. Harris continua: "Através deste pro- cedimento, os caninos podem, no espaço de 15 a 20 dias, ser levados aos premolares. Se, no entanto, não forem movimentados em di- reção à parte interna da borda alveolar, o amarrilho externo pode ser abandonado após alguns dias e o interno completará o restante da operação". A retração anterior foi, então, conseguidacom um arco lingual que, através de amarrilhos, tracionava os incisivos diaria- mente, até chegarem à posição final. Harris também chamou a atenção para a circunstância de que "quanto mais cedo seja corrigida a irregularidade de posição dos dentes, melhor, porque o tempo prolongado em que o dente possa ficar numa posição er- rônea, dificulta o ajustamento". O autor ainda chamou a atenção para a remoção da causa da irregularidade, a fim de que a estabilidade do resultado pudesse ser esperada. Disse que na hipótese da irregularidade "... ser o resultado da estreiteza dos maxilares, mesmo natural ou adquirida, sempre deveria ser removido um dente permanente de cada lado para se conseguir espaço". Assim, podem-se ver pu- blicados há 130 anos atrás, conceitos gerais básicos para a ortodontia de hoje. Chapin Harris foi naquela época somente um dos muitos homens que formularam con- ceitos básicos sobre a correção das irregulari- dades de posição dentária. Outros que podem ser citados foram: Talbot, Farrar, Mortiner, Brown, Delabarre, Fox, Hunter, Hurlock e ain- da um homem de grande importância nesse período, Norman Kingsley. Kingsley, na década de 1860, introduziu a ancoragem occipital. Desenvolveu também uma placa de mordida que serviu de modelo para muitas modificações, tendo sido cogno- minado, por Edward H Angle, de "o maior gênio da ortodontia". Kingsley foi o primeiro diretor da Escola de Odontologia de Nova York. Escreveu, em 1880, "Tratado das defor- midades bucais como um ramo de Cirurgia Mecânica", em que defende a extração de dentes em casos selecionados, não se envol- vendo, no entanto, nas polêmicas existentes então a respeito. do assunto. Muitos dos pro- Fig. 3.2 - Desenho demonstrativo do tratamento ortodôntico no arco inferior, segundo a descrição de Chapin A. Harris, em 1842. 24 ORTODONTIA - BASES PARA A INICIAÇÃO tarde empregada por Hawley na dentadura normal, como guia de forma e simetria. Anglepublicou o primeiro trabalho em 1887, cujo título foi "Notas em Ortodontia, com um Novo Sistema para Normalização e Contenção". Esta publicação foi a base para a primeira edição do livro "Maloclusões dos Dentes", que enfrentou fortes críticas e oposi- ções. Suas idéias eram consideradas heréticas e, ao tentar convencer os colegas de que um dentista poderia viver e sustentar muito bem a família, alinhando dentes, foi ridicularizado. Sentiu-se abatido e amargurado por aquela reação mas jurou que jamais viria a se deixar novamente ser assim vulnerável. Apresentou alguns trabalhos a associações e chegou a pa- tentear todas suas invenções antes de torná- Ias conhecidas. Falando na Sociedade Dentária de Ne- braska, em 1890, Angle afirmou "... até que a ortodontia seja estudada e praticada como um ramo distinto da odontologia, ela nunca terá o sucesso que merece ... Deveria existir especialis- tas em ortodontia em cada cidade ou comuni- dade de todo tamanho e o clínico geral deveria enviar, livremente, os pacientes ao especialis- ta ...", Concluiu que isto nunca seria conseguido a não ser que os métodos de educação dentária, apodrecidos e vergonhosos, fossem abolidos, bem como novos princípios fossem ensinados para a rejeição da "prática danosa" de se extraí- rem dentes. Considerou o ano de 1896, "um marco da evolução ortodôntica". Foi o ano em que ele iniciou um ataque vigoroso, em termos profissionais, "contra o sistema em uso de se extraírem dentes". Nesta luta deixou-se influen- ciar fortemente por I.B. Davenport, um dentista americano em Paris, que ensinava e abraçava, com ênfase, a idéia da superioridade funcional da oclusão normal, afirmando que sempre que o número de dentes fosse reduzido, o paciente perderia um décimo ou mais da força de masti- gação. Angle lembrava a conveniência da movi- mentação dos dentes mal posicionados em dire- ção a uma situação normal, através de meios mecânicos, tendo consolidado esta conduta através de seus ensinamentos ortodônticos nos Estados Unidos. Acreditava que "... o melhor equilíbrio, a melhor harmonia, as melhores pro- porções da boca nas suas múltiplas relações, re- queriam a presença de todos os dentes e que gressos iniciais de nossa especialidade foram devidos ao pioneirismo de Kingsley. Ele enfa- tizou o pensamento biológico relacionado a tratamento, bem como a técnica de aparelhos bem construí dos e adaptados. Desenvolveu uma técnica de expansão da arcada superior, com bastões de madeira e plano de mordida em vulcanite para a correção das protrusões superiores sem extração. O plano deslocou a mandíbula para frente, em oclusão com a ar- cada superior, mudando a mordida. Esta con- duta foi precursora de muitos trabalhos de Case, Baker e Hawley. [ohn N. Farrar, em 1888, publicou "Trata- do sobre as irregularidades dos dentes e suas correções" que é a primeira publicação dedi- cada inteiramente à ortodontia e foi tida como um marco histórico, baseado em vinte anos de experiência prática, com inúmeros conceitos sobre "Sistemas Positivos" para a movimentação dentária. Estes aparelhos, es- tranhos e volumosos, foram denominados por Farrar "máquinas e armamentários orto- dônticos" e originaram a era da mecanotera- pia, na especialidade. EDWARD HARTLEY ANGLE Nesta época surgiu um nome que deveria influenciar profundamente o desenvolvimen- to de nossa especialidade nos Estados Unidos e no mundo. Foi um homem de grande visão e força de vontade, talento e sensibilidade, extremamente perfeccionista, cuja imaginação se projetou através dos tempos justificando o aparecimento de uma especialidade dentária organizada, a merecer total respeito. Este ho- mem foi Edward Hartley Angle, nascido na Pennsylvania em 1855. Graduou-se em escola de odontologia em 1878, tendo trabalhado vá- rios anos na profissão quando contraiu grave pneumonia. Após abandonar a clínica, seguiu. para Montana preocupado com a saúde. Em Minnesota recomeçou a trabalhar na clínica. Em 1885 e 1886 foi indicado para a Cadeira de Ortodontia na Universidade local. Nesta épo- ca, Angle foi fortemente influenciado pelo pai da prótese científica William Bonwill, princi- palmente em hereditariedade e oclusão. A técnica de Bonwill na medição dos dentes e disposição dos mesmos nas arcadas, foi mais cada dente ocupasse urna posição normal". Em 899classificoua oclusão "...baseado na relação mésio-distal dos dentes, arcadas dentárias e maxilas,o que estava primariamente dependen- te das posições mésio-distais assumidas pelos primeiros molares permanentes, durante a erupção e intercuspidação". Quando este con- ceito de classificaçãofoi apresentado pela pri- meira vez, Angle deparou com sorrisos e des- prezos. Mais urna vez, teve de ir avante por si próprio, assumindo a tarefa de tomar suas teo- rias reconhecidas profissionalmente, admitindo que para isso deveriam ser ensinadas em sua própria escola.Assim, em 1900 foi fundada em Saint Louis, no Missouri, a EscolaAngle de Or- todontia. Nessa época, o livro de textos publica- do por Angle, "SistemaAngle de Normalização e Contenção dos Dentes e Tratamento das Fra- turas Maxilares", estava na quinta edição e era bastante procurado. E.H. Angle teve inúmeros adversários du- rante sua carreira ortodôntica. No começo do século, seu crítico principal talvez tenha sido Calvin S. Case, outro grande pioneiro, profes- sor e pesquisador em ortodontia. Formou-se em odontologia (1871) e medicina (1884) e em 1896, foi professor de ortodontia no Colégio Chicago de Cirurgia Dentária. Tinha profun- do interesse na reabilitação de fissuras palati- nas, escreveu extensamente sobre diagnóstico ortodôntico, aparelhos e problemas relativos à movimentação dentária. Batia-se, nos seus en- sinamentos, pela flexibilidade de pensamento e combateu, amargamente, Angle e seguido- res, sobre as extrações dentárias. Ponderava que os pacientes não deveriam ser tratados sob um modelo único e que, em determina- dos casos, as extrações deveriam ser conside- radas. Alguns dos debates a respeito chega- ram a atingir proporções violentas. Em 1900, o "aparelho normaliza dor de Angle" foi patenteado, o que provocou acirra- das críticas. Eram vendidos montados em car- tões, facilmente obtidos em qualquer fornece- dor de artigos dentários. Através de uma téc- nica de soldagem bem simples, o dentista providenciava a montagem do aparelho. Esta foi a era dos "aparelhos de estoque", critica- dos severamente por Calvin Case e outros. Case dizia que o profissional deveria fazer os seus próprios aparelhos e que o emprego des- tes, sem treinamento adequado, redundaria em resultados desastrosos. Lamentava que o único lugar onde se aprendia os detalhes para a fabricação do aparelho de Angle, era na pró- pria escola de Angle. Muito pouco era publi- cado a respeito e os que se aventuravam a fabricar os aparelhos, incluindo o próprio Case, experimentavam grandes dificuldades e pouco sucesso. Após grande pressionamento, finalmente, Angle concordou em ministrar aulas e fornecer instruções para a construção da aparelhagem ortodôntica. Insistia em que todo aparelho era somente um meio para se atingir um fim, devendo-se emprestar maior importância aos conceitos gerais de tratamen- to. Manteve-se Angle na direção de sua escola até 1928, com 150 alunos formados, dos quais surgiram muitos dos maiores líderes da orto- dontia. Entre eles estavam Dewey, Noyes, Hollrnan, Ketcham, Mershon, Pollack, Brodie, Weinberger, Hahn e Tweed. O gênio da mecânica que foi Angle, permi- tiu que fossem estabelecidas as bases para .muitos dos tratamentos de hoje, em uso nos Estados Unidos. Algumas das contribuições de Angle foram: introdução das ligas de ní- quel-prata (1887), rosca de tração, solda de prata, arco "E" (1890), ancoragem occipital modificada (1891), ancoragem oclusal, gram- po de ajuste (1892), moldeiras de impressão (1894), fios moles delatão para amarrilhos (1895), alicates para construção de bandas (1898), casquete para ancoragem e mentoneira de retração (1899), porca de fricção, amarri- lhos de metal (1902), contenção funcional (1910), aparelho de pino e tubo (1911), apare- lho de arco cinta (1915), aparelho de arco de canto (1925) e outros. São atribuídos a Angle 40 invenções, 43 patentes, e mais de 60 trabalhos publicados. Angle afirmava que a idéia de se banda- rem os dentes devia ser atribuída a W.E.Ma- gill, em 1871. Evolução do Aparelho de Arco de Canto O primeiro dos aparelhos de Angle foi o Arco E (1890), simples e capaz de conseguir um correto alinhamento dos dentes. Foi o pri- meiro aparelho a empregar ancoragem estaci- 26 ORTODONTIA - BASES PARA A INICIAÇÃO onana ou controle dos dentes molares para ancoragem. Apertavam-se bandas nos mola- res, com tubos vestibulares rosqueados, com o arco de expansão também rosqueado para co- nexão com os tubos. Os dentes em maloclusão eram bandados com dispositivos colocados apropriadamente, para correção das rotações e eram amarrados individualmente ao arco vestibular expandi- do. Dr. Angle reconheceu as desvantagens desta técnica quanto ao controle individual dos dentes, tendo, então, introduzido o apare- lho de pino e tubo (1911), o primeiro a utilizar bandas e acessórios na maioria dos dentes. Era um aparelho extremamente complicado e de difícil construção. Era necessária a existên- cia de paralelismo entre os tubos nas bandas e os pinos soldados nos arcos. A cada movi- mento de um determinado dente era necessá- rio modificar-se a posição do pino. Era ainda impossível o controle das rotações. Em 1915 ele introduziu o Arco Cinta. To- dos os dentes eram bandados e os braquetes deste tipo de aparelhagem foram, na realida- de, os primeiros a serem empregados em tra- tamento ortodôntico. O arco cinta era um arco retangular, cuja maior dimensão transversal era colocada inciso-gengivalmente. Era do- brado e adaptado passivamente à maloclusão, com fechos de pino prendendo o arco aos bra- quetes. A correção .da maloclusão era conse- guida através da movimentação de segmen- tos das arcadas em direção ao ideal, solicitan- do-se um ou dois dentes, por vez. Este apare- lho permitia correção das rotações e movi- mentos em todas as direções, com exceção da mésio-distal. Esta deficiência tornava impos- sívelo emprego do aparelho nos casos de ex- tração e também não permitia a inclinação distal dos segmentos posteriores nos proble- mas de ancoragem. O desenvolvimento do mecanismo relati- vo ao Arco Retangular (1925) verificou-se pouco antes da morte de Angle. Basicamente, consistiu na mudança do arco cinta, de forma que a dimensão ativa do arco retangular foi a vestíbulo-lingual e não a inciso-cervical. Em outras palavras, o arco, antes adaptado como cinta, passou a ser colocado "de canto". Esta nova posição permitiu a movimentação dos em todas as direções, além de conside- rar uma nova dimensão mecânica, o "torque". Desta forma, não somente foram possíveis movimentos específicos de coroa, mas tam- bém os individuais de raiz. Com a introdução desta nova mecânica, surgiram também importantíssimos conceitos relativos a tratamento, como, por exemplo, o conceito de Angle sobre o "Arco Ideal". A for- mação de um arco ideal, a partir do estágio de nivelamento, considerou aspectos como: for- ma básica, tamanho e posição que o dente deve assumir na posição final na arcada. Presentemente, os conceitos básicos deste aparelho mantêm-se inalterados apesar de te- rem sido formulados para o emprego somen- te nos casos em que as extrações não fossem consideradas. Já se propuseram muitas varia- ções e modificações, desde a introdução des- tes conceitos, porém sempre de ordem mecâ- nica, sem fugir aos princípios que nortea am os conceitos originais de tratamento. Educação Ortodôntica No começo do Século XX, a ortodontia dos Estados Unidos se colocava dentro dos se- guintes itens: 1. Os problemas biológicos em diagnóstico e tratamento eram considerados de impor- tância secundária. 2. Era prestada pouca atenção ao estudo da oclusão. 3. As extrações dos dentes eram, geralmente, recomendadas. 4. Ignorava-se, em geral, a prevenção duran- te o desenvolvimento de problemas orto- dônticos. 5. Raramente se iniciava tratamento antes do irrompimento de todos os dentes perma- nentes. 6. O alvo principal do tratamento era a estética. 7. A fase mecânica do tratamento era consi- derada com prioridade. 8. Sistemas particulares de tratamento eram intensamente promovidos e recomenda- dos, quase sempre com exclusão de outros métodos. 9. Nos currículos das faculdades de odonto- logia era reservado muito pouco tempo à ortodontia. 10.Nenhuma escola ministrava ortodontia nos cursos de graduação e mesmo nos cur- sos de extensão, não havendo também, na época, escolas particulares. 11.Aparelhos padronizados eram vendidos nas casas de artigos dentários, acompa- nhados de instruções para o uso, totalmen- te inadequadas. 12.Muitos que se dedicavam à correção das maloclusões não possuíam a menor infor- mação sobre os princípios envolvidos. Como era reconhecido por Angle, o ensino da ortodontia nesta época era totalmente ina- dequado. Dedicava-se total importância na construção de aparelhagem, o que redundava sempre numa tendência de se perpetuarem os tipos mais primitivos de tratamento. O pro- fessor dedicava poucas horas na semana para mostrar alguns casos aos alunos, que se mos- travam totalmente desinteressados. Emprega- vam-se na demonstração, velhos aparelhos de origem alemã, quase sempre sem laboratórios adequados para o trabalho com fios, tubos e construção de dispositivos acessórios. Quanto mais complicada a maloclusão, mais comple- xa e inoperante a aparelhagem. Após o pri- meiro curso pós-graduado na Escola Angle (1900), a ortodontia passou a merecer maior atenção nos meios odontológicos. Os objeti- vos de Angle em sua escola era o ensino de arte: rinologia, embriologia, histologia, anato- mia comparada e anatomia dos dentes e ma- xilas, sempre em bases voltadas para a oclu- são. Havia também tratamento de casos clíni- cos. Ensinava-se arte a fim de se ministrarem aos estudantes um refinado senso de estética facial. Era opinião de Angle que a anatomia comparada era "a base de toda a odontologia e, especialmente, a ortodontia, porque somen- te através do estudo comparativo dos dentes de animais é que se aprende oclusão da den- tadura humana e os inúmeros níveis de .de- senvolvimento que levam aos estágios de nor- malidade ou anormalidade. Em virtude das escolas de odontologia não se terem modificado quanto à ortodontia e à atenção que os assuntos ligados à ortodontia pudessem merecer, tornava-se difícil a contra- tação de professores realmente capazes neste campo. As escolas, então, permitiam a partici- pação dos estudantes em clínica ortodôntica, na medida em que houvesse interesse pessoal em torno dos casos que, na clínica, eram acei- tos indistintivamente para tratamento. A maioria dos pacientes não sofria supervisão clínica e os estudantes, pressionados por ou- tros departamentos, pouco se interessavam pelos tratamentos ortodônticos. Não havia planificação de tratamento e os progressos clí- nicos eram tão deficientes, e não se viam fina- lizações. Isto não motivava os estudantes, cujo desinteresse pela ortodontia se prolonga- va por toda a vida profissional. Nos meados da década de vinte, muitas escolas se viram obrigadas a suprimir os de- .partamentos de ortodontia a fim de se elimi- narem .os problemas mencionados. O ensino da ortodontia nas escolas se limitavam a pou- cas aulas teóricas e algumas demostrações. Se, por acaso, algum estudante demonstrasse al- gum interesse especial por pro lemas orto- dônticos, deveria procurar escolas particula- res, após a graduação.Destas escolas havia três: Escola Angle, Escola Dewey e a Escola Internacional. Estas eram os principais núcle- os formadores de ortodontistas nos Estados Unidos, ao redor de 1925,quando o primeiro curso de graduação em ortodontia surgiu numa escola de odontologia. Entre a primeira e a segunda Guerra Mun- dial, havia menos de uma dúzia de escolas que ofereciam curso graduado de ortodontia, cuja extensão variava de 4 meses a 2 anos. A partir da Segunda Guerra Mundial, o número de cursos graduados de tempo integral atin- giu 50 em todos os Estados Unidos, com du- ração de 18 a 24 meses. Atualmente, em cada ano, 400 ortodontistas, aproximadamente, completam seus estudos, nos Estados Unidos. Ortodontia como Especialidade O sonho de E.H. Angle, por muitos anos, foi fazer da ortodontia a primeira especiali- dade no campo de odontologia, com o mes- mo prestígio na comunidade profissional o qual esta já merecera como ciência e arte. Começou lutando pela elevação dos níveis educacionais e mesmo fundando sua própria escola. Liderou também a luta contra as "fá- bricas de diploma", angariando, assim, maior respeito para o ortodontista qualifica- do. O passo seguinte foi organizar-se em "es- pecialização" que, através de seu trabalho, se conseguiu em 1901. Ao mesmo tempo em que no além-mar, a Guerra dos Bures terminava e assinavam-se tratados de paz com os índios Oklahoma, E.H. Angle presidia, em sua primeira reunião, a Sociedade Americana de Ortodontistas. O segundo artigo dos regulamentos desta nova entidade caracterizava a "Ciência da Orto- dontia" como a primeira especialidade odon- tológica a se organizar. Angle desejava que a filiação a ela fosse estritamente de ortodontis- tas, mas contra sua vontade, os primeiros membros eram constituídos por estudantes, dentistas não especialistas com interesse em ortodontia e mesmo professores de ortodontia e prótese. Organizou-se a instituição sempre com a intenção de se eliminarem, tanto quan- to possível, aspectos políticos, pois Angle acreditava que a política levava à destruição, as organizações daquele tipo. Em 1917, o número de sócios da "Socieda- de Americana de Ortodontistas", mais tarde, "Associação Americana de Ortodontistas", começou a crescer, sendo hoje acima de 4000 membros em todo o mundo. A Comissão Americana de Ortodontia (American Board of Orthodontics), a segunda comissão médica ou dentária para exame de especialistas nos Esta- dos Unidos, foi fundada em 1930 pela AAO. BIBLIOGRAFIA 1. ANGLE, E.H. - The Angle system of regulation and retention of the teeth and tratment of fractures of the maxilla. 5. ed. Philadelphia. S.S. White, 1897. 2. ANGLE,E.H. - Classification of maloclusion. Dent. Cosmos, 41(3):248-64, Mar.; (4):350-7. Apr.1899. 3. ANGLE, E.H. - Establishment of normal occlusion. Int. J. Orthodont. oral Surg., 11:597, 1925. 4. ANGLE,E.H. - Malocc/usion of the teeth. 7. ed. Philadelphia, s.s. White, 1907. 5. ANGLE, E.H. - Some of the principles to be considered in the treatment of irregularities of the teeth and fracture of the maxillary bones. Dent. 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Sua constante observação, aqui transcre- vemos: "... se vocês podem resistir, consciente- mente, à maléfica tendência de errar, à perma- nente tentação que todos, eu e vocês, temos para nos enganar, até que tenhamos formado o hábito de oferecer somente o melhor, seja nos estudos, nas reflexões ou no trabalho clí- nico, tão bem se desenvolverá nosso caráter que jamais será permitido o erro, e se algum trabalho não for considerado excelente, não haverá descanso até que as imperfeições se- jam sanadas". Inieresi., 28:421-6,1906. 7. ANGLE, E.H. - In: American society of Orthodontics. Meetings. 1901-1906(1902),p. 48- 62. 8. BRODIE,A.G. - Orthodontic education. In: Vistas in Orthadantics. 1962.p. 37-44. 9. CASTRO, F.M. - The trend of orthodontic treatrnent. Int. J. Orthadant. Oral Surg. Radiol., 16(10):1078-92,Oct. 1930. 10.CIVIN,L - An historical review of the process of orthodontics from 1840 to 1940. Amer. J. 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N TIS T E. ~ 5 S quis de Murs' & petitfils de M.le Pré- vót des Marchands de Paris , avoit les dClIx denrs laréralcs , ou moycnncs in ..• cifives , dérangécs & rres inclinées vers lc palais ; ie les .arrangeai avec le fil & Ia Iam e d'argent ; ce qui me réuffit· par- fairernenr bicn , en cinq fcmaines de tcrns. IV. OBSERVATION. Concernant plufieurs Dents incifi- -.;es dérangees & inclinées en différens fins • . En Ia même année T 723. on ame- na chez moi le fils de M. de Verville Ecuyer de Ia petite Ecurie du Roi. Ce jeune homme éroit ftgé d'environ dix à douze ans : 11 avoit deux dents inciíives de: Ia machoire inférieure fort dérangées & inclinées du côré de Ia langue , une troiíiéme 'inciíive de Ia mêrne rnachoire panchée & un peu croiíée fut l'une des deux dents pré- cédentes : Le dérangernent de fes dents ne fe bornoit pas Ieulcmene au défordre & à Ia confiiíion, de celles de Ia rnaehoire iníérieure , les denrs de Ia machoire íupérieu- re éroient autIi mal arr~niées quec~l. 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