Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS RODRIGO MIRANDA PEREIRA Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para obter o título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia. Área de Concentração: Deontologia e Odontologia Legal. São Paulo 2003 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS RODRIGO MIRANDA PEREIRA Dissertação apresentada à Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para obter o título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia. Área de Concentração: Deontologia e Odontologia Legal. Orientador: Prof. Dr. Moacyr da Silva São Paulo 2003 A DEUS, Inteligência Suprema e Causa Primária de todas as coisas, que é a razão de minha existência. À minha querida esposa Anna Andréa e ao amado filho Germain, pelo amor, carinho e união, dedico esta dissertação. Ao Professor Doutor Moacyr da Silva, um amigo que me cativou pela sua humildade e sinceridade. Ao Professor Doutor Jorge Sousa Lima, que aprendi a admirar pela sua dedicação e grande contribuição à Odontologia Legal no Brasil. Ao Amigo e Professor Sérgio Augusto Wanderley Pinto de Oliveira, o reconhecimento pelo incentivo a mim dispensado, e principalmente pelo sábio conselho para que eu cursasse Direito, a minha eterna e saudosa gratidão. Aos meus pais, Newton e Niza, que ensinaram - me o caminho do amor e a importância da Educação. AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Dalton Luiz de Paula Ramos, Vice-Coordenador do Curso de Pós–Graduação em Deontologia e Odontologia Legal da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), pelo apoio, amizade e ajuda nos primeiros passos no campo da Bioética. À Professora Doutora Maria Ercília de Araújo, chefe do Departamento de Odontologia Social da FOUSP, pela sua dedicação e apreço. Aos Professores Doutores do Departamento de Odontologia Social da FOUSP, Ida Tecla Prellwitz Calvielli, Hilda Ferreira Cardozo, Rodolfo Francisco Haltenhoff Melani, José Leopoldo Ferreira Antunes e Rogério Nogueira de Oliveira, pela competência e amizade. Ao Comando da Aeronáutica do Brasil, especialmente nas pessoas do Major Aviador Ricardo Magno Silva Rosa e Major Aviador Wagner Cyrillo Júnior (SERAC 4), e do Capitão Dentista Nélson Shikio Cawagoe (Hospital da Aeronáutica), pela atenção, generosidade e empenho na elaboração do trabalho. Aos colegas do curso de Pós-graduação em Deontologia e Odontologia Legal da FOUSP: Aiko, Cecília, Cilene, Evelyn, Fábio, Fernando, José Reynaldo, Julie, Leonardo, Luciana, Luís Cherubini, Luís Fernando, Márcio, Mutsumi, Nilcéa, Plínio, Regina, Sara, Solange, Tatiana, Ulisses e Vítor, pela nossa união, alegrias e amizade. À Secretária do Curso de Pós-graduação em Deontologia e Odontologia Legal da FOUSP, Marieta Trancoso de Castro, pelo carinho e atenção dispensados. Às Funcionárias do Departamento de Deontologia e Odontologia Legal da FOUSP, Andréia dos Santos Teixeira e Sônia Castro Lúcia Lopes, sempre solícitas e prestativas. À Bibliotecária Luzia Marilda Zoppei Murgia Moraes e Cidinha (???), pelo carinho, serenidade e eficiência. À amiga Albanita Bandeira, pelo apoio e dedicação na elaboração do Summary. SUMÁRIO p. LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS RESUMO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................1 2 REVISÃO DA LITERATURA .....................................................................6 2.1 Identidade e identificação ..........................................................................7 2.2 Aspectos legais para o exercício da odontologia...................................9 2.3 Acidentes aeronáuticos ............................................................................11 2.4 O terrorismo na aviação civil ...................................................................13 2.5 Serac 4: a segurança é o resultado .......................................................16 2.5.1 Excelência do transporte aéreo brasileiro .............................................19 2.6 Acidentes aeronáuticos e as fases do vôo............................................20 2.7 Desastres de massa .................................................................................22 2.8 Métodos de identificação .........................................................................27 2.8.1 Reconhecimento visual............................................................................28 2.8.2 Roupas e pertences pessoais.................................................................29 2.8.3 Exame das impressões digitais ..............................................................30 2.8.4 Exame odontológico .................................................................................30 2.9 Efeito do tempo, do terreno e do fogo sobre os dentes e materiais utilizados em odontologia.................................................................36 2.9.1 Efeitos do fogo..................................................................................37 2.9.2 Efeitos do fogo em restaurações e na boca .........................................40 2.9.3 Mandíbula e maxila...........................................................................40 2.9.4 Esmalte .......................................................................................................41 2.9.5 Dentina e cemento ....................................................................................41 2.9.6 Restaurações em amálgama ..................................................................42 2.9.7 Resinas compostas...................................................................................42 2.9.8 Restaurações em ouro, porcelana e próteses......................................43 2.9.9 Tratamento de canal.................................................................................43 2.10 A importância da radiografia dentária ....................................................46 2.11 Radiografia digital na odontologia legal.................................................49 2.12 Radiografias panorâmicas e sua utilização nas especialidades odontológicas.............................................................................................52 2.13 Exame médico e radiológico ...................................................................55 2.14 Exame antropológico ................................................................................56 2.15 Identificação por exclusão .......................................................................57 2.16 O odonto-legista no desastre de massa................................................58 2.16.1 Fatores internos e externos que dificultam a identificação odonto - legal em desastres de massa..................................................................68 2.17 Procedimentos de identificação utilizados pela força de defesa de Israel (I.D.F) ..............................................................................................73 2.18 A identificação de vítimas de desastres de massa pela INTERPOL 75 2.19 A odontologia legal e o acidente aeronáutico.......................................78 3 PROPOSIÇÃO...........................................................................................87 4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................88 4.1 Amostra.......................................................................................................884.2 Coleta de dados ........................................................................................91 5 RESULTADOS ..........................................................................................92 5.1 Número de odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal ..........92 5.2 Regime de trabalho dos odonto -legistas nos IMLs..............................93 5.3 Tipos de aparelhos de raios X odontológicos disponíveis nos IMLs para a realização de perícia de identificação humana........................94 5.4 A importância do odonto-legista para a identificação humana em acidentes aeronáuticos ............................................................................96 6 DISCUSSÃO..............................................................................................98 6.1 Considerações gerais...............................................................................98 6.2 Planejamento prévio de desastres de massa.....................................100 6.3 A identificação de corpos carbonizados em acidentes aeronáuticos.............................................................................................104 6.4 A importância das radiografias dentárias para a identificação ........105 6.5 Análise dos resultados da pesquisa/odonto -legistas nos Institutos de Medicina Legal e equipamento de raios-x odontológicos ............... 109 6.6 Da importância do odonto-legista na identificação humana em acidentes aeronáuticos ..........................................................................119 6.7 Considerações finais ..............................................................................119 7 CONCLUSÕES........................................................................................121 ANEXOS .................................................................................................................123 REFERÊNCIAS .....................................................................................................129 SUMMARY APÊNDICES LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 - Índice mundial de acidentes aeronáuticos, por milhões de decolagens ..........................................................................................19 Figura 2.2 - Percentual de ocorrência de acidentes aeronáuticos por fase de vôo (vôos de 1:30 h em média) .......................................................21 Figura 2.3 - Notação dentária de dois dígitos preconizada pela Federação Dentária Internacional – FDI.............................................................34 Figura 2.4 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico em Lockerbie, 1988 ..................................................................................83 Figura 2.5 - Métodos de identificação empregados no desastre aeronáutico em Sainte-Odile (França), 1992.......................................................84 Figura 2.6 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico nas Ilhas Canárias, 1977 ..........................................................................86 Figura 4.1 - Questionários respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal – Brasil 2003.....................................................90 Figura 5.1 - Distribuição do número de odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal, quanto ao regime de trabalho – Brasil 2003.....94 Figura 5.2 - Panorama dos equipamentos de Raios X odontológicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal para o trabalho dos odonto-legistas – Brasil 2003 .................................................96 Figura 5.3 - Importância do odonto-legista na Identificação Humana em Acidentes Aeronáuticos. Brasil 2003 ..............................................97 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 - Número de acidentes aeronáuticos, vítimas fatais e frota da aviação civil brasileira no período de 1995 a 2002 – Brasil, 2003 ...................................................................................................21 Tabela 2.2 - Estado dos cadáveres por ação de agente térmico no acidente TAM – Vôo 402. Brasil, 1996 .........................................................24 Tabela 2.3 - Estado dos cadáveres quanto à ação de agentes mecânicos e os locais de perdas anatômicas, acidente TAM – Vôo 402, Brasil 1996 ........................................................................................25 Tabela 4.1 - Ranking dos aeroportos segundo tráfego de passageiros. Brasil, 2002...............................................................................89 Tabela 4.2 - Relação de data da postagem nos Correios dos questionários respondidos pelos Diretores dos IMLs....................................91 Tabela 5.1 - Número de odonto-legistas que trabalham nos Institutos de Medicina Legal por cidade pesquisada. – Brasil 2003.............92 Tabela 5.2 - Distribuição dos Odonto-Legistas nos IMLs de acordo com o regime de trabalho. – Brasil 2003.............................................93 Tabela 5.3 - Tipos de Aparelhos de Raios X odontológicos disponíveis nos Institutos de Medicina Legal - Brasil, 2003..............................95 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico CENIPA Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos DAC Departamento de Aviação Civil DDVI Identificação Dentária de Vítimas de Desastres DIPAA Divisão de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos DVI Identificação de Vítimas de Desastres FDI Federação Dentária Internacional FSF Flight Safety Foundation GASAG Grupo de Assessoramento e Segurança da Aviação Mundial HASP Hospital de Aeronáutica de São Paulo IML Instituto de Medicina Legal INTERPOL Organização de Polícia Internacional INTERPOL DVI Comitê Permanente para Identificação de Vítimas de Desastres SERAC Serviços Regionais de Aviação Civil RESUMO A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS O objetivo deste estudo foi verificar a importância da Odontologia Legal na identificação humana em acidentes aeronáuticos e detectar a situação dos odonto-legistas e dos equipamentos de radiologia odontológica, nos Institutos de Medicina Legal, das cidades onde estão localizados os 20 (vinte) maiores aeroportos do Brasil, em movimento de passageiros obtidos no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002. Na revisão da literatura especializada e na análise de 18 (dezoito) questionários respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal pesquisados, verificou-se: O total de odonto-legistas que trabalham nestes Institutos de Medicina Legal é em número de 102 (cento e dois), sendo 79 (setenta e nove) odonto-legistas efetivos e 23 (vinte e três) odonto-legistas contratados. A maior parte destes Institutos de Medicina Legal (10 casos), não possui aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, equipamentos essenciais para a realização de perícias de identificação humana. O Instituto de Medicina Legal da cidade de Vitória e o da cidade de Campinas, não possuem odonto-legistas.Todos os 18 (dezoito) Diretores dos Institutos de Medicina Legal, por unanimidade, afirmaram que o trabalho do odonto- legista na perícia de identificação de vítimas de acidentes aeronáuticos, é muito importante. A situação atual da Odontologia Legal em grande parte dos Institutos de Medicina Legal pesquisados é deficiente tanto na quantidade de odonto-legistas, quanto na inexistência de equipamentos de raios X odontológicos, para realizar perícias de identificação humana, para realizar um trabalho importante de identificação, mediante a ocorrência de um acidente aeronáutico, que tem como uma de suas característicasprincipais, a falta de previsibilidade. O mais grave é que no Brasil, inexistem equipes especializadas e capacitadas para o trabalho de identificação de vítimas de desastres de massa – acidentes aeronáuticos. 1 INTRODUÇÃO A Odontologia Legal está intimamente relacionada com a identificação humana em acidentes aeronáuticos. Portanto, torna-se oportuno uma homenagem a Alberto Santos Dumont, que com seu invento, mudou a História da Humanidade. Filho do engenheiro Henrique Dumont e neto de François Dumont, joalheiro francês do século XIX, o brasileiro Alberto Santos Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873 em “Cabangu”, no distrito de João Gomes (atual Santos Dumont), em Minas Gerais. Os livros de Júlio Verne alimentaram seus sonhos. Devorou os livros: Cinco semanas em balão, Da terra à lua, Vinte mil léguas submarinas e A volta ao mundo em oitenta dias. Ficou fascinado com a história de Olivier de Malmesbury, o monge inglês, que construiu asas e se lançou do alto de uma torre no século XI. Estudou com afinco os trabalhos de Leonardo da Vinci sobre a estrutura das asas dos pássaros e admirou a tentativa da Bartolomeu de Gusmão que, em Lisboa no ano de 1709, conseguiu se elevar a 200 pés de altura. No século XIX, durante uma década inteira, o engenheiro Santos Dumont construiu e pilotou vários balões dirigíveis. Em 4 de junho de 1898, o dirigível Brasil atravessou a cidade de Paris, surpreendendo os INTRODUÇÃO RODRIGO MIRANDA PEREIRA 2 parisienses. A partir daí, suas invenções passam a atrair multidões. Resolveu então combinar o balão com um motor de explosão. Era o modelo Santos Dumont número 1. Em setembro de 1898, leva seu novo invento ao Jardin de l’Aclimatation. O balão sobe, mas termina batendo nas árvores do jardim. Dias depois ele tenta novamente. O balão alça vôo, mas na descida quase é destruído. Finalmente, evitando bater nas árvores, pousa normalmente, sem problemas. Dedicado a aperfeiçoar sua invenção, Santos Dumont parte para a construção do modelo Santos Dumont 2, que é maior que o anterior, tem a forma de um charuto e conta com um ventilador.O número 2 não dura muito. Bate de encontro às arvores e é destruído. Com o número 3, que vai de Vaugirard até o Campo de Marte, Santos Dumont consegue o mais absoluto controle do balão, faz curvas, sobe e desce sem dificuldades. O modelo Santos Dumont 3 é cilíndrico e o hidrogênio foi substituído por gás de iluminação. Em seguida o engenheiro constrói o modelo 4 em Saint Cloud. Essa aeronave tem um selim e um guidão de bicicleta. Santos Dumont ainda não tinha dezoito anos, quando na Exposição do Palácio das Indústrias em Paris, descobriu que os motores dos automóveis, mais leves que o das locomotivas a vapor, poderiam ser a solução para criar a máquina de seus sonhos. Antes da construção do número 6, Santos Dumont perde duas de suas invenções: os números 4 e o 5 são destruídos em acidentes. O Aeroclube de Paris oferece um prêmio em dinheiro a quem conseguir, INTRODUÇÃO RODRIGO MIRANDA PEREIRA 3 partindo de Saint Cloud, dar uma volta completa à Torre Eiffel e voltar em menos de trinta minutos. Em 12 de outubro de 1901, Santos Dumont completa a volta em trinta e um minutos com o balão número 6. O júri fica hesitante por causa da diferença de um minuto, mas a multidão ovaciona a performance e o prêmio é entregue ao brasileiro, que divide os cem mil francos franceses, com os técnicos, operários e colaboradores de sua equipe. Nessa altura, nosso aviador já é uma celebridade no mundo inteiro. É homenageado em Londres, recebe convite do Príncipe de Mônaco para construir um hangar e uma oficina no principado, é visitado pela viúva de Napoleão III. Por fim é contratado pelo Governo Francês a construir o primeiro aeródromo do mundo em Neuilly. Depois de construir o Santos Dumont 7 e saltar para o número 9 (porque não gostava do número 8), ele bati za o dirigível com o nome de Balladeuse. O Balladeuse fica famoso em Paris, porque o seu inventor passa a utilizá-lo como meio de transporte. Os modelos vão se sucedendo cada vez mais aperfeiçoados, até que, em 1905, surge o número 14, seguido pelo famoso 14-Bis. Finalmente chegou o dia da consagração, depois de várias tentativas. Avisou a todos que pretendia ganhar o Prêmio Archedeacon, criado pelo Aeroclube da França. No dia 23 de outubro de 1906, uma multidão se reuniu para assistir à proeza. Do Campo Bagatelle, junto da Torre Eiffel – na região central de Paris – Santos Dumont decolou no seu célebre 14-Bis, subiu a uma altura de três metros do solo, voando ao todo um percurso de sessenta INTRODUÇÃO RODRIGO MIRANDA PEREIRA 4 metros. Assim, o brasileiro conseguiu provar a dirigibilidade do seu invento, voando num aparelho mais pesado do que o ar, com propulsão própria. Com o 14-Bis, ganhou os Prêmios Aeroclube Archedeacon e foi carregado nos braços pela multidão que considerava um milagre a façanha de Santos Dumont. Os países civilizados passaram a construir fábricas, hangares e pistas. Iniciam-se as primeiras linhas postais e de passageiros. Atualmente, este meio de transporte é utilizado diariamente por milhões de pessoas em todo o mundo. Embora os irmãos norte-americanos Wright e o francês Clément Ader tivessem reivindicado a autoria da façanha, no mundo inteiro, Santos Dumont foi o pioneiro. Em 1998, o então Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, reconheceu oficialmente que Alberto Santos Dumont foi o verdadeiro “Pai da Aviação”. Comemora-se atualmente, em todo o mundo, o Centenário de Santos Dumont, em alusão ao prêmio oferecido pelo Aeroclube de Paris, conquistado pelo Pai da Aviação – Santos Dumont, que em trinta e um minutos no dia 12 de outubro de 1901, deu uma volta completa na Torre Eiffel, e retornou a Saint Cloud dirigindo o balão Santos Dumont número 6. (Centenário, 2001). Considerando este relevante marco histórico, a partir do qual o homem vence o tempo entre longas distâncias, com o objetivo de agilizar relações comerciais e turísticas, há de se considerar também a probabilidade de acontecimentos nefastos como os acidentes aeronáuticos, INTRODUÇÃO RODRIGO MIRANDA PEREIRA 5 que são provocados por falhas humanas, mecânicas, ou fatores meteorológicos, quando inúmeras pessoas perdem a vida. A Odontologia Legal contribui para esta difícil missão de identificação de corpos carbonizados, que são freqüentes nestes acontecimentos. 2 REVISÃO DA LITERATURA “Um dos aspectos irônicos do mundo natural é que a dentição humana, local de decomposição prevalente e crônica em vida, dura mais que todos os outros tecidos após a morte” – SOPHER, 1976. O incêndio no Bazar de La Charité em Paris, em 04 de maio de 1897, levou o Dr. Oscar Amoedo, cubano, naturalizado argentino, ao interesse da Odontologia Legal e, subseqüentemente, ele foi condecorado como o fundador deste ramo da Ciência Forense. O Bazar de La Charité tinha lugar em Paris desde 1885, e, em 1897, estava sendo realizado pela 13ª vez. Era um barracão retangular de madeira envernizada, com cerca de 72 (setenta e dois) metros de comprimento e 30 (trinta) metros de largura, com teto de lona. Este barracão era uma réplica de uma rua medieval parisiense com fachadas de casas e lojas de ambos os lados cobertas por tetos de lonas. Como atração especial, um cinema foi instalado na longa galeria, quase em frente de uma das saídas. Por volta de 16:00 horas, uma explosão ocorreu na lâmpada de gás do cinema e levou o fogo aos panos ao redor e internamente atingindo o teto da tenda, e rapidamente todo o seu interior ficou em chamas. Os bombeiros REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 7 iniciaram seus trabalhos às 16:23 horas mas toda a construção ruiu às 16:30 horas, matando 126 (cento e vinte e seis) parisienses nas chamas.Os registros das investigações feitas pelos Cirurgiões-dentistas envolvidos nesta tragédia, permitiram a identificação das vítimas, através dos dados odontológicos antemortem, e que formaram a maior parte da tese do Dr. Oscar Amoedo para o seu doutorado em 1898, relatou Botha (1986). 2.1 Identidade e identificação Para França (1995), o conceito de identidade segundo Morais: “É a qualidade de ser a mesma coisa e não diversa”. Carvalho et al. (1992) confirmaram que “de fato, todo o ser apresenta um conjunto de caracteres que o definem, que são a sua identidade. Uma cousa, um corpo, um ente só pode ser idêntico, a si mesmo, diferenciando- se assim o conceito de identidade do de semelhança”. Identificação segundo França (1995) “é o processo pelo qual se determina a identidade de uma pessoa ou de uma coisa, ou um conjunto de diligências cuja finalidade é levantar uma identidade”. Buchner (1985) confirmou que a identificação humana de corpos desconhecidos é essencial em sociedades modernas por razões jurídicas e humanas. Por lei, a maioria dos países requer que o atestado de óbito seja emitido para comprovar civilmente a morte de uma pessoa e como conseqüência, as questões que envolvem pensões alimentícias, seguros de vida, a nova situação civil do cônjuge, a preparação do funerário, que só é REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 8 realizado mediante o atestado de óbito. O sofrimento da família poderá ser diminuído, se o corpo é identificado e enterrado formalmente. Delattre & Stimson (1999) afirmaram que a percepção da população de que a Odontologia Legal é surpreendente e eficaz em sua atuação científica nos casos de identificação humana através do exame dos dentes, pois atualmente é comum nos jornais e noticiários a divulgação de que em acidentes graves quando a identificação das vítimas com a utilização de métodos tradicionais como a dactiloscopia, o reconhecimento visual estão prejudicados, a utilização dos registros dentais é um método vastamente conhecido para a identificação de corpos carbonizados. Para Delattre & Stimson (1999), todo o indivíduo merece a dignidade de ter um nome e uma identidade, até mesmo depois da morte. No mundo que vivemos hoje, existem várias maneiras nas quais nós podemos morrer sem a possibilidade de ter nossos corpos identificados por meios visuais ou pela comparação de impressões digitais ou até mesmo pela análise do DNA. Várias razões conduzem à identificação pelo exame dos dentes, por ser um método científico, rápido e de baixo custo. Botha (1986) afirmou que no resultado de um acidente aeronáutico, após o salvamento dos sobreviventes, a identificação das vítimas é a tarefa mais urgente que as autoridades enfrentam. O número de casos nos quais a identificação dentária desempenha um papel importante na identificação de vítimas de desastres de massa, está crescendo. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 9 2.2 Aspectos legais para o exercício da odontologia legal Conforme Silva (1997), “a Lei Federal 5081 de 24 de agosto de 1966, que regula o exercício da Odontologia no Brasil, estabelece: Art. 6º - Compete ao Cirurgião-dentista: IV – proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e em sede administrativa; IX – utilizar, na função de perito-odontólogo, em caso de necropsia, as vias de acesso do pescoço e cabeça”. O Conselho Federal de Odontologia através da Resolução CFO- 22 / 2001, de 27 de dezembro 2001, estabelece no seu artigo 4º, o elenco das especialidades odontológicas, entre as quais a Odontologia Legal, cujas atribuições encontram-se definidas nos artigos 27 e 28, nos seguintes termos: Art. 27. Odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem atingir o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. Parágrafo único: A atuação da Odontologia Legal restringe-se a análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de competência do Cirurgião-dentista, podendo, se as circunstâncias o exigirem, estender-se a outras áreas, se disso depender a busca da verdade, no estrito interesse da justiça e da administração. Art. 28. As áreas de competência para atuação do especialista em Odontologia Legal incluem: REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 10 a) identificação humana; b) perícia em foro civil, criminal e trabalhista; c) perícia em área administrativa; d) perícia, avaliação e planejamento em infortunística; e) tanatologia forense; f) elaboração de : 1) autos, laudos e pareceres; 2) relatórios e atestados; g) traumatologia odonto-legal; h) balística forense, i) perícia logística no vivo, no morto, íntegro ou em suas partes em fragmentos; j) perícia em vestígios correlatos, inclusive de manchas ou líquidos oriundos da cavidade bucal ou nela presentes; l) exames por imagens para fins periciais; m) deontologia odontológica n) orientação odonto-legal para o exercício profissional; e, o) exames por imagens para fins odonto-legais. Delattre (2001) afirmou que o odonto-legista trabalha como parte de uma equipe de pessoas dedicadas e talentosas: os peritos. Vítimas de incêndios em carros , residências, explosões em fábricas ou de acidentes aeronáuticos, que freqüentemente são carbonizadas e apresentam deformidades faciais, serão identificadas através de uma avaliação odonto- REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 11 legal com a comparação dos dados do odontograma antemortem e postmortem que conduzem a uma identificação positiva. 2.3 Acidentes aeronáuticos O Decreto Nº 70.050 de 25 de janeiro de 1972, do Ministério da Aeronáutica - Brasil, que trata do Regulamento para o serviço de investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos, estabelece a seguinte definição para Acidentes Aeronáuticos: Toda ocorrência relacionada com a operação de uma aeronave, havida dentro do período compreendido entre o momento em que qualquer pessoa entra na aeronave, com a intenção de realizar um vôo, até o momento em que todas as pessoas tenham desembarcado, durante o qual: a) qualquer pessoa morra ou receba lesões, como resultado de estar dentro ou sobre a aeronave ou, ainda, por ter contato direto com a mesma ou com qualquer coisa ligada a ela; b) a aeronave sofra danos. Informou Botha (1986), que o Instituto Britânico Cranefield de Tecnologia investigou acidentes aeronáuticos entre 1955 a 1979 e descobriu que em mais de 60% destes acidentes, metade das fatalidades foram causadas pela fumaça oriunda do fogo. Esta fumaça produzida no interior de uma aeronave em incêndio, pode incapacitar passageiros em 30 (trinta) segundos e uma pequena labareda pode se transformar em uma bola de fogo através do revestimento interno do plástico em segundos. A REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 12 Organização Internacional de Aviação Civil concluiu que o fogo é o maior assassino em acidentes aeronáuticos, com chance de sobrevivência. Concluiu Botha (1986), que Firotex é um material de revestimento de cabine capaz de suportar temperaturas de até 1.000º C e foi desenvolvido em 1981, mas foi abandonado pelas companhias aéreas, devido ao seu alto custo. Felizmente, materiais resistentes ao fogo estão sendo instalados nas aeronaves, para permitir a evacuação de um avião em chamas em 2,5 minutos a mais do que anteriormente. Engenheiros do Instituto Britânico de Química, estão desenvolvendo um combustível à prova de fogo que possa coagular quando sacudido violentamente na aeronave durante o acidente, ao invés de se espalhar pela fuselagem e escapar. Muñoz (1999) descreveu a metodologia utilizada para a realização da perícia médico-legal domaior acidente aeronáutico ocorrido no Brasil em número de vítimas, no dia 31 de outubro de 1996, com o avião Fokker-100 da TAM (vôo 402), envolvendo 98 (noventa e oito) pessoas identificadas: “A companhia aérea informou o nome de 96 (noventa e seis) pessoas que haviam embarcado nesse vôo, sendo 90 (noventa) passageiros e 6 (seis) tripulantes. A tripulação estava assim discriminada: 1 (um) comandante, 1(um) co-piloto, 3 (três) comissárias e 1 (um) comissário de bordo. Duas pessoas compareceram ao IML informando que seus parentes haviam morrido no acidente. Um estava em uma das casas atingidas pela aeronave; o outro caiu nas chamas quando tentava sair de sua casa, atingida pelo incêndio que se seguiu à queda da aeronave. Este fato foi presenciado e descrito pelos seus familiares”. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 13 “Os cadáveres que se encontravam bastante deteriorados pela carbonização, impossibilitando o reconhecimento direto e a dactiloscopia, foram submetidos ao exame odonto-legal (descrição dos arcos dentários) e à averiguação de características físicas não detectadas no exame necroscópico, como por exemplo a avaliação da estatura pelos ossos longos. Uma primeira fase do exame odonto-legal foi efetuada mesmo não havendo suspeita que o corpo fosse o de determinada pessoa. Nesta fase foi realizada a abertura da boca e a descrição dos arcos dentários. A segunda fase – levada o efeito quando se suspeitava que o corpo fosse de uma pessoa definida – o procedimento do exame era determinado pelo material que se dispunha para confronto. Se houvesse ficha dentária era realizado o exame direto dos arcos dentários; havendo radiografias, o cadáver era submetido a tomadas radiográficas (oblíqua direita e esquerda) de mandíbula – que permite a visualização dos dentes posteriores – e a póstero-anterior dos seios da face para análise dos dentes anteriores. Em casos especiais os arcos dentários foram removidos para uma análise mais minuciosa e tomada de radiografias de diferentes posições, para a visualização de elementos especiais, relatou Muñoz (1999). 2.4 O terrorismo na aviação civil Destacou Visser (2002), que o relatório da Assembléia do Atlântico Norte descreve o terrorismo como: “a utilização sistemática de assassinatos e destruição, assim como ameaças de assassinato e destruição para REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 14 aterrorizar indivíduos, grupos, comunidades ou governos e fazer com que aceitem os objetivos políticos dos terroristas”. Para Rocha (2002), “11 de setembro de 2001, uma data que mudou a perspectiva de risco da aviação.O uso de aeronaves comerciais em deliberados ataques como virtuais mísseis, intencionalmente pilotados para a sua auto destruição contra “alvos”, fugiu do que se previa e temia. A ação “inominável” daquele dia de 2001 extrapolou o que se previa de pior”. Koeing (2002) afirmou que a crescente preocupação com as ameaças do terrorismo internacional vem intensificando o debate a respeito da adequação de alguns dos atuais sistemas de seguranças doa aeroportos, assim como tem levantado questões de privacidade e de legitimidade relacionados à utilização de novos equipamentos de alta tecnologia para a triagem de passageiros. Visser (2002) destacou que “os métodos dos terroristas também mudaram com o surgimento do ativista suicida. Se o indivíduo não preza a própria vida, ele geralmente preza menos ainda as vidas alheias. A morte heróica substitui qualquer sabedoria política disponível no passado. Com este tipo de grupo ainda em movimento é impossível garantir um futuro pacífico para a aviação civil”. Para Koeing (2002) “os especialistas acreditam que a aviação provavelmente continuará sendo alvo atrativo para os terroristas durante boa parte do futuro próximo. A segurança da aviação é baseada em uma cuidadosa mistura de informações de inteligência, procedimentos, tecnologia e pessoal de segurança, mas nunca serão a solução completa do problema”. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 15 Para Vinner (2002), “da perspectiva dos terroristas, ataques a aeroportos trazem dividendos de várias formas às suas causas. Os seqüestros de aeronaves têm um enorme impacto sobre a opinião pública, especialmente quando duram vários dias ou semanas. Os seqüestradores que têm um aguçado senso do poder da publicidade, permitem que câmaras de televisão e fotógrafos de jornais registrem imagens ao vivo”. Rocha (2002) apresentou o resumo do Relatório de Segurança de 2001 do Comitê de Operações da IATA, reunião realizada em Montreal nos dias 02 e 03 de outubro de 2001, quando o tema das melhorias na segurança dominou a agenda. A discussão veio na esteira dos eventos de 11 de setembro, que tiveram efeito profundo na indústria da aviação. Um dos acordos resultantes deste encontro foi o da formação do Grupo de Assessoramento de Segurança na Aviação Mundial (GASAG – Global Aviation Security Advisory Group), cujo objetivo é oferecer uma visão coordenada da indústria para uma harmonização global de procedimentos de segurança. O GASAG, desde sua formação, já emitiu comentários a respeito de várias iniciativas relativas à segurança de aeronaves e procedimentos de vôo como por exemplo: • reforço nas portas e restrição de acesso à cabine da aeronave; • agentes de segurança a bordo da aeronave; • instalação de câmaras para monitorar passageiros; • treinamento sobre manuseio de armamentos e situações de combate para a tripulação; • manobras agressivas de vôo e de despressurização, e REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 16 • aprimoramento da segurança em solo e nos aeroportos. 2.5 SERAC 4: a segurança é o resultado Guimarães (2001) afirmou que o Brasil “vem se destacando por índices muito bons, nos últimos anos, em todos os segmentos da aviação civil. No entanto por estar inserido no cômputo da região Latino-Americana e Caribe, passa despercebido o bom trabalho aqui realizado por toda comunidade aeronáutica. As grandes empresas brasileiras, operando quase que totalmente com equipamentos de última geração, têm buscado a excelência dos serviços em todas as áreas e a Segurança de Vôo apresenta-se como prioridade em suas diretivas. Na prevenção, é fundamental que todos colaborem. A indústria sabe que a perda de uma aeronave é fácil de repor, as vidas nela embarcadas, jamais. Continuaremos mostrando à comunidade internacional que, além de sermos o berço de Santos Dumont e a segunda frota de aviões do mundo, também sabemos voar com eficiência e segurança”. Rocha (2001) destacou “que a Aviação Civil Brasileira – mormente as linhas aéreas- têm motivos para comemorar por esses três últimos anos com “Zero-Acidente Fatal / Perda de Casco”. Um dos ditos mais famosos mais famosos em Safety: “Se achas que prevenção custa caro; experimente um acidente”. O Brasil apresentou uma curva de progresso realmente positiva e o esforço integrado operadores-governos-fabricantes influiu nesse processo. Para Garcia (1999), o Brasil, país do inventor do avião, e de dimensões continentais, é predestinado ao transporte aéreo. Depois da REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 17 Grande Guerra, a aviação comercial se expandiu no Brasil, e o Correio Aéreo Nacional foi fator integrador entre o litoral e o vasto interior inexplorado. Já em 1931 foi necessário criar o Departamento de Aviação Civil (DAC), muito antes do Ministério da Aeronáutica. Há quase 25 anos, o DAC criou os Serviços Regionais de Aviação Civil (SERAC), para controlar e fiscalizar mais de 1.000 (mil) empresas aéreas, aeroclubes, escolas, oficinas de manutenção e atividades ligadas à aviação civil, além de fazer o registro de mais de 10.000 (dez mil) aeronaves e mais de 75.000 (setenta e cinco mil) aeronautas. O maior de todos osServiços Regionais de Aviação Civil é o SERAC 4, que jurisdiciona os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, que representam o volume de trabalho de 40% da aviação civil brasileira. Uma das áreas do SERAC 4, a Divisão Operacional, trabalha diretamente com a segurança, eficácia e modernização dos aeroportos e faz a fiscalização destes terminais, das empresas de táxi aéreo, de aviação agrícola e de outros serviços aéreos. Equipes do SERAC checam as empresas aéreas, suas oficinas de manutenção, aplicando padrões rígidos de exigência de qualidade e segurança. É para o SERAC que a população deve se dirigir em caso de denúncia de vôos rasantes, avião operando em pista clandestina, ou ação de panfletagem aérea que é proibido porque é perigoso aos demais aviões e significa lixo jogado do céu. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 18 Controlador rigoroso da segurança, é o SERAC que licencia pilotos, comissários e mecânicos. A habilitação só é conseguida ou revalidada depois de rigorosas provas de capacidade profissional. As inspeções periódicas de saúde do pessoal de bordo do SERAC 4 são realizadas no (HASP) Hospital de Aeronáutica de São Paulo, especializado nesse tipo de avaliação médica. Talvez isso explique a reconhecida competência dos aeronautas brasileiros, aos quais estão entregues milhões de vida a cada ano. É um trabalho que o passageiro não vê. Segurança é assim, não se vê, mas se sente, ao fim de cada viagem. Enquanto milhões de passageiros são transportados em aviões de todos os tamanhos, milhares de outros brasileiros estão realizando o seu trabalho silencioso, invisível, mas eficiente, para garantir uma boa viagem. No espaço aéreo de São Paulo, o mais movimentado do Brasil, cresce a responsabilidade do SERAC 4. Realizando sua parte, com outros órgãos do Ministério da Aeronáutica, ele supre com valor humano de sobra o que muitas vezes falta em meios materiais. E os resultados estão aí, com números de segurança comparáveis aos dos países do primeiro mundo, finalizou Garcia (1999). A partir do mês de novembro de 2002, o SERAC 4 ficou responsável pela jurisdição apenas de São Paulo, devido ao imenso tráfego aeronáutico. O Mato Grosso do Sul, passou para a jurisdição de Brasília (SERAC 6). REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 19 2.5.1 Excelência do transporte aéreo brasileiro O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) e o Departamento de Aviação Civil (DAC) – Divisão de Investigação e Prevenção de Acidentes de Aeronaves (DIPAA) - 2002 , através de dados estatísticos demonstram: No ano de 2000 ocorreu um aumento nas taxas de acidentes para 0,62 e no ano de 2001 novo aumento para 3,24 acidentes por milhões de decolagens, atingindo a média Brasil o índice de 0,90. A média mundial é de 1,2 acidentes por milhões de decolagens de acordo com a Flight Safety Foundation. Figura 2.1 - Índice mundial de acidentes aeronáuticos, por milhões de decolagens REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 20 No Brasil, os números de acidentes aeronáuticos, de falecidos e a frota de aeronaves registradas, sofreram variações anuais: Em 1996 ocorreram 88 (oitenta e oito) acidentes aeronáuticos com 187 (cento e oitenta e sete) falecidos e a frota de aeronaves atingiu 9.503 (nove mil quinhentos e três); em 1997 diminuiu para 73 (setenta e três) acidentes com 94 (noventa e quatro) falecidos e a frota aumentou para 9.786 (nove mil setecentos e oitenta e seis); em 1998 novamente diminuiu para 71 (setenta e um) acidentes com 80 (oitenta ) falecidos e a frota aumentou para 10.057 (dez mil e cinqüenta e sete); em 1999 houve uma diminuição significativa para apenas 47 (quarenta e sete) acidentes aeronáuticos com 67 (sessenta e sete) falecidos e a frota aumentou para 10.282 (dez mil duzentos e oitenta e dois) . No ano de 2000 o número de acidentes aeronáuticos sofreu uma elevação para 54 (cinqüenta e quatro) com 48 (quarenta e oito) falecidos e a frota aumentou para 10.371 (dez mil trezentos e setenta e um); em 2001 aumentou para 68 (sessenta e oito) acidentes aeronáuticos com 77 (setenta e sete) falecidos e finalmente em 2002 diminuiu para 53 (cinqüenta e três) acidentes aeronáuticos e com 66 (sessenta e seis) falecidos . (Tabela 2.1). [http://www.cenipa.maer.mil.br/] 2.6 Acidentes aeronáuticos e as fases do vôo É importante destacar a porcentagem de acidentes aeronáuticos relacionados com as fases do vôo. Conforme a Figura 2.2, na fase de manobra da aeronave detecta -se 2% de acidentes; na fase de decolagem, por sua vez, a porcentagem é de 14%; na subida é de 17%, na fase altitude REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 21 cruzeiro é de apenas 5%, na fase de descida é de 6%, a fase de aproximação é de 34% e no pouso 22%. Tabela 2.1 - Número de acidentes aeronáuticos, vítimas fatais e frota da aviação civil brasileira no período de 1995 a 2002 – Brasil, 2003 (DAC 2003. Disponível em URL http:// www.dac.gov.br/estatisticas/graficos/estat30.htm). ANO ACIDENTES AERONÁUTICOS FALECIDOS FROTA 1995 100 90 9275 1996 88 187 9503 1997 73 94 9786 1998 71 80 10.057 1999 47 67 10.282 2000 54 48 10.371 2001 68 77 10.532 2002 53 66 10.631 Figura 2.2 - Percentual de ocorrência de acidentes aeronáuticos por fase de vôo (vôos de 1:30 h em média). (Flight Safety Foudation e Boeing Commercial Airplane Group 2002). [http://sites.uol.com.br/buzaid/eng/aeroporto.html ] REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 22 2.7 Desastres de massa Para a Organização Panamericana de Saúde (1996), o desastre de massa é o evento que resulta em um elevado número de vítimas, que causa uma alteração no curso normal dos serviços de emergência e de atenção à saúde. Pueyo et al. (1994) descreveram as características mais comuns decorrentes do desastre de massa: 1. Grande repercussão social: isto significa em grande número de voluntários, intenso trabalho dos meios de comunicação, comoção e envolvimento emocional da coletividade. 2. Grande destruição com traumatismos em pessoas e residências ou apartamentos. 3. Dificuldades ou até impossibilidade de identificação principalmente quando as vítimas são de diferentes nacionalidades, como ocorre freqüentemente nos acidentes aeronáuticos. 4. Ações de saques e furtos de pertences e objetos pessoais das vítimas por alguns indivíduos inescrupulosos que estão próximos ao desastre. 5. Intervenção de múltiplas instituições governamentais e sociais: Polícia, Forças Armadas, Defesa Civil, Cruz Vermelha, Peritos do IML, Aviação Civil, Corpo de Bombeiros. Além destas características gerais dos desastres, Pueyo et al. (1994) destacaram algumas características específicas dos Acidentes Aeronáuticos: Os traumatismos são extraordinariamente graves: REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 23 1. Por ação do impacto. 2. Pela queima do combustível da aeronave. 3. Há uma grande dispersão de partes de corpos e objetos, que em algumas vezes ocupam quilômetros quadrados. 4. As vítimas sempre são de diversas nacionalidades. Não obstante, existe a lista de passageiros. Meira (1976) esclareceu que o acidente aeronáutico afeta a sociedade quando ocorre, além de provocar prejuízos físicos às pessoas a bordo e prejuízos materiais, ambos com seus reflexos econômicos. Muñoz (1999) descreveu as condições dos corpos recolhidos ao IML quanto à ação do fogo: “A maioria apresentava-se com carbonização parcial (49 casos) ou total (8 casos) ou quase total (31 casos). Consideramos como tendo carbonização quase total quando o corpo apresentava mais de 90% da superfície corporal carbonizada. Trinta e três cadáveres (33 casos) com carbonização parcial tinham mais de 50% de superfície corpórea carbonizada. Dez corpos (10 casos) não estavamcarbonizados, porém 6 (seis) casos apresentavam outros graus de temperatura, conforme demonstrado na Tabela 2.2. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 24 Tabela 2.2 - Estado dos cadáveres por ação de agente térmico no acidente TAM – Vôo 402. Brasil, 1996 (Muñoz, 1999, p.100) ESTADO DO CADÁVER Nº de casos % Carbonização total 100% S.C.(*) 8 8 Carbonização quase total > 90% S.C. 31 32 Carbonização parcial > 50% S.C. 33 34 Carbonização parcial de 20% a 50% S.C. 3 3 Carbonização parcial < 20% S.C. 13 13 Não carbonizado / com queimaduras > 50% S.C. 3 3 Não carbonizado / com queimaduras de 20% a 50% SC 1 1 Não carbonizado / com queimaduras < 20% S.C. 2 2 Não carbonizado / sem queimaduras 4 4 TOTAL 98 100 (*) S.C. = Superfície Corporal Todos exibiam traumatismos intensos, a maioria (78 casos) com mutilações, isto é, com perda de partes anatômicas. Em um caso o corpo estava fragmentado, segundo Muñoz (1999) (Tabela 2.3). Segundo a Organização Panamericana de Saúde (1996), o Sistema de Atenção às Vítimas de Massa, se refere ao grupo de unidades, organizações e setores que funcionam conjuntamente, aplicando procedimentos institucionalizados, para reduzir ao máximo as mortes decorrentes do desastre, através de utilização de todos os recursos eficazes existentes. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 25 Tabela 2.3 - Estado dos cadáveres quanto à ação de agentes mecânicos e os locais de perdas anatômicas, acidente tam – vôo 402, brasil 1996 Estado do cadáver Nº de casos % Inteiro com lesões por agente mecânico 19 19 Mutilado na cabeça 30 31 Mutilado na cabeça e membros 9 9 Mutilado na cabeça e tronco 2 2 Mutilado na cabeça, tronco e membros 9 9 Mutilado nos membros 22 23 Mutilado nos membros e tronco 4 4 Mutilado no tronco 2 2 Fragmentado 1 1 TOTAL 98 100 Este Sistema se baseia em: - Procedimentos pré-estabelecidos que devem ser empregados em situações de emergência e adaptá-los para atender a desastres de grandes proporções; - Aproveitamento ao máximo dos recursos existentes; - Preparação e respostas multisetoriais; - Estrita coordenação, pré-planejada e aprovada. Este Sistema é importante para: - Agilizar e ampliar os procedimentos diários para aproveitar ao máximo os recursos existentes; - Estabelecer uma cadeia de socorros multisetoriais bem coordenada; · REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 26 - Reestabelecer com rapidez e eficiência as operações normais dos serviços de emergência e atenção à saúde que o desastre de massa originou. Pretty et al. (2001) afirmaram que os desastres de massa representam um desafio significante para a equipe de identificação dental que freqüentemente é chamada para trabalhar na identificação das vítimas, através de evidências dentais. Que o sucesso deste difícil trabalho está alicerçado na preparação prévia e nos treinamentos da equipe de odonto- legistas, além de destacar os relevantes aspectos emocionais e psicológicos que envolvem toda a equipe, durante o trabalho de identificação das vítimas. Pretty et al. (2001) confirmaram que o bem estar emocional do grupo que trabalha com desastres de massa é fundamental e que nos treinamentos prévios sobre este importante tema, um trabalho sobre psicologia tem que ser abordado e desenvolvido. Relataram Doyle & Bolster (1992), em 23 de Junho de 1985, uma aeronave da Air Índia AI-182 que voava de Toronto para Bombay caiu no mar e faleceram todos os 329 (trezentos e vinte e nove) passageiros a bordo. Foram recuperados no mar apenas 132 (cento e trinta e dois) corpos o que significa 39,8% das vítimas. A equipe multiprofissional para trabalhar na identificação das vítimas deste acidente aeronáutico, compunha-se de 4 (quatro) médicos legistas, 7 (sete) patologistas forenses, 4 (quatro) odonto- legistas. Apenas 1 (um) corpo não foi identificado e após 6 (seis) semanas de trabalho, todos os 131 (cento e trinta e um) corpos foram liberados para os seus familiares. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 27 Outro aspecto detectado por Pretty et al. (2001) é que como uma característica do desastre de massa é a falta de previsibilidade de sua ocorrência e que o tempo para o trabalho de identificação de vítimas em acidentes aeronáuticos é demorado, demandando na maioria das vezes várias semanas de trabalho, um problema muito comum é que o odonto- legista não está preparado para abandonar todos os seus afazeres e obrigações cotidianas, como escritórios de perícias, Universidades, e em um espaço curto de tempo, viajar para o local do acidente aeronáutico e permanecer por lá por um período indeterminado, não sabendo também de antemão sobre as implicações financeiras que sofrerá durante o tempo que estiver distante de suas atividades habituais. São fatores importantes que devem ser discutidos e elucidados anteriormente ao desastre de massa, para que o profissional tenha tranqüilidade de realizar um excelente trabalho e que psicologicamente esteja tranqüilo. 2.8 Métodos de identificação De acordo com, Buchner (1985), podem ser empregados vários métodos para estabelecer a identidade de um corpo humano. Alguns desses métodos são conhecidos por possuírem caráter científico (impressões digitais), enquanto outros métodos empregados têm caráter pouco fiéis (reconhecimento visual). Porém a confirmação de dados obtidos por métodos pouco fiéis pode elevar a probabilidade de uma identificação correta, se somados com os dados obtidos através de métodos científicos. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 28 Buchner (1985), afirmou que os registros geralmente usados para comparação com os resultados do exame são as listas das pessoas falecidas, fotografias, impressões digitais, fichas odontológicas, radiografias odontológicas e médicas, resultados de exames laboratoriais (grupo sangüíneo). Os métodos de identificação incluem: 1 – reconhecimento visual ; 2 – roupas e características pessoais; 3 – exame da impressão digital; 4 – exame odontológico; 5 – exame médico e radiológico; 6 – exame antropológico; 7 – exames de DNA; 8 – identificação através de exclusão. 2.8.1 Reconhecimento visual Buchner (1985), afirmou que o reconhecimento visual representa o método mais freqüente de identificação. Só pode ser utilizado em casos onde o corpo, e especialmente as características faciais estão bem conservadas e os parentes ou amigos podem ser localizados rapidamente. O valor deste método está limitado pelo fato de que um corpo que sofreu a ação do fogo, torna-se muitas vezes, irreconhecível visualmente. Além do mais, os parentes e amigos, ao examinarem os corpos visualmente e não conseguindo identificá-los, ficarão emocionalmente abalados, pelo fracasso REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 29 desta tentativa esperançosa de identificação. É possível, por estes motivos, que uma identificação errônea possa ser feita. Por estes motivos, o reconhecimento visual é o método menos fidedigno. 2.8.2 Roupas e pertences pessoais Buchner (1985), comentou que o exame de roupas e de pertences pessoais freqüentemente é muito útil em identificação, baseado em uma descrição cuidadosa e exame de cada artigo de roupa e pertences pessoais relacionados aos corpos e uma comparação é feita com a lista de pessoas falecidas. Placas de identificação de soldados encontradas no pescoço, pulseiras com identificação encontradas no pulso, cédula de identidade encontrada no bolso da vítima, são muito úteis para estabelecer a identidade. Outros pertences úteis incluem jóias gravadas, carteiras com as iniciais do nome. Buchner (1985), insistiu em afirmar que a identificação através de pertences ou roupas não é considerado um método fidedigno, pois, podem ser objetosperdidos e soltos ou podem ser trocados. Porém é importante como uma pista útil que conduz à identificação através de métodos mais científicos como o exame das impressões digitais e das características odontológicas. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 30 2.8.3 Exame das impressões digitais O método mais fidedigno para Buchner (1985), de identificação é através das impressões digitais. A especificidade deste método não pode ser desafiada, pois não existem impressões digitais iguais de pessoas. Quando são preservadas as mãos da vítima, o exame das impressões digitais provê uma identificação positiva rápida. Buchner (1985), afirmou que embora o exame das impressões digitais seja o melhor método para a identificação, o fato que a pele é destruída depressa após a morte da vítima, causando limitação na utilidade desta técnica. Os dentes são os elementos mais duráveis dos tecidos humanos, e os materiais utilizados para confeccionar as restaurações nos dentes, também são extremamente à destruição por substâncias químicas e por elementos físicos. Assim, a identificação odontológica se torna o único entre os diversos meios precisos de identificação de corpos quando ambos os métodos visual e de exame de impressões digitais são ineficazes, como por exemplo nos casos em que houver o estado de decomposição avançado, ou carbonizado. 2.8.4 Exame odontológico Silva (1997) alertou que o Cirurgião-dentista tem um trabalho de grande responsabilidade que é o de cuidar da saúde de seus semelhantes e implica nesta responsabilidade o cuidado na elaboração da documentação do paciente que é o prontuário odontológico que contém todas as fases da REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 31 atuação do profissional como o registro da anamnese, as anotações sobre o estado geral bucal do paciente antes do tratamento odontológico (condições pré-tratamento), e posteriores ao tratamento (condições pós-tratamento). O Código de Ética Odontológica expressa que é dever fundamental do profissional em Odontologia: Artigo 4º, Vl : - elaborar as fichas clínicas do paciente, conservando- as em arquivo próprio, Conselho Federal de Odontologia, (1998). Warnick (1987) acentuou a responsabilidade moral e ética do Cirurgião-dentista em manter o prontuário odontológico com os dados atualizados dos pacientes, pois estas informações são importantes e imprescindíveis em casos de necessidade de identificação através dos registros odontológicos. Conforme Pueyo et al. (1994), a identificação através dos trabalhos odontológicos realizados durante a vida do indivíduo, é de grande utilidade na Odontologia Legal, principalmente quando o corpo tenha sido queimado ou se foi atacado por alguma substância corrosiva. As próteses com coroas em ouro são facilmente detectáveis no exame após a morte, como também as coroas de porcelana. As próteses fixas (pontes fixas), nos dão por si sós dados muito precisos, em primeiro lugar, informam uma boa situação socioeconômica da vítima, e uma coroa em ouro nos diz que o trabalho é antigo, pois atualmente é mais freqüente que as próteses fixas sejam confeccionadas em cerâmica. Em todos estes casos, reconhecer o tipo de material utilizado para realizar a restauração, pode dar-nos uma indicação da época em que se realizou a restauração e com base no tipo técnica REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 32 utilizada, em alguns casos pode-se suspeitar de qual país foi realizado o tratamento. Juhás & Melani (2000) destacaram a documentação odonto-legal que o Cirurgião-dentista registra os meios utilizados nos atendimentos clínicos incluem: ficha clínica, receitas, atestados, radiografias, modelos de gesso. Botha (1986) afirmou que a qualidade do tratamento dentário e da higiene bucal, podem quase sempre indicar a posição social e financeira de um corpo não identificado. Certos tipos de coroas e pontes fixas protéticas odontológicas, são típicas de certos países. Na Europa ocidental, teremos facilidade de encontrar coroas e pontes fixas de materiais não preciosos. O tratamento odontológico similar em dois corpos pode indicar que se tratam de marido e mulher. Botha (1986) afirmou que as restaurações e próteses odontológicas são extremamente resistentes à deterioração físico-química além de que as características morfológicas dos dentes humanos garantem uma grande individualidade. Às vezes, a recuperação de um único dente ou fragmento de mandíbula, é importante para fazer uma identificação positiva, quando os registros antemortem são adequados. A dentadura adulta completa é composta de 32 (trinta e dois) dentes, com 05 (cinco) faces visíveis cada dente ao exame clínico. As combinações inumeráveis de dentes extraídos, lesões cariosas, restaurações e próteses que envolvem estas 160 (cento e sessenta) superfícies é a base da identificação dental. Além destas, numerosas características adicionais podem ser identificadas através das radiografias odontológicas que mostram REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 33 o padrão do trabeculado ósseo da maxila e mandíbula, esboço do seio maxilar. É importante enfatizar que a recuperação de um único dente ou do fragmento de mandíbula é o bastante para fazer uma identificação positiva, quando a ficha odontológica da vítima está disponível. Outro método especial que a odontologia auxilia na identificação humana é através da rugoscopia palatina, que através da morfologia das rugosidades palatinas são comparadas com as impressões de rugosidades palatinas presentes em modelos de gesso, dentaduras, afirmou Buchner (1985). A estimativa de idade através do exame das características morfológicas dos dentes é muito importante segundo Buchner (1985), e o critério para a determinação da estimativa da idade podem se dividir em duas categorias: até 20 anos de idade e outra categoria para maiores de 20 anos. Os resultados mais precisos sobre o desenvolvimento dos dentes nos arcos superior e inferior, concentra-se principalmente na faixa etária do nascimento até 14 anos e devem ser observados no estado de calcificação da coroa, erupção dos dentes, formação das raízes. Em torno dos 20 anos de idade, geralmente os dentes apresentam a formação completa. Harris (1981) expressou os sentimentos de odonto-legistas de todo o mundo sobre a necessidade de um sistema unificado internacional de notação dentária sobre as condições bucais após o término do tratamento odontológico. Concordou Buchner (1985), que a desvantagem do sistema dentário é que não existe um Centro oficial que catalogue as fichas odontológicas para sua utilização quando necessário. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 34 Para que a contribuição da classe odontológica seja efetiva na identificação humana, Silva (1997) preconizou a necessidade de padronização dos registros comumente utilizados pelos Cirurgiões-dentistas, para que a transmissão dos caracteres seja eficiente e facilitada. Que a notação preconizada pela Federação Dentária Internacional (FDI) , aprovada em Bruxelas, em 1970, seja utilizada pelos Cirurgiões-dentistas para representar os serviços odontológicos executados e as condições dentárias encontradas nos pacientes. Na notação adotada pela FDI, cada dente é representado por um número formado por dois dígitos. Estes dígitos, para os dentes permanentes, vão de 11 a 48, e para os decíduos de 51 a 85. (Figura 2.3). DENTES PERMANENTES ARCO SUPERIOR DIREITO QUADRANTE 1 18 17 16 15 14 13 12 11 ARCO SUPERIOR ESQUERDO QUADRANTE 2 21 22 23 24 25 26 27 28 ARCO INFERIOR DIREITO 48 47 46 45 44 43 42 41 QUADRANTE 4 ARCO INFERIOR ESQUERDO 31 32 33 34 35 36 37 38 QUADRANTE 3 DENTES DECÍDUOS ARCO SUPERIOR DIREITO QUADRANTE 5 55 54 53 52 51 ARCOSUPERIOR ESQUERDO QUADRANTE 6 61 62 63 64 65 ARCO INFERIOR DIREITO 85 84 83 82 81 QUADRANTE 8 ARCO INFERIOR ESQUERDO 71 72 73 74 75 QUADRANTE 7 Figura 2.3 - Notação dentária de dois dígitos preconizada pela Federação Dentária Internacional – FDI (Silva, 1997, p.332) REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 35 Gustafson (1966) citou estudos que indicam que ao serem expostos a temperaturas muito altas, os dentes podem apresentar-se friáveis a 205ºC e serem fraturados até reduzirem-se a cinzas aproximadamente a 482ºC. Mas os dentes podem estar protegidos de tais temperaturas pelos músculos e ossos que os envolvem e é provável que os elementos dentários resistam a temperaturas consideravelmente mais altas. Conforme Arbenz (1988), “os dentes e os arcos dentários podem fornecer em certas circunstâncias, subsídios de real valor para a solução de problemas médico-legais e criminológicos, de sorte a constituir mesmo, os únicos elementos com os quais pode contar o Perito”. Poller (1975) e Saferstein (1981) ressaltaram a existência de vários milhões de diferentes combinações das impressões digitais o que resulta em, praticamente, uma individualidade. Isto pode ser transportado para a cavidade bucal. Se considerarmos um indivíduo portador dos 32 (trinta e dois) dentes com cinco faces, visíveis, cada um, teremos um total de 160 (cento e sessenta) faces e analisando-se a existência de dentes perdidos, restaurados, presença de próteses, morfologia radicular, defeitos ósseos, teremos vários milhões de combinações garantindo, dessa maneira uma individualidade. Para Simpson (1980) “há casos em que um único dente isolado pode ser suficiente para identificação”, assim, nestes casos, uma única radiografia periapical seria suficiente. Como a evidência dentária pode ser o principal método para resolver questões vitais de identificação humana, o odonto- REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 36 legista é reconhecido como um membro importante da equipe de investigação. “No desastre em pauta, 15% das vítimas foram identificadas por reconhecimento direto, 26% por dactiloscopia, 8% por exame de DNA e os demais 51% pelos exames antropológicos e odonto-legal, geralmente associados entre si ou a esses outros métodos. Cotejando esses dados com os da literatura, evidencia-se que o exame odontológico é o método mais utilizado para a identificação de vítimas de desastre de massa”, afirmou Muñoz (1999). 2.9 Efeito do tempo, do terreno e do fogo sobre os dentes e materiais utilizados em odontologia Pueyo et al. (1994) afirmaram que as condições em que se encontre um cadáver, a influência atmosférica, o terreno em que permanece o corpo, são fatores importantes que influenciam na maior ou menor rapidez dos fenômenos putrefativos. Estes fenômenos são mais rápidos quando se combina com o grau de umidade do terreno e sua constituição química. Para Pueyo et al. (1994) os dentes e os materiais utilizados para restaurá-los, irão sofrer uma série de alterações quando submetidos a ação do calor. As estruturas dentárias modificam-se, na dependendo da temperatura que são submetidas, o tempo de exposição e a curva de elevação da temperatura. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 37 2.9.1 Efeitos do fogo Botha (1986) relatou que em um incêndio experimental em Mímico, Ontário (EUA), uma casa de dois andares foi queimada e 42 (quarenta e dois) minutos foram necessários para se atingir a temperatura máxima de 1.274º C no andar térreo, enquanto que o segundo andar não atingiu mais do que 232º C. Quando o piso do segundo andar caiu, este atingiu 1.004º C, mas caiu logo para 870º C. Classificação de Queimaduras: Tipo I - queimadura da epiderme Tipo II - queimadura da epiderme e da derme; Tipo III - queimadura profunda Essa classificação de Wilson’s é útil para descrever achados anatômicos mórbidos em relatórios postmortem. Corpos queimados assumem a pose pugilística, que é uma típica postura dos boxeadores, onde os braços se posicionam puxados para cima e os punhos erguidos em posição de defesa. Isso é causado pela coagulação, pelo calor e pelo encurtamento dos feixes de músculos flexores mais fortes. Danos ao corpo humano: As fases de tempo-destruição para um corpo adulto após ultrapassar a temperatura de 680º C são: • braços seriamente queimados após 10 minutos; • pernas seriamente queimadas após 14 minutos; • ossos da face e dos braços expostos após 15 minutos; REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 38 • costelas e crânios expostos após 25 minutos; • fêmur e tíbula completamente queimados após 35 minutos. Chávez (1966) fez uma minuciosa e exaustiva descrição das características que apresentam os corpos carbonizados: 1. Ocorre a diminuição de volume causada pela perda de líquido e substâncias orgânicas produzidas pela combustão. 2. Variação do aspecto do cadáver (aspecto “bizzarro”), causado pela rigidez muscular produzida pela ação do calor. 3. A pele se apresenta dura e seca com fissuras regulares, de cor negra e quebradiça. 4. Os músculos podem apresentar todos os graus de “cozimento” como o apresentado por “carnes assadas”. 5. Quando a carbonização é muito avançada, resulta eventualmente em abertura da caixa toráxica, do crânio e em algumas vezes até do abdômen. 6. Se o que foi citado anteriormente é produzido, ocorre a carbonização do cérebro, e das vísceras toráxicas e abdominais. 7. Os ossos se separam a nível das articulações apresentando-se freqüentemente fraturados e carbonizados. 8. Os olhos sofrem diferentes transformações; primeiro, mudam sua cor natural, a córnea se torna leitosa, o cristalino opalescente, e se a temperatura elevada continua, terminam carbonizando-se. 9. O sangue do coração e dos grandes vasos se transformam em uma pasta dura e de cor vermelha viva. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 39 10. Os membros e mãos se encolhem, de duas a três vezes em relação ao seu tamanho natural. 11. O cérebro forma uma pequena massa. 12. A cabeça de um adulto apresenta-se como a de um menino de 7 a 12 anos. Particularmente, o crânio sofre alterações importantes: 1. Os ossos se “fissuram”, “racham” e podem até mesmo apresentar perfurações. 2. A pressão dos vapores abre a caixa craniana e destrói a duramáter e forma uma hérnia no cérebro. 3. A boca pode se fechar e formar uma espécie de caixa forte que protege os tecidos do interior da boca da ação do fogo, colaborando ao constante estado de umidade em que se encontra a boca. 4. O palato, de grande importância se levarmos em conta que aí se encontram valiosos elementos identificadores (papilas palatinas), que podem conservar a sua morfologia anátomo-macroscópica sem sofrer alterações pela ação do fogo. 5. O maxilar , na maioria dos casos, por efeito do violento traumatismo, se encontra partido em dois a nível da linha média incisal. 6. A mandíbula, ao sofrer o impacto, algumas vezes se fratura na altura do mento. 7. Quando isto ocorre, o fogo destrói os tecidos moles da boca e carboniza a língua . REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 40 2.9.2 Efeitos do fogo em restaurações e na boca Botha (1986), relatou as transformações decorrentes da ação do fogo nos dentes, ossos, músculos da cavidade bucal e nos materiais odontológicos utilizados em dentística e prótese dentária: A boca se fecha e forma uma espécie de caixa forte, que protege os tecidos internos da ação do fogo, com isto, colaborando com o constante estado de umidade em que sempre se encontra a boca; A língua se entumesce e protege o palato; Os dentes conservam geralmente sua posição original em seus respectivos alvéolos; No palato, estão as papilas palatinas que geralmente conserva a sua morfologiaanátomo-macroscópica, sem sofrer alteração por ação do fogo, o que é de grande importância. 2.9.3 Mandíbula e maxila A maxila na maioria dos casos por efeito do violento traumatismo, se encontra dividida e separada a nível da linha média incisal; A mandíbula, ao sofrer o impacto, muitas vezes ocorre a fratura na altura do mento; quando isto ocorre, o fogo destrói os tecidos moles do palato, carboniza a língua, impossibilitando a utilização das papilas rugo- palatinas. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 41 2.9.4 Esmalte Os danos ao esmalte dentário, especialmente na superfície vestibular pode variar de um leve chamusco, à completa carbonização ou destruição. As coroas de esmalte podem também explodir em fragmentos ou se separar como uma concha, a partir do núcleo de dentina subjacente. Este fenômeno pode ser explicado pela presença de 8% a 10% de água nos túbulos dentinários, que ao alcançar o ponto de ebulição promove pressão resultando na separação ou explosão da coroa de esmalte, dependendo da exposição gradual ou repentina ao calor intenso. O núcleo de dentina subjacente também se contrai por perder seu conteúdo de água. As modificações estruturais do esmalte são importantes em altas temperaturas: o esmalte composto de 96% de matérias inorgânicas resiste bem ao calor devido a sua natureza prismática que torna friável a temperaturas superiores a 400º C. 2.9.5 Dentina e cemento Estes tecidos estão normalmente protegidos pelo esmalte ou osso, nas rachaduras multidirecionais que podem ser produzidas à uma temperatura de 400º C. A cor da dentina e cemento queimados normalmente é preto ou marrom. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 42 2.9.6 Restaurações em amálgama O amálgama é constituído de prata, estanho, cobre, zinco e mercúrio que se derrete a 100º C e ferve a 356º C. Com a perda do mercúrio, a liga usualmente começa a se pulverizar em complexos prata-estanho e cobre- zinco. A prata-estanho derrete a 500º C , porém a prata sozinha derrete a 960º C e o estanho a 231º C, o complexo se rompe formando um pó preto: óxido de prata. Por volta de 500º C a 1000º C, o amálgama perde a forma, cor e integridade. As gotículas de mercúrio podem ser absorvidas por restaurações de ouro, perdendo sua verdadeira identidade. 2.9.7 Resinas compostas Trabalho experimental realizado por Botha (1986), em molares extraídos e restaurados com resina composta “P-30” e “Occlusin” e submetidos à temperatura de 900º C por 90 minutos em um forno crematório. Os resultados mostraram a quase completa destruição dos dentes com restaurações virtualmente inalteradas. O “P-30”, aquecido à temperatura entre 815º C e 900º C mudou consistentemente de uma coloração branco-amarelada, para uma cor cinza. O “Occlusin” testado similarmente, mudou de branco-amarelado para uma cor de papel branco. Conseqüentemente estas restaurações podem provir um excelente meio de identificação se as fichas dentárias apontarem o uso deste tipo de material. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 43 2.9.8 Restaurações em ouro, porcelana e próteses As temperaturas mínimas de fusão para as ligas de ouro variam entre 870º C a 1070ºC, dependendo da porcentagem presente do metal nobre. Ligas de metal não precioso, utilizadas na confecção de próteses parciais, derretem entre 1275º C e 1500º C. Trabalho experimental tem demonstrado que próteses parciais de cromo-cobalto submetidas à temperatura de 900º C por 90 (noventa) minutos, resultou na aparição de mancha na superfície da prótese. A temperatura de fusão para ligas de metais nobres varia entre 1150º C e 1350º C, e a de metais não nobres, entre 1300º C e 1450º C. Dentes de porcelana têm fusão variando entre 870º C e 1370º C. Trabalho experimental tem demonstrado que os dentes de porcelana não sofrem qualquer dano quando colocados em fornalha crematória à 900º C por 90 (noventa) minutos. Bases de prótese total (dentadura) e de dentes em acrílico polimetil metacrilato despolimerizam o monômero a 450º C. 2.9.9 Tratamento de canal Pueyo et al. (1994) elucidaram que a endodontia (tratamento de canal) pode ser demonstrada através de radiografias e possui um valor extraordinário para a identificação, pois com as radiografias anteriores do Cirurgião-dentista que realizou o tratamento de canal, ficará fácil a comparação com a radiografia a ser obtida após o desastre. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 44 Botha (1986) relatou que dentes com suas raízes obturadas com cones de gutta-percha foram colocados para experiência em um incinerador à 815º C por 90 (noventa) minutos. O material obturador ferveu para fora do forâmen apical do dente com canais amplamente abertos. Isto não foi notado nos canais de raízes mais estreitas. A comparação das radiografias de pré e pós incineração revelou zonas radiolúcidas nos preenchimentos nos preenchimentos dos canais dos dentes submetidos ao calor. Endometazona e eugenol foram utilizados em uma experiência como selador ou como material de preenchimento da raiz. As radiografias de pós incineração revelaram radioluscências similares àquelas achadas nos canais preenchidos com gutta-percha, submetidos ao mesmo tratamento. Um pino de aço cimentado no canal da raiz não mostrou nenhuma mudança quando aquecido à 815º C por 90 (noventa) minutos em uma experiência. O conhecimento da radiopacidade ou radiolucidez dos materiais de preenchimento e revestimento é essencial, especialmente dos novos compostos e cimentos. Os materiais utilizados em restaurações odontológicas e próteses, sofrem as seguintes alterações, segundo Pueyo et al. (1994): 1. Porcelana. As porcelanas se classificam em três grupos: alta, média e baixa temperatura, com temperaturas de fusão de 1300º a 1370ºC para o primeiro; de 1090º a 1260ºC para o segundo; e de 870º a 1065ºC para o terceiro grupo. REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 45 2. Silicatos. Apresentam o aspecto branco leitoso entre 800º e 1000ºC, formando borbulhas a partir de 1000ºC. 3. Resinas. Desaparecem a uma temperatura entre 500º e 700ºC. 4. Compósitos. Produzem sua dissolução a partir de 500ºC. 5. Amálgamas. Aos 200ºC o amálgama se dissocia liberando o mercúrio e acima desta temperatura apresenta um aspecto pulverulento. Ao amálgamas são as restaurações que resistem menos tempo à ação do fogo: em 15 (quinze) minutos a 175ºC formam-se borbulhas gasosas voltando ao seu estado anterior depois de esfriar-se. 6. O comportamento do metal submetido a ação de elevadas temperaturas produz diferentes modificações conforme a sua composição: O primeiro grupo contém 18% de cromo, 8% de níquel e de 0,02 a 0,05% de carbono. O intervalo do ponto de fusão está entre 1400º a 1450ºC. O segundo grupo contém 18% de cromo, 14% de níquel e de 0,03 a 0,08% de carbono. O intervalo do ponto de fusão está entre 1290º a 1395ºC. 7. A utilização do cromo-cobalto na confecção de aparelhos de prótese dentária removível (roach), apresenta o ponto de fusão no intervalo entre 1290º a 1395ºC. Utiliza-se também para confeccionar este tipo de aparelho removível, o níquel-cromo que apresenta um intervalo de fusão ainda mais alto, entre 1350º a 1400ºC. 8. Os metais nobres nas suas formas puras são cada vez menos empregadas em odontologia devido ao seu elevado preço. O ouro REVISÃO DA LITERATURA RODRIGO MIRANDA PEREIRA 46 puro, que já foi utilizado a alguns anos atrás em confecção de restaurações e até mesmo em confecção de pontes fixas, apresenta o ponto de fusão em 1063ºC. As ligas de ouro possuem componentes que elevam o seu ponto de fusão conseguindo aumentá-lo para 1420ºC. 2.10 A importância da radiografia dentária Muñoz (1999) esclareceu que “no material odontológico oferecido,
Compartilhar