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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE ODONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA 
IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES 
AERONÁUTICOS 
 
 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
Dissertação apresentada à Faculdade de 
Odontologia da Universidade de São Paulo, 
para obter o título de Mestre pelo Programa 
de Pós-Graduação em Odontologia. 
 
Área de Concentração: Deontologia e 
Odontologia Legal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2003 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE ODONTOLOGIA 
 
 
 
 
 
A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA 
IDENTIFICAÇÃO HUMANA EM ACIDENTES 
AERONÁUTICOS 
 
 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
Dissertação apresentada à Faculdade de 
Odontologia da Universidade de São Paulo, 
para obter o título de Mestre pelo Programa 
de Pós-Graduação em Odontologia. 
 
Área de Concentração: Deontologia e 
Odontologia Legal. 
 
Orientador: Prof. Dr. Moacyr da Silva 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2003 
 
A DEUS, Inteligência Suprema e Causa Primária de todas as coisas, que é a 
razão de minha existência. 
 
 
À minha querida esposa Anna 
Andréa e ao amado filho 
Germain, pelo amor, carinho e 
união, dedico esta dissertação. 
 
Ao Professor Doutor Moacyr da Silva, 
um amigo que me cativou pela sua 
humildade e sinceridade. 
 
Ao Professor Doutor Jorge Sousa 
Lima, que aprendi a admirar pela 
sua dedicação e grande 
contribuição à Odontologia Legal 
no Brasil. 
 
Ao Amigo e Professor Sérgio Augusto 
Wanderley Pinto de Oliveira, o 
reconhecimento pelo incentivo a mim 
dispensado, e principalmente pelo 
sábio conselho para que eu cursasse 
Direito, a minha eterna e saudosa 
gratidão. 
 
 
Aos meus pais, Newton e Niza, que 
ensinaram - me o caminho do amor e 
a importância da Educação. 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao Professor Doutor Dalton Luiz de Paula Ramos, Vice-Coordenador do 
Curso de Pós–Graduação em Deontologia e Odontologia Legal da 
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), pelo 
apoio, amizade e ajuda nos primeiros passos no campo da Bioética. 
À Professora Doutora Maria Ercília de Araújo, chefe do Departamento de 
Odontologia Social da FOUSP, pela sua dedicação e apreço. 
Aos Professores Doutores do Departamento de Odontologia Social da 
FOUSP, Ida Tecla Prellwitz Calvielli, Hilda Ferreira Cardozo, Rodolfo 
Francisco Haltenhoff Melani, José Leopoldo Ferreira Antunes e Rogério 
Nogueira de Oliveira, pela competência e amizade. 
Ao Comando da Aeronáutica do Brasil, especialmente nas pessoas do Major 
Aviador Ricardo Magno Silva Rosa e Major Aviador Wagner Cyrillo Júnior 
(SERAC 4), e do Capitão Dentista Nélson Shikio Cawagoe (Hospital da 
Aeronáutica), pela atenção, generosidade e empenho na elaboração do 
trabalho. 
Aos colegas do curso de Pós-graduação em Deontologia e Odontologia 
Legal da FOUSP: Aiko, Cecília, Cilene, Evelyn, Fábio, Fernando, José 
Reynaldo, Julie, Leonardo, Luciana, Luís Cherubini, Luís Fernando, Márcio, 
Mutsumi, Nilcéa, Plínio, Regina, Sara, Solange, Tatiana, Ulisses e Vítor, pela 
nossa união, alegrias e amizade. 
À Secretária do Curso de Pós-graduação em Deontologia e Odontologia 
Legal da FOUSP, Marieta Trancoso de Castro, pelo carinho e atenção 
dispensados. 
Às Funcionárias do Departamento de Deontologia e Odontologia Legal da 
FOUSP, Andréia dos Santos Teixeira e Sônia Castro Lúcia Lopes, sempre 
solícitas e prestativas. 
À Bibliotecária Luzia Marilda Zoppei Murgia Moraes e Cidinha (???), pelo 
carinho, serenidade e eficiência. 
À amiga Albanita Bandeira, pelo apoio e dedicação na elaboração do 
Summary. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 p. 
LISTA DE FIGURAS 
LISTA DE TABELAS 
LISTA DE ABREVIATURAS E DE SIGLAS 
RESUMO 
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................1 
2 REVISÃO DA LITERATURA .....................................................................6 
2.1 Identidade e identificação ..........................................................................7 
2.2 Aspectos legais para o exercício da odontologia...................................9 
2.3 Acidentes aeronáuticos ............................................................................11 
2.4 O terrorismo na aviação civil ...................................................................13 
2.5 Serac 4: a segurança é o resultado .......................................................16 
2.5.1 Excelência do transporte aéreo brasileiro .............................................19 
2.6 Acidentes aeronáuticos e as fases do vôo............................................20 
2.7 Desastres de massa .................................................................................22 
2.8 Métodos de identificação .........................................................................27 
2.8.1 Reconhecimento visual............................................................................28 
2.8.2 Roupas e pertences pessoais.................................................................29 
2.8.3 Exame das impressões digitais ..............................................................30 
2.8.4 Exame odontológico .................................................................................30 
2.9 Efeito do tempo, do terreno e do fogo sobre os dentes e materiais 
utilizados em odontologia.................................................................36 
2.9.1 Efeitos do fogo..................................................................................37 
2.9.2 Efeitos do fogo em restaurações e na boca .........................................40 
2.9.3 Mandíbula e maxila...........................................................................40 
2.9.4 Esmalte .......................................................................................................41 
2.9.5 Dentina e cemento ....................................................................................41 
2.9.6 Restaurações em amálgama ..................................................................42 
2.9.7 Resinas compostas...................................................................................42 
2.9.8 Restaurações em ouro, porcelana e próteses......................................43 
2.9.9 Tratamento de canal.................................................................................43 
2.10 A importância da radiografia dentária ....................................................46 
2.11 Radiografia digital na odontologia legal.................................................49 
2.12 Radiografias panorâmicas e sua utilização nas especialidades 
odontológicas.............................................................................................52 
2.13 Exame médico e radiológico ...................................................................55 
2.14 Exame antropológico ................................................................................56 
2.15 Identificação por exclusão .......................................................................57 
2.16 O odonto-legista no desastre de massa................................................58 
2.16.1 Fatores internos e externos que dificultam a identificação odonto -
legal em desastres de massa..................................................................68 
2.17 Procedimentos de identificação utilizados pela força de defesa de 
Israel (I.D.F) ..............................................................................................73 
2.18 A identificação de vítimas de desastres de massa pela INTERPOL 75 
2.19 A odontologia legal e o acidente aeronáutico.......................................78 
3 PROPOSIÇÃO...........................................................................................87 
4 MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................88 
4.1 Amostra.......................................................................................................884.2 Coleta de dados ........................................................................................91 
5 RESULTADOS ..........................................................................................92 
5.1 Número de odonto-legistas nos Institutos de Medicina Legal ..........92 
5.2 Regime de trabalho dos odonto -legistas nos IMLs..............................93 
5.3 Tipos de aparelhos de raios X odontológicos disponíveis nos IMLs 
 para a realização de perícia de identificação humana........................94 
5.4 A importância do odonto-legista para a identificação humana em 
acidentes aeronáuticos ............................................................................96 
6 DISCUSSÃO..............................................................................................98 
6.1 Considerações gerais...............................................................................98 
6.2 Planejamento prévio de desastres de massa.....................................100 
6.3 A identificação de corpos carbonizados em acidentes 
 aeronáuticos.............................................................................................104 
6.4 A importância das radiografias dentárias para a identificação ........105 
6.5 Análise dos resultados da pesquisa/odonto -legistas nos Institutos de 
 Medicina Legal e equipamento de raios-x odontológicos ............... 109 
6.6 Da importância do odonto-legista na identificação humana em 
 acidentes aeronáuticos ..........................................................................119 
6.7 Considerações finais ..............................................................................119 
7 CONCLUSÕES........................................................................................121 
ANEXOS .................................................................................................................123 
REFERÊNCIAS .....................................................................................................129 
SUMMARY 
APÊNDICES 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 2.1 - Índice mundial de acidentes aeronáuticos, por milhões de 
decolagens ..........................................................................................19 
Figura 2.2 - Percentual de ocorrência de acidentes aeronáuticos por fase de 
vôo (vôos de 1:30 h em média) .......................................................21 
Figura 2.3 - Notação dentária de dois dígitos preconizada pela Federação 
Dentária Internacional – FDI.............................................................34 
Figura 2.4 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico em 
Lockerbie, 1988 ..................................................................................83 
Figura 2.5 - Métodos de identificação empregados no desastre aeronáutico 
em Sainte-Odile (França), 1992.......................................................84 
Figura 2.6 - Métodos de identificação utilizados no acidente aeronáutico nas 
Ilhas Canárias, 1977 ..........................................................................86 
Figura 4.1 - Questionários respondidos pelos Diretores dos Institutos de 
Medicina Legal – Brasil 2003.....................................................90 
Figura 5.1 - Distribuição do número de odonto-legistas nos Institutos de 
Medicina Legal, quanto ao regime de trabalho – Brasil 2003.....94 
Figura 5.2 - Panorama dos equipamentos de Raios X odontológicos 
disponíveis nos Institutos de Medicina Legal para o trabalho 
dos odonto-legistas – Brasil 2003 .................................................96 
Figura 5.3 - Importância do odonto-legista na Identificação Humana em 
Acidentes Aeronáuticos. Brasil 2003 ..............................................97 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 2.1 - Número de acidentes aeronáuticos, vítimas fatais e frota da 
aviação civil brasileira no período de 1995 a 2002 – Brasil, 
2003 ...................................................................................................21 
Tabela 2.2 - Estado dos cadáveres por ação de agente térmico no acidente 
TAM – Vôo 402. Brasil, 1996 .........................................................24 
Tabela 2.3 - Estado dos cadáveres quanto à ação de agentes mecânicos e 
os locais de perdas anatômicas, acidente TAM – Vôo 402, 
Brasil 1996 ........................................................................................25 
Tabela 4.1 - Ranking dos aeroportos segundo tráfego de passageiros. 
Brasil, 2002...............................................................................89 
Tabela 4.2 - Relação de data da postagem nos Correios dos questionários 
respondidos pelos Diretores dos IMLs....................................91 
Tabela 5.1 - Número de odonto-legistas que trabalham nos Institutos de 
Medicina Legal por cidade pesquisada. – Brasil 2003.............92 
Tabela 5.2 - Distribuição dos Odonto-Legistas nos IMLs de acordo com o 
regime de trabalho. – Brasil 2003.............................................93 
Tabela 5.3 - Tipos de Aparelhos de Raios X odontológicos disponíveis nos 
Institutos de Medicina Legal - Brasil, 2003..............................95 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico 
CENIPA Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes 
Aeronáuticos 
DAC Departamento de Aviação Civil 
DDVI Identificação Dentária de Vítimas de Desastres 
DIPAA Divisão de Investigação e Prevenção de Acidentes 
Aeronáuticos 
DVI Identificação de Vítimas de Desastres 
FDI Federação Dentária Internacional 
FSF Flight Safety Foundation 
GASAG Grupo de Assessoramento e Segurança da Aviação 
Mundial 
HASP Hospital de Aeronáutica de São Paulo 
IML Instituto de Medicina Legal 
INTERPOL Organização de Polícia Internacional 
INTERPOL DVI Comitê Permanente para Identificação de Vítimas de 
Desastres 
SERAC Serviços Regionais de Aviação Civil 
 
RESUMO 
 
 
A CONTRIBUIÇÃO DA ODONTOLOGIA LEGAL NA IDENTIFICAÇÃO 
HUMANA EM ACIDENTES AERONÁUTICOS 
 
O objetivo deste estudo foi verificar a importância da Odontologia Legal na 
identificação humana em acidentes aeronáuticos e detectar a situação dos 
odonto-legistas e dos equipamentos de radiologia odontológica, nos 
Institutos de Medicina Legal, das cidades onde estão localizados os 20 
(vinte) maiores aeroportos do Brasil, em movimento de passageiros obtidos 
no ano de 2001 e no período de janeiro a junho de 2002. Na revisão da 
literatura especializada e na análise de 18 (dezoito) questionários 
respondidos pelos Diretores dos Institutos de Medicina Legal pesquisados, 
verificou-se: O total de odonto-legistas que trabalham nestes Institutos de 
Medicina Legal é em número de 102 (cento e dois), sendo 79 (setenta e 
nove) odonto-legistas efetivos e 23 (vinte e três) odonto-legistas contratados. 
A maior parte destes Institutos de Medicina Legal (10 casos), não possui 
aparelhos de raios X odontológico para radiografias periapicais e não possui 
aparelhos de raios X para radiografias panorâmicas, equipamentos 
essenciais para a realização de perícias de identificação humana. O 
Instituto de Medicina Legal da cidade de Vitória e o da cidade de Campinas, 
não possuem odonto-legistas.Todos os 18 (dezoito) Diretores dos Institutos 
de Medicina Legal, por unanimidade, afirmaram que o trabalho do odonto-
legista na perícia de identificação de vítimas de acidentes aeronáuticos, é 
muito importante. A situação atual da Odontologia Legal em grande parte 
dos Institutos de Medicina Legal pesquisados é deficiente tanto na 
quantidade de odonto-legistas, quanto na inexistência de equipamentos de 
raios X odontológicos, para realizar perícias de identificação humana, para 
realizar um trabalho importante de identificação, mediante a ocorrência de 
um acidente aeronáutico, que tem como uma de suas característicasprincipais, a falta de previsibilidade. O mais grave é que no Brasil, inexistem 
equipes especializadas e capacitadas para o trabalho de identificação de 
vítimas de desastres de massa – acidentes aeronáuticos. 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A Odontologia Legal está intimamente relacionada com a identificação 
humana em acidentes aeronáuticos. Portanto, torna-se oportuno uma 
homenagem a Alberto Santos Dumont, que com seu invento, mudou a 
História da Humanidade. 
Filho do engenheiro Henrique Dumont e neto de François Dumont, 
joalheiro francês do século XIX, o brasileiro Alberto Santos Dumont nasceu 
no dia 20 de julho de 1873 em “Cabangu”, no distrito de João Gomes (atual 
Santos Dumont), em Minas Gerais. Os livros de Júlio Verne alimentaram 
seus sonhos. Devorou os livros: Cinco semanas em balão, Da terra à lua, 
Vinte mil léguas submarinas e A volta ao mundo em oitenta dias. 
Ficou fascinado com a história de Olivier de Malmesbury, o monge 
inglês, que construiu asas e se lançou do alto de uma torre no século XI. 
Estudou com afinco os trabalhos de Leonardo da Vinci sobre a estrutura das 
asas dos pássaros e admirou a tentativa da Bartolomeu de Gusmão que, em 
Lisboa no ano de 1709, conseguiu se elevar a 200 pés de altura. 
No século XIX, durante uma década inteira, o engenheiro Santos 
Dumont construiu e pilotou vários balões dirigíveis. Em 4 de junho de 1898, 
o dirigível Brasil atravessou a cidade de Paris, surpreendendo os 
INTRODUÇÃO 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
2
parisienses. A partir daí, suas invenções passam a atrair multidões. 
Resolveu então combinar o balão com um motor de explosão. Era o modelo 
Santos Dumont número 1. Em setembro de 1898, leva seu novo invento ao 
Jardin de l’Aclimatation. O balão sobe, mas termina batendo nas árvores do 
jardim. Dias depois ele tenta novamente. O balão alça vôo, mas na descida 
quase é destruído. Finalmente, evitando bater nas árvores, pousa 
normalmente, sem problemas. 
Dedicado a aperfeiçoar sua invenção, Santos Dumont parte para a 
construção do modelo Santos Dumont 2, que é maior que o anterior, tem a 
forma de um charuto e conta com um ventilador.O número 2 não dura muito. 
Bate de encontro às arvores e é destruído. Com o número 3, que vai de 
Vaugirard até o Campo de Marte, Santos Dumont consegue o mais absoluto 
controle do balão, faz curvas, sobe e desce sem dificuldades. O modelo 
Santos Dumont 3 é cilíndrico e o hidrogênio foi substituído por gás de 
iluminação. Em seguida o engenheiro constrói o modelo 4 em Saint Cloud. 
Essa aeronave tem um selim e um guidão de bicicleta. 
Santos Dumont ainda não tinha dezoito anos, quando na Exposição 
do Palácio das Indústrias em Paris, descobriu que os motores dos 
automóveis, mais leves que o das locomotivas a vapor, poderiam ser a 
solução para criar a máquina de seus sonhos. 
Antes da construção do número 6, Santos Dumont perde duas de 
suas invenções: os números 4 e o 5 são destruídos em acidentes. O 
Aeroclube de Paris oferece um prêmio em dinheiro a quem conseguir, 
INTRODUÇÃO 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
3
partindo de Saint Cloud, dar uma volta completa à Torre Eiffel e voltar em 
menos de trinta minutos. 
Em 12 de outubro de 1901, Santos Dumont completa a volta em trinta 
e um minutos com o balão número 6. O júri fica hesitante por causa da 
diferença de um minuto, mas a multidão ovaciona a performance e o prêmio 
é entregue ao brasileiro, que divide os cem mil francos franceses, com os 
técnicos, operários e colaboradores de sua equipe. 
Nessa altura, nosso aviador já é uma celebridade no mundo inteiro. É 
homenageado em Londres, recebe convite do Príncipe de Mônaco para 
construir um hangar e uma oficina no principado, é visitado pela viúva de 
Napoleão III. Por fim é contratado pelo Governo Francês a construir o 
primeiro aeródromo do mundo em Neuilly. 
Depois de construir o Santos Dumont 7 e saltar para o número 9 
(porque não gostava do número 8), ele bati za o dirigível com o nome de 
Balladeuse. O Balladeuse fica famoso em Paris, porque o seu inventor 
passa a utilizá-lo como meio de transporte. Os modelos vão se sucedendo 
cada vez mais aperfeiçoados, até que, em 1905, surge o número 14, 
seguido pelo famoso 14-Bis. 
Finalmente chegou o dia da consagração, depois de várias tentativas. 
Avisou a todos que pretendia ganhar o Prêmio Archedeacon, criado pelo 
Aeroclube da França. No dia 23 de outubro de 1906, uma multidão se reuniu 
para assistir à proeza. Do Campo Bagatelle, junto da Torre Eiffel – na região 
central de Paris – Santos Dumont decolou no seu célebre 14-Bis, subiu a 
uma altura de três metros do solo, voando ao todo um percurso de sessenta 
INTRODUÇÃO 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
4
metros. Assim, o brasileiro conseguiu provar a dirigibilidade do seu invento, 
voando num aparelho mais pesado do que o ar, com propulsão própria. Com 
o 14-Bis, ganhou os Prêmios Aeroclube Archedeacon e foi carregado nos 
braços pela multidão que considerava um milagre a façanha de Santos 
Dumont. 
Os países civilizados passaram a construir fábricas, hangares e 
pistas. Iniciam-se as primeiras linhas postais e de passageiros. Atualmente, 
este meio de transporte é utilizado diariamente por milhões de pessoas em 
todo o mundo. Embora os irmãos norte-americanos Wright e o francês 
Clément Ader tivessem reivindicado a autoria da façanha, no mundo inteiro, 
Santos Dumont foi o pioneiro. 
Em 1998, o então Presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, 
reconheceu oficialmente que Alberto Santos Dumont foi o verdadeiro “Pai da 
Aviação”. 
Comemora-se atualmente, em todo o mundo, o Centenário de Santos 
Dumont, em alusão ao prêmio oferecido pelo Aeroclube de Paris, 
conquistado pelo Pai da Aviação – Santos Dumont, que em trinta e um 
minutos no dia 12 de outubro de 1901, deu uma volta completa na Torre 
Eiffel, e retornou a Saint Cloud dirigindo o balão Santos Dumont número 6. 
(Centenário, 2001). 
Considerando este relevante marco histórico, a partir do qual o 
homem vence o tempo entre longas distâncias, com o objetivo de agilizar 
relações comerciais e turísticas, há de se considerar também a 
probabilidade de acontecimentos nefastos como os acidentes aeronáuticos, 
INTRODUÇÃO 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
5
que são provocados por falhas humanas, mecânicas, ou fatores 
meteorológicos, quando inúmeras pessoas perdem a vida. 
A Odontologia Legal contribui para esta difícil missão de 
identificação de corpos carbonizados, que são freqüentes nestes 
acontecimentos. 
 
 
 
2 REVISÃO DA LITERATURA 
 
 
“Um dos aspectos irônicos do mundo natural é que a dentição 
humana, local de decomposição prevalente e crônica em vida, dura 
mais que todos os outros tecidos após a morte” – SOPHER, 1976. 
 
O incêndio no Bazar de La Charité em Paris, em 04 de maio de 1897, 
levou o Dr. Oscar Amoedo, cubano, naturalizado argentino, ao interesse da 
Odontologia Legal e, subseqüentemente, ele foi condecorado como o 
fundador deste ramo da Ciência Forense. 
O Bazar de La Charité tinha lugar em Paris desde 1885, e, em 1897, 
estava sendo realizado pela 13ª vez. Era um barracão retangular de madeira 
envernizada, com cerca de 72 (setenta e dois) metros de comprimento e 30 
(trinta) metros de largura, com teto de lona. Este barracão era uma réplica 
de uma rua medieval parisiense com fachadas de casas e lojas de ambos os 
lados cobertas por tetos de lonas. Como atração especial, um cinema foi 
instalado na longa galeria, quase em frente de uma das saídas. 
Por volta de 16:00 horas, uma explosão ocorreu na lâmpada de gás 
do cinema e levou o fogo aos panos ao redor e internamente atingindo o teto 
da tenda, e rapidamente todo o seu interior ficou em chamas. Os bombeiros 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
7
iniciaram seus trabalhos às 16:23 horas mas toda a construção ruiu às 16:30 
horas, matando 126 (cento e vinte e seis) parisienses nas chamas.Os registros das investigações feitas pelos Cirurgiões-dentistas 
envolvidos nesta tragédia, permitiram a identificação das vítimas, através 
dos dados odontológicos antemortem, e que formaram a maior parte da tese 
do Dr. Oscar Amoedo para o seu doutorado em 1898, relatou Botha (1986). 
 
2.1 Identidade e identificação 
 
Para França (1995), o conceito de identidade segundo Morais: “É a 
qualidade de ser a mesma coisa e não diversa”. 
Carvalho et al. (1992) confirmaram que “de fato, todo o ser apresenta 
um conjunto de caracteres que o definem, que são a sua identidade. Uma 
cousa, um corpo, um ente só pode ser idêntico, a si mesmo, diferenciando-
se assim o conceito de identidade do de semelhança”. 
Identificação segundo França (1995) “é o processo pelo qual se 
determina a identidade de uma pessoa ou de uma coisa, ou um conjunto de 
diligências cuja finalidade é levantar uma identidade”. 
Buchner (1985) confirmou que a identificação humana de corpos 
desconhecidos é essencial em sociedades modernas por razões jurídicas e 
humanas. Por lei, a maioria dos países requer que o atestado de óbito seja 
emitido para comprovar civilmente a morte de uma pessoa e como 
conseqüência, as questões que envolvem pensões alimentícias, seguros de 
vida, a nova situação civil do cônjuge, a preparação do funerário, que só é 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
8
realizado mediante o atestado de óbito. O sofrimento da família poderá ser 
diminuído, se o corpo é identificado e enterrado formalmente. 
Delattre & Stimson (1999) afirmaram que a percepção da população 
de que a Odontologia Legal é surpreendente e eficaz em sua atuação 
científica nos casos de identificação humana através do exame dos dentes, 
pois atualmente é comum nos jornais e noticiários a divulgação de que em 
acidentes graves quando a identificação das vítimas com a utilização de 
métodos tradicionais como a dactiloscopia, o reconhecimento visual estão 
prejudicados, a utilização dos registros dentais é um método vastamente 
conhecido para a identificação de corpos carbonizados. 
Para Delattre & Stimson (1999), todo o indivíduo merece a dignidade 
de ter um nome e uma identidade, até mesmo depois da morte. No mundo 
que vivemos hoje, existem várias maneiras nas quais nós podemos morrer 
sem a possibilidade de ter nossos corpos identificados por meios visuais ou 
pela comparação de impressões digitais ou até mesmo pela análise do DNA. 
Várias razões conduzem à identificação pelo exame dos dentes, por ser um 
método científico, rápido e de baixo custo. 
Botha (1986) afirmou que no resultado de um acidente aeronáutico, 
após o salvamento dos sobreviventes, a identificação das vítimas é a tarefa 
mais urgente que as autoridades enfrentam. O número de casos nos quais 
a identificação dentária desempenha um papel importante na identificação 
de vítimas de desastres de massa, está crescendo. 
 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
9
2.2 Aspectos legais para o exercício da odontologia legal 
 
Conforme Silva (1997), “a Lei Federal 5081 de 24 de agosto de 1966, 
que regula o exercício da Odontologia no Brasil, estabelece: 
Art. 6º - Compete ao Cirurgião-dentista: 
IV – proceder à perícia odontolegal em foro civil, criminal, trabalhista e 
em sede administrativa; 
IX – utilizar, na função de perito-odontólogo, em caso de necropsia, as 
vias de acesso do pescoço e cabeça”. 
O Conselho Federal de Odontologia através da Resolução CFO- 22 / 
2001, de 27 de dezembro 2001, estabelece no seu artigo 4º, o elenco das 
especialidades odontológicas, entre as quais a Odontologia Legal, cujas 
atribuições encontram-se definidas nos artigos 27 e 28, nos seguintes 
termos: 
Art. 27. Odontologia Legal é a especialidade que tem como objetivo a 
pesquisa de fenômenos psíquicos, físicos, químicos e biológicos que podem 
atingir o homem, vivo, morto ou ossada, e mesmo fragmentos ou vestígios, 
resultando lesões parciais ou totais reversíveis ou irreversíveis. 
Parágrafo único: A atuação da Odontologia Legal restringe-se a 
análise, perícia e avaliação de eventos relacionados com a área de 
competência do Cirurgião-dentista, podendo, se as circunstâncias o 
exigirem, estender-se a outras áreas, se disso depender a busca da 
verdade, no estrito interesse da justiça e da administração. 
Art. 28. As áreas de competência para atuação do especialista em 
Odontologia Legal incluem: 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
10
a) identificação humana; 
b) perícia em foro civil, criminal e trabalhista; 
c) perícia em área administrativa; 
d) perícia, avaliação e planejamento em infortunística; 
e) tanatologia forense; 
f) elaboração de : 
1) autos, laudos e pareceres; 
2) relatórios e atestados; 
g) traumatologia odonto-legal; 
h) balística forense, 
i) perícia logística no vivo, no morto, íntegro ou em suas partes em 
fragmentos; 
j) perícia em vestígios correlatos, inclusive de manchas ou líquidos 
oriundos da cavidade bucal ou nela presentes; 
l) exames por imagens para fins periciais; 
m) deontologia odontológica 
n) orientação odonto-legal para o exercício profissional; e, 
o) exames por imagens para fins odonto-legais. 
 Delattre (2001) afirmou que o odonto-legista trabalha como parte de 
uma equipe de pessoas dedicadas e talentosas: os peritos. Vítimas de 
incêndios em carros , residências, explosões em fábricas ou de acidentes 
aeronáuticos, que freqüentemente são carbonizadas e apresentam 
deformidades faciais, serão identificadas através de uma avaliação odonto-
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
11
legal com a comparação dos dados do odontograma antemortem e 
postmortem que conduzem a uma identificação positiva. 
 
2.3 Acidentes aeronáuticos 
 
O Decreto Nº 70.050 de 25 de janeiro de 1972, do Ministério da 
Aeronáutica - Brasil, que trata do Regulamento para o serviço de 
investigação e prevenção de acidentes aeronáuticos, estabelece a seguinte 
definição para Acidentes Aeronáuticos: 
Toda ocorrência relacionada com a operação de uma aeronave, 
havida dentro do período compreendido entre o momento em que qualquer 
pessoa entra na aeronave, com a intenção de realizar um vôo, até o 
momento em que todas as pessoas tenham desembarcado, durante o qual: 
a) qualquer pessoa morra ou receba lesões, como resultado de estar 
dentro ou sobre a aeronave ou, ainda, por ter contato direto com a mesma 
ou com qualquer coisa ligada a ela; 
b) a aeronave sofra danos. 
Informou Botha (1986), que o Instituto Britânico Cranefield de 
Tecnologia investigou acidentes aeronáuticos entre 1955 a 1979 e 
descobriu que em mais de 60% destes acidentes, metade das fatalidades 
foram causadas pela fumaça oriunda do fogo. Esta fumaça produzida no 
interior de uma aeronave em incêndio, pode incapacitar passageiros em 30 
(trinta) segundos e uma pequena labareda pode se transformar em uma bola 
de fogo através do revestimento interno do plástico em segundos. A 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
12
Organização Internacional de Aviação Civil concluiu que o fogo é o maior 
assassino em acidentes aeronáuticos, com chance de sobrevivência. 
Concluiu Botha (1986), que Firotex é um material de revestimento de 
cabine capaz de suportar temperaturas de até 1.000º C e foi desenvolvido 
em 1981, mas foi abandonado pelas companhias aéreas, devido ao seu alto 
custo. Felizmente, materiais resistentes ao fogo estão sendo instalados nas 
aeronaves, para permitir a evacuação de um avião em chamas em 2,5 
minutos a mais do que anteriormente. Engenheiros do Instituto Britânico de 
Química, estão desenvolvendo um combustível à prova de fogo que possa 
coagular quando sacudido violentamente na aeronave durante o acidente, 
ao invés de se espalhar pela fuselagem e escapar. 
Muñoz (1999) descreveu a metodologia utilizada para a realização da 
perícia médico-legal domaior acidente aeronáutico ocorrido no Brasil em 
número de vítimas, no dia 31 de outubro de 1996, com o avião Fokker-100 
da TAM (vôo 402), envolvendo 98 (noventa e oito) pessoas identificadas: “A 
companhia aérea informou o nome de 96 (noventa e seis) pessoas que 
haviam embarcado nesse vôo, sendo 90 (noventa) passageiros e 6 (seis) 
tripulantes. A tripulação estava assim discriminada: 1 (um) comandante, 
1(um) co-piloto, 3 (três) comissárias e 1 (um) comissário de bordo. Duas 
pessoas compareceram ao IML informando que seus parentes haviam 
morrido no acidente. Um estava em uma das casas atingidas pela aeronave; 
o outro caiu nas chamas quando tentava sair de sua casa, atingida pelo 
incêndio que se seguiu à queda da aeronave. Este fato foi presenciado e 
descrito pelos seus familiares”. 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
13
“Os cadáveres que se encontravam bastante deteriorados pela 
carbonização, impossibilitando o reconhecimento direto e a dactiloscopia, 
foram submetidos ao exame odonto-legal (descrição dos arcos dentários) e 
à averiguação de características físicas não detectadas no exame 
necroscópico, como por exemplo a avaliação da estatura pelos ossos 
longos. 
Uma primeira fase do exame odonto-legal foi efetuada mesmo não 
havendo suspeita que o corpo fosse o de determinada pessoa. Nesta fase 
foi realizada a abertura da boca e a descrição dos arcos dentários. A 
segunda fase – levada o efeito quando se suspeitava que o corpo fosse de 
uma pessoa definida – o procedimento do exame era determinado pelo 
material que se dispunha para confronto. Se houvesse ficha dentária era 
realizado o exame direto dos arcos dentários; havendo radiografias, o 
cadáver era submetido a tomadas radiográficas (oblíqua direita e esquerda) 
de mandíbula – que permite a visualização dos dentes posteriores – e a 
póstero-anterior dos seios da face para análise dos dentes anteriores. Em 
casos especiais os arcos dentários foram removidos para uma análise mais 
minuciosa e tomada de radiografias de diferentes posições, para a 
visualização de elementos especiais, relatou Muñoz (1999). 
 
2.4 O terrorismo na aviação civil 
 
Destacou Visser (2002), que o relatório da Assembléia do Atlântico 
Norte descreve o terrorismo como: “a utilização sistemática de assassinatos 
e destruição, assim como ameaças de assassinato e destruição para 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
14
aterrorizar indivíduos, grupos, comunidades ou governos e fazer com que 
aceitem os objetivos políticos dos terroristas”. 
Para Rocha (2002), “11 de setembro de 2001, uma data que mudou a 
perspectiva de risco da aviação.O uso de aeronaves comerciais em 
deliberados ataques como virtuais mísseis, intencionalmente pilotados para 
a sua auto destruição contra “alvos”, fugiu do que se previa e temia. A ação 
“inominável” daquele dia de 2001 extrapolou o que se previa de pior”. 
Koeing (2002) afirmou que a crescente preocupação com as ameaças 
do terrorismo internacional vem intensificando o debate a respeito da 
adequação de alguns dos atuais sistemas de seguranças doa aeroportos, 
assim como tem levantado questões de privacidade e de legitimidade 
relacionados à utilização de novos equipamentos de alta tecnologia para a 
triagem de passageiros. 
Visser (2002) destacou que “os métodos dos terroristas também 
mudaram com o surgimento do ativista suicida. Se o indivíduo não preza a 
própria vida, ele geralmente preza menos ainda as vidas alheias. A morte 
heróica substitui qualquer sabedoria política disponível no passado. Com 
este tipo de grupo ainda em movimento é impossível garantir um futuro 
pacífico para a aviação civil”. 
Para Koeing (2002) “os especialistas acreditam que a aviação 
provavelmente continuará sendo alvo atrativo para os terroristas durante boa 
parte do futuro próximo. A segurança da aviação é baseada em uma 
cuidadosa mistura de informações de inteligência, procedimentos, tecnologia 
e pessoal de segurança, mas nunca serão a solução completa do problema”. 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
15
Para Vinner (2002), “da perspectiva dos terroristas, ataques a 
aeroportos trazem dividendos de várias formas às suas causas. Os 
seqüestros de aeronaves têm um enorme impacto sobre a opinião pública, 
especialmente quando duram vários dias ou semanas. Os seqüestradores 
que têm um aguçado senso do poder da publicidade, permitem que câmaras 
de televisão e fotógrafos de jornais registrem imagens ao vivo”. 
Rocha (2002) apresentou o resumo do Relatório de Segurança de 
2001 do Comitê de Operações da IATA, reunião realizada em Montreal nos 
dias 02 e 03 de outubro de 2001, quando o tema das melhorias na 
segurança dominou a agenda. A discussão veio na esteira dos eventos de 
11 de setembro, que tiveram efeito profundo na indústria da aviação. Um dos 
acordos resultantes deste encontro foi o da formação do Grupo de 
Assessoramento de Segurança na Aviação Mundial (GASAG – Global 
Aviation Security Advisory Group), cujo objetivo é oferecer uma visão 
coordenada da indústria para uma harmonização global de procedimentos 
de segurança. O GASAG, desde sua formação, já emitiu comentários a 
respeito de várias iniciativas relativas à segurança de aeronaves e 
procedimentos de vôo como por exemplo: 
• reforço nas portas e restrição de acesso à cabine da aeronave; 
• agentes de segurança a bordo da aeronave; 
• instalação de câmaras para monitorar passageiros; 
• treinamento sobre manuseio de armamentos e situações de combate 
para a tripulação; 
• manobras agressivas de vôo e de despressurização, e 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
16
• aprimoramento da segurança em solo e nos aeroportos. 
 
2.5 SERAC 4: a segurança é o resultado 
 
Guimarães (2001) afirmou que o Brasil “vem se destacando por 
índices muito bons, nos últimos anos, em todos os segmentos da aviação 
civil. No entanto por estar inserido no cômputo da região Latino-Americana e 
Caribe, passa despercebido o bom trabalho aqui realizado por toda 
comunidade aeronáutica. As grandes empresas brasileiras, operando quase 
que totalmente com equipamentos de última geração, têm buscado a 
excelência dos serviços em todas as áreas e a Segurança de Vôo 
apresenta-se como prioridade em suas diretivas. Na prevenção, é 
fundamental que todos colaborem. A indústria sabe que a perda de uma 
aeronave é fácil de repor, as vidas nela embarcadas, jamais. Continuaremos 
mostrando à comunidade internacional que, além de sermos o berço de 
Santos Dumont e a segunda frota de aviões do mundo, também sabemos 
voar com eficiência e segurança”. 
Rocha (2001) destacou “que a Aviação Civil Brasileira – mormente as 
linhas aéreas- têm motivos para comemorar por esses três últimos anos com 
“Zero-Acidente Fatal / Perda de Casco”. Um dos ditos mais famosos mais 
famosos em Safety: “Se achas que prevenção custa caro; experimente um 
acidente”. O Brasil apresentou uma curva de progresso realmente positiva e 
o esforço integrado operadores-governos-fabricantes influiu nesse processo. 
Para Garcia (1999), o Brasil, país do inventor do avião, e de 
dimensões continentais, é predestinado ao transporte aéreo. Depois da 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
17
Grande Guerra, a aviação comercial se expandiu no Brasil, e o Correio 
Aéreo Nacional foi fator integrador entre o litoral e o vasto interior 
inexplorado. 
Já em 1931 foi necessário criar o Departamento de Aviação Civil 
(DAC), muito antes do Ministério da Aeronáutica. Há quase 25 anos, o DAC 
criou os Serviços Regionais de Aviação Civil (SERAC), para controlar e 
fiscalizar mais de 1.000 (mil) empresas aéreas, aeroclubes, escolas, oficinas 
de manutenção e atividades ligadas à aviação civil, além de fazer o registro 
de mais de 10.000 (dez mil) aeronaves e mais de 75.000 (setenta e cinco 
mil) aeronautas. 
O maior de todos osServiços Regionais de Aviação Civil é o SERAC 
4, que jurisdiciona os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, que 
representam o volume de trabalho de 40% da aviação civil brasileira. Uma 
das áreas do SERAC 4, a Divisão Operacional, trabalha diretamente com a 
segurança, eficácia e modernização dos aeroportos e faz a fiscalização 
destes terminais, das empresas de táxi aéreo, de aviação agrícola e de 
outros serviços aéreos. 
Equipes do SERAC checam as empresas aéreas, suas oficinas de 
manutenção, aplicando padrões rígidos de exigência de qualidade e 
segurança. 
É para o SERAC que a população deve se dirigir em caso de 
denúncia de vôos rasantes, avião operando em pista clandestina, ou ação 
de panfletagem aérea que é proibido porque é perigoso aos demais aviões e 
significa lixo jogado do céu. 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
18
Controlador rigoroso da segurança, é o SERAC que licencia pilotos, 
comissários e mecânicos. A habilitação só é conseguida ou revalidada 
depois de rigorosas provas de capacidade profissional. As inspeções 
periódicas de saúde do pessoal de bordo do SERAC 4 são realizadas no 
(HASP) Hospital de Aeronáutica de São Paulo, especializado nesse tipo de 
avaliação médica. 
Talvez isso explique a reconhecida competência dos aeronautas 
brasileiros, aos quais estão entregues milhões de vida a cada ano. É um 
trabalho que o passageiro não vê. Segurança é assim, não se vê, mas se 
sente, ao fim de cada viagem. Enquanto milhões de passageiros são 
transportados em aviões de todos os tamanhos, milhares de outros 
brasileiros estão realizando o seu trabalho silencioso, invisível, mas 
eficiente, para garantir uma boa viagem. 
No espaço aéreo de São Paulo, o mais movimentado do Brasil, 
cresce a responsabilidade do SERAC 4. Realizando sua parte, com outros 
órgãos do Ministério da Aeronáutica, ele supre com valor humano de sobra o 
que muitas vezes falta em meios materiais. E os resultados estão aí, com 
números de segurança comparáveis aos dos países do primeiro mundo, 
finalizou Garcia (1999). 
A partir do mês de novembro de 2002, o SERAC 4 ficou responsável 
pela jurisdição apenas de São Paulo, devido ao imenso tráfego aeronáutico. 
O Mato Grosso do Sul, passou para a jurisdição de Brasília (SERAC 6). 
 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
19
2.5.1 Excelência do transporte aéreo brasileiro 
 
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos 
(CENIPA) e o Departamento de Aviação Civil (DAC) – Divisão de 
Investigação e Prevenção de Acidentes de Aeronaves (DIPAA) - 2002 , 
através de dados estatísticos demonstram: No ano de 2000 ocorreu um 
aumento nas taxas de acidentes para 0,62 e no ano de 2001 novo aumento 
para 3,24 acidentes por milhões de decolagens, atingindo a média Brasil o 
índice de 0,90. A média mundial é de 1,2 acidentes por milhões de 
decolagens de acordo com a Flight Safety Foundation. 
 
 
 
Figura 2.1 - Índice mundial de acidentes aeronáuticos, por milhões de decolagens 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
20
No Brasil, os números de acidentes aeronáuticos, de falecidos e a 
frota de aeronaves registradas, sofreram variações anuais: Em 1996 
ocorreram 88 (oitenta e oito) acidentes aeronáuticos com 187 (cento e 
oitenta e sete) falecidos e a frota de aeronaves atingiu 9.503 (nove mil 
quinhentos e três); em 1997 diminuiu para 73 (setenta e três) acidentes com 
94 (noventa e quatro) falecidos e a frota aumentou para 9.786 (nove mil 
setecentos e oitenta e seis); em 1998 novamente diminuiu para 71 (setenta 
e um) acidentes com 80 (oitenta ) falecidos e a frota aumentou para 10.057 
(dez mil e cinqüenta e sete); em 1999 houve uma diminuição significativa 
para apenas 47 (quarenta e sete) acidentes aeronáuticos com 67 (sessenta 
e sete) falecidos e a frota aumentou para 10.282 (dez mil duzentos e oitenta 
e dois) . No ano de 2000 o número de acidentes aeronáuticos sofreu uma 
elevação para 54 (cinqüenta e quatro) com 48 (quarenta e oito) falecidos e a 
frota aumentou para 10.371 (dez mil trezentos e setenta e um); em 2001 
aumentou para 68 (sessenta e oito) acidentes aeronáuticos com 77 (setenta 
e sete) falecidos e finalmente em 2002 diminuiu para 53 (cinqüenta e três) 
acidentes aeronáuticos e com 66 (sessenta e seis) falecidos . (Tabela 2.1). 
[http://www.cenipa.maer.mil.br/] 
 
2.6 Acidentes aeronáuticos e as fases do vôo 
 
É importante destacar a porcentagem de acidentes aeronáuticos 
relacionados com as fases do vôo. Conforme a Figura 2.2, na fase de 
manobra da aeronave detecta -se 2% de acidentes; na fase de decolagem, 
por sua vez, a porcentagem é de 14%; na subida é de 17%, na fase altitude 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
21
cruzeiro é de apenas 5%, na fase de descida é de 6%, a fase de 
aproximação é de 34% e no pouso 22%. 
 
Tabela 2.1 - Número de acidentes aeronáuticos, vítimas fatais e frota da 
aviação civil brasileira no período de 1995 a 2002 – Brasil, 
2003 (DAC 2003. Disponível em URL http:// 
www.dac.gov.br/estatisticas/graficos/estat30.htm). 
 
ANO 
ACIDENTES 
AERONÁUTICOS 
 
FALECIDOS 
 
FROTA 
1995 100 90 9275 
1996 88 187 9503 
1997 73 94 9786 
1998 71 80 10.057 
1999 47 67 10.282 
2000 54 48 10.371 
2001 68 77 10.532 
2002 53 66 10.631 
 
 
Figura 2.2 - Percentual de ocorrência de acidentes aeronáuticos por fase de 
vôo (vôos de 1:30 h em média). (Flight Safety Foudation e 
Boeing Commercial Airplane Group 2002). 
[http://sites.uol.com.br/buzaid/eng/aeroporto.html ] 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
22
2.7 Desastres de massa 
 
Para a Organização Panamericana de Saúde (1996), o desastre de 
massa é o evento que resulta em um elevado número de vítimas, que causa 
uma alteração no curso normal dos serviços de emergência e de atenção à 
saúde. 
Pueyo et al. (1994) descreveram as características mais comuns 
decorrentes do desastre de massa: 
1. Grande repercussão social: isto significa em grande número de 
voluntários, intenso trabalho dos meios de comunicação, comoção e 
envolvimento emocional da coletividade. 
2. Grande destruição com traumatismos em pessoas e residências ou 
apartamentos. 
3. Dificuldades ou até impossibilidade de identificação principalmente 
quando as vítimas são de diferentes nacionalidades, como ocorre 
freqüentemente nos acidentes aeronáuticos. 
4. Ações de saques e furtos de pertences e objetos pessoais das vítimas 
por alguns indivíduos inescrupulosos que estão próximos ao desastre. 
5. Intervenção de múltiplas instituições governamentais e sociais: Polícia, 
Forças Armadas, Defesa Civil, Cruz Vermelha, Peritos do IML, Aviação 
Civil, Corpo de Bombeiros. 
Além destas características gerais dos desastres, Pueyo et al. (1994) 
destacaram algumas características específicas dos Acidentes Aeronáuticos: 
Os traumatismos são extraordinariamente graves: 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
23
1. Por ação do impacto. 
2. Pela queima do combustível da aeronave. 
3. Há uma grande dispersão de partes de corpos e objetos, que em 
algumas vezes ocupam quilômetros quadrados. 
4. As vítimas sempre são de diversas nacionalidades. Não obstante, existe 
a lista de passageiros. 
Meira (1976) esclareceu que o acidente aeronáutico afeta a 
sociedade quando ocorre, além de provocar prejuízos físicos às pessoas a 
bordo e prejuízos materiais, ambos com seus reflexos econômicos. 
Muñoz (1999) descreveu as condições dos corpos recolhidos ao IML quanto 
à ação do fogo: “A maioria apresentava-se com carbonização parcial (49 
casos) ou total (8 casos) ou quase total (31 casos). Consideramos como 
tendo carbonização quase total quando o corpo apresentava mais de 90% 
da superfície corporal carbonizada. Trinta e três cadáveres (33 casos) com 
carbonização parcial tinham mais de 50% de superfície corpórea 
carbonizada. Dez corpos (10 casos) não estavamcarbonizados, porém 6 
(seis) casos apresentavam outros graus de temperatura, conforme 
demonstrado na Tabela 2.2. 
 
 
 
 
 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
24
Tabela 2.2 - Estado dos cadáveres por ação de agente térmico no acidente 
TAM – Vôo 402. Brasil, 1996 (Muñoz, 1999, p.100) 
ESTADO DO CADÁVER 
Nº de 
casos 
% 
Carbonização total 100% S.C.(*) 8 8 
Carbonização quase total > 90% S.C. 31 32 
Carbonização parcial > 50% S.C. 33 34 
Carbonização parcial de 20% a 50% S.C. 3 3 
Carbonização parcial < 20% S.C. 13 13 
Não carbonizado / com queimaduras > 50% S.C. 3 3 
Não carbonizado / com queimaduras de 20% a 50% SC 1 1 
Não carbonizado / com queimaduras < 20% S.C. 2 2 
Não carbonizado / sem queimaduras 4 4 
TOTAL 98 100 
 (*) S.C. = Superfície Corporal 
 
Todos exibiam traumatismos intensos, a maioria (78 casos) com 
mutilações, isto é, com perda de partes anatômicas. Em um caso o corpo 
estava fragmentado, segundo Muñoz (1999) (Tabela 2.3). 
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (1996), o Sistema 
de Atenção às Vítimas de Massa, se refere ao grupo de unidades, 
organizações e setores que funcionam conjuntamente, aplicando 
procedimentos institucionalizados, para reduzir ao máximo as mortes 
decorrentes do desastre, através de utilização de todos os recursos eficazes 
existentes. 
 
 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
25
Tabela 2.3 - Estado dos cadáveres quanto à ação de agentes mecânicos e 
os locais de perdas anatômicas, acidente tam – vôo 402, brasil 
1996 
Estado do cadáver Nº de casos % 
Inteiro com lesões por agente mecânico 19 19 
Mutilado na cabeça 30 31 
Mutilado na cabeça e membros 9 9 
Mutilado na cabeça e tronco 2 2 
Mutilado na cabeça, tronco e membros 9 9 
Mutilado nos membros 22 23 
Mutilado nos membros e tronco 4 4 
Mutilado no tronco 2 2 
Fragmentado 1 1 
TOTAL 98 100 
 
Este Sistema se baseia em: 
- Procedimentos pré-estabelecidos que devem ser empregados em 
situações de emergência e adaptá-los para atender a desastres de grandes 
proporções; 
- Aproveitamento ao máximo dos recursos existentes; 
- Preparação e respostas multisetoriais; 
- Estrita coordenação, pré-planejada e aprovada. 
Este Sistema é importante para: 
- Agilizar e ampliar os procedimentos diários para aproveitar ao 
máximo os recursos existentes; 
- Estabelecer uma cadeia de socorros multisetoriais bem coordenada; 
· 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
26
- Reestabelecer com rapidez e eficiência as operações normais dos 
serviços de emergência e atenção à saúde que o desastre de massa 
originou. 
 Pretty et al. (2001) afirmaram que os desastres de massa 
representam um desafio significante para a equipe de identificação dental 
que freqüentemente é chamada para trabalhar na identificação das vítimas, 
através de evidências dentais. Que o sucesso deste difícil trabalho está 
alicerçado na preparação prévia e nos treinamentos da equipe de odonto-
legistas, além de destacar os relevantes aspectos emocionais e psicológicos 
que envolvem toda a equipe, durante o trabalho de identificação das vítimas. 
Pretty et al. (2001) confirmaram que o bem estar emocional do grupo 
que trabalha com desastres de massa é fundamental e que nos 
treinamentos prévios sobre este importante tema, um trabalho sobre 
psicologia tem que ser abordado e desenvolvido. 
Relataram Doyle & Bolster (1992), em 23 de Junho de 1985, uma 
aeronave da Air Índia AI-182 que voava de Toronto para Bombay caiu no 
mar e faleceram todos os 329 (trezentos e vinte e nove) passageiros a 
bordo. Foram recuperados no mar apenas 132 (cento e trinta e dois) corpos 
o que significa 39,8% das vítimas. A equipe multiprofissional para trabalhar 
na identificação das vítimas deste acidente aeronáutico, compunha-se de 4 
(quatro) médicos legistas, 7 (sete) patologistas forenses, 4 (quatro) odonto-
legistas. Apenas 1 (um) corpo não foi identificado e após 6 (seis) semanas 
de trabalho, todos os 131 (cento e trinta e um) corpos foram liberados para 
os seus familiares. 
REVISÃO DA LITERATURA 
RODRIGO MIRANDA PEREIRA 
27
Outro aspecto detectado por Pretty et al. (2001) é que como uma 
característica do desastre de massa é a falta de previsibilidade de sua 
ocorrência e que o tempo para o trabalho de identificação de vítimas em 
acidentes aeronáuticos é demorado, demandando na maioria das vezes 
várias semanas de trabalho, um problema muito comum é que o odonto-
legista não está preparado para abandonar todos os seus afazeres e 
obrigações cotidianas, como escritórios de perícias, Universidades, e em um 
espaço curto de tempo, viajar para o local do acidente aeronáutico e 
permanecer por lá por um período indeterminado, não sabendo também de 
antemão sobre as implicações financeiras que sofrerá durante o tempo que 
estiver distante de suas atividades habituais. São fatores importantes que 
devem ser discutidos e elucidados anteriormente ao desastre de massa, 
para que o profissional tenha tranqüilidade de realizar um excelente trabalho 
e que psicologicamente esteja tranqüilo. 
 
2.8 Métodos de identificação 
 
De acordo com, Buchner (1985), podem ser empregados vários 
métodos para estabelecer a identidade de um corpo humano. Alguns desses 
métodos são conhecidos por possuírem caráter científico (impressões 
digitais), enquanto outros métodos empregados têm caráter pouco fiéis 
(reconhecimento visual). Porém a confirmação de dados obtidos por 
métodos pouco fiéis pode elevar a probabilidade de uma identificação 
correta, se somados com os dados obtidos através de métodos científicos. 
REVISÃO DA LITERATURA 
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 Buchner (1985), afirmou que os registros geralmente usados para 
comparação com os resultados do exame são as listas das pessoas 
falecidas, fotografias, impressões digitais, fichas odontológicas, radiografias 
odontológicas e médicas, resultados de exames laboratoriais (grupo 
sangüíneo). Os métodos de identificação incluem: 
1 – reconhecimento visual ; 
2 – roupas e características pessoais; 
 3 – exame da impressão digital; 
4 – exame odontológico; 
 5 – exame médico e radiológico; 
 6 – exame antropológico; 
 7 – exames de DNA; 
 8 – identificação através de exclusão. 
 
2.8.1 Reconhecimento visual 
 
Buchner (1985), afirmou que o reconhecimento visual representa o 
método mais freqüente de identificação. Só pode ser utilizado em casos 
onde o corpo, e especialmente as características faciais estão bem 
conservadas e os parentes ou amigos podem ser localizados rapidamente. 
O valor deste método está limitado pelo fato de que um corpo que sofreu a 
ação do fogo, torna-se muitas vezes, irreconhecível visualmente. Além do 
mais, os parentes e amigos, ao examinarem os corpos visualmente e não 
conseguindo identificá-los, ficarão emocionalmente abalados, pelo fracasso 
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29
desta tentativa esperançosa de identificação. É possível, por estes motivos, 
que uma identificação errônea possa ser feita. Por estes motivos, o 
reconhecimento visual é o método menos fidedigno. 
 
2.8.2 Roupas e pertences pessoais 
 
Buchner (1985), comentou que o exame de roupas e de pertences 
pessoais freqüentemente é muito útil em identificação, baseado em uma 
descrição cuidadosa e exame de cada artigo de roupa e pertences pessoais 
relacionados aos corpos e uma comparação é feita com a lista de pessoas 
falecidas. Placas de identificação de soldados encontradas no pescoço, 
pulseiras com identificação encontradas no pulso, cédula de identidade 
encontrada no bolso da vítima, são muito úteis para estabelecer a 
identidade. Outros pertences úteis incluem jóias gravadas, carteiras com as 
iniciais do nome. 
Buchner (1985), insistiu em afirmar que a identificação através de 
pertences ou roupas não é considerado um método fidedigno, pois, podem 
ser objetosperdidos e soltos ou podem ser trocados. Porém é importante 
como uma pista útil que conduz à identificação através de métodos mais 
científicos como o exame das impressões digitais e das características 
odontológicas. 
 
 
 
 
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2.8.3 Exame das impressões digitais 
 
O método mais fidedigno para Buchner (1985), de identificação é 
através das impressões digitais. A especificidade deste método não pode ser 
desafiada, pois não existem impressões digitais iguais de pessoas. Quando 
são preservadas as mãos da vítima, o exame das impressões digitais provê 
uma identificação positiva rápida. 
Buchner (1985), afirmou que embora o exame das impressões digitais 
seja o melhor método para a identificação, o fato que a pele é destruída 
depressa após a morte da vítima, causando limitação na utilidade desta 
técnica. Os dentes são os elementos mais duráveis dos tecidos humanos, e 
os materiais utilizados para confeccionar as restaurações nos dentes, 
também são extremamente à destruição por substâncias químicas e por 
elementos físicos. Assim, a identificação odontológica se torna o único entre 
os diversos meios precisos de identificação de corpos quando ambos os 
métodos visual e de exame de impressões digitais são ineficazes, como por 
exemplo nos casos em que houver o estado de decomposição avançado, ou 
carbonizado. 
 
2.8.4 Exame odontológico 
 
Silva (1997) alertou que o Cirurgião-dentista tem um trabalho de 
grande responsabilidade que é o de cuidar da saúde de seus semelhantes e 
implica nesta responsabilidade o cuidado na elaboração da documentação 
do paciente que é o prontuário odontológico que contém todas as fases da 
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31
atuação do profissional como o registro da anamnese, as anotações sobre o 
estado geral bucal do paciente antes do tratamento odontológico (condições 
pré-tratamento), e posteriores ao tratamento (condições pós-tratamento). 
O Código de Ética Odontológica expressa que é dever fundamental 
do profissional em Odontologia: 
 Artigo 4º, Vl : - elaborar as fichas clínicas do paciente, conservando-
as em arquivo próprio, Conselho Federal de Odontologia, (1998). 
Warnick (1987) acentuou a responsabilidade moral e ética do 
Cirurgião-dentista em manter o prontuário odontológico com os dados 
atualizados dos pacientes, pois estas informações são importantes e 
imprescindíveis em casos de necessidade de identificação através dos 
registros odontológicos. 
Conforme Pueyo et al. (1994), a identificação através dos trabalhos 
odontológicos realizados durante a vida do indivíduo, é de grande utilidade 
na Odontologia Legal, principalmente quando o corpo tenha sido queimado 
ou se foi atacado por alguma substância corrosiva. As próteses com coroas 
em ouro são facilmente detectáveis no exame após a morte, como também 
as coroas de porcelana. As próteses fixas (pontes fixas), nos dão por si sós 
dados muito precisos, em primeiro lugar, informam uma boa situação 
socioeconômica da vítima, e uma coroa em ouro nos diz que o trabalho é 
antigo, pois atualmente é mais freqüente que as próteses fixas sejam 
confeccionadas em cerâmica. Em todos estes casos, reconhecer o tipo de 
material utilizado para realizar a restauração, pode dar-nos uma indicação 
da época em que se realizou a restauração e com base no tipo técnica 
REVISÃO DA LITERATURA 
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32
utilizada, em alguns casos pode-se suspeitar de qual país foi realizado o 
tratamento. 
Juhás & Melani (2000) destacaram a documentação odonto-legal que 
o Cirurgião-dentista registra os meios utilizados nos atendimentos clínicos 
incluem: ficha clínica, receitas, atestados, radiografias, modelos de gesso. 
Botha (1986) afirmou que a qualidade do tratamento dentário e da 
higiene bucal, podem quase sempre indicar a posição social e financeira de 
um corpo não identificado. Certos tipos de coroas e pontes fixas protéticas 
odontológicas, são típicas de certos países. Na Europa ocidental, teremos 
facilidade de encontrar coroas e pontes fixas de materiais não preciosos. O 
tratamento odontológico similar em dois corpos pode indicar que se tratam 
de marido e mulher. 
Botha (1986) afirmou que as restaurações e próteses odontológicas 
são extremamente resistentes à deterioração físico-química além de que as 
características morfológicas dos dentes humanos garantem uma grande 
individualidade. Às vezes, a recuperação de um único dente ou fragmento de 
mandíbula, é importante para fazer uma identificação positiva, quando os 
registros antemortem são adequados. 
A dentadura adulta completa é composta de 32 (trinta e dois) dentes, 
com 05 (cinco) faces visíveis cada dente ao exame clínico. As combinações 
inumeráveis de dentes extraídos, lesões cariosas, restaurações e próteses 
que envolvem estas 160 (cento e sessenta) superfícies é a base da 
identificação dental. Além destas, numerosas características adicionais 
podem ser identificadas através das radiografias odontológicas que mostram 
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33
o padrão do trabeculado ósseo da maxila e mandíbula, esboço do seio 
maxilar. É importante enfatizar que a recuperação de um único dente ou do 
fragmento de mandíbula é o bastante para fazer uma identificação positiva, 
quando a ficha odontológica da vítima está disponível. Outro método 
especial que a odontologia auxilia na identificação humana é através da 
rugoscopia palatina, que através da morfologia das rugosidades palatinas 
são comparadas com as impressões de rugosidades palatinas presentes em 
modelos de gesso, dentaduras, afirmou Buchner (1985). 
A estimativa de idade através do exame das características 
morfológicas dos dentes é muito importante segundo Buchner (1985), e o 
critério para a determinação da estimativa da idade podem se dividir em 
duas categorias: até 20 anos de idade e outra categoria para maiores de 20 
anos. Os resultados mais precisos sobre o desenvolvimento dos dentes nos 
arcos superior e inferior, concentra-se principalmente na faixa etária do 
nascimento até 14 anos e devem ser observados no estado de calcificação 
da coroa, erupção dos dentes, formação das raízes. Em torno dos 20 anos 
de idade, geralmente os dentes apresentam a formação completa. 
Harris (1981) expressou os sentimentos de odonto-legistas de todo o 
mundo sobre a necessidade de um sistema unificado internacional de 
notação dentária sobre as condições bucais após o término do tratamento 
odontológico. 
Concordou Buchner (1985), que a desvantagem do sistema dentário é 
que não existe um Centro oficial que catalogue as fichas odontológicas para 
sua utilização quando necessário. 
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Para que a contribuição da classe odontológica seja efetiva na 
identificação humana, Silva (1997) preconizou a necessidade de 
padronização dos registros comumente utilizados pelos Cirurgiões-dentistas, 
para que a transmissão dos caracteres seja eficiente e facilitada. Que a 
notação preconizada pela Federação Dentária Internacional (FDI) , aprovada 
em Bruxelas, em 1970, seja utilizada pelos Cirurgiões-dentistas para 
representar os serviços odontológicos executados e as condições dentárias 
encontradas nos pacientes. Na notação adotada pela FDI, cada dente é 
representado por um número formado por dois dígitos. Estes dígitos, para os 
dentes permanentes, vão de 11 a 48, e para os decíduos de 51 a 85. 
(Figura 2.3). 
 
DENTES PERMANENTES 
ARCO SUPERIOR DIREITO 
QUADRANTE 1 
18 17 16 15 14 13 12 11 
ARCO SUPERIOR ESQUERDO 
QUADRANTE 2 
21 22 23 24 25 26 27 28 
ARCO INFERIOR DIREITO 
48 47 46 45 44 43 42 41 
QUADRANTE 4 
ARCO INFERIOR ESQUERDO 
31 32 33 34 35 36 37 38 
QUADRANTE 3 
 
DENTES DECÍDUOS 
ARCO SUPERIOR DIREITO 
QUADRANTE 5 
55 54 53 52 51 
ARCOSUPERIOR ESQUERDO 
QUADRANTE 6 
61 62 63 64 65 
ARCO INFERIOR DIREITO 
85 84 83 82 81 
QUADRANTE 8 
 
ARCO INFERIOR ESQUERDO 
71 72 73 74 75 
QUADRANTE 7 
 
Figura 2.3 - Notação dentária de dois dígitos preconizada pela Federação 
Dentária Internacional – FDI (Silva, 1997, p.332) 
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Gustafson (1966) citou estudos que indicam que ao serem expostos a 
temperaturas muito altas, os dentes podem apresentar-se friáveis a 205ºC e 
serem fraturados até reduzirem-se a cinzas aproximadamente a 482ºC. Mas 
os dentes podem estar protegidos de tais temperaturas pelos músculos e 
ossos que os envolvem e é provável que os elementos dentários resistam a 
temperaturas consideravelmente mais altas. 
Conforme Arbenz (1988), “os dentes e os arcos dentários podem 
fornecer em certas circunstâncias, subsídios de real valor para a solução de 
problemas médico-legais e criminológicos, de sorte a constituir mesmo, os 
únicos elementos com os quais pode contar o Perito”. 
Poller (1975) e Saferstein (1981) ressaltaram a existência de vários 
milhões de diferentes combinações das impressões digitais o que resulta 
em, praticamente, uma individualidade. Isto pode ser transportado para a 
cavidade bucal. Se considerarmos um indivíduo portador dos 32 (trinta e 
dois) dentes com cinco faces, visíveis, cada um, teremos um total de 160 
(cento e sessenta) faces e analisando-se a existência de dentes perdidos, 
restaurados, presença de próteses, morfologia radicular, defeitos ósseos, 
teremos vários milhões de combinações garantindo, dessa maneira uma 
individualidade. 
Para Simpson (1980) “há casos em que um único dente isolado pode 
ser suficiente para identificação”, assim, nestes casos, uma única radiografia 
periapical seria suficiente. Como a evidência dentária pode ser o principal 
método para resolver questões vitais de identificação humana, o odonto-
REVISÃO DA LITERATURA 
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legista é reconhecido como um membro importante da equipe de 
investigação. 
“No desastre em pauta, 15% das vítimas foram identificadas por 
reconhecimento direto, 26% por dactiloscopia, 8% por exame de DNA e os 
demais 51% pelos exames antropológicos e odonto-legal, geralmente 
associados entre si ou a esses outros métodos. 
Cotejando esses dados com os da literatura, evidencia-se que o 
exame odontológico é o método mais utilizado para a identificação de 
vítimas de desastre de massa”, afirmou Muñoz (1999). 
 
2.9 Efeito do tempo, do terreno e do fogo sobre os dentes e materiais 
utilizados em odontologia 
 
 Pueyo et al. (1994) afirmaram que as condições em que se encontre 
um cadáver, a influência atmosférica, o terreno em que permanece o corpo, 
são fatores importantes que influenciam na maior ou menor rapidez dos 
fenômenos putrefativos. Estes fenômenos são mais rápidos quando se 
combina com o grau de umidade do terreno e sua constituição química. 
Para Pueyo et al. (1994) os dentes e os materiais utilizados para 
restaurá-los, irão sofrer uma série de alterações quando submetidos a ação 
do calor. As estruturas dentárias modificam-se, na dependendo da 
temperatura que são submetidas, o tempo de exposição e a curva de 
elevação da temperatura. 
 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
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37
2.9.1 Efeitos do fogo 
 
Botha (1986) relatou que em um incêndio experimental em Mímico, 
Ontário (EUA), uma casa de dois andares foi queimada e 42 (quarenta e 
dois) minutos foram necessários para se atingir a temperatura máxima de 
1.274º C no andar térreo, enquanto que o segundo andar não atingiu mais 
do que 232º C. Quando o piso do segundo andar caiu, este atingiu 1.004º C, 
mas caiu logo para 870º C. 
Classificação de Queimaduras: 
Tipo I - queimadura da epiderme 
Tipo II - queimadura da epiderme e da derme; 
Tipo III - queimadura profunda 
Essa classificação de Wilson’s é útil para descrever achados 
anatômicos mórbidos em relatórios postmortem. 
Corpos queimados assumem a pose pugilística, que é uma típica 
postura dos boxeadores, onde os braços se posicionam puxados para cima 
e os punhos erguidos em posição de defesa. Isso é causado pela 
coagulação, pelo calor e pelo encurtamento dos feixes de músculos flexores 
mais fortes. 
Danos ao corpo humano: 
As fases de tempo-destruição para um corpo adulto após ultrapassar 
a temperatura de 680º C são: 
• braços seriamente queimados após 10 minutos; 
• pernas seriamente queimadas após 14 minutos; 
• ossos da face e dos braços expostos após 15 minutos; 
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• costelas e crânios expostos após 25 minutos; 
• fêmur e tíbula completamente queimados após 35 minutos. 
Chávez (1966) fez uma minuciosa e exaustiva descrição das 
características que apresentam os corpos carbonizados: 
 
1. Ocorre a diminuição de volume causada pela perda de líquido e 
substâncias orgânicas produzidas pela combustão. 
2. Variação do aspecto do cadáver (aspecto “bizzarro”), causado pela 
rigidez muscular produzida pela ação do calor. 
3. A pele se apresenta dura e seca com fissuras regulares, de cor negra e 
quebradiça. 
4. Os músculos podem apresentar todos os graus de “cozimento” como o 
apresentado por “carnes assadas”. 
5. Quando a carbonização é muito avançada, resulta eventualmente em 
abertura da caixa toráxica, do crânio e em algumas vezes até do 
abdômen. 
6. Se o que foi citado anteriormente é produzido, ocorre a carbonização 
do cérebro, e das vísceras toráxicas e abdominais. 
7. Os ossos se separam a nível das articulações apresentando-se 
freqüentemente fraturados e carbonizados. 
8. Os olhos sofrem diferentes transformações; primeiro, mudam sua cor 
natural, a córnea se torna leitosa, o cristalino opalescente, e se a 
temperatura elevada continua, terminam carbonizando-se. 
9. O sangue do coração e dos grandes vasos se transformam em uma 
pasta dura e de cor vermelha viva. 
REVISÃO DA LITERATURA 
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10. Os membros e mãos se encolhem, de duas a três vezes em relação ao 
seu tamanho natural. 
11. O cérebro forma uma pequena massa. 
12. A cabeça de um adulto apresenta-se como a de um menino de 7 a 12 
anos. 
 
Particularmente, o crânio sofre alterações importantes: 
 
1. Os ossos se “fissuram”, “racham” e podem até mesmo apresentar 
perfurações. 
2. A pressão dos vapores abre a caixa craniana e destrói a duramáter e 
forma uma hérnia no cérebro. 
3. A boca pode se fechar e formar uma espécie de caixa forte que 
protege os tecidos do interior da boca da ação do fogo, colaborando ao 
constante estado de umidade em que se encontra a boca. 
4. O palato, de grande importância se levarmos em conta que aí se 
encontram valiosos elementos identificadores (papilas palatinas), que 
podem conservar a sua morfologia anátomo-macroscópica sem sofrer 
alterações pela ação do fogo. 
5. O maxilar , na maioria dos casos, por efeito do violento traumatismo, se 
encontra partido em dois a nível da linha média incisal. 
6. A mandíbula, ao sofrer o impacto, algumas vezes se fratura na altura 
do mento. 
7. Quando isto ocorre, o fogo destrói os tecidos moles da boca e 
carboniza a língua . 
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2.9.2 Efeitos do fogo em restaurações e na boca 
 
Botha (1986), relatou as transformações decorrentes da ação do fogo 
nos dentes, ossos, músculos da cavidade bucal e nos materiais 
odontológicos utilizados em dentística e prótese dentária: 
A boca se fecha e forma uma espécie de caixa forte, que protege os 
tecidos internos da ação do fogo, com isto, colaborando com o constante 
estado de umidade em que sempre se encontra a boca; 
A língua se entumesce e protege o palato; 
Os dentes conservam geralmente sua posição original em seus 
respectivos alvéolos; 
No palato, estão as papilas palatinas que geralmente conserva a sua 
morfologiaanátomo-macroscópica, sem sofrer alteração por ação do fogo, o 
que é de grande importância. 
 
2.9.3 Mandíbula e maxila 
 
A maxila na maioria dos casos por efeito do violento traumatismo, se 
encontra dividida e separada a nível da linha média incisal; 
A mandíbula, ao sofrer o impacto, muitas vezes ocorre a fratura na 
altura do mento; quando isto ocorre, o fogo destrói os tecidos moles do 
palato, carboniza a língua, impossibilitando a utilização das papilas rugo-
palatinas. 
 
 
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2.9.4 Esmalte 
 
Os danos ao esmalte dentário, especialmente na superfície vestibular 
pode variar de um leve chamusco, à completa carbonização ou destruição. 
As coroas de esmalte podem também explodir em fragmentos ou se separar 
como uma concha, a partir do núcleo de dentina subjacente. Este fenômeno 
pode ser explicado pela presença de 8% a 10% de água nos túbulos 
dentinários, que ao alcançar o ponto de ebulição promove pressão 
resultando na separação ou explosão da coroa de esmalte, dependendo da 
exposição gradual ou repentina ao calor intenso. O núcleo de dentina 
subjacente também se contrai por perder seu conteúdo de água. 
As modificações estruturais do esmalte são importantes em altas 
temperaturas: o esmalte composto de 96% de matérias inorgânicas resiste 
bem ao calor devido a sua natureza prismática que torna friável a 
temperaturas superiores a 400º C. 
 
2.9.5 Dentina e cemento 
 
Estes tecidos estão normalmente protegidos pelo esmalte ou osso, 
nas rachaduras multidirecionais que podem ser produzidas à uma 
temperatura de 400º C. A cor da dentina e cemento queimados normalmente 
é preto ou marrom. 
 
 
 
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2.9.6 Restaurações em amálgama 
 
O amálgama é constituído de prata, estanho, cobre, zinco e mercúrio 
que se derrete a 100º C e ferve a 356º C. Com a perda do mercúrio, a liga 
usualmente começa a se pulverizar em complexos prata-estanho e cobre-
zinco. A prata-estanho derrete a 500º C , porém a prata sozinha derrete a 
960º C e o estanho a 231º C, o complexo se rompe formando um pó preto: 
óxido de prata. Por volta de 500º C a 1000º C, o amálgama perde a forma, 
cor e integridade. As gotículas de mercúrio podem ser absorvidas por 
restaurações de ouro, perdendo sua verdadeira identidade. 
 
2.9.7 Resinas compostas 
 
Trabalho experimental realizado por Botha (1986), em molares 
extraídos e restaurados com resina composta “P-30” e “Occlusin” e 
submetidos à temperatura de 900º C por 90 minutos em um forno 
crematório. Os resultados mostraram a quase completa destruição dos 
dentes com restaurações virtualmente inalteradas. O “P-30”, aquecido à 
temperatura entre 815º C e 900º C mudou consistentemente de uma 
coloração branco-amarelada, para uma cor cinza. 
O “Occlusin” testado similarmente, mudou de branco-amarelado para 
uma cor de papel branco. Conseqüentemente estas restaurações podem 
provir um excelente meio de identificação se as fichas dentárias apontarem o 
uso deste tipo de material. 
 
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2.9.8 Restaurações em ouro, porcelana e próteses 
 
As temperaturas mínimas de fusão para as ligas de ouro variam entre 
870º C a 1070ºC, dependendo da porcentagem presente do metal nobre. 
Ligas de metal não precioso, utilizadas na confecção de próteses parciais, 
derretem entre 1275º C e 1500º C. Trabalho experimental tem demonstrado 
que próteses parciais de cromo-cobalto submetidas à temperatura de 900º C 
por 90 (noventa) minutos, resultou na aparição de mancha na superfície da 
prótese. 
A temperatura de fusão para ligas de metais nobres varia entre 1150º 
C e 1350º C, e a de metais não nobres, entre 1300º C e 1450º C. Dentes de 
porcelana têm fusão variando entre 870º C e 1370º C. Trabalho experimental 
tem demonstrado que os dentes de porcelana não sofrem qualquer dano 
quando colocados em fornalha crematória à 900º C por 90 (noventa) 
minutos. 
Bases de prótese total (dentadura) e de dentes em acrílico polimetil 
metacrilato despolimerizam o monômero a 450º C. 
 
2.9.9 Tratamento de canal 
 
Pueyo et al. (1994) elucidaram que a endodontia (tratamento de 
canal) pode ser demonstrada através de radiografias e possui um valor 
extraordinário para a identificação, pois com as radiografias anteriores do 
Cirurgião-dentista que realizou o tratamento de canal, ficará fácil a 
comparação com a radiografia a ser obtida após o desastre. 
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Botha (1986) relatou que dentes com suas raízes obturadas com 
cones de gutta-percha foram colocados para experiência em um incinerador 
à 815º C por 90 (noventa) minutos. O material obturador ferveu para fora do 
forâmen apical do dente com canais amplamente abertos. Isto não foi notado 
nos canais de raízes mais estreitas. A comparação das radiografias de pré e 
pós incineração revelou zonas radiolúcidas nos preenchimentos nos 
preenchimentos dos canais dos dentes submetidos ao calor. 
Endometazona e eugenol foram utilizados em uma experiência como 
selador ou como material de preenchimento da raiz. As radiografias de pós 
incineração revelaram radioluscências similares àquelas achadas nos canais 
preenchidos com gutta-percha, submetidos ao mesmo tratamento. 
Um pino de aço cimentado no canal da raiz não mostrou nenhuma 
mudança quando aquecido à 815º C por 90 (noventa) minutos em uma 
experiência. 
O conhecimento da radiopacidade ou radiolucidez dos materiais de 
preenchimento e revestimento é essencial, especialmente dos novos 
compostos e cimentos. 
Os materiais utilizados em restaurações odontológicas e próteses, 
sofrem as seguintes alterações, segundo Pueyo et al. (1994): 
 
1. Porcelana. As porcelanas se classificam em três grupos: alta, média e 
baixa temperatura, com temperaturas de fusão de 1300º a 1370ºC para 
o primeiro; de 1090º a 1260ºC para o segundo; e de 870º a 1065ºC 
para o terceiro grupo. 
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2. Silicatos. Apresentam o aspecto branco leitoso entre 800º e 1000ºC, 
formando borbulhas a partir de 1000ºC. 
3. Resinas. Desaparecem a uma temperatura entre 500º e 700ºC. 
4. Compósitos. Produzem sua dissolução a partir de 500ºC. 
5. Amálgamas. Aos 200ºC o amálgama se dissocia liberando o mercúrio e 
acima desta temperatura apresenta um aspecto pulverulento. Ao 
amálgamas são as restaurações que resistem menos tempo à ação do 
fogo: em 15 (quinze) minutos a 175ºC formam-se borbulhas gasosas 
voltando ao seu estado anterior depois de esfriar-se. 
6. O comportamento do metal submetido a ação de elevadas 
temperaturas produz diferentes modificações conforme a sua 
composição: 
 O primeiro grupo contém 18% de cromo, 8% de níquel e de 0,02 a 
0,05% de carbono. O intervalo do ponto de fusão está entre 1400º a 1450ºC. 
 O segundo grupo contém 18% de cromo, 14% de níquel e de 
0,03 a 0,08% de carbono. O intervalo do ponto de fusão está entre 1290º a 
1395ºC. 
7. A utilização do cromo-cobalto na confecção de aparelhos de prótese 
dentária removível (roach), apresenta o ponto de fusão no intervalo 
entre 1290º a 1395ºC. Utiliza-se também para confeccionar este tipo de 
aparelho removível, o níquel-cromo que apresenta um intervalo de 
fusão ainda mais alto, entre 1350º a 1400ºC. 
8. Os metais nobres nas suas formas puras são cada vez menos 
empregadas em odontologia devido ao seu elevado preço. O ouro 
REVISÃO DA LITERATURA 
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46
puro, que já foi utilizado a alguns anos atrás em confecção de 
restaurações e até mesmo em confecção de pontes fixas, apresenta o 
ponto de fusão em 1063ºC. As ligas de ouro possuem componentes 
que elevam o seu ponto de fusão conseguindo aumentá-lo para 
1420ºC. 
 
2.10 A importância da radiografia dentária 
 
Muñoz (1999) esclareceu que “no material odontológico oferecido,

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