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Curso de BIOTECNOLOGIA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na bibliografia consultada. 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. MÓDULO II A TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE As descobertas da estrutura e da função do DNA e da síntese protéica foram os primeiros passos para o isolamento e, conseqüentemente, uma análise mais detalhada dos genes. Alguns motivos justificam este interesse: I. O isolamento de um gene permite a determinação da seqüência nucleotídica, caracterizando marcos interno do mesmo, como introns e peptídeos sinais. Esta seqüência pode ainda ser utilizada na genômica comparativa, que consiste em comparações de seqüências entre organismos filogeneticamente próximos. Assim, além de possibilitar estudos de evolução, pode auxiliar também na descoberta da função do gene isolado; II. A composição de aminoácidos, assim como a de nucleotídeos, também auxilia na história da genômica comparativa, deduzindo-se a função de uma determinada proteína; III. Um gene pode ser transferido de um organismo a outro, possibilitando o desenvolvimento de organismos transgênicos. Estes possuem diversas utilizações na biotecnologia, seja na pesquisa básica ou mesmo em aplicações comerciais especializadas. Um exemplo é a produção de insulina a partir de bactérias transgênicas que contém e expressam o gene humano que codifica esta proteína. As aplicações a que o isolamento e caracterização de um gene permitem são inúmeras, incluindo a produção de medicamentos e de vacinas, por exemplo. Portanto, o isolamento gênico se tornou indispensável para a geração de novos bens e serviços biotecnológicos. Este módulo trata das metodologias envolvidas com este processo, a tecnologia do DNA recombinante. 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 3. TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE O aprofundamento em conhecimentos de genética abriu a imaginação dos pesquisadores e esta ciência se tornou uma das ferramentas mais importantes para o desenvolvimento de técnicas biotecnológicas. Aliado a isto, o conhecimento multidisciplinar de áreas como a biologia molecular e bioquímica permitiu que a biotecnologia avançasse a aplicações industriais. A metodologia envolvida neste processo abarca diversas técnicas que englobam a manipulação do DNA visando à produção de bens de interesse comercial. Esta tecnologia do DNA recombinante, também conhecida como clonagem gênica ou clonagem molecular, compreende processos de transferência da informação genética (DNA) de um organismo a outro. Apesar de não haver uma metodologia universal, os experimentos seguem um protocolo similar (Fig. 26): I. O primeiro passo consiste em caracterizar um gene de interesse. Tendo-se um conhecimento prévio do mesmo, o segundo passo consiste em isolar o DNA do organismo que o contém; este é denominado organismo doador; II. O DNA de um organismo doador é extraído e sofre uma clivagem ou digestão enzimática. Em seguida, os fragmentos gerados na digestão são ligados a outra molécula de DNA que deve ter uma replicação autônoma, tais como os plasmídeos bacterianos. Esta molécula atua como portadora dos fragmentos de DNA e é denominada vetor de clonagem. Assim, há a formação de um DNA híbrido, ou uma molécula de DNA recombinante. Este é também designado como DNA quimérico, uma analogia ao monstro grego mitológico Quimera; III. O passo seguinte à obtenção da molécula de DNA que codifica uma proteína de interesse é permitir a perpetuação do vetor recombinante até a produção do bem de escolha. Para isso, há a necessidade de selecionar uma célula hospedeira apropriada a qual será introduzido o vetor recombinante. A introdução do material genético na célula hospedeira ocorre por um processo denominado transformação; IV. As células hospedeiras são então plaqueadas e deixadas crescer em colônias separadas. Uma célula individual transformada com um único vetor recombinante irá se dividir em uma colônia com milhões de células, todas portando o mesmo vetor recombinante. Portanto, esta célula individual é capaz de se multiplicar e gerar uma população que contém cópias idênticas do DNA híbrido; esta população é designada clone de DNA. Neste caso, diz- se que o hospedeiro amplificou a molécula recombinante de interesse; V. Como o DNA foi digerido em muitos fragmentos que podem conter insertos de DNA diferentes, é necessário selecionar o clone bacteriano que contenha o material genético desejado; VI. Uma vez obtido o clone de interesse, o passo final consiste em submetê-lo a uma série de análises que permitam verificar se construção recombinante em um determinado hospedeiro é capaz de expressar, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, a proteína de interesse. Transformação da célula hospedeira Expressão da proteína de interesse Fonte de DNA DNA alvo Digestão enzimática Digestão enzimática Ligação entre vetor e inserto Vetor Transformação da célula hospedeira Expressão da proteína de interesse Fonte de DNA DNA alvo Digestão enzimática Digestão enzimática Ligação entre vetor e inserto Vetor Figura 26: Metodologia geral utilizada pela tecnologia do DNA recombinante. 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. O DNA do organismo doador e o do vetor são digeridos com enzimas de restrição. O fragmento de interesse e o vetor linearizado são ligados e transformados em uma célula hospedeira apropriada. Esta permite a expressão da proteína de interesse (representada pelas três bolinhas vermelhas). A geração de moléculas recombinantes pela clonagem molecular deve ser diferenciada daquelas obtidas por processos de “crossing-over” que ocorre entre cromossomos homólogos de eucariotos. A tecnologia do DNA recombinante consiste em procedimentos de manipulação experimental que permitem que DNA de fontes diferentes ou heterólogas seja inserido em um hospedeiro capaz de perpetuar o material genético de interesse, produzindo-o de maneira apropriada. 3.1. ISOLAMENTO DE GENES 3.1.1. EXTRAÇÃO DE DNA Como comentado anteriormente, o passo inicial no isolamento de um gene consiste em extrair o DNA do organismo doador. Diferentes tipos de protocolos estão disponíveis e permitem que a extração obtenha um material em grande quantidade e com alto grau de pureza. Após identificar quais genes se deseja estudar, procede-se ao isolamento do DNA genômico de eucariotos ou de procariotos. Para o vetor, o procedimento a ser adotado é dependente da natureza do mesmo. No caso de DNA plasmidial, este pode ser purificado do DNA genômicoapós a ultracentrifugação em um gradiente de densidade do cloreto de césio contendo brometo de etídeo. Este material, além de ser um agente intercalante de DNA, que permite que o mesmo seja visualizado após sua exposição à luz ultravioleta. Permite que o DNA plasmidial se torne mais denso que o genômico e com isso, os plasmídeos formam uma banda distinta na centrifugação e podem ser separados (Fig. 27). DNA cromossômico plasmídeo 21 3 4 DNA cromossômico plasmídeo 21 3 4 Figura 27: Isolamento de DNA plasmidial por ultracentrifugação em cloreto de césio. Inicialmente, um clone é selecionado e certificado se contém o material de interesse, o que geralmente se faz por seleção a antibióticos. (1) O DNA é então, extraído e colocado em um gradiente de cloreto de césio e brometo de etídeo; (2) esta mistura é submetida a uma ultracentrifugação neste gradiente. Devido à ligação diferencial do brometo de etídeo nestas duas espécies de DNA, o DNA plasmidial se torna mais denso que o cromossômico. Assim, duas bandas distintas entre as duas espécies de DNA são formadas. Após um furo na porção de baixo do tubo, pode-se separar o (3) DNA cromossomal e (4) DNA plasmidial. O DNA plasmidial ainda pode ser extraído por uma técnica rotineiramente utilizada em laboratórios de biotecnologia, a lise alcalina. Este método se baseia na observação de que sob um determinado pH alcalino, o DNA genômico bacteriano se desnatura, o que não ocorre com os plasmídeos. Este material desnaturado é então submetido a uma neutralização que precipita o DNA genômico, mas os plasmídeos permanecem em solução. Procedimentos semelhantes ao utilizado no isolamento de plasmídeos são utilizados para outros vetores, como cosmídeos. No caso de fagos, recupera-se uma suspensão pura dos mesmos e o DNA é obtido após a lise das partículas virais. Após a extração e purificação do DNA genômico e do vetor, o fragmento de DNA contendo o gene de interesse precisa ser isolado e ligado a 65 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. um vetor de clonagem, proporcionando a perpetuação do DNA híbrido. O primeiro impasse a este procedimento é o isolamento do fragmento. Inicialmente, o DNA cromossômico era submetido a um processo de quebras mecânicas aleatórias, o que pode ser obtido por sucessivas passagens do material por uma seringa ou mesmo por sonicação. Contudo, este procedimento gera desde fragmentos grandes, como 5 Kb, até mesmo fragmentos muito pequenos. Aliado a isto, esta fragmentação é aleatória, o que aumenta a probabilidade de a seqüência de interesse seja fragmentada e somente porções desta sejam clonadas. Assim, para o isolamento de uma determinada seqüência, vários clones devem ser analisados. A fragmentação aleatória de seqüências de DNA ainda interfere na eficiência da clonagem. As extremidades geradas não são complementares, o que dificulta a ligação do inserto ao seu vetor de clonagem. A eficiência da clonagem ainda é afetada pelo tamanho dos fragmentos. Fragmentos menores, de baixo peso molecular, são mais fáceis de ligá-los ao vetor. Contudo, eles são facilmente perdidos ou não recuperados. Por outro lado, a clonagem de fragmentos de alto peso molecular é um procedimento mais complicado e de baixa eficiência. Uma grande conquista que permitiu o grande salto da tecnologia do DNA recombinante foi à descoberta de enzimas que clivam o DNA após o reconhecimento de seqüências específicas. As enzimas responsáveis por esta digestão enzimática são as enzimas de restrição. 3.1.2. ENZIMAS DE RESTRIÇÃO As enzimas de restrição são endonucleases responsáveis pela quebra enzimática da ligação fosfodiéster do DNA. O termo “restrição” foi adotado devido à história da descoberta destas enzimas. Durante o estudo da infecção de E. coli por bacteriófagos, observou-se que somente algumas bactérias eram infectadas por estes vírus e, por isso, os pesquisadores relatavam que a infecção ficava “restrita”. Estudos posteriores demonstraram que após a penetração do DNA do fago na bactéria, certas enzimas de E. coli eram capazes de reconhecê-lo e clivá-lo. Estas enzimas foram denominadas genericamente como enzimas de restrição. A nomenclatura das enzimas de restrição é feita pelas iniciais do organismo a partir do qual ela foi isolada, incluindo a identificação da linhagem, e por algarismos romanos que indicam a ordem na qual foi encontrada na cepa. Assim, por exemplo, a EcoRI, uma enzima extremamente utilizada em procedimentos de biologia molecular, significa que esta foi a primeira enzima isolada de Escherichia coli, linhagem R. A primeira letra em maiúsculo representa o gênero e as primeiras duas letras da espécie são escritas em minúsculo. Os números em algarismos romanos são utilizados para designar a ordem de caracterização de diferentes enzimas de restrição isoladas do mesmo organismo. Muitas enzimas de restrição já foram isoladas e seus sítios de restrição identificados (Tabela 1). Enzima Sítio de restrição Tipo de extremidade EcoRI G A-A-T-T-C C-T-T-A-A G Extensão 5´ fosfato BamHI G G-A-T-C- C C-C-T-A-G G Extensão 5´ fosfato PstI C-T-G-C-A G G A-C-G-T- C Extensão 3´ fosfato PvuII C-A-G C-T- G G-T-C G-A- C Extremidade cega 67 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. HpaI G-T-T A-A-C C-A-A T-T-G Extremidade cega HaeIII G-G C-C C-C G-G Extremidade cega NotI G C-G-G-C- C-G-C C-G-C-C-G- G-C G Extensão 5´ fosfato Tabela 1: Sítios de restrição reconhecidos por diferentes enzimas de restrição e o tipo de extremidade que elas geram. (Tabela modificada de Glick & Paternak, 1994). As enzimas de restrição são endonucleases que reconhecem regiões específicas de DNA de 4 a 8 pb, chamados sítios de restrição. Qualquer molécula de DNA, desde vírus até o de humanos, contém sítios alvos de enzimas de restrição, que se encontram distribuídos ao acaso. Assim, com a digestão enzimática do DNA obtidos de diversas fontes, os fragmentos gerados apresentam um tamanho definido e adequado para os procedimentos de clonagem. A clivagem enzimática ocorre entre o oxigênio do carbono 3´ do açúcar de um nucleotídeo e ao grupo fosfato do carbono 5´ do carbono do açúcar adjacente. As enzimas de restrição são classificadas em três tipos: I, II e III. Todas estas enzimas reconhecem sítios de restrição específicos. Contudo, as enzimas I e III clivam fora desta seqüência. Por sua vez, as do tipo II clivam dentro do sítio reconhecido por elas. Portanto, as enzimas de restrição do tipo II são mais úteis em procedimentos que envolvem engenharia genética, pois seu padrão de clivagem é previsível quando a seqüência de DNA é conhecida. O sítio de restrição das enzimas do tipo II possui um duplo eixo de simetria rotacional, tendo a mesma seqüência quando lida no sentido 5' para 3' em ambas as fitas. Em outras palavras, ambos os filamentos de DNA reconhecidos pelas enzimas de restrição têm a mesma seqüência de nucleotídeos, porém em orientação antiparalela. Seqüências que possuem 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetrode estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. estas características são denominadas palindrômicas. As aplicações das enzimas de restrição do tipo II para a tecnologia do DNA recombinante são inúmeras. Uma delas é a construção de mapas físicos. Como a amostra de DNA tratada com uma destas enzimas sempre apresentará sítios de restrição reconhecidos na digestão enzimática, estas enzimas permitem a construção de mapas que representam o conjunto de restrição reconhecido por enzimas diferentes dentro da mesma seqüência. Estes designam uma ordem linear de sítios de restrição referente a um fragmento de DNA específico. Este mapa é obtido após a clivagem unicamente com uma determinada enzima e depois com uma combinação delas. A posição dos sítios de clivagem é deduzida após a análise do peso molecular destes fragmentos em gel de agarose (Fig. 28). 69 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 850 600 100 500 300 600 300 250 100 950 400 Digestão EcoRI Digestão BamHI Digestão EcoRI + BamHI A 850 600 100 500 300 600 300 250 100 950 400 Digestão EcoRI Digestão BamHI Digestão EcoRI + BamHI A 500 400100 300 600 950100 300 250 600 850 EcoRI EcoRI BamHI BamHI B 500 400100 300 600 950100 300 250 600 850500 400100 300 600 950100 300 250 600 850 EcoRI EcoRI BamHI BamHI B Figura 28: Mapa de restrição. (A) análise eletroforética representando o peso molecular da amostra de DNA obtida após a digestão enzimática com as enzimas EcoRI e BamHI separadamente e com as duas enzimas juntas. (B) mapa de restrição gerado após a digestão enzimática e separação por eletroforese. (Figura modificada de Glick & Paternak, 1994). Outras aplicações das enzimas de restrição do tipo II são decorrentes da característica que a clivagem gera nas extremidades. A posição em que ocorre a clivagem do DNA pode gerar dois tipos de extremidades: abruptas (ou cegas), quando a clivagem ocorre no centro de simetria, ou coesivas (pontas adesivas), quando a clivagem ocorre fora do centro de simetria (Fig. 29). Neste último caso, pode-se gerar uma extremidade saliente 5'ou 3' (Tabela 1). 70 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. CCGGGA TCCTAAG GGCCCT AGGATTC GGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Figura 29: Extremidades cegas e coesivas geradas após a digestão com enzimas de restrição. Enzimas de restrição que clivem o DNA gerando desde extremidades cegas ou mesmo coesivas podem ser utilizas com sucesso na clonagem molecular. Contudo, a ligação do inserto ao seu vetor é facilitada quando ambos sofrem uma digestão enzimática que gerem par de pontas adesivas unifilamentares idênticas. Estas pontas são chamadas de adesivas porque permitem que haja um pareamento com seqüências complementares que serão unidas (“grudadas”) por pontes de hidrogênio. CCG CCGG GATCCTAAG GGCCCTAG GATTC CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Digestão com enzima de restrição Digestão com enzima de restrição Extremidades coesivas Extremidades cegas CCGGGA TCCTAAG GGCCCT AGGATTC GGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC CCGCCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC CCGG GATCCTAAG GGCCCTAG GATTC CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Digestão com enzima de restrição Digestão com enzima de restrição Extremidades coesivas Extremidades cegas 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. As enzimas de restrição que geram fragmentos de extremidades coesivas são extremamente interessantes quando se deseja a inserção de uma seqüência codificadora em específico. Isto se deve ao fato de que somente filamentos complementares sejam capazes de se ligar. Assim, uma digestão dupla com duas enzimas diferentes permite que a clonagem seja direcional; ou seja, que a seqüência codificadora se ligue a um sítio de distância ideal ao seu promotor e na correta fase de leitura para a proteína. Analisando a ação das enzimas de restrição, pode-se afirmar que as mesmas têm pelo menos duas propriedades úteis à clonagem molecular: primeiramente, os fragmentos de restrição apresentam um peso molecular adequado para a clonagem. Segundo muitas enzimas de restrição clivam o DNA de forma a gerar extremidades coesivas, facilitando a ligação de fontes diferentes de DNA que possuam extremidades complementares. Esta ligação ainda ocorre de forma que a seqüência codificadora ocorra de maneira direcional, ou seja, na fase correta de leitura. O uso unicamente de enzimas de restrição, entretanto, é insuficiente para finalizar o procedimento de clonagem molecular. As extremidades geradas pela clivagem enzimática podem se alinhar, mas a força das pontes de hidrogênio envolvidas na complementaridade de bases não é suficiente para manter as moléculas de DNA referentes ao inserto e ao vetor juntas. Há a necessidade de refazer a ligação internucleotídica entre o grupo hidroxila 3' e o grupo fosfato 5' das extremidades onde a quebra das moléculas de DNA foi gerada. A análise da replicação do DNA forneceu uma alternativa enzimática. Este problema é resolvido após o passo da ligação enzimática. 3.1.3. LIGAÇÃO ENZIMÁTICA Recapitulando, o DNA de um organismo doador sofre uma digestão enzimática a fim de produzir fragmentos com peso molecular adequados para a clonagem molecular. Para que este procedimento seja facilitado, rotineiramente se adota como estratégia a digestão, tanto do inserto como do vetor, com a mesma enzima de restrição. De preferência, se utiliza enzimas que produzam sítios de restrição com extremidades coesivas para facilitar a ligação. Embora os filamentos complementares permitam que as moléculas se liguem por complementaridade de bases, as seqüências açúcar fosfato ainda não estão completas nas duas posições de cada junção (Fig. 30). Para selar esta ligação, são utilizadas enzimas como a ligase. 72 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Figura 30: Ligação entre extremidades coesivas pela ação da Ligase. Após a digestão enzimática, são geradas extremidades coesivas. CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Digestão com enzima de restrição CCGG GATCCTAAG GGCCCTAG GATTC OH P P OH Anelamento CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC OH P P OH CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Ligação Ligase T4 CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Digestão com enzima de restrição CCGG GATCCTAAG GGCCCTAG GATTC OH P P OH Anelamento CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC OH P P OH CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Digestão com enzima de restriçãoCCGG GATCCTAAG GGCCCTAG GATTC OH P P OH CCGG GATCCTAAG GGCCCTAG GATTC OH P P OH Anelamento CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC OH P P OH CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Ligação Ligase T4 CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC CCGGGATCCTAAG GGCCCTAGGATTC Ligação Ligase T4 73 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Moléculas digeridas com a mesma enzima irão se unir pela complementaridade de bases. A especificidade entre o pareamento de bases permite a formação de pontes de hidrogênio. Contudo, a união entre moléculas de DNA é finalizada pela formação de uma ligação fosfodiéster entre as duas fitas de DNA por ação da enzima ligase. As ligases são capazes de catalisar a formação de pontes fosfodiéster ao final das fitas de DNA que estejam mantidas juntas pela complementaridade de bases ou mesmo quando as extremidades cegas estejam em contato ao se ligarem à enzima. A enzima responsável por este processo é a DNA ligase e em procedimentos biotecnológicos freqüentemente se utiliza a isolada do bacteriófago T4. Conhecendo as técnicas e os procedimentos genéricos para a tecnologia do DNA recombinante, os próximos tópicos tratarão de procedimentos mais específicos, como os procedimentos para o isolamento de genes específicos. Contudo, inicialmente é preciso ter claro a diferença de estrutura entre um gene eucarioto e um procarioto. 3.1.4. DIFERENÇA ESTRUTURAL ENTRE GENES EUCARIOTOS E PROCARIOTOS Para a obtenção do inserto, inicialmente deve-se considerar se o gene de interesse pertence a um organismo procarioto ou a um eucarioto. Esta diferenciação deve-se às características estruturais dos genes destes dois organismos. Em procariotos, a seqüência codificadora de uma proteína freqüentemente representa uma minúscula parcela do DNA cromossomal (<0,02%). Os genes são seqüências de DNA contínuas e organizadas em um operon. Esta unidade transcricional permite que todos os genes relacionados a uma determinada função sejam transcritos em um único RNAm policistrônico. Por outro lado, o gene de eucariotos é formado pela seqüência codificadora, os exons, que são interrompidos por seqüências grandes e não codificadoras, os introns. Portanto, diferentes estratégias de clonagem devem ser adotadas para 74 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. o isolamento e clonagem de genes eucariotos e procariotos. 3.1.5. OBTENÇÃO DO INSERTO 3.1.5.1. CONSTRUÇÃO DE BIBLIOTECAS GENÔMICAS E DE BIBLIOTECAS DE cDNA A obtenção de um determinado gene depende dos objetivos da clonagem, das características do gene e, enfim, do conhecimento prévio que se tem a respeito do mesmo. Se não há um conhecimento prévio da seqüência, uma das alternativas para o isolamento do inserto consiste em subdividir o DNA cromossomal em pequenos fragmentos que serão então clonados em vetores. Em seguida, os vetores recombinantes são transformados em um hospedeiro e então analisados e caracterizados. Teoricamente, este procedimento é capaz de obter clones que representem todo o DNA genômico do organismo a ser estudado. Este é o princípio da criação de uma biblioteca genômica ou banco gênico, elemento básico do processo inicial do seqüenciamento de genomas. Uma das maneiras de criar uma biblioteca genômica é tratando o DNA com uma endonuclease de restrição cujo sítio de restrição reconheça quatro pares de bases. Assim, teoricamente o DNA será clivado aproximadamente a cada 256 pb. Entretanto, como as enzimas de restrição reconhecem sítios específicos, pode ocorrer que os fragmentos gerados sejam muito grandes, o que dificulta a clonagem. Se nem todos os fragmentos referentes ao genoma total são clonados, então a biblioteca disponível para a seleção está incompleta e assim, o fragmento de interesse pode estar interrompido ou mesmo ausente, dificultando a seleção de um determinado gene. Para solucionar este problema, o DNA cromossomal é então submetido a uma digestão parcial. Assim, geram- se fragmentos de diferentes tamanhos, permitindo que todos os fragmentos estejam representados após a clonagem em um determinado vetor (Fig. 31). 75 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. b c d a b c d c d d a a + b a a + b a d a b a + b + c b + c + d c + d c + d b + c Digestão parcial Sítio de restrição Sítio de restrição Sítio de restrição bb c dd a b c da b c d cc dd dd aa a + ba + b aa a + ba + b aa dd aa bb a + b + c b + c + d c + d c + d b + c Digestão parcial Sítio de restrição Sítio de restrição Sítio de restrição Figura 31: Digestão parcial de uma amostra de DNA com enzimas de restrição. A digestão parcial é realizada por variações no tempo ou na quantidade de enzima utilizada. O resultado é a geração de fragmentos de vários tamanhos, o que permite que todos sejam clonados e que a biblioteca genômica seja representativa. (Figura modificada de Glick & Paternak, 1994). Além da biblioteca genômica, há a possibilidade de desenvolver uma biblioteca de DNA complementar ou cDNA. O cDNA é um DNA sintético que tem como molde moléculas de RNAm total de uma célula. Para este procedimento, utiliza-se uma enzima especial chamada transcriptase reversa que irá fazer uma fita de DNA a partir de um molde de RNA. Essa enzima foi originalmente isolada de membros da família Retrovidea, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV). A geração de cDNA inicialmente se baseia em uma característica estrutural do RNAm, a cauda poliA. Esta característica é usada para separar a fração composta por RNAm de outros componentes, inclusive de outros tipos de RNA, como RNAr e RNAt. Isto é possível, pois somente o RNAm possui a cauda de poliA em sua estrutura. Para a sua purificação, o material derivado da extração de RNA é passado por uma coluna seletiva, a qual está ligada 76 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. pequenas cadeias curtas de resíduos de timina de aproximadamente 15 nucleotídeos. Então, o RNAm se liga à coluna devido ao pareamento de bases entra a cauda poliA e os resíduos de timina. Por outro lado, os RNAt e os RNAr passam com o fluxo e não são retidos na coluna, pois não há um pareamento de bases que permita a ligação. Finalmente, o RNAm é eluído da coluna após um tratamento com um tampão capaz de interromper as pontes de hidrogênio formadas entre adenina e timina, liberando a molécula de RNAm. Antes que as moléculas de RNAm possam ser clonadas em um determinado vetor, elas precisam ser convertidas em uma molécula de DNA dupla fita. O sucesso deste experimento depende da ação sucessiva de duas enzimas diferentes: a transcriptase reversa e do fragmento de Klenow da DNAP I. Inicialmente, são adicionadas pequenas moléculas de oligonucleotídeos compostos somente por timinas ao material de RNAm eluído da coluna seletiva. Adicionalmente, é adicionada a enzimatranscriptase reversa e os quatro desoxirribonucleotídeos (dATP, dTTP, dGTP e dCTP). Neste procedimento, os pequenos oligonucleotídeos de timina se pareiam a região da cauda poliA, providenciando uma extremidade 3´ hidroxila para que a síntese de uma fita de DNA complementar seja iniciada. A transcriptase reversa utiliza como molde uma fita simples de RNA para polimerizar uma cadeia de DNA. Assim, os oligonucleotídeos referentes à composição estrutural do DNA vão sendo incorporados à cadeia que está sendo polimerizada pela transcriptase reversa, baseando-se na complementaridade de bases. Entretanto, a síntese in vitro realizada por esta enzima é freqüentemente um procedimento incompleto e somente uma fita simples de DNA é produzida. Contudo, antes que a síntese desta fita simples de DNA seja finalizada, há a formação de um “looping”, ou uma volta, na porção 5´, onde a fita de DNA se dobra sobre si mesma. Esta seqüência pode então ser utilizada como um “primer” para a polimerização da fita dupla de DNA. A segunda fita de DNA é sintetizada após a adição do fragmento de Klenow. Esta enzima adiciona nucleotídeos complementares aos especificados pela fita simples sintetizada pela transcriptase reversa, concluindo então a cadeia dupla de DNA. Para isto, o fragmento utiliza como iniciador a volta formada pela dobra na porção 5´do cDNA. Para finalizar o processo de geração de uma fita dupla de DNA a partir de RNAm, a amostra é tratada com a enzima RNase H que tem por finalidade degradar moléculas de RNAm molde. Finalmente, a volta de DNA formado na extremidade 5´ do cDNA é desfeito pela ação da nuclease S1, que tem como princípio geral degradar extensões de DNA fita simples. Ao final de todo o procedimento, tem-se uma amostra que apresenta uma mistura composta de cDNA de dupla fita correspondente aos RNAm que sejam os mais representativos na amostra inicial. Este material será clonado em um vetor apropriado. Um esquema geral do procedimento envolvido na geração de cDNA está descrito na Fig. 32. Figura 32: Síntese de cDNA. RNAm Oligo (dT) Transcriptase reversa e polimerização de cDNA Fragmento de Klenow RNAm cDNA cDNA DNA dupla fita RNase H Degrada fita de RNA Nuclease S1 RNAm Oligo (dT) Transcriptase reversa e polimerização de cDNA Fragmento de Klenow RNAm cDNA cDNA DNA dupla fita RNase H Degrada fita de RNA Nuclease S1 Um iniciador composto de nucleotídeos de timina é adicionado à amostra contendo os RNAm purificados. A transcriptase reversa e os quatro 77 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 78 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. nucleotídeos constituintes da molécula de DNA são adicionados ao RNAm. A fita simples de DNA complementar ao RNAm – cDNA – é polimerizada, sendo que na porção 3´ do cDNA há a formação de uma volta sobre esta molécula fita simples de DNA, que servirá como iniciador para a fita complementar ao cDNA para a de DNA fita dupla. O “looping” que serviu de iniciador é rompido pela ação da nuclease S1. As fitas de RNAm são degradadas pela ação da RNaseH. A escolha entre as abordagens de construção de uma biblioteca genômica ou de uma biblioteca de cDNA depende do experimento em questão e das perguntas que se deseja responder. Se a pesquisa tem por finalidade o seqüenciamento de um genoma, a biblioteca necessita obter clones que representem todo o material genético daquele organismo. Somente assim a seqüência pode ser finalizada e anotada. A procura de um determinado gene em específico e a análise de como ele se encontra estruturado no genoma, como em um operon, além a análises de seqüências reguladoras, requerem que uma determinada seqüência grande esteja contida em um determinado clone. Nestes casos, a melhor opção se faz pela construção de uma biblioteca genômica. Há casos em que a intenção de realizar um experimento é a análise de um determinado produto protéico. Um exemplo é a análise de expressão de um gene específico e peculiar a um determinado tipo de tecido ou mesmo que se suspeita estar envolvido com o desenvolvimento de uma determinada patologia. O conhecimento de qual tecido o gene está sendo expresso facilita a seleção deste gene de interesse, já que o mesmo deve estar enriquecido de seus transcritos. Portanto, este tecido é utilizado como fonte de extração de RNAm. Outro aspecto é se a finalidade em isolar um gene é para que o mesmo seja expresso em um hospedeiro diferente para fins comercias. Nestes casos, a biblioteca de cDNA é uma opção. Isto é vantajoso principalmente quando se deseja expressar genes de eucariotos em células bacterianas. Como o cDNA é uma cópia complementar ao RNAm maduro, que já sofreu processamentos, 79 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. então este cDNA não irá conter introns em sua seqüência. Como as células bacterianas não são capazes de remover os introns e unir somente os exons, a biblioteca de cDNA é mais útil nestes casos. Contudo, deve-se lembrar que o cDNA não apresenta as regiões reguladoras que constituem um gene. Assim, neste último caso, a biblioteca genômica é mais útil. Em casos em que um determinado gene a ser estudado quanto a sua estrutura e composição, o que não é possível simplesmente pela análise de cDNA, pode-se restringir a fração genômica usada na construção da biblioteca genômica. Levando em consideração que determinados genomas são extremamente grandes e até mesmo composto por um conjunto de cromossomos, a restrição se faz possível se o pesquisador conhecer previamente em qual cromossomo o gene está localizado. Uma das técnicas utilizadas com este processo baseia-se na seleção de cromossomos com o uso de um instrumento denominado citômetro de fluxo. Uma suspensão de cromossomos é separada por este aparelho de acordo com o peso molecular e a fração contendo o gene de interesse é utilizada na construção da biblioteca genômica. Outra técnica possível é fracionar cromossomos inteiros pela técnica de eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE). A eletroforese é uma técnica que separa fragmentos de ácido nucléico ou proteínas em géis de acordo com o tamanho quando expostos a um campo elétrico. A PFGE ou “pulse field” é uma eletroforese mais especializada que permite a separação de moléculas muito longas de DNA. A técnica consiste em imprimir vários campos elétricos oscilantes orientados em várias direções diferentes. Esta estratégia permite até mesmo que determinadas moléculas cromossomais inteiras passem no gel para posições diferentes de acordo com o tamanho de cada uma (Fig. 33). O cromossomo desejado é então separado do gel, eluído e finalmente utilizado na construção da biblioteca genômica. 80 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Aparelho de PFGE Resolução dos fragmentos de DNA Visualização em gel de agarose corado com brometo de etídeo Aparelho de PFGE Resolução dos fragmentos de DNA Visualização em gel deagarose corado com brometo de etídeo Figura 33: Metodologia do PGFE. O gel de agarose com as amostras de DNA são corridas em um aparelho hexagonal que permite que o campo elétrico seja alternado a 120° a cada 90 segundos por 18 a 24 horas a 14°C. As moléculas de DNA migram paralelamente ao campo elétrico. Os fragmentos de peso molecular maior levam mais tempo para migrarem no gel em relação às de peso molecular menor. Isto permite que bandas distintas sejam visualizadas em um gel de agarose. S1, S2 e S3 são amostras diferentes; Mkr: marcador de peso molecular. A construção de bibliotecas é utilizada quando não há um conhecimento prévio a respeito da seqüência de nucleotídeos que constituem um gene. Em casos de organismos em que o genoma já foi seqüenciado, o isolamento de seqüências específicas é extremamente facilitado, sendo que a 81 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. produção pode ser sintética ou mesmo por técnicas de biologia molecular, como o PCR. 3.1.5.2. PRODUÇÃO SINTÉTICA DE GENES A produção química de um gene ou mesmo de seus fragmentos ocorre pela síntese de cada fita complementar separadamente. Fragmentos curtos, entre 60 a 80 pb, podem ser produzidos por fitas complementares separadamente que depois são aneladas entre si. Contudo, para a produção de fragmentos maiores, como acima de 300 pb, técnicas mais apuradas devem ser utilizadas. Isto se deve ao fato da eficiência de ciclos envolvidos durante a síntese química não apresentarem uma eficiência de 100%. Um dos métodos para a síntese de fragmentos maiores consiste na síntese inicial de oligonucleotídeos complementares e sobrepostos, compostos de 20 a 60 nucleotídeos. O planejamento para a síntese de cada fita ocorre de maneira que após o anelamento, os dois fragmentos de um gene sejam alinhados de forma que as extremidades de seus fragmentos se apresentem cegas, sem fitas complementares. Cada fita sintetizada apresenta seu segmento complementar e as extremidades 5´ e 3´ são também projetadas para que apresentem uma complementaridade, o que permite a montagem dos fragmentos de acordo com a seqüência do gene (Fig. 34). Após o anelamento entre os fragmentos, o último passo para concluir a síntese química de um gene é selar os fragmentos entre as extremidades 5´e 3´ das fitas adjacentes. Isto é possível pela ação da T4 DNA ligase. P O H 1 P O H 2 P O H 3 P O H 4 P O H 5 P O H 6 O H 2 P P O H1 P 3 O H P 5 O H O H 4 P O H 6 P P O H O H P S ín tese d e fitas in d iv id u a is A n elam en to L igação P O H 1 P O H 2 P O H 3 P O H 4 P O H 5 P O H 6 P O H 1 P O H 1 P O H 2 P O H 2 P O H 3 P O H 3 P O H 4 P O H 4 P O H 5 P O H 5 P O H 6 P O H 6 O H 2 P P O H1 P 3 O H P 5 O H O H 4 P O H 6 P O H 2 PP P O HO H1 P 3P 3 O HO H P 5P 5 O HO H O H 4 PO H 4 PP O H 6 PO H 6 PP P O H O H P P O H O H P S ín tese d e fitas in d iv id u a is A n elam en to L igação Figura 34: Síntese de uma seqüência codificadora a partir do anelamento entre oligonucleotídeos. Estes são fabricados de forma que o anelamento entre as fitas complementares permita que uma fita dupla de DNA completa seja formada. Para selar a cadeia, as ligações fosfodiéster são ligadas por ação da enzima T4 ligase. (Figura modificada de Glick & Paternak, 1994). Uma modificação deste método foi criada como alternativa para a produção química de genes. Inicialmente, são sintetizados oligonucleotídeos complementares e sobrepostos por aproximadamente 40 a 100 nucleotídeos. Após o anelamento entre as fitas complementares, permanecem grandes regiões de seqüências que não anelaram a outra seqüência complementar, ou seja, compostas somente por fita simples (Fig. 35). Apesar disso, as fitas se mantém unidas, o que se deve à região de nucleotídeos sobrepostos. Estes buracos constituídos por fita simples são então completados pela ação de polimerização da DNAP I de E. coli. Após a finalização deste processo, as fitas são seladas pela ação da enzima T4 DNA ligase. 82 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. P OH 1 P OH 2 P OH 3 P OH 4 OH 2 P P OH1 P 3 OH OH 4 P P OH OH P Síntese de oligonucleotídeos Anelamento Ligação P OH 1 P OH 1 P OH 2 P OH 2 P OH 3 P OH 3 P OH 4 P OH 4 OH 2 P P OH1 P 3 OH OH 4 P OH 2 PP P OH1 P OHOH1 P 3P 3 OHOH OH 4 POH 4 PP P OH OH P P OH OH P Síntese de oligonucleotídeos Anelamento Ligação Figura 35: Síntese in vitro de um gene a partir de oligonucleotídeos sintetizados quimicamente. As seqüências dos oligonucleotídeos são desenhadas de maneira que ao se anelarem à suas seqüências complementares, haja também fitas simples não pareadas (“gaps”). Para a formação de fita dupla por toda molécula de DNA, os “gaps” são preenchidos por meio de uma síntese enzimática pela DNAP I e, finalmente, a fita de DNA é selada pela ação da enzima T4 ligase. (Figura modificada de Glick & Paternak, 1994). Para fragmentos maiores que 1.000 pb, a seqüência gênica completa é freqüentemente feita a partir da união de fragmentos de fita dupla de 20 a 60 pb, que se anelam entre si pela complementaridade entre quatro a seis nucleotídeos sobrepostos. Se há uma quantidade suficiente de fragmentos fita 83 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 84 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. dupla após a síntese e anelamento, eles são simplesmente ligados uns aos outros. Caso contrário cada fragmento deve ser clonado a um vetor para que a quantidade de DNA seja amplificada. Contudo, em ambos os casos as construções de fragmentos fita dupla de DNA são ligados de forma seqüencial, a fim de formar a seqüência completa de um determinado gene. Mesmo sendo a síntese química uma estratégia capaz de atingir seus objetivos com sucesso, como mencionado anteriormente ela não é 100% eficaz. Assim, o fragmento obtido por este procedimento deve ser necessariamente seqüenciado. Isto envolve gastos, que se somados ao alto custo do próprio procedimento de síntese química, pode se tornar inviável. Alternativas estão disponíveis, e que são capazes de realizar o mesmo procedimento quando se tem o prévio conhecimento a respeito da seqüência de um gene. Uma destas técnicas é a amplificação do DNA, através da reação em cadeia pela polimerase, o PCR. 3.1.5.3. Reação em Cadeia pela Polimerase - PCR A reação em cadeia pela polimerase (PCR) é muito efetiva em gerar quantidades extraordinárias do DNA de interesse in vitro. É uma técnica extremamente sensível, sendo capaz de amplificar DNA a partir de picogramas da amostra. Alguns requerimentos são essenciais para a realização da técnica: I. Um par de oligonucleotídeos sintéticos, denominadosde oligonucleotídeos iniciadores (primers), deve ser desenhado de maneira complementar a seqüência de interesse. Estes iniciadores devem ser compostos por aproximadamente 20 pb e sua composição de nucleotídeos deve ser idealmente balanceada para que haja uma equivalência da proporção A + T e C + G. Um dos iniciadores deve ser desenhado de maneira complementar à fita molde e o outro, à codificadora. A seqüência dos dois iniciadores deve ser orientada de maneira oposta às fitas de DNA; II. A seqüência alvo a ser amplificada e que se encontra dentro da amplitude dos iniciadores deve ser composta de 100 a 5.000 nucleotídeos em 85 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. sua extensão. Entretanto, a biologia molecular moderna tem avançado enormemente, e muitos produtos novos têm sido aprimorados. Portanto, o tamanho do fragmento a ser amplificado deve ser condizente com a capacidade de polimerização de cada enzima polimerase específica a ser utilizada no processo; III. A enzima responsável pela a polimerização das cópias referente à seqüênciaespecífica, genericamente conhecida como Taq DNA polimerase, deve ser capaz de resistir a altas temperaturas, como 95°C ou mais; IV. Para que a reação de polimerização ocorra, devem ser adicionados à mistura contendo DNA, enzima e tampão, os quatros oligonucleotídeos (dNTPs, dATP, dTTP, dCTP, dGTP). A metodologia adotada para a amplificação de fragmentos de DNA é muito similar ao processo de transcrição, sendo que uma das diferenças é que ao final da PCR são obtidas moléculas de DNA fita dupla ao invés de moléculas de RNA fita simples. A metodologia da PCR consiste em vários ciclos sucessivos, sendo que cada um têm pelo menos três passos básicos: I. Desnaturação: o primeiro passo consiste na desnaturação do DNA pelo aumento de temperatura, geralmente obtido a 95°C. Esta temperatura é mantida por aproximadamente um minuto; II. Anelamento: neste passo, realizado a aproximadamente 55ºC, o par de iniciadores se anela à seqüência complementar de DNA da amostra; III. Polimerização: este passo é realizado com uma temperatura média 72ºC que é ótima para a função catalítica da Taq DNA polimerase. A síntese se inicia na porção hidroxila 3´ de cada iniciador. IV. A duração de cada um dos passos e a temperatura utilizada nos mesmos variam enormemente e, por isso, cada protocolo precisa ser padronizado para a sua utilização. A reação de amplificação ocorre em um aparelho automatizado e programável, o termociclador. Para entender como se sucede a amplificação dos fragmentos de DNA, deve-se ter em mente a localização de cada iniciador durante o anelamento. No primeiro ciclo, os iniciadores se ligam em direções opostas a cada uma das moléculas geradas pela desnaturação do DNA. Nos ciclos iniciais, a amplificação vai além da seqüência complementar ao outro iniciador (Fig. 36), gerando fitas mais longas. No segundo ciclo, isto também acontece; porém, há a amplificação de fragmentos mais curtos, que têm a seqüência de um iniciador na extremidade de uma fita e o outro, na outra extremidade da fita complementar. Em ciclos subseqüentes, os fragmentos de amplificação mais curtos vão se acumulando e, ao final de 30 ciclos, elas predominarão. 86 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Iniciador 1 Figura 36: Reação de PCR. Durante os estágios iniciais de amplificação, são geradas fitas de DNA mais longas. Em ciclos subseqüentes, o material amplificado consistirá de uma fita de DNA composta pelos iniciadores em suas extremidades. Estes amplicons mais curtos predominarão ao final de 30 ciclos de amplificação. Uma das aplicações da PCR na tecnologia do DNA recombinante é o isolamento de um gene específico, que será produzido em grande quantidade e este pode ser clonado em um vetor apropriado. Para a clonagem, deve-se considerar que a Taq DNA polimerase têm uma atividade enzimática incomum, adicionando um nucleotídeo de adenina ao final 3´ de cada fita. Isto é ideal para a clonagem em vetores do tipo que apresentam um acréscimo de timina DNA fita dupla desnaturação Anelamento Extensão Iniciador 2 Primeiro ciclo Segundo ciclo Terceiro ciclo Iniciador 1 Iniciador 2 DNA fita dupla desnaturação Anelamento Extensão Primeiro ciclo Segundo ciclo Terceiro ciclo 87 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. na porção 5´ de cada fita. Apesar de esta característica dificultar a clonagem de fragmentos que possuem extremidades cegas, este fato nem sempre é verdadeiro. Há diferentes tipos de Taq DNA polimerases especializadas em diferentes funções e nem todas possuem a característica de acrescentar adeninas à extremidade 3´ das fitas de DNA. A clonagem de insertos gerados por PCR é facilitada quando tanto o vetor como os insertos são digeridos com a mesma enzima de restrição, pois este procedimento gera extremidades coesivas que ainda permitem a clonagem direcional. Contudo, alguns insertos não possuem a seqüência a ser reconhecida pela enzima desejada e a digestão com a enzima de interesse ocorre de maneira que a seqüência codificadora seja clonada fora da fase de leitura. Este é um ponto crítico para procedimentos que têm por objetivo a expressão de proteínas. Para facilitar estes procedimentos, fragmentos de DNA adaptadores, contendo os fragmentos de restrição desejados, podem ser adicionados à seqüência dos insertos. 3.1.5.3.1. ADAPATADORES Os adaptadores são pequenos fragmentos de nucleotídeos que contém a seqüência nucleotídica reconhecida por uma determinada enzima de restrição. Uma estratégia muito utilizada na construção destes adaptadores é inserir a seqüência da enzima de restrição ao desenhar o par de iniciadores a ser utilizado na PCR (Fig. 37). Esta técnica, além de ser de fácil realização, ainda permite que mesmo após a inserção do sítio de restrição, a seqüência codificadora de uma determinada proteína seja inserida no vetor com a fase de leitura correta. 88 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. Seqüência de DNA ATGCCGATGGGCCCTT...........AAATGCCCCCTTACG TACGGCTACCCGGGAA..........TTTACGGGGGAATGC Desenho dos iniciadores Iniciador 1: 5´ AAGCTT ATGCCGATG... 3´ (HindIII) Iniciador 2: 5´ GGATCC CGTAAGGGG... 3´ (BamHI) Seqüência de DNA ATGCCGATGGGCCCTT...........AAATGCCCCCTTACG TACGGCTACCCGGGAA..........TTTACGGGGGAATGC Desenho dos iniciadores Iniciador 1: 5´ AAGCTT ATGCCGATG... 3´ (HindIII) Iniciador 2: 5´ GGATCC CGTAAGGGG... 3´ (BamHI) Figura 37: Desenho de iniciadores com seqüências adaptadoras. O iniciador 1 é idêntico em seqüência à fita codificadora. O iniciador 2 é complementar à fita codificadora. Os sítios de restrição são acrescidos à porção 5´ de cada iniciador (estão em itálico e sublinhados; a enzima que os reconhece está entre parênteses). Os adaptadores constituem, portanto, uma estratégia que facilita a clonagem. O passo seguinte então é a escolha de um vetorde clonagem mais apropriado para um determinado inserto e para um dado experimento. 3.2. VETORES DE CLONAGEM O vetor ideal deve reunir em uma molécula diversas características, como: I- Ser uma molécula pequena e de fácil manipulação; II- Ser capaz de se replicar de forma autônoma e intensa, o que permite a amplificação do fragmento de interesse; III- Deve conter diferentes seqüências que permitam o 89 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. reconhecimento por enzimas de restrição. Neste caso, sítios únicos são interessantes porque a inserção pode ser direcionada e não há problema de perda de fragmentos após a digestão enzimática. Com esta finalidade, vários vetores foram modificados para permitir a inserção de um sítio múltiplo de clonagem. Este representa uma seqüência sintética construída de maneira a portar somente um único sítio de restrição reconhecido por diferentes enzimas; IV- Ter um método fácil e rápido de identificação de clones que portam o vetor recombinante. Atualmente, estão disponíveis no mercado diversos tipos diferentes de vetores que permitem que o procedimento de clonagem seja realizado. A escolha entre eles depende basicamente das características do inserto e da aplicação pretendida para o gene clonado. 3.2.1. PLASMÍDEOS Plasmídeos são moléculas de DNA dupla fita circular e extracromossomal, que apresentam a capacidade de auto-replicação. Virtualmente, quase todos os gêneros de bactérias possuem plasmídeos. Eles podem conter os mais variados tipos de informação. Alguns carregam informações que os permite se transferirem de uma célula para a outra (plasmídeos F); podem ainda conter genes de resistência a antibióticos ou codificarem proteínas envolvidas com metabolismos exóticos. Aparentemente, alguns plasmídeos podem não apresentar nenhuma função extra, quando são então denominados de crípticos. Os plasmídeos podem pertencer ao grupo de alto número de cópias com 10 a 100 cópias por célula hospedeira, ou ao grupo de baixo número de cópias com 4 a 10 cópias por célula hospedeira. Independente do número de cópias, mais de um plasmídeo com funções diferentes pode coexistir numa mesma célula. A literatura já descreveu microrganismos contendo até mesmo de um a oito plasmídeos diferentes por célula. Além disso, devido à especificidade da origem de replicação, os plasmídeos podem se replicar em uma espécie específica ou mesmo em várias espécies de células hospedeiras; por esta característica, os plasmídeos são denominados como estritos ou não a um hospedeiro. Por serem moléculas autoreplicativas, os plasmídeos são considerados como excelentes veículos para a clonagem molecular. Com este objetivo, os plasmídeos naturalmente isolados de bactérias foram modificados por engenharia genética para permitir a inclusão características essenciais a um vetor de alta eficiência, como: I. Serem moléculas de baixo peso molecular, pois a eficiência de transformação diminui com vetores de peso acima de 15Kb; II. A presença de um único sítio de restrição a ser reconhecido por uma determinada enzima de restrição; III. Possuir um ou mais marcadores de seleção que facilitem o reconhecimento e a seleção do vetor híbrido. IV. Dois vetores plasmidiais têm sido utilizados em genética, o pBR322 e pUC (Fig. 38). Eles se derivam de plasmídeos encontrados naturalmente em espécies bacterianas, porém com modificações genéticas que permitiram sua adaptação como vetores de clonagem eficientes. 90 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. A BA B Figura 38: Plasmídeos. (A) pBR322; (B) pUC19 O pBR322 possui uma estrutura mais simples que a do pUC. Possui dois genes de resistência a drogas: um codifica a ampicilina e outro, a tetraciclina. Dentro da seqüência codificadora de cada um destes genes há sítios de restrição únicos, os quais têm sido utilizados na clonagem. Contudo, geralmente a inserção é realizada no sítio de BamHI presente na seqüência codificadora da tetraciclina. Isto tem implicações na seleção dos transformantes, como será discutido mais adiante. O vetor pUC é mais avançado e permite uma segunda alternativa de seleção dos transformantes. Além da resistência ao antibiótico ampicilina, é possível uma seleção fenotípica por coloração. O vetor é constituído por parte do operon Lac. Uma fração do gene lacZ (Z´) está sob o controle do promotor indutível do operon Lac e da proteína repressora LacI. Dentro da região codificadora do gene lacZ´ foi inserido o sítio múltiplo de clonagem. Outros plasmídeos que permitem uma clonagem eficiente em até 5 minutos são aqueles que possuem adição de timinas as extremidades 5´ de cada fita do vetor linearizado. Estes vetores são rotineiramente utilizados em laboratórios para a clonagem de produtos de PCR. Isto se deve à adição de adeninas às extremidades 3´ dos amplicons, como já referido anteriormente (Fig. 39). Figura 39: Vetor para clonagem de produtos de PCR. 91 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 92 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. O vetor apresenta em suas extremidades 5´ um nucleotídeo de timina, que pode se parear com um resíduo de adenina presente no inserto devido à ação da Taq Polimerase. Os pequenos plasmídeos que contêm grandes inserções de DNA heterólogo tendem a perder espontaneamente a inserção. Portanto, a escolha de plasmídeos como vetor de clonagem deve ser feita quando os fragmentos de inserção contenham até 10 kb de tamanho. Assim, a clonagem de fragmentos maiores deve levar em consideração as características de outros vetores. 3.2.2. BACTERIÓFAGOS Para a formação de uma biblioteca genômica, a clonagem de fragmentos maiores facilita para que a mesma seja mais representativa, contendo todo ou a maior parte do conteúdo cromossômico. Com essa finalidade, foram desenvolvidos veículos de clonagem como os bacteriófagos ou fagos lambda. Em seu ciclo de vida, o bacteriófago infecta a E. coli, e pode culminar em dois destinos diferentes: no ciclo lisogênico ou no lítico. No ciclo lisogênico, o DNA do fago injetado na célula hospedeira pode ser integrado ao cromossomo da bactéria. Este material é conhecido como profago e pode ser mantido indefinidamente na célula hospedeira. Contudo, sob determinadas condições de estresse ambiental ou nutricional, o fago pode entrar no ciclo lítico. Neste caso, o DNA do fago pode ser excisado e utilizado na formação de novas partículas virais, resultando na lise da célula hospedeira. Com propósitos de usá-lo na tecnologia do DNA recombinante, o DNA do fago recombinante contendo o inserto, precisa ser perpetuado como um bacteriófago por meio de vários ciclos líticos. A formação de partículas completas do fago é uma seqüência de eventos altamente coordenada. Um bacteriófago é formado por uma cauda de proteínas tubulares e por um capsídeo que comporta cerca de 50 kb de DNA (Fig. 40), sendo que aproximadamente 20 kb são essenciais para os eventos de integração e excisão destematerial genético no cromossomo da célula hospedeira. Cada extremidade 5’ da molécula linear é composta por uma fita simples de doze nucleotídeos. Estas seqüências são complementares e por isso, conhecidas por extremidades coesivas ou seqüência ‘’cos’’. Por serem complementares, elas permitem que este DNA linear possa se circularizar como um plasmídeo. Figura 40: Composição estrutural do fago lamba. Na fase inicial do ciclo lítico, há a replicação do material genético do fago com a criação de uma molécula linear compostas por muitas unidades de 50 kb. Cada capsídeo comporta entre 38 a 50 kb de DNA e a localização das seqüências cos assegura isto (Fig. 41). Figura 41: Empacotamento do DNA no capsídeo do fago lamba durante o ciclo lítico. 93 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 94 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. As seqüências cós asseguram que somente 50 kb de DNA serão utilizados na formação de cada partícula viral. (Figura modificada de Glick & Paternak, 1994). Os bacteriófagos foram então manipulados por engenharia genética para permitir a inclusão de sítios BamHI nas regiões flanqueadoras da seqüência que codifica proteínas relacionadas com a integração do genoma do fago. O uso da enzima gera três fragmentos de restrição: o L, o I/E e o R. O fragmento L contém a informação genética para a produção do capsídeo e da cauda. O R codifica os genes relacionados com a replicação do DNA e do ciclo lítico. O I/E contém os genes necessários para a integração e excisão do DNA do fago. Com o propósito de utilizar os bacteriófagos na clonagem molecular, as seqüências I/E são substituídas pelo inserto de interesse. Para isso, o DNA de interesse é submetido a uma digestão enzimática com BamHI e fragmentos de aproximadamente 20 kb são selecionados como inserto. Estas amostras são então ligadas ao DNA do fago digerido com a mesma enzima (Fig. 42). O DNA recombinante é então empacotado e utilizado na formação de novas partículas de fago durante o ciclo lítico. Figura 42: Sistema de clonagem do bacteriófago lambda. cos L RI/E L RI/E BamHI BamHI cos Digestão BamHI BamHI BamHI Digestão BamHI Seleção fragmento de 20kb L R T4 ligase cos cos cos L RI/EL RI/E L RI/E BamHI BamHI cos Digestão BamHI BamHI BamHI Digestão BamHI BamHI BamHI Digestão BamHI Seleção fragmento de 20kb L RL R T4 ligase cos cos O Bacteriófago lamba é modificado por engenharia genética para permitir que sítios de restrição da enzima BamHI sejam inseridos nas extremidades flanqueadoras da região I/E. O DNA de interesse também é digerido com a mesma enzima e fragmentos resultantes de peso molecular de 20 kb são selecionados para a clonagem. Com o auxílio da T4 ligase, o inserto selecionado é ligado às regiões L e R. (Figura modificada de Glick & Paternak, 1994). A formação da partícula do fago contendo o DNA recombinante foi possível após estudos in vitro que demonstraram a viabilidade do processo. Partículas infectivas podem ser produzidas após uma simples mistura dos elementos constituintes da partícula do fago: capsídeo, a cauda e o DNA recombinante. Os fagos são, portanto, úteis na clonagem de fragmentos que apresentem peso molecular variando entre 20 a 25 Kb. Contudo, a obtenção de insertos maiores é desejável em determinadas situações, como para o 95 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 96 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. seqüenciamento de longas moléculas de DNA do cromossomo eucarioto. Para a clonagem de genes destes organismos, freqüentemente é necessário obter fragmentos superiores a 25 kb. Como os genes de eucariotos podem variar de 30 a 40kb, o que se deve a presença de introns, a clonagem de fragmentos maiores possibilita a inclusão de toda uma seqüência em um único clone. Por este motivo, outros vetores têm sido desenvolvidos para a clonagem destes fragmentos. Entre eles estão os cosmídeos, os YACs (cromossomo artificial de leveduras) e os BACs (cromossomo artificial bacteriano). 3.2.3. COSMÍDEOS Os cosmídeos são vetores híbridos que associam elementos de plasmídeos – origem de replicação, gene de resistência a antibióticos e o sítio múltiplo de clonagem - e de fagos. Assim, o inserto de DNA pode ser englobado no capsídeo do fago, responsável por inserir o DNA recombinante na célula hospedeira. Ao entrar na célula, as seqüências cos complementares, derivadas dos fagos, permitem que o DNA linear do fago possa se circularizar como um plasmídeo (Fig. 43). A diferença entre fagos e cosmídeos é o tamanho do inserto que pode ser clonado nos dois vetores. O inserto heterólogo que o cosmídeo carrega é cerca de três vezes maior que o do fago (aproximadamente 45kb). BamHI CosCos ScaI Cos BamHI ScaICos BamHI Tet R Cos Cos 50kb DNA Digestão BamHI Ligação T4 ligase Formação de Partículas de fagos Infecção BamHI CosCos ScaI Cos BamHI ScaICos BamHI Tet R Cos Cos 50kb DNA Digestão BamHI Ligação T4 ligase Formação de Partículas de fagos Infecção BamHI CosCos ScaI Cos BamHI ScaICos BamHI Tet R Cos Cos 50kb Cos Cos 50kb DNA Digestão BamHI Ligação T4 ligase Formação de Partículas de fagos Infecção Figura 43: Sistema de clonagem utilizando cosmídeo como vetor. O cosmídeo contém duas seqüências intactas de sítios cos flanqueando o sítio único da enzima ScaI, um único sítio de BamHI e a seqüência codificadora da tetraciclina, o que permite a seleção por antibiótico 97 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 98 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. de clones transformados com os cosmídeos. O vetor é então digerido com ScaI e BamHI. A fonte de DNA é digerida com BamHI, e os fragmentos de 40kb são selecionados como insertos. O vetor e o inserto são ligados com o auxílio da T4 ligase e utilizados na formação de novas partículas infectivas de fagos. Estes infectam E. coli e as seqüências cós permitem que este DNA recombinante se circularize como um plasmídeo. Finalmente, os transformantes são selecionados por sua capacidade de crescerem em meio contendo tetraciclina. (Figura modificada de Glick & Paternak, 1994). Para a construção de um cosmídeo, a maior parte do DNA relacionado com a estrutura do fago é deletada, permanecendo somente os sítios cos. Esta estrutura modificada permite que quase toda a seqüência do DNA doadora possaser inserida, desde que não exceda 50 kb, capacidade máxima de DNA que o capsídeo do fago comporta. Estratégias similares aos cosmídeos foram desenvolvidas, como os bacteriófagos P1. A vantagem do uso destes outros vírus é que os mesmos podem acomodar moléculas de DNA de até 100 kb. Fragmentos ainda maiores podem ser clonados em outros vetores, como os BAC e os YAC. 3.2.4. BAC E YAC Os BAC são vetores similares a outros plasmídeos, exceto que sua origem de replicação e as proteínas envolvidas com na replicação são derivadas do plasmídeo “fator F” de E. coli. Isto permite que os BAC sejam transferidos à célula hospedeira por conjugação (Fig. 44). Estes vetores podem conter fragmentos de até 300 kb. cromossomo BAC pilus Célula F-Célula F+ Célula F+ Célula F+ Estabilização no pareamento entre as células Replicação e transferência de uma das fitas Síntese da fita complementar Finalização da transferência com a separação das células cromossomo BAC pilus Célula F-Célula F+ Célula F+ Célula F+ Estabilização no pareamento entre as células Replicação e transferência de uma das fitas Síntese da fita complementar Finalização da transferência com a separação das células Figura 44: Transferência de BAC às células hospedeiras. Por serem derivados do plasmídeo F, que possuem os elementos genéticos necessários à conjugação bacteriana, o BAC contendo o gene de interesse pode ser transferido à célula hospedeira através da conjugação. Contudo, rotineiramente se tem utilizado a transformação como meio de transferir o BAC para as bactérias. A clonagem de fragmentos ainda maiores de DNA foi possível após a descoberta de elementos funcionais de cromossomos de leveduras, como centrômero, telômero e seqüências que asseguram a replicação autônoma e a segregação correta dos cromossomos. Isto permitiu a construção de cromossomos artificiais de leveduras que funcionam como vetores de clonagem. Os YAC são moléculas de DNA fita dupla linear que podem conter 99 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. insertos de até um megabase (1.000 Kb). Assim, podem-se isolar clones que apresentem seqüências sobrepostas de insertos e que contenham coletivamente quase um cromossomo humano inteiro (Fig. 45). Digestão com BamHI e EcoRI Ligação DNA de interesse Seleção Digestão com BamHI e EcoRI Ligação DNA de interesse Seleção Figura 45: Construção de YAC. A partir de um vetor que contém todos os elementos necessários para a perpetuação de um cromossomo eucarioto, é feita uma digestão enzimática para a linearização do vetor. O DNA de interesse é extraído, purificado e digerido com as mesmas enzimas. Procede-se com a ligação entre as extremidades coesivas do vetor e do inserto, sendo que este DNA 100 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. 101 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. recombinante será transformado em uma levedura de eleição e os clones recombinantes serão selecionados por resistência a antibióticos. 3.2.5. VETORES DE EXPRESSÃO Os vetores de expressão são vetores de clonagem que possuem todos os elementos genéticos que permitem a expressão de proteínas recombinantes. Se os elementos genéticos permitem a expressão em células bacterianas, este é um vetor de expressão procarioto. É o tipo mais utilizado em pesquisas, pois a manipulação de culturas bacterianas é mais fácil. Contudo, bactérias não são capazes de processar o RNAm de eucariotos e, neste caso, os insertos a serem utilizados devem ser derivados de bibliotecas de cDNA. Uma alternativa a esta questão é o uso de vetores de expressão eucariotos, que possuem um promotor eucarioto e sinais de poliadenilação, por exemplo. Os vetores de expressão são utilizados quando a busca de uma determinada seqüência se faz por meio da detecção da proteína por ela codificada. Para isso, o sítio múltiplo de clonagem é inserido próximo à região promotora. As desvantagens do uso de vetores de expressão para o isolamento de um determinado gene de interesse se devem ao desconhecimento da seqüência do inserto. Para que haja a expressão de uma determinada proteína, o inserto deve se ligar ao vetor de forma que a fase de leitura correta seja reconhecida pela maquinaria celular. Se isto não ocorrer, novas proteínas serão formadas e, portanto, a seqüência de interesse não será detectada, mesmo que ela esteja presente em um determinado clone. 3.3. TRANSFORMAÇÃO DA CÉLULA HOSPEDEIRA O processo de transformação refere-se à introdução de um DNA exógeno em uma célula hospedeira. Este processo foi inicialmente 102 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. desenvolvido em células bacterianas e, posteriormente, adaptado a células de diferentes organismos, como leveduras, fungos, células vegetais e células de mamíferos. A transferência de material genético para células bacterianas pode ocorrer por meio de três processos distintos: transdução, conjugação e transformação. A transdução é o processo em que a aquisição do material genético é mediada pela ação de bacteriófagos. Para isso, inicialmente o fago deve infectar e realizar o ciclo lítico. Durante a replicação e formação das partículas do fago, há a aquisição do material genético da célula infectada, que é considerada como a célula doadora. A troca de material genético ocorrerá quando a partícula viral infectar a célula receptora e nela introduzir o DNA bacteriano da célula doadora. Em biotecnologia, esse processo é utilizado em determinados procedimentos, como na transferência do material genético clonado na seqüência do fago ou mesmo de cosmídeos, como já exposto anteriormente. A conjugação é o processo por meio do qual o material genético é transferido de uma célula doadora para uma receptora por meio de contato célula a célula. Para que o material genético seja transferido de uma célula a outra, é necessário um íntimo contato entre as células, com a formação de uma junção através da qual o material será transportado. Na biotecnologia, a realização da conjugação normalmente necessita da presença de plasmídeos que contenham as funções conjugativas, ou seja, que possibilitem a junção célula a célula. Se o plasmídeo portando o inseto de interesse não possui estas funções, pode-se introduzir na mesma célula outro plasmídeo que contenha as funções de conjugação. O protocolo envolve o uso de três receptores bacterianos distintos: O primeiro, contendo o plasmídeo conjugável, deve estar em contato com a célula que contém o plasmídeo recombinante. Neste processo, o conjugável é transferido à segunda célula. Então, a célula contendo os dois plasmídeos deve entrar em contato com uma terceira. Esta será transformada com o plasmídeo 103 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores. recombinante
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