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162 Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento - Encarte Especial GENOMA CL˝NICOSaœde O impacto da genØtica genômica na prÆtica mØdica Fotos cedidas pelos autores Carlos A. Moreira-Filho Professor do Instituto de CiŒncias BiomØdicas e Coordenador do Centro de Pesquisas em Biotecnologia da USP cmoreira@icb.usp.br Sergio Verjovski-Almeida Professor titular de Bioquímica Instituto de Química da USP verjo@iq.usp.br Figura 1- a) Heredograma mostrando recorrŒncia familial de câncer de mama. O paciente índice Ø indicado pela seta (caso referido por S. Simon, HIAE). b) SSCP-HA de um fragmento de 332bp do tØrmino 3 do exon 10 de BRCA2, mostrando alteraçıes de padrªo de migraçªo eletroforØtica nas canaletas 1, 2, 4 e 5, correspondendo aos indivíduos II- 2, III-3, II-10 e III-10. O controle (indivíduo normal nªo relacionado) aparece em 7. c) Seqüenciamento do DNA de controle normal (cromatograma superior) e do paciente-índice, II-2 (cromatograma inferior). A seta indica o ponto de início da mutaçªo 2024del CTTAT em BRCA2 genØtica genômica estu- da a natureza física e o funcionamento dos geno- mas, isto Ø, do material genØtico contido no conjunto de cromossomos de cada espØcie. O rÆpido avanço que vem ocorrendo na pesquisa genômica deve-se, em larga medida, ao surgimento de novas tecnologias para o seqüenci- amento automatizado do DNA e para o estudo da expressªo gŒnica, bem como à disponibilidade de poderosos recursos de informÆtica para organizaçªo e anÆlise dos da- dos obtidos em nível molecular (Lee & Lee, 2000). Essa trajetória tecnológica consolida um novo pa- radigma de pesquisa, por muitos denominado Era Genômica, com forte impacto nas Æreas de aplica- çªo das ciŒncias biológicas, como a medicina e a agricultura. Neste arti- go sªo abordados alguns usos cor- rentes da genØtica genômica em medicina, com enfoque na genØtica do câncer. A Era Genômica iniciou-se com a capacitaçªo para seqüenciar ge- nomas inteiros (inicialmente de mi- crorganismos, depois genomas maiores e mais complexos) com razoÆvel rapidez e colocar essa in- formaçªo em bancos de dados on- line. Com o apoio da anÆlise com- putacional, essas informaçıes es- tªo sendo ordenadas, permitindo mapear com precisªo os genes e demais seqüŒncias de DNA no ge- noma de diversos organismos. O progresso nesse campo de traba- Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento - Encarte Especial 163 lho, conhecido como genômica es- trutural, vai possibilitar a compara- çªo da estrutura dos genomas de vÆrias espØcies, o que Ø essencial para se investigar a existŒncia de leis gerais governando a organiza- çªo dos genomas. Num plano mais imediato, o co- nhecimento atual sobre a posiçªo cromossômica e a seqüŒncia de grande nœmero de genes em diver- sos genomas jÆ traz enormes bene- fícios. Basta considerar, como exem- plo, o genoma humano: as seqüŒn- cias de genes que tŒm importância mØdica por estarem associados a diferentes doenças tŒm sido revela- das em larga escala nos œltimos anos. A partir dessa informaçªo, diversos mØtodos podem ser em- pregados para detecçªo de muta- çıes nesses genes, as quais sªo a causa primÆria de doenças, ou au- mentam a susceptibilidade a elas. Detecçªo e caracterizaçªo de mutaçıes gŒnicas nos testes de predisposiçªo ao câncer A correlaçªo entre mutaçıes gŒ- nicas e susceptibilidade a doenças Ø particularmente importante no cân- cer. Cerca de 5% a 10% de todos os casos de câncer aparecem em indi- víduos que herdaram alguma muta- çªo que predispıe à doença e em suas famílias hÆ outras pessoas com esse risco (Offit, 1998). A descober- ta de genes cuja alteraçªo por muta- çıes aumenta, ou reduz, o risco de um indivíduo desenvolver um tu- mor maligno Ø uma das grandes conquistas da medicina. Ela permite identificar quem estÆ sob risco au- mentado e pode se beneficiar de prÆticas preventivas, de vigilância e de intervençªo terapŒutica. A detec- çªo de mutaçıes germinativas que predispıem ao câncer Ø indicada aos indivíduos cuja família tem um forte histórico de recorrŒncia de casos de câncer e/ou com início precoce da doença. É tambØm limi- tada às síndromes hereditÆrias onde estÆ bem estabelecido o papel de um determinado gene, ou conjunto de genes, no aparecimento do tu- mor. Entre essas síndromes estªo os cânceres hereditÆrios de mama e ovÆrio, de cólon (com e sem poli- pose), o retinoblastoma familial, a neoplasia endócrina mœltipla (MEN) e a Síndrome de Li-Fraumeni (di- versos tumores com aparecimento precoce em pacientes com muta- çıes germinativas no gene supres- sor de tumor p53). O desenvolvimento de testes genØticos para casos familiais de câncer de mama e ovÆrio Ø um bom exemplo da aplicaçªo direta da genØtica genômica na prÆtica mØdi- ca. Os tumores de mama e ovÆrio sªo neoplasias extremamente fre- qüentes na populaçªo afetando, em mØdia, 1 em cada 8 mulheres. Estima-se que em cerca de 5% a 10% de todos os cânceres de mama e ovÆrio ocorram mutaçıes em ge- nes autossômicos, com padrªo de herança dominante (Newman e col., 1988). No início dos anos 90, isola- ram-se dois genes associados aos tipos de câncer acima citados: BRCA1 e BRCA2. Em cerca de 70% das famílias com quatro ou mais afetados, mutaçıes em um desses dois genes sªo detectadas. Mulhe- res portadoras dessas mutaçıes tŒm risco de 84% de desenvolverem câncer de mama atØ os 70 anos de idade, contra 12% da populaçªo em geral (Ford e col., 1998). No caso de portadoras de mutaçıes em BRCA1, o risco de câncer de ovÆrio atØ os 70 anos Ø de 44%, contra 1% da popu- laçªo geral (Ford e col., 1994). O gene BRCA1 estÆ localizado no cromossomo 17 (17q21) e Ø responsÆvel por aproximadamente metade de todos os casos familiais precoces de câncer de mama, bem como pela maioria dos casos fami- liais de câncer de mama e ovÆrio. Esse gene possui 22 exons codifi- cantes e 2 exons nªo-codificantes, estendendo-se por 100kb (100 mil bases) de sequŒncia genômica (Miki e col. 1994). Seu produto Ø uma proteína de 1.863 aminoÆcidos. Um grande nœmero de mutaçıes dife- rentes tŒm sido descritas nas vÆrias famílias estudadas. Essas mutaçıes distribuem-se aleatoriamente pelos diversos exons: nenhum hot spot de mutaçªo foi identificado (van Orsouw e col., 1999). O gene BRCA2 estÆ localizado no cromossomo 13(13q12-13) e compıe-se de 27 exons dispersos por 70 kb de DNA genômico e seu transcrito (10-12 kb) codifica uma proteína de 3.418 aminoÆcidos (Wooster e col. 1995). Mutaçıes nesse gene sªo responsÆveis por aproximadamente 35% dos casos familiais precoces de câncer de mama. Estªo ainda associadas a um risco aumentado de câncer de mama e próstata em homens, e de câncer de ovÆrio e pancreÆtico. A distribui- çªo de mutaçıes nesse gene tam- bØm Ø aleatória. A expressªo dessas mutaçıes Ø variÆvel: uma mesma mutaçªo pode estar associada a diferentes tipos de câncer numa mesma família. Embora o espectro de mutaçıes dos genes BRCA1 e BRCA2 ainda nªo tenha sido completamente ca- racterizado, dados preliminares in- dicam que o tipo e a freqüŒncia das mutaçıes apresentam uma distri- buiçªo Øtnica e geogrÆfica variÆvel (Offit, 1998). Recentemente, surgi- ram anÆlises de correlaçªo genóti- po-fenótipo, vinculando a distribui- çªo espacial das mutaçıes ao longo dos genes BRCA1 e 2 ao tipo de câncer apresentado pelo paciente (Blakwood & Weber, 1998). Nesse campo, jÆ Ø óbvia a contribuiçªo da biologia molecular para o avanço dos estudos genØtico-clínicos (Elli- sen e Haber, 1998). No momento, a relevância em se detectar mutaçıes nos genes BRCA1 e 2 deriva de dois aspectos principais: 1) diagnóstico e critØrios prognósticos; 2) aconse- lhamento genØtico beneficiando fa- miliares do paciente. A detecçªo de mutaçıes nos genes BRCA1/BRCA2 Ø feita por tØcnicas de biologia molecular ca- pazes de identificar a alteraçªo de uma œnicabase na seqüŒncia de DNA. Devido ao grande tamanho das seqüŒncias de BRCA1 e 2, pri- 164 Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento - Encarte Especial meiramente busca-se identificar qual exon contØm o sítio mutado antes de se proceder ao seqüenciamento do DNA. As seqüŒncias de DNA correspondentes aos vÆrios exons sªo amplificadas por PCR (reaçªo em cadeia da polimerase) para a realizaçªo desses testes. Para o screening inicial de muta- çıes, uma tØcnica muito utilizada Ø a de SSCP (single strand conforma- tion polymorphism,) combinada com HA (heteroduplex analysis). A tØc- nica de SSCP (Orita e col. 1989) baseia-se no fato de que a confor- maçªo tridimensional de fragmen- tos de DNA simples fita depende da seqüŒncia de nucleotídeos, sendo que a diferença de um nucleotídeo altera o padrªo de migraçªo eletro- forØtica. A tØcnica de HA (Nagami- ne e col., 1989) deriva da observa- çªo de que, em reaçıes de PCR, onde estªo presentes molØculas de DNA selvagens e mutantes, durante os œltimos ciclos, podem ser forma- dos heteroduplexes entre essas duas espØcies de molØculas, os quais terªo um padrªo de migraçªo ele- troforØtica diferente dos homodu- plexes. Utilizando-se fragmentos de tamanho entre 100 e 350 pares de bases, a taxa de detecçªo de muta- çıes Ø de aproximadamente 80%, tanto para o SSCP como para o HA, e a associaçªo dos dois mØtodos pode elevar essa taxa para perto de 100% (sob condiçıes bem controla- das e processamento semi-automa- tizado). Após a identificaçªo do exon que abriga a mutaçªo, esta Ø carac- terizada pelo seqüenciamento do DNA. Conhecida a mutaçªo, torna- se possível, tambØm, por seqüenci- amento, pesquisa-lo em outros membros da família do paciente, com vistas ao aconselhamento ge- nØtico. A Figura 1 mostra os proce- dimentos para detecçªo de muta- çıes no gene BRCA2 em indivíduos de uma família com histórico de câncer de mama (notar que hÆ homens afetados) realizados no la- boratório de um dos autores (C. A. M-F). Esse trabalho Ø feito em cola- boraçªo com a Unidade de Oncolo- gia do Hospital Israelita Albert Eins- tein (equipe do Dr. Sergio Simon), onde os casos sªo selecionados com base nos critØrios recomenda- dos pela American Society of Clini- cal Oncology (ASCO,1996) - e os pacientes e seus familiares recebem aconselhamento genØtico. A genômica funcional na pesquisa do câncer A pesquisa de mutaçıes associ- adas a variantes hereditÆrias de de- terminados tumores Ø apenas um aspecto da abordagem genØtica do câncer. A base genØtica da transfor- maçªo maligna de cØlulas somÆti- Figura 2 - Esquema de um experimento de anÆlise de expressªo gŒnica utilizando DNA microarray Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento - Encarte Especial 165 cas tem um carÆter combinatório, com mutaçıes cumulativas no DNA. Embora tenha sido evidenciado hÆ dØcadas que o câncer Ø causado por mœltiplos fatores, só recente- mente ficou claro que vÆrios desses fatores se comportam como onco- genes (genes que contribuem para o aparecimento do câncer) nªo- dominantes cooperativos (Offit,1998). Esses genes irªo cau- sar uma transformaçªo maligna so- mente se alterados numa certa com- binaçªo e contra um certo ba- ckground. Os mecanismos genØticos e bio- químicos presentes num organismo multicelular tŒm sido tradicional- mente estudados com metodologi- as que fornecem apenas informa- çıes pontuais, sem abranger a com- plexidade das interaçıes entre es- ses mecanismos. Barreiras tecnoló- gicas fizeram com que se focalizas- se apenas um pequeno conjunto de parâmetros biológicos, embora a maioria dos fenômenos investiga- dos integre um conjunto mais com- plexo de fatores causais, mutua- mente dependentes. Essa situaçªo era particularmente limitante para a pesquisa dos mecanismos envolvi- dos na transformaçªo de uma cØlula normal em cØlula cancerosa. Desenvolvimentos recentes na Æreas de computaçªo e tratamento de imagens (ver adiante) começa- ram a derrubar as barreiras que impediam a obtençªo de informa- çıes sobre a expressªo simultânea e relativa ao nível do RNA mensa- geiro dos genes expressos por um genoma. Nos organismos multice- lulares esse conjunto de genes ex- pressos varia conforme o tipo de cØlula e tecido. Essa variaçªo tam- bØm ocorre entre cØlulas normais e cancerosas de um mesmo tecido, e entre classes de tumores (Golub e col., 1999). A anÆlise diferencial da expres- sªo gŒnica estÆ hoje enormemente facilitada pela emergŒncia da tec- nologia de DNA microarrays, que permite mensurar simultaneamente o nível de expressªo de milhares de genes em um œnico ensaio de hibri- daçªo (Harrington e col. 2000). A Figura 2 mostra um experimento típico com DNA microarrays. Cada array consiste em um conjunto reproduzível de milhares de se- qüŒncias de DNA (representativas dos genes expressos num micror- ganismo ou num tecido humano) depositado num suporte sólido, geralmente uma lamínula de vidro especial. DNA preparado a partir de RNA mensageiro (cDNA) de tecido normal ou tumoral Ø marca- do por fluorescŒncia com duas co- res diferentes, hibridado ao DNA complementar no array e detecta- do atravØs de leitura num scannner a laser. As intensidades de hibrida- çªo para cada seqüŒncia de DNA no array sªo automaticamente ana- lisadas e correlacionadas com o nível relativo de expressªo gŒnica. Essas informaçıes servem para o estudo de padrıes de expressªo, cuja variaçªo pode indicar a açªo de uma droga, um processo de transformaçªo celular, etc. A tecnologia de DNA microar- rays Ø a chave para o estudo da genômica funcional, isto Ø, do con- junto completo de informaçıes gŒnicas transcritas em RNA, ou trans- criptoma, e do correspondente con- junto de proteínas codificadas, ou proteoma (Lee & Lee, 2000). A aquisiçªo maciça e rÆpida de dados sobre o transcriptoma de um tecido Ø especialmente relevante, de duas maneiras, para a pesquisa sobre o câncer. Primeiro, o processo de screening dos genes que, isolada- mente, sejam importantes para a biologia do câncer poderÆ ser sig- nificativamente mais rÆpido e mais eficiente. Segundo, como a infor- maçªo sobre os diversos genes serÆ analisada simultaneamente, pode- se esperar encontrar pistas impor- tantes para a elucidaçªo das vias que interagem na programaçªo da transformaçªo maligna das cØlulas. É portanto provÆvel que a anÆ- lise em larga escala do padrªo de expressªo seja extremamente es- clarecedora no que diz respeito às modificaçıes relativas a um tumor, em comparaçªo com o tecido nor- mal correspondente. Na verdade, os primeiros dados que surgiram na literatura, focalizando um pequeno grupo de genes do Projeto de Ana- tomia do Genoma Câncer, sugerem que o nœmero de genes a ser ex- pressados de modo altamente dife- renciado (10 vezes ou mais) chega- rÆ a vÆrias centenas. O Projeto Genoma do Câncer Humano (PGCH) Iniciado em abril de 1999 e con- juntamente financiado pela FAPESP e pelo Instituto Ludwig de Pesquisa do Câncer, o PGCH jÆ produziu mais de 600 mil seqüŒncias de clo- nes de cDNA humano, cada qual com cerca de 300 a 500 pares de bases. AtØ dezembro de 2000 pro- duzirÆ cerca de 1 milhªo de sequŒn- cias. Os clones de cDNA que estªo sendo seqüenciados sªo gerados a partir do mRNA do tecido tumoral de uma sØrie de diferentes tipos de câncer. O cDNA Ø gerado por uma nova tØcnica patenteada pelo Instituto Ludwig, que consiste, essencialmen- te, em amplificar por PCR a regiªo central dos genes expressos, que Ø, em geral, a regiªo codificante (Dias Neto e col. 2000) . A fase piloto do projeto gerou, entre novembro de 1998 e março de 1999, mais de 10 mil seqüŒncias do câncer de mama, das quais 25% eram seqüŒncias novas, ou seja, representavam se- qüŒncias do DNA humano atØ en- tªo desconhecidas e nªo disponí- veis nas bases de dados internacio- nais e pœblicas. As 1 milhªo deseqüŒncias que estªo sendo gera- das pelo PGCH sªo prontamente depositadas no GeneBank, tornan- do-se assim publicamente disponí- veis. Considerando que haja atual- mente cerca de 1,6 milhªo de se- qüŒncias de EST humano disponí- veis nas bases de dados internacio- nais, as seqüŒncias do PGCH re- presentarªo uma fraçªo importante das seqüŒncias de EST disponíveis 166 Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento - Encarte Especial no mundo. Um dos cinco Centros de Se- qüenciamento que compıem o PGCH estÆ localizado no Instituto de Química da USP e Ø coordenado por um dos autores (S. V-A). Todos os clones de cDNA fisicamente ge- rados no projeto de seqüenciamen- to ficarªo à disposiçªo de seus membros, sendo que o Centro do Instituto de Química coordena tam- bØm a armazenagem permanente e a distribuiçªo de uma duplicata de cada um dos clones gerados nos cinco Centros do PGCH. Estudo da expressªo gŒnica em tumores de próstata e de pul- mªo Embora ainda nªo tenham sido identificados os genes que determi- nam a suscetibilidade ao câncer de próstata e de pulmªo, alguns candi- datos surgiram nos œltimos anos (Offit, 1998). A busca de marcado- res genØticos com potencial prog- nóstico - extremamente importan- tes, pois podem auxiliar no trata- mento de casos de câncer (na indi- caçªo de cirurgia, radioterapia, qui- mioterapia etc.) - padece da mesma escassez de informaçıes. No câncer de pulmªo, o interes- se recai sobre os tumores epiteliais, do tipo nªo-pequenas-cØlulas (NPC), que representam 80% de todos os casos. Protocolos de esta- diamento molecular estªo sendo desenvolvidos a partir de estudos de detecçªo de mutaçªo e expres- sªo gŒnica abrangendo vÆrios loci: p53, K-ras, MRP-1/CD9, KA11/CD82, bcl-2, erb-b2, RB1 (DAmico e col. 1999; Miyake e col., 1999). A mes- ma abordagem estÆ sendo testada para o câncer de próstata estªo em estudo os genes PSA (Gao e col. 1999), p53 e bcl-2 (Moul e col. 1999). Nªo hÆ, porØm, nenhum pro- tocolo de estadiamento molecular estabelecido com valor prognósti- co efetivo para NPC ou câncer de próstata. Nesse cenÆrio, surge como vali- osa alternativa o estudo da expres- sªo gŒnica diferencial em tumores de próstata e de pulmªo NSC usan- do a tØcnica de DNA microarrays. TrŒs grupos de pesquisa do Institu- to de Química da USP juntaram-se para colaborar nesse estudo, explo- rando as informaçıes novas produ- zidas sobre as seqüŒncias do DNA humano: os grupos dos Drs. Mari Sogayar, Hamza El-Dorry e SØrgio Verjovski-Almeida. Esse estudo estÆ sendo realizado em parceria com o corpo clínico de dois grandes hos- pitais, o Hospital Israelita Albert Einstein (Unidade de Oncologia, chefiada pelo Dr. SØrgio Simon) e o Instituto Nacional do Câncer (De- partamento de Urologia, chefiado pelo Dr. Franz Campos), ambos dotados de larga experiŒncia clíni- ca em oncologia, juntamente com dois de seus colaboradores científi- cos associados ao Instituto de CiŒn- cias BiomØdicas da USP, os Drs. Marcello Barcinski e Carlos A. Mo- reira-Filho. Todo esse grupo acima faz parte do subprojeto Genoma do Câncer, coordenado pelo Dr. SØr- gio Verjovski-Almeida, dentro de um projeto temÆtico multidiscipli- nar aprovado e financiado pela FAPESP, denominado Cooperaçªo para a AnÆlise dos Genes e sua Expressªo - CAGE. O subprojeto CAGE/Genoma do Câncer irÆ con- centrar-se no câncer de próstata e de pulmªo, alØm de outros a ser oportunamente definidos. No mo- mento, estªo sendo selecionados os clones para construçªo dos pri- meiros microarrays, na unidade de Microarrays do projeto CAGE (Fi- gura 3), sob a coordenaçªo da Dra. Aline Silva, do Instituto de Química, com a tecnologia Generation III system desenvolvida pela divisªo Molecular Dynamics da Amersham Pharmacia Biotech. O projeto CAGE Ø um dos primeiros centros acadŒ- micos no mundo, e o primeiro da AmØrica Latina, a ter acesso ao Microarray System Program da Mo- lecular Dynamics, que atØ o início de 2000 estava restrito apenas às grandes empresas farmacŒuticas e de biotecnologia. Paralelamente, estÆ sendo criado um banco de amostras de tecido fresco congela- do, extraído de tumores coletados nos dois hospitais, que fornecerÆ o Figura 3 - Unidade de microarrays, onde se emprega a tecnologia Generation III da Amershan Pharmacia Biotech (foto publicada com permissªo da Amersham Pharmacia Biotech) Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento - Encarte Especial 167 material para extraçªo de mRNA a ser usado na hibridaçªo. A investigaçªo cuidadosa de pa- drıes de expressªo gŒnica em teci- dos neoplÆsicos Ø bem capaz de revelar as seqüŒncias do conjunto de mœltiplos genes que determi- nam o resultado do processo tumo- ral. AlØm disso, serÆ possível escla- recer o papel das mutaçıes na li- nhagem germinativa de possíveis genes do câncer, associando-os a determinados padrıes de expres- sªo gŒnica diferencial. Esse proces- so começa a ser elucidado nas for- mas hereditÆrias de câncer de mama, onde jÆ se demonstrou que muta- çıes do gene BRCA1 interferem na supressªo de vias de transcriçªo dependentes de estrogŒnio relacio- nadas com a proliferaçªo epitelial mamÆria (Fan e col., 1999) e que o produto do gene BRCA2 inibe a atividade de transcriçªo do p53 (Marmorstein e col. 1998). Agradecimentos. Os autores agradecem à FAPESP pelo apoio financeiro. ReferŒncias ASCO (1996). Statement of the American Society of the Clinical Oncology.Genetic Testing for can- cer Susceptibility. Journal of Clini- cal Oncology 14: 1730-1736. Blackwood A & Weber BL. BRCA1 and BRCA2 (1998). From molecular genetics to clinical medi- cine. Journal of Clinical Oncolo- gy 16: 1969-1977. D Amico TA, Massey M, Hern- don JR, Moore MB, Harpole DH Jr. (1999). A biologic risk model for stage I lung cancer: immunohisto- chemical analysis of 408 patients with the use of ten molecular ma- rkers. 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