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Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Instituto de Ciência e Tecnologia Curso de Engenharia Mecânica Prof. Ricardo Augusto Gonçalves Disciplina: Introdução aos Processos de Manufatura – EME103 Tratamentos Térmicos e Superficiais 2 • A construção mecânica exige peças metálicas de determinados requisitos, de modo a torná-las aptas a suportar satisfatoriamente as condições de serviço a que estarão sujeitas. Esses requisitos relacionam-se principalmente com completa isenção de tensões internas e propriedades mecânicas compatíveis com as cargas previstas. • Os processos de produção nem sempre fornecem os materiais de construção nas condições desejadas: as tensões que se originam nos processos de fundição, conformação mecânica e mesmo na usinagem criam sérios problemas de distorções e empenamentos e as estruturas resultantes não são, frequentemente, as mais adequadas, afetando, em consequência, no sentido negativo, as propriedades mecânicas dos materiais. • Por esses motivos, há necessidade de submeter as peças metálicas, antes de serem definitivamente colocadas em serviço, a determinados tratamentos que objetivem minimizar ou eliminar aqueles inconvenientes. 3 Os objetivos dos tratamentos térmicos podem ser resumidos da seguinte maneira: Remoção de tensões internas (oriundas de resfriamento desigual, trabalho mecânico ou outra causa); Aumento ou diminuição da dureza; Aumento da resistência mecânica; Melhora da ductilidade; Melhora da usinabilidade; Melhora da resistência ao desgaste Melhora da resistência à corrosão; Melhora da resistência ao calor; Modificação das propriedades elétricas e magnéticas. 4 • Materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade com que átomos ou íons se arranjam entre si. • Um material cristalino é um no qual átomos estão situados numa disposição repetitiva ou periódica ao longo de grandes distâncias atômicas; isto é, existe uma ordenação de grande alcance tal que na solidificação, os átomos se posicionarão entre si num modo tridimensional repetitivo, onde cada átomo está ligado aos seus átomos vizinhos mais próximos. • Todos os metais, muitos materiais cerâmicos, e certos polímeros formam estruturas cristalinas sob condições normais de solidificação. 5 Microestrutura dos Aços Os aços são basicamente ligas de ferro e carbono e adições de elementos de liga. Seus principais microconstituintes são: • Ferrita • Austenita • Perlita • Martensita 6 Diagrama Ferro Carbono 7 Ferrita – Ferro α • Características: • Estrutura: CCC (até a temperatura de 912 °C) • Material ferromagnético a temperaturas inferiores a 768 °C • Densidade: 7,88 g/cm3 • Solubilidade máxima do carbono: 0,002%pC a 727 °C • Macio e dúctil 8 Austenita – Ferro • Estrutura: CFC (tem + posições intersticiais) • Forma estável do ferro puro a temperatura entre 912 °C a 1394°C • Não é ferromagnética • Solubilidade máxima do carbono: 2,14%pC a 1147 °C • Dureza média 9 Cementita – Carboneto de Ferro – Fe3C • Forma-se quando o limite de solubilidade do carbono é ultrapassado (6,7% de C) • Possui elevada dureza e frágil 10 Perlita Consiste de lamelas alternadas de fase “α”(ferrita) e Fe3C (cementita) • FERRITA: lamelas mais espessas e claras • CEMENTITA: lamelas mais finas e escuras • Propriedades mecânicas da perlita: intermediária entre a ferrita (mole e dúctil) e cementita (dura e frágil) 11 Martensita • É uma solução sólida supersaturada de carbono (não se forma por difusão). • Forma de agulhas – Elevada dureza e muito frágil. 12 Fatores de Influência nos Tratamentos Térmicos • Temperatura de aquecimento; • Taxa de aquecimento; • Tempo de permanência à temperatura; • Taxa de resfriamento; • Ambiente do resfriamento. O histórico do material é importante. A estrutura inicial afeta tempos e temperaturas dos tratamentos térmicos. 13 Temperatura de Aquecimento • A temperatura de aquecimento deve ser adequada para que ocorram as modificações estruturais desejadas. Se ela for inferior a essa temperatura, as modificações estruturais não ocorrerão; se for superior, ocorrerá um crescimento dos grãos que tornará o aço frágil. • Depende do material e da transformação de fase ou microestrutura/propriedade desejada. Ex: Material será austenitizado? Temperatura muito alta : Crescimento de grão, oxidação dos contornos de grão, etc. Temperatura muito baixa: Material não será completamente austenitizado. 14 Taxa de Aquecimento A velocidade de aquecimento deve ser adequada à composição e ao estado de tensões do aço. O aquecimento muito lento provoca o crescimento de grãos, tornando o aço mais frágil, aquecimento muito rápido pode provocar deformações ou trincas, devido as tensões internas em determinados aços. • Efeito depende do volume de material a ser aquecido • Quanto maior a taxa de aquecimento mais elevadas as temperaturas de transformação de fases em relação ao diagrama. 15 Tempo de permanência à temperatura Este tempo deve ser suficiente para que as peças se aqueçam de modo uniforme, e os átomos de carbono se solubilizem totalmente. Se o tempo for além do desejado pode ocorrer crescimento de grãos. •Depende muito das dimensões da peça e da microestrutura desejada. •É o mais importante porque é o que determinará a microestrutura, além da composição química do material. Muito longo – maior a segurança da completa dissolução das fases para posterior transformação. Crescimento de grão, oxidação dos contornos de grão, descarbonetação da superfície. Muito curto – material não austenitiza completamente/homogeneamente (núcleo pode manter estrutura original) 16 Taxa de Resfriamento • As estruturas são formadas devido ao resfriamento. Para a austenita se transformar em ferrita, perlita ou cementita, não há só a necessidade de o ferro mudar o reticulado cristalino, mas também envolve a movimentação dos átomos de carbono através da austenita sólida, e isso leva algum tempo. • Quando resfriamos rapidamente um aço ele se transforma de CFC para CCC e o carbono permanece em solução. Isso cria uma estrutura deformada, supersaturada de carbono que recebe o nome de martensita. A taxa de resfriamento determina as propriedades finais. 17 Informações do ensaio Jominy (resfriamento em água) Taxa de Resfriamento 18 Taxa de Resfriamento Efeito das dimensões do material Taxa de resfriamento Baixa Alta Dureza Baixa Alta Aumento da razão superfície/volume: •Aumento da taxa de resfriamento •Aumento da dureza 19 Ambiente de Resfriamento • O resfriamento depende do meio. Por isso, é fundamental a escolha do meio. A seleção do meio de resfriamento é um compromisso entre: •Obtenção das características finais desejadas (microestruturas e propriedades); •Ausência de fissuras e empenamento na peça; •Minimização de concentração de tensões. Meios de resfriamento Ambiente do forno (+ brando) Ar Banho de sais ou metal fundido (+ comum é o de Pb) Óleo Água Soluções aquosas de NaOH, Na2CO3 ou NaCl (+ severos) 20 • Severidade de tempera – depende do meio onde o aço é resfriado depois da austenitização. Ambiente de Resfriamento Meio Ar Óleo Água Severidade de tempera Baixa Moderado Alta Dureza Baixa Moderada Alta 21 Curvas TTT 22 Recozimento Consiste em um aquecimento do aço acima da zona crítica durante tempo necessário para solução dos carbonetosou elementos de liga no ferro gama, seguindo de resfriamento rápido até temperaturas entre 500 °C e 650 °C, manutenção desta temperatura até que a transformação se complete, a partir dai, resfriamento ao ar até a temperatura ambiente. Objetivos: •Remoção de tensões internas devido aos tratamentos mecânicos •Diminuir a dureza para melhorar a usinabilidade •Alterar as propriedades mecânicas como a resistência e ductilidade •Ajustar o tamanho de grão •Melhorar as propriedades elétricas e magnéticas •Produzir uma microestrutura definida 23 Tipos de Recozimento • Recozimento para alívio de tensões (qualquer liga metálica) • Recozimento para recristalização (qualquer liga metálica) • Recozimento para homogeneização (para peças fundidas) • Recozimento total ou pleno (aços) • Recozimento isotérmico ou cíclico (aços) 24 Recozimento para alívio de tensões • Objetivo – Remoção de tensões internas originadas de processos (tratamentos mecânicos, soldagem, corte...) • Temperatura – Não deve ocorrer nenhuma transformação de fase • Resfriamento – Deve-se evitar velocidades muito altas devido ao risco de distorções. 25 Recozimento para recristalização • Objetivo – Eliminar o encruamento gerado pela deformação à frio. • Temperatura – Não deve ocorrer nenhuma transformação de fase • Resfriamento – Lento (ao ar ou ao forno) 26 Recozimento Pleno • Aços hipoeutetoides - 50 °C acima de A3 - Austenitização completa • Aços hipereutetoides – Entre A1 e Acm • Resfriamento dentro do forno (longo tempo de processo) 27 Microestrutura final Hipoeutetóide - ferrita + perlita grosseira Eutetóide - perlita grosseira Hipereutetóide - cementita + perlita grosseira • A perlita grosseira é ideal para melhorar a usinabilidade dos aços baixo e médio carbono • Para melhorar a usinabilidade dos aços alto carbono recomenda-se a esferoidização Diagrama esquemático de transformação para recozimento pleno. Recozimento Pleno 28 Recozimento Isotérmico • A diferença do recozimento pleno está no resfriamento que é bem mais rápido, tornando-o mais prático e mais econômico. • Permite obter estrutura final mais homogênea. • Não é aplicável para peças de grande volume porque é difícil de baixar a temperatura do núcleo da mesma. • Esse tratamento é geralmente executado em banho de sais. 29 Esferoidização Objetivo Produção de uma estrutura globular ou esferoidal de carbonetos no aço • melhora a usinabilidade, especialmente dos aços alto carbono • facilita a deformação a frio Outras forma de esferoidizar a estrutura: • Aquecimento por tempo prolongado a uma temperatura logo abaixo da linha inferior da zona crítica, • Aquecimento e resfriamentos alternados entre temperaturas que estão logo acima e logo abaixo da linha inferior de transformação. 30 Normalização Objetivos: • Refinar o grão • Melhorar a uniformidade da microestrutura Obs: É usada antes da têmpera e revenido. Aquecimento em campo austenítico 50°C acima de Ac3 (aços hipereutetoides) ou Acm (aços hipereutetoides) seguido de refriamento ao ar. 31 Recozimento pleno x normalização 32 Têmpera Objetivos: • Obter estrutura martensítica para se obter – Aumento na dureza – Aumento na resistência à tração – Redução na tenacidade 33 Têmpera • Após austenitização o aço é resfriado rapidamente com velocidade maior ou igual a velocidade critica de resfriamento. 34 • A têmpera gera tensões, deve-se fazer revenido posteriormente • Tensões residuais (transformação martensítica provoca expansão volumétrica de até 4%) • Superfície expande devido à transformação martensítica; • Para “manter“ a continuidade o núcleo é tracionado para acompanhar a superfície externa. 35 Revenido • Sempre acompanha a têmpera Objetivos: • Alivia ou remove tensões • Corrige a dureza e a fragilidade, • Diminui a dureza e aumenta a tenacidade 36 Revenido Martensita Revenida e carbonetos 37 • Temperatura do revenido Deve ser escolhida para atender as propriedades especificadas em projeto 38 Martêmpera • É indicada para aços-liga, porque reduz o risco de empenamento das peças. • Consiste em um resfriamento rápido a partir da temperatura de austenitização até logo acima da linha Mi (início de formação da martensita), permanecendo nesta temperatura até que ocorra homogeneização na peça, seguindo-se, de resfriamento ao ar. O objetivo é conseguir uma estrutura martensítica mais homogênea e com menor nível de tensões internas. 39 Austêmpera • Consiste em um resfriamento rápido a partir da temperatura de austenitização até uma temperatura dentro da faixa de formação da baianita, permanecendo até completa transformação seguida de resfriamento geralmente ao ar. • Dentre as vantagens deste tratamento podemos citar: não necessita de revenimento; dureza elevada, aliada a alta tenacidade; menor custo operacional. 40 Tratamentos Superficiais Objetivo: • aumento da resistência ao desgaste; • induzir tensões residuais compressivas na superfície. Tempera Superficial Cementação Nitretação Boretação 41 Têmpera Superficial • Endurecimento da superfície de um componente pela formação de martensita. • Procedimento: Austenitização de uma camada de aço na superfície do componente seguida de resfriamento rápido para formação de martensita (necessita de revenido). Os diferentes processos de têmpera superficial diferem entre si em função da fonte de energia usada para austenitizar a superfície e os meios de resfriamento. • Chama • Indução • Laser 42 Têmpera por indução • O aço é aquecido por um campo magnético gerado por uma corrente alternada de alta frequência que passa através de um indutor ( bobina de cobre resfriada a água). • Campo gerado depende da resistência da corrente e do número de voltas da bobina . 43 Têmpera por Laser • Fonte de luz com a qual se pode aplicar quantidade de energia pré-determinadas em regiões especificas de um componente. • Feixe de laser incide em uma superfície, parte da sua energia é absorvida como calor na superfície • Aquecimento e resfriamento rápidos • Pequenas distorções do componente • Não afeta as propriedades no interior do componente. 44 Cementação • Consiste em introduzir maiores quantidades de carbono em superfícies de aço com baixos teores de carbono. Por isso, é indicada para aços-carbono ou aços-liga cujo teor original de carbono seja inferior a 0,25%. A cementação aumenta esse teor até valores em torno de 1%, assegurando uma superfície dura e um núcleo tenaz. • A cementação pode ser sólida, líquida ou gasosa. 45 Nitretação • Neste tratamento termoquímico, o endurecimento su- perficial é promovido pelo nitrogênio, que se difunde a partir da superfície das peças, reagindo com elementos contidos nos aços e formando nitretos, de elevada dureza e grande resistência ao desgaste. • A nitretação pode ser à gás ou em banho de sal. 46 Boretação • Visa diminuir as perdas por desgaste de material, sob condições extremas de abrasão. Isto é conseguido através da introdução de boro na superfície do material. A camada boretada é resistente ao ataque de ácidos. 47 Referências Bibliográficas • Tecnologia Mecânica II – Processos de Fabricação e Tratamentos Térmicos, Vicente Chiaverini,. 48 Observação Este material refere-se àsnotas de aula do curso EME 103 Introdução aos Processos de Manufatura da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Não substitui o livro texto, as referências recomendadas e nem as aulas expositivas. Este material não pode ser reproduzido sem autorização prévia dos autores. Quando autorizado, seu uso é exclusivo para atividades de ensino e pesquisa em instituições sem fins lucrativos. 49
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