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Seminarários Integrados Em Engenharia (14)

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1 
 
 
 
 
 
* A N A I S * 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV Seminário Integrado de Pesquisa 
 
 
 
 
“A Pesquisa em Ciências Sociais: 
avanços e desafios” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 a 11 de novembro de 2015 
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA 
CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS - CLCH 
 2 
 
 
 
* A N A I S * 
 
 
ISSN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV Seminário Integrado de Pesquisa 
 
 
 
 
“A Pesquisa em Ciências Sociais: 
avanços e desafios” 
 
 
 
 
 
 
 
1a Edição 
 
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
 
 
 
 
 
 
 
Londrina 
2015 
Catalogação na publicação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da
 Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
 S471a Seminário Integrado de Pesquisa (4. : 2015 : Londrina, PR).
Anais [do] IV Seminário Integrado de Pesquisa [livro eletrônico] / 
[editor chefe: Giovanni Cirino]. – Londrina : UEL, 2015.
1 Livro digital : il.
Tema central: A pesquisa em ciências sociais : avanços e desafios.
Inclui bibliografia.
Disponível em: http://goo.gl/TfFGLN
ISSN 2448-0177
1. Ciências sociais – Pesquisa – Congressos. 2. Estado e movimentos 
sociais – Congressos. 3. Mobilidade social – Congressos. 4. Identidade – 
Congressos. 5. Sociologia – Estudo e ensino – Congressos. I. Cirino, 
Giovanni. II. Universidade Estadual de Londrina. Centro de Letras e 
Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. 
III. Título.
CDU 301.08
 4 
 
 
Ficha Técnica 
 
 
Universidade Estadual de Londrina - UEL 
Reitora: Berenice Quinzani Jordão 
 
Centro de Letras e Ciências Humanas - CLCH 
Diretor de Centro: Ronaldo Baltar 
 
Departamento de Ciências Sociais 
Chefa: Silvana Mariano 
 
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
Coordenadora: Simone Wolff 
 
Anais do IV Seminário Integrado de Pesquisa. 
“A Pesquisa em Ciências Sociais: avanços e desafios” 
 
Editor chefe dos Anais: Giovanni Cirino 
 
Corpo editorial e comissão científica: Carla Delgado de Souza, Cristiano 
Desconsi, Fernando Kulaitis, Francesco Romizi, Leila Sollberger Jeolás e 
Simone Wolff. 
 
Comissão organizadora do evento: Andréia Cristina Cruz, Carla Delgado de 
Souza, Cristiano Desconsi, Diogo Pablos Florian, Fernando Kulaitis, Francesco 
Romizi, Gabriel Marques de Almeida, José Wilson Assis Neves Júnior, Pedro 
Vinícius N. M. F. Rossi, Taynara Freitas Batista de Souza e Thaysa de Oliveira. 
 
Coordenadores dos GTs: Celso Vianna Bezerra de Menezes, Cristiano 
Desconsi, Eliel Machado, Fernando Kulaitis, Francesco Romizi, Ileizi Fiorelli, 
Maria José de Rezende e Silvana Mariano. 
 
Coordenadores da Oficina de "Ética e pesquisa em Ciências Sociais e 
Humanas": Luiz Antonio de Castro Santos e Leila Sollberger Jeolás. 
 
Parceiros: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - 
CAPES; Fundação Araucária, Pró-Reitoria de Pós-Graduação da UEL; 
Departamento de Ciências Sociais da UEL; Laboratório de Pesquisa em 
Ciências Sociais - LAPECS/UEL. 
 5 
 
 
 
Sumário 
 
 
O Evento .............................................................................................................. 9 
Grupos de Trabalho - GTs ................................................................................ 10 
Programação do Evento ................................................................................... 11 
Apresentação .................................................................................................... 13 
 
Oficina: Ética em Pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais ..................... 16 
 
Carla Delgado de Souza: Para além do sistema CEP/CONEP: o que é 
ética na pesquisa em ciências humanas e sociais? .................................. 17 
Letícia Figueira Moutinho Kulaitis: Gestão de políticas públicas e 
produção acadêmica: fronteiras e questões éticas na atuação 
profissional do sociólogo ............................................................................. 24 
Luiz Fernando Pereira: Autoridade etnográfica: refletindo as dimensões 
éticas e políticas na representação das culturas ....................................... 36 
 
GT 1 Estado e Movimentos Sociais ................................................................. 60 
 
Camila Pierobon: Rumores: Conflitos e ilegibilidades: encontros e 
desentendimentos entre Estado, movimentos sociais, tráfico de drogas e 
moradores de uma ocupação popular ......................................................... 61 
Diogo Pablos Florian: As tensões entre segurança internacional e 
segurança humana: avanços na proteção a vida ....................................... 82 
Lucas Silveira Andrade Martins: A eliminação da negação-da-negação em 
Louis Althusser ........................................................................................... 101 
Márcio Roberto Vieira Ramos: A profissão de sociólogo: uma abordagem 
sobre a formação do futuro cientista social enquanto aluno e estagiário, 
relacionando a atuação do profissional em instituições públicas como 
Cohab-LD e Prefeitura de Londrina ........................................................... 117 
Mariana de Oliveira Lopes: A análise de classes nos movimentos sociais 
contemporâneo ............................................................................................ 135 
Ricardo Gonçalves Severo: Análise da formação militante: estudo de 
caso em uma rádio comunitária ................................................................. 154 
Sandra Cristina Lima Vieira Santana de Farias Rosilda das Neves Alves: 
Evolução das Políticas Sociais e do sistema de saúde e a longa 
 6 
 
caminhada para a construção da agenda política que culminou no SUS 
(Sistema Único de Saúde ............................................................................ 169 
Simone Maria Boeira: Os relatórios do desenvolvimento das Nações 
Unidas, suas recomendações de combate à corrupção e as ações postas 
em andamento pelo Brasil .......................................................................... 188 
Taynara Freitas Batista de Souza: Organização política-ideológica do 
MTST nos governos PT (2003-2014) .......................................................... 201 
Thayza de Oliveira: Meritocracia e políticas de ações afirmativas de cotas 
nas universidades estaduais paulistas (USP e UNICAMP) e paranaenses 
(UEM e UEL): uma análise da reação ideológica da classe média .......... 216 
Vanessa Vilela Berbel: A imunização de conflitos pelos movimentos 
sociais: análise a partir da perspectiva de Niklas Luhmann ................... 234 
Vinicius Ramos Lanças: De Usuário a Ativista, a Marcha da Maconha no 
Brasil............................................................................................................. 247 
Wilson Sanches: Micro, pequenas e medias empresas na cadeia de valor 
de software: um estudo sobre as empresas de Londrina ........................ 266 
 
GT 2 Desigualdade e Mobilidade Social ................................................... 285 
 
Claudio Francisco Galdino: Racismo e violência: os homicídios da 
população negra na cidade de Londrina de 2005 até 2014 ...................... 286 
Franceline Priscila Gusmão: O processo de internacionalização das 
representações sociais dos adolescentes em conflito com a lei sobre a 
criminalidade: uma reflexão teórica........................................................... 306 
José Wilson Assis Neves Junior: Transformações na Igreja Católica 
paulistana e suas relações com os processos de modernização 
conservadora brasileira: estudos sobre o posicionamento contra 
hegemônicono semanário católico O São Paulo ..................................... 321 
Lilian Chirnev: A reprodução da desigualdade socioespacial no processo 
de integração da RMM ................................................................................. 342 
Maria Angélica Lacerda Marin: Políticas públicas de segurança e 
desigualdade social: sistema penal e perspectiva no Brasil ................... 360 
Maria Graziele Bernardi: igração Boliviana: um olhar através das redes 
sociais .......................................................................................................... 377 
Marinês dos Santos: Levantamento e tratamento de dados nas 
transmissões gratuitas de patrimônio, para embasamento de estudo da 
ocupação do espaço urbano e combate às desigualdades sociais........ 394 
 
 
 
 7 
 
GT 3 Identidades e Alteridades: entre o local e o global ............................ 409 
 
Ana Claudia Rodrigues de Oliveira: Aspectos quantitativos e qualitativos 
da diversidade religiosa e familiar no ambiente escolar .......................... 410 
Árife Amaral Melo: A racionalização da morte e seu contexto sociológico: 
as mudanças tumulares como forma de secularização ........................... 413 
Carlos Roberto de Melo Almeida: A Grande Guerra (1914-1918) e os 
Boletins Semanais de Júlio Mesquita ........................................................ 431 
Celso de Brito: Uma etnografia da transnacionalização da Capoeira 
Angola europeia: de esporte branco à arte mística negra ....................... 447 
Eliane Cristina Godoy: Culturas juvenis: os usos, apropriações das 
tecnologias informacionais, e as expressões comunicativas e estéticas 
entre os jovens ............................................................................................ 464 
Élvis Christian Madureira Ramos: A prática sócio-espacial dos roles dos 
jovens das periferias em cidades medias ................................................. 482 
Franciele Rodrigues: O mito da secularização e a reprodução da moral 
religiosa no Brasil: um desafio para as escolas públicas? ..................... 501 
Josieli Soares dos Santos Antônio Cavalcante de Almeida: Aspectos 
socioculturais e históricos da terra indígena São Jerônimo da Serra – 
Paraná........................................................................................................... 519 
Luiz Ernesto Guimarães: Câmara Municipal de Londrina: análise da 
relação entre religião e política .................................................................. 538 
Maria Raquel da Cruz Duran: Os Kadiwéu e a arte: relações entre si, com 
os outros e com os próprios desenhos ..................................................... 557 
Maryana Marcondes: Juventudes e Mercado religioso, uma análise das 
práticas da igreja Bola de Neve Londrina ................................................. 560 
Miriã Anacleto: Esporte e modernidade: a construção de identidades para 
a juventude na modernidade ...................................................................... 577 
Pedro Vinicius N. M. F. Rossi: A religiosidade e as contradições do 
contemporâneo: secularização, dessecularização e Contrassecularização
 ...................................................................................................................... 593 
 
GT 4 Políticas Públicas e Ensino de Sociologia ........................................ 612 
 
Alexandre Jeronimo Correia Lima: Entre o currículo e a prática escolar 
no ensino de Sociologia: análise da difusão dos saberes sociológicos no 
sistema educacional paranaense ............................................................... 613 
Aline Oliveira Gomes da Silva: A Universidade e a Identidade de Gênero: 
O uso do nome social nas universidades estaduais do Paraná ............. 616 
 8 
 
Helaine Christina Oliveira de Souza: A formação profissional do 
trabalhador: uma análise dos documentos oficiais que regulamentam o 
ensino profissional e técnico do Instituto Federal do Paraná (IFPR) ..... 633 
Meire Ellen Moreno: Feminismos e Antifeminismos na política brasileira: 
o caso do Plano Nacional de Educação 2014 ........................................... 636 
Samira do Prado Silva: As interseccionalidades entre gênero, raça/etnia, 
classe e geração nos livros didáticos de sociologia................................ 639 
Samuel Pereira Pavan: Ensino de Sociologia: uma perspectiva histórico-
crítica na formação de sujeitos em cursos da educação profissional 
subsequente ......................................................... Erro! Indicador não definido. 
Tainan Rotter Begara Gomes: O currículo de sociologia nos cursos de 
educação profissional técnica de nível médio .......................................... 658 
Thayara Rocha Silva: As condições das universidades estaduais do 
Paraná na garantia de acesso e permanência dos estudantes com 
necessidades especiais .............................................................................. 673 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 9 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Evento 
 
O Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais 
é um evento de âmbito nacional, organizado com o objetivo de tornar-se um 
espaço para a circulação e discussão da produção acadêmica discente de Pós-
Graduação em Ciências Sociais e áreas afins. Neste ano, elege o tema “A 
pesquisa em Ciências Sociais: avanços e desafios” como inspiração para 
reflexões sobre a ética, o plágio e as condições de produção e disseminação da 
pesquisa em Ciências Sociais no Brasil. 
 
 
 
 
Oficina Ética em pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais 
 
 
Esta Oficina tem como objetivo debater os limites e impasses da 
regulamentação formal da ética em pesquisa no Brasil (sistema CEP/Conep) 
para a avaliação das pesquisas em Ciências Humanas e Sociais (CHS). Objetiva 
igualmente discutir as especificidades e os aspectos teórico-metodológicos da 
ética em pesquisa nas CHS: a produção do conhecimento; a relação 
pesquisador-pesquisado; e a reflexividade sobre as condições e a condução da 
pesquisa. 
 10 
 
Grupos de Trabalho - GTs 
 
 
1) Estado e Movimentos Sociais 
 
Este GT dedica-se ao debate contemporâneo sobre os movimentos sociais e 
suas interfaces com o Estado a partir de diferentes vertentes teórico-
metodológicas. Contempla temas como: direitos trabalhistas, terceirização e 
políticas públicas de geração de trabalho e renda; lutas por direitos humanos e 
reconhecimento; a construção da cidadania e do espaço público; formas de 
participação e controle social; as manifestações e os novos sujeitos políticos. 
 
2) Desigualdade e Mobilidade Social 
 
Este GT objetiva debater a dinâmica da mobilidade social por meio das variáveis 
que influenciam a reprodução ou a mitigação das desigualdades sociais. Há 
particular interesse em pesquisas que analisam a dimensão relacional da 
hierarquia social, cujos fatores explicativos se encontram em: gênero, 
pertencimento étnico-racial, trabalho, educação, estratificação urbana, 
processos migratórios, projetos políticos e modelos de desenvolvimento social e 
econômico, dentre outras variáveis possíveis. 
 
3) Identidades e Alteridades: entre o local e o global 
 
Este GT pretende promover um debate sobre os processos de produção e de 
transformação das identidades – como a étnico-racial, a religiosa, a de gênero e 
a de classe, entre outras – e das alteridades, em diferentes âmbitos, espaços 
(públicos e privados) e situações da vida social. Objetiva-se também discutir as 
dinâmicas políticas e sociais geradas a partir destas formas de 
(auto)reconhecimento. 
 
4) Políticas Públicas e Ensino de Sociologia 
 
Este GT tem como objetivo debater estudossobre as dimensões sociais, 
políticas e culturais dos processos de ensino e da matriz curricular em ciências 
sociais/sociologia. Os temas se voltam para a formação de professores, os 
conteúdos, as metodologias e epistemologias do ensino. Além disso, busca 
discutir trabalhos sobre a formulação, implementação e avaliação de políticas 
públicas de educação, de saúde, de segurança, dentre outras, destinadas à 
redução das desigualdades sociais. 
 11 
 
 
Programação do Evento 
 
 
 
 
 
09/11/2015 - SEGUNDA-FEIRA 
 
 
 
 
19.30hs - Anfiteatro Maior/CCH 
 
MESA DE ABERTURA: Ética em Pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais: o 
contexto brasileiro. 
 
A pesquisa e sua ética, o poder e sua norma - Luiz Antonio de Castro Santos 
(IMS/UERJ-Professor visitante da UFSB/Porto Seguro) 
 
Duas décadas de difícil diálogo entre as ciências biomédicas e as ciências 
humanas: o sistema CEP/Conep - Leila Jeolás (UEL) 
 
 
 
 
10/11/2015 - TERÇA-FEIRA 
 
9 às 12hs - GTs 
 
14 às 18hs - GTs 
 
18hs - Anfiteatro Maior/CCH 
 
LANÇAMENTOS: 
 
Dossiê Comitês de Ética em Pesquisa: caminhos e descaminhos teórico-
metodológicos da Revista da SBS (v. 3, n. 05: jan. jun. 2015) 
 
Livro Plágio: palavras escondidas. Débora Diniz; Ana Terra. Brasília: Letras 
Livres; Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2014. 
 12 
 
 
19.30hs - Anfiteatro Maior/CCH 
 
MESA: O Plágio e as instituições acadêmico-científicas brasileiras 
 
Desafios éticos na escrita acadêmica e plágio - Ana Terra (Anis - Instituto de 
Bioética) 
 
Plágio na produção acadêmica e na produção científica - Martha Ramírez-
Gálvez (UEL) 
 
 
 
 
11/11/2015 - QUARTA-FEIRA 
 
9 às 12hs - Minicurso: Análise de dados qualitativos com auxílio de software 
(Cléber Silva Lopes, UEL) 
 
14 às 18hs – GTs 
 13 
 
 
Apresentação 
 
Os textos apresentados nestes Anais são resultado do IV Seminário 
Integrado de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da 
Universidade Estadual de Londrina (UEL). O evento tem âmbito nacional e seu 
objetivo é criar um espaço para a circulação e discussão da produção 
acadêmica discente de Pós-Graduação em Ciências Sociais e áreas afins. O 
tema de sua quarta edição A pesquisa em Ciências Sociais: avanços e desafios 
buscou ressaltar, sobretudo, as reflexões atuais e urgentes da discussão 
nacional sobre ética, plágio e condições de produção e disseminação da 
pesquisa em Ciências Sociais no Brasil. 
As duas Mesas-Redondas focaram essa discussão. A primeira, 
Ética em Pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais: o contexto brasileiro, 
contou com a participação de Luiz Antonio de Castro Santos, professor 
aposentado do IMS/UERJ e atualmente professor visitante da UFSB/Porto 
Seguro, e de Leila Jeolás professora aposentada da UEL. A segunda mesa, O 
plágio e as instituições acadêmico-científicas brasileiras, contou com a 
apresentação da pesquisadora Ana Terra do Instituto de Bioética, Direitos 
Humanos e Gênero (Anis) e da professora Martha Ramiréz Galvéz da UEL. 
 
A coordenação dos Grupos de Trabalho foi realizada por professores do 
departamento e foram organizados de modo a abarcar trabalhos de diferentes 
linhas de pesquisa, tais como: Estado e movimentos sociais; Desigualdade e 
Mobilidade Social; Identidades e alteridades: entre o local e o global; Políticas 
públicas e ensino de sociologia; Ética em pesquisa nas Ciências Humanas e 
Sociais. 
 
O tema da primeira Mesa-Redonda sobre Ética em Pesquisa nas 
Ciências Sociais e Humanas ganhou espaço nos eventos científicos das várias 
áreas de humanidades, em razão dos limites e impasses enfrentados na 
regulamentação formal da ética em pesquisa no Brasil. Tal regulamentação é 
realizada através do sistema dos Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) 
atrelados à Coordenação Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e, ligados por 
sua vez, ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da Saúde (MS). 
Esse sistema se organizou a partir da resolução 196 de 1996 do CNS/MS e há 
consenso entre os pesquisadores das Ciências Humanas e Sociais (CHS) sobre 
sua importância como marco histórico contra os abusos da ciência, 
principalmente a experimental, e sobre o fato de ser sido resultado de amplas 
discussões pautadas em tratados éticos internacionais. 
 14 
 
 
Entretanto, a extrapolação de sua lógica para as pesquisas envolvendo 
seres humanos, em todas as áreas do conhecimento, de forma generalizada e 
padronizada, trouxe controvérsias, conflitos e dificuldades de diálogo que já dura 
quase duas décadas no contexto nacional. 
 
Essas dificuldades foram delineadas na primeira Mesa-Redonda que 
retraçou o debate iniciado no final da década de 1990 entre antropólogos que 
desenvolvem pesquisa em áreas indígenas e pesquisadores cujos trabalhos têm 
interface com a área da saúde coletiva e/ou se pautam em abordagem 
qualitativa de pesquisa. Abordou igualmente a necessidade de regulamentação 
da pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais (CHS), mas, ressaltando sua 
natureza diferente daquela própria das áreas (bio)médicas, não podendo 
responder, portanto, ao formato/padrão do sistema CEP/Conep. As dificuldades 
se iniciaram na experiência de pesquisadores como representantes dos CEPs 
ou na submissão de seus projetos de pesquisas. Eles passaram a apontar os 
limites do sistema para avaliação das pesquisas em suas áreas, sendo que os 
primeiros pontos de conflito e de discordância foram a exigência automática e 
padronizada do TCLE e a exigência do desenvolvimento do “projeto conforme 
delineado”, ou seja, com definição a priori do número de pessoas a serem 
entrevistadas, do roteiro de questões definidas, dentre outros pontos. Isso 
mostra o desconhecimento (e a resistência à escuta) com relação às 
implicações epistemológicas na construção e formulação do problema de 
pesquisa, bem como das implicações da natureza da relação pesquisador-
pesquisado, que é objeto de reflexão e da construção do conhecimento nas 
abordagens metodológicas das CHS. Atualmente são muitas “vozes”, 
publicações, participação em eventos e moções que tentam mostrar a 
disposição em dialogar alternativas com a Conep às especificidades das 
pesquisas realizadas com seres humanos nas CHS, cujas exigências são 
distintas daquelas próprias das pesquisas experimentais em seres humanos. 
 
A segunda mesa sobre Plágio nas Instituições Acadêmico-Científicas 
também tratou de um tema pungente à pesquisa científica realizada na 
atualidade. E, de certa forma, discutiu a ética em pesquisa a partir de outra 
perspectiva: aquela que diz respeito à própria circulação e publicização do saber 
científico em uma época onde a produtividade acadêmica é chave não apenas 
para conferir prestígio aos cientistas, mas é um item fundamental para o próprio 
financiamento de algumas pesquisas em detrimento de outras. 
 
Nessa chave de entendimento, Ana Terra expôs em sua fala como pode ser 
possível lidar com o tema do plágio sem nos rendermos exclusivamente à esfera 
punitiva, já cabível na legislação. Nesse sentido, os ouvintes da mesa puderam 
aprender um pouco mais sobre plágio e autoplágio, constatando as diferenças 
existentes entre citação, inspiração teórica, recriação de ideias e o plágio 
propriamente dito. Com isso, foi enfatizada a necessidade de as instituições 
também trabalharem de forma a criar um ambiente que ensine seus estudantes 
e pesquisadores a não cometerem plágio. Foi significativo, nesse sentido, que 
 15 
 
Martha Ramírez-Gálvez também integrasse a mesa, uma vez que esta 
professora esteve a frente do periódico científico “Mediações – Revista de 
Ciências Sociais” até o ano de 2013. A experiência de Martha Ramírez-Gálvez 
como editora chefe de um importante periódico científico ajudou a esclarecer 
pontos importantesno debate sobre plágio e sua fala, inspirada nos modelos de 
boas práticas científicas formulados pelo CNPq e pela FAPESP, muito contribuiu 
para a discussão. 
Analisamos, assim, que o IV Seminário Integrado de Pesquisa em 
Ciências Sociais foi um sucesso e teve um grande impacto na vida acadêmica 
daqueles que participaram deste evento. Como forma de contribuir ainda mais 
para o debate acadêmico, que nunca se encerra nos dias dedicados à 
realização do próprio evento científico, resolvemos publicar os Anais do evento, 
que conta com textos escritos de quase todas as apresentações. Esperamos, 
com isso, promover ainda mais o diálogo intelectual que é a força motriz das 
atividades de pesquisa em Ciências Sociais. 
 
 
Boa leitura! 
 
Comissão organizadora do IV Seminário Integrado da Pós-Graduação em 
Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina. 
 16 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Oficina: Ética em Pesquisa 
nas Ciências Humanas e 
Sociais 
 17 
 
Proposta de comunicação oral para o: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV SEMINÁRIO INTEGRADO DE PESQUISA: A 
PESQUISA NAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GT 05 – Ética na pesquisa em Ciências Humanas e Sociais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Carla Delgado de Souza: Para além do sistema CEP/CONEP: o que é 
ética na pesquisa em ciências humanas e sociais? 
 
(Professora do Departamento de Ciências Sociais/UEL) 
delgadodesouza@gmail.com 
 
 
 
 
 
2015 
 18 
 
RESUMO: O sistema CEP/CONEP, em voga com bastante força no Brasil desde 
1996, tem, de acordo com suas resoluções o intuito de regulamentar as pesquisas 
realizadas em seres humanos no Brasil. A ideia original do projeto era submeter as 
pesquisas das áreas biomédicas a análises que pudessem averiguar se abusos em nome 
da ciência estavam sendo cometidos contra os seres humanos que dela participavam. 
Verifica-se, no discurso escrito nas resoluções, a tentativa de iluminar que pesquisas 
em seres humanos lidavam com sujeitos, e não objetos, de pesquisa. Obviamente, o 
sucesso dessa empreitada dependeria de uma transformação de cunho epistemológico, 
na medida em que a alteração provocada quando entendemos o ser humano 
participante da pesquisa como um sujeito deveria surtir efeitos e questionamentos 
significativos quanto à própria realização das pesquisas científicas. Tal fato por si só 
poderia conferir um adensamento sensível das discussões sobre as práticas científicas, 
seus objetivos e valores. 
 
A participação de profissionais das áreas de ciências humanas e sociais, que 
aos poucos adentraram o espaço dos comitês de ética (ainda hoje majoritariamente 
composto por profissionais das áreas médicas) talvez tivesse o papel de promover 
uma interlocução de saberes e práticas. Afinal, não é novidade para ninguém que a 
própria noção de ética é historicamente construída e tem suas raízes fincadas na 
Filosofia, remetendo aos seus primórdios na Grécia antiga. No entanto, nada disso 
parece ter ocorrido. A despeito dos pequenos progressos realizados por alguns 
profissionais das ciências humanas que militaram em prol de um alargamento da 
própria concepção de ciência dentro dos comitês, temos acompanhado vários casos 
em que intelectuais inicialmente dispostos a realizar uma discussão sobre ética em 
pesquisa voltaram-se contra o formato atual dos comitês de ética e acabaram-se 
desvinculando-se desses. 
Sem ter sido um nome atuante na militância em prol da construção de um 
diálogo interdisciplinar nos comitês de ética, meu intuito, nessa comunicação, é 
refletir, com base em minha experiência pessoal como membro do CEP da 
Universidade Estadual de Londrina durante apenas treze meses (no período de maio 
de 2013 a junho de 2014) sobre a ausência de diálogo instaurada na base do próprio 
sistema, que exerce o biopoder como forma de normalização de práticas científicas de 
maneira crua e literal. Quando eu não mais conseguia exercer sequer as atividades 
 19 
 
burocráticas, que constituem o cerne da prática do CEP/UEL, saí do mesmo, fazendo 
desta saída uma atitude (micro)política, por meio da elaboração de uma carta- 
 20 
 
justificativa dos argumentos que me faziam declinar da participação do comitê. Em 
 
tempo, tal atitude só foi possível porque contei com o apoio dos demais professores 
 
de antropologia do Departamento de Ciências Sociais da UEL, que decidiram redigir 
 
e assinar conjuntamente a carta-justificativa, que também se tornou uma espécie de 
 
manifesto. 
 
O processo de desencantamento com o CEP/UEL tomou ainda maiores 
 
proporções quando, após a divulgação do documento, tive acesso a narrativas de 
 
colegas que também sofriam com as imposições e as leituras “duras” das resoluções 
 
que regem a regulamentação das pesquisas envolvendo seres humanos. A ideia de que 
 
os comitês de ética em pesquisa estariam atuando como uma forma de policiamento 
 
das atividades intelectuais ganhou uma dimensão mais completa e me fez perceber 
 
toda a falência do sistema CEP/CONEP. Assim, após mais de um ano afastada destas 
 
atividades, e em consonância com as afirmativas dos artigos que compõem o dossiê: 
 
“Comitês de ética em pesquisa: caminhos e descaminhos teórico-metodológicos”, 
 
recém publicado na Revista Brasileira de Sociologia, pretendo analisar eventos da 
 
minha trajetória nesse comitê, entendendo alguns episódios como dados de um 
 
trabalho de campo antropológico. Além disso, pretendo fazer uma discussão paralela 
 
de como as questões éticas vem sendo tratadas no escopo das abordagens 
 
antropológicas na atualidade. 
 
 
Bibliografia de suporte/interlocução para a elaboração do paper: 
 
 
ALMEIDA, M. “A etnografia em tempos de guerra: contextos temporais e nacionais 
do objeto da antropologia”. In: PEIXOTO, F. A; PONTES, H & SCHWARCZ, L. M. 
(Orgs). Antropologias, histórias, experiências. Belo Horizonte: UFMG/Humanitas, 
2004. 
ALMEIDA, M. “As Ciências Sociais e seu compromisso com a verdade e com a 
justiça”. In: Mediações – Revista de Ciências Sociais, vol. 20, n°01, 2015. 
DUARTE, L. F. D. “A ética em pesquisa em ciências humanas e o imperialismo 
bioético no Brasil”. In: Revista Brasileira de Sociologia, vol. 03, n°05, 2015. 
FOUCAULT, M. Os anormais. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2002. 
JEOLÁS, L & SANTOS, L. A. C. “Apresentação: a pesquisa e sua ética, o poder e 
sua norma”. In: Revista Brasileira de Sociologia, vol. 03, n°05, 2015. 
JEOLÁS, L & SANTOS, L. A. C. “Uma comissão nacional de ética em pesquisa, as 
ciências biomédicas e humanas: trespassing à brasileira”. In: Revista Brasileira de 
Sociologia, vol. 03, n°05, 2015. 
MISKOLCI, R. “Reflexões sobre normalidade e desvio social”. In: Estudos de 
Sociologia, vol. 13/14, 2002/2003. 
SARTI, C. “A ética em pesquisa transfigurada em campo de poder: notas sobre o 
sistema CEP/CONEP”. In: Revista Brasileira de Sociologia, vol. 03, n°05, 2015. 
 21 
 
 
 
Universidade Estadual de Londrina 
 
IV Seminário Integrado de Pesquisa 
 
GT Ética em pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais 
 
 
 
 
 
 
 
 
Letícia Figueira Moutinho Kulaitis 
 
Gestão de políticas públicas e produção acadêmica: fronteiras e questões éticas 
na atuação profissional do sociólogo 
 
Programa de Pós-Graduação em Sociologia – Universidade Federal do Paraná 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Londrina 
 
2015 
 22 
 
 
O exercício da imaginação sociológica é, para C. Wright Mills (1972), o ponto de 
partidado ofício de sociólogo. Ao situar-se socialmente, o pesquisador torna-se capaz de 
compreender sociologicamente o contexto no qual está inserido. A formação deste olhar 
sociológico possibilita, portanto, uma nova interpretação das questões suscitadas pela 
experiência em sociedade. Trata-se, como aponta José de Souza Martins (2013), da 
transformação da informação bruta em dado sociológico, investigado e analisado por meio da 
pesquisa sociológica como atividade própria de um artesanato intelectual. 
 
A ruptura da Sociologia com o senso comum relaciona-se, na definição do ofício de 
sociólogo como proposta por Pierre Bourdieu (1999), com a construção do objeto como 
prática epistemológica. Para Bourdieu é necessário evidenciar as pré-noções que constituem a 
experiência do próprio sociólogo para que se possa construir um objeto de pesquisa. Para 
além da Academia, a profissão do sociólogo tem sido exercida em outros espaços como 
órgãos e agências governamentais, organizações da sociedade civil e empresas privadas. Este 
exercício estabelece novas questões éticas e propicia a aproximação do pesquisador de suas 
das fontes de pesquisa (desde o acesso a documentos até o contato com os agentes). 
O presente artigo exemplifica esta aproximação dos sociólogos de um campo 
profissional definido por Michael Burawoy (2009) como Sociologia para Políticas Públicas e 
pretende apontar de que modo esta aproximação possibilitou a realização de uma pesquisa no 
Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná. 
O ponto de partida dessa pesquisa foi a contratação, no ano de 2009, em processo 
seletivo simplificado para o exercício de atividades técnicas especializadas do Ministério da 
Justiça por tempo determinado. Os profissionais foram contratados para atuarem na sede do 
Ministério em Brasília e em 11 estados e suas atividades foram direcionadas para o 
acompanhamento da execução do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania 
(PRONASCI), lançado pelo Governo Federal em julho de 2007. 
 
Após a contratação, os profissionais participaram, por um período de 15 dias, de 
capacitação para exercício de suas funções na sede do Ministério da Justiça. Em palestra que 
inaugurava o curso de formação, o Ministro da Justiça Tarso Genro afirmou que os jovens 
brasileiros são, dentre toda a população, os que mais matam e morrem e sendo assim, o 
PRONASCI foi idealizado para oferecer um novo caminho por meio da profissionalização, do 
pagamento de bolsas e de uma repressão policial „qualificada‟ nos territórios em que viviam 
estes jovens. 
 23 
 
 
De início, destacava-se, na apresentação do Programa pelo Ministro, o fato de os 
jovens ora serem apresentados como vítimas da criminalidade e da violência, ora como 
vitimizadores, potenciais ameaças à sociedade. Tal fato despertou a atenção para a percepção 
de que a associação entre juventude, violência e pobreza se fazia presente nos documentos 
oficiais produzidos para a divulgação do Programa e parecia estabelecer que a atividade 
criminosa está ou estará presente na trajetória de jovens pobres, moradores das áreas de 
periferia dos grandes centros urbanos e era preciso, portanto, atender a demanda social e 
política por retirar os jovens brasileiros da rota da criminalidade e da violência. 
 
A atuação como Profissional de nível superior – nível III - Ciências Sociais – com 
lotação no Estado do Paraná no período compreendido entre janeiro de 2009 e maio de 2014, 
por fim, suscitou um conjunto de questões que foram levadas ao Programa de Pós-Graduação 
em Sociologia da Universidade Federal do Paraná em seleção realizada no ano de 2012. São 
elas: Como as construções oficiais da juventude e da violência pelas políticas públicas 
difundidas pela SENASP se articulam com as práticas de gestão da segurança pública? E 
quais os resultados dessa articulação para a definição do peso dos processos de vitimização e 
de criminalização do jovem? 
A descrição do percurso de pesquisa tem por objetivo identificar as fronteiras entre a 
atuação do sociólogo como gestor de políticas públicas e pesquisador apontando para uma 
reflexão sobre as limitações éticas que perpassam a produção acadêmica. 
 
REFERÊNCIAS 
BECKER, Howard S. Segredos e truques da pesquisa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. 
 
BOURDIEU, Pierre; CHAMBOREDON, Jean-Claude e PASSERON, Jean-Claude. A 
profissão de sociólogo. Preliminares epistemológicas. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1999. 
 
BURAWOY, Michael. Cultivando Sociologias Públicas nos Terrenos Nacional, Regional e 
Global. Revista Sociologia Política. V. 17, n. 34. Curitiba: out, 2009. p. 219-230. 
 
MARTINS, José de Souza. O artesanto intelectual na sociologia. Revista Brasileira de 
Sociologia. V. 1, n.02. Sergipe: jul.dez, 2013. p. 13-48. 
 
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. 
 24 
 
Letícia Figueira Moutinho Kulaitis: Gestão de políticas públicas e produção 
acadêmica: fronteiras e questões éticas na atuação profissional do sociólogo 
 
 
 
 
 
IV SEMINÁRIO INTEGRADO DE PESQUISA 
 
“A Pesquisa em Ciências Sociais: avanços e desafios” 
 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
OFICINA “ÉTICA EM PESQUISA NAS CIÊNCIAS HUMANAS 
 
E SOCIAIS” 
 
Gestão de Políticas Públicas e produção acadêmica: Fronteiras e 
questões éticas na atuação profissional do sociólogo 
 
Letícia Figueira Moutinho Kulaitis (UFPR) 
leticia.kulaitis@gmail.com 
 
Resumo: O exercício da imaginação sociológica é, para C. Wright Mills (1972), o 
ponto de partida do ofício de sociólogo. Ao situar-se socialmente, o pesquisador 
torna-se capaz de compreender sociologicamente o contexto no qual está inserido. A 
formação deste olhar sociológico possibilita, portanto, uma nova interpretação das 
questões suscitadas pela experiência em sociedade. Para além da academia, a 
profissão do sociólogo tem sido exercida em outros espaços como órgãos e 
agências governamentais, organizações da sociedade civil e empresas privadas. 
Este exercício estabelece novas questões éticas e propicia a aproximação do 
pesquisador de suas fontes de pesquisa ( facilitando desde o acesso a documentos 
até o contato com os agentes). O presente artigo exemplifica esta aproximação dos 
sociólogos de um campo profissional definido por Michael Burawoy (2009) como 
Sociologia para Políticas Públicas e pretende apontar de que modo esta 
aproximação possibilitou a realização de uma pesquisa no Programa de Pós-
Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná. 
 
2015 
 25 
 
 
Sobre a profissão do sociólogo 
 
 
O exercício da imaginação sociológica é, para C. Wright Mills (1972), o ponto 
de partida do ofício de sociólogo. Ao situar-se socialmente, o pesquisador torna-se 
capaz de compreender sociologicamente o contexto no qual está inserido. A 
formação deste olhar sociológico possibilita, portanto, uma nova interpretação das 
questões suscitadas pela experiência em sociedade, ou seja, uma compreensão do 
cotidiano que sobreleva o senso comum imediato. Trata-se, como aponta José de 
Souza Martins (2013), da transformação da informação bruta em dado sociológico, 
investigado e analisado por meio da pesquisa sociológica como atividade própria de 
um artesanato intelectual. 
 
Nas palavras de Martins (2013. p. 34), a imaginação sociológica: 
 
 
É uma forma de utilizar a própria memória, as próprias lembranças e 
esquecimentos como fontes de dados sociológicos, para que um autor se 
situe socialmente e compreenda sociologicamente sua circunstância e 
desse modo se capacite para observar o outro e o social. 
 
A observação do social produzida pelo sociólogo, produto do ofício de 
sociólogo como definidopor Bourdieu; Chamboredon e Passeron (1999), engedra a 
ruptura da Sociologia com o senso comum por meio da construção do objeto como 
prática epistemológica. Para os autores, é necessário evidenciar as pré-noções que 
constituem a experiência do próprio sociólogo para que se possa construir um objeto 
de pesquisa. 
Para além da academia, lócus do campo científico, a profissão do sociólogo 
tem sido exercida em outros espaços como órgãos e agências governamentais, 
organizações da sociedade civil e empresas privadas. Ao mesmo tempo em que 
este exercício propicia a aproximação do pesquisador de suas das fontes de 
pesquisa (desde o acesso a documentos até o contato com os agentes) também 
estabelece novas questões éticas. 
O presente artigo exemplifica esta aproximação dos sociólogos de um campo 
profissional definido por Michael Burawoy (2009) como Sociologia para Políticas 
Públicas
1
 e pretende apontar de que modo esta aproximação possibilitou a 
 
1
 A Sociologia para Políticas Públicas [policy Sociology] é definida por Burawoy (2009, p. 221) como 
uma área da Sociologia “que procura oferecer soluções para problemas definidos por um cliente, por 
 26 
 
 
realização de uma pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da 
Universidade Federal do Paraná. 
 
Burawoy discute a posição do sociólogo e dos cientistas sociais como 
 
“intelectuais”, cuja inserção política e institucional é variada, podendo ser 
profissional, crítica, pública ou voltada para políticas públicas. Para autor, os 
cientistas sociais podem adotar apenas uma dessas dimensões de cada vez, mas 
reconhece que as trocas entre os gêneros da prática sociológica integram, de 
maneira positiva, a sua dinâmica profissional (BURAWOY, 2009, p. 219). 
 
Entretanto, se retomarmos a posição de Wright Mills (1972) e José de Souza 
Martins (2013) e compreendermos a profissão do sociólogo pela lógica da formação 
de um olhar sociológico, entenderemos que a separação entre essas dimensões não 
se constitui como barreiras intransponíveis, mas sim como fronteiras pelas quais o 
sociólogo transita e as articula. 
 
Ainda que exerça uma função de gestão pública, o sociólogo tomará sua 
atividade profissional como uma questão sociológica, refletindo de modo crítico 
sobre sua prática. É na fronteira entre o exercício profissional da Sociologia e a 
prática da pesquisa que o sociológo encontrará espaço para a produção de 
conhecimento científico acerca dos temas com os quais se defronta em seu 
cotidiano. 
Ao analisar a tipologia proposta por Burawoy, Simon Schwartzman (2009, 
p.12) trata destas fronteiras e indica que: 
 
Os principais campos de trabalho para os sociólogos brasileiros hoje são as 
organizações não governamentais da sociedade civil, o trabalho na 
administração pública, e a carreira acadêmica. Diferente de Burawoy, 
acredito que é no mundo acadêmico, da liberdade de pesquisa e do rigor 
científico, que deveria estar a âncora que desse ao sociólogo a liberdade de 
trabalhar com autonomia e independência intelectual nos outros setores. A 
questão que se coloca é se esta âncora realmente funciona, ou se, ao 
contrário, são as agendas das organizações da sociedade civil e das 
burocracias públicas, assim como dos partidos e movimentos políticos que 
permeiam as instituições, que acabam determinando o que ocorre no âmbito 
da pesquisa acadêmica e profissional (SCHWARTZMAN, 2009, p. 12). 
 
 
 
Ao transitar por estas fronteiras, ou seja ao exercer as funções de 
pesquisador e gestor/técnico de políticas públicas, o sociólogo deverá observar os 
 
um patrão; Aqui o sociólogo é o especialista que vende seu conhecimento especializado para 
certo cliente e para determinada tarefa”. 
 27 
 
 
limites éticos que se impõem à realização destas atividades
2
. Por um lado, na 
atividade profissional, os limites são impostos pelos vínculos institucionais. Embora 
seja possível a formação de um espaço para avaliação crítica desta atividade, de 
qualquer modo, ao ser contratado para avaliar ou acompanhar uma determinada 
política pública, o sociólogo compromete-se com esta política e suas críticas e 
reflexões, por vezes, não encontram ressonância naqueles que o contrataram. 
 
A sociologia, desde a sua constituição como disciplina autônoma, suscita 
críticas. Estas se referem à afirmação da necessidade de múltiplas 
rupturas:com as outras disciplinas científicas que têm a vocação de estudar 
o social, com os discursos do senso comum, com todas as instituições ou 
organizações que não têm interesse no trabalho de objetivação 
(BONNEWITZ, 2005, p. 27). 
 
Há, portanto, que se compreender que o exercício da função pública impõe 
limites à autonomia e independência do pesquisador. Ainda que, por meio da 
imaginação sociológica, o pesquisador reflita sobre sua atividade profissional é, 
somente, ao realizar a construção de um objeto de pesquisa que possibilita desvelar 
o conteúdo das políticas públicas. 
 
Na seção seguinte, a descrição do percurso da pesquisa tem por objetivo 
exemplificar de que modo a prática profissional pode contribuir para a delimitação de 
um objeto sociológico. 
 
Gestão de políticas públicas e produção acadêmica: Delimitando um 
 
objeto sociológico 
 
O ponto de partida da pesquisa em andamento
3
 foi a contratação, no ano de 
2009, em processo seletivo simplificado para o exercício de atividades técnicas 
especializadas do Ministério da Justiça por tempo determinado. Os profissionais 
foram contratados para atuarem na sede do Ministério em Brasília e em 11 estados 
(Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Pará, Paraná, 
Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul) e suas atividades foram direcionadas 
 
2 É importante ressaltar que não se trata da discussão dos limites éticos nos termos propostos pela 
Comissão de Ética em Pesquisa (CONEP). Trata-se do rigor metodológico próprio da atividade de 
pesquisa nas Ciências Sociais.
 
3 Tese de Doutorado denominada Entre a vitimização e a criminalização: juventude, segurança 
pública e controle social perverso realizada no Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos 
Humanos (CESPDH), sob orientação do Prof. Dr. Pedro R. Bodê de Moraes, do Programa de Pós-
Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná, com previsão de defesa para março 
de 2016.
 
 28 
 
 
para o acompanhamento da execução do Programa Nacional de Segurança Pública 
com Cidadania (PRONASCI), lançado pelo Governo Federal em julho de 2007. 
 
Após a contratação, os profissionais participaram, por um período de 15 dias, 
de capacitação para exercício de suas funções na sede do Ministério da Justiça. Em 
palestra que inaugurava o curso de formação, o Ministro da Justiça Tarso Genro 
afirmou que os jovens brasileiros são, dentre toda a população, os que mais matam 
e morrem e sendo assim, o PRONASCI foi idealizado para oferecer um novo 
caminho por meio da profissionalização, do pagamento de bolsas e de uma 
repressão policial „qualificada‟ nos territórios em que viviam estes jovens. Nas 
palavras do ministro, se fosse possível salvar apenas um jovem, o programa teria 
cumprido sua missão. 
 
De início, destacava-se, na apresentação do Programa pelo Ministro, o fato de 
os jovens ora serem apresentados como vítimas da criminalidade e da violência, ora 
como vitimizadores, potenciais ameaças à sociedade. Tal fato despertou a atenção 
para a percepção de que a associação entre juventude, violência e pobreza se fazia 
presente nos documentos oficiais produzidos para a divulgação do Programa e 
parecia estabelecer que a atividade criminosa está ou estará presente na trajetória 
de jovens pobres, moradores das áreas de periferiados grandes centros urbanos e 
era preciso, portanto, atender a demanda social e política por retirar os jovens 
brasileiros da rota da criminalidade e da violência. 
 
A atuação como Profissional de nível superior – nível III - Ciências Sociais – 
com lotação no Estado do Paraná no período compreendido entre janeiro de 2009 e 
maio de 2014, por fim, suscitou um conjunto de questões que foram levadas ao 
Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná na 
seleção realizada no ano de 2012. São elas: Como as construções oficiais da 
juventude e da violência pelas políticas públicas difundidas pela SENASP se 
articulam com as práticas de gestão da segurança pública? E quais os resultados 
dessa articulação para a definição do peso dos processos de vitimização e de 
criminalização do jovem? 
 
Inicialmente a preocupação descrita no Projeto de Tese era compreender de 
que modo a oscilação em apontar os jovens como vítimas ou criminosos se refletia 
nas políticas de segurança pública executadas por estados, municípios e pela União. 
No entanto, a experiência como gestora destas políticas e a busca pela literatura 
 29 
 
 
que trata do tema indicou como fundamental a análise da formulação das políticas. 
Isso porque o resultado desta análise permite compreender o modo como os 
indivíduos a quem estas políticas se destinam são caracterizados. 
 
Dito de outra forma, são os documentos produzidos pelo Ministério da Justiça 
e os programas de financiamento disponibilizados a estados e municípios que 
determinam os rumos a serem tomados na condução da política de segurança 
pública. A execução dos projetos e programas atende, portanto, aos pressupostos 
definidos pela União e expressam, in loco, a apropriação e/ou reprodução destes 
pressupostos por estados e municípios. No caso da juventude, esta expressão 
oscila, como dito anteriormente, entre a vitimização e a criminalização desse 
segmento da população. 
Na prática, as políticas públicas de segurança, orientadas e financiadas pelo 
Ministério da Justiça, expressam a percepção da juventude pobre, moradora das 
áreas de periferia dos grandes centros urbanos, como uma potencial ameaça à 
ordem social. Tais políticas buscam manter os jovens pobres ocupados e isolados 
do seu próprio grupo. 
 
Sendo assim, formulou-se a hipótese de que estas políticas reforçam a 
dinâmica de marginalização que pretendem combater e lançam sobre essa 
população um estigma de grupo e de território, ou seja, de uma área marcada pela 
violência e habitada por criminosos e ou futuros criminosos. 
 
Portanto, a pesquisa, no PPGS-UFPR, dedicou-se à análise de como a 
vitimização e criminalização da juventude foi apresentada e inserida como pauta da 
política nacional de segurança pública e sua expressão nas políticas públicas 
elaboradas pelo Ministério da Justiça e executadas pela União, estados e municípios 
no período compreendido entre 1997 e 2012. 
 
O marco inicial deste recorte de tempo é a criação da Secretaria Nacional de 
Segurança Pública (SENASP), em 1997, órgão integrante do Ministério da Justiça. 
Responsável pela definição, difusão e financiamento das políticas nacionais de 
segurança, a SENASP situou a juventude como pauta da segurança pública. Já o 
marco final refere-se à execução do PRONASCI entre os anos de 2007 e 2012. 
 
O PRONASCI consolidou o foco etário da política nacional de segurança 
proposta pela SENASP. O programa teve suas ações dirigidas para jovens entre 15 
 30 
 
 
e 24 anos, identificados como aqueles que já cometeram ou que, segundo o 
Ministério da Justiça, cometerão crimes. 
 
Para compreender como são construídas e difundidas pelo Ministério da 
Justiça as categorias juventude e violência juvenil e por fim, como estas categorias 
informam as políticas nacionais de segurança públicas foram descritas as variáveis 
que possibilitam a compreensão da noção de juventude em seu sentido sócio-
histórico. Em seguida, foram apresentados os elementos que condicionam a 
experiência juvenil no contexto brasileiro e as políticas públicas direcionadas a esse 
segmento social no período correspondente aos anos 1995 a 2010. 
 
Considerando que a juventude ou as juventudes são formadas por um 
conjunto heterogêneo de indivíduos, com diferentes aspirações, experiências de vida 
e de acesso ao poder, a condição juvenil
4
 é vivida pelos jovens, de acordo, com sua 
situação de classe, de gênero, de etnia, de renda, entre outras variáveis. 
 
Portanto, da condição juvenil, modo como uma sociedade forma e atribui 
significado a esse momento do ciclo de vida, define-se uma situação juvenil, o modo 
como esse momento é vivido em um determinado contexto social. A discussão dos 
dados referentes à ocupação da população jovem se mostra relevante para a 
compreensão da situação juvenil pois, atualmente, os marcos de transição da 
juventude para a vida adulta como a entrada no mundo do trabalho e a constituição 
de uma nova família, no Brasil, tornaram se processos ainda mais complexos 
 
No caso brasileiro, há uma variável fundamental para a compreensão da 
situação juvenil. Trata-se da violência a que a juventude brasileira está exposta em 
suas diversas manifestações. Por conta dos altos índices de agressões e homicídios 
sofridos pelos jovens brasileiros, o país despertou o interesse de diferentes 
organismos internacionais que se dedicaram a avaliar tal situação. 
 
Integrados como conteúdo das políticas nacionais de segurança pública, os 
jovens são identificados como parte de um trinômio que se completa por sua 
associação aos termos pobreza e violência. Estes jovens ora são apresentados 
como vítimas da criminalidade e da violência, ora como vitimizadores, potenciais 
ameaças à sociedade. 
 
 
4
 A juventude, compreendida como uma condição, define-se como um momento do ciclo de vida em 
que o indivíduo passa a integrar outras dimensões da vida social como, por exemplo, o mercado do 
trabalho. 
 31 
 
 
No contexto destas políticas é possível perceber que mesmo quando o jovem 
 
é reduzido a vítima, a atenção que se volta para ele é constituída pela noção de que, 
por conta das características socialmente atribuídas a condição juvenil e de sua 
situação de marginalidade social, este caminharia numa linha tênue entre a prática 
concreta da criminalidade e a possibilidade efetiva de realizá-la. Ou seja, de modo 
geral, a juventude é representada como um caso de polícia. 
Partindo da hipótese de que para compreender a inserção da juventude como 
questão de segurança pública julgou-se necessário apresentar como se 
estruturaram e se desenvolveram as atividades da Secretaria Nacional de 
Segurança de Pública no período compreendido entre 1997 e 2007. Ao longo da 
trajetória da Secretaria, a juventude foi apontada como autora e vítima da violência e 
 
é deste modo que se torna, a partir dos anos 2000, pauta dos projetos e programas 
de segurança pública executados pela União, estados e municípios. 
 
No ano 2000, a juventude começa a tomar forma como integrante do campo 
da segurança pública na elaboração do Plano Nacional de Segurança Pública 
(PNSP). No Plano, os compromissos que faziam referências a questão da 
adolescência e/ou da juventude eram aqueles voltados para a regulação dos meios 
de comunicação com vistas a impedir a exposição de crianças e adolescentes à 
violência e na inibição da atuação de gangues. 
Criado com o objetivo de apoiar projetos na área de segurança pública e de 
prevenção à violência enquadrados nas diretrizes do plano de segurança pública do 
Governo Federal, o Fundo Nacional de Segurança Pública financiou, entre 2003 e 
2010, 118 projetos que continham, emseus objetos, menção a adolescentes e 
jovens como destinatários de suas ações. 
 
A análise destes convênios firmados com a SENASP apontou a presença dos 
profissionais de segurança pública como executores de projetos sociais para 
juventude. Esta presença é justificada, tanto por estados e município quanto pelo 
Ministério da Justiça, em virtude da necessidade de afastar os jovens da atividade 
criminosa. O pressuposto que orienta estes projetos é que a atividade criminosa está 
ou estará presente na trajetória de jovens pobres, moradores das áreas de periferia 
dos grandes centros urbanos e é necessário, portanto, atender a demanda social e 
política por retirar estes jovens da rota da criminalidade e da violência. 
 32 
 
 
Por outro lado, o que estes convênios explicitam é que os policiais, bombeiros 
e guardas municipais envolvidos na execução dos mesmos serão responsáveis por 
formar e acompanhar os jovens e adolescentes em atividades escolares, culturais e 
esportivas. Portanto, executarão políticas públicas estaduais ou municipais voltadas 
a juventude e adolescência. Tal fato se configura como um processo de 
policialização destas políticas públicas. 
 
Observa-se que o foco da política nacional de segurança pública estabelecido 
pela SENASP não se limita à questão etária pois a juventude a quem se destina 
essa política é aquela que reside num local também estabelecido como foco da 
repressão à violência. Sendo assim, a política delimita uma faixa etária e um 
território como responsáveis pela violência vivenciada nos municípios. 
 
É no contexto deste debate sobre a vulnerabilidade social dos jovens e da 
suposta escalada dos homicídios cometidos por essa faixa que é criado, em 2007, 
no âmbito do Ministério da Justiça, o PRONASCI. 
 
Lançado, pelo Ministério da Justiça, em agosto de 2007, o programa teve 
suas ações dirigidas para jovens entre 15 e 24 anos, identificados como aqueles em 
situação infracional ou no caminho de situação infracional: adolescentes em conflito 
com a lei, jovens oriundos do serviço militar obrigatório, jovens presos, jovens 
egressos do sistema penitenciário e jovens em situação de descontrole familiar 
grave (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2008, p.5). Estes jovens não estariam integrados 
aos demais programas sociais do governo federal e seriam moradores das periferias 
dos grandes centros urbanos do Brasil. Os pressupostos que orientaram a 
construção do Programa e sua estrutura são apresentados neste capítulo. 
 
Ao todo o Programa reuniu 94 ações divididas em ações estruturais e ações 
dos programas locais. As ações estruturais visavam modernizar as polícias e o 
sistema prisional, valorizar os profissionais do setor, enfrentar a corrupção policial e 
o crime. Os programas locais, integrantes do PRONASCI, compreendiam as 
chamadas ações de prevenção destinadas “a retirar o jovem da rota criminal e inseri-
lo nos programas governamentais já existentes, recuperando-os para a cidadania” 
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2008a, p.5). 
 
Ao apontar para a necessidade de pacificação desses espaços por meio da 
 
“mobilização policial”, o modelo de ocupação dos territórios, proposto pelo 
 
Programa, assenta-se na instituição de um processo de criminalização da pobreza, 
 33 
 
 
como indicado por Coelho (2005). Ainda que, no caso do PRONASCI, a vinculação 
da “mobilização policial” à “mobilização social” seja apontada como uma mudança 
do modelo de ocupação destes territórios, a denotação dos locais selecionados pelo 
Programa como territórios não-pacificados acaba por reforçar a dinâmica da 
marginalização que objetivavam combater. 
 
A policialização dos projetos previamente executados por outros ministérios e 
secretarias especiais do governo federal tem como ponto de partida a noção de que 
nas localidades identificadas como “Território PRONASCI” ou ainda “Território de 
Paz” tais ações podem se concretizar apenas com o acompanhamento prévio e 
permanente das forças municipais e ou estaduais de segurança pois são estas as 
regiões que concentram a violência, a criminalidade e a descoesão social. 
A análise dos dados referentes à execução orçamentária do PRONASCI 
apresentou-se como uma relevante ferramenta para a compreensão da 
instrumentalização dos princípios que orientaram a elaboração do Programa e dos 
efeitos produzidos por esta política nacional de segurança pública. São examinados 
783 convênios e 23 termos de parceria no âmbito do PRONASCI entre os anos de 
2008 e 2012. 
 
O processo de policialização das políticas, como expressão de um controle 
social do tipo perverso, e sua expressão nas políticas públicas voltadas para a 
juventude destacou-se como importante elemento para a compreensão do objeto 
proposto. A discussão proposta se estrutura a partir da seguinte definição: 
 
Sabendo -se que a ordem e a organização dela derivada é inerente a 
qualquer sociedade, pode -se afirmar que não existe sociedade que não a 
produza e reproduza por intermédio de dinâmicas de controle social. A 
intenção de manutenção da ordem e da organização social encontra- se 
presente na formulação e na operacionalização das políticas públicas, e 
constituem um mecanismo de controle social por intermédio da produção da 
integração e do bem estar. No entanto, aquém daquele modelo de controle 
social observamos em muitos casos, entre os quais algumas políticas 
públicas implementadas no Brasil, outro tipo de controle social que 
nominaremos como perverso por ter uma forma e conteúdo policialesco e 
que tem na policialização das políticas públicas sua forma mais acabada, 
uma vez que sob a justificativa da inclusão e proteção social e que assim é 
percebida por inúmeros atores sociais, acabam, na prática, por produzir ou 
intensificar a segregação e criminalização das populações e indivíduos que 
são os destinatários das políticas públicas (MORAES; KULAITIS, 2013, p. 
1). 
 34 
 
 
Assim, o PRONASCI foi analisado como um caso exemplar da policialização 
das políticas públicas e expressão dos mecanismos e tipos de controle social que 
estas políticas acabam por realizar. 
 
Como complemento à análise proposta foram elaborados 7 apêndices que 
apresentam os dados levantados para realização desta pesquisa. O APÊNDICE 1 
lista os convênios firmados no âmbito do Fundo Nacional de Segurança que se 
dirigem à adolescência e juventude. Nos APÊNDICES 2 e 3 são relacionados os 
estados, municípios e consórcios de segurança pública que integraram o 
PRONASCI. A descrição das 94 ações que compõem o Programa é o objeto do 
APÊNDICE 4. Os APÊNDICES 5, 6 e 7 tratam dos convênios firmados pelo 
Ministério da Justiça com estados, municípios e organizações da sociedade civil de 
interesse público. 
 
É importante ressaltar que a experiência como profissional de nível superior 
foi de fundamental importância para a identificação das questões que nortearam a 
pesquisa e o conhecimento adquirido sobre a estrutura operacional e os programas 
instituídos pelo Ministério da Justiça facilitou sobremaneira a realização deste 
trabalho. Sendo assim, a oportunidade de exercer a imaginação sociologica a partir 
da prática profissional impulsiona o sociólogo a ir além dos limites impostos pelos 
deveres do exercício de uma função pública e de forma autonôma e independente 
produzir um conhecimento que reflete e objetiva essa prática. 
 
As fronteiras entre a chamada Sociologia para Políticas Públicas e a 
Sociologia como produção acadêmica abrem, portanto, novos caminhos para a 
produção sociológica e ao transitar por estas fronteiras, os sociólogos exercitam o 
artesanato que lhes é próprio. 
 35 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BONNEWITZ, Patrice. Primeiras lições sobre a Sociologiade P. Bourdieu. 
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2005. 
 
BOURDIEU, Pierre; CHAMBOREDON, Jean-Claude e PASSERON, Jean-Claude. A 
profissão de sociólogo. Preliminares epistemológicas. Petrópolis, RJ: Editora 
Vozes, 1999. 
 
BURAWOY, Michael. Cultivando Sociologias Públicas nos Terrenos Nacional, 
Regional e Global. Revista Sociologia Política. V. 17, n. 34. Curitiba: out, 2009. p. 
219-230. 
 
MARTINS, José de Souza. O artesanto intelectual na sociologia. Revista Brasileira 
de Sociologia. V. 1, n.02. Sergipe: jul.dez, 2013. p. 13-48. 
 
MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. 
 
MORAES, Pedro R. B; KULAITIS, Letícia F.M. Controle social perverso e a 
policialização das políticas públicas: o caso da Segurança com Cidadania. In: 
Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas: aproximando 
agendas e agentes,1, 2013. Araquara. Anais Encontro Internacional Participação, 
Democracia e Políticas Públicas: aproximando agendas e agentes. Disponível em: 
<http://goo.gl/4kxH8T>. Acesso em: 12 mar. 2015. 
 
SCHWARTZMAN, Simon. A sociologia como profissão pública no Brasil. 
Conferência preparada para o 14º Congresso Brasileiro de Sociologia, Rio de 
Janeiro, 31 de julho de 2009. Disponível em: http://goo.gl/aePBVd. Acesso em 02 de 
novembro de 2015. 
 36 
 
Luiz Fernando Pereira: Autoridade etnográfica: refletindo as dimensões 
éticas e políticas na representação das culturas 
 
 
 
GT: Ética em pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais 
 
 
 
 
 
 
Autoridade etnográfica: refletindo as dimensões éticas e políticas na representação 
das culturas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Luiz Fernando Pereira 
 
Mestrando em Ciências Sociais pela UEL – Universidade Estadual de Londrina. 
 37 
 
 
O presente trabalho visa colocar em debate a figura do antropólogo (a) e sua 
responsabilidade enquanto sujeito privilegiado no que diz respeito à representação 
de culturas e a necessidade de que este exerça em sua prática (trabalho de campo, 
pesquisa documental, etc.) uma postura ética. 
 
Contudo, a fronteira entre o que é ou não permitido não é ainda um consenso: na 
sua tentativa de observar tais parâmetros éticos em Antropologia e outras Ciências 
Humanas o profissional esbarra por vezes em regulações que lhe são arbitrárias: o 
sistema CEP/Conep é um exemplo, sendo alvo de críticas por não ser compatível 
com técnicas e metodologias das Ciências Humanas uma vez que tal sistema teve 
por referencial o campo biomédico (ver DINIZ, 2007), colocando obstáculos ou 
inviabilizando a realização de pesquisas em Ciências Humanas. 
 
Para a presente discussão foram utilizados os artigos e livros citados nas 
referências, sendo este um trabalho de teor teórico e bibliográfico. 
 
Conforme argumenta Clifford (1986), a Antropologia vem ganhando cada vez mais 
um caráter multidisciplinar, de modo que sua autoridade e retórica se espalharam 
por diversos campos onde a cultura torna-se um objeto de descrição e/ou crítica. Tal 
fato é perceptível no contexto brasileiro, por exemplo, quando o Poder Judiciário 
recorre a laudos antropológicos para se resolver litígios referentes a terras 
indígenas. 
 
Assim, propõe-se um debate sobre a representação de culturas por meio da 
etnografia, em um contexto onde discurso do antropólogo ganha relevância em 
outras esferas como a política. 
 
Um dos casos mais emblemáticos foi o estudo de Napoleon Chagnon (1968) junto 
aos Yanonami, que causou escândalo dentro da disciplina pela maneira como 
Chagnon descreveu este povo (uma sociedade neolítica intocada na Amazônia, 
violentos, em constante beligerância) e a maneira antiética como muitas informações 
foram obtidas em campo. A abordagem próxima da sociobiologia e do darwinismo 
fez de Chagnon uma figura controversa dentro da disciplina, onde a Antropologia 
Cultural é o referencial mais adotado entre os antropólogos (Borofsky, 2005, p.08) 
 
O escândalo não ficou restrito ao plano da teoria antropológica, uma contenda entre 
o antropólogo e seus pares da disciplina frente às denúncias de procedimentos 
 38 
 
 
antiéticos na pesquisa: a alegada “selvageria” dos Yanonami presente na obra de 
 
Chagnon – contestada por antropólogos brasileiros nos anos 70 e 80, embora o 
escândalo só ter ganho publicidade nos anos 2000 – foi utilizada no final dos anos 
80 como argumento por políticos brasileiro contra a criação de uma grande reserva 
para os yanonami, sugerindo a separação desta população em diversas pequenas 
reservas a fim de se evitar conflitos (e não coincidentemente propiciando que mais 
áreas para mineração de ouro estivessem disponíveis). Segundo Borofsky (2005, 
p.08) Chagnon condenou o uso deturpado de sua obra – mas o fez por meio da 
imprensa de língua inglesa, não no Brasil e em português onde haveria a 
possibilidade de alguma repercussão. 
 
Concluindo, espera-se que haja um debate permanente sobre a ética nos trabalhos 
antropológicos, que ganham credibilidade e projeção para além do âmbito 
acadêmico. No atual contexto político brasileiro, onde setores religiosos ou ligados 
ao agronegócio ou indústria bélica articulam seus interesses na esfera política, tal 
projeção é também uma faca de dois gumes: a retórica e discurso antropológico 
podem ser base para defesa dos interesses destes grupos, ou mesmo pesquisas 
sem a devida atenção aos procedimentos éticos podem agravar a situação de um 
grupo já socialmente e/ou historicamente marginalizado (como o exemplo 
supracitado dos yanonami), mas também as o discurso antropológico também pode 
fazer frente aos interesses particulares dos referidos grupos, até mesmo 
corroborando para a pertinência de estudos na área do Direito, Economia, Serviço 
Social, entre outras. 
 
BIBLIOGRAFIA 
 
BOROFSKY, R. Yanonami: the fierce controversy and what we can learn about it. 
Berkeley: University of California Press, 2005. 
 
CHAGNON, N. Yanonamö: the fierce people. New York: Holt, Hinehart and Winston, 
1968. 
 
 39 
 
CLIFFORD, James. “Introduction: Partial Truths”. In: CLIFFORD, James; MARCUS, 
George (orgs.). Writing Culture: The Poetics and Politics of Ethnography. Berkeley: 
University of California Press, 1986 
 40 
 
 
DINIZ, Débora. Avaliação ética em pesquisa social: o caso do sangue Yanonami. 
 
Revista Bioética 2007 15 (2). P.284-97. 
 41 
 
 
IV SEMINÁRIO INTEGRADO DE PESQUISA 
 
“A pesquisa em Ciências Sociais: avanços e desafios” 
 
Universidade Estadual de Londrina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OFICINA “ÉTICA EM PESQUISA NAS CIÊNCIAS HUMANAS 
E SOCIAIS” 
 
Autoridade etnográfica: refletindo as dimensões éticas e políticas na 
representação das culturas 
 
Luiz Fernando Pereira (UEL), lfpkiko@hotmail.com 
 
 
 
Resumo: O presente trabalho visa colocar em debate a figura do antropólogo (a) e 
sua responsabilidade enquanto sujeito privilegiado no que diz respeito à 
representação de culturas ea necessidade de que este exerça em sua prática 
(trabalho de campo, pesquisa documental, etc.) uma postura ética. A polêmica 
dentro da antropologia envolvendo o antropólogo Napoleon Chagnon e seu trabalho 
junto aos Yanonami é aqui revisitada por ser um exemplo de pesquisa onde diversas 
práticas são apontadas como antiéticas por outros antropólogos e pela utilização da 
obra de Chagnon como justificativa para a separação dos Yanonami em diversos 
pequenos territórios com a justificativa de se evitar conflitos. Assim, busca-se 
assinalar a importância da condução ética de trabalhos antropológicos, uma vez que 
os mesmos podem ser voltados contra os interesses das populações pesquisadas. 
Assinala-setambém como o uso e retórica da antropologia não se restringe ao 
espaço acadêmico, adentrando também na esfera política na defesa de interesses 
(coletivos ou individuais). 
 
Palavras-chave: antropologia; etnografia; ética. 
 
 
 
 
 
 
 
 
2015 
 42 
 
 
Introdução 
 
O presente texto busca colocar em evidência alguns aspectos do fazer antropológico 
que até podem estar sendo levados em consideração, mas que precisam ser mais 
amplamente debatidos: as dimensões éticas e políticas que envolvem a 
representação de culturas por meio da etnografia. 
 
Para tornar mais claro a preocupação aqui presente: há uma preocupação ou 
problematização com aspectos éticos e políticos na elaboração e realização de 
trabalhos etnográficos tanto quantohá uma preocupaçãoem relação a que autores ou 
teorias utilizar, orçamento, tempo para realização, etc.? E a relação pesquisador-
pesquisados, resume-se só ao consentimento do grupo quanto ao estudo? 
 
A abordagem acerca da autoridade etnográfica e as relações de poder vêm sendo 
intensificadas desde os anos 1960 na antropologia, em um contexto de 
descolonização dos impérios e influências do marxismo e do feminismo na 
antropologia e, posteriormente, da influência do pós-estruturalismo. 
 
O “fio condutor” selecionado para trazer à tona tais discussões é a polêmica que 
envolve o nome do antropólogo Napoleon Chagnon e seus estudos junto aos índios 
Yanonami
1
, que vivem em aldeias em ambos os lados da fronteira entre Brasil e 
Venezuela. 
 
Pelo seu livro Yanonamö: the fierce people (1968) 
2
 Chagon tornou os Yanonami ao 
mesmo tempo famosos e infames: famosos porquese tornaram um dos grupos 
indígenas amazônicos mais conhecidos internacionalmente, figurando como texto 
introdutório em muitos cursos de antropologia de instituições americanas; Infames 
pela forma desvirtuada como foram descritos (traduzindo o subtítulo, “the fierce 
people” equivale a “o povo feroz, selvagem”), como veremos adiante. 
 
Borofsky (2005, p.04) comenta que dentro da antropologia - fragmentada ao longo 
das décadas por diferentes abordagens e estudos de vários tipos de sociedades – 
os Yanonami tornaram-se um ponto de referência comum dentro da disciplina, tal 
como também são os Nuer, os Trobriandeses, Navajos e outras sociedades. 
 
1
 Na literatura o grupo indígena é referido como Yanonamö, Yanonama ou Yanonami. Tecnicamente 
não há algo que saliente uma ou outra forma como certa ou errada, mas Borofsky (2005, p.04) 
assinala que pode haver uma conotação política na adoção de um ou outro termo: Chagnon sempre 
usou o termo Yanonamö, e seus defensores costumam utilizar este mesmo termo, enquanto outros 
autores contrários ou neutros em relação à Chagnon utilizam os termos Yanonama e Yanonami. 
2
Notei, ao encontrar na Internet parte de uma edição recente desta mesma obra (Chagnon,2013), que 
o subtítulo “the fierce people” (o povo feroz) parece não mais constar nas edições mais recentes da 
obra; Contudo, os criticados procedimentos de campo ainda constam no corpo do texto. 
 43 
 
 
Chagnon também realizou filmagens
3
 junto aos Yanonami, que ajudaram a tornar 
conhecida a imagem do povo Yanonami. Borofsky também comenta que estas 
filmagens receberam prêmios em festivais de cinema e deram visibilidade ao livro 
 
Yanonamö:The fierce people e tornando-o um Best-seller
4
, algo raro de se ver 
tratando-se de uma obra antropológica. 
 
Quanto à infâmia, esta já se nota na clara generalização no subtítulo do famoso livro: 
o nível de violência é exagerado pelo autor na obra e os Yanonami são 
apresentados por Chagnon como um dos povos mais primitivos da Terra, vivendo 
em um clima de crônica beligerância. Conforme explica Ramos (2004, p.03), a 
caracterização feita por Chagnon repercutiu não só nos meios acadêmicos, mas nos 
meios de comunicação de massa com uma matéria na Time Magazine em 1976, 
onde modo de vida dos Yanonami é apresentado como animalesco, comparável ao 
de bandos de babuínos. 
 
Ao que parece, o status de Best seller alcançado por Yanonamö não parece algo a 
ser celebrado, como uma obra etnográfica cujo sucesso não se restringiu ao meio 
acadêmico. Para Ramos (2005, p.03) o “estilo Chagnon de escrever” – ágil, cômico, 
até arrogante e desrespeitoso
5
 – não passa pelo filtro da seriedade acadêmica, mas 
foi bem assimilado por um público leigo e ávido por exotismos. 
 
Em 1988 Chagnon publica um artigo na revista Science (Chagnon, 1988) onde se 
intensifica a polêmica ao dar contornos estatísticos e sociobiológicos ao que até 
então vinha relatando nas obras anteriores, e sobre o referido artigo Ramos 
comenta: 
 
Chagnon valeu-se de quadros estatísticos para dar legitimidade à sua 
interpretação segundo a qual mais de 40% dos homens adultos Yanomami 
são matadores e, por terem matado e provado sua bravura, fazem-se 
atraentes às mulheres e assim semeiam seus genes com mais eficácia do 
que os pusilânimes da tribo. Em suma, quanto mais mortes, mais sexo, 
 
3
Segundo Borofsky (2005, p.11-12) uma das acusações de Patrick Tierney em seu livro Darkness in 
El Dorado é a de que as filmagens de Chagnon não seriam o que parecem – comportamentos 
espontâneos habilmente capturados pelas câmeras – mas sim uma encenação, com os Yanonami 
desempenhando papéis preestabelecidos. 
4
Yanonamö: the fierce people conta com mais de três milhões de exemplares vendidos (segundo 
DINIZ, 2007) e rendeu mais de um milhão de dólares em royalties para Chagnon, levantando-se a 
questão se não seria justo Chagnon compartilhar os royalties com os yanonami – sem os quais 
Chagnon não teria escrito sua obra (Borofsky, 2005, p.13). 
5
 Em um dos relatos sobre o trabalho de campo Chagnon (2013) fala da praticidade de se levar nas 
longas caminhadas acompanhando os Yanonami bolachas e manteiga de amendoim para se 
alimentar, uma vez que era segundo ele de fácil preparo e uma das poucas coisas que se podia 
comer em paz (queixa freqüente de Chagnon). Ele percebeu que os Yanonami suspeitavam que a 
manteiga de amendoim fosse fezes de animal devido à sua aparência, e Chagnon não hesitou em dar 
por verdade a suspeita, cessando os pedidos de comida. 
 44 
 
 
quanto mais sexo, mais prole. Como se no mundo real não existisse qualquer 
consideração de cunho simbólico, essa redução etnográfica atrela cruamente 
a necessidade de violência ao imperativo da reprodução da 
sociedade.(RAMOS,2005, p.04) 
Diniz (2007) também comenta sobre a maneira como Chagnon descreve a 
sociedade Yanonami, enfatizando o discurso próximo da sociobiologia no livro 
Yanonamö: the fierce people e a colaboração de Chagnon com o geneticista James 
Neel: 
O argumento do livro [...] é o de que a violência ocupa papel central nas 
sociedades yanomamis. Em parceria com Neel, Chagnon defendeu a tese de 
que o comportamento violento teria fundamento genético: os yanomamis 
seriam geneticamente propensos à violência. Essa caracterização do povo 
yanomami como povo selvagem tinha duplo apelo: por um lado, era referência 
à idéia, ainda vigente na época, de que as sociedades indígenas eram grupos 
primitivos que representariam parte de um processo evolutivo da humanidade 
e, por outro, de que os yanomamis eram selvagens pela violência estrutural. A 
selvageria seria, portanto, resultado de propensão genética ao uso da força 
física, mas também expressão do processo evolutivo das sociedades 
indígenas.(DINIZ, 2007, p.286) 
Chagnon e Neel foram acusados de várias práticas antiéticas
6
 em seus trabalhos 
junto aos yanonami, como provocar deliberadamente uma epidemia de sarampo 
(acusação da qual foram inocentados); obter por meio de práticas questionáveis as 
genealogias dos grupos yanonami, dando presentes em troca de informações ou

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