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Aula 04 LAURO ESCOBAR

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DIREITO CIVIL – Analista Judiciário do Superior Tribunal de Justiça 
PROFESSOR – LAURO ESCOBAR 
Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11
AULA 04 
 
ATO ILÍCITO 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
(arts. 186/188, 927/943 e 944/954, CC) 
 
 
Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula: 6. Atos 
ilícitos; abuso de direito; caso fortuito e forca maior (...) 12. Responsabilidade civil, 
inclusive por danos causados ao ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de 
valor artístico, estético, histórico e paisagístico. Código de Proteção e Defesa do 
Consumidor. 
Subitens: Atos Ilícitos. Abuso de Direito. Caso fortuito e forca maior 
Responsabilidade Civil. Conceito, pressupostos, espécies e efeitos. 
Responsabilidade Contratual e Extracontratual. Responsabilidade Objetiva e 
Subjetiva. Teoria da Culpa e do Risco. 12. Responsabilidade por danos causados ao 
ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico e 
paisagístico. Indenização. Exclusão da Ilicitude. 
 
Meus Amigos e Alunos. 
O Ato Ilícito está previsto nos artigos que vão do 186 até o 188 CC 
(eles são poucos, mas importantíssimos). Ocorre que não haveria lógica 
alguma estudar apenas esses poucos artigos. Por isso devemos relacioná-los 
com o tema sobre a Responsabilidade Civil, que está prevista nos artigos 
que vão do 927 ao 943, CC (e, se incluirmos ainda o tema “indenização” – que 
também será visto hoje – a previsão se estende até o art. 954, CC). Ou seja, 
para que nosso estudo seja completo devemos identificar o conceito e a 
importância do Ato Ilícito (que ainda pertence à Parte Geral do Código Civil) e, 
de imediato, a sua relação com a Responsabilidade Civil (que integra a Parte 
Especial). Além disso, a Constituição Federal, em seu art. 5o, incisos V e X 
prevê o direito à indenização por dano moral, material e à imagem. Portanto, 
durante esta aula, responderemos a seguinte questão: praticado um ato ilícito 
(civil ou penal), quais as repercussões na esfera da responsabilidade civil? 
Aliás, este tópico pode cair em provas tanto de Direito Civil, como Direito 
Constitucional e Administrativo. 
CONCEITO DE ATO ILÍCITO 
O Ato Ilícito está previsto no art. 186, CC. Podemos conceituá-lo como 
sendo o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica, violando, 
consequentemente, direito subjetivo individual. No dizer de Francisco Amaral: 
“A ilicitude significa contrariedade a um dever jurídico, consistindo na ofensa a 
direito subjetivo ou na infração de preceito legal, que protege interesses 
alheios, ou ainda no abuso de direito”. 
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Resumindo: praticar um ato ilícito é incidir na infração ao dever de não 
lesar outrem (em latim dizemos neminen laedere – a ninguém se deve lesar). 
E se este ato ilícito causar danos a outrem (patrimoniais ou morais), cria-se o 
dever de reparar os prejuízos decorrentes. Por isso o Ato Ilícito é considerado 
também como uma “Fonte de Obrigação” (art. 927, CC), pois praticado um 
Ato Ilícito a lei obriga a reparação dos danos. Como veremos mais adiante o 
prejuízo causado (o dano) pode ser patrimonial ou moral. Vejam que logo no 
início desta aula já estamos relacionando dois artigos dispostos em lugares 
bem diferentes do Código Civil: quem pratica um Ato Ilícito (art. 186, CC) tem 
a obrigação de reparar o dano (art. 927, CC). 
O Ato Ilícito é considerado como um Fato Jurídico (em sentido amplo). 
Lembrem-se do gráfico que forneci na aula sobre os Fatos Jurídicos (se alguém 
ficou com alguma dúvida retorne a ela). Ele produz efeitos jurídicos. Esses 
efeitos geralmente não são desejados pelo agente (ninguém gosta de indenizar 
outrem), mas impostos pela lei (por isso eles também são chamados de atos 
involuntários, pois os efeitos são involuntários, ou seja, não desejados pelo 
agente). Há infração de um dever e, consequentemente, a imputação de um 
resultado. 
Podemos classificar o Ato Ilícito em: Civil, Penal ou Administrativo. 
Lógico que nesta aula o que nos interessa é o Ato Ilícito Civil, porém sempre 
que falamos sobre este tema, acabamos por “invadir” um pouco a área das 
demais matérias, pois elas estão inter-relacionadas; são conexas em relação a 
este tema. Vejamos. 
a) Penal – violação de um dever tipificado como crime, pressupondo um 
prejuízo causado à sociedade; desrespeitado, compromete-se a ordem social 
(norma de ordem pública); a sanção é pessoal, ou seja é a pessoa do 
infrator imputável que irá responder pela conduta (não se transmite a 
responsabilidade penal a terceiros). 
b) Administrativo – violação de um dever que se tem para com a 
Administração; a sanção também é pessoal. 
c) Civil – violação de um dever obrigação contratual ou legal, pressupondo 
um dano a terceiro; a sanção é patrimonial, ou seja, atinge o patrimônio 
do lesante (como regra). 
Há casos em que o sujeito pratica uma conduta e esta ofende apenas à 
sociedade como um todo: trata-se de um ilícito penal. Em outros casos a 
conduta ofende apenas ao particular: trata-se do ilícito civil. Mas em alguns 
casos uma só conduta pode ofender à sociedade e ao particular ao mesmo 
tempo. Pergunto: Se um sujeito com apenas uma conduta causar danos à 
sociedade (ilícito criminal) e ao particular (ilícito civil), pode responder a dois 
processos? O sujeito pode ser duplamente responsabilizado? Existe um 
brocardo jurídico que diz: ne bis in idem (ou seja, ninguém pode ser 
responsabilizado duas vezes pelo mesmo fato). Será que isto se aplica aqui 
também? Resposta: o princípio do ne bis in idem existe, mas somente é 
aplicado na mesma esfera. Ou seja, um sujeito foi processado e absolvido no 
Direito Penal. Não se pode instaurar um novo processo penal para apurar o 
mesmo fato. Mas isto não impede de se instaurar um processo civil visando a 
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reparação do dano. Muito embora o fato seja o mesmo, as esferas de 
competência são diferentes, visando objetivos diferentes. Portanto uma 
mesma conduta pode acarretar uma dupla responsabilidade e, portanto, dois 
processos diferentes. 
Exemplo: por uma questão de somenos importância “A” agride “B”, nele 
produzindo lesões corporais. O fato é típico, está descrito no Código Penal (art. 
129), logo é um ilícito penal; é um crime. Por outro lado, causando danos 
(patrimoniais ou morais) à vítima o agente também é obrigado a reparar esses 
danos na ordem civil. Trata-se, portanto, de um ilícito civil também. Uma 
mesma conduta teve como consequência dois efeitos: um na ordem penal e 
outro na esfera civil. E para apurar estas responsabilidades são instaurados 
dois processos, com objetivos diferenciados. 
 Às vezes a conduta pode atingir também o Direito Administrativo, 
havendo uma tripla responsabilidade. Exemplo: Vamos tomar como exemplo 
o peculato. O que é o peculato? Trata-se de um crime, pois está tipificado no 
Código Penal (art. 312, CP). O que ele diz? O Código Penal o descreve como 
sendo um crime próprio do Funcionário Público. Uma de suas hipóteses é o 
caso de um funcionário que tendo a posse de um bem público, dele se 
apropria (esta é uma das diversas figuras previstas). O funcionário público se 
apropria de um “lap top” pertencente à Administração, mas que estava sob a 
guarda deste funcionário. O funcionário que comete a conduta de se apropriar 
indevidamente de um bem público, ofende, simultaneamente, a três bens 
jurídicos: Atinge o Direito Penal, pois a conduta se configura em um crime (é 
típica; está prevista no Código Penal). Além disso, o agente “quebrou a 
confiança” nele depositada por parte da Administração Pública. Por tal motivoeste funcionário irá responder a um processo administrativo, podendo até 
mesmo perder o cargo (ser demitido). Por último, apropriando-se de um bem 
público, causou um dano à Administração, portanto cometeu, também um 
ilícito civil, e, sendo assim, o agente pode ser responsabilizado pelo Estado e 
compelido a ressarcir o dano que causou. Deste modo, o autor da conduta, 
com apenas uma ação, ofendeu a três institutos (Penal, Administrativo e Civil), 
podendo (ao menos em tese) responder a três processos distintos, cada um 
com objetivos diferenciados. 
Importante – A responsabilidade penal é pessoal e intransferível. Ou 
seja, somente a pessoa que pratica o crime, desde que seja imputável 
(penalmente responsável), é que irá responder por ele. Já a responsabilidade 
civil é patrimonial, ou seja, o que será atingido é o patrimônio do lesante. Mas 
em diversas circunstâncias esta responsabilidade pode ser transferida aos 
sucessores e também aos responsáveis legais do agente. Veremos isso com 
maior profundidade mais adiante, ainda hoje. 
Vamos agora fazer um importante “resuminho” do que já vimos até agora: 
• Ato ilícito é a conduta humana que fere direitos subjetivos privados; 
está em desacordo com a ordem jurídica, violando um direito subjetivo 
individual (art. 186, CC). 
• A consequência do ato ilícito civil é a obrigação de reparar o dano 
(patrimonial ou moral), de indenizar (art. 927, CC). 
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• Ato ilícito é um fato jurídico, mas não é um ato jurídico, pois para que 
seja jurídico é necessário que seja lícito. 
• Uma mesma conduta ilícita pode causar repercussão no Direito Civil, 
Penal e Administrativo, podendo haver uma tripla responsabilidade. 
HISTÓRIA 
Durante os cursos que ministro, visando concursos públicos, evito falar 
sobre a história de cada instituto. Isso é muito interessante para “cultura 
geral”, é uma boa introdução para uma tese de mestrado, mas geralmente não 
cai nos concursos. Neste curso temos que ser objetivos. Mas... neste caso em 
particular, é interessante falar um pouco sobre a história do ato ilícito e a 
reparação do dano, pois com isso sentimos a evolução do Direito. Não só do 
Direito Civil, mas de todos os ramos do Direito. 
Primitivamente vigorava a pena de talião (“olho por olho, dente por 
dente” ou também “quem com ferro fere, com ferro será ferido”), segundo a 
qual os danos a terceiros eram retribuídos na mesma qualidade e quantidade 
pela própria pessoa ofendida. Era a tese do “mal pelo mal”. É claro que, em 
vez de se compensar um dano, causava-se outro, tornando dupla a lesão. O 
direito evoluiu. Mas até a edição a famosa lei romana conhecida como Poetelia 
Papiria (326 A.C.) o devedor respondia por suas dívidas com seu próprio corpo 
(podia ser escravizado) e até mesmo com sua vida (era executado). Com o 
advento da lei o devedor passou a ser responsabilizado por suas obrigações 
exclusivamente com seu patrimônio. A execução deixou de ser pessoal para 
ser patrimonial. Posteriormente, como uma evolução, a Lex Aquilia de Danno 
consagrou, de forma mais elaborada, o conceito de responsabilidade civil, 
punindo pecuniariamente o agente por danos injustamente provocados. “Lei 
Aquilia” – por isso, conforme veremos mais adiante, atualmente falamos em 
responsabilidade aquiliana. Trata-se de uma expressão muito comum em 
concursos públicos. Mas, apesar de toda a evolução do direito, ainda 
permanece viva a ideia de culpa nos atos ilícitos, de modo que como regra, 
haverá indenização se houver “culpa” do agente. Veremos melhor esta 
expressão e a sua abrangência mais adiante. 
RESPONSABILIDADE CIVIL 
A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, 
pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar, 
determinada pessoa, de observar um preceito normativo que regula a vida. 
Nota-se então as duas espécies de responsabilidade civil: contratual e 
extracontratual. 
1) A responsabilidade civil contratual está situada no âmbito da 
inexecução obrigacional. Como se sabe, as cláusulas contratuais devem ser 
respeitadas, sob pena de responsabilidade daquele que as descumprir. O 
contrato traz em seu conteúdo uma obrigação assumida, podendo o seu 
descumprimento gerar perdas e danos. Os principais fundamentos jurídicos 
dessa modalidade de responsabilidade civil estão dispostos no art. 389, CC, 
quando a obrigação assumida for positiva. E no art. 390, CC, quando se tem 
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uma obrigação negativa. Obrigação Positiva é a de dar alguma coisa (ex: 
pagar o aluguel; entregar um quadro que foi comprado, etc.) ou a de fazer 
algo (pintar um muro ou um quadro; dar uma palestra; realizar uma cirurgia, 
etc.). Já a Obrigação Negativa é a de não fazer algo, como por exemplo, de 
não construir um muro divisório acima de três metros. Exemplo de 
responsabilidade contratual: celebro um contrato de locação. Uma das 
cláusulas pactuadas determina que o pagamento do aluguel deve ser feito todo 
dia 15 de cada mês. Estamos no dia 20 e o aluguel não foi pago. Houve, 
portanto, uma inexecução contratual ocorrendo, como consequência, um ato 
ilícito civil decorrente do contrato. Surgem então as chamadas obrigações 
contratuais. São os efeitos do inadimplemento (não cumprimento) do 
contrato, como por exemplo, a multa pelo atraso no pagamento. Geralmente 
essa multa é pactuada no próprio contrato de locação. Se o inquilino continuar 
não pagando o aluguel, poderá ser despejado por falta de pagamento, etc. A 
culpa contratual não precisa ser provada, bastando que o devedor esteja em 
mora e que este não decorra de nenhuma das causas excludentes de 
responsabilidade. 
2) Já a responsabilidade civil extracontratual (ou aquiliana) 
relaciona-se ao desrespeito ao direito alheio e às normas que regram a 
conduta, representando qualquer inobservância de um preceito legal. Enquanto 
na responsabilidade contratual, os critérios para a composição do prejuízo, 
como regra, já estão estabelecidos no contrato, na responsabilidade 
extracontratual a composição é feita por arbitramento, cabendo ao Juiz esta 
tarefa. Ela também conhecida por responsabilidade aquiliana, tendo em vista 
que a Lex Aquilia cuidou de estabelecer, no Direito Romano, as bases jurídicas 
dessa espécie de responsabilidade civil. Seu fundamento jurídico encontra-se 
hoje nos arts. 186, 187 e 927, do Código Civil. Nesta hipótese não é 
necessário constituir o devedor em mora. Ele já está em mora desde o 
momento da prática do ato ilícito (ver art. 398, CC). 
Resumindo: 
a) Responsabilidade Contratual →→→ surge pelo descumprimento 
de uma cláusula do contrato (inadimplemento contratual). 
b) Responsabilidade Extracontratual ou Aquiliana →→→ deriva de 
inobservância de qualquer outro preceito legal; de normas gerais 
de conduta (e não de um contrato entre as partes). 
Consequências 
A consequência da infração ao dever contratual e/ou ao dever legal 
(extracontratual) é a mesma → obrigação de ressarcir o prejuízo causado. A 
diferença está no ônus da prova. 
Quando não se cumpre uma cláusula do contrato há uma presunção 
(relativa) de que a culpa é de quem não cumpriu com o contrato. Em tese o 
lesado só precisa provar que o contrato não foi cumprido. É a outra parte 
quem deve provar sua inocência (caso fortuito, força maior). Se não houver 
esta prova, ele terá que indenizar. 
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No entanto se a responsabilidade é extracontratual, como regra, não 
existe estapresunção de culpa. A vítima deve provar que a culpa foi do 
transgressor. Vejamos as teorias sobre o tema. 
TEORIAS 
Existem duas teorias sobre responsabilidade civil, que veremos com 
detalhes. Primeiro falaremos sobre os aspectos gerais de cada uma delas. 
Depois vamos nos ater à teoria que foi adotada pelo nosso Código: 
• Teoria da Responsabilidade Subjetiva 
• Teoria da Responsabilidade Objetiva 
A) TEORIA DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA 
Segundo esta teoria, haverá responsabilidade por indenização somente 
se houver “culpa” do agente. Como veremos, foi a regra acolhida pelo Direito 
Civil brasileiro, que adotou a Teoria da Culpa. 
Cuidado!!! Sempre que eu falo em “culpa”, as pessoas lembram de 
imediato de uma imprudência ou de uma negligência do agente. Mas não é 
bem assim. Na verdade, culpa não é só isso; é mais do que isso. É um conceito 
bem mais amplo. Explico. A Teoria da Culpa está se referindo a culpa em 
sentido amplo, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Assim culpa 
(em sentido amplo) é o gênero. E as espécies são dolo e culpa (em sentido 
estrito). Assim, quando alguém fala em culpa em sentido amplo, está se 
referindo ao elemento subjetivo; ao dolo e à culpa propriamente dita. Já vi em 
provas a expressão “elemento anímico” (vem de animus – intenção, que por 
sua vez de deriva de alma, de sopro de vida). Assim, o elemento subjetivo ou 
anímico tem como espécies: 
♦ Dolo – pleno conhecimento do mal; o agente pratica uma 
conduta, tem consciência dos efeitos desta conduta e, mesmo 
assim, deseja as consequências maléficas (dolo direto) ou 
assume o risco de produzi-las (dolo eventual). Trata-se da 
ação ou omissão intencional ou voluntária. 
♦ Culpa (em sentido estrito) – violação de um dever que o 
agente poderia conhecer e acatar; o agente pratica uma 
conduta e não quer o resultado, mas este acaba ocorrendo 
por alguma circunstância. 
Portanto, pela Teoria da Responsabilidade Subjetiva, haverá indenização 
toda vez que o agente tenha praticado o ato danoso porque o conhecia e o 
quis (dolo direto) ou assumiu o risco do resultado (dolo eventual). Mas 
também quando o agente, embora não o conhecesse e não o quisesse, tenha 
agido por negligência ou imprudência ou violado norma que podia ou devia 
conhecer e acatar (culpa em sentido estrito). 
Prevalece a teoria da previsibilidade. Se o ato era previsível (para a 
pessoa diligente, prudente e conhecedora da norma), então haverá culpa para 
o agente. Exemplo: se eu bato na traseira do carro de outra pessoa, 
presume-se a minha culpa, porque há uma regra geral pela qual se deve 
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guardar distância do veículo da frente e dirigir com atenção. Lógico que se 
trata de uma presunção relativa ou juris tantum, ou seja, que admite prova em 
contrário (diz a jurisprudência: “A presunção de culpa do condutor que abalroa 
o outro na traseira é relativa, podendo ser elidida se nos autos houver prova 
robusta em contrário – o veículo da frente é que estava trafegando em 
marcha-ré”). Outros exemplos: um dentista trata mal um dente, causando a 
perda do mesmo por falta de conhecimento técnico que deveria ter, age com 
culpa; o mesmo se diga de um advogado que perde uma causa por total falta 
de conhecimento, preparo profissional e cuidado ou um médico que realiza 
uma operação sem necessidade e sem ter o domínio da técnica cirúrgica. 
 
Classificação da Culpabilidade (em sentido amplo – ou lato sensu) 
A principal classificação acerca da culpabilidade é (reforçando o que já foi 
dito): 
• Culpa Contratual  resulta da violação de um dever 
inerente a um contrato. Exemplos: o inquilino que não paga 
o aluguel, o empregado que contratado para isso, deixa de 
cuidar dos animais, o depositário que não conserva o bem, 
professor que não vem dar aula, etc. Este descumprimento 
contratual gera responsabilidade de indenizar as perdas e 
danos (art. 389, CC). 
• Culpa Extracontratual ou Aquiliana  resulta da violação 
de um dever fundado em princípios gerais do direito, como o 
respeito às pessoas e aos bens alheios; deriva de infração ao 
dever de conduta imposto pela lei (dever legal). Não há 
necessidade de se constituir o devedor em mora. Exemplo: 
motorista, trafegado com excesso de velocidade em local 
incompatível, provoca um atropelamento. 
 
Praticado um ilícito civil derivado de um contrato (culpa contratual) ou 
de um dever legal (culpa aquiliana), surge a obrigação de indenizar. Porém, 
no primeiro caso a responsabilidade é determinada como consequência da 
inexecução de um contrato, sendo que o lesado só necessita demonstrar o 
descumprimento do contrato (nesse caso a culpa é presumida). Já na segunda 
hipótese a responsabilidade se funda na inobservância de um dever genérico 
(art. 186, CC) e o lesado deve comprovar o elemento subjetivo. Desta forma a 
diferença primordial entre ambas as responsabilidades reside no ônus da 
prova. Na responsabilidade contratual não se exige qualquer prova da culpa 
da inexecução do contrato; basta provar que o contrato não foi cumprido. Já 
na responsabilidade extracontratual é necessário que se prove a culpa (em 
sentido amplo) do réu. 
 
Outras Classificações da Culpabilidade. Doutrinariamente a culpa 
possui diversas espécies, que geralmente são expressões latinas. Não é raro o 
examinador usar algumas destas expressões. Portanto, vamos a elas: 
• culpa in eligendo  é a resultante de má escolha de um 
representante ou do preposto. 
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• culpa in vigilando  é a que resulta da ausência de fiscalização (ex: 
dono de veículo que não o conserva, dono de hotel que não vigia suas 
dependências, etc.). 
• culpa in committendo  é a que resulta da prática de um ato positivo 
pelo agente; trata-se de uma ação (ex: dirigir em excesso de velocidade, 
causando um atropelamento, passar em um sinal vermelho, etc.). 
• culpa in omittendo  decorre da abstenção de um ato pelo agente; 
trata-se de uma omissão (ex: empregado que não tranca a porta do 
estabelecimento ao final do expediente; médico que não faz a operação 
completa, etc.). 
• culpa in custodiendo  decorre da falta de cuidado em se guardar, 
custodiar algo (ex: dono de animais que estragaram a plantação do 
vizinho, pois ele deixou a porteira aberta). 
 A culpa ainda pode ser classificada em grave (quando resulta de dolo ou 
negligência crassa), leve (quando a conduta se desenvolve sem a atenção 
normalmente devida; a lesão seria evitável com atenção ordinária) e 
levíssima (quando o fato só teria sido evitado mediante cautelas 
extraordinárias ou especial habilidade). No Direito Civil, como regra, responde-
se por qualquer espécie de culpa, inclusive a culpa levíssima, porque se tem 
em vista a extensão do dano (art. 944, CC) e não o grau da culpa. Todo 
prejuízo que a vítima conseguir provar deve ser indenizado. No entanto, 
apesar disso, nosso Código estabeleceu que se houver excessiva desproporção 
entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o Juiz reduzir, equitativamente, 
a indenização (art. 944, parágrafo único, CC). Nos danos morais o grau da 
culpa também pode influir no quantum indenizatório arbitrado (ou seja, no 
valor da indenização), por não se tratar propriamente de um ressarcimento, 
mas de uma compensação satisfativa. 
Consequências 
Como vimos, havendo dano decorrente do ato ocorrido com culpa (em 
sentido amplo) do agente, haverá obrigação de indenizar a pessoa que foi 
lesada. 
No entanto, em algumas hipóteses esta teoria passou a ser considera 
injusta para a vítima, pois nem sempre é fácil provar a culpa do causador do 
dano. Por isso,em algumas situações adotou-se a “presunção de culpa” em 
determinadas situações. Surge então a teoria da responsabilidade objetiva. 
B) TEORIA DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA 
Por esta teoria não é necessário verificar a existência de culpa do agente. 
Fundada na Teoria do Risco, a responsabilidade objetiva independe da culpa; 
esta não é discutida. Verifica-se somente a existência de uma conduta, do 
dano e a relação de causalidade entre eles, decorrendo daí a obrigação de 
indenizar. Exemplo: a responsabilidade do hoteleiro pelo furto de valores 
praticados por empregados do hotel contra os hóspedes →→→ digamos que já 
esteja provada a conduta do funcionário, o dano suportado pelo hóspede e o 
nexo causal entre a conduta do funcionário e o dano →→→ logo, o dono do hotel 
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responde por este dano suportado pelo hóspede, independentemente de 
eventual culpa sua no evento. 
Outra hipótese: pelo simples fato de um empregado se ferir no serviço 
há a responsabilidade e, via de consequência, uma indenização a ser paga pelo 
seguro, que não examina se houve culpa ou não do dono do serviço. 
Passou-se a considerar que aquele que obtém vantagens no exercício de 
uma atividade deve também responder pelos eventuais prejuízos desta 
atividade. Trata-se da aplicação do brocardo jurídico: “quem aufere cômodos, 
arca também com os incômodos”. 
As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras 
de serviços públicos (concessionárias e permissionárias) também têm 
responsabilidade civil, ou seja, respondem pelos danos causados pela 
atividade administrativa, independentemente de culpa de seus funcionários, 
inclusive no que se refere à culpa anônima ou do serviço (isto está previsto no 
art. 37, §6o, CF/88). Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, 
do tipo objetiva, isto é, não é necessário provar se houve culpa do 
funcionário. Basta provar que houve a conduta da administração e a lesão ao 
direito de um particular (sem que tenha havido culpa exclusiva deste 
particular). Há que se provar a conduta positiva (ação) ou negativa (omissão), 
a lesão e o nexo causal. Só!! Provadas estas situações, deve-se indenizar. 
Atualmente, no Direito Administrativo, vigora sobre o assunto a teoria do 
risco administrativo, que equivale a uma responsabilidade objetiva mitigada 
(ou seja, diminuída em seus efeitos, abrandada), uma vez que pode ser 
afastada (pela culpa exclusiva da vítima) ou diminuída (se houver culpa 
concorrente da vítima). Isto não ocorre na responsabilidade objetiva plena ou 
integral (chamada também de risco integral), em que o Estado responderia 
em qualquer hipótese, não se admitindo qualquer forma de defesa, nem 
mesmo caso fortuito ou força maior. 
Elementos da Teoria Objetiva 
• existência de uma conduta positiva (ação) ou negativa (omissão). 
• dano patrimonial ou moral (extrapatrimonial). 
• nexo causal (relação de causalidade) entre a conduta e o dano. 
Observação. Vimos acima que a responsabilidade do Estado é objetiva. 
Porém, segundo a doutrina e a jurisprudência, em algumas hipóteses, 
especialmente quando houver omissão do Estado, a sua responsabilidade será 
na modalidade subjetiva. Vejam como foi interessante e completa a 
seguinte decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: 
“Omissão negligente do Poder Público. Obrigação de conservação de 
ruas, calçadas e logradouros públicos em condições de segurança e 
incolumidade às pessoas. Responsabilidade Subjetiva do Estado caracterizada. 
Conduta, Dano e Nexo de causalidade demonstrados. Dever de indenizar 
também pelos danos morais. Culpa concorrente. 1) O sistema jurídico 
brasileiro adota a responsabilidade patrimonial objetiva do Estado, sob a forma 
‘risco administrativo’. Tal assertiva encontra respaldo legal no art. 37, §6o da 
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Constituição Federal de 1988. Todavia, quando o dano acontece em 
decorrência de uma omissão do Estado, é de se aplicar a teoria da 
responsabilidade subjetiva. 2) Compete ao Município manter e fiscalizar a 
execução de obra, a fim de manter a incolumidade dos munícipes. Neste 
passo, a omissão do Poder público em conservar o acesso à residência da 
autora restou caracterizada, assim como os danos advindos da queda da 
requerente em valo. 3) Neste caso houve culpa concorrente da autora, 
porquanto a requerente poderia ter atravessado o valo através da utilização da 
ponte existente em frente à residência de vizinho, de forma a transpor o 
obstáculo. 4) A indenização por dano moral deve representar para a vítima 
uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento impingido. A 
eficácia da contrapartida pecuniária está na aptidão para proporcionar tal 
satisfação em justa medida, de modo que não signifique um enriquecimento 
sem causa para a vítima e produza impacto bastante no causador do mal a fim 
de dissuadi-lo de novo atentado” (9a Câmara Cível – TJRS – Viamão - Rel. Des. 
Odone Sanguiné). 
TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL 
Nosso Código Civil adotou, como regra, a Teoria da Responsabilidade 
Subjetiva, prevendo em seu art. 186, CC: 
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou 
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. 
E arremata no art. 927, caput, CC: 
“Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
No entanto, apesar desta regra, devemos tomar muito cuidado porque 
há diversas exceções. Isto é, há casos em que o próprio Código Civil (que 
adotou a teoria da responsabilidade subjetiva) admite a aplicação da 
responsabilidade objetiva (art. 927, parágrafo único), impondo a obrigação de 
reparar o dano independentemente de culpa. Vejamos: 
a) Quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano 
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Substitui-se, 
assim, a culpa pela ideia do risco. Ora, se o empresário se propõe a 
estabelecer uma empresa que pode oferecer riscos na execução das 
atividades, se contrata pessoas para executar estas atividades e se os 
benefícios (lucros) gerados ao empresário devem ser atribuídos, logo, o risco 
do negócio, assim como os resultantes dos acidentes, também deverão ser por 
ele suportados. 
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b) Demais casos especificados em Lei. Neste caso, temos como 
exemplos: arts. 932 e 933, CC, danos ao meio ambiente, relações de consumo 
(Código de Defesa do Consumidor), etc. 
ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS 
Já vimos atrás os elementos caracterizadores da responsabilidade em 
geral (objetiva e subjetiva). Vamos agora aprofundar o tema, com base nos 
elementos específicos de nossa legislação. Assim, são elementos 
indispensáveis para que haja responsabilidade e indenização pela prática de 
um ato ilícito: 
 1) CONDUTA (é o fato lesivo)  a conduta pode ser causada por 
uma ação (conduta positiva) ou por uma omissão (conduta negativa). Além 
disso, pode ser voluntária (dolo) ou causada por uma negligência ou 
imprudência (que são modalidades da culpa). A regra, o mais comum, é a 
prática da conduta pela ação. Já para a configuração da omissão é necessário 
que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (a pessoa não podia 
se omitir), a prova de que a conduta não foi praticada (omissão) e a 
demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido 
evitado. Portanto, para configurar a omissão, na prática, é um poucomais 
difícil. 
Na responsabilidade subjetiva, a conduta compreende: 
a) Dolo  violação intencional (ação ou omissão), voluntária 
(observem que o Código Civil utiliza essa última palavra), do dever jurídico; o 
agente quer o resultado (dolo direto) ou assume o risco de produzi-lo (dolo 
eventual). 
b) Culpa  não há deliberação, intenção de violar o dever jurídico, 
mas este acaba sendo violado por ter ocorrido uma: 
• Imprudência  é a prática de um fato considerado perigoso 
(ex: dirigir veículo em rua movimentada em excesso de velocidade, passar 
em um sinal vermelho, etc.). 
• Negligência  é a transgressão ao preceito que exige atenção; 
é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado; é a 
falta de uma cautela ordinária que se exige em face de uma situação (ex: 
deixar arma de fogo ao fácil alcance de uma criança). 
• Imperícia  é a ignorância, falta de experiência ou inabilidade 
com relação às regras para a prática de determinado ato; é a falta de 
aptidão para o exercício de arte ou profissão. Embora a expressão 
“imperícia” não esteja prevista expressamente no art. 186, CC, ela também 
é uma modalidade da culpa. O exemplo clássico é o do médico, do dentista, 
do engenheiro, etc. que, em face de um desconhecimento ou falta de 
prática, no desempenho de suas funções, venha a causar dano a interesses 
jurídicos de terceiros. Na verdade o Código Civil não prevê expressamente 
a imperícia. Se formos observar bem o art. 186, CC, vamos concluir que ele 
somente fala em negligência e imprudência. Mas a doutrina costuma ser 
mais abrangente e minuciosa e falar também sobre a imperícia. Reparem 
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no art. 18, do Código Penal: “Diz-se do crime: I – doloso, quando o agente 
quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; II – culposo, quando o 
agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia”. 
Já para o Código Civil a imperícia seria uma espécie de negligência. Ou 
seja, o conceito de imperícia estaria embutido no conceito de negligência. 
Para o Direito Civil não importa se o autor agiu com dolo ou 
culpa. Tanto faz. Qualquer de suas modalidades as consequências 
serão as mesmas, ou seja: a reparação do dano, indenização dos 
prejuízos. 
 2) DANO (eventus damni)  para que haja pagamento de uma 
indenização, além da prova de culpa ou dolo na conduta (seja ela positiva ou 
negativa), é necessário comprovar também a ocorrência de um dano 
patrimonial ou extrapatrimonial (que é o dano moral). Se não houve dano 
não haverá responsabilidade. São espécies de dano: 
A) DANO PATRIMONIAL (material)  é o que atinge os bens da pessoa. 
Compreende (art. 402, CC): 
a) Danos Emergentes (também chamados de danos 
positivos) – é a efetiva diminuição do patrimônio da vítima; são os prejuízos 
efetivamente suportados, o que a vítima realmente perdeu com a conduta do 
agente. 
b) Lucros Cessante (também chamados de lucros frustrados 
ou danos negativos) – é aquilo que a vítima razoavelmente deixou de ganhar 
em razão da conduta do agente (ausência de acréscimo patrimonial). Trata-se 
de uma prova mais difícil na prática, pois é baseado no pretérito, ou seja, no 
quanto vinha rendendo em determinado período. O dispositivo deve ser 
entendido com parcimônia, pois o dano deve ser atual e concreto. Ou seja, não 
se pode indenizar um dano futuro e hipotético (que poderia ou não ocorrer). 
Exemplo: digamos que uma pessoa bata o carro (culposamente) em um 
motorista de praça (táxi). O veículo do taxista ficou muito avariado e ficou na 
oficina durante dez dias para reparos. O causador do dano deve indenizar os 
prejuízos que efetivamente ocorreram no automóvel do motorista de praça 
(que são os danos emergentes) e também deve indenizar os dias em que o 
motorista ficou parado por causa do acidente (são os lucros cessantes; o que 
ele deixou de ganhar estando parado). 
B) DANO MORAL (ou extrapatrimonial)  é o que ofende, não o 
patrimônio da pessoa, mas sim os direitos da personalidade. Não implica em 
alteração de patrimônio, resumindo-se em uma perturbação injustamente feita 
as condições de ânimo do lesado. Em sentido próprio refere-se ao abalo dos 
sentimentos de uma pessoa, provocando-lhe dor, aborrecimento, tristeza, 
desgosto, depressão, humilhação, etc., que foge à normalidade, interferindo no 
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe desequilíbrio em seu 
bem-estar físico. Em sentido impróprio ou amplo, abrange a lesão de todos e 
quaisquer bens ou interesses pessoais (exceto econômicos), como a liberdade, 
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o nome, a família, a honra, a integridade física, etc. Na reparação do dano 
moral não se pede um preço para a sua dor (o dinheiro não age como um fator 
de equivalência), mas um meio para atenuar, ao menos em parte, as 
consequências do dano emocional causados a uma pessoa e de infligir ao 
causador uma sanção e alerta para que não volte a repetir o ato. Tem, 
portanto, finalidade punitiva (compensatória) e preventiva para caso de não se 
reincidir. O Juiz considera o poder econômico das partes e o caráter educativo 
da sanção. O prof. João Oreste Dalazen (Aspecto do dano moral trabalhista) 
sintetiza as seguintes regras para dimensionar o dano pessoal: 
• compreender que o dano moral em si é incomensurável; 
• considerar a gravidade objetiva do dano; 
• levar em conta a intensidade do sofrimento da vítima; 
• considerara a personalidade (antecedente, grau de culpa, índole, etc.) e 
o maior ou menor poder econômico do ofensor; 
• não desprezar a conjuntura econômica do País; 
• pautar-se pela razoabilidade e equitatividade na estipulação (evitando-se 
de um lado um valor exagerado a ponto de levar a um enriquecimento 
sem causa e de outro lado evitando-se um valor tão baixo que seja 
irrisório e desprezível a ponto de não cumprir a função inibitória). 
 
Costumamos nos indignar, quando ouvimos nos noticiários, os casos de 
homicídios, roubos, estupros, etc. Mas não é de nosso costume nos sensibilizar 
com os crimes contra a honra... os que afetam a moral de uma pessoa. Mas 
isso ocorre somente quando o episódio não se deu conosco ... só uma pessoa 
que já foi ofendida em sua honra sabe o quanto a dor moral é profunda... E 
nada cura essa dor moral... a condenação do ofensor apenas serve como 
satisfação aos outros, ao meio social em que se vive... mas não cura... no 
ofendido fica sempre uma “cicatriz invisível”. A propósito, vejam o que diz o 
art. 5o, X da Constituição Federal de 1988: “São invioláveis a intimidade, a 
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à 
indenização pelo dano material ou moral decorrente da sua violação” (vide 
também o inciso V). 
Segundo a doutrina e a jurisprudência, as Pessoas Jurídicas possuem 
honra objetiva (aquilo que as outras pessoas pensam sobre ela: bom nome, 
tradição, solidez, conceito na sociedade, etc.), por isso também podem pleitear 
ressarcimento pelo dano moral. 
 Percebam que o Código Civil não traz critérios para a quantificação da 
indenização por dano moral. No Brasil não há uma “tabela” para apuração 
decorrente do dano moral. Utiliza-se um “sistema aberto”. Deve o Magistrado 
fixá-la analisando a extensão do dano, as condições dos envolvidos e o grau de 
culpa do agente em cada caso. Isso não se avalia mediante simples cálculo, 
mas visando compensar a sensação de dor da vítima. Portando, isto varia de 
caso para caso. A compensação em dinheiro deve representar uma satisfação 
capaz de anestesiar o sofrimento impingido e produzir um impacto no causador 
do mal a fim de dissuadi-lo de novoatentado. A jurisprudência entende que se 
deve levar em conta a situação financeira do ofensor e do ofendido. Mas isso 
pode acarretar distorções (“a dor do pobre vale menos que a dor do rico”). 
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Observação. Se houver dano patrimonial e moral decorrentes do mesmo fato, 
há a possibilidade de cumulação das duas modalidades de dano, pleiteando-
se indenizações em uma mesma ação. Súmula 37 do Superior Tribunal de 
Justiça: “São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral 
oriundos do mesmo fato”. 
A doutrina ainda cita o chamado dano indireto (ou dano em 
ricochete). Trata-se do dano que atinge uma pessoa, mas indiretamente atinge 
um terceiro. Exemplo: A mata B. No entanto B, separado judicialmente, 
pagava uma pensão a seus filhos menores C e D. Estes, evidentemente, vão 
sofrer com a morte de A. 
 3) NEXO DE CAUSALIDADE  Trata-se da relação ou vinculação de 
causa-efeito entre a conduta (ação ou omissão) e os danos. Não há 
responsabilidade civil sem a relação de causalidade entre o dano e a 
conduta ilícita do agente. Observem o verbo “causar” empregado no art. 186, 
CC. Se houve dano, mas sua causa não está relacionada com o 
comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade, não havendo a 
obrigação de indenizar. E também não haverá esse nexo se o evento se deu 
por culpa exclusiva da vítima. Exemplo: um passageiro de um ônibus força 
a porta e desce do veículo que ainda estava em movimento; com isso acaba 
caindo e se machucando; não pode pleitear indenização, pois o próprio 
passageiro agiu com culpa; e a culpa foi exclusivamente sua. Se a culpa for 
concorrente a indenização será reduzida proporcionalmente. O Superior 
Tribunal de Justiça recentemente julgou um caso em que um pedestre de 
forma imprudente atravessou uma linha férrea e foi atropelado por um trem. A 
empresa foi considerada negligente pela má conservação do muro que cerca a 
linha, possibilitando o acesso ao pedestre. Foi condenada, porém de forma 
parcial. Também é motivo para exclusão do nexo causal se o fato ocorreu por 
caso fortuito ou força maior (art. 393, CC). 
 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL 
 
Conforme dissemos acima, embora o Código Civil tenha adotado, como 
regra, a teoria subjetiva para a responsabilização, possui diversos dispositivos 
em que a responsabilidade é do tipo objetiva. 
 
Assim, haverá obrigação de reparar o dano (independentemente de 
culpa) nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem. Exemplo: os empresários individuais e as empresas 
respondem independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos 
postos em circulação (art. 931, CC). Do mesmo modo, há responsabilidade do 
dono de animais (art. 936, CC), do dono de prédios em ruína (art. 937, CC), 
do habitante da casa da qual caírem coisas (art. 938, CC), dos acidentes do 
trabalho, etc. Analisaremos todos esses itens logo mais adiante. 
BANCO – A jurisprudência é pacífica no sentido de que a 
responsabilidade pelo pagamento dos danos morais e patrimoniais causados a 
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cliente de um banco por assalto que se desenrolou no interior do próprio banco 
é da instituição financeira, ainda que fora do expediente e independentemente 
de existir empresa contratada para fazer a segurança do local. Em caso de 
assalto a banco, não pode ser alegado motivo de força maior, pois o roubo é 
fato previsível na atividade bancária. Além do mais a Lei n° 7.102/83 criou 
para as instituições financeiras um dever de segurança em relação ao público 
em geral. Neste caso a responsabilidade do banco em relação a eventuais 
ferimentos de clientes no assalto funda-se na teoria objetiva do risco 
integral. 
O STJ apreciou um caso muito interessante a respeito: Um carro-forte foi 
atacado por atiradores com armas especiais, que estavam em um viaduto. O 
motorista do carro foi ferido, “perdeu a direção” e atingiu um pedestre que 
estava na calçada, matando-o. Familiares do pedestre ingressaram com ação 
contra a empresa de segurança. Foi indenizada ou não? A decisão foi por 
maioria de votos. Parte dos julgadores entendeu que o roubo é hipótese de 
força maior, que não obriga indenização. A outra parte (vencedora) entendeu 
que o transporte de valores é atividade sabidamente perigosa, feita com intuito 
de lucro e não parecia razoável mandar a família do pedestre morto reclamar 
indenização dos autores do crime de roubo (que não foram identificados). 
� Questão Polêmica � Ponto delicado é o referente à 
responsabilidade em caso de assaltos em terminais ou caixas eletrônicos 
situados fora da agência (autoatendimento 24 horas). Parte da doutrina 
entende que como a instituição financeira se beneficia com a instalação dos 
caixas eletrônicos, (facilitando seus negócios, angariando clientes, diminuindo 
seus gastos e inclusive cobrando por este serviço), deve responder pelo risco 
que decorre da instalação desses postos, alvo constante da ação dos ladrões. 
Trata-se de uma estratégia comercial que cria um risco pela instalação do 
caixa e que por este risco a empresa deve responder. O fundamento seria o 
art. 927, parágrafo único, CC (responsabilidade objetiva). É a minha posição. 
Por outro lado, há quem sustente que os assaltos ocorridos em terminais 
localizados, não na própria agência, mas em via pública, resultariam na 
responsabilidade do Estado, e não do banco. Isto porque tais caixas estão 
situadas no interior de bens públicos de uso comum e, portanto, sua 
fiscalização ficaria a cargo dos agentes da segurança pública (cabe ao Estado e 
não ao particular a segurança destas áreas) 
Além disso, há também responsabilidade dos fabricantes, fornecedores 
de produtos e serviços nas relações de consumo (arts. 12 e 14 da Lei de 
Defesa do Consumidor - CDC). A legislação de Direito Ambiental (Lei n° 
6.938/81, entre outras) também fornece exemplos de responsabilidade 
objetiva como um meio de se coibir danos ao meio ambiente. A Lei n° 
9.605/98, baseada no art. 225, §3o, CF/88, prevê até mesmo situações em 
que a Pessoa Jurídica pode cometer crime ao meio ambiente e responder por 
esta conduta na esfera penal. 
OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR 
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 Já sabemos o que é um Ato Ilícito na esfera do Direito Civil. Vamos ver 
agora o que obriga uma pessoa a reparar os prejuízos que sua conduta 
causou. O autor de um ato ilícito terá a responsabilidade pelo prejuízo que 
causou, devendo indenizá-lo. Como já vimos, assim determina o art. 927, 
caput, CC: 
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a 
outrem, fica obrigado a repará-lo”. 
A obrigação de indenizar decorre da inobservância do dever geral de 
não causar danos a outrem. 
Os bens dos responsáveis pela ofensa ou violação do direito de outrem, 
ficarão sujeitos à reparação do dano patrimonial ou moral causado. Trata-se 
de uma norma de ordem pública. Se a ofensa tiver mais de um autor todos 
responderão solidariamente pela reparação (art. 942, CC). Ou seja, o titular 
de uma ação pode propô-la contra um ou contra todos os responsáveis pelo 
ato ao mesmo tempo. Além disso, no caso de solidariedade, aquele que pagar 
a indenização terá direito de regresso contra os demais codevedores, para 
reaver o que desembolsou. Acrescente-se que o dever de reparar o dano é 
transmissível aos herdeiros, conforme veremos. 
ABUSO DE DIREITOO Código Civil atual adotou, em seu art. 187, a Teoria do Abuso de Direito 
como Ato Ilícito. Trata-se do exercício irregular de um direito. O Abuso de 
Direito é uma grande inovação e uma boa “dica” para se pedir em um 
concurso, dada a sua novidade. Ampliou-se a noção de Ato Ilícito, para se 
considerar como objeto da responsabilidade civil também aquele ato praticado 
com abuso de direito, em que a pessoa, ao exercer um direito, excede 
determinadas limitações legais, lesando outrem. Por isso, traz como 
consequência, o dever de indenizar. Ou seja, o ato era originariamente lícito, 
mas foi exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, 
pela boa-fé objetiva ou pelos bons costumes. Alguns autores usam o termo 
“ato emulativo” para se referir ao Abuso de Direito (já vi este termo cair em 
alguns concursos com este sentido). No entanto tal expressão não é técnica e 
também não é muito usada no meio jurídico. Seria aquele ato que a pessoa 
pratica, não para a sua utilidade, mas para prejudicar um terceiro. 
Segundo a doutrina majoritária a responsabilidade decorrente do abuso de 
direito independe de culpa. Portanto tem natureza objetiva. A doutrina 
costuma usar a seguinte frase: “o abuso de direito é lícito pelo conteúdo, mas 
ilícito pelas suas consequências". 
O Código de Defesa ao Consumidor (Lei n° 8.078/90) proíbe toda 
publicidade enganosa ou abusiva. É enganosa quando induz a erro o 
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade e quantidade, 
origem, preço e quaisquer outros dados sobre o produto ou serviço, até 
mesmo a omissão sobre dados essenciais. Já a publicidade abusiva é a 
discriminatória, a que incita a violência, explora o medo e a superstição, 
desrespeita valores ambientais, etc. 
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Um problema de ordem prática e que atinge tanto o Direito Civil como o 
Penal é: Se uma pessoa colocar uma cerca eletrificada e esta causa a morte de 
uma criança que brincava com uma bola, tal fato é considerado abuso de 
direito? Resposta: é permitido em nosso Direito criar obstáculos para evitar um 
assalto. Exemplo: cercas com “lanças” de metal; caco de vidro nos muros 
divisórios, etc. O Direito Penal aceita isso normalmente, chamando essa 
conduta de “legítima defesa antecipada” ou de “ofendículos”. O Direito Civil 
também permite isso e chama esta conduta de “exercício regular de um 
direito”. Mas e uma cerca eletrificada? Também é legítima defesa antecipada? 
Tem se entendido, inclusive para concursos que se a “voltagem” da cerca é 
pequena, o direito é legítimo; se há um aviso dizendo que a cerca é 
eletrificada, o direito também é legítimo. Mas se a cerca é disfarçada, sem 
avisos e com voltagem alta, capaz de matar alguém, a conduta é considerada 
como abuso de direito; é um exercício irregular do direito. Portanto é Ato Ilícito 
e cabe indenização. Cuidado então com a redação da questão. 
Uma outra questão muito atual diz respeito ao SPAM. O que é um SPAM? 
Trata-se do envio de e-mails ou mensagens eletrônicas sem que haja 
solicitação para tanto. A doutrina vem se posicionando no sentido de que esta 
conduta se configura em Abuso de Direito. E isto por dois motivos: primeiro 
porque há uma quebra da boa-fé objetiva; segundo porque há um desvio de 
finalidade socioeconômica da Internet. 
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA E SUBSIDIÁRIA 
Na responsabilidade solidária passiva temos um credor de um lado e 
por lado uma pluralidade de devedores. E o credor pode exigir a obrigação por 
inteiro de qualquer um dos coobrigados. É como se todos os devedores fossem 
apenas um. Segundo o Código Civil (art. 235) a solidariedade não se presume. 
Ela decorre da lei ou da vontade das partes (contrato). Assim pode o credor, a 
sua escolha, acionar todos ou apenas o devedor que possui melhores 
condições para honrar o compromisso. 
Já na responsabilidade subsidiária existe uma relação principal entre 
credor e devedor. Há uma preferência. O credor deve inicialmente acionar o 
devedor para o cumprimento da obrigação. Caso este assim não proceda, o 
credor acionará o terceiro, que é o responsável subsidiário, o mero garantidor 
a obrigação. A fiança é o exemplo clássico. 
RESPONSABILIDADE POR ATOS DE TERCEIROS 
Como regra, somos responsáveis somente pelas nossas atitudes; pelas 
nossas condutas. Todos os atos praticados consciente e livremente por uma 
pessoa capaz (ou seja, que tenha discernimento e autodeterminação) a ela são 
imputados. Trata-se da responsabilidade por ato próprio. Se o ato é 
praticado pela própria pessoa que irá indenizar, é chamada de 
responsabilidade direta. 
Mas há casos em que uma pessoa pode responder por danos provocados 
ou causados por outra pessoa. Nesta hipótese o ato é praticado por uma 
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pessoa, mas será outra pessoa quem irá indenizar. A isso chamamos de 
responsabilidade indireta. Uma pessoa menor de 18 anos não é plenamente 
responsável; no campo do direito penal é considerada inimputável. Mas mesmo 
assim, se ela praticar um ato ilícito, haverá obrigação de indenização por seus 
pais (ou tutores). Lembrando que o menor entre 16 e 18 anos não pode 
invocar a sua idade para eximir-se de uma obrigação, se dolosamente a 
ocultou quando inquirido pela outra parte ou se, no ato de obrigar-se, 
declarou-se maior (art. 180, CC). 
O art. 932, CC arrola diversas hipóteses de responsabilidade civil por 
atos praticados por terceiros (responsabilidade indireta). Vejamos: 
• Os pais são responsáveis pelos atos praticados pelos filhos menores 
que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Exemplo: pai permite 
que filho dirija sem habilitação; havendo um acidente, o pai deve responder 
pela conduta do filho. Da mesma forma o pai responde pela conduta de um 
filho que cometeu delitos como a lesão corporal, o furto, etc. 
No entanto, pelo art. 928, CC o incapaz responde pelos prejuízos que 
causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo 
ou não dispuserem de meios suficientes. Exemplo da primeira situação: os 
pais são separados e o pai não é o que chama de “genitor-guardião”; ou seja, 
o filho está sob a custódia da mãe; nesta situação o filho pratica um ato ilícito; 
obviamente que quem irá responder por este fato é a mãe e não o pai, pois 
este não tinha a obrigação legal de fazê-lo. Exemplo da segunda situação: o 
filho menor recebeu uma grande herança de um tio muito rico, no entanto o 
pai não dispõe de posse alguma; o filho pratica um ato ilícito. Em tese o pai 
responderia. Mas como o mesmo não tem bens para tanto, a responsabilidade 
será do próprio menor. Notem que a redação do artigo “é meio inversa”. Na 
verdade o legislador quis dizer que é o responsável pelo incapaz quem 
responde por seus atos (civis), mas se este responsável não dispuser de meios 
suficientes (ou seja, não tem dinheiro) aí quem irá responder é o próprio 
incapaz. Resumindo →→→ o responsável responde de forma objetiva (art. 932, I, 
c.c. 933, CC); se ele não puder ou não tiver essa obrigação, o próprio incapaz 
responderá, pois possui responsabilidade subsidiária (art. 928, CC). 
Interessante acrescentar que a jurisprudência entende que o menor 
emancipado (art. 5o, parágrafo único, CC) torna-se civilmente capaz, 
respondendo por seus atos; contudo, se a decisão de emancipação partiu dos 
pais, estes não se isentam da responsabilidade; eles continuam responsáveis 
pelo menor emancipado. No entanto a responsabilidade neste caso será 
solidária (ou seja, a vítima pode ingressar com a ação somente contra um, 
somente contra o outro, ou contra ambos, a sua escolha). 
Outra coisa.O parágrafo único do art. 928, CC determina que esta 
indenização deva ser equitativa e não será devida se privar do necessário o 
incapaz ou as pessoas que dele dependam. Exemplo: o menor tem uma renda 
mensal de R$ 1.000,00 e foi condenado a pagar R$ 900,00 por mês. Neste 
caso o Juiz deve abrandar, equitativamente este valor (baixando, por exemplo, 
para R$ 300,00 ao mês), pois a condenação integral irá privar o incapaz dos 
meios necessários de sua subsistência. Portanto dizemos que a 
responsabilidade do menor é subsidiária e mitigada (abrandada, diminuída) 
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equitativamente em relação às suas disponibilidades. Justifica-se isto baseado 
no Princípio Constitucional da proteção à dignidade da pessoa humana. 
• O tutor e o curador são responsáveis pelos tutelados e curatelados que 
estiverem nas condições anteriores. 
• O empregador ou comitente são responsáveis pelos atos de seus 
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho ou em razão dele. 
Atenção quanto à expressão comitente. Os examinadores costumam gostar 
dela, pois não é usada em nosso dia-a-dia. Comitente é a denominação que se 
dá a uma pessoa que encarrega outra de praticar algum ato sob suas ordens e 
por sua conta (geralmente há uma remuneração para isso, que se chama de 
comissão). 
• Os donos de hotéis, hospedaria, casas ou estabelecimentos onde se 
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, são responsáveis pelos 
atos danosos praticados pelos seus hóspedes, moradores e educandos. 
A pessoa jurídica que exercer exploração industrial terá responsabilidade 
presumida pelos atos lesivos de seus empregados. Com isso terá de selecioná-
los, instruí-los e vigiá-los, tendo a responsabilidade de reparar os eventuais 
prejuízos que causarem no exercício de suas funções (responsabilidade 
objetiva). 
 
� Atenção �: As pessoas acima apontadas (art. 932, CC), ainda que 
não haja culpa de sua parte (portanto, responsabilidade objetiva) 
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (art. 933, CC). E 
aquela pessoa que ressarciu o dano causado por outrem pode reaver o que 
pagou, por meio de uma ação regressiva contra quem realmente praticou o 
ilícito, salvo se o causador do dano for seu descendente, absolutamente ou 
relativamente incapaz (art. 934, CC). Exemplo: um hóspede alega (e prova) 
que foi furtado por um funcionário do hotel. O dono do hotel, embora não 
tenha praticado o ato (sua responsabilidade no caso é indireta), embora ele 
não tenha culpa no evento (sua responsabilidade no caso também é objetiva) 
irá responder pela conduta de seu funcionário, indenizando o hóspede. No 
entanto, identificando o funcionário que agiu de forma ilícita, pode o dono do 
hotel propor uma ação regressiva contra este funcionário (que foi o causador 
do dano), para se ressarcir do prejuízo sofrido. Outro exemplo: se uma 
empresa de transporte de pessoas deixa de levar o passageiro a seu destino 
são e salvo por causa de um acidente, quem responde é esta empresa. No 
entanto se ficar comprovado que o motorista da empresa é que foi o causador 
do acidente porque estava embriagado, a empresa continua responsável pela 
indenização ao passageiro (responsabilidade objetiva), mas poderá acionar o 
motorista, que foi o causador do dano (responsabilidade subjetiva), para 
reaver o que desembolsou, por meio da ação de regresso. 
É interessante completar o tema, deixando bem claro que o direito de 
regresso deixará de existir quando o causador do prejuízo for um descendente, 
absoluta ou relativamente incapaz, resguardando-se, assim, o princípio da 
solidariedade moral e econômica pertinente à família. Exemplo: pai paga 
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uma indenização por dano causado pelo filho incapaz (art. 932, inciso I, CC) 
não pode mover ação regressiva contra esse filho (parte final do art. 934, CC). 
EXCLUSÃO DE ILICITUDE 
Podem ocorrer casos em que uma pessoa pratica uma conduta. Esta 
conduta causou uma lesão a terceiros. E mesmo assim ela não praticou ato 
ilícito (e, por conta disso, não será responsabilizado). Isto porque a própria 
norma jurídica, em casos especiais, retira a qualificação de ilícito. Ou seja: em 
determinadas situações uma pessoa pode praticar uma conduta, lesando 
terceiros, sem que tenha havido “ato ilícito”. O que ocorreu então neste caso? 
Pode ter ocorrido o que chamamos de “causas de exclusão da ilicitude”. São 
elas (art. 188, CC): 
 
1) Legítima Defesa  uso moderado de meios necessários para repelir 
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu (legítima defesa 
própria) ou de outrem (legítima defesa de terceiros). Faltando apenas um 
destes elementos, deixa de existir a legítima defesa (ex: se o uso dos 
meios necessários não foi moderado, deixa de existir a legítima defesa, 
surgindo o dever de indenizar pelo excesso). 
 
Exemplo: Vamos supor que “A”, injustamente, passe a agredir “B”, 
visando sua morte, com uma barra de ferro. Digamos que “B” esteja armado e 
a sua única saída é efetuar disparos contra “A”. Ele atira por uma única vez e 
acaba ferindo gravemente ou matando “B”. Ora, ele agiu em legítima defesa. 
Ele tem o direito de se defender, utilizando, para tanto, moderadamente, os 
meios necessários que dispunha. Nesta hipótese, quem deu causa à reação 
(“A” ou seus familiares) não pode exigir indenização. Vejam que “B” atirou 
contra “A” (ação) e o atingiu (provocou o dano). Foi o disparo da arma de “B” 
que provocou a lesão de “A” (nexo de causalidade). Apesar de estarem 
presentes os três elementos da responsabilidade (conduta, dano e nexo), não 
haverá a indenização, pois ocorreu uma causa de exclusão da ilicitude. 
 
Vamos complicar um pouco mais... Vamos supor que “B”, quando se 
defendeu da injusta agressão de “A”, acabou atirando e atingiu uma terceira 
pessoa, “C”, que apenas estava passando pelo local. Neste caso “C” terá 
direito de solicitar indenização de quem o atingiu (no caso “B”, o autor do 
disparo). No entanto “B” terá o direito de regresso contra quem deu causa a 
todo evento (“A” ou seus familiares). A legítima defesa putativa (a pessoa 
pensa que está em legítima defesa, mas na realidade não está) também não 
exclui a obrigação de indenizar. 
 
Embora aqui não seja exatamente o momento para se falar do assunto, 
mas antecipando, podemos afirmar que o Código Civil também reconhece a 
chamada legítima defesa da posse (art. 1.210, §1o). 
 
2) Exercício Regular de um Direito Reconhecido  se alguém no 
uso normal de um direito lesar outrem não terá qualquer 
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responsabilidade por eventuais danos, pois se trata de um procedimento 
realizado em conformidade com o estabelecido no sistema jurídico. 
 
Exemplo: credor que protesta um título de crédito regular, vencido e 
não pago, prejudicando o crédito do devedor em outros negócios – o protesto 
é um direito do credor. Outros exemplos: concorrente que se estabelece na 
mesma rua; credor que penhora bens do devedor; etc. Só haverá ato ilícito se 
houver abuso de direito (ex: vizinho que produz em sua residência ruído que 
exceda à normalidade). 
 
3) Estado de Necessidade  deterioração ou destruição de coisa 
alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente, quando as 
circunstâncias a tornarem absolutamente necessária e não se exceder os 
limites do indispensável para a remoção do perigo. Trata-se de uma 
situação em que a pessoa entende que uma coisa sua pode sofrer umdano; para removê-lo ou evitá-lo, sacrifica a coisa alheia. 
Exemplos: na iminência de ser colhido por um caminhão, ou de 
atropelar um pedestre, arremesso meu carro contra o portão de uma casa 
alheia destruindo-o; mato o cão do vizinho atacado por hidrofobia e que 
ameaça várias pessoas. Reforçando: a conduta será legal somente quando as 
circunstâncias a tornarem absolutamente necessária para a remoção do perigo. 
Observem que o art. 929, CC determina que se a pessoa lesada ou o 
dono da coisa não forem culpados do perigo, elas têm direito à indenização do 
prejuízo que sofreram em face de quem praticou o ato. Porém, completa o art. 
930, CC, que a pessoa que ressarciu os danos tem direito à ação regressiva 
contra o autor do perigo, para reaver o que desembolsou. Portanto, aplica-se a 
mesma regra da legítima defesa: se o prejudicado é o ofensor nada lhe será 
devido. Mas quando o prejudicado não é o ofensor (mas uma terceira pessoa), 
pode esta pedir indenização ao autor do ato (ainda que o ato tenha sido lícito), 
sendo que este terá o direito de regresso contra o ofensor. Exemplificando: “A” 
está dirigindo normalmente, mas de repente surge “B”, atravessando a rua de 
forma displicente. Para não atropelar esta pessoa, “A” arremessa o carro 
contra o muro da casa de “C”. “C” (o que sofreu a lesão) deve acionar 
judicialmente “A” (o autor do dano), mesmo que ele não tenha agido de forma 
ilícita. E este, por sua vez, deve mover ação regressiva contra “B”, que foi o 
causador originário do dano. No entanto se o lesado foi o próprio autor do 
perigo (ex: pessoa era dona de um cachorro bravo, sendo que ela o deixava 
solto; certa ocasião o animal, prestes a atacar o filho de um vizinho, foi morto 
por este), nada lhe será devido. 
4) Ausência de Nexo de Causalidade  não há responsabilidade se 
não houver uma relação de causa e efeito entre o dano e a conduta 
(ação ou omissão) do agente. 
5) Culpa Exclusiva da Vítima  também não haverá responsabilidade 
se o evento ocorreu por culpa exclusiva da vítima. Atenção!! Se a culpa 
da vítima foi concorrente (ou seja, tanto o agente como a vítima tiveram 
culpa) a indenização será cabível, mas ela será reduzida 
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proporcionalmente. Portanto, havendo culpa concorrente, haverá 
responsabilidade e indenização, porém de uma forma reduzida. 
6) Caso Fortuito ou Força Maior  como vimos em aula anterior, no 
tema “Fato Natural Extraordinário” (em caso de dúvida retorne a este 
ponto), não há uma unanimidade dos autores para conceituar e 
diferenciar tais institutos. Mas é certo que ambos estão ligados a uma 
imprevisibilidade e inevitabilidade do evento, além da ausência de culpa 
pelo ocorrido. 
EFEITOS CIVIS DA DECISÃO PROFERIDA NO JUÍZO CRIMINAL 
Regra Geral 
Prevê nosso Código que a responsabilidade civil é independente da 
criminal (art. 935, CC). Como vimos uma pessoa que comete um ato ilícito 
pode sofrer dois processos (um civil para reparação do dano e outro penal, se 
a conduta for típica). Às vezes até três processos (acrescente-se o 
administrativo). E a regra é que as decisões tomadas em um processo não 
vinculam as dos outros. Porém, como veremos, esta não é uma regra absoluta. 
Como quase tudo no Direito, esta regra também possui exceções. 
Em regra, vigora em nosso direito o Princípio da 
Independência da Responsabilidade Civil em relação à Penal. 
Embora a regra seja a independência das esferas, não se pode mais 
questionar no juízo cível algumas questões, quando elas já se encontrarem 
decididas no juízo criminal (art. 63 do Código de Processo Penal). Basicamente 
são duas as hipóteses que, decididas no juízo criminal, não se discute mais no 
cível: 
• a existência do fato, isto é, a ocorrência do crime e suas 
consequências (engloba-se aqui eventual excludente de 
criminalidade, como veremos); 
• ou de quem seja o seu autor, ou seja, a autoria do delito. 
Situações e Consequências 
a) Sentença Criminal Condenatória. Para se condenar criminalmente 
uma pessoa é imprescindível que esteja cabalmente demonstradas a autoria e 
o fato delituoso. Provando-se isto no juízo criminal, tais elementos não 
poderão mais ser discutidos no juízo cível. Assim, uma decisão condenatória no 
juízo criminal torna certa a obrigação de indenizar o dano. Sendo a ação (cível) 
proposta, não se discutirá mais se o autor do dano deve ou não deve (o an 
debeatur – o que é devido). Somente se discutirá o valor da indenização (o 
quantum debeatur – o quanto é devido). 
b) Sentença Criminal Absolutória negatória do fato e/ou da autoria. 
Existem diversas hipóteses de absolvição criminal. Elas estão previstas no art. 
386 do Código de Processo Penal. Se o Juiz absolver com fundamento em que 
está provada a inexistência do fato ou de que o réu categoricamente não foi o 
autor do delito, estas questões também não poderão mais ser discutidas no 
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juízo cível. Se uma ação cível for proposta, fatalmente o Juiz a julgará 
improcedente. 
c) Sentença Criminal Absolutória, reconhecendo-se alguma 
excludente de ilicitude (legítima defesa, estado de necessidade, estrito 
cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito). A decisão 
criminal também vincula o juízo cível. A excludente em si não poderá mais ser 
discutida. Em algumas situações a ação poderá ser proposta contra quem 
praticou o ato, mesmo que acobertado por uma excludente. Mas este tem 
direito a ação regressiva contra o verdadeiro provocador da situação. 
d) Sentença Criminal Absolutória por falta de provas. Este talvez 
seja o item mais importante. Em algumas situações simplesmente não há 
provas para uma condenação criminal. Em outras palavras, o Juiz reconhece 
que até há algumas provas contra o réu. Mas elas não são suficientes para 
uma condenação criminal. Quando a sentença não concluiu categoricamente se 
o fato ocorreu ou não ou se o réu foi ou não o autor do ilícito, o Juiz o absolve 
por falta de provas. Neste caso dizemos que a sentença foi non liquet (ou seja, 
não-líquida, não-exata). Assim, a matéria eventualmente pode ser novamente 
discutida no juízo cível. Isso porque as provas que são frágeis para uma 
condenação criminal (e, por causa disso, o Juiz absolveu o réu por falta de 
provas) podem ser suficientes para uma condenação na esfera do direito civil. 
Dizemos que na esfera criminal o Juiz deseja saber o que realmente 
ocorreu. Ou seja, o fato investigado no processo deve corresponder ao que 
está fora dele, em toda a sua plenitude, sem quaisquer artifícios, sem 
presunções ou ficções. Trata-se da chamada Verdade Real (ou Material), 
onde predomina a indisponibilidade de interesses. E, na dúvida o Juiz absolve 
(in dubio pro reo). 
Já no processo civil, a verdade é extraída da análise das provas e 
manifestações trazidas aos autos pelas partes, sendo que o Juiz pouco ou 
nada interfere nesta produção. Vale somente o que está nos autos, pois os 
conflitos geralmente se referem a direitos disponíveis. Trata-se da chamada 
Verdade Formal (Consensual, Ficta ou Judicial). 
Exemplos. Uma pessoa cometeu um crime e será processada 
criminalmente. Ela foi citada e interrogada. Mas durante o trâmite do processo 
ela não comparece às audiências para a quais havia sido regularmente 
notificada. O Juiz então decreta a sua revelia. Mas não é por isso que ela será 
condenada automaticamente. O processo seguirá adiante, sendo que o réu 
continuará sendo defendido por profissional habilitado (seu próprio advogado 
ou um defensor dativo). E, no final do processo, o réu até pode ser absolvido. 
Vai depender do que foi apurado;do que realmente ocorreu (verdade real). No 
entanto se uma pessoa é citada para um processo civil ou trabalhista e não 
comparece à audiência designada, o Juiz decreta a sua revelia e haverá a 
presunção de que todos os fatos alegados pelo autor da ação são verdadeiros 
(o que não pode ocorrer em hipótese alguma no juízo criminal). Não importa 
se estes fatos são ou não verdadeiros. Vale o que está no processo (verdade 
formal). Portanto, como percebemos, somente neste item (absolvição por falta 
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de provas no crime) a regra da independência das esferas é aplicada em sua 
integridade. 
e) Pessoa que foi reconhecida como penalmente inimputável (ex: 
durante o processo criminal foi considerado doente mental). Isto pode excluir a 
sua responsabilidade penal. Mas não exclui a responsabilidade para a 
reparação de danos na esfera civil. Cai na regra que vimos acima de que o 
responsável pelo inimputável, responde civilmente por seus atos. 
f) No caso de questões sobre o estado das pessoas (solteira, casada, 
viúva, etc.) e sobre a posse, propriedade, etc., prevalecem as decisões do 
juízo cível. Esta deve ser ‘transportada’ para o juízo criminal. Exemplo: Um 
sujeito está respondendo pelo crime de bigamia (casou-se duas vezes) na 
esfera penal (art. 235, CP). Esse sujeito alega que seu primeiro casamento era 
nulo. Ora, a nulidade de um casamento não pode ser declarada por um Juiz 
criminal. Portanto, instalado o incidente, o Juiz suspende o processo criminal e 
a questão (da anulação ou não do primeiro casamento) será discutida no juízo 
cível. Decidida a questão, o processo criminal volta a tramitar: se realmente o 
primeiro casamento era nulo não haverá o crime (art. 235, §2o, CP); mas se o 
casamento era válido ele será condenado a uma pena que pode variar de 02 
(dois) a 06 (seis) anos. 
Costumo fornecer o gráfico abaixo para fixar bem a possibilidade ou não 
de vinculação das esferas penal e civil. Lembrem-se de que o art. 935, CC 
inicia a sua redação da seguinte forma: “A responsabilidade civil é 
independente da criminal...” Logo, a regra é a da independência. Mas como 
vimos há muitas exceções. 
Vinculação ou Não das Esferas Cível e Penal 
(resumo) 
JUÍZO CRIMINAL JUÍZO CÍVEL 
1. Sentença Condenatória. O Juiz 
criminal reconhece cabalmente 
provada a existência de um fato 
delituoso e reconhece o réu como 
sendo o autor deste fato. 
1. Vincula. Reconhecidas no juízo 
criminal a autoria e o fato delituoso, o 
Juiz na esfera cível deverá julgar 
procedente a ação cível contra o réu 
(condena). Discute-se apenas o 
quantum (valor) da indenização. 
2. Sentença Absolutória. O Juiz 
criminal reconhece categoricamente 
que o fato não ocorreu ou que ele 
ocorreu, mas comprovadamente o réu 
não foi o seu autor. 
2. Vincula. Em tese a ação civil de 
reparação de danos nem deveria ser 
proposta. Se o foi, o Juiz deverá 
acolher o que foi decidido no juízo 
criminal (julga improcedente a ação 
cível). 
3. Sentença Absolutória. Juiz 
reconhece alguma excludente de 
ilicitude. Ex: legítima defesa, estado 
de necessidade, etc. 
3. Vincula. O Juiz cível reconhece 
também as excludentes. Se o lesado 
não foi o culpado pelo evento, o Juiz 
condena a pessoa que praticou o ato, 
sendo que este tem direito à ação 
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regressiva contra verdadeiro culpado. 
3. Juiz arquiva o inquérito, 
reconhece a prescrição ou absolve o 
acusado por falta de provas. 
3. Não vincula. O Juiz pode 
absolver ou condenar civilmente, 
dependendo da prova colhida no 
processo civil. 
4. Vigora a verdade real ou 
material. 
4. Vigora a verdade formal ou 
ficta. 
 
Recordando 
 Hoje estamos falando sobre o Ato Ilícito e a Responsabilidade para 
a sua indenização. Vimos que existem duas teorias sobre o tema (Objetiva e 
Subjetiva) e que a diferença básica entre elas é a culpa (em sentido amplo). 
Vimos também que o Código Civil adotou a Teoria da Responsabilidade 
Subjetiva. Isto porque o art. 186, CC determina que “aquele que, por ação ou 
omissão voluntária (é o dolo), negligência e imprudência (que são 
modalidades da culpa), violar direito e causar dano a outrem, ainda que 
exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Vejam que quando ele usa as 
expressões “voluntária”, “negligência” e “imprudência”, ele está determinando 
que é necessária a demonstração do dolo ou da culpa. Por isso a 
Responsabilidade adotada pelo Código é a Subjetiva. 
No entanto gostaria de deixar uma situação bem clara. E vou fazer isso 
com uma pergunta. Trata-se de uma questão que caiu no exame da 
Magistratura que eu prestei. Era uma questão dissertativa. Dizia assim: 
“Discorra sobre o Ato Ilícito e a Responsabilidade adotada pelo Brasil”. Vejam 
como não se pode responder a questão de forma afoita... O examinador não 
está indagando qual das teorias foi adotada pelo Código Civil. Na verdade ele 
sequer cita o Código Civil. Ele foi sutil. Assim eu pergunto: Qual a teoria 
adotada pelo Brasil? Pensem um pouco e respondam mentalmente... Uma 
dica... ele não disse sobre qual matéria está se referindo. Ele quer saber qual a 
teoria adotada pelo Brasil (e não somente pelo Direito Civil). 
Resposta – O Brasil adotou as duas teorias. Esta é a resposta correta. O 
examinador queria que o concursando discorresse sobre as duas teorias. A 
resposta, de forma resumida, seria assim: No plano do Direito 
Administrativo/Constitucional, Direito Ambiental e Direito do Consumidor a 
regra é a de que o Brasil adotou a Teoria Objetiva, pois não se precisa provar 
culpa (em sentido amplo) do agente. No entanto há algumas poucas exceções. 
Já no plano do Direito Civil a regra é a de que o Brasil adotou a Teoria 
Subjetiva, pois além da conduta, do dano e o nexo, deve-se também provar a 
culpabilidade do agente (dolo e culpa). No entanto a Teoria Subjetiva possui 
muitas exceções, conforme vimos acima. Continuando a aula... 
TRANSMISSIBILIDADE 
Em caso de responsabilidade civil, vindo a falecer o responsável pela 
indenização (o lesante), seus direitos e obrigações passam a seus herdeiros. 
Estes, dentro das forças da herança, deverão reparar o dano (patrimonial 
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e/ou moral) ao ofendido (art. 943, CC). Vejam, então, que há a transmissão 
da responsabilidade aos herdeiros do agente, desde que as forças da herança 
assim o permitam. Desta forma os sucessores não respondem com seu 
patrimônio pessoal, mas sim apenas com o que receberam com o produto da 
partilha do acervo do de cujus. No entanto, se quem faleceu foi o lesado (a 
vítima), a ação de indenização poderá ser intentada por seus herdeiros contra 
o causador do dano. 
Resumindo: tanto o direito de exigir a reparação do dano, como o dever de 
prestá-la são transmissíveis aos herdeiros, até o limite das forças da herança. 
PRAZO PRESCRICIONAL 
O atual Código estabelece prazo prescricional de 03 (três) anos para a 
propositura da ação de reparação de danos (art. 206, §3o, inciso V, do CC). 
Esse é um dos principais prazos prescricionais, pois é uma das situações que 
mais cai nos concursos. Portanto, guardem bem!! 
DANOS CAUSADOS POR ANIMAL 
O art. 936, CC prevê que o dono de um animal (doméstico ou não) ou o 
seu detentor será responsável pelos danos causados por ele a outras coisas, a 
plantações ou a pessoas. Há uma presunção juris tantum (que admite prova 
em contrário) de sua responsabilidade. No entanto ficará isento desta 
responsabilidade, se ele

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