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AULA 10 DOS DEFEITOS NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

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CENTRO UNIVERSIÁRIO ESTÁCIO DE BRASÍLIA Campus Estácio Brasília
CURSO DEDIREITO
DISCIPLINA 
DIREITO CIVIL I (ESTACIO)
Plano de Aula: Defeitos dos negócios jurídicos - erro, dolo, coação
DIREITO CIVIL I
Título
Defeitos dos negócios jurídicos - erro, dolo, coação
Número de Aulas por Semana
Número de Semana de Aula
AULA 10 
DOS DEFEITOS NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (art. 138 a 155 CC)
Objetivos
Introduzir os conceitos de defeitos nos negócios jurídicos.
Estabelecer a diferença entre invalidade e ineficácia nos negócios jurídicos.
Apresentar as diversas teorias a respeito dos vícios de vontade.
Compreender as noções sobre erro, dolo e coação nos negócios jurídicos.
Estrutura do Conteúdo
1. DEFEITOS NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
1.1. Diferença entre invalidade e ineficácia.
1.2. Vícios de vontade e defeitos de consentimento do negócio jurídico. 
1.3. Teoria da vontade real. 
1.4. Teoria da declaração. 
1.5. Teoria da responsabilidade. 
1.6. Teoria da confiança. 
 
2. ERRO, IGNORÂNCIA, DOLO, COAÇÃO.
2.1 Conceito
2.2 Distinção
  
2. Defeitos do negócio jurídico
Para o Código, há defeito no negócio jurídico quando este padece de deficiência nos elementos constitutivos capaz de permitir sua anulação, seja por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores (arts. 138 a 166). 
Da mesma deficiência ressente-se o negócio praticado por agente relativamente incapaz (art. 171, I), embora a hipótese não venha elencada no capítulo em que o Código reúne e descreve os defeitos do negócio jurídico (Cap. IV do Título I, Livro III, art. 138 a 165).
Nulidade. O defeito se passa, portanto, no terreno da validade do negócio jurídico, ou seja, na sua aptidão, ou não, para produzir os efeitos jurídicos visados pelo agente. Quando o negócio se acha completamente despido de força para gerar tais efeitos diz-se que ocorre nulidade (art. 166); 
Anulabilidade. Quando os efeitos são produzidos, mas com risco de serem inviabilizados por provocação de quem se viu prejudicado pela prática viciada, o que se dá é a sua anulabilidade (art. 171). 
3. Diferença entre invalidade e ineficácia
 A distinção entre o ato inválido (nulo ou anulável) e o ato ineficaz revela-se, na moderna ciência jurídica, como indispensável, dado ser irrecusável a substancial diferença de natureza e consequências das duas figuras jurídicas.
A nulidade ou invalidade da obrigação principal implica a nulidade das acessórias. Exemplo: nulidade de cláusula onde se estabelece a locação residencial porque o locatário é menor invalida todas as outras cláusulas, inclusive a fiança. Já a nulidade no contrato de fiança não atinge o contrato de locação, propriamente dito.
Na ineficácia o ato jurídico é perfeito entre as partes, mas fatores externos impedem que produza efeito em relação a terceiros (ex: alienação de bens pelo falido após a decretação da falência).
observar as condições de validade dos atos jurídicos. 
É nulo o ato jurídico, quando em razão de defeito grave que o atinge, não produz os efeitos que deveria produzir. Pode até produzir efeitos, mas não aqueles efeitos desejados pelas partes interessadas, aqueles efeitos que era para produzir. Exemplo: se uma pessoa casada vende bem imóvel seu, sem autorização de seu cônjuge, o negócio será nulo, não produzindo seu principal efeito, qual seja, o de transmitir a propriedade do imóvel ao comprador. O único efeito que tal ato poderá produzir é o reembolso a que o comprador faz jus, se já tiver pago o preço do imóvel ao vendedor. Este deverá restituir-lhe o dinheiro. Mas esse não é efeito normal da compra e venda.
	
É ineficaz o ato jurídico, quando for válido entre as partes interessadas, e inexistente perante terceiros. Em outras palavras, o ato vale entre as partes, sendo totalmente ineficaz perante as demais pessoas. Exemplo: é o do carro vendido, sem a respectiva transferência nos registros do DETRAN. Ou seja, o carro é vendido, mas continua em nome de seu antigo dono. A venda é ineficaz: é válida entre comprador e vendedor, mas para terceiros o carro continua sendo do antigo dono, até ser efetuada a transferência nos registros. As eventuais multas serão enviadas para o antigo dono, que, em princípio, poderá até ter que pagá-las, regressando, depois, contra o adquirente. 
A inexistência dos atos jurídicos se dá, sempre que o ato contiver defeito tão grave que nem chega a existir. Falta-lhe pressuposto ou elemento essencial de existência. É diferente dos atos inválidos, porque estes existem, não produzindo, porém, os efeitos almejados. Os atos jurídicos inexistentes, nem chegam a existir. Não necessitam ser anulados. O máximo que se pode requerer é a declaração de sua inexistência. Exemplo: Testamento verbal.
O legislador não tem compromisso científico com o direito. O jurista que interpreta e aplica a norma do legislador, ao contrário, tem sempre de agir cientificamente, a fim de encontrar e definir o efeito concreto do texto legislado. O intérprete da lei, por isso, não pode, de maneira alguma, ser um mero repetidor das palavras do legislador. Como cientista, dispõe de método próprio para desvendar o sentido e alcance da norma, sem se escravizar à literalidade do texto legal.
Nulidade de um negócio jurídico está no artigo 166. Refere-se à simulação, que é um vício social, e à falta dos elementos essenciais do negócio jurídico (art. 104, CC). 
Já anulabilidade, art. 171, CC, se refere aos vícios de consentimento e a incapacidade relativa do agente.
ATO NULO E ATO ANULÁVEL.
O ato nulo possui invalidade ex tunc, ou seja, para o ordenamento jurídico ele nunca fora considerado válido. Dispõe o CC, no Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.
Assim, a nulidade do ato pode ser alegada por qualquer interessado, inclusive pelo MP, podendo até ser decretada de ofício pelo juiz. Sendo um ato inválido desde a sua constituição, entende-se que o mesmo pode ser questionado a qualquer tempo. Sobre tais atos, exemplifica o Código estabelece:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
Como exemplo, o CC determina, em seu art. 167, caput, que o ato jurídico simulado é nulo. Assim, se você simula a venda de sua casa ao seu filho, quando na verdade houve uma doação, esse ato será nulo, podendo ser alegado por qualquer interessado e a qualquer momento. Eventualmente, ainda neste exemplo, o seu filho pode ter alienado a casa a terceiros de boa fé, os quais não deverão ser prejudicados pela nulidade do ato, não sendo possível a restauração do status quo e não havendo outra oportunidade senão a conversão da obrigação em perdas e danos.
O ato anulável, por outro lado, pode ser confirmado pelas partes quando não houver prejuízo a direito de terceiros. Note que tal possibilidade não existe para os atos nulos. O art. 178, aliás, estabelece prazo decadencial para o pedido de anulação do ato. A anulabilidade não pode ser declarada de ofício pelo juiz, devendo ser peticionada pela parte interessada. Como exemplo de ato anulável, podemos citar o negócio jurídico celebrado por sujeito relativamente incapaz (jovem de 17 anos de idade, por exemplo).
ATO NULO é um ato ipo jure, ou seja, de pleno direito, quando celebrado por pessoa absolutamente incapaz; for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; omotivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; não revestir a forma prescrita em lei; for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; tiver por objetivo fraudar lei imperativa; a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção, que se caracteriza por uma SENTENÇA DECLARATÓRIA, admite conversação, tem EFEITO ERGA OMNES e EFEITO EX TUNC (retroage a data do negócio anulado), não decai o período para anulação e não admite confirmação. Sua nulidade ocorre “antes”, já nasce nulo (art. 166, CC).
ATO ANULÁVEL é ultra partes (além das partes), além dos casos expressamente declarados na lei, por incapacidade relativa do agente e por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores se dá sentença constitutiva (só é válido após sentença judicial), tem EFEITO EX NUNC (não retroage), decai em quatro anos a ação de anulação e há possibilidade de confirmação, ou seja, anula-se o negocio mas permanece seus efeitos. A confirmação pode ser expressa ou tácita. A nulidade do ato ocorre “depois”. (art. 171, CC). 
                              
6. Os vícios de consentimento e a anulabilidade do negócio jurídico.
Embora afetem o elemento essencial da validade do negócio jurídico - a declaração de vontade, que deve ser, em princípio, livre e consciente para sua natural eficácia - os vícios de consentimento não acarretam, por política legislativa, a inexistência, nem mesmo a nulidade do negócio por eles afetados. A sanção legal que o Código lhe aplica é apenas a anulabilidade (art. 171, II). O terreno dos defeitos do negócio jurídico oferece, portanto, rico material para observar e adequar às discutidas teorias da vontade e da declaração e suas variantes.
6.1. Teoria da vontade real.
 
Segundo teoria sistematizada por SAVIGNY, a essência do negócio jurídico está no querer individual, isto é, na vontade mesma do autor da declaração negocial. Esta, portanto, opera apenas como instrumento de revelação daquela. Por isso, quando há conflito entre a vontade e a declaração, é a vontade que haverá de prevalecer.
Levada ao extremo, todo ato afetado por vício de consentimento seria inválido diante da ausência de vontade de que se ressente, seja por erro, dolo ou coação, ou por qualquer outro evento que impeça sua livre e consciente manifestação.
 A primeira restrição que se manifestou foi de não considerar o vício de consentimento como causa de nulidade, e sim como de anulabilidade, impondo-se condições ao exercício do direito potestativo da parte de promover a ação de anulação do negócio jurídico. Depois, surgiram teorias que deslocaram da vontade real a essência mesma do negócio jurídico, fixando-a na declaração.
6.2. Teoria da declaração.
A reação contra o excesso reconhecidamente presente na teoria da vontade real deu-se por meio da teoria da declaração, cujo ponto de partida foi a necessidade de preservar as vinculações criadas pelas declarações de vontade, para ter-se segurança nas relações jurídicas. O comércio jurídico não pode conviver com a insegurança que decorreria de declarações de vontade que facilmente se revogam. Além do mais, o plano da vontade subjetiva seria inacessível, pelo que, para o direito, o importante deve ser a declaração e dela, portanto, é que hão de emanar os efeitos jurídicos. Não haveria segurança alguma nas relações privadas se quem emite uma declaração não aceitasse ficar vinculado a quem ela se endereçou, dentro do sentido normal das expressões empregadas.
Como reação, a teoria da declaração mostrou-se tão extremada como a teoria da vontade. Se a primeira protegia intoleravelmente o declarante, a segunda outorgou tutela exorbitante ao destinatário da declaração. É evidente que não se poderia tutelar, por exemplo, a má-fé de quem procurasse prevalecer do erro alheio para, maliciosamente, obter vantagens do negócio viciado. E além do mais, se se pode valorizar a declaração, não se deve fugir da realidade de que a raiz mesma do negócio jurídico não pode ser desvinculada da vontade.
6.3. Teoria da responsabilidade.
Fugindo do antagonismo profundo estabelecido entre a teoria da vontade real e a da declaração da vontade, formulou-se uma posição intermediária, sob o nome de teoria da responsabilidade. Segundo esta, embora a autonomia da vontade esteja na base do negócio jurídico, impõe-se admitir que, mesmo havendo divergência entre a vontade e a declaração, esta deve prevalecer, se o desacordo for provocado por culpa ou dolo do próprio declarante.
Em princípio, portanto, a divergência entre a vontade e a declaração se resolve pela prevalência da vontade real, provocando a anulação do negócio praticado sob o impacto do erro ou de outro vício que impediu a formulação da vontade livre e consciente.
Como, todavia, o agente deve responder pelos atos culposos que causem dano a outrem, o contratante que cometeu o erro por sua própria negligência ou dolo, terá de se sujeitar aos efeitos do negócio, para não prejudicar o terceiro que nele confiou.
Objetou-se que a conseqüência do ato ilícito culposo não é a criação de negócio jurídico, mas apenas da obrigação de indenizar.  A manutenção do negócio a despeito da vontade diversa do autor da declaração, segundo a teoria comentada, ocorre porque quem incorre em erro por culpa, causa dano à expectativa legítima de terceiro. A reparação que toca ao culpado consiste justamente em satisfazer aquela expectativa, decretando-se a obrigação de cumprir a declaração feita. Nem toda reparação de ato culposo se dá por indenização de perdas e danos. Pode também haver a reparação in natura, que no caso seria a não anulação do negócio.
6.4. Teoria da confiança.
 O último grau de evolução do tratamento do problema do erro no negócio jurídico foi acrescido pela teoria da confiança. Não basta analisar o dissídio entre vontade e declaração apenas no ângulo de quem a emite. É preciso levar em conta também o comportamento de quem a recebe. É preciso indagar se este manteve sua expectativa de vinculação segundo a boa-fé, ou se de alguma forma concorreu com culpa no evento.
 A teoria da confiança retrata bem os rumos da nova ordem jurídica, que se afasta do individualismo para melhor valorizar o interesse social. Daí porque vai além da tutela da vontade do declarante para se ocupar também do interesse daqueles que confiam na segurança das relações jurídicas e que, da mesma forma, devem concorrer para que ela se concretize.
As leis, no direito comparado, aos poucos vão aderindo a essa nova teoria, que fora apenas esboçada ou sugerida pelo Código alemão (BGB, art. 122). Já no atual Código italiano a orientação preconizada pela teoria da confiança é clara: o erro é causa de anulação do contrato quando for substancial e reconhecível pelo outro contratante (art. 1.428). Também no novo Código português, está previsto que a anulabilidade do negócio gerado por erro ocorrerá se este for conhecido ou reconhecível pelo outro contratante (art. 247º).
(Sobre a Confiança e a Boa fé, sugerimos a leitura do meu artigo: A proteção da confiança, a boa-fé objetiva e a irretroatividade como limitações constitucionais ao poder judicial de tributar: 
(http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13512).
7. A posição do novo Código Civil brasileiro
Em toda a celeuma gerada pela luta entre teoria da vontade e teoria da declaração, o novo Código, ao disciplinar genericamente os vícios de consentimento tomou, apenas em aparência, partindo da defesa da vontade real, permitindo a anulação dos negócios em que o consentimento não for livre e conscientemente manifestado (coação, dolo, lesão, estado de perigo).
No campo do erro substancial, porém, onde o regime era no Código anterior dominado (por exegese jurisprudencial) pela teoria da responsabilidade (culpa do autor da declaração), evoluiu-se para a teoria da confiança, seguindo-se o exemplo de legislações modernas como aitaliana e a portuguesa. Não é mais apenas pela falta de culpa do declarante (erro escusável) que se anula o ato errôneo, mas porque o destinatário da declaração, por sua vez, teve culpa no evento, já que poderia ter evitado a prática viciada do negócio jurídico, pois o erro era daqueles que poderiam ser percebidos por pessoas de diligência normal nas circunstâncias do negócio (art. 138). A contrario sensu, ainda que haja divórcio entre a vontade e a declaração, esta prevalecerá se o outro contratante (de boa-fé) não tinha condições de perceber o erro do declarante.
No entanto, até mesmo no campo do dolo e da coação, o regime do atual Código, prestigia a teoria da confiança e não dispensa a culpa do beneficiário para a configuração do vício de consentimento. Se o ardil ou a ameaça tiverem sido praticados por estranho e não pela parte do contrato que deles se beneficia, a anulação somente será possível quando esta deles tiver tido conhecimento ou condições de conhecê-los (arts. 148 e 154). 
Se é impensável cogitar-se da possibilidade de boa-fé no dolo e na coação, quando praticados diretamente por um dos contratantes, é perfeitamente viável a atuação de boa-fé do contratante se a coação ou o dolo tiverem sido praticados por terceiro, situação em que a ausência de má-fé entre os sujeitos do negócio impede sua anulação.  Dessa maneira, mesmo nos mais graves vícios de consentimento, a boa-fé do destinatário da declaração de vontade prevalece sobre o defeito de formação da vontade do declarante.
Até mesmo a fraude contra credores se funda na base da teoria da confiança, visto que a sanção aos negócios onerosos praticados em prejuízo da garantia dos credores só atinge o terceiro adquirente ou sub-adquirente que tenha atuado de má-fé. O que tenha adquirido bens do devedor insolvente de boa-fé (isto é, sem conhecer a insolvência) não é atingido pela invalidade do contrato (arts. 107 e 109)
 Como se vê, o sistema geral dos vícios de consentimento, na evolução do Código de 1916, para o atual, submeteu-se, predominantemente, à teoria da confiança, onde o destaque maior é conferido a boa-fé, à lealdade, e à segurança das relações jurídicas? .
8. ERRO, IGNORÂNCIA, DOLO E COAÇÃO. 
 
O Código Civil declara que é anulável o negócio jurídico:
Por incapacidade relativa do agente;
Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. (art. 138, 145, 151, 156, 157 e 158 do CC).
ERRO - é a falsa idéia ou falso sentido que se tem de alguma coisa. Em regra erro não se presume. Alegado, deve ser mostrado, isto é, provado. O erro é a falsa representação da realidade, o sujeito engana-se sozinho. Já a ignorância é o completo desconhecimento da realidade, embora tanto o erro como a ignorância acarrete efeitos iguais, quais sejam, a anulabilidade do negócio jurídico, não obstante possuírem conceitos distintos. 
        
Não é qualquer erro que é capaz de anular o negócio jurídico, há de ser erro substancial ou essencial e escusável conforme prevê o art. 139 do C.C.   
O erro substancial possui sub-espécies tais como: o error in negotio (incidente sobre a natureza do negócio); o error in corpore( no objeto principal do negócio); o error in substantia or in qualitate; o error in persona (na pessoa) e, por fim, o error iuris (erro de direito).  
O erro de direito (error iuris) é o falso conhecimento, ignorância ou interpretação errônea da norma jurídica aplicável ao negócio jurídico. Ocorre quando o agente emite a declaração de vontade no pressuposto falso de que procede de acordo com o preceito legal. O erro de direito era admitido como substancial quando fosse o motivo principal do negócio jurídico e não houvesse a intenção, por parte doa gente, de descumprir a lei. O art. 3º da LICC diz que a alegação de ignorância da lei não é admitida quando apresentada como justificativa para seu descumprimento. Significa dizer, ao revés, que pode ser argüida se não houver tal nefasto propósito.  
     
        
Os tipos de erro podem variar quanto ao objeto, quanto às qualidades essenciais do objeto, quanto à pessoa e quanto ao motivo. 
Quanto ao objeto acontece quando o mesmo recai sobre a identidade do objeto, ou seja, quando o objeto do negócio jurídico não era aquele planejado pelo agente (CC/02, art. 139, I). Por exemplo, quando uma pessoa compra um quadro de Pablo Picasso mas, posteriormente descobre que era de um outro pintor cubista menos famoso e, com isso, valendo bem menos o seu valor. 
O erro ainda poderá recair sobre qualidades essenciais do objeto principal da declaração, do negócio. Isso acontece quando tais qualidades são de maneira influir na determinação de vontade e se supunham existentes (CC; art. 139, I). Um exemplo seria o caso da compra de um candelabro de ouro e muito antigo. Após efetuado o negócio verifica-se que o candelabro na verdade era de outro metal inferior ao ouro e não era tão antigo assim e que se fossem constatados tais qualidade inferiores o negócio não teria sido realizado. 
O erro pode recair sobre a pessoa desde que tenha determinado de modo relevante (CC; art. 139, I). Por exemplo, quando numa celebração de casamento, anos após o casamento, o marido constata que a esposa possuía uma doença anterior ao casamento e que no momento presente, tal doença é nociva ao casamento. O casamento cessa-se, portanto, a pedido do marido (CC; art. 1.556 e 1.577).
     
DOLO -  Indica toda a espécie de artifício, engano promovido por uma pessoa, com a intenção de induzir outrem à  prática de um ato jurídico, em prejuízo deste e proveito ou de outrem. O dolo no âmbito civil não se confunde com aquele previsto no âmbito penal ( art. 18, I do CP) onde agente atua com a vontade predestinada a causar o delito ou assumiu o risco de produzi-lo.
A grande maioria das ações anulatórias em geral é mesmo com base no dolo em face da grande dificuldade de se provar processualmente o erro. O dolo anulador do negócio jurídico é sempre o dolo principal, é o dolo malus. Porque o dolus bônus é moderadamente aceitável, embora o CDC condene explicitamente a propaganda enganosa. 
       
Registre-se que o dolus pode ser comissivo ou omissivo (chamado de dolo negativo), pois fere frontalmente o princípio da boa fé objetiva presente tanto no C.C. como no CDC. 
        
É possível ainda, o dolo de terceiro (art. 148 C.C.) como o do representante (art. 149 C.C.). Porém, o dolo bilateral (art. 150 C.C.) pode não gerar a anulabilidade do negócio jurídico, pois prevalece o princípio de que ninguém poder valer-se da própria torpeza para auferir vantagens.
COAÇÃO -  O terceiro defeito é a coação que representa toda ameaça ou pressão exercida sobre a pessoa para obrigá-la, contra sua vontade, a praticar ato ou realizar negócio jurídico. Há a coação física (vis absoluta) e a coação psicológica (vis compulsiva) que diferem não só pelo meio empregado, mas sobretudo, por seus efeitos.   
         
Vejamos que a coação é o mais grave dos defeitos dos negócios jurídicos e especialmente na coação física temos na verdade a inexistência do negócio jurídico, pois não há manifestação de vontade livre, espontânea e de boa fé. Não há vontade jurígena.
Já na coação psicológica há a manifestação de vontade, embora não corresponda à intenção real do coacto, o que certamente redunda num negócio anulável.  
        
Exigem-se certos requisitos para tipificação da coação (art. 153 do C.C.) e para ser considerada como defeito: deve ser determinante do negócio; deve ser grave e injusta; deve dizer respeito ao dano atual ou iminente e deve ameaçar a pessoa, bens da vítima ou pessoas de sua família (essa tomada na acepção alto sensu , art. 151 C.C.).
É possível que a coação seja exercida por terceiro sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento, mas nessa hipótese prevista no art. 155 do C.C., o negócio subsistirá não sendo anulado. Não se considera coação a simples ameaça , o exercício normal de direito e nemtemor reverencial.  
    
Distinção entre as espécies de defeitos
(a) Erro X dolo: no erro o engano é espontâneo e deriva de um equivoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isto; a vítima se engana sozinha. O dolo o engano é provocado; é intencionalmente provocado na vítima pelo autor do dolo ou terceiro; a vitima se equivoca, mas ilaqueada por alguém.
(b) Dolo X Coação: no dolo é causa exclusivamente incidente na inteligência da vítima. Já a coação age sobre a liberdade, tendo influência maior na elaboração da vontade (é de maior gravidade que o dolo).
Caso Concreto
Analise a decisão adiante:
REsp 1265890/SC – Rel. Min. Nacy Andrighi – Terceira Turma – Dje 09/12/2011 - CIVIL. ACORDO EXTRAJUDICIAL. QUITAÇÃO. VALIDADE. AÇÃO OBJETIVANDO AMPLIAR INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO. VÍCIO NA DECLARAÇÃO DE VONTADE. INEXISTÊNCIA. 1. Na hipótese específica dos autos, no ato da assinatura de acordo extrajudicial para indenização por acidente envolvendo veículo de propriedade da recorrente, a recorrida era representada por advogado, que também assinou o documento. 2. A quitação plena e geral, para nada mais reclamar a qualquer título, constante do acordo extrajudicial, é válida e eficaz, desautorizando investida judicial para ampliar a verba indenizatória aceita e recebida. Precedentes. 3. Não se pode falar na existência de erro apto a gerar a nulidade relativa do negócio jurídico se a declaração de vontade exarada pela parte não foi motivada por uma percepção equivocada da realidade e se não houve engano quanto a nenhum elemento essencial do negócio - natureza, objeto, substância ou pessoa. 4. Em sua origem, a ilicitude do negócio usurário era medida apenas com base em proporções matemáticas (requisito objetivo), mas a evolução do instituto fez com que se passasse a levar em consideração, além do desequilíbrio financeiro das prestações, também o abuso do estado de necessidade (requisito subjetivo). Ainda que esse abuso, consubstanciado no dolo de aproveitamento – vantagem que uma parte tira do estado psicológico de inferioridade da outra -, seja presumido diante da diferença exagerada entre as prestações, essa presunção é relativa e cai por terra ante a evidência de que se agiu de boa-fé e sem abuso ou exploração da fragilidade alheia. 5. Ainda que, nos termos do art. 1.027 do CC/16, a transação deva ser interpretada restritivamente, não há como negar eficácia a um acordo que contenha outorga expressa de quitação, se o negócio foi celebrado sem qualquer vício capaz de macular a manifestação volitiva das partes. Sustentar o contrário implicaria ofensa ao princípio da segurança jurídica, que possui, entre seus elementos de efetividade, o respeito ao ato jurídico perfeito, indispensável à estabilidade das relações negociais. 6. Recurso especial parcialmente provido.
Por que a figura do erro foi afastada neste julgado? Poderia ser identificado outro vício na transação realizada? Explique sua resposta em no máximo dez linhas.
Gabarito: O erro é a falsa representação da realidade. Estando a pessoa devidamente assistida por um advogado no momento em que foi firmado o acordo, devidamente informada sobre todo o seu conteúdo, não poderá alegar erro. Parece, o caso, uma tentativa clara de enriquecimento sem causa uma vez que os valores acordados já foram, inclusive, pagos. Poderia, ainda, a requerente, demonstrar talvez coação no ato da transação.
Questão objetiva 1
O dolo é vício de vontade que torna anulável o negócio jurídico. Arguida a prática do dolo num determinado negócio, é INCORRETO afirmar que:
a.     a intenção de quem pratica o dolo é a de induzir o declarante a celebrar um negócio jurídico;
b.     a utilização de recursos fraudulentos graves pode se dar por parte do outro contratante ou de terceiros, se forem do conhecimento daquele;
c.      o silêncio intencional de uma das partes sobre fato relevante ao negócio também constitui dolo;
d.     o dolo recíproco impede a anulação do negócio jurídico sobre o qual incidiu;
e.     o dolo do representante de uma das partes obriga o representado a responder civilmente por todo o prejuízo do outro contratante, independentemente do proveito que o mesmo representado experimentar.
Gabarito: E - art. 149, CC
Questão objetiva 2
Analise as proposições: 
I-               Francisco pensa que adquiriu de Júlia o lote nº4 da quadra A, mas na verdade adquiriu o lote nº4 da quadra B. 
II-              Vanessa assina contrato de compra e venda de um apartamento, uma vez que tem sob sua cabeça uma arma empunhada por Robson. 
III-            Karina, ao celebrar contrato de seguro de vida, omite que é portadora de enfermidade gravíssima. 
 
As situações apresentadas caracterizam, respectivamente, os seguintes vícios de consentimento:
a.     Erro substancial, coação física, dolo negativo.
b.     Dolo positivo, coação moral, erro substancial.
c.      Dolo negativo, coação moral, erro acidental.
d.     Erro substancial, coação física, dolo positivo.
 
Gabarito: A
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Brasilia, DF, 
Prof. René Dellagnezze
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