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Artigo - Os Desafios Atuais e Futuros da Engenharia de Projeto

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Os Desafios 
Atuais e 
Futuros da 
Engenharia 
de Projeto
Joel Weisz*
A opinião pública v iu recentemente estam-padas na imprensa 
denúncias de obras superfatu-
radas ou de empreendimentos 
que, em decorrência de suces-
sivos “aditivos” acabam por 
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e se defronta com a 
necessidade de empreender investimentos ainda maiores para 
preparar o País para grandes eventos internacionais, esses 
questionamentos se tornam ainda mais prementes. 
Este cenário suscita ainda a questão sobre o setor de 
engenharia consultiva que, após um período de pujança, na 
fase de crescimento da economia, até os anos 1980, se des-
mobilizou, perdendo-se a capacitação e parte da memória 
técnica que já tinham sido acumuladas.
ter seus preços aumentados mais do que seria razoável. 
O dano à sociedade é agravado pelo fato de que os inves-
timentos acabam sendo mal feitos quando não simples-
mente interrompidos no meio, deixando, como legado, 
mais esqueletos de obras inacabadas. O bom senso leva 
a indagar se e como seria possível coibir tais aberrações 
com o dinheiro público.
Neste momento em que o Brasil se torna alvo de aten-
ções ao receber a Conferência das Nações Unidas sobre 
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Importância
Parece evidente que preceder as licitações 
públicas para investimentos de planejamento 
e estudos, bem como de trabalhos de enge-
nharia que permitam reduzir imprevistos e 
prever melhor como transcorrerá a implan-
tação atenuaria o problema, além de inibir os 
desvios cometidos deliberadamente.
Prover o País com uma capacitação 
sólida em engenharia de projeto poderá 
também resultar na incorporação de com-
ponentes de maior conteúdo tecnológico às 
atividades produtivas no País, aproveitar o 
poder de arraste da engenharia de projeto na 
especificação e definição de bens e serviços 
que serão usados nos investimentos, além 
de, evidentemente, assegurar maior racio-
nalidade, maior observância dos preceitos 
de desenvolvimento sustentável e menores 
gastos nos investimentos públicos.
Os grandes investimentos previstos devem 
ser implantados com base em estudos e plane-
jamento, além de engenharia básica e executiva 
formuladas com o empenho que o montante 
dos recursos envolvidos exige. No entanto, 
o que se observa é que a tomada de decisões 
relativas aos investimentos é procrastinada, 
até que seja demasiado tarde, para então, em 
função da urgência na execução, se adotarem 
medidas excepcionais como dispensa de licita-
ção ou o chamado “Regime Diferenciado de Contratação” que 
permite o desrespeito à sequência engenharia básica, engenharia 
executiva e implantação, conforme estipula a Lei de Licitações.
A importância da engenharia de projeto transcende os 
limites do setor de engenharia consultiva e é maior do que 
sua participação relativa no PIB do País. Ainda que se trate 
de um setor importante para a economia, por seu papel como 
repositório do conhecimento e da competência técnica, sua 
importância reside nos impactos da engenharia de projeto no 
próprio desenvolvimento do País. Entre os impactos positivos 
do setor de engenharia cabe mencionar, por um lado, o fato de 
que quem faz engenharia básica influi na definição de fornece-
dores de equipamento e de construção civil e, por outro lado, 
trará maior controle sobre os grandes investimentos públicos.
Antecedentes
O setor de engenharia de projeto vinha experimentando 
um grande desenvolvimento nos anos de crescimento acelera-
do da economia, que se estendeu até o começo dos anos oitenta. 
Nessa fase, embora o modelo de substituição de importação 
nem sempre tenha sido muito favorável à absorção e fixação 
do conhecimento tecnológico relativo aos fatores de produção 
então implantados, o setor de engenharia, especialmente o 
setor de engenharia consultiva, passou, naquele período, por 
um forte crescimento e absorção de competência.
Empresas que, nas primeiras fases de expansão do setor 
siderúrgico, hidroelétrico ou petroquímico, se limitavam ao 
trabalho de engenharia de detalhe, já na década de setenta 
ofereciam trabalhos de engenharia básica, engenharia con-
ceitual, gerenciamento de projetos e estudos de viabilidade. 
Empresas de engenharia contavam seus profissionais aos 
milhares. Se é verdade que uma parte destes profissionais 
seria hoje desnecessária devido aos avanços da tecnologia (ex.: 
Autocad), o fato é que o setor absorvia os melhores quadros 
com altos salários.
Nos anos oitenta, a redução na demanda por parte do 
Estado com a desaceleração da economia, além da grave 
inadimplência de algumas entidades estatais, forçaram várias 
“É fazendo engenharia que as equipes 
aprendem e ganham experiência”
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das empresas de engenharia consultiva a demitirem e redu-
zirem o seu tamanho. Várias dessas empresas simplesmente 
não existem mais ou sobreviveram com outras atividades.
Com a dispersão das equipes, perdeu-se uma com-
petência que já tinha sido acumulada. O conhecimento 
destas empresas não se consubstancia apenas em manuais, 
softwares, blueprints ou outras formas de conhecimento 
codificado. Tampouco esse conhecimento pode ser locali-
zado em indivíduos. As equipes de engenharia representam 
o repositório do conhecimento técnico amealhado e sua 
dispersão significa a perda de valioso acervo. Mais do que 
isso, este conhecimento deve ser constantemente usado em 
novos projetos para ser preservado e atualizado. A falta de 
trabalho, mais do que ensejar a dispersão das equipes, leva à 
obsolescência do conhecimento.
Recomendações
O que assegura ao País um setor de engenharia forte e di-
nâmico é a demanda. É fazendo engenharia de projeto que as 
equipes aprendem e ganham experiência. Esse conhecimento 
não está nos livros ou em desenhos, nem em indivíduos, mas 
nas equipes. Só o contínuo exercício da prestação de serviços 
de engenharia de projetos é que mantém as equipes de enge-
nharia coesas, mobilizadas e atualizadas.
O poder de compra dos governos foi, e ainda é, para 
economias emergentes, muito importante para fortalecer e/ou 
proteger empreendimentos nacionais, especialmente aqueles 
que implicam em preservação da memória técnica. Não por 
outra razão, o subsídio ao investimento em tecnologia está 
excluído do rol de governos passíveis de ações, no âmbito 
da OMC, por práticas desleais de comércio internacional. 
A Lei 12.349/2010 permite que, nos processos de licitação, 
seja estabelecida margem de preferência para produtos 
manufaturados e para serviços nacionais, quando houver 
desenvolvimento e inovação tecnológica realizados no País. 
É importante que esta Lei seja posta em prática, para que não 
se torne letra morta.
O pré-investimento para uma obra de porte médio re-
presenta um gasto de 7,5% do investimento total enquanto 
numa obra de grande porte este percentual cai para cerca 
de 3,5%, segundo a Associação Brasileira de Consultores de 
Engenharia (ABCE). Isso significa que um gasto relativa-
mente reduzido em estudos, planejamento, planos mestres, 
inventários, engenharia básica e engenharia executiva deve 
resultar em economias sensivelmente maiores ao tornar mais 
racional o investimento físico e os dispêndios nele envolvidos.
É com base nesta constatação que entidades, como o 
Clube de Engenharia, em diversas ocasiões, propuseram uma 
iniciativa que ainda não se concretizou: a criação de um banco 
de projetos. Um banco de projetos cumpriria uma dupla fun-
ção. Por um lado, representaria um fluxo de demanda para 
o setor de engenharia consultiva, o que evitaria acontinua-
ção na dispersão e a desatualização técnica de equipes. Por 
outro lado, ainda mais importante, representaria um acervo 
que propiciaria uma tomada mais racional de decisões de 
investimento, segundo prioridades nacionais, além de maior 
eficiência nos gastos públicos.
**Joel Weisz é engenheiro eletricista pela UFMG e mestre em 
Engenharia de Produção pela New York University. Atuou em 
diferentes indústrias e empresas de engenharia, implantou e 
chefiou o Departamento de Engenharia Industrial na Eletromar 
– Westinghouse, foi coordenador de Planejamento e Estudos 
Econômicos na Esso Química e superintendente Financeiro da 
Rio Doce Engenharia e Planejamento. Também professor na 
FGV em análise de investimentos e em gestão da tecnologia, 
chefiou várias áreas na FINEP. Autor dos livros “Mecanismos 
de Apoio à Inovação Tecnológica” e “Projetos de Inovação 
Tecnológica”, é hoje dirigente da Cognética, Consultoria de 
Empreendimentos Ltda.

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