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1 CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE AULA PARA EAD (MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO) CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Humanidades e Ciências Sociais CONTEUDISTA: Clarissa Brandão. Aula 1 – Direito Tributário Conceitos: • Conceito de direito tributário e de tributo. • Espécies tributárias. • Competência e capacidade tributária. • Princípios constitucionais tributários. • Hipótese de incidência, fato gerador, obrigação tributária, lançamento e crédito tributário. • Prescrição e decadência tributária. Após o estudo deste capítulo, você será capaz de: • Conhecer os principais princípios constitucionais tributários que delimitam o poder de tributar institutos do Estado. • Saber o que é a relação tributária, desde a hipótese de incidência até a constituição do crédito tributário. • Distinguir competência de capacidade tributária. • Distinguir a prescrição da decadência tributária. 2 1. Conceito Primeiramente, necessário se faz o entendimento do Direito Tributário. Trata-se do ramo do Direito, preocupado em fornecer as diretivas nas relações entre o Estado e os particulares, mas tão somente na esfera tributária, ou seja, definir na relação entre o sujeito ativo (fisco) e o sujeito passivo (contribuinte, genericamente), seus direitos e suas obrigações, através de toda legislação que lhe é pertinente, tendo sido, criado especialmente para demarcar os limites do poder de tributar do Estado, evitando assim os abusos no exercício desse poder. Salientamos que a arrecadação tributária efetuada pelo Estado é de essencial importância, sendo indiscutivelmente a sua maior fonte de financiamento. Essa importância se mostra clara, visto que, tem o Estado a obrigação de satisfazer as necessidades coletivas, necessidades de toda a sociedade, que são inúmeras, tais como, a segurança, o transporte, a saúde, entre outras. Ao mesmo tempo em que tem a obrigação de satisfazer as necessidades da coletividade, o Estado “convida” a própria sociedade para ajudá-lo a ajudá-la. É assim que o maior parceiro do Estado nesse sentido é a sociedade, enquanto é o contribuinte, pois este é a fonte da receita tributária, nas mais diversas ações que pratica. Mas o Estado mesmo que esteja garantido pela CF/88 o seu direito de tributar a sociedade, esbarra em determinados princípios que delimitam esse poder. 2. Tributo A Lei nº 5.172/66- CTN define em seu artigo 3º que: “Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.” 3 Cremos que tal definição ao ser analisada friamente fica muito difícil de entender o que seja o tributo, por isso preferimos fragmentá-la: Tributo é toda prestação: a obrigação tributária principal é o pagamento do tributo, sendo pois o ato de prestar, o próprio o pagamento; Pecuniária: O significado da palavra pecúnia é dinheiro, assim, pelo menos em tese, o pagamento do tributo dever ser feito em dinheiro; Compulsória: Tudo o que é compulsório, é obrigatório, como é o pagamento do tributo, não dando qualquer outra alternativa ao contribuinte, após ter nascida a obrigação tributária; Em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: Vimos que em regra o tributo deve ser pago em dinheiro, ou seja em moeda corrente no país, mas o art. 162 do CTN contempla outras possibilidades, como cheque ou outros casos previstos em lei; Que não constitua sanção de ato ílicito: Entende-se que a hipótese de incidência tributária é sempre uma descrição legal de uma situação também lícita, não sendo, portanto, sanção ou penalidade pelo cometimento de algum ato ilícito, como é por exemplo uma multa de trânsito, caso em que não é considerado tributo; Instituída em lei: O tributo somente poderá ser instituído mediante autorização legal, ou seja, através de lei, respaldo no princípio constitucional da estrita legalidade tributária, que determina que nenhum tributo será exigido ou aumentado, sem que a lei o estabeleça. 4 E cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada: Para que o Estado pode exigir do particular o pagamento do tributo, deverá antes constituir seu crédito tributário, o que fará desempenhando sua atividade administrativa vinculada e obrigatória, denominada de lançamento tributário, podendo quem assim não o fizer ser responsabilizado funcionalmente, conforme estabelece o parágrafo único do art. 142, do CTN. 3. Competência e capacidade tributária 3.1 Competência tributária Por competência tributária entendemos o poder atribuído pela Carta Magna a um determinado ente tributante para que o mesmo possa legislar sobre certo tributo. Quando falamos em legislar, queremos deixar claro que somente poderá fazê-lo a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, pois estas pessoas jurídicas de direito de direito público possuem casa legislativa, tal tarefa, é pois, tipicamente política. É a chamada competência legislativa plena. Se o ente tributante pode legislar sobre determinado tributo, pode, por conseguinte, criá-lo, modificá-lo, majorá-lo, extingui-lo, ou seja, pode fazer o que bem entender, com aquele tributo, inclusive exigir do particular o seu pagamento, dentro é claro dos parâmetros legais, essa é a leitura que fazemos do art. 6º da Lei 5.172/66-CTN. Art. 6º, CTN- A atribuição constitucional de competência tributária compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios, e observado o disposto nesta Lei. 5 A competência tributária é indelegável e irrenunciável, mesmo que em determinadas situações aquele que tem sua titularidade pode não exercê-la por opção, mas não poderá transferi-la a ninguém. O que pode acontecer é a transferência de parte dessa competência, chamada de capacidade tributária que tem a atribuição de arrecadar ou fiscalizar tributos, entre outras, que veremos a seguir. 3.1.1 Classificação Competência privativa - (arts.153/156,CF) A CF/88 elenca um rol fechado de impostos para cada ente tributante, conferindo- lhes competência para que possam legislar privativamente sobre cada um deles. Ex.: Aos Municípios a competência privativa para instituir o ISS, à União para instituir o IR e aos Estados e ao Distrito Federal para instituir o ITCMD. Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I - importação de produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; VI - propriedade territorial rural; VII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; 6 III - propriedade de veículos automotores Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade prediale territorial urbana; II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição; III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. Fica evidente, que nenhum pode invadir a esfera de atribuições do outro, sob pena de incontitucionalidade. Competência comum - (arts. 77 e 81, CTN) Já a competência comum nos recomenda o entendimento de que a todos os entes tributantes lhes é conferida, estando ligada diretamente às taxas e às contribuições de melhoria, qualquer dos entes poderá instituí-las, dentro novamente, da esfera de suas atribuições. Competência residual - (arts. 154, I, e 195, § 4º, CF) • Só a União tem essa competência; • Somente através de lei complementar; • Não pode ser cumulativa; • Desde que não tenham fato gerador ou base de cálculo dos impostos discriminados na Constituição Federal. Competência legislativa supletiva ou suplementar (art. 24, § 2º, CF) 7 A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados para que dentro da esfera de suas atribuições possam editar normas complementares. 3.2 Capacidade tributária A capacidade tributária ativa, ao contrário da competência tributária, é o poder atribuído pela lei às pessoas jurídicas de direito público de exigir do particular o cumprimento da obrigação tributária, nos termos do Art. 119 do CTN. Podemos concluir, por óbvio que a capacidade tributária é delegável. Analisando o Art. 7°, § 3° do CTN, concluímos também, que a função de arrecadar um tributo, pode ser delegada a uma pessoa jurídica de direito privado, o que não a torna sujeito ativo da obrigação tributária, pois somente terá função arrecadatória. Em outras situações poderá além de arrecadar, se apropriar do produto arrecadado, ficar com a arrecadação, como é o caso das contribuições para-fiscais arrecadadas pelos Conselhos Regionais, representativos de categorias profissionais. Já a capacidade tributária passiva, é a aptidão dada ao sujeito passivo (particular), para fazer parte da relação jurídico tributária, que pode ser de fato ou de direito. A capacidade tributária é independente da capacidade civil das pessoas natu-rais, podendo estar dentro de qualquer das incapacidades trazidas pelo Código Civil, iniciando-se com o nascimento com vida. É claro que sendo incapaz, deverá ser representada ou assistida por seu responsável legal, dependo de cada caso. Da mesma forma para a pessoa jurídica a capacidade tributária passiva atinge um parâmetro mais largo, podendo existir mesmo que não tenha personalidade jurídica, ou seja, não seja constituída legalmente ou de direito, bastando que se configure, de fato, como uma unidade econômica ou profissional (art. 126 CTN). 4. Espécies tributárias 8 Imposto: Às vezes confundido com o próprio conceito de tributo, pois se é “imposto” é compulsório. Tem também um seu caráter genérico, porque é único dentre as espécies tributárias que é “não vinculado”, porquanto o art. 16, CTN, afirma que para cobrá-lo, o Estado não necessita praticar qualquer atividade ou serviço em relação ao contribuinte; Taxa: A taxa que como o imposto pode ser federal, estadual ou municipal, pois dentro da esfera de suas respectivas atribuições qualquer dos entes tributantes poderá instituí-la, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição e pelo menos a algum destes fatos gerados sempre deverá estar vinculada. Contribuição de melhoria: Poderá ser instituída sempre que dentro da esfera de atribuição de determinado ente tributante uma obra pública por ele realizada, trouxer uma valorização imobiliária ao particular. Salientamos que tal cobrança tem como parâmetro dois limites, sendo um o limite total, entendido como a despesa realizada e como limite individual como o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado; Empréstimo compulsório: Tributo exclusivo da União, que poderá instituí-lo mediante lei complementar, para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência ou no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, de acordo com o art. 148,CF. Sendo empréstimo é também restituível. Contribuições especiais: Como regra o art. 149, CF determina a competência exclusiva da União para legislar sobre as contribuições especiais, dando aos Estados e Municípios, um única possibilidade quando for para custear 9 o seu regime próprio de previdência, instituindo-a e cobrando-a de seus servidores. O mesmo artigo constitucional sub-divide as contribuições especiais em: • De intervenção no domínio econômico Sabemos que a atividade econômica é destinada em regra ao particular, mas em determinadas situações a União precisa intervir em algum setor ou segmento econômico, para principalmente poder melhorá-lo, quando assim o faz, para custear a sua instrumentalização poderá instituir tal contribuição. (Ex: Cide – Petróleo). • De interesse de categorias profissionais Chamadas de contribuições para-fiscais, têm o condão de proporcionar às entidades para-estatais que prestam o relevante serviços de interesse público como o de representar as categorias profissionais, fiscalizando seus membros para que os mesmos desempenhe suas funções a bem de toda a coletividade. (Ex: OAB, CRM, CRC). • Sociais Também denominadas de contribuição para a seguridade social, pois têm como escopo o custeio do financiamento da seguridade social, sendo utilizadas sempre que o estado necessita atuar na esfera social (Exs: contribuição para o INSS, PIS, COFINS, CSLL). 5. Princípios constitucionais tributários 10 Para a exata compreensão desse estudo, é primordial que se tenha bem cristalina a concepção do que seja princípio e também de sua utilidade. Iniciando-se pela busca do sentido etimológico da palavra princípio, encontrar-se-á no termo latino principium, a idéia de começo, de origem. De imediato, após essa constatação, a imposição que se apresenta é a de que o princípio deve ser o norte, ou seja, tudo o que deva ser seguido, servindo, pois, de premissa para a devida interpretação, adequação e posterior concretização de qualquer sistema jurídico. No campo tributário encontram-se na Constituição da República alguns princípios implícitos ou explícitos, que dão um adequado alicerce, mostrando-se como verdadeiro núcleo interpretativo para o estudo e percepção de todo o sistema tributário nacional. Trataremos apenas de alguns dos princípios constitucionais tributários, mas salientamos, desde já, que outros tantos princípios existem do âmbito tributário e que também servem de base interpretativa para o entendimento do Direito Tributário, além do que, a maioria deles funciona como verdadeiras proteções aos cidadãos diante do poder de tributar do Estado. No pensamento de Machado (2008, p.33), “Tais princípios existem para proteger o cidadão contra os abusos do Poder. Em face do elemento teleológico, portanto, o intérprete, que tem consciência dessa finalidade, busca nesses princípios a efetiva proteção do contribuinte.” Limitações do poder de tributarNem mesmo o poder no Estado é absoluto, e qualquer que seja ele. As hipóteses de exercício desse poder estão todas na Constituição da República, tais como, quando e como o Poder Público pode tributar. O legislador da Carta Magna/88 quando entendeu que ali deveria inserir parâmetros que limitassem o poder de tributação do Estado, o fez, principalmente 11 para dar à sociedade de maneira geral uma segurança jurídica, buscando certa estabilidade nas relações Estado x Contribuinte. Na esfera tributária as limitações ao poder de tributar estão contidas no conjunto de normas, quer sejam, princípios ou regras que determinam as condutas a serem adotadas por aqueles entes políticos dotados de competência tributária plena. Na lição de Amaro (2011, ps. 128/129), “o exercício do poder de tributar supõe o respeito às fronteiras do campo material de incidência definido pela Constituição e a obediência às demais normas constitucionais ou infraconstitucionais que complementam a demarcação desse campo e balizam o exercício daquele poder”. Em outras palavras essas limitações servem para deixar claro o que pode ser tributado e como será a tributação. Para a doutrina, as situações que caracterizam não observância dos limites fixados enseja a inexistência da respectiva competência. Exemplo é oferecido pelo prof. Luciano Amaro (2011, p.132), que afirma que determinada lei que pretendesse tributar situação imune não feriria tão somente o preceito constitucional da imunidade, mas sim exerceria competência tributária que não lhe é autorizada. Princípio da estrita legalidade tributária (art.150,I,CF) Art. “150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”: Inciso I – exigir ou aumentar tributos sem lei que o estabeleça; O entendimento do princípio da legalidade tributária vai mais além do que a possibilidade de que nenhum tributo pode ser instituído ou majorado sem que seja através de lei, ou seja, somente é possível criar-se nova regra-matriz de incidência ou majorar-se a base de cálculo ou a alíquota através de lei regularmente instituída, da mesma maneira, ficam também adstritos à lei, os casos de diminuição ou redução da base de cálculo ou alíquota. 12 Segundo Amaro (2011, p.134), esse princípio é multissecular, tendo sido consagrado na Inglaterra, na Magna Carta de 1215, do Rei João Sem Terra, a quem os barões ingleses impuseram a necessidade de obtenção prévia de aprovação dos súditos para a cobrança de tributos (no taxation without representation). E mais, além de necessária e obrigatoriamente estar o tributo previsto legalmente, dita previsão legal, por mais que seja geral e abstrata, deve ser bem específica e detalhada, contendo todos os elementos do determinado tributo, como salienta Sacha Calmon Coelho (2011, p.178), que: “a lei fiscal deve conter todos os elementos estruturais do tributo: o fato jurígeno sob o ponto de vista material, espacial, temporal e pessoal (hipótese de incidência) e a conseqüência jurídica imputada à realização do fato jurígeno (dever jurídico). Equivale dizer que a norma jurídico-tributária não pode ser tirada do ordo júris nem sacada por analogia, deve estar pronta na lei, de forma inequívoca, obrigando o legislador a tipificar os fatos geradores e deveres fiscais.” Podemos inclusive dar a esse princípio da estrita legalidade tributária uma interpretação um pouco mais especial, analisando-o sob dois pontos, o da legalidade formal e da legalidade material. No que concerne à legalidade formal, tem-se que a norma tributária deve ser colocada no mundo jurídico obedecendo à tramitação legal a ser adotada para a sua criação e, relativamente à legalidade material, obriga que a lei instituidora apresente em seu bojo todos os elementos descritivos do fato jurídico e possível conteúdo obrigacional entre as partes. A par da obrigatoriedade da reserva legal, a própria Constituição da República, trata de algumas exceções trazendo em seu artigo 153, § 1º a faculdade dada ao Poder Executivo, de alterar as alíquotas dos impostos sobre a importação de 13 produtos estrangeiros; sobre a exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; sobre os produtos industrializados e sobre as operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, desde que, atendidas as condições e os limites da lei. Da mesma forma, no artigo 177, § 4º, I, b, também é facultado ao Poder Executivo reduzir e restabelecer a alíquota sobre a contribuição de intervenção no domínio econômico, relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e de seus derivados, gás natural e seu derivados e álcool combustível. Não podemos esquecer que a Constituição não deu a liberdade ao Poder Executivo de fixar por ato próprio, as alíquotas de tais tributos, que deverão ser sempre através de lei, como bem ensina Amaro (2011, p.139), “mesmo em relação aos tributos cujas alíquotas, nas citadas circunstâncias, podem ser alteradas sem lei formal, é preciso sublinhar que sua criação depende, em todos os seus aspectos, de definição em lei (formal), mesmo quanto às alíquotas. Não pode a lei criar o tributo sem lhe precisar a alíquota.” Princípio da igualdade tributária (art.150,II,CF) Art. “150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”: ... Inciso II – instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; De toda a sorte, verifica-se aqui tão somente uma igualdade formal, perante a lei posto que esta deva ser geral e abstrata. Todos aqueles que se encontrem em equivalente situação econômica ou jurídica devem ter tratamento igualitário. A 14 tributação deve buscar a justiça social e considerar a capacidade contributiva do sujeito passivo. Amaro (2011, p. 158), referindo-se a Celso Antonio Bandeira de Melo (O conteúdo jurídico do princípio da igualdade. p. 30) afirma nem pode o aplicador, diante da lei, discriminar, nem se autoriza o legislador, ao ditar a lei, a fazer discriminações, visando o princípio à garantia do indivíduo, evitando perseguições e favoritismos. Para um entendimento mais apurado do já consagrado princípio da isonomia tributária, é primordial que se consiga comparar e também distinguir os iguais e os desiguais, "Tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais na medida em que se desigualam"(Aristóteles). Atrelado de maneira bastante íntima ao principio da igualdade está o princípio da capacidade contributiva, art. 145, § 1º,CF, entender-se-á que devam ser tratados, pois, com igualdade aqueles que tiverem a mesma capacidade contributiva, e com desigualdade os que apresentarem riquezas diferentes e, portanto, diferentes capacidades de contribuir. Princípio da capacidade contributiva (art.145, § 1º,CF) Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: ... § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicasdo contribuinte. Entendido por muitos, que se trata acima de tudo de uma conseqüência do princípio da igualdade, sendo dele um sub-princípio, que também está intimamente ligado ao princípio do não-confisco, respaldando o direito 15 fundamental da propriedade, previsto na Constituição da República, na visão de Carrazza (2011, p.99), "o princípio da igualdade, exige que a lei não discrimine os contribuintes que se encontram em situação jurídica equivalente, discrimine, na medida de suas desigualdades, os contribuintes que não se encontrem em situação jurídica equivalente. No caso dos impostos, estes objetivos são alcançados levando-se em conta a capacidade contributiva das pessoas. A lei deve tratar de modo igual os fatos econômicos que exprimem igual capacidade contributiva.” Pode-se entender como a necessidade de se criar um equilíbrio, ou um nível perfeito de tributação, que permita a todos colaborarem com o Estado, mas na medida de suas possibilidades econômicas, sem exaurir os recursos de seu maior parceiro –o contribuinte-, pois dessa forma todos teriam condições de fazer a sua parte, possibilitando ao Estado, uma maior eficácia na realização da satisfação das necessidades coletivas. Princípio da irretroatividade tributária (art.150,III,a,CF) Art. 150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”: ... Inciso III –- cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; Este princípio determina que a lei deve anteceder ao fato por ela escolhido como nascedouro do tributo. Não haverá retroação da lei tributária para alcançar fatos geradores pretéritos, ocorridos na vigência da lei anterior, pois o preceito constitucional expresso no inciso XXXVI, do art. 5º, conhecido como princípio da 16 segurança jurídica, dita que: “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Princípio da anterioridade tributária ou da não-surpresa (art.150,III,b,CF) Art. “150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”: ... Inciso III –- cobrar tributos: ... b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; Pelo princípio da anterioridade, não é possível cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. No Brasil, o exercício financeiro coincide com o ano civil (artigo 165 da Constituição Federal e Lei nº 4.320/64, art. 34). O dispositivo constitucional contém o vocábulo “cobrar”, o que pode ensejar o entendimento, numa interpretação literal, de que publicada uma lei em 2013, o tributo só poderia ser cobrado em 2014, mas poderia ser “exigido” (a partir de 1º de janeiro de 2014) sobre fatos geradores ocorridos em 2013, após a promulgação da lei. Tal princípio da anterioridade foi inserido, pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, no rol das garantias individuais. Em conseqüência, nenhuma norma, ainda que veiculada por emenda constitucional, poderá abolir tal princípio, por força do disposto no art. 60, §4º, IV, da CF/88. Entende-se, por conseguinte, que não só qualquer norma que pretenda acabar com o princípio da anterioridade será tida como inconstitucional, mas, também, toda aquela que tenha a intenção de 17 criar alguma outra exceção além daquelas já existentes, que compõe a relação abaixo. Não estão sujeitos ao princípio da anterioridade tributária (art.150,III,§ 1º,CF): Art. 150. ... 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. I I - Imposto sobre importação – art. 153, I; I E - Imposto sobre exportação – art. 153, II; I PI - Imposto sobre produtos industrializados – art. 153, IV; I O F- Imposto sobre operações financeiras – art. 153, V; Imposto extraordinário por motivo de guerra externa – art. 154, II; Empréstimos compulsórios por motivo de guerra e calamidade pública – art. 148, I. Princípio da anterioridade nonagesimal ou noventena ou da anterioridade mitigada (art.150,III,c,CF) Art. “150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”: ... Inciso III –- cobrar tributos: 18 ... c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; Outro enfoque do princípio da não-surpresa tributária vem balizado pelo que se chama de espera nonagesimal ou noventena para a lei adquirir eficácia. Dispõe referido artigo que é vedado cobrar tributos antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Anteriormente referida situação era aplicável apenas para as contribuições sociais, notadamente aquelas destinadas ao financiamento da seguridade social, (art. 195, § 6º, CF/88), passou a informar também, os demais tributos, salvo as exceções a seguir tratadas. Não estão sujeitos ao princípio da anterioridade nonagesimal (art.150,III,§ 1º,CF): Art. 150. ... 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. I I - Imposto sobre importação – art. 153, I; I E - Imposto sobre exportação – art. 153, II; I R - Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza – art.153, III; I O F- Imposto sobre operações financeiras – art. 153, V; Imposto extraordinário por motivo de guerra externa- art. 154, II; 19 Empréstimos compulsórios por motivo de guerra e calamidade pública – art. 148, I. Princípio do não-confisco (art.150,IV,CF) Art. “150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”: ... Inciso IV – utilizar tributo com efeito de confisco; A primeira verificação que se faz é a de que a citada vedação constante na norma constitucional é de caráter genérico, portanto, de ser aplicada a toda e qualquer tributação. Posteriormente, a clara compreensão de que a instituição do tributo e consequente cobrança tributária a ser efetuada pelo Poder Público, por mais que às vezes deva ser meramente arrecadatória, não pode, e em hipótese alguma, afrontar ao direito de propriedade, também consagrado pela Carta Magna/88 em seu artigo 5º, XXII, fazendo com que o contribuinte seja esfolado em seu patrimônio em níveis superiores à razão e ao bom senso. Princípio do livre trânsito de pessoas e bens (art.150,V,CF) Art. “150 – Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios”: ... Inciso V – estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pelautilização de vias conservadas pelo Poder Público; 20 Este princípio determina que, ressalvada a cobrança de pedágio, que tem caráter de taxa, devendo por isso estar sujeito às mesmas limitações constitucionais previstas para todos os tributos, não pode nenhum tributo de natureza interestadual ou intermunicipal impedir a livre circulação de pessoas e bens. Tal preceito existe para que o Poder Público não onere ainda mais a locomoção de pessoas ou de bens, como leciona Amaro (2011, p.169), “o gravame tributário seria uma forma de limitar esse tráfego. Em última análise, o que está em causa é a liberdade de locomoção (de pessoas e bens), mais do que a não discriminação de bens e pessoas, a pretexto de irem para outra localidade ou de lá virem; ademais, prestigiam-se a liberdade de comércio e o principio federativo.” Princípio da uniformidade geográfica (art.151,I,CF) Art. 151 – É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País. Advém do princípio basilar e constitucional do federalismo, onde, todos os entes da federação hão de ser tratados de maneira igualitária, para que a própria nação possa ter assegurada sua unidade política e econômica. Ao mesmo tempo em que a aplicação do principio da uniformidade geográfica nada mais é do que a própria aplicação do princípio da estrita igualdade, antes observado, principalmente verificado, quando admite “a concessão de incentivos fiscais destinados a 21 promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do país”. Oferece, pois, um tratamento desigual para os desiguais, na medida de suas desigualdades, autorizando algumas discriminações quando presentes determinados requisitos, quais sejam: Tratar-se de um incentivo fiscal regional; Em favor de região ou regiões mais pobres e menos desenvolvidas. Tais incentivos, entretanto, jamais podem se transformar em privilégios de quem de alguma forma detém o poder econômico-financeiro nessas mesmas regiões, devendo sempre ser o sentido da promoção do desenvolvimento sócio-econômico daquela região menos favorecida. O princípio da uniformidade geográfica na visão de Moraes (2013, pág.907), “Ao consagrar o principio da uniformidade, vedando que a União institua tributo que não seja uniforme em todo território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação ao Estado, ao Distrito Federal ou a Município, o art. 151, I, reforça a igualdade federativa pretendida pelo art. 19,III.” Princípio da Não Diferenciação da Procedência/Destino (art.152,CF) Art. 152 – É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. 22 Exatamente a mesma previsão contém o artigo 11 do Código Tributário Nacional (CTN), também conhecido como Princípio da Não-discriminação Tributária, em razão da Procedência ou do destino dos bens. Por esse princípio tem-se o entendimento que é vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios da federação a instituição de diferença tributária entre bens de qualquer natureza, levando em consideração a sua procedência ou destino. Note-se que tal limitação tributária não atinge a União, que pode estabelecer diferenças tributárias entre bens e serviços devido a sua procedência ou destino, quando se reportar a importação, exportação e fixação de alíquotas interestaduais do ICMS. 6. Hipótese de incidência e fato gerador É salutar denotar-se que a expressão hipótese de incidência, muito embora às vezes utilizada como sinônimo de fato gerador, ainda por boa parte da doutrina, na realidade tem significado diverso e distinto. Basta ver-se que uma coisa é a descrição legal de um fato, e outra coisa é o acontecimento desse fato. Uma coisa é a descrição da hipótese em que um tributo é devido. Machado (2011, p.127), sobre esta questão terminológica, diz que: “diversas têm sido as denominações utilizadas pela doutrina para designar o fato gerador. Entre outras: suporte fático, situação base de fato, fato imponível, fato tributável, hipótese de incidência. No Brasil tem dominado, porém, a expressão fato gerador, que se deve à influência do Direito francês, sobretudo pela divulgação, entre nós, do trabalho de Gaston Jèze, específico sobre o tema”. 23 A hipótese de incidência é indicativo claro da descrição, propósito da lei, de uma situação necessária e suficiente para que surja no mundo jurídico a obrigação tributária, enquanto fato gerador é o dizer da ocorrência, daquilo que está descrito na lei. A hipótese de incidência é a simples descrição, enquanto o fato gerador é a concretização da hipótese, é o acontecimento do que fora previsto. QUANDO SE CONSIDERA CONSUMADO O FATO GERADOR? Segundo o artigo 116, CTN, não dispondo a lei de modo diferente, considera-se ocorrido o fato gerador, e existentes os seus efeitos, quando: • Em se tratando de situação de fato, desde o momento em que se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que se produzam os efeitos geralmente, ou ordinariamente, delas decorrentes. • Em se tratando de situação jurídica, desde o momento em que tal situação jurídica esteja definitivamente constituída, nos termos do direito aplicável. É claro que na prática e principalmente para o leigo não é uma tarefa das mais fáceis, distinguir uma situação de fato de uma situação jurídica, porque nem sempre se consegue distinguir um conceito jurídico de um conceito não jurídico. Importante se faz, então, ter-se sempre a diferenciação ora proposta entre a hipótese de incidência e o fato gerador, porque é até esse ponto que se pode, no mais das vezes, como se mostrará a seguir, fazer um planejamento tributário coerente e robusto o suficiente para que produza os resultados pretendidos. 7. Obrigação tributária A relação tributária, como qualquer outra relação jurídica, surge da ocorrência de um fato previsto em norma, como capaz de produzir esse efeito. Em virtude do 24 princípio da legalidade, essa norma há de ser lei em sentido estrito, salvo em se tratando de obrigação acessória. A ocorrência do fato gerador faz com que apareça o primeiro momento da relação tributária, que é, consoante determinação do artigo 113,CTN, a obrigação tributária. Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária. Seu conteúdo ainda não é por si só, identificável, nem mesmo o sujeito passivo dessa relação já é de imediato formalizado, portanto, o Poder Público nesse primeiro momento, ainda não é capaz de cobrar o seu crédito. Machado (2011, p.122) leciona que a obrigação tributária é, “a relação jurídica emvirtude da qual o particular (sujeito passivo) tem o dever de prestar dinheiro ao Estado (sujeito ativo), ou de fazer, não fazer ou tolerar algo no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos, e o Estado tem o direito de constituir contra o particular um crédito”. De acordo com o referido artigo do Código Tributário Nacional, instalada a relação jurídica tributária, ao contribuinte são definidas, dois tipos de obrigações tributárias: as acessórias e as principais. 25 A obrigação principal advém da própria ocorrência do fato gerador do tributo, tendo como objeto o pagamento do referido tributo, correspondendo a uma obrigação de dar, qual seja, o seu valor pecuniário à Fazenda Pública. Sobre a obrigação principal e acessória se manifesta Paulsen (2010, p. 889), “o legislador do Código chama de obrigação principal ao vínculo abstrato que une o sujeito ativo ao sujeito passivo, tendo como objeto uma prestação pecuniária. É uma relação jurídica, de cunho patrimonial, estabelecida no conseqüente da regra- matriz de incidência. Por obrigação tributária acessória, entende-se como sendo aquela que exige do contribuinte um fazer, um não fazer ou até um tolerar. Decorrem da legislação tributária, e têm como principal objetivo viabilizar ao fisco o controle de fatos considerados como relevantes para o surgimento da obrigação principal”. Se o objeto da obrigação principal é o ato de pagar, como objetos da obrigação acessória têm-se todos os demais, pertinentes à relação tributária, quais sejam, a escrituração dos livros fiscais, a emissão de notas fiscais, entre outros. 8. Crédito tributário Se a obrigação tributária é o primeiro momento da relação tributária, o artigo 139, CTN, prevê como consequência dessa obrigação, o segundo momento da relação tributária, sendo este, o crédito tributário, que da obrigação tributária decorre, possuindo a mesma natureza daquela. Carvalho (2013, p.377) afirma que “crédito tributário é o direito subjetivo de que é portador o sujeito ativo de uma obrigação tributária e que lhe permite exigir o objeto prestacional, representado por uma importância em dinheiro". Em outras palavras, Machado (2011, p.172) define, "crédito tributário é o vínculo jurídico, de natureza obrigacional, por força do qual o Estado (sujeito ativo) pode 26 exigir do particular, o contribuinte ou responsável (sujeito passivo), o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária (objeto da relação obrigacional)". O crédito tributário, em um sentido bastante peculiar, pressupõe liquidez e certeza decorrentes do lançamento. Por conseguinte, o crédito tributário só é constituído com o lançamento. Decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Muitos doutrinadores nem mesmo diferenciam obrigação tributária do crédito tributário, mas para que mais facilmente fiquem entendidos tais institutos, é significativo ter-se mostrado essa distinção, pois servirá de alicerce para o entendimento do estudo que ora se propõe. Ainda pode-se aclarar um pouco mais, utilizando-se por analogia, institutos do Direito Civil, quando o mesmo trata das obrigações líquidas e ilíquidas, sendo essas, caso de obrigação tributária, e aquela, o crédito tributário (obrigação líquida), devidamente constituído. 9. Lançamento tributário Para que seja constituído o crédito do sujeito ativo (fisco), necessário que o mesmo, através de suas autoridades competentes, desempenhe atividade vinculada e obrigatória, sob pena de crime de responsabilidade funcional, como definido pelo artigo 142, da Lei nº 5172/66 (CTN): Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. 27 Referida atividade trata do procedimento administrativo capaz de verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinando a matéria tributável, calculando o montante do tributo devido, identificando o sujeito passivo e, sendo caso, propondo a aplicação da penalidade cabível, sendo esse o lançamento tributário, que é a nascente do crédito tributário. De acordo com o Código Tributário Nacional esse procedimento de constituição do crédito tributário poderá ser feito através de três modalidades: Direto ou de ofício: Quando é feito por iniciativa da autoridade administrativa, independentemente de qualquer colaboração do sujeito passivo, art.149, CTN. Ex. IPVA e IPTU; Por declaração ou misto: É o lançamento feito em face de declaração fornecida pelo contribuinte ou por terceiros, quando um ou outro presta à autoridade administrativa informações quanto à matéria de fato indispensável à sua efetivação, art. 147, CTN. Ex. Apuração do imposto de importação decorrente de declaração do passageiro que desembarca do exterior; Por homologação: É o lançamento feito quanto aos tributos cuja legis-lação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa no que concerne à sua determinação. Também chamado por boa parte da doutrina de “autolançamento”, é importante realçar que ele somente se opera pelo ato em que a autoridade, tomando conhecimento da determinação feita pelo sujeito passivo, expressamente a homologa, art.150, CTN, nessa esteira se posiciona Amaro (2011, p. 373)“ Com isso, proscreve-se, no direito positivo, a idéia de “autolançamento” ou de lançamento feito pelo próprio devedor”. Exs. DCTF e GIA. Se tal procedimento não ocorrer, decairá o direito da Fazenda Pública de constituir seu crédito, não tendo qualquer respaldo legal em contrário. 10. Prescrição e decadência 28 Art. 173, (CTN) - O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. Por decadência, entende-se, mediante a compreensão do referido artigo com seus incisos e parágrafo único, a extinção do direito da Fazenda Pública de constituir o crédito tributário, através do lançamento, em vista do transcurso do prazo de cinco anos, contados a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento deveria ter sido efetuado, a não ser que tenha sido iniciada qualquer medida indispensável ao lançamento, tendo sido, devidamente notificado o contribuinte, quando o prazo deverá começar a ser contado da data da notificação. Também, e pelo mesmo prazo estará extinto o direito de constituição do crédito tributário, contados a partir da data em que tiver sido anulado qualquer vício de forma no lançamento tributário efetuado anteriormente. Ainda sobre a decadência esclarece-se que também para o contribuinte pode decair seu direito dentro do mesmo prazo previsto de 5 (cinco) anos,colhe-se ensinamento do insigne Carvalho (2013, pág.482) “ A decadência ou caducidade é tida como fato jurídico que faz perecer um direito pelo seu não exercício durante certo lapso de tempo. Para que as relações jurídicas não permaneçam indefinidamente, o sistema positivo estipula certo período a fim de que seus titulares de direitos subjetivos realizem os atos necessários à sua preservação, e 29 perante a inércia manifestada pelo interessado, deixando fluir o tempo, fulmina a existência do direito, decretando-lhe a extinção.” E, por prescrição, como sendo a perda do direito de ação em relação à cobrança do crédito tributário, em vista do transcurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados da data do lançamento válido (constituição definitiva do crédito), segundo previsão do artigo 174, CTN. Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva. Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; II - pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. Dessa maneira se posiciona Machado (2011, p.223) acerca da prescrição no Direito tributário, "O CTN, todavia, diz expressamente que a prescrição extingue o crédito tributário (art. 156, V). Assim, nos termos do Código, a prescrição não atinge apenas a ação para cobrança do crédito tributário, mas o próprio crédito, vale dizer, a relação material tributária". Ainda sobre a prescrição no âmbito tributário colhe-se decisão do Superior Tribunal de Justiça, assim ementado: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. VIOLAÇÃO DO ART.535 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. NÃO OCORRÊNCIA. TRIBUTOS SUJEITOS A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO, GIA OU SIMILAR PREVISTA EM LEI. CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PRAZO PRESCRICIONAL. REGIME ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LC 118/05. INÉRCIA IMPUTADA À EXEQUENTE. 30 1. Não há violação do art. 535 do CPC quando o Tribunal de origem resolve a controvérsia de maneira sólida e fundamentada, apenas não adotando a tese do recorrente. 2. Nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, em que o pagamento do tributo é antecipado pelo contribuinte, aplica-se o prazo decadencial previsto no art. 150, § 4º, do CTN, tendo a Fazenda Pública, em regra, cinco anos para homologar o pagamento antecipado, a contar da ocorrência do fato gerador. 3. Todavia, nessa modalidade de lançamento por homologação, quando o contribuinte deixa de declarar e antecipar o pagamento do tributo devido, não há o que ser homologado pelo Fisco, dando espaço à figura do lançamento direto substitutivo a que alude o art. 149 do CTN. 4. Nesses casos de ausência de antecipação do pagamento pelo contribuinte, a mera apresentação de Guia de Informação e Apuração do ICMS - GIA, ou de outra declaração semelhante prevista em lei, tal qual a Declaração de Importação apresentada na espécie, perfaz modalidade de constituição do crédito tributário, e o valor declarado pode ser imediatamente inscrito em dívida ativa, independentemente de qualquer procedimento administrativo de lançamento, ou notificação do contribuinte. 5. Hipótese em que o Tribunal de origem afirmou que o crédito foi constituído no momento em que o contribuinte entregou as declarações de importação e não efetuou o recolhimento do ICMS. 6. Assim, não há se falar em decadência em relação aos valores declarados, mas apenas em prescrição do direito à cobrança, cujo termo inicial do prazo quinquenal é o dia útil seguinte ao do vencimento, quando tornam-se exigíveis, seguindo a inteligência do art. 174 do Código Tributário Nacional. 7. Restando incontroverso nos autos que o contribuinte declarou e não recolheu valores relativos ao ICMS, em 12/11/1993 e 2/12/1993, e ocorrida a citação por edital em 23/8/1999, deve a execução fiscal ser extinta por força da prescrição, mormente quando afastada na origem a aplicação da Súmula 106/STJ. 31 8. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp.1145116/PR, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/04/2014, DJe 07/05/2014). Síntese Os tópicos estudados neste capítulo mostram com clareza as possibilidades legais que servem necessária e obrigatoriamente como parâmetros para o Estado instituir tributo, possibilidades estas, baseadas, sobretudo, nos princípios norteadores do direito tributário. Tais princípios conjugados com outros tantos do Direito, aplicados em cada caso concreto, dão ao mesmo tempo ao contribuinte a segurança jurídica e a certeza de que o Poder Tributante não poderá de um momento para outro surpreendê-lo com a cobrança de tributos que nem sequer existiam, ou mesmo com a majoração imediata dos já existentes. Estudamos pontualmente alguns institutos constantes na legislação tributária que existem exatamente para mostrar aos sujeitos envolvidos na relação tributária, seus direitos e obrigações, ao mesmo tempo em que, servem para aplicar as sanções devidas pela falta de cumprimento dessas obrigações, tanto para o sujeito ativo, quanto para o sujeito passivo. Mesmo que de forma muito sucinta procuramos trazer a análise do direito tributário, especialmente no que concerne ao tributo, às espécies tributárias e à relação tributária com todas as suas particularidades. Questões para revisão 1) Com base nas afirmações abaixo, assinale a alternativa correta quanto a Competência Residual: I) Somente a União tem essa competência; II) Somente através de lei complementar; III) Não pode ser cumulativa; 32 IV) Desde que não tenham fato gerador ou base de cálculo dos impostos discriminados na Constituição Federal. a) Apenas estão corretas as alternativas I e II. b) Somente estão corretas as alternativas II e III. c) Estão corretas as alternativas III e IV. d) Todas as alternativas estão corretas. e) Somente estão corretas as alternativas I, II e III. 2) Alguns dos os princípios tributários estão estampados na CF/88 em seu art. 150 e seus incisos. Analise os principios abaixo e em seguida indique a alternativa correta: I) Princípio da anterioridade; II) Princípio do capacidade contributiva; III) Princípio da estrita legalidade; IV) Princípio da uniformidade geográfica. a) Estão corretas apenas as alternativas I, II e III. b) Estão corretas as alternativas I e III. c) Somente estão corretas as alternativas II e IV. d) Todas as alternativas estão corretas. e) Estão corretas as alternativas I e IV. Questões para reflexão 1) Para se adquirir a capacidade tributária passiva é preciso ter capacidade civil? 2) Todo tributo é imposto? Para saber mais Sugerimos algumas obras que darão a você um maior embasamento para o entendimento do estudo que fizemos neste capítulo: CARVALHO, Paulo de B. Curso de direito tributário. 25 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 33 COELHO, Sacha C. N. Curso de direito tributário brasileiro. 11 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. MACHADO, Hugo de B. Curso de direito tributário. 29 ed. São Paulo: Melhoramentos, 2008. Consultando a legislação Se você quiser se aprofundar um pouco mais nos assuntos abordados neste capítulo, consulte: BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 25 nov.2013. _____. Lei n. 4.320, de 17 de março de 1964. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 23 mar. 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm>. Acesso em: 25 set. 2013. _____. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, 31 out. 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 05 mai. 2014.
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