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Karen Rose Smith SEMENTE DE AMOR

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Semente De Amor
Karen Rose Smith
(Bianca 745)
�
PRÓLOGO 
Véspera de Natal 
Talvez seja melhor você voltar à festa antes de mim — sugeriu Lucas Hunter, afivelando o cinto.. 
Falara em tem mais rude do que pretendera. Atordoado com aquela paixão que não entendia. Ante o desejo repentino e arrebatador, convidara a mulher à privacidade de seu escritório, onde conversaram um pouco e então.... 
O desconforto entre eles se traduzia no silêncio absoluto. Olívia abotoou a blusa de seda marfim e endireitou a saia. Encarou-o pela primeira vez após terem feito amor no sofá de couro preto. 
— Evitaremos comentários se eu voltar primeiro. — A voz de Olívia saia levemente rouca, devido ao esforço aeróbico que caracterizara a cena de amor. 
Cena de amor. Pobre escolha de palavras. 
De algum modo, a atração que sempre sentia quando encontrava Olívia McGovern nos corredores da Barrington Corporation cresceu quando começaram a conversar na festa. Beijaram-se sob a decoração de azevinhos e foram para o escritório dele. Após revelarem que cada qual passaria o Natal sozinho, começaram a se abraçar no sofá.
Ele só tomara uma taça de ponche e não podia culpar a bebida. 
E, para completar, ela era virgem! 
Uma virgem.
Era totalmente inesperado. Ainda mais considerando os rumores que circulavam sobre um possível envolvimento de Olívia com Stanley Whitcomb, com base no fato de ela permanecer até mais tarde no escritório dele, na familiaridade com que se tratavam e no olhar apaixonado que ela lhe dirigia quando que ninguém a observava. 
— Lucas... 
— Não vamos tentar explicar o ocorrido, Olívia. Culpe o feriado. Culpe as palmeiras se agitando ao vento. Não neva em Phoenix, mas o Natal tem seu charme. Simplesmente, sucumbimos ao clima da estação. Lamento se... Quero dizer, se tivesse me contado que era sua primeira vez... 
Ela enrubesceu, envergonhada. 
— Nunca pensei que pudesse acontecer... 
— Nenhum de nós pensou. — O olhar vulnerável dizia que estava tão surpresa quanto ele com o desejo ardente que os tomara. 
Devia ter em mente que ela era uma trainee, ainda estava estudando para prestar o exame da Ordem dos Advogados e, ainda por cima, tinha um envolvimento com seu chefe. Após seu ultimo relacionamento, Lucas não pretendia confiar em mulher alguma além de uns poucos minutos de prazer. 
— Volte à festa, Olívia. Nada aconteceu aqui que não possa ser esquecido.
Ela hesitou, passou a mão nos longos cabelos ruivos e destrancou a porta. Ao ficar só, Lucas convenceu-se de que poderia esquecer o ocorrido. 
Poderia e esqueceria. 
Sinos natalinos badalavam no salão. Respirando fundo, voltou a sentir o perfume de Olívia. Lembrou-se do toque da pele sedosa, do prazer intenso quando a tomara. 
Esqueceria. 
Não abriria seu coração a nenhuma mulher novamente. 
�
CAPÍTULO I
Olívia circundou os arbustos junto à parede da entrada lateral da Barrington Corporation. O aroma cítrico a acompanhava sob a brisa fria de começo de fevereiro. Normalmente, gostava da fragrância, mas nas últimas semanas.
Agora sabia por que não conseguia manter o café da manhã no estômago, por que optava por chá na hora do almoço, que vírus era aquele que a atacara após o Natal. Não fora nenhum vírus. 
Conforme lhe informara o médico em seu horário de almoço: Estava grávida. 
Percorreu o corredor alheia às tonalidades azul, cobre e salmão escuro da ala leste da Barrington. Entrou no elevador e apertou o botão para o terceiro andar, onde funcionava o departamento jurídico. Tinha a vida planejada e um objetivo: tornar-se uma advogada competente. E nutria um sonho de ter um companheiro estável: seu chefe. 
Agora, porém, o que faria?
Se não tivesse beijado Lucas Hunter, se não tivessem conversado sobre o Natal solitário que os aguardava, se não tivessem se conectado de forma inexplicável naquela noite, culminando com o ato sexual no sofá do escritório! 
Era um comportamento inusitado para ela. Fora sua primeira vez com um homem, oras! E a seqüência? Vestiram-se em meio a um silêncio constrangedor. Após um breve diálogo, que não ajudara em nada, voltaram à festa individualmente, como se nada tivesse acontecido. 
Aquela única noite, a indiscrição, a excitação que sentira seis meses antes, quando Lucas começara a trabalhar na Barrington, iriam mudar a sua vida para sempre! 
Pousou a mão no estômago enquanto o elevador subia. Amaria aquela criança não importava o que acontecesse. 
Quando as portas do elevador se abriram, Lucas estava lá parado, atraente como sempre. Usava o mesmo terno azul-marinho da festa de Natal. Os cabelos loiros caíam sobre a testa displicente, como na ocasião em que os afagara. 
— Olá, Olívia. 
Sentindo boca e mãos secas, esperou a voz grave de Lucas reverberar através de seu estômago e estendeu os braços ao longo do corpo. Recomposta, identificou nos olhos muito azuis dele educação e distanciamento. Saiu do elevador.
— Boa tarde, Lucas. 
Endireitou os ombros e caminhou para o escritório de Stanley Whitcomb tentando esquecer-se de que Lucas era o pai do seu filho. Precisava refletir antes de decidir sobre o bebê... e Hunter. Quando deveria lhe contar. Se deveria contar. 
Percorrendo o corredor, lembrou-se dos comentários que ouvira sobre Lucas. Abriu a porta do escritório, saudou a secretária de Stanley, June, com o melhor sorriso que conseguiu esboçar e sentou-se em seu lugar. Trabalhara como estagiária meio-período quando freqüentava a faculdade de Direito e passara a tempo integral após o verão, ocasião em que perdera o exame da Ordem dos Advogados. Em agosto, fora a Tucson para realizar as provas, estava preparada e disposta a começar seu futuro. A caminho do exame, porém, atrasara-se por conta de um acidente de trânsito. Se um candidato se atrasasse, ainda que cinco minutos, em qualquer um dos dois dias de exame, estava automaticamente eliminado e deveria aguardar a próxima oportunidade. Nada a faria desistir de fazer as provas no final de fevereiro, em Phoenix. Providenciaria para estar no local com bastante antecedência. 
A porta da sala de Stanley estava aberta e ele lhe trouxe uma pasta. Os fios grisalhos em seus cabelos escuros lhe davam sobriedade. Tinha quase cinquenta anos, mas mantinha-se em forma. Viúvo há dez anos, ele lhe oferecia a estabilidade que sempre procurara em homens. Era seu mentor desde sua entrada na Barrington. Queria que ele a notasse como mulher, e não apenas assistente. 
 Mas agora... 
Stanley pousou a pasta em sua mesa; 
— Estes são os novos contratos para gerentes... Olívia, você está pálida. Sente-se bem? 
Os hormônios deviam estar agindo em seu cérebro. Só conseguia pensar em Lucas, na véspera de Natal e no sorriso do médico ao lhe informar que o bebê chegaria em Setembro. 
De repente, percebia a gravidade da situação. 
— Na verdade, estou me sentindo um pouco estranha. Posso levar os contratos para casa? — Nunca pedira dispensa antes, exceto para o exame da Ordem. 
— Claro que pode — concordou Stanley. — Telefone, se tiver 
alguma dúvida. 
Stanley era um chefe maravilhoso. Só não tinha a aura de a sensualidade... 
Levantou-se, sorriu para o chefe, pegou a pasta, a bolsa e deixou o escritório. 
Chegando em casa, prepararia um chá com leite. Ao passar em uma rua comercial, viu uma loja de produtos infantis, impulsivamente, retornou contornando o quarteirão e estacionou próximo da loja. Nunca agira assim antes. Prometera que seria confiável e madura ao se dar conta de que a espontaneidade e ambição do pai o levavam para longe de casa, magoando sua mãe. Maturidade significava planejamento. responsabilidade e empenho para atingir objetivos.
Entrou na loja e viu-se entre berços, móbiles, carrinhos e cadeiras. Sentia-se como Dorothy no país de Oz. Percorreu fileiras de carrinhos e chegou à seção de roupas. Parou diante de camisetas de bebês. Eram tão pequeninas! Avançou para a seção infantil e deu-se conta da grandiosidade que era estar grávida e ser mãe. Um fato glorioso e assustador. 
Fechou os olhos por uma instante e imaginouo rosto de Lucas Hunter. Ele tinha o direito de saber que seria pai. 
Saiu da loja e desejou que Lucas não tivesse tomado o avião para algum lugar. Fora contratado por Rex Barrington II para conduzir as negociações de uma delicada fusão de empresas. Em seguida, surgira outro trabalho e ele continuou na Barrington. Nas primeiras semanas, circulara o boato de que dispunha de um avião e podia ir aonde quer que Rex necessitasse de seus serviços. Comentava-se também que ele tomava o avião para algum lugar todo fim de semana. A área de pessoal informava que era solteiro. 
Mas podia muito bem estar envolvido com alguém. Olívia sentiu o coração disparar à perspectiva de lhe contar a novidade. 
As informações relativas ao hotel em Grande Junction, Colorado, que a Barrington pensava em adquirir, deveriam transmitir os dados como uma calculadora. Entretanto, desde que vira Olívia no elevador...
Ainda se espantava com seu comportamento na festa de Natal, o encantamento com o rosto de Olívia, o sorriso, o olhar. 
A batida leve na porta foi uma interrupção bem-vinda. Dispensara a secretária, uma vez que sua contratação na Barrington era temporária. Visitava as propriedades de interesse da corporação, coordenava reuniões e, ao mesmo tempo, trabalhava no escritório. 
— Entre — autorizou, Imaginando que fosse um mensageiro ou Rex Barrington em pessoa. 
Quando Olívia abriu a porta, Lucas ignorou a palpitação no coração. Ela estava pálida, mas linda como sempre. Vestia um conjunto verde que realçava a cor de seus olhos. Antes que se levantasse, ela avançou, as mãos firmes sobre as alças da bolsa, e disparou: 
— Estou grávida. 
Lucas aprendera que a compostura era o segredo ao lidar com pessoas, aceitar o desafio, aliviar as tensões. 
— E o que quer de mim? — indagou calmo, como se discutissem negócios. 
Ela demonstrou surpresa e, então, mágoa. Não acreditava que ver a mágoa nos olhos de uma mulher novamente sem achar que se tratava de manipulação. Antes que ele pudesse reavaliar a resposta e identificar a melhor tática, Olívia. deu meia-volta e deixou o escritório. 
Lucas levantou-se e saiu atrás dela. Quando chegou ao corredor não a viu diante dos elevadores, mas ouviu uma batida que podia ser a porta da escada de incêndio. Como ela podia andar tão rápido com aqueles saltos altos. 
No compartimento da escada, viu uma sombra esverdeada contornando o ultimo lance.
— Olívia, espere! Ou ela não queria ouvi-lo, ou não se importava. Finalmente conseguiu interceptá-la no estacionamento enquanto procurava a chave do carro. Ela o ignorou e Lucas agarrou-a pelo cotovelo.
— Precisamos conversar. 
Ela se desvencilhou. 
— Acho que não. 
— Olívia, você me pegou de surpresa. 
Ela o encarou.
— Não espero que faça nada a respeito. Só achei que tinha o direito de saber. 
Ele precisava perguntar: 
— Tem certeza de que o bebê é meu? 
Além da mágoa, ele agora via raiva nos olhos dela. Olívia encaixou a chave e abriu o carro. 
— Olívia... 
— Não o teria procurado se não tivesse certeza. Nunca dormi com outro homem, Lucas, então, há dúvida de que o bebê é seu. 
Ela tomou o lugar atrás do volante, porém, antes que pudesse fechar a porta, ele a deteve. 
— Vamos discutir esse assunto. Aqui, na sua casa, ou na minha. Onde prefere? 
Após alguns segundos de revolta, Olívia informou 
— Moro a dez minutos daqui. 
— Eu vou atrás de você. 
Saindo da corporação, tendo o carro vermelho de Olívia na mira, Lucas tentava raciocinar. Olívia estava grávida de um filho seu. Nunca dormira com outro homem; 
No mês anterior, notara que ela passara mais e mais tardes com Stanley e calculara que estavam tendo um relacionamento. E se estivesse mentindo? Celeste mentira durante meses, dizendo que o amava, jurando que adoraria ter filhos. Até que a levou à fazenda de seus pais, contou-lhe sobre seu passado e presenciou, em primeira mão, que ela detestava criança. Celeste apaixonara-se por seu sucesso, por sua casa elegante, por seu avião, ansiando um futuro de caviar e champanhe. Por que não percebera antes que ela não era o tipo de mulher que se dedicaria a cuidar de dedinhos lambuzados e joelhos arranhados? Lucas queria tanto uma família que ficara cego para a verdade. Depois de Celeste, decidira que, quando quisesse uma família, ia adotar uma criança. Mas o desejo que experimentara com Olívia na festa de Natal era prova de que ainda podia se apaixonar. 
Mim e Wyatt, seus pais adotivos, o educaram bem, realçando a importância do trabalho, dos valores morais e suas conseqüências, nunca esperara aquela conseqüência. Percebeu que Olívia não tinha motivo para lhe mentir. Se a criança fosse de Stanley Whitcomb e ela o amava, não estaria com aquela expressão de quem perdeu o chão. 
Lucas seguiu Olívia até a região nordeste de Phoenix, até o bairro modesto de apartamentos padrão, bem diferente da área de seu condomínio fechado em Scottsdale. Tomou uma vaga reservada a visitantes no estacionamento e desceu do carro. Não conversaram enquanto percorriam um corredor que dava numa escada. 
 No apartamento, Lucas olhou ao seu redor. Olívia não vivia no luxo, mas a moradia era mais acolhedora que sua casa enorme. Na verdade, o sofá azul com almofadas de tapeçaria estampada, as mesas de pinho rústicas e o tapete de sisal traziam a mesma sensação de conforto que a sala de Mim e Wyatt na fazenda. Uma pequena mesa branca para dois ocupava um canto da sala. A cozinha era tão pequena que duas pessoas acabariam se acotovelando. 
Pálida e determinada, Olívia declarou: 
— Não preciso de sua ajuda e não a quero. 
Ele pensara ter superado o desejo por Olívia, mas a proximidade reavivava a sensação. 
— Se é meu filho, tenho meus direitos. 
— Direitos não o tornarão pai. Direitos não o tornarão responsável. Sei como os homens asseguram seus direitos quando convém! E se nem acredita que a criança é sua... 
Ele a segurou pelos ombros. 
— Nunca dormiu com Stanley Whitcomb? 
 Ela se enrijeceu. 
—Não, nunca dormi com Stanley nem com nenhum outro homem. E se não acredita em mim... 
O instinto e a lógica disseram a Lucas que ela estava sendo honesta. 
— Acredito em você.
De repente, ele sentia que a família que tanto almejara estava ao alcance de sua mão. Ora, não era especialista em tirar vantagem do inesperado e virar o jogo? Aprendera cedo a capitalizar o que tinha, o que ganhava e o que conseguia. Às vezes, um pequeno esforço o levavam exatamente onde queria. 
Inclinou-se e Olívia sobressaltou-se. Com a vantagem da surpresa, beijou-a. Não queria que ela pensasse, apenas que reagisse, que lhe desse um sinal de que o sonho que buscava não era absurdo. Introduziu a língua, buscou paixão Queria ter certeza de que o ocorrido na festa de Natal não fora uma alucinação. 
Relembraram a intimidade por algum tempo, até que Olívia se desvencilhou. 
— Por que fez isso? — questionou ela, parecendo abalada. 
Ele se recompôs, mascarando o desejo. 
— Para provar um ponto de vista. Há fogo entre nós, Olívia. Descobrimos isso no Natal e fugimos desde então. Quero que considere casar-se comigo. 
— Não pode estar falando sério. 
— Estou muito sério. Nasci ilegítimo. Nenhum filho meu vai carregar esse estigma. Serei pai para essa criança. É meu direito inalienável. E ele ou ela será tão minha responsabilidade quanto sua. 
Olívia estendeu as mãos.
— Lucas, é impossível. Nós nem nos conhecemos. 
— Acredite em mim, sei que dois pais são melhores que um e uma aliança com essa química tem melhor chance do que qualquer ilusão romântica que tenha. Pense no assunto. Ela empalideceu ainda mais e Lucas percebeu que era hora de recuar, de deixá-la refletir. 
— Pense em nosso filho, Olívia. Tente colocá-lo em primeiro lugar antes de tomar uma decisão. 
Lucas retirou-se, cônscio de que sua habilidade em negociações era essencial naquele momento. 
No dia seguinte, Olívia descansava no toalete feminino da corporação. Podia ter optado pela lanchonete, mas não estava com vontade de conversar com as colegas. Tentava tomar uma decisão que poderia mudarsua vida, e a de seu filho. O filho de Lucas. 
A porta se abriu e Molly Doyle cruzou o carpete salmão até a cadeira junto ao toucador. 
— O que foi Olívia? Você geralmente não pega a caneca de desaparece. 
— É que estou com multo trabalho... 
Olívia inclinou a cabeça, os cabelos loiros lisos acompanhando o movimento. 
— Atarefada ou não, costumava devorar a torta de queijo conosco. Ultimamente... 
— Molly era a amiga mais chegada de Olívia na Barrington. Sabia que podia confiar nela. Na noite anterior, pensara em telefonar a mãe, mas queria analisar bem a situação antes. 
— Estou grávida. 
Molly não parecia surpresa. 
— Eu já suspeitava. Quando você e Stanley vão se casar? Não só Molly como as outras quatro amigas que geralmente almoçavam juntas sabiam de sua queda por Stanley. Envergonhada e sem coragem, não contara a ninguém sobre o ocorrido na festa de Natal. 
— Lucas Hunter é o pai. 
Molly espantou-se, mas recuperou-se rápido. 
— Ouvi comentários de que você e Lucas haviam se beijado na festa, mas achei que era fofoca. — Refletiu. — E Stanley? 
— Tinha esperança de que Stanley me visse como mulher e profissional depois da aprovação no exame. 
Imaginou por que a esperança perdida não a perturbava tanto quanto o desejo no olhar de Lucas. 
— Contou a Lucas? 
— Ontem. 
— E? 
— Ele me pediu em casamento, mas não acho que queira de verdade. Como poderia? Nós nem nos conhecemos. 
Molly ergueu o sobrolho. 
— Só foi uma vez — explicou Olívia. 
— E basta. Quanto a Lucas não estar falando sério, não creio. Lucas Hunter é um homem que sabe o que faz. E, pelo que ouvi dizer, Rex Barrington confia nele justamente por isso. Respondeu ao pedido? 
— Não foi exatamente um pedido. Me pareceu mais uma proposta de negócios. E não respondi. Ele me disse para pensar no assunto.
— O que você quer? 
Olívia lembrou-se da festa na véspera de Natal. Relembrou o beijo de Lucas. Listou palavras relacionadas a ele: determinado, solitário e exímio negociador Podia viajar a qualquer instante e comentavam que seu trabalho na Corporação Barrington era temporário.
— Não sei o que quero. Tinha a vida toda planejada... — Respirou fundo ao tomar uma decisão. — Preciso encontrar urna solução. 
Molly acariciou-lhe o braço. 
— Pode não ser tão simples quanto resolver um problema de lógica ou um ajuste final num contrato. Não se esqueça de pensar com o coração. — Viu o relógio e franziu o cenho. — Tenho que voltar para a publicidade, não estou conseguindo me concentrar e estão aguardando o resultado.
— Jack? — indagou Olívia. Molly nutria uma amizade platônica com o chefe.
— Sonhei com ele na noite passada. E fico sonhando acordada. — Deteve-se. — Tem certeza de que ficará bem? 
Olívia sorriu, agradecida. 
— Ficarei bem. Só preciso analisar todas as opções. Obrigada.
— Disponha quando quiser. 
Molly abriu a porta e Olívia se levantou. Respirou fundo e fechou os olhos. Mais uma vez, viu Lucas, os olhos azuis, desafiando-a a tomar uma decisão, não só para si mesma, mas pensando na criança. 
Lucas sabia quando esperar para que um acordo fosse firmado e também quando se manter irredutível. Entrou no escritório de Whitcomb com urna caixa de sanduíches e refrigerantes. June o viu primeiro e sorriu. Ele assentiu e dirigiu-se a mesa de Olívia. Stanley saiu da sala dele. 
— Oi, Lucas. Será que me esqueci de alguma reunião? 
— Não. Vim convidar Olívia para almoçar no pátio. 
Stanley parecia tão surpreso quanto a secretária. Olívia recuperou-se do susto e olhou para o chefe. 
Ela o encarou e depois a Stanley, 
— Posso sair agora? — verificou com o chefe. 
— Claro. E não tenha pressa em voltar. Chegou antes de todos hoje. Lucas notou o rubor nas faces dela e imaginou se ficava sempre assim na presença de Whitcomb. Se Olívia realmente amasse o chefe... 
Sabia que o casamento era mais que flores e sonhos românticos. Acompanhara Mim e Wyatt ao longo dos anos. Casamento não era nenhum conto de fadas Exigia trabalho árduo... com prazer, períodos de fartura, quando se tinha sorte. 
Não duvidava de que encontraria o prazer com Olívia. O beijo do dia anterior era uma prova. Ainda agora, havia uma tensão crescente entre eles. Olívia pegou a bolsa e contornou a mesa. 
— Estou pronta. — Assim que tomaram o corredor, ela reclamou: 
— Você podia ter me avisado. 
— Não quis lhe dar chance de recusar — justificou Lucas.-— Mas lembrarei da próxima vez. 
Tomaram o elevador até o térreo. Lucas evitou a lanchonete e rumou para a porta que dava no pátio. Havia cadeiras e mesas de madeira distribuídas pelo ambiente amplo. Era cedo e eles estavam sozinhos, exceto por um grupo de empregados de outro setor. Escolheu uma mesa afastada, pousou a caixa e puxou uma cadeira. 
— Sempre vem trabalhar cedo? 
Olívia se sentou. 
— Não dormi bem esta noite. — Seus cabelos sedosos e ondulados caia por sobre os ombros e brilhavam sob a luminosidade intensa. 
— Pensando no bebê... ou no casamento? 
— Nos dois. 
Pelo menos, ela não descartara a possibilidade como sendo ridícula. Sentando-se a sua frente, ofereceu-lhe um sanduíche de atum e um copo de leite. 
— Quando é o exame? 
Olívia abriu a embalagem do sanduíche e recostou-se. 
— No fim do mês. 
Ele deu uma boa mordida no sanduíche e observou-a. Ela empalidecera novamente. 
— A gente sente como se faltasse uma eternidade para o exame e o resultado — comentou Lucas. 
Olívia sorriu. 
— Você se lembra? 
Ele estava com trinta e quatro anos e prestara o exame nove anos antes. Apesar disso, lembrava-se bem. 
— Tinha muito em jogo. Muitas pessoas aguardavam minha habilitação. 
— A sua família? 
— Não tenho família, Olívia. — Mas não queria conversar sobre aquele tema. Não naquele momento. Não ainda. — Não vai almoçar?
Ela pegou o sanduíche, levou-o à boca, mas sentiu náusea. Desistiu de almoçar. 
— Lucas, desculpe-me, mas esse cheiro de atum... 
De repente, ele entendeu, recolheu o almoço e levantou-se. 
— Tem certeza de que é só o atum? Talvez devesse ir ao médico. 
— Fui ao médico ontem. É enjôo matinal, só que fico assim durante quase todo o dia. 
— Você precisa se alimentar — aconselhou ele, experimentando um sentimento protetor inusitado. 
— Eu sei. Mas não suporto certos aromas e sabores... 
— O que posso lhe oferecer? 
— Lucas, realmente... 
— Vou lhe comprar outro almoço. Ou prefere ir a algum outro lugar? 
Ela cedeu ante tanta determinação. 
— Um sanduíche de peru seria ótimo. E uma soda... 
— Mais alguma coisa? 
— Não, obrigada. O médico disse que seria bem melhor se eu me alimentar a intervalos mais curtos. 
— Volto já. 
Lucas quase acrescentou: “não saia daqui”, mas Olívia não perecia disposta a ir a lugar algum. Ainda estava muito pálida. 
Enquanto aguardava o pedido na lanchonete, decidiu ir a uma livraria comprar material sobre gravidez. Informação. Informação era poder, e precisava de algum poder para convencer Olívia. 
À brisa leve que lhe embaraçava os cabelos, Olívia acalmou-se com a paz no pátio naquele dia ensolarado e sentiu o enjôo diminuir. Lucas parecia tão... confuso quanto a que atitude tomar. Logo ele, sempre à frente e no comando de todas as situações. Mesmo na véspera de Natal, ao revelar que passaria a data sozinho, dera a entender que seria por opção. Por que não passara o Natal com a mãe? Oh, sim. Rosemary McGovern viajara com outras professoras. Olívia apoiara a decisão. A mãe trabalhara com afinco, sacrificara-se para vê-la na faculdade Direito e ajudava-a em tudo. 
Lucas dissera que não tinha família. Nenhuma relação? Nenhum parente? Então, para onde ia todo fim de semana? 
Olívia avistou Lucas abrindo a porta de vidro. Ele era tão alto... absolutamente seguro... tão... A palavra que persistia era sexy, atributo que a levara àquela situação. Não era apenas o visual, era também o toque, o beijo. Dessa vez, ele trazia na bandeja um sanduíche de peru e soda. 
Ele sentou-se e Olívia o fitou, meio hipnotizada. Porque ficava assim toda vez que ele se aproximava? 
— Obrigada — murmurou, sem jeito. 
Elerelaxou e abriu a lata de refrigerante. 
— Disse que esteve pensando sobre o casamento. 
Era o sinal, a abertura para a discussão. Olívia não achava que tinham o que discutir. 
— Não posso me casar com você, Lucas. Você é um... um... estranho! 
— Não tão estranho — rebateu ele, orgulhoso e decidido quanto a seus propósitos. 
Olívia sentiu o pulso acelerado e mordeu o sanduíche para ganhar tempo. 
— Não vou corrigir um erro com outro. Precisamos mais que...
— Desejo é a palavra, Olívia. Diria que é um bom começo. 
Talvez, tenha razão. Não devemos nos apressar. Afinal, temos ainda... oito meses até o nascimento do bebê? 
— Final de setembro — murmurou Olívia, inquieta. Sabia que ele estava planejando algo. 
Lucas sorriu confiante. 
— Senão quer se casar ainda, que tal se morássemos juntos? 
�
CAPÍTULO II
— Considere como um teste de compatibilidade — sugeriu Lucas, mais frio do que pretendia. 
— Um teste de compatibilidade — repetiu Olívia, insegura. Ele inclinou-se para frente e inalou. o perfume suave. Avançaria mais, se não houvesse a mesa entre eles. 
— Encaremos os fatos, Olívia. Temos a química. Se tivermos compatibilidade. também, de que mais precisamos? 
Ela franzia o cenho, irritada. Lucas sabia que as objeções eram mais fantasia que realidade. Ele lhe tomou a mão, persuasivo: 
— Essa criança merece o melhor que pudermos oferecer. Não deveríamos, pelo menos, tentar viver juntos? 
Lucas imaginou se Stanley Whitcomb seria o motivo da hesitação de Olívia. 
— Se está preocupada com os comentários, ninguém precisa saber. Pelo menos, não ainda. E até sabermos se somos compatíveis, nosso relacionamento pode permanecer estritamente platônico. 
— Seríamos colegas de dormitório? 
— Exatamente. O quarto de hóspedes tem chave, se isso a ajuda a se decidir. 
Ela recolheu a mão e recostou-se. 
— Preciso pensar nisso, Lucas. 
Ele percebeu que pressionara até o limite naquele momento. Persuasão em excesso poderia fazê-la sentir-se coagida. 
— Não costuma agir por impulso, não é? 
— Não. 
— O que aconteceu na festa de Natal? 
Olívia enrubesceu, mas sustentou o olhar. 
— Não sei. Nunca fiz nada impulsivo em minha vida, sempre considero as repercussões. Nunca pensei em fazer sexo antes do casamento. Foi uma promessa que fiz a mim mesma há muito tempo. 
A resposta o surpreendeu. Achava que as mulheres hoje em dia acreditavam em abstinência antes do casamento tanto quanto os homens. 
— Por quê? 
— Porque fazer amor é algo importante e especial e deveria vir acompanhado de compromisso. 
Lucas não sabia se Olívia era só inexperiente ou ingênua. 
— Olha para mim como se eu fosse uma alienígena... 
— Estou pensando se vê o mundo como ele é ou do jeito que gostaria que fosse — justificou ele, ríspido. 
— Os dois. 
— Então, admite que é idealista? 
— Oh, Lucas... Se não tiver um ideal, pelo que vou lutar? Seu nome embalado pela voz suave teve o mesmo efeito de uma carícia. Quanto mais sabia a respeito de Olívia, mais a desejava. 
— Pois eu luto pelo que é atingível. Sei o que posso ter e o que não posso. Sei o que é real. O bebê e o desejo entre nós são reais. 
Ambos refletiram sobre a realidade de se tornar pais. Lucas sacou a pérola de seu repertório. Quando as negociações emperravam:
— Trata-se de uma proposta razoável. Por que não vem à minha casa após o expediente? Dê uma olhada. Veja como se sente lá 
Olívia o fitou por alguns Instantes, e ele desejou ser telepata. 
— Está bem — concordou, suave. — Irei após o expediente dar uma olhada. 
Lucas podia ser um exímio negociante, habilidoso na arte de persuadir, mas sentia que Olívia só faria o que considerasse adequado. 
Seguindo as instruções de Lucas, Olívia tomou o rumo do Scottsdalle, passando por hotéis, clubes e ruas comerciais cheias de butiques, galerias e restaurantes. Mesmo ao anoitecer espantou-se com os jardins luxuriantes que encontrou pelo caminho, considerando que estavam no meio do deserto de Sonora. Atravessando campos de golfe e parques, continuou para o norte em direção às montanhas McDowell. Escureceu de repente, mas logo encontrou o condomínio residencial onde Lucas vivia. Parou na portaria de Desert Vista e informou o nome. O segurança lhe indicou uma construção de vários andares. Telhados avermelhados brilhavam sob a iluminação sutil. As fachadas brancas ganharam uma tonalidade dourada sob as palmeiras que ladeavam a calçada dos edifícios em estilo mediterrâneo. Estacionou onde Lucas sugeriu, passo por varandas particulares e atravessou a arcada que levava a um pátio. Procurou o número da casa, subiu um lance de escada e tocou a campainha. 
Lucas atendeu. 
— Entre. 
Nunca o vira sem terno e gravata. Estava de camisa de linha branca, calça de sarja e mocassins. Parecia confortável. Sempre se excitava ao vê-lo, porém, naquele instante, afetava-se mais, por estar adentrando a moradia dele. O ventilador pendente do teto alto arqueado chamou-lhe a atenção para os dois quartos no nível superior. Imaginou o que poderia acontecer naqueles compartimentos. Concentrou-se na lareira e, depois no sofá em tons terra e na futurística cadeira de ferro. A mesinha de centro acrescentava elegância e descontração à decoração. 
— Vou lhe mostrar a casa — prontifIcou-se Lucas. 
Olívia se aqueceu ante o sorriso sedutor. Ele a conduziu pela sala de jantar cheia de estilo. Mesa e quatro cadeiras. Imaginou se ele recebia com freqüência.
— Está muito bem instalado — comentou, ao entrar na cozinha com acabamento preto e balcão para lanches rápidos. 
— Espere até ver janela —avisou Lucas, com uma piscadela. Portas deslizantes na cozinha conduziam a um terraço coberto. 
A lua, quase cheia, pairava sobre as montanhas azuis e um sem número de estrelas decorava o restante do céu. A temperatura caía, mas Olívia nem sentia, com Lucas a seu lado quase abraçando-a.
— Temos piscina, salão de ginástica e serviço de limpeza. 
Apesar de todas as informações, dúvidas ainda a afligiam.
 — Como disse, Lucas, tudo aqui é lindo. Mas uma bela vista e bons móveis não bastam para convencer alguém a se mudar 
— Que mais é preciso? — questionou Lucas. 
— Não sei. Preciso pensar mais um pouco. 
— Não viu o quarto de hóspedes ainda. 
— Não preciso ver o quarto de hóspedes para saber que viverei confortavelmente aqui. — Na verdade, ficaria ainda mais indecisa. 
Ele perdia a paciência. 
— Qual é o problema, Olívia? 
— Eu... eu preciso ter certeza de que a mudança é a melhor decisão. 
— Como saberá sem tentar? 
Ela levou a mão ao peito. 
— Preciso sentir aqui. 
Lucas avançou e lhe acariciou-lhe o rosto. 
— Não. — Ela se afastou, trêmula. 
— Não achou meu toque repulsivo na véspera de Natal— reclamou Lucas, raivoso e frustrado. 
— Oh, Lucas. Preciso pensar com calma, e não consigo. com você tão... perto. 
— É Whitcomb? — disparou ele, sombrio. 
Olívia estava confusa. Sua vida tomara um rumo inesperado. Nos últimos meses, vislumbrara um futuro com Stanley. E agora... - 
— É a minha vida, Lucas. E a sua. E a do bebê. Não se sente 
confuso? Não se sente desequilibrado, como se estivesse fazendo a maior curva de sua vida? 
Lucas franziu o cenho sob a iluminação fraca e difusa. 
— Já fiz muitas curvas. Desta vez, sei o que quero. 
— Bem, eu não. E não vou deixar que me pressione, estando insegura. Não quero ser a fofoca do dia. Por outro lado, não gosto de segredos, nem de decepções. Só soube que estava grávida há dois dias e... — As lágrimas brotaram e ela, tentou se recompor. Nunca chorara e não permitiria que Lucas Hunter presenciasse a cena. 
Ele a segurou pelos ombros. 
— Não está pensando em tirar o bebê, está? 
O calor das mãos dele advertiu-a quanto à paixão desconhecida até a véspera de Natal
— Claro que não. Nunca considerei o aborto. 
Aliviado, Lucas a soltou. 
— Se precisa de tempo para pensar.. pense. Mas, como pai dessa criança, Olívia, não permitirei que me deixe de lado. Entendeu?
Lucas parecia considerar a paternidade uma cruzada. Estaria tão veemente por causa de um senso deresponsabilidade apurada? Lembrou-se das palavras dele: Nasci ilegítimo. Ele não conhecera o pai? Precisava de espaço para pensar... pensar sobre ele e sobre o significado de uma mudança. 
— Entendo, Lucas, mas não vou me precipitar em nada. Principalmente com relação a me mudar para cá. 
Afastou-se da presença marcante, fugindo à tentação de vê-lo como homem e não como pai de seu filho. 
Olívia foi ao supermercado no sábado. Na seção de alimentos infantis, estudou as diferentes marcas e produtos, Seguiu para a seção de higiene e imaginou sua escova dental ao lado da de Lucas. Não parava de imaginar situações, algumas agradáveis, outras estranhas e assustadoras. Estaria preparada para ser uma boa mãe? Queria criar o filho sozinha? Conseguia se imaginar como acompanhante de Lucas? E como companheira? 
Pensou nas possibilidades durante todo o dia e, após outra noite mal-dormida, rezou para encontrar respostas. No domingo, foi à igreja, pediu um sinal e percebeu a tolice. Envolvera-se sozinha naquela situação, não podia esperar ajuda divina para sair ilesa. Preparava panquecas, devido a um desejo súbito, quando o telefone tocou. 
— Alô? 
— Meu bem. Como está? 
— Pai? — Olívia não falava com o pai desde o verão anterior. No Natal, imaginou que ele telefonaria. Mais que isso, tivera e esperança de que ele viesse, para ficarem juntos, pois a mãe viajara. Mas não acontecera nada disso. 
— Onde você está? — indagou, apagando a chama do fogo 
— Em Los Angeles, trabalhando no serviço de entregas de uma empresa de computadores. Está ótimo aqui. Se continuar assim, serei milionário antes dos cinqüenta e cinco! 
Era uma das frases favoritas do pai. Somente a idade muda. Quando a ouviu pela primeira vez, ele dizia que seria milionário antes dos quarenta e cinco. Sabia que o pai jamais permanecera no mesmo emprego por mais de alguns meses. Preferia ser um “trabalhador autônomo”. Isso significava que tentava vender algo a alguém. Geralmente, não telefonava se não houvesse problema. 
— Você está mesmo bem? 
Houve uma pausa. 
— Estou ótimo. Agora, me diga o que anda fazendo. Já é advogada? 
— Em maio, espero. — Somente nesse mês, ela receberia o resultado dos exames da Ordem. Deveria revelar que estava grávida? Sempre quisera se abrir com o pai, mas ele se mudava tão rápido que jamais conseguira. — Pai, eu... 
— Telefonei para sua mãe. Convidei-a a ir comigo à Disneylândia. 
— O que ela disse? 
— Que tem responsabilidades e que não pode folgar uma semana simplesmente porque quero que ela venha. Você sabe, a velha história. Eu disse a ela que, se tivesse uma poupança, poderia entrar neste negócio, mas ela não se interessou. 
— Agora que me formei, mamãe está poupando para a aposentadoria. 
— Não precisaria se preocupar com aposentadoria se investisse em mim. 
Nada mudara. O pai só pensava nele mesmo. 
— Para dizer a verdade, se você quiser investir... 
Então, era isso. Ele telefonara para lhe propor um negócio mirabolante. 
— Pai, estou pagando uns empréstimos... 
— Lamento não poder ajudar — balbuciou ele. — Mas, em um ano mais ou menos, estarei bem e lhe darei tudo de que precisar. 
 — Não preciso de nada pai. 
Após alguns instantes, ele voltou à carga: 
— Bem, se pudesse encorajar sua mãe a apoiar esta minha nova investida.... 
— Pai, mamãe sabe o que quer. — E, definitivamente, não era colocar dinheiro em outro barco furado do pai. 
— Talvez, se você pressionar um pouco, ela reconsidere. Olívia ficou em silêncio, sentindo-se usada, como se o pai a tivesse procurado apenas por interesse e não para saber mesmo como ela estava. 
— Bem, acho melhor. desligar... 
Apesar de tudo, Olívia queria manter contato com o pai. 
— Se me der o seu endereço.... . 
— Vou me mudar logo, Quando estiver em um apartamento maior, telefono. Cuide-se, querida. 
Ele desligou e ela sentiu um vazio no peito. Sempre se sentia assim após conversar com o pai. 
Inesperadamente, as palavras de Lucas ecoaram em sua mente. Serei pai para essa criança. É meu direito inalienável. E ele ou ela será tão minha responsabilidade quanto sua. 
Seu pai nunca fora responsável, nem no casamento, nem com a família. Lucas seria diferente? Que tipo de homem era Lucas Hunter? Que tipo de marido seria? Precisava descobrir antes de aceitá-lo em sua vida e na vida de seu filho. Morar com ele não era a chance para avaliá-lo? 
Ele descrevera como um teste de compatibilidade, Seria mais que isso. Descobriria se podia confiar nele e contar com ele como pai, porque, se não pudesse, criaria aquela criança sozinha. 
Lucas voltou sorridente de Flagstaff na tarde de domingo. Sentia-se sentia renovado após um fim de semana com Mim, Wyatt e os quatro garotos sob os cuidados deles. Não se tratava de mudança de temperatura e altitude. Os meninos o idolatravam e sentia-se como um irmão mais velho. Largou a mochila junto à escada e viu a luz vermelha piscando na secretária eletrônica. Acionou o botão. 
— Lucas. É Olívia. Por favor, me telefone quando chegar.
Em poucos segundos, teclou o número de Olívia. 
— Você está bem? — indagou, assim que ela atendeu. 
— Sim. Pensei bastante. Morar com você por algumas semanas seria uma boa idéia.
— Por algumas semanas? 
— Precisamos nos conhecer melhor. Pelo bem do bebê. 
Lucas percebeu que ela ainda se sentia insegura a esse respeito. Tinha que agir com cuidado. 
— Claro, um dia de cada vez. Quer se mudar agora? 
— Já arrumei uma parte da mudança. Mas, se acaba de chegar...
— Venha. Nós faremos a mudança. 
Lucas estava ansioso. Ficou andando de um lado para o outro e resolveu esperar por ela fora da casa. Não queria que carregasse nenhuma mala pesada. 
 Fazia dez graus. Em poucas semanas, a primavera daria seus sinais. Mas não em Flagstaff... lá, levaria mais algum tempo. Ainda havia neve por todo lado. Durante o verão, desviara-se de uma frente fria que com certeza traria mais neve...
Caminhou pela área de estacionamento e viu Olívia chegando. Ela estacionou numa vaga de visitas e ele foi a seu encontro. Minutos depois, Lucas levava o cabide com sobretudo e a mala dela para o quarto de hóspedes. Ela carregou apenas a frasqueira. 
— Que quarto bonito— elogiou Olívia.. 
Um profissional realizara a decoração nas tonalidades creme e azul, mas o ambiente jamais fora usado. 
— Se precisar de qualquer coisa, me avise. Há um banheiro completo aqui e um lavabo lá embaixo. As toalhas azuis são suas. 
Lucas abriu a porta dupla do vestiário e pendurou o sobretudo. Olívia despiu o suéter e o colocou sobre a cadeira. 
— Lucas, prefiro que ninguém saiba da gravidez e que estou morando aqui, por enquanto. 
Lucas assentiu. 
— Tudo bem. Mas não tenho vergonha de você estar carregando meu filho. Uma hora, todo mundo vai ficar sabendo. 
— Prefiro protelar ao máximo. — Olívia pousou a mão protetora no estômago. 
Ela ficava linda de calça jeans e camiseta. O cabelo arruivado lhe emoldurava o rosto em ondas suaves. Sentia vontade de tocar naqueles fios, mas temia que ela se retraísse como um potrinho selvagem. Era magra e logo a gravidez apareceria, querendo ou não. 
— A que horas costuma ir dormir? — indagou ele. 
— Ultimamente, mais cedo. Por volta das dez. Porém, hoje, se não se importar, já vou tomar um banho e dormir. 
— Vou ficar trabalhando um pouco lá embaixo. — Lucas deteve-se no umbral. — Pode parecer constrangedor agora, mas nos acostumaremos a viver juntos.
Olívia esboçou um sorriso. Lucas a beijou e só então se retirou. 
Olívia acordou as duas da madrugada, faminta. Não sabia por que acordara no meio da noite, mas parecia que não se alimentava havia semanas. Talvez fosse um aviso de que tanto ela quanto o bebê precisavam de energia. Vestiu o robe de cetim com estampa florida branca e verde. Ao abrir a porta, viu uma luminária acesa na sala. No corredor, viu a porta do quarto de Lucas fechada. Descalça, sentiu a madeira fria ao atravessar a sala e a cozinha. Lucas estava sentado ao balcão, ainda vestido, diante de um microcomputador portátil. Excitou-se só de veraqueles ombros largos; o pescoço esguio, os cabelos loiros. 
— Estou surpresa por não ter um escritório. - comentou suave. Ele olhou por sobre o ombro. 
— É que não passo muito tempo aqui. Levo este computador para todo lugar e mantenho tudo arquivado. 
De fato, a casa não parecia uma habitação. Não havia jornais e revistas espalhados... nenhum indicio típico de ocupação. Em seu apartamento, sempre esquecia alguma caneca de chá aqui, outra ali, e anotações de trabalho. Mantinha lembranças e enfeites peIa casa para recordar momentos felizes. Não havia nada disso no apartamento de Lucas, apenas esculturas e luminárias, cuidadosamente escolhidas. 
— Você viaja muito, não? — Talvez descobrisse onde ele passava os finais de semana. 
Ele, deu de ombros, empoleirado na banqueta alta: 
— Sim, viajo. Quando quero trabalhar, fico no escritório. Já passei muitas noites no sofá da minha sala. 
O sofá. De couro macio e cheiroso. Ainda se lembrava daquele couro sob as costas nuas, do peso do corpo de Lucas... Ele lhe admirou o robe estampado, o cinto marcando a cintura, as pernas à mostra. De repente, sentia o abrigo pequeno demais... revelador. 
Lucas se levantou. Olívia pensou em se refugiar no quarto, mas sabia que, como “colegas” de apartamento, não poderia se esquivar toda vez que ele a observava. 
Rosto ardente, recordou o motivo de estar ali. 
— Não queria incomodá-lo. Senti fome e achei melhor aproveitar a trégua no enjôo. Posso dar uma olhada na geladeira? 
— Claro. Mas não deve ter nada aí. Geralmente, compro “para viagem”. 
Na geladeira havia meia dúzia de ovos, uma barra de manteiga, duas latas de cerveja, urna garrafa de suco, um pedaço de queijo e duas embalagens com sobras de comida chinesa. 
— Está com muita fome? — indagou ele. — Posso fazer omelete. Já passou da hora do jantar. 
Olívia imaginou onde e com quem Lucas jantara. 
— Seria ótimo. - murmurou. 
Lucas pegou uma frigideira e nela derreteu um pouco de manteiga. Quebrou um ovo e indicou os armários. 
— Tem bolacha de água e sal, se quiser. 
Com o estômago roncando, Olívia pôs-se na ponta dos pés para alcançar a última prateleira. Sentia o olhar de Lucas. Com o esforço, o robe e a camisola se ergueram, expondo boa parte de sua coxa. Rapidamente, pegou o pacote de biscoitos, enquanto Lucas desviava o olhar. 
Ela distribuiu o suco em dois copos e Lucas colocou dois pratos no balcão. A omelete com queijo ficou perfeita. 
— Vou deixar que prepare o café da manhã sempre —provocou ela. Tentava criar um clima de camaradagem, em vez de sedução. 
— Gosto de cozinhar. Só não tenho muita oportunidade... 
Quando ele se sentou a seu lado, suas pernas roçaram. O calor do corpo dele a seduzia. 
Onde aprendeu a cozinhar? — indagou Olívia. 
— Aqui e ali.. 
Ela saboreou uma porção da omelete e pousou o garfo. 
 — O que foi? — protestou ele. 
— Você é um advogado meticuloso, não é? 
— O que quer dizer? 
— Quando faço uma pergunta, geralmente não me dá uma resposta exata. É proposital ou hábito? 
Lucas fez pausa, dando a entender que não apreciara a observação. 
— É hábito. 
— Por quê? 
— Sempre faz tantas perguntas? 
— Também sou advogada. 
— Ainda não. 
— Está mudando de assunto — reclamou Olívia. 
Lucas a encarou. 
 — Não gosto de falar sobre mim. 
Olívia refletiu enquanto ele acabava a omelete. Em silêncio, bebeu o suco em poucos goles e levou o prato à pia. 
— Vou sair bem cedo amanhã — informou ele. — Tenho um compromisso em Santa Fé. — Abriu a gaveta, tirou uma chave e colocou-a sobre o balcão. — Vai precisar disto. 
Ela assentiu, pensou em ficar quieta, mas mudou de idéia. 
— Lucas, vim para cá para conhecê-lo melhor. Não vou conseguir, se continuar se esquivando. 
Lucas franziu o cenho. 
— Não aceito as pessoas com facilidade, Olívia; 
— Quer dizer que não vai responder às minhas perguntas? Ele franziu mais o cenho, o olhar obscuro. 
 — Como se sentiria se tivesse que contar sua vida em vinte linhas? 
Outra tática de advogado, responder com outra pergunta. 
— Poderia tentar. 
Lucas suspirou, frustrado. 
— O que importa é quem e o que somos agora.
— Não sei quem você é. 
Lucas se aproximou. 
— Acho que sabe, ou não teria se mudado para cá. 
Olívia sabia que, se erguesse o queixo, ele e beijaria. Manteve-se imóvel. 
— É tarde, Olívia. Acabe o lanche e vá para a cama. Precisa 
dormir. Até amanhã. 
Sim, precisava dormir. Mas precisava conhecer Lucas também. Já percebera que ele era hábil em controlar situações. Mais tarde, mostraria que ele não poderia continuar se esquivando a suas perguntas... não se quisesse ser pai daquela criança. 
Olívia despediu-se de Stanley e June, saiu ao corredor e foi verificar se Lucas já voltara de Santa Fé. A porta da sala dele estava trancada. decepcionada, dirigiu-se aos elevadores e imaginou se Lucas passaria a noite fora. Talvez houvesse algum recado na secretária eletrônica. O elevador chegou e as portas se abriram. Cinco mulheres saíram e a rodearam. 
— Ainda bem que a pegamos aqui! 
Olívia sorriu. Molly, Sophia, Cindy e Rachel a acolheram no almoço em seu primeiro dia na Barrington. Estava na lanchonete, não conhecia ninguém e preparava-se para almoçar sozinha quando a turminha a convidara para juntar-se e elas.
Gostava de todas. Molly, olhos cor de amêndoa, muito séria, tornara-se sua melhor amiga. Sophia, espirituosa e divertida. Rachel, que sofrera para superar um relacionamento de efeito, e Cindy que, recentemente, ficara noiva de Kyle Prentice, seu chefe. A quinta amiga, Patrícia, novata, era a assistente do diretor de recursos humanos. 
Sophia pendurou um braço em Olívia. 
 — Está zangada conosco? 
— Zangada? Não, por quê? 
Patrícia avaliou-a com seus olhos verdes muito claros. 
— Porque anda reservada ultimamente. Não a vemos mais na sala de descanso. 
 — Nem na lanchonete — acusou Rachel. 
— Está almoçando com Stanley? — arriscou Cindy, com um sorriso. 
Molly se manteve em silêncio. 
— Andei ocupada — respondeu Olívia. Queria ser franca, mas não podia revelar ainda as transformações em sua vida. 
— Por isso mesmo, devia jantar conosco. Não fofocamos há séculos — exagerou Cindy. 
Olívia perdera todos os encontros. 
— Por exemplo, sabia que Rex Barrington III demitiu a assistente? — indagou Patrícia. — Ela nem mesmo viu o homem. E esse era o problema. Cometi um erro ao recomendá-la. Pensei que tivesse iniciativa e que não precisasse de supervisão. Enganei-me. Agora, tenho que escolher uma substituta dentro da equipe de assessores e espero não me enganar novamente. 
Rex Michael Barrington II ia se aposentar. Todos esperavam que Rex III tomasse seu lugar. Entretanto, ninguém jamais vira Rex III. Era uma presença virtual ao telefone. Dava ordens e, aos poucos, ia tomando o controle dos negócios, mas jamais comparecera à sede. Comentava-se que morava na Europa e só retornaria quando o pai se aposentasse. 
Sophia cutucou Patrícia. 
— Estou na parada, não estou? Sonho em ser a nova assistente. 
— Definitivamente. — Patrícia sorriu divertida. 
— Gostaria de ir com vocês... - disse Olívia. 
— Então, venha. Será bom para você — aconselhou Molly. 
Não podia dizer que precisava dar um telefonema, pois elas levantariam milhares de perguntas. Sabiam que não precisava dar satisfação a ninguém. Talvez conseguisse escapar do restaurante e ligar, caso Lucas chegasse antes dela. 
— Está bem, eu vou — decidiu. — E vocês podem me contar o que andam fazendo. 
— Nós todas imaginamos o que Cindy anda fazendo — retrucou Sophia, chamando o elevador. 
Cindy riu. 
Olívia entrou no elevador. Divertia-se com a tagarelice das moças, mas também desejava ver Lucas mais tarde. 
Três horas depois, Olívia estacionava o carro em sua vaga no condomínio. Atravessou o pátio apressada e subiu a escada. Não tivera tempo para telefonar. Até quando fora à sala de descanso do restaurante, uma amiga a acompanhara. Sem alternativa, relaxara e divertira-se, desistindo de dar o telefonema. Lucas até poderia estar em Santa Fé ainda. 
Procurou a chave na bolsae percebeu que a porta estava aberta. Lucas apareceu na sala, assim que ela adentrou o corredor de piso cerâmico. Estava de mangas arregaçadas, nó da gravata desfeito e cabelo despenteado. 
— Onde estava? — inquiriu, sem preâmbulo 
Olívia pousou a bolsa na mesa e desabotoou o casaco.
— Saí com algumas amigas. 
— Andou bebendo? — questionou ele, 
— Não! Foi um jantar. 
— E não podia ligar e deixar recado? 
— Elas me interceptaram na salda e não teria como telefonar sem que me fizessem perguntas. Por que está tão preocupado? 
— Não estou preocupado. 
Olívia se aproximou e o avaliou: 
— Parece preocupado. 
Impaciente, Lucas opinou: 
— Se vamos morar juntos, Olívia, espero que me telefone quando for chegar tarde. 
— A regra aplica-se a você também? — rebateu ela, aborrecida ante aquelas expectativas dele.
— Eu não estou grávido...
Houve silêncio e, então, ela disse o que sentia. 
— Bem, é bom não estar grávido, não é? Porque, assim, pode ir para qualquer lugar, trabalhar vinte horas seguidas e se alimentar apenas por prazer. — Olívia meneou a cabeça. — Não sei quais são as regras, Lucas. Você estabeleceu algumas, mas não me inteirou delas.
— Não há regras — grunhiu ele — Se você usar o bom senso...
— Meu bom senso me aconselhou a não revelar às minhas amigas sobre uma situação... indefinida. Meu bom senso me disse que você talvez decidisse passar a noite em Santa Fé. E meu bom senso me diz que, se você tem expectativas, é bom que eu saiba quais são elas. No momento, estou cansada e vou dormir. Olívia tomou a escada. No primeiro lance, sentindo-se culpada, virou-se e viu Lucas de costas, imóvel, bufando. 
— Lucas, desculpe-me se o deixei preocupado. Não vai acontecer novamente. 
Aguardou um instante, sentindo o peso das atividades do dia. Vencendo os últimos degraus da escada, imaginou se Lucas sempre negava seus sentimentos... e por quê? 
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CAPÍTULO III
Lucas desligou o telefone após falar com a secretária de Rex Barrigton. Olhou o relógio. Mildred Van Ilesa confirmara sua reunião como chefe para as quatro horas.. Poderiam se demorar até às seis. Pensara em Olívia o dia todo e não se concentrara. No dia anterior, já chegara de Santa Pé esperando jantar com ela. Queria levá-la a um bom restaurante, para certificar-se de que estava se alimentando. Encontrara a casa vazia. Aguardara. Telefonara para o escritório e para o apartamento dela... sem sucesso. 
Quando Olívia chegara, ele explodira! Reação estranha para um homem acostumado ao autocontrole. Mas nunca vivera com uma mulher antes. Pedira para Olívia se mudar para seu apartamento por puro instinto e jamais imaginara que seria tão difícil manter-se afastado. Esforçava-se para não pressioná-la. Tinha dificuldade em negar o desejo que guardava consigo. Saíra para trabalhar bem cedo. Olívia, ainda não se levantara e, assim não precisara lidar com a situação. Mas percebia que evitar o conflito não era solução e tampouco, o que desejava.
Pegou o telefone e teclou o ramal de Olívia. Ela atendeu prontamente. 
— Olívia, é Lucas. 
Houve um breve silêncio. 
— Lucas. 
Como sempre, ele sentiu o coração disparar à voz suave. 
— Terei uma reunião com Rex que provavelmente vai me ocupar até às seis ou mais. Podíamos sair para jantar quando eu chegasse em casa. 
Ela baixou o tom, provavelmente para June não ouvir a conversa de sua mesa do outro lado do escritório. 
— Eu ia fazer compras no supermercado... 
— Não quero que carregue peso -— ralhou ele. 
— Só alguns produtos para o jantar. Ou prefere sair mesmo? 
Olívia não parecia rancorosa devido ao ocorrido na noite anterior o que o surpreendia. Sempre que discutia com Celeste, ela ficava amuada por uma semana. 
— Seria ótimo jantar em casa, mas não quero que tenha muito trabalho. 
— Não é trabalho algum, Lucas. Preciso me alimentar também. 
Evidentemente, devia-lhe desculpas, mas não seria por telefone. 
— Até à noite, então. 
— Até — confirmou ela. 
Sendo assim, Olívia não desistira do teste de compatibilidade. Talvez, à noite, encontrassem algo em comum, algo para iniciar um relacionamento. 
O aparelho de som de Lucas era sofisticado, mas Olívia conseguiu descobrir como ouvir seu disco favorito, enquanto dourava o frango no forno. O telefone tocou e atendeu sem hesitar. 
— Oh! Devo ter discado errado — disse a mulher do outro lado 
— Com quem deseja falar? 
— Lucas Hunter. 
— Ele não se encontra no momento. Quer deixar recado? 
Após urna pausa, a mulher respondeu 
— Diga-lhe para ligar para a fazenda. 
— Está bem. Eu direi. — Olívia desligou desejando ter anotado o nome da pessoa, embora a mulher parecesse não considerar necessário. 
Às sete horas, o frango começou a se desmanchar. Olívia jantou sozinha, preparou um prato para Lucas e o colocou na geladeira. Ele chegou às oito e meia, o casaco enganchado no braço. Ela adormecera no sofá com um maço de contratos na colo. 
Lucas largou a pasta numa cadeira. 
— A reunião se prolongou. Não queria acordá-la. Espero que tenha jantado. 
 — Jantei. E deixei um prato para você. Mas devem ter tomado lanche... 
— Não, não tivemos tempo. Não deu nem para telefonar. 
Ela pousou os pés no chão. 
— O senhor Barrington costuma providenciar o jantar quando as reuniões se estendem. 
— Ele nos convidou, no final 
— Você declinou um convite para jantar de Rex Barrington II? 
Olívia sabia que Barrington não fazia um convite desses a qualquer funcionário. 
— Eu queria voltar para casa. — Lucas aproximou-se e sentou-se a seu lado. — Olívia, desculpe-me por ontem à noite. Eu exagerei. 
Ela refletiu e decidiu que era tão culpada quanto ele: 
— Eu devia ter telefonado. 
— Entendo por que não o fez. Não temos regras. E a verdade é... que nunca vivi com uma mulher antes e não sei direito como agir. 
Por algum motivo, Olívia sentiu-se satisfeita e até encantada. 
— Nunca viveu com outra mulher? 
Ele confirmou, estendeu a mão e acariciou-lhe o rosto. 
— Não consigo parar de pensar na festa de Natal, Olívia. E, considerando o resultado, sinto-me um pouco... desnorteado. 
Ela estremeceu com o toque, mas conseguiu, dizer:
— Você não é tão intimidador quando não está seguro. 
Lucas sorriu. 
— Acha-me intimidador? 
— Você tem a reputação de ser poderoso, habilidoso e especialista em tudo o que faz. 
Ele parecia cético. Inclinando o rosto, aproximou os lábios dos dela. 
— Não quero intimidá-la, Olívia — disse, rouco. — Só quero beijá-la. Ela não conseguia falar, tamanha a excitação e a ansiedade. Quando ergueu o queixo, Lucas entendeu que ela também queria o beijo. 
Abraçou-a, enterrando os dedos na massa de cabelos sedosos. Provocou-a com a língua, pedindo passagem.Olívia sabia que aquela exploração não acabaria bem mas não conseguia pensar direito. A situação erótica despertava. sensações como areia ao vento. E, como na festa de Natal, sentiu necessidade de atender ao desejo primitivo. 
Seus sentidos aguçavam-se peio cheiro almiscarado, pelo gosto proibido, pela força máscula contida. Apalpou-lhe o braço forte, os ombros, sentia o calor emanando através da camisa. Ele invadiu sua boca mais uma vez, fazendo-a estremecer de prazer e desejo, sensações que só conhecera durante o momento Íntimo no escritório de Lucas. Naquele instante, como na véspera de Natal, ele instigava, desafiava-a a tomar mais. A língua provocadora, a pressão do lábios encorajavam-na a aventurar-se. A conhecê-lo. 
Mas não o conhecia. Não ainda. E, se não se afastasse... 
Olívia baixou as mãos. Abraçou a si mesma ao se afastar. 
— Disse que manteríamos a relação a nível platônico, não disse? - questionou, a voz sensual, o olhar ainda cheio de desejo. — Temos que manter a relação assim. — Levantou-se.. 
— E se não conseguirmos? — replicou Lucas. 
Olívia nunca sentira tamanha atração por nenhum homem. Lembrou-se dos namorados da época de faculdade. Eram homens que queriam mais que um beijo após pagar o jantar. Detivera-se na ocasião e faria o mesmo naquele momento, antes que se repetisse a cena da véspera de Natal. 
—Não vou deixar que o desejo regule minha vida, Lucas. Tenho muito a perder. 
— E acha que eu não tenho? 
— Nunca encontrei nenhum homem, exceto Stanley, que não quisesse... — deteve-se quando Lucas franziu o cenho. 
— Se quer que eu fique afastado, ficarei — assegurou zangado, levantando-se.
— Lucas... 
Ele já se dirigia à cozinha.
Olívia suspirou, repreendendo-se por não ser mais diplomática. Podia ter evitado os toques e o beijo, mas era tarde demais para lamentar. 
Dessa vez, sentia que era melhor afastar-se. Lucas parecia decepcionado, porém, ao menos, ela fora honesta com ele e consigo mesma. Se fizessem amor novamente, não seria com pressa, sem pesar as conseqüências. Queria se sentir segura. 
Ao tomar banho, a lembrança do beijo e do abraço a envolvia como o vapor quente. No quarto, sentou-se numa cadeira e pegou a pasta de contratos Ouviu Lucas subir a escada, entrar no quarto e fechar a porta. Tinha dificuldade em se concentrar. Reviveu a conversa que tiveram pouco antes e, de repente, lembrou-se do recado para ele telefonar para a fazenda. 
A mulher não dissera que era importante, mas era sua obrigação transmitir o recado. 
Vestiu o robe e desejou ter outro, mais comprido e pesado. Pensou em se vestir, mas concluiu que seria ridículo. Com o coração acelerado, saiu ao corredor e bateu na porta dele. 
Lucas atendeu. Ela ficou sem fôlego ao vê-lo de calção de seda preto e mais nada. Não conseguia desviar o olhar dos pêlos loiros do seu tórax musculoso. Por fim, ergueu o olhar e encontrou uma expressão desconfiada. 
 — E que... esqueci de lhe contar... 
Mesmo imóvel, Lucas era toda sensualidade com aquela pele bronzeada, os mamilos escuros, a linha de pêlos louros descendo além do cós... 
Olívia concentrou-se em recordar o motivo da visita, 
— Atendi a um telefonema para você. Era uma mulher. Não deixou o nome, mas pediu-lhe que telefonasse para a fazenda, 
— Está bem, obrigado .— respondeu ele, o tom monótono como se ela o perturbasse. 
— Lucas... 
— Preciso dar um telefonema, Olívia. Da próxima vez, deixe um bilhete na porta da geladeira. 
Não havia mais nada a dizer e era óbvio que ele não queria conversar. Ela voltou para o quarto imaginando por que se sentia triste, com vontade de chorar. 
Sozinha no escritório, Olívia recolhia as anotações que fizera durante a manhã para deixar na mesa de Stanley. Ele e June estavam almoçando. Dali a pouco, a amiga Molly entrou. 
— Vamos almoçar? 
Olívia recusou, sentindo-se estranha. O enjôo parecia mais severo aquela manhã. Só de pensar em comida... 
— Não, mas obrigada pelo convite. 
— Olívia, você está pálida. Posso ajudar? Quer uma soda? 
Olívia negou novamente e abriu última gaveta de sua mesa, onde arquivou um documento. 
— Não dormi bem esta noite. 
— Precisa se cuidar. Por que não jantamos juntas?. 
Molly era uma boa amiga e Olívia sabia que podia contar com ela. Levantou-se, foi até a porta e fechou-a. Devia ter se levantado rápido demais, pois sentiu tontura. Respirou fundo e revelou: 
— Estou morando com Lucas. 
— Morando com Lucas? 
— É um teste de compatibilidade. Nós... - Olívia ganhou um zunido no ouvido e manchas pretas na visão —Nós... — Agarrou-se à mesa, sentindo o mundo girar. 
— Olívia! — Molly amparou-a pela cintura e puxou a cadeira com o pé. Após fazê-la sentar-se, mandou baixar a cabeça sobre as pernas. — Vou chamar Lucas...
—Não! 
Lucas saíra bem cedo. Ela não sabia se ele estava no escritório, nem se podiam importuná-lo. 
Mas Molly já teclava os números no telefone. 
— Precisa ir para casa, erguer os pés e relaxar. — Num segundo, foi atendida. — Sr. Hunter, Molly Doyle. Estou com Olívia e ela não está se sentindo bem... estamos no escritório do Sr. Whitcomb. 
Olívia tentou erguer a mão, mas a tontura se intensificou. Dali a minutos, Lucas chegava. apressado. Olívia só via os sapatos, mas tinha certeza de que era ele. 
— O que houve? — indagou ele, aflito. 
Olívia moveu a cabeça só um pouco. 
— Nada, só uma tontura leve... 
— Vou levá-la ao médico. 
— Não, logo passa. É que não tomei o café da manhã. 
Ele se agachou ao lado dela. 
— Já almoçou? 
— Lucas, não consigo... — Ela continuava olhando para o chão, mas sua cabeça continuava girando. 
— Por favor, pegue uma toalha úmida — pediu Lucas a Molly. Ele a amparou com o braço. Era bom sentir sua força. Parou de lutar contra a sensação de tontura e o suor brotou na testa. Lucas retirou seus cabelos do rosto, para arejar. Molly voltou e pressionou um pano úmido em sua nuca. Após alguns minutos, a visão melhorou e o ouvido parou de zunir. 
Olívia levantou o rosto e viu Lucas próximo. 
— Está melhor? — indagou ele. 
Ela assentiu. 
Lucas se levantou e retirou a compressa, pedindo a Molly: 
— Diga ao sr. Whitcomb que a levei para casa. 
Olívia protestou: 
— Lucas, já estou bem. 
— Está muito pálida e precisa se alimentar. Se não for ao médico, vou levá-la para casa. 
Irritada com o tom autoritário, ela se levantou para discutir em pé de igualdade, mas cambaleou. Ele a amparou. Sem alternativa, ela o enlaçou pelo pescoço, deixando-se carregar. 
— Para o médico ou para casa?— grunhiu ele. 
— Para casa. Mas não quero que me carregue pelo prédio. 
— Vamos pela escada, então. 
Molly sorriu e entregou a bolsa de Olívia. 
Lucas deu uma olhada no corredor antes de sair com Olívia. Desceu a escada como se carregasse uma simples pasta. 
Quando alcançaram a porta de saída, ela protestou: 
— Ponha-me no chão, Lucas. Quero andar cambaleando mesmo. Meiga, acrescentou: — Por favor? 
— Se ainda está tonta... 
— Eu me apóio em você. Prometo. 
Lucas a colocou de pé no chão, atento. 
Olívia saiu do prédio ciente do olhar dele. Sentia-se exausta e com dor de cabeça, mas a tontura desaparecera. Lucas caminhava a seu lado, todo estabilidade e força. 
Ele tinha uma caminhonete moderna, luxuosa e bem equipada. Olívia recostou a cabeça no banco enquanto rumavam para casa. Ele ligou o estéreo e uma musica instrumental suave invadiu a cabine. Se tivesse dormido bem na noite anterior, talvez não se sentisse tão cansada. O médico comentou que o cansaço não era raro no primeiro trimestre de gravidez. 
Menos de meia hora depois, chegavam à casa de Lucas. 
— Suba. Vou buscar uma refeição para você. 
— Não precisa... 
— É pelo bebê — esclareceu ele. — Suba. 
Olívia seguiu na direção da escada. Não sabia se Lucas ainda estava zangado por causa da noite anterior. Não sabia como ele se sentia em relação nada. 
Lucas subiu e viu a porta do quarto de Olívia aberta. Na noite anterior, sentira-se frustrado com a rejeição dela e com o fato de ela não enxergar qual era a melhor atitude a tomarem. Quase perdera a calma quando ela citou Whitcomb, como se ele fosse algum ícone a ser imitado. Mais tarde, quando ela foi lhe transmitir o recado de Mim, ainda a desejava. Fora grosseiro porque não pudera disfarçar seu estado estando só de calção. 
Quando Molly Doyle o chamara para acudir Olívia, a frustração, a raiva e desejo cederam lugar ao temor. E se acontecesse algo com Olívia e o bebê? Somente por medo, ela se convencera a tomar a melhor atitude com relação à criança, independentemente de agradá-la. 
Ao entrar, deixou a caneca de chá bater contra o copo de soda tentando equilibrar também meio sanduíche de frango. Diante da cômoda, Olívia penteava os cabelos compridos, fortes e sedosos. 
Ela trocara de roupa, optando por uma calça confortável e uma blusa que lhe destacava as curvas sensuais. Sentiu desejo. Nunca tivera problema em controlar a libido até ver Olívia na Barrington. 
Ela se voltou. Lucas deixou o lanche sobre o criado mudo 
— Obrigada. Liguei para Stanley e avisei que não vou trabalhar esta tarde. 
 Lucas observou-a antes de perguntar: 
— Molly sabe que você está grávida? 
Olívia se sentou na beirada da cama. 
— Contei a ela um dia depois de contar a você. Confio nela. Ela sabe também que estou morando aqui. 
— Pediu a ela que me chamasse? 
Olívia ganhou leve cor no rosto pálido. 
— Em emergências, Molly fazo que acha melhor. 
— Moça inteligente. — Ele indicou o sanduíche. — Coma. E nem pense em ir trabalhar de novo sem tomar o café-da-manhã. 
Ela ergueu o queixo.
— Sei cuidar de mim.
— Não me parece. 
A confiança dela diminuiu. 
— O que aconteceu hoje não vai se repetir. Pelo menos uma torrada antes de sair e almoço, nem que seja sopa e biscoitos. - Pegou o sanduíche e o partiu ao meio. — Não precisa ficar cuidando de mim. Precisa voltar ao trabalho. 
— Vou trabalhar aqui hoje. Tenho que analisar uma pasta de prospectos. Rex depois vai escolher os hotéis que acha interessantes para o negócio. 
Ela terminou o sanduíche e tomou um gole de soda. 
— Vou elevar os pés e descansar um pouco. Realmente, não vejo necessidade de prendê-lo aqui. 
Lucas entendia que Olívia estava acostumada a ser auto-suficiente, mas ela devia concordar que não precisava passar pela gravidez sozinha. 
— Estarei lá embaixo se precisar de algo. 
Hesitante em se retirar, ele roçou os dedos pelos lábios dela, ainda brilhantes e molhados de soda. Ela se espantou e Lucas desejou beijá-la, deitar-se a seu lado na cama. Mas ela ainda não estava preparada para esse passo. 
Ele recolheu a mão e recuou para a porta. 
— Agradeço tudo o que está fazendo por mim e nosso bebê. 
— É o que mais quero no mundo, Olívia, ser pai... um bom pai. E devo começar agora. Descanse. Volto de vez em quando para ver se está bem. 
Lucas fechou a porta, de repente cônscio de que gostava de cuidar de Olívia. Ao mesmo tempo, ficava alerta, tendo em mente Celeste e suas mentiras. A idéia de ser pai o atraía, mas devia acautelar-se. Olívia podia estar apaixonada pelo chefe ainda. Podia também decidir criar o filho sozinha. 
Precisava convencê-la de que dois pais eram melhor que um e que ela devia esquecer-se de Stanley Whitcomb, para o bem dela e da criança. 
Já era noite quando Lucas abriu a porta do quarto de Olívia. Ela se soergueu para ficar sentada contra a cabeceira. Ele avançou e passou-lhe um telefone sem fio. 
— É para você... sua mãe. 
Ele se surpreendera ao atender. Não sabia que Olívia contara a mais alguém, além de Molly, que estavam morando juntos. 
Ela acendeu o abajur e sussurrou-lhe: 
— Transferi minhas chamadas. 
Estava explicado, Começava a aborrecer-se com a insistência dela em não contar a ninguém que se mudara para a casa dele. A fim de lhe dar privacidade, saiu do quarto e desceu. Enquanto Olívia descansava encomendara mantimentos para entrega em domicilio e agora um aroma de molho de tomate tomava conta da casa. Se Olívia sentisse enjôo, ofereceria a ela macarrão simples. 
Acabou de preparar a salada. Quando punha no forno uma assadeira de pão, Olívia chegou. 
— Humm... algo está cheirando bem! 
— Não ficou enjoada?
— Não. Na verdade, estou faminta. —Ela ergueu a tampa da panela de molho e sentiu o aroma. — Acho que vou até pedir a receita. Foi ao supermercado? 
— Pedi que entregassem aqui. 
— Nem acredito que dormi tanto. 
Ela ainda parecia sonolenta, o cabelo levemente desgrenhado. 
— Contou a sua mãe que está morando comigo? 
— Ainda não Ela mora em Tucson e gostaria de me visitar neste final de semana. Não quis combinar nada antes de falar com você. 
— Ficaria todo o final de semana? 
— Sim, pois pegaria a estrada após a escola na sexta-feira. Ela é professora. 
— Perfeito — declarou Lucas. —Vou viajar neste final de semana. — Mim informara que Trevor, de nove anos, estava tendo problemas de adaptação e requeria sua atenção. 
— Para fora da cidade? — indagou Olívia. 
Ele não queria contar sobre seu passado e fazenda.Celeste nunca aceitara sua dedicação àqueles meninos, a responsabilidade que assumia. 
— Vou visitar amigos em Flagstaft.
— Quando vai viajar? 
— Sexta-feira após o expediente. 
— Então, vou ligar para minha mãe. Quando ela estiver aqui, conto sobre a gravidez. 
— Como ela vai reagir? 
— Não sei. Sempre fui responsável. Tentei nunca lhe causar aborrecimentos.
 — Ainda é responsável, Olívia. Nós dois somos. Faça-a entender que você não está só nessa empreitada. 
— Sim. Volto num minuto. 
Olívia saiu da cozinha e Lucas percebeu que se acostumava à presença dela em sua vida. Contudo, não devia alimentar ilusões, até ela decidir se seriam ou não uma família. 
Alguns funcionários da Barrington estavam na lanchonete na sexta-feira pela manha, tomando café e saboreando roscas doces antes do início do expediente. Cindy telefonara na noite anterior e combinara se encontrar com Olívia ali. 
Olívia escolhera um vestido vermelho comprido. Desejou ter optado por outro modelo, pois usara aquele no dia dos Namorados do ano anterior. Esperava ver Lucas antes que de sua partida . Em casa, ainda se maquiava quando ele saíra para o trabalho. Sentia-se descansada. Não se sentia tão bem havia semanas.
No dia anterior, preparara o jantar ao chegar em casa. Lucas aparecera por volta das seis. Jantaram e conversaram sobre o dia de trabalho. Depois, ela retomou um bordado abandonado havia muito tempo, enquanto ele lia jornal e assistia à televisão. Na hora de se recolherem, pensou que ele a beijaria novamente, mas não tomou nenhuma iniciativa. Pensou em perguntar sobre os amigos dele em Flagstaff, mas concluiu que não tinha esse direito. 
Olívia atravessou o ambiente amplo composto por piso de cerâmica cor salmão, mesas e cadeiras azuis, ao encontro de Rachel, Molly, Patrícia e Cindy num canto afastado. Algo lhe dizia que a aguardavam ansiosamente. 
— Cindy quer nossa opinião sobre um assunto — explicou Molly. Mas não quis adiantar nada enquanto você não chegasse. Cindy sorriu. Em seu trigésimo aniversário, suas amigas a incentivaram a fazer uma reforma completa no guarda-roupa, tanto que agora usava cores alegres e saias curtas. Naquele momento, estava de amarelo-canário. Olívia sentou-se à mesa entre Sophia e Molly. Cindy se inclinou para frente e olhou para cada uma delas. 
— Quero que saibam o quanto prezo nossa amizade — começou. — Sem a amizade e a reforma no meu visual, Kyle e eu não teríamos noivado. Ontem à noite fomos à igreja e ao bufê, e decidimos nos casar no terceiro sábado de novembro. Marquei esta reunião hoje para saber se todas podem comparecer ao casamento como minhas damas de honra. 
As amigas assentiram em coro. 
— Oh, muito obrigada — disse Cindy, felicíssima, os grandes olhos verdes marejados de emoção. — Temos de combinar a escolha e encomenda dos vestidos, então. 
Se não escolhessem logo, começaria a ganhar peso, pensou Olívia., Com sorte, ainda estaria em forma para o casamento de Cindy e Kyle. 
Discutiam o esquema de cores para o casamento quando Mike, o mensageiro da Barrington, aproximou-se com envelopes. 
— Senhoras, tenho convites para todas, da parte do Sr. Barrington.
 Mike usava camisa esporte, calça de sarja e botas de cano curto, distante do vestuário masculino dos funcionários da Barrington. Era tema constante entre as solteiras seu estilo rebelde e atraente. 
Taxado de namorador, não se prendia a uma única mulher. Ele entregou cada envelope com urna piscadela e um sorriso. Quando chegou a vez de Sophia, tocou em suas mãos e ela enrubesceu. 
Olívia abriu o envelope e leu o convite. Haveria uma festa no Dia dos Namorados às três horas, na lanchonete. O Salão ficaria fechado da uma as três para os preparativos.
— Que maravilha! — exclamou, Gostava das atividades sociais da Barrington Corporation.
— Agora entendi por que Mildred pediu uma lista completa dos funcionários — comentou Patrícia. 
— Todos devem vir — alertou Mike, inclinando-se para dentro da rodinha. — Ouvi dizer que Rex contratou um DJ — sussurrou. 
— Vai haver dança? — arriscou Sophia.
— Pode apostar. Portanto, senhoras, preparem-se para tirar esses saltos altos. Até mais tarde...
Sophia acompanhou Mike com olhar. Olívia cutucou a amiga. 
— Interessada? 
— Ele é supersexy, mas não tem ambição. — Sophia meneou a cabeça. — Pode até ser o mais sonhado dos homens, mas não posso me interessar por ele. Preciso de alguém que almeje mais do que ser mensageiro.Olívia conhecia a história de Sophia. Até hoje, morava com a mãe num subúrbio pobre. Segurança financeira era importante para ela. 
— Acho que você chamou a atenção de Mike. 
— E ele à minha. Mas só vai até aí. Ele vai ter que levar outra pessoa para passear na garupa da motocicleta. Patrícia se levantou. 
— Preciso voltar. O “terceiro” deve me ligar para discutir as qualificações da nova assistente. 
— Ouvi dizer que ele tem uma voz sensual — comentou Rachel divertida. 
— Mas ninguém nunca o viu. — acrescentou Molly. — Fico imaginando quais serão as mudanças quando ele assumir o controle. 
Olívia se levantou também. Não estava curiosa a respeito de Rex III e, sim, sobre os finais de semana de Lucas em Flagstaff. 
— Cindy, diga-me quando for fazer compras e obrigada por me convidar para ser dama de honra. 
Cindy abraçou cada uma das amigas e todas seguiram para o elevador. Alheia às conversas, Olívia imaginou se Lucas compareceria à festa, ou partiria mais cedo para o fim de semana. 
A festa do Dia dos Namorados já estava animada quando Lucas entrou na lanchonete, às quatro horas. Ele queria despachar todas as pendências para poder ir da festa direto para o fim de semana. Admirou o salão, as mesas forradas de papel, os corações vermelhos e prateados pendendo das luminárias fluorescentes, o bufê com salgadinhos e ponche. Na verdade, procurava Olívia. Precisava vê-la antes de partir. 
A musica vinha de grandes alto-faltantes instalados no canto onde o DJ trabalhava. As mesas tinham sido dispostas de modo a dar espaço para a dança. Os funcionários se deleitavam com a seleção do DJ, as favoritas da década de sessenta. Por fim, avistou Olívia a uma mesa com Molly e... Whitcomb. Sem pensar, atravessou o salão. Sabia que uma olhada apenas não bastaria. 
No meio do caminho, desacelerou. Precisava agir casualmente, como se estivesse se divertindo, a exemplo dos demais. Olívia não queria comentários e ele respeitava sua vontade, mas seria difícil comportar-se como se fossem apenas conhecidos. 
Olívia o avistou antes que ele chegasse à mesa. 
— Olá, Lucas — saudou Molly, a única que sabia exatamente o que estava acontecendo. 
— Molly, Stanley, Olívia. Parece que todos da Barrington decidiram participar da festa. 
Stanley riu. 
— O convite foi um decreto oficial e todos sabem disso. Rex sempre acreditou que atividades sociais entre os funcionários resultasse em uma atmosfera mais favorável no trabalho. Acho que a última festa foi a de Natal... 
Lucas e Olívia entreolharam-se. Então, ele se dirigiu a Whitcomb. 
— Não me lembro de você na festa de Natal. 
— Só fiquei alguns minutos. Minha filha estava voltando da faculdade e tive que apanhá-la no aeroporto. 
Desde a festa de Natal, Lucas cogitava por que Olívia acabara conversando com ele naquele dia, parecendo um tanto perdida... 
O que ela via num homem com idade para ser seu pai? 
O DJ escolheu uma balada lenta, dando trégua aos dançarinos. 
— Ai está uma que vale a pena dançar — comentou Whitcomb, vendo vários casais ocupando a pista improvisada. 
Prevendo o desfecho do comentário, Lucas antecipou-se: 
— Quer dançar? — convidou a Olívia. Ela enrubesceu. 
— Claro. 
Lucas puxou-lhe a cadeira e desejou tê-la nos braços, mas se conteve e a conduziu ao meio do salão. Abriram um espaço entre casais e acertaram o passo. 
Ela parecia tensa. 
— Ninguém vai notar dois colegas dançando juntos. Relaxe, aproveite a música e o momento. 
Dançaram em silêncio por um bom tempo, respirando suavemente. Lucas queria levar Olívia para outro lugar, incentivado por seu perfume; pela sensualidade de seus lábios. Controlou-se, como deveria ter feito na festa de Natal e não fez. Mas teve de prender a respiração ao sentir os Seios dela contra o tórax, a mão delicada em seu ombro, ao ver seu sorriso inseguro. 
— Vai passar o fim de semana no seu apartamento? - indagou ele. 
— Sim, já que minha mãe vem vindo. 
— Disse que ela é professora? 
Olívia confirmou.
— Numa escola primária. Ela adora crianças e será uma ótima avó. Depois que absorver o choque. 
— Você já absorveu o choque? 
— Não tenho certeza. Sempre me imaginei no papel de mãe. Mas não tão cedo. 
O que Olívia acharia da fazenda e dos meninos? Após a lamentável experiência com Celeste, relutava em contar a Olívia sobre esse projeto e sua participação nele. Mas contaria. Logo. E, naquele finaI de semana, contaria a Mim e Wyatt a reviravolta inesperada em sua vida. Esquecera-se de que deveriam agir como colegas. Seus corpos se encaixavam bem demais. O tecido sedoso do vestido de Olívia roçava em sua coxa a cada movimento. Ela movia a mão junto ao pescoço dele ao ritmo da música, um toque de grande poder sensual. Lembrou-se da massagem dela em suas costas... 
Puxou-a para mais perto e ela não protestou. Inclinando o rosto, roçou os lábios na pele macia de seu rostos Ambos excitavam-se. 
— Lucas... 
— Oi... - murmurou ele, junto a seu ouvido. 
— Alguém pode estar olhando. 
— Há muitas pessoas dançando para alguém nos notar. — e colou o rosto ao dela, testando o autocontrole. Sabia que era um jogo perigoso. Se a beijasse nos lábios, todo mundo saberia que eram mais que colegas. 
Lucas afastou-se um pouco e avaliou-a. Pelo menos, não estava pálida. 
— Sentiu mais tontura? 
— Não. 
— Dormiu a noite toda? 
— Muito bem. Exceto... antes de pegar no sono, imaginei se aviões pequenos são seguros. 
— Depende do piloto e das condições do avião. Preocupada com a possibilidade de eu cair do céu? 
— Não brinque. 
Ele sabia, mais do que ninguém, o que era uma mudança de destino num piscar de olhos. Ficara órfão assim. 
— Faço tudo o que posso para garantir minha segurança em solo e no alto, Mas não penso além disso, pois quero viver sem medo. O medo amarra as pessoas. Quero liberdade e confiança quando piloto o avião, não preocupação. 
De repente, Olívia se enrijeceu. Junto ao ponche, Stanley os observava. A música acabou e Lucas sabia que devia partir, planejara partir, mas a vontade de permanecer era forte. 
Whitcomb parou ao lado deles e bateu no ombro de Lucas. 
— Importa-se se eu interromper? 
Pode apostar que me importo, pensou Lucas. Mas Olívia não queria comentários, e talvez até preferisse dançar com Whitcomb. Esforçou-se para ser cordial. 
— Preciso ir embora de qualquer maneira. Divirtam-se. 
Ouviu a despedida suave de Olívia quando a liberou para os braços de outro homem. Afastou-se e não se voltou para ver o casal. Precisava ir para Flagstaff. 
Mesmo assim, parou junto à porta. Voltou-se e sentiu um aperto no estômago. Stanley e Olívia conversavam e dançavam, próximos demais na sua opinião. Pareciam envolvidos um com o outro, alheios aos demais casais. Praguejou, porém, devido música, o som se dissipou. Deixou a lanchonete. Precisava pensar num lugar amplo, como a fazenda. 
Lucas saiu sem falar nada e Olívia tentou não se magoar, deixando Stanley conduzi-Ia num movimento tradicional de quatro passos. Nunca sabia o que esperar, de Lucas. Sentira um frio na espinha quando ele a convidou para dançar. Divertira-se, excitara-se com sua proximidade, até perceber que Stanley os observava. Agora, nos braços do chefe... não sentia nada especial. Nenhuma excitação. Nem mesmo o conforto de dançar com um homem que... admirava? Respeitava? O que, exatamente, sentia por Stanley? 
— Você e Lucas estão saindo? 
— Não entendi. 
— Tome cuidado, Olívia. Lucas Conter é uma incerteza. 
— Uma o que? 
— Ele se vende pela melhor oferta. Certamente, é hábil nisso. As corporações divulgam que o contrataram nas grandes fusões. Mas Conter não fica em nenhum lugar por muito tempo. Na verdade, ouvi dizer que uma empresa de Nova York está tentando contratá-lo há dois anos, sempre aumentando a oferta. 
Olívia morava com Lucas havia uma semana e esquecera-se completamente de sua reputação... seu estilo de vida. Relaxe, Olívia, e aproveite o música e o momento, dissera ele, pouco antes. Difícil. Estava sempre preocupada com o futuro queria planeja-lo da melhor forma possível. E se, depois

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