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sociologia das instituicoes juridicas 2014.2

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GRADUAÇÃO
 2014.2
SOCIOLOGIA DAS 
INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
AUTORES: FERNANDO DE CASTRO FONTAINHA E LUANDA CHAVES BOTELHO
Sumário
Sociologia das Instituições Jurídicas
ADVERTÊNCIA AOS ALUNOS: .................................................................................................................................. 3
1 — ESCOPO DA DISCIPLINA .................................................................................................................................. 4
2 — CONTEXTUALIZANDO OS AUTORES E TEXTOS...................................................................................................... 10
2A — Aula 2: Evolução das leis fabris inglesas no século XIX ...................................................... 10
2B — Aulas 3 E 4: Max Weber .................................................................................................... 15
2C — Aulas 4 E 5: Émile Durkheim ........................................................................................... 20
2D — Aula 7: Tocqueville e o judiciário americano no século XIX .............................................. 24
2E — Aula 8: Judicialização e crise republicana ........................................................................... 29
2F — Aulas 9 E 10: Pierre Bourdieu ............................................................................................ 32
2G — Aula 11: Ritualística forense, o direito e seus símbolos ...................................................... 36
2H — Aula 12: Interação e competição entre os Juristas .............................................................. 38
2I — Aula 13: Legalidade cotidiana e o “senso comum jurídico” ................................................. 40
2J — Aula 14: A categorização jurídica no mundo profano ......................................................... 42
3 — Textos para discussão em sala de aula ................................................................................... 44
3A — Aula 2: Lei de estágio ........................................................................................................ 44
3B — Aula 3: O caso Tim Lopes ................................................................................................. 47
3C — Aula 4: Condenação de morador de rua à prisão domiciliar .............................................. 49
3D — Aula 5: Barcas S/A X PSOL .............................................................................................. 50
3E — Aula 6: Constituição Federal X Código Penal Militar ........................................................ 51
3F — Aula 7: A efetividade da Lei Seca ....................................................................................... 53
3G — Aula 8: Judicialização das relações de trabalho ................................................................... 54
3H — Aula 9: O judiciário ao alcance de todos? .......................................................................... 56
3I — Aula 10: “Marcha da Maconha” ......................................................................................... 58
3J — Aula 11: Crucifi xos nos tribunais........................................................................................ 59
3K — Aula 12: Magistratura e Poder Executivo ........................................................................... 60
3L — Aula 13: Direito e senso comum ........................................................................................ 61
3M — Aula 14: Código Penal de 1940 ........................................................................................ 62
4 — LEITURAS DE APOIO AO TRABALHO DE CAMPO (P2)............................................................................................. 64
A observação da prática jurídica em ação: uma forma interessante de se desvendar o Direito 
(por Beatriz Helena Fonseca Rodrigues de CAmpos Figueiriedo) .................................... 78
Trabalho de Gabriel Florêncio Marques de Menezes .................................................................... 90
A intervenção do domínio econômico nos simbolismos do campo jurídico: 
Diferenças do mundo público e do corporativo (por Guilherme Migliora) ...................... 99
As percepções de um novato em um escritório de advocacia: observando a área dos estagiários 
(por Paula Teixeira Mendes da Costa e Silva) ................................................................. 112
O plantão judiciário: Estudo da dinâmica social, os símbolos e o papel do Poder Judiciário 
(por Walter Britto Gaspar) ............................................................................................ 123
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 3
ADVERTÊNCIA AOS ALUNOS:
Este volume apresenta uma série de textos de apoio COMPLEMENTA-
RES ao curso. Eles visam INCREMENTAR o aproveitamento e o envolvi-
mento dos alunos na disciplina. Este material NÃO DEVE de forma alguma 
SUBSTITUIR a leitura dos textos assinalados para discussão em aula bem 
como a participação em sala.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 4
1 — ESCOPO DA DISCIPLINA
1A — OBJETIVOS:
(1) Familiarizar os estudantes com uma bibliografi a essencial sobre a 
disciplina,
(2) Introduzir os estudantes no universo de conceitos e teorias que in-
formam a fronteira entre o Direito e as Ciências Sociais,
(3) Demonstrar aos estudantes a importância da pesquisa (métodos e téc-
nicas) no processo de descoberta do direito como fenômeno social, e
(4) Desenvolver nos estudantes as habilidades de
(a) compreensão, comparação e crítica de textos científi cos,
(b) observação, relato e análise de situações concretas e
(c) apresentação acadêmica oral em público.
1B — METODOLOGIA:
A metodologia do ensino da disciplina será baseada na externalidade à sala 
de aula e na interatividade. Por externalidade à sala de aula deve-se entender 
que o foco do curso não é o ensino de um conhecimento, mas de uma relação 
com um conhecimento. Isto implica que as fontes de aprendizado disponibi-
lizadas aos alunos transcendem as palavras e as ideias do professor. De início, 
toda aula será marcada pela presunção de que todos leram o texto indicado, 
o que será obrigatório sob pena do aluno não ter condições de acompanhar 
o debate em sala. Em segundo lugar, os alunos deverão realizar uma mini 
enquete de campo (v. formas de avaliação), o que lhes permitirá trazer para 
sala de aula problemas e questionamentos oriundos de sua própria vivência. 
É este acúmulo gradativo de fontes que permitirá a criação de um ambiente 
interativo em sala de aula, onde o papel do professor será o de provocar ques-
tionamentos, levantar problemáticas e estimular críticas.
1C — FORMA DE AVALIAÇÃO:
Os alunos serão avaliados mediante duas dinâmicas distintas, de igual 
peso na composição da nota fi nal. Inicialmente, os alunos se dividirão em 
grupos, os quais disporão dos dez minutos iniciais de cada aula de conteúdo 
para apresentar o texto indicado. O grupo será avaliado pela sua capacidade 
de compreensão, aplicação, síntese e crítica do conteúdo do texto. A presen-
tação deve ser feita em três partes:
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 5
(1) restituição do texto,
(2) contribuição ao texto e
(3) proposta de questão a ser discutida em sala de aula.
O grupo deve igualmente apresentar por escrito o esquema da apresenta-
ção em uma lauda, que também será avaliado. A apresentação oral vale 7,0 
(sete) pontos da nota da P1. Cada grupo deverá igualmente relatar uma das 
aulas do curso, apresentando, na aula seguinte, um relatório de aproximada-
mente três laudas dividido em duas partes:
(1) descrição sumária da discussão em sala de aula, e
(2) conexões da discussão com o texto.
Este relatório vale 3,0 (três) pontos da nota da P1. Num segundo momen-
to, os alunos deverão realizar individualmenteuma mini enquete de campo, 
que consiste no emprego da técnica de observação direta para a realização de 
uma pequena pesquisa. Eles deverão observar uma situação onde o Direito 
(e os profi ssionais do Direito) pode ser visto em ação (uma sessão de julga-
mento, uma pauta de audiências, um dia num escritório de advocacia...). É 
necessário que a situação observada tenha duração de ao menos uma manhã 
ou uma tarde inteira. Em seguida, eles deverão elaborar um relatório (em 
torno de 8 páginas) em dois momentos: descrição detalhada da situação e 
análise da situação à luz de ao menos três textos do programa (não utilizados 
nas avaliações anteriores), devendo a descrição ser maior ou igual à análise. 
Os alunos disporão de todo o semestre para a realização da mini enquete, que 
valerá os 10,0 (dez) pontos da nota da P2.
1D — PLANO DE AULAS E LEITURAS:
Aula 1:
Apresentação geral do curso: o professor, o objetivo, a metodologia, o pro-
grama e as formas de avaliação. (Não há leitura preparatória para a aula 1).
Aula 2:
Evolução das leis fabris inglesas no século XIX
MARX, Karl. A luta pela jornada normal de Trabalho. Limitação legal do 
tempo de trabalho. A legislação fabril inglesa de 1833 à 1864. Luta pela jornada 
normal de trabalho. Repercussões da legislação fabril inglesa nos outros países. In: 
“O Capital. Crítica da Economia Política”, Livro 1, Volume 1. Rio de Janei-
ro: Civilização Brasileira, 2004, p. 320-346.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 6
Aula 3:
Forma jurídica em Weber
WEBER, Max. O caráter formal do Direito Objetivo. In “Economia e So-
ciedade — Fundamentos da Sociologia Compreensiva”. São Paulo: UnB, 
2004, vol. II, p. 67-85.
Aula 4:
Forma jurídica e modernidade
WEBER, Max. As Qualidades Formais do Direito Moderno. In “Economia 
e Sociedade — Fundamentos da Sociologia Compreensiva”. São Paulo: UnB, 
2004, vol. II, p. 142-153.
Aula 5:
Uma ciência da moral dentre os juristas alemães?
DURKHEIM, Émile. Os Juristas: Rudolf Von Jhering. In: “Ética e sociolo-
gia da moral”. São Paulo: Landy, 2003, p. 11 e 41-56.
Aula 6:
Direito e solidariedade em Durkheim: o exemplo do Homicídio
DURKHEIM, Émile. Deveres Gerais, independentes de qualquer grupa-
mento social. In “Lições de Sociologia — A Moral, o Direito e a Sociedade”. 
São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 153-167.
Aula 7:
Tocqueville e o judiciário americano no século XIX
TOCQUEVILLE, Alexis de. Do Poder Judiciário nos Estados Unidos e sua 
atuação sobre a sociedade política. Outros poderes concedidos aos juízes america-
nos. Do julgamento político nos Estados Unidos. In “Democracia na América”. 
São Paulo: Martins Fontes, 2001, Volume 1, p. 111-126.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 7
Aula 8:
Judicialização e crise republicana
VIANNA, Luiz Werneck et alii. Introdução. In “A Judicialização da Polí-
tica e das Relações Sociais no Brasil”. Rio de Janeiro: Revan, 1999, p. 15-44.
Aula 9:
O “capital” jurídico e sua disputa
BOURDIEU, Pierre. A Força do Direito: Elementos para uma sociologia 
do Campo Jurídico. In “O Poder Simbólico”. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2001, p. 209-235.
Aula 10:
A nomeação, a forma, a homologia
BOURDIEU, Pierre. A Força do Direito: Elementos para uma sociologia 
do Campo Jurídico. In “O Poder Simbólico”. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2001, p. 236-254.
Aula 11:
Ritualística forense: o Direito e seus símbolos
GARAPON, Antoine. O Espaço, o Tempo, a Toga, o Discurso Judiciário. 
Conclusão In: “Bem Julgar: ensaio sobre o ritual judiciário”. Lisboa: Instituto 
Piaget, 1997, p. 48-56, 73-87, 135-146 e 327-328.
Aula 12:
Interação e competição entre os juristas: um estudo de caso
BONELLI, Maria da Gloria. A competição profi ssional no mundo do Direito. 
In: “Tempo Social. Revista de Sociologia da USP”, Número 10, Volume 1, 
1998, p. 185-214.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 8
Aula 13:
Legalidade cotidiana: o senso comum jurídico
SYLBEY, Susan. Everyday life and the constitution of legality. In: JACOBS, 
Marc; HANRAHAN, Nancy (org.) “Th e Blackwell Companion to the So-
ciology of Culture”. Malden: Blackwell Publishing, 2005, p. 332-345.
Aula 14:
A categorização jurídica do mundo profano
DUPRET, Baudouin. A intenção em ação: Uma abordagem pragmática 
da qualifi cação penal num contexto egípcio. “Ética e Filosofi a Política”, v. 12, 
p. 109-140, 2010.
1E — BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
CAPPELLETTI, Mauro. O Problema da Legitimação Democrática do Direito Ju-
risprudencial. In “Juízes Legisladores”. Porto Alegre: safE, 1999, p. 93-107.
FONTAINHA, Fernando de Castro. Por um conceito de Direito em Marx. 
In: MONT’ALVERNE, Martonio; BELLO, Enzo. (Org.). “Direito e 
Marxismo”. 1 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, v. 1, p. 381-397.
__________. Da Sociologia Política à Sociologia Jurídica, da França ao Brasil: 
a prática da mini enquete como instrumento pedagógico. In: I Seminário 
Interdisciplinar em Sociologia e Direito, 2011, Niterói. Caderno de Ar-
tigos, 2011.
__________. Um pesquisador na EMERJ: a negociação de uma postura de 
pesquisa em um mundo institucionalizado. In: XX Encontro Nacional do 
CONPEDI, 2011, Belo Horizonte. Anais do XX Encontro Nacional 
do CONPEDI. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2011. p. 1952-1973.
GARAPON, Antoine. O Poder Inédito dos Juízes. In “O Juiz e a Democracia: 
o guardião de promessas”. Rio de Janeiro: Revan, 2001, p. 55-74.
GERALDO, Pedro Heitor Barros; FONTAINHA, Fernando de Castro; VE-
RONESE, Alexandre. Sociologia empírica do direito: Uma introdução. 
“Ética e Filosofi a Política”, v. 12, p. 1-13, 2010.
HALLIDAY, Simon et alii. Shadow Writing and Participant Observation: A 
Study of Criminal Justice Social Work Around Sentencing. “Journal of Law 
and Society”, Vol. 35, Issue 2, p. 189-213, 2008.
LIMA, Roberto Kant de. Por uma antropologia do Direito, no Brasil. In: “En-
saios de Antropologia e de Direito”. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
MARX, Karl. Sociologia da Política. In SOUZA, Amaury de. (org) “Sociolo-
gia Política”. Rio de Janeiro: Zahar, 1966, p. 11-33.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 9
MERTZ, Elizabeth. Law, language and the Law School Classroom. In: “Th e 
language of Law
School: learning to think as a lawyer”. Oxford: Oxford University Press, 
2007, p. 12-30.
OLIVEIRA, Luciano. Não fale do Código de Hammurabi! A pesquisa sócio-
jurídica na pós-graduação em Direito. In: “Sua excelência o comissário e 
outros ensaios de Sociologia Jurídica”. Rio de Janeiro: Letra Legal, 2004.
SANTOS, Boaventura de Souza. Sociologia dos Tribunais e Democratização da 
Justiça. In “Pela Mão de Alice. O social e o político na pós-modernida-
de”. São Paulo: Cortez, 2001, p. 161-186.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 10
2 — CONTEXTUALIZANDO OS AUTORES E TEXTOS
2A — AULA 2: EVOLUÇÃO DAS LEIS FABRIS INGLESAS NO SÉCULO XIX
KARL MARX
INTELECTUAL E ATIVISTA
Em 05 de maio de 1818, nasceu Karl Heinrich Marx, na histórica cidade 
de Trier, antiga capital de província do Império Romano, posteriormente ca-
pital da província alemã do Reno e, como toda a Europa Ocidental, infl uen-
ciada à época pelos ideias liberais franceses. Um dos oito fi lhos de Heinrich 
Marx e Enriqueta Pressburg, Karl Marx estudou em sua cidade de origem até 
ingressar, para a satisfação do pai advogado e conselheiro de justiça, no curso 
de Direito da Universidade de Bonn, em 1835.
Dois anos depois, Marx transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde 
participou do Clube dos Doutores, orientado pelo fi lósofo hegeliano que 
lecionava na universidade, Bruno Bauer. De Berlim, escreveu emocionada 
carta ao pai confessando que passaria a se dedicar aos estudos de Filosofi a. 
Assim, aproximou-se de uma das principais infl uênciassobre toda a sua obra, 
a fi losofi a dialética do alemão Georg Hegel1. Marx veio a dirigir duras críticas 
à apreensão que Bauer fazia do idealismo hegeliano em duas de suas mais 
importantes obras, A Sagrada Família (1845) e A Ideologia Alemã (publicada 
apenas em 1932). As críticas são tão diretas — mas não menos irônicas — que 
sobressaem dos subtítulos de ambos os trabalhos2 e do prólogo do primeiro. 
Em meio ao embate com Bruno Bauer e outros fi lósofos contemporâneos de 
Marx, emerge a concepção materialista da história3, com os contornos com 
os quais permeou toda a obra marxista.
Parceiros em A Sagrada Família e A Ideologia Alemã, Karl Marx e Friedrich 
Engels conheceram-se na redação da Gazeta Renana, em 1842. Nesta época, 
Prússia, França e Inglaterra já tinham aprovado as primeiras leis de proteção 
aos trabalhadores e Engels havia dado início aos estudos que o levariam a 
publicar A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra.
1. “A reformulação crítica da fi losofi a da 
história de Hegel por Marx consiste na 
eliminação do sujeito fi ctício da história 
do mundo, chamado “Espírito do Mun-
do”, e no prolongamento do processo 
dialético de desenvolvimento histórico 
para o futuro. O reino da liberdade, que 
Hegel afi rmava plenamente realizado 
aqui e agora, está, para Marx, no futu-
ro, como uma possibilidade real do pre-
sente. A dialética das forças produtivas 
e das relações de produção que promo-
ve o progresso histórico não oferece – 
ao contrário da dialética do Espírito do 
Mundo de Hegel – nenhuma garantia 
de que o reino da liberdade se concreti-
zará: apenas apresenta a possibilidade 
objetiva desse desdobramento. Se a 
revolução da sociedade, historicamente 
possível, não ocorrer, então a recaída na 
barbárie, como dizia Rosa Luxemburg 
ou a ‘ruína das classes em luta’ (Marx) 
também é possível” (BOTTOMORE, 
1988, p. 175-176).
2. A Sagrada Família ou a crítica da Crí-
tica crítica (contra Bruno Bauer e seus 
consortes) – em referência ao Jornal Li-
terário Geral, editado por Bruno Bauer, 
também chamado de a Crítica crítica. A 
Ideologia Alemã: crítica da mais recente 
fi losofi a alemã em seus representan-
tes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do 
socialismo alemão em seus diferentes 
profetas (1845-1846).
3. “A concepção materialista da história 
parte da tese de que a produção, e com 
ela a troca dos produtos, é a base de 
toda a ordem social; de que em todas as 
sociedades que desfi lam pela história, a 
distribuição dos produtos, e juntamente 
com ela a divisão social dos homens em 
classes ou camadas, é determinada pelo 
que a sociedade produz e como produz 
e pelo modo de trocar os seus produtos. 
De conformidade com isso, as causas 
profundas de todas as transformações 
sociais e de todas as revoluções políticas 
não devem ser procuradas nas cabeças 
dos homens nem na idéia que eles fa-
çam da verdade eterna ou da eterna jus-
tiça, mas nas transformações operadas 
no modo de produção e de troca; devem 
ser procuradas não na fi losofi a, mas na 
economia da época de que se trata”. (EN-
GELS, 2005, p. 69)
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 11
O ano seguinte foi de muita agitação para Marx, tanto em sua vida pes-
soal quanto no aspecto intelectual e político. Casou-se com uma antiga vi-
zinha de Trier, viu a Gazeta ser fechada e assumiu a função de diretor nos 
Anais Franco-Alemães, escreveu A Questão Judaica — que também reserva 
um capítulo para a crítica a Bruno Bauer — e Crítica da Filosofi a do Direito 
de Hegel e, viajando a Paris, conheceu as sociedades secretas socialistas e 
comunistas e as associações operárias alemães. Em 1845, por requisição da 
Prússia, Marx foi expulso da França, após ter publicado no órgão de im-
prensa dos operários alemães na emigração, o Avante!, artigo sobre greve na 
região prussiana da Silésia.
Morando em Bruxelas, Marx atuou em diversas organizações ligadas à 
causa operária. Organizou o primeiro Comitê de Correspondência da Liga 
dos Justos (renomeada Liga dos Comunistas), fundou a Associação Operária 
Alemã de Bruxelas e foi eleito vice-presidente da Associação Democrática. 
Atribuído pelo Congresso da Liga dos Comunistas da redação de um pro-
grama simultaneamente teórico e prático para o partido, publicou, também 
ao lado de Engels, O Manifesto Comunista, semanas antes da revolução de fe-
vereiro de 1848 na França. No Manifesto, Marx confronta outra importante 
infl uência sobre sua obra, o socialismo utópico francês4.
Neste contexto, Marx foi expulso de Bruxelas e convidado pelo governo 
revolucionário da França a retornar a Paris. Porém, com sua família (àquela 
altura, Marx era pai de três fi lhos e viria a ter mais três) e Engels, mudou-se 
para Colônia, onde o revolucionário dirigiu a Associação Operária de Colô-
nia, incitando a classe trabalhadora ao boicote fi scal e à resistência armada. 
Mais uma vez, como represália às suas atividades políticas, Marx foi obrigado 
a deixar o país em que residia.
Em Londres, Marx teve de superar problemas de saúde e fi nanceiros para 
aprofundar os estudos de Economia. Para tanto, recebeu o apoio de Engels, 
recorreu a recursos de heranças deixadas por seus parentes e de sua esposa e 
escreveu artigos para periódicos de nacionalidades diversas. Nos anos que se 
seguiram, lançou Para a Crítica da Economia Política e concentrou-se naquela 
que viria a ser considerada sua maior obra, O Capital. Conforme a descrição 
utilizada pelo revolucionário russo, Vladimir Lênin, a economia política in-
glesa é a terceira fonte ou parte constitutiva do marxismo, junto à fi losofi a 
alemã e ao socialismo francês.
A fragilidade de sua saúde e situação fi nanceira não foi sufi ciente para 
cansar o intelectual e ativista Karl Marx. Além de atuar em prol da indepen-
dência da Polônia, Marx foi fi gura central na Primeira Internacional, como 
fi cou conhecida a Associação Internacional dos Trabalhadores: concebeu-a 
em projeto e estatuto, escreveu seu Manifesto de Inauguração, organizou a 
pauta de seu primeiro Congresso e redigiu as teses de seu Conselho Central. 
Eleito e reeleito secretário da seção russa da Internacional, Marx aprofundou 
4. “O que era ‘utópico’, segundo esse 
enfoque, era a crença na possibilidade 
de uma transformação social total, 
que compreendesse a eliminação do 
individualismo, da competição e da in-
fl uência da propriedade privada, sem o 
reconhecimento da necessidade da luta 
de classes e do papel revolucionário do 
proletariado na realização dessa transi-
ção” (BOTTOMORE, 1988, p. 341).
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 12
os estudos e estreitou os contatos com a Rússia, ao mesmo tempo em que agia 
em defesa da Comuna de Paris.
Falecido em 14 de março de 1883, o pai do materialismo histórico e do 
socialismo científi co têm até hoje sua teoria revisitada na academia e reivin-
dicada por programas de partidos políticos de esquerda do Brasil e de todo 
o mundo. Karl Marx foi sepultado no Cemitério de Highgate, em Londres, 
onde ainda se prestam homenagens em frente ao seu busto. (Foto: Fernando 
Fontainha no túmulo de Marx em janeiro de 2007).
O CAPITAL. CRÍTICA DA ECONOMIA POLÍTICA.
Quando Karl Marx começou a redação defi nitiva de O Capital, em 1863, 
já vivia em Londres, onde se dedicava aos estudos de Economia, apesar das 
graves difi culdades fi nanceiras e da debilidade de sua saúde. Muitos anos 
depois da publicação do Manifesto Comunista, Marx ainda procurava conso-
lidar o arcabouço teórico do programa político ali defendido.
Como o autor explica no prefácio do primeiro volume da primeira edição 
de O Capital, este primeiro volume continuava o livro Contribuição à Crítica 
da Economia Política, editado 1859, em que analisa a mercadoria e o dinhei-
ro, desenvolvendo uma teoria sistemática do valor. O intervalo entre as duas 
publicaçõesse deveu justamente as enfermidades que o acometeram, tendo 
sido o primeiro volume de O Capital publicado apenas em 1867.
Dois volumes completam o trabalho de Marx. Porém, o autor não chegou 
a publicá-los em vida, foi Engels quem os editou. Enquanto o segundo volu-
me, publicado em 1885, concentra-se sobre as formas concretas do processo 
de produção capitalista, bem como de circulação de capital, o terceiro, publi-
cado em 1894, volta-se para a história da teoria.
A Inglaterra foi o país escolhido pelo autor para ilustrar sua teoria porque, 
segundo ele, era o campo clássico do modo de produção capitalista, suas rela-
ções de produção e circulação. Marx esclarece também que sua principal preo-
cupação em O Capital era com as leis naturais da produção capitalista — e não 
com a intensidade dos antagonismos sociais provocados por tais leis —, pois 
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 13
entendia que elas se impunham tanto sobre os menos desenvolvidos quanto 
sobre os mais desenvolvidos países capitalistas.
Outro aspecto da obra que merece destaque diz respeito ao tratamento que 
Marx confere aos indivíduos. O autor explicita que as pessoas somente o inte-
ressam enquanto representantes de categorias econômicas, isto é, de relações 
e interesses de classe. Em suas palavras, “a formação econômico-social como 
um processo histórico-natural exclui, mais do que qualquer outra, a responsa-
bilidade do indivíduo por relações, das quais ele continua sendo, socialmente, 
criatura, por mais que, subjetivamente, se julgue acima delas” (Marx, 1996). 
Assim, ao mesmo tempo em que a bibliografi a de O Capital traz à luz a ligação 
de Marx com a Escola Clássica5, a obra confronta a concepção individualista 
de homem econômico de seus principais representantes.
Publicado em inúmeros idiomas, reporta-se que a academia demorou para 
direcionar suas atenções para O Capital, enquanto muitos movimentos polí-
ticos já se debruçavam sobre ele. Com efeito, a obra é tida como base teórica 
da Revolução Russa de outubro de 1917. A despeito das críticas e ataques 
que sofreu, O Capital é reconhecido como poderoso instrumento de compre-
ensão tanto do passado quanto do presente, conforme deveremos constatar 
nas aulas desta disciplina. Segundo as palavras há poucos anos proferidas por 
Florestan Fernandes, a teoria marxista:
“Permite entender a economia capitalista em suas determinações mais gerais: 
que a contradição principal da atual fase capitalista é a que existe entre a produ-
ção e a apropriação da mais-valia, do excedente econômico em valor; que a atual 
expansão do capital especulativo e parasitário é a manifestação e o agravamento 
dessa contradição; que essa fase capitalista sobrevive sobre a base da intensifi ca-
ção da exploração do trabalho. A teoria do valor de Marx permite entender que 
essa fase capitalista não é eterna e que não poderá sobreviver por muito mais 
tempo” (Fernandes, 2008).
Por fi m, cabe destacar que o capítulo selecionado para nossa leitura (A Jor-
nada de Trabalho), por seu conteúdo mais descritivo, é indicado pelo próprio 
Marx para se iniciar o estudo de O Capital.
REFERÊNCIAS:
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. Trad. Wantensir 
Dutra. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. Título original: A Dictionary 
of Marxist Th ought.
5. “Marx recebeu a herança que a Econo-
mia Política poderia dar-lhe no século 
19, após uma longa evolução que co-
meça no mercantilismo (...) e culmina 
nos trabalhos de Adam Smith e de toda 
a Escola Clássica. Esta também era um 
produto direto da época que mais o 
interessava, motivo por que deu maior 
atenção aos seus representantes, à 
sua crítica, e ao seu desenvolvimento. 
Do ponto de vista metodológico, to-
davia, a obra de Marx representa uma 
ruptura profunda com a orientação 
científi ca dos Economistas da Escola 
Clássica. As críticas mais severas que 
esta recebeu, e que têm sido utilizadas 
posteriormente contra pontos de vista 
semelhantes, foram na maior parte ela-
boradas por Marx” (Fernandes, 2008).
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 14
ENGELS, Friedrich. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científi co. Trad. 
Rubens Eduardo Frias. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2005. Título Origi-
nal: Socialisme Utopique et Socialisme Scientifi que.
FERNANDES, Florestan. Introdução. In: MARX, Karl. Contribuição à Crí-
tica da Economia Política. Trad. Florestan Fernandes. 2. ed. São Paulo: 
Expressão Popular, 2007. Título Original: Zur Kritik der Politischen 
Oekonomie.
LENIN, Vladimir. As Três Fontes e as Três Partes Constitutivas do Marxis-
mo. In: As Três Fontes. 3. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2006, p. 65-
72. Editado a partir da publicação de Centelha. Coimbra, 1977.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã: crítica da mais recente 
fi losofi a alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e 
do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). Trad. 
Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano. São 
Paulo: Boitempo, 2007.
_______. A Sagrada Família ou a crítica da Crítica crítica (contra Bruno 
Bauer e seus consortes). Trad. Marcelo Backes. São Paulo: Boitempo, 
2003. Título original: Die heilige Familie oder Kritik der Kritischen 
Kritik (Gegen Bruno Bauer und Konsorten).
_______. O Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Anita Garibaldi, 
2006. Extraído de Obras Escolhidas, em 3 v. de K. Marx e F. Engels. 
Trad. Editorial Vitória Ltda.
MARX, Karl. A Questão Judaica. Trad. Sílvio Donizete Chagas. 6. ed. São 
Paulo: Centauro, 2007. Título original: Zur Judenfrage.
_______. O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I – O Processo de 
Produção de Capital. Trad. Reginaldo Sant’Anna. 15. ed. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 1996, v. I.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 15
2B — AULAS 3 E 4: MAX WEBER
A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER
Filho de um magistrado pertencente a uma família de classe média 
alta do ramo da indústria têxtil, Karl Emil Maximilian Weber, ou sim-
plesmente Max Weber, nasceu em 21 de abril de 1864, na cidade de 
Erfurt, na Alemanha, e, com poucos anos de vida, mudou-se para Ber-
lim, em virtude da eleição do pai como parlamentar pelo Partido Liberal 
Nacional. Os três grandes temas da obra weberiana — o poder político e 
as formas de dominação, a ética religiosa e o capitalismo — entrelaçam-
se com essa trajetória familiar e pessoal: “A vocação política vem-lhe da 
inclinação paterna, a religiosa da piedade materna, e o seu interesse pelo 
capitalismo da sua condição de alemão inserido no momento de maior 
crescimento do capitalismo alemão” (Marsal, s/d).
Weber foi educado desde cedo em uma tradição humanista. No colé-
gio, estudou História, línguas e Literatura Clássica. Chegando ao ensino 
superior, passou pela Universidade de Heidelberg, onde se matriculou 
no curso de Direito e de onde saiu para prestar um ano de serviço mili-
tar, pela Universidade de Berlim e pela Universidade de Göttingen, em 
que concluiu a graduação e, após um segundo período de serviço militar, 
obteve o título de doutor em Direito. Em Berlim e em Göttingen, Weber 
não só deu continuidade ao estudo de Direito, mas também aprofundou 
o conhecimento de línguas e se dedicou à Filosofia, à Economia e à 
História, tendo escrito sua tese de doutorado sobre a história das com-
panhias de comércio na Idade Média.
A carreira docente teve início em 1891, na Universidade de Berlim, 
substituindo temporariamente um professor de Economia. Em 1893, 
Weber tornou-se livre docente da Universidade e, no mesmo ano, casou-
se com a prima Marianne Schnitger. Posteriormente, ocupou a cátedra 
de Economia Política na Universidade de Freiburg e, em seguida, na 
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 16
Universidade de Heidelberg. Contudo, a morte dopai, cerca de um mês 
depois de uma violenta briga entre os dois, deteriorou a tal ponto a saú-
de mental do professor, que interrompeu suas atividades como docente. 
Weber fez muitas viagens pela Europa buscando relaxamento e repouso, 
porém, em um período de crise, chegou a ser internado por algumas 
semanas em uma casa de saúde para pessoas com perturbações mentais.
O retorno ao trabalho não se deu nas salas de aula universitárias. 
Weber passou a se dedicar à pesquisa em Ciências Sociais e à edição do 
periódico Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik. Foi a partir de 
então que Max Weber desenvolveu suas principais obras, escreveu sobre 
sociologia da religião, da arte e do Direito e proferiu conferências que 
até hoje são reproduzidas, como A Ciência como Vocação, em que critica 
professores que adotam uma postura de conselheiro de alunos, concluin-
do que o verdadeiro professor deve se ater a critérios científicos e evitar 
adentrar no mundo dos valores.
Dois episódios na primeira década do século XX marcaram os escritos 
de Weber, um em sua vida pessoal e o outro um acontecimento históri-
co. Em 1904, Weber fez viagem aos Estados Unidos que se refletiu em 
seus trabalhos sobre o sistema capitalista, como o estudo sociológico A 
Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, publicado no Archiv, que 
demonstra como a experiência religiosa do calvinismo influenciou o de-
senvolvimento econômico no ocidente. Em 1905, eclodiu a Revolução 
burguesa na Rússia, que veio a ser objeto de diversos ensaios do autor.
Em 1909, Weber participou da fundação da Sociedade Alemã de So-
ciologia e, nesta época, passou a se definir como sociólogo. No mesmo 
ano, começou a trabalhar em Economia e Sociedade, apontada por uma 
pesquisa de opinião realizada pela ISA (Associação Internacional de So-
ciologia) como a obra de Sociologia mais importante e influente do sé-
culo XX (Pierucci, 2008). Economia e Sociedade é a obra de Sociologia 
mais sistematizada de Weber e contempla os três grandes temas dos es-
tudos weberianos, a religião, o sistema capitalista e, sobretudo, os tipos 
de dominação.
Weber morreu acometido por uma pneumonia em 1920, aos 56 anos, 
pouco tempo depois de ter aceitado convite para voltar a lecionar e dei-
xando muitos escritos inéditos em diferentes estágios de maturação. Ma-
rianne, sua esposa, tornou-se, assim, a organizadora editorial de suas 
publicações póstumas, inclusive de Economia e Sociedade, que estudare-
mos em nossas aulas. (Foto: Fernando Fontainha no túmulo de Max e 
Marianne Weber em dezembro de 2010 — Begriedhof, Heidelberg).
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 17
ECONOMIA E SOCIEDADE
Economia e Sociedade tem uma história curiosa. A obra divide-se em duas 
partes6, mas a primeira começou a ser redigida cerca de cinco anos depois da 
segunda e há controvérsias sobre se elas deveriam ter sido publicadas como um 
trabalho único. Por que isso aconteceu? Quem nos conta essa história é o pro-
fessor da Universidade de São Paulo (USP), Antônio Flávio Pierucci (2008).
Em 1909, Weber foi convidado pelo editor Paul Siebeck para assumir o 
posto de editor principal de uma coletânea intitulada Elementos de Economia 
Social. A coletânea seria composta por cinco volumes contendo capítulos 
escritos por diferentes autores selecionados por Weber, que também seria 
responsável pela autoria de um dos capítulos.
Ocorre que um dos primeiros passos de Weber foi reformular todo o plano 
de conteúdos da coletânea. Lendo o novo sumário apresentado em 1910, o 
professor Pierucci indica que Weber pretendia demonstrar que uma “econo-
mia social” se constitui de relações não econômicas. Com efeito, “Economia 
e Sociedade” aparecia como título de um capítulo dividido em três tópicos 
que evidenciam tal intenção: a) Economia e direito; b) Economia e grupos 
sociais; c) Economia e cultura.
No entanto, a demora na entrega dos textos e a expansão de conteúdo da 
contribuição de alguns autores acabaram por atrasar em demasia o início da 
publicação da coletânea. Neste cenário, Weber e Siebeck decidiram conceber 
um novo plano geral de conteúdos. Em 1914, Siebeck propôs outro sumário, 
com um teor mais sociológico e no qual “Economia e Sociedade” constava 
como título de uma seção de capítulos que seria toda redigida por Weber e que 
aproveitaria os conceitos trabalhados pelo autor neste intervalo de alguns anos.
6. Não há correspondência exata entre 
estas duas partes e os dois volumes da 
edição brasileira publicada pela editora 
da Universidade de Brasília.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 18
Em meados de 1914, foi editado o primeiro volume dos cinco previstos 
para a coletânea. E foi o único, pois a eclosão da Primeira Guerra Mundial 
impediu que Weber e Siebeck dessem continuidade ao projeto. Weber já 
havia avançado na parte da coletânea que lhe cabia, mas interrompeu as suas 
atividades. Durante a Grande Guerra, o sociólogo serviu o exército pela ter-
ceira vez, sendo encarregado da administração de hospitais militares.
Após o término do confl ito, Weber retomou o trabalho, mas engana-se 
quem imagina que ele tenha continuado de onde a Guerra o interrompera. 
As diferenças entre o antigo e o novo manuscritos, como atesta o professor 
Pierucci, são fundamentais:
“Durante a Guerra Mundial de 1914-1918, Weber parou de trabalhar em 
sua contribuição para o Grundriss. Só foi retomá-la em 1919 e, mesmo assim, 
recomeçando tudo surpreendentemente de um novo começo. Partiu para a com-
posição de um texto puramente categorial de Sociologia, muito mais formal e 
sistemático do que histórico-substantivo, bem o contrário do que havia feito 
no primeiro manuscrito interrompido em 1914, considerado “mais sociológi-
co”. Ele parecia de tal modo decidido a uma reformulação radical do aparato 
conceitual que empregara nas etapas anteriores de sua produção, de tal forma 
determinado a colocar numa formulação rigorosamente sistemática um novo 
dispositivo de conceitos sociológicos, que, já no ano seguinte, estava pronto o 
novo trabalho”.
Contudo, um ano depois de ter iniciado o novo texto, Weber faleceu sem 
vê-lo publicado. Os escritos de 1919-1920 compuseram a primeira parte de 
Elementos de Economia Social, que só recebeu o título de Economia e Sociedade 
em sua 4ª edição de 1956. Nesta primeira parte, Weber, por meio do siste-
ma de tipos ideais7, trata dos conceitos sociológicos básicos, das categorias 
sociológicas bás icas da atividade econômica, dos tipos de dominação e dos 
estamentos e classes sociais. Já a segunda parte — de que foram selecionados 
os textos deste curso — reúne os segmentos escritos por Weber entre 1909 e 
1914 e outros manuscritos deixados pelo autor e organizados por Marianne.
REFERÊNCIAS
MARSAL. Juan F. Por que Weber? In: Conhecer Max Weber e a sua Obra. 
Trad. Manuel de Seabra. Portugal: Ulisseia, s/d. Título Original: Cono-
cer Max Weber y su Obra.
PIERUCCI, Antônio Flávio. Economia e Sociedade: últimos achados sobre 
a “grande obra” de Max Weber. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São 
Paulo, v. 23, n. 86, p., out. 2008.
7. “O tipo ideal, segundo Weber, expõe 
como se desenvolveria uma forma 
particular de ação social se o fi zesse 
racionalmente em direção a um fi m e 
se fosse orientada de forma a atingir 
um e somente um fi m. Assim, o tipo 
ideal não descreveria um curso concre-
to de ação, mas um desenvolvimento 
normativamente ideal, isto é, um curso 
de ação “objetivamente possível”. O tipo 
ideal é um conceito vazio de conteúdo 
real: ele depura as propriedades dos fe-
nômenos reais desencarnando-os pela 
análise, para depois reconstruí-los” 
(Tragtenberg, 1997). 
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 19
TRAGTENBERG, Maurício. Apresentação. In: Max Weber. Textos selecio-
nados. São Paulo: Nova Cultural, 1997. (Os Economistas).WEBER, Max. A Ciência como Vocação. In: Ciência e Política: duas voca-
ções. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
_______. A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo. Trad. José Marcos 
Mariani de Macedo. 1ª. reimp. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 
Título original: Die protestantische Ethik und der “Geist”des Kapitalis-
mus.
_______. Economia e Sociedade — Fundamentos da Sociologia Compreensi-
va. Trad. Regis Barbosa e Karen Elsabe Barbosa. São Paulo: UnB, 2004, 
vol. I e II. Título Original: Wirtschaft und Gesellschaft: Grundriss der 
verstehenden Soziologie.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 20
2C — AULAS 4 E 5: ÉMILE DURKHEIM
“O nome e a reputação de Émile Durkheim estão, em geral, associados aos 
esforços que empreendeu para tornar a sociologia uma disciplina científi ca siste-
mática. A permanência de seu pensamento, sua condição de “clássico” das ciências 
sociais, deve-se, no entanto, a mais que isso. Assenta-se nos conceitos que formulou 
para compreender a sociedade em seus diferentes estágios, assim como na deter-
minação do método mais adequado à explicação dos fatos sociais” (Musse, 2007).
As palavras do professor da USP (Universidade de São Paulo), Ricardo 
Musse, dão-nos uma pequena ideia do que Durkheim representa para a So-
ciologia. Nossa tarefa será, então, apresentar alguns traços de sua trajetória 
que o levaram a ser reconhecido como fundador dos cursos de Sociologia na 
França e, ao lado de Marx e Weber, como pai da Sociologia Moderna.
David Émile Durkheim nasceu em 1858 em Épinal, em solo francês. Fi-
lho, neto e bisneto de rabinos, experimentou a religiosidade, mas tornou-se 
agnóstico após mudar-se para Paris, onde estudou no Liceu Louis-le-Grand 
e, aos vinte e um anos, ingressou na Escola Normal Superior. Infl uenciado 
pelos diretores da Escola, estudou as instituições de Grécia e Roma e a obra 
de Montesquieu8, mas, como ainda não havia na França um curso regular de 
Sociologia9, mudou-se para a Alemanha para completar sua formação.
No retorno ao seu país, Durkheim lecionou Pedagogia e Ciência Social na 
Faculdade de Letras de Bordeaux. Entretanto, no seu entender, a Sociologia 
não deveria servir como mero instrumento para outras ciências. Com efeito, 
a Sociologia seria uma ciência distinta e autônoma e os fatos sociais não po-
deriam ser compreendidos afastados de uma cultura especialmente sociológi-
ca. O empenho em prol da “independência” da Sociologia foi reconhecido e 
Durkheim foi nomeado para a Universidade de Sorbonne, em Paris, onde a 
cátedra de Sociologia foi instituída em 1910.
8. “Para Durkheim, em O Espírito das 
Leis, Montesquieu não pretende es-
tudar os homens que governam, mas 
sociedades concretas. (...) A leitura 
durkheimiana de O Espírito das Leis 
evidentemente privilegia o peso das 
sociedades sobre os indivíduos, pois 
tem por objetivo descobrir em que 
medida Montesquieu pode ser tomado 
como precursor das Ciências Sociais.” 
(Ortiz, 1989)..
9. “A França, apesar de ser, num certo 
sentido, a pátria da Sociologia, não 
oferecia ainda um ensino regular des-
sa disciplina, que sofreu tanto com a 
reação antipositivista do fi m do século 
como uma certa confusão com o socia-
lismo – havia uma certa concepção de 
que a Sociologia constituía uma forma 
científi ca de socialismo” (Rodrigues, 
2001).
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 21
Contudo, ainda em Bourdeaux, antes dos quarenta anos de idade, o soció-
logo já havia desenvolvido chaves analíticas fundamentais de sua Sociologia: 
defi niu os fatos sociais e o método mais adequado para estudá-los, bem como 
traçou a distinção entre solidariedade mecânica e solidariedade orgânica, 
apontando para a preponderância progressiva da segunda, fundada na divisão 
do trabalho, nas sociedades modernas. Em outras palavras, em poucos anos, 
entre 1893 e 1897, Durkheim publicou três de suas mais importantes obras, 
A Divisão do Trabalho Social — sua tese principal de doutorado —, As Regras 
do Método Sociológico e O Suicídio:
Les règles de la méthode sociologique (1895) constitui a primeira obra exclusi-
vamente metodológica escrita por um sociólogo e voltada para a investigação e 
explicação sociológica. É importante ressaltar sua própria posição cronológica: 
publicada depois de Division du travail social (tese de doutoramento em 1893), 
seus princípios metodológicos são inferidos dessa investigação (ainda que não 
fosse trabalho de campo); tais princípios por sua vez são postos à prova e aplica-
dos numa monografi a exemplar que é Le suicide (1897), em que a manipulação 
de variáveis e dados empíricos é feita pela primeira vez num trabalho sociológico 
sistemático e devidamente delimitado (Rodrigues, 2001).
A passagem de Durkheim por Bordeaux foi marcada ainda pela fundação 
da revista L’Année Sociologique, que propiciou a formação de um laboratório 
de pesquisa coletiva sob sua liderança. A publicação tinha como objetivo, 
mais do que difundir literatura especifi camente sociológica, informar sobre 
as pesquisas em áreas como História e Economia, que serviriam de material 
para a construção da Sociologia.
Como ocorrera com Marx e Weber, importantes trabalhos de Durkheim 
foram publicados após o seu falecimento, em 1917, com base em manus-
critos, aulas e artigos dispersos. É o caso de Lições de Sociologia (1950), que 
conheceremos em nossas aulas. (Foto: Fernando Fontainha no túmulo de 
Émile Durkheim — Cimetière de Montparnasse, Paris, setembro de 2009).
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 22
ÉTICA E SOCIOLOGIA DA MORAL E LIÇÕES DE SOCIOLOGIA
Nascido em 1858, Durkheim cresceu em uma França marcada por guerras 
contra a Prússia motivadas pela disputa pelo domínio sobre a região da Alsá-
cia-Lorena, justamente onde se situava sua cidade-natal. A derrota de 1870, 
com a perda de uma parte da Lorena e a captura de Napoleão III, signifi cou o 
fi m do II Império Francês e a instituição da III República, que sobreviveu às 
primeiras décadas do século XX, perdurando até a Segunda Guerra Mundial.
O cenário, descrito por José Albertino Rodrigues (2001), é de rompimen-
to com tradições, com a instituição do divórcio e a proibição do ensino de 
religião nas escolas públicas, o que, aos olhos de Durkheim aparecia como 
um vazio na consciência moral dos franceses. Esta preocupação com a moral 
é tema dos dois textos selecionados para a leitura nesta disciplina, o primeiro 
destacado de Ética e Sociologia da Moral e o segundo de Lições de Sociologia.
Ética e Sociologia da Moral foi publicada logo no início da carreira do 
sociólogo, no ano de seu retorno da Alemanha. Durkheim, recorrendo às 
refl exões do jurista Rudolf Von Jhering e de outros notáveis alemães, descreve 
os esforços empreendidos naquele país para a constituição de uma ciência da 
moral. O tom parece ser o de esperança quando Durkheim conclui que exis-
te uma nascente ciência da moral e que um dia ela poderá estar a tal ponto 
evoluída, que a teoria poderá nortear a prática.
Publicada apenas meados do século XX10, Lições de Sociologia reúne aulas 
ministradas por Durkheim em Bordeaux e em Sorbonne. A obra é iniciada por 
três lições em que o sociólogo aborda a moral profi ssional, que se distingue da 
moral comum principalmente por sua violação ser vista com signifi cativa indul-
gência por parte da consciência pública. Em seguida, apresentam-se seis lições 
sobre a moral cívica, que rege as relações do indivíduo com a sociedade política 
(marcada pela presença de uma autoridade governante e pela pluralidade de 
grupos sociais). Quatro lições tratam da regra moral que resguarda o direito de 
propriedade individual, sendo complementadas por outras quatro lições que 
versam sobre direito contratual. Por último, mas não menos importante, mere-
ce menção a décima lição, que, por meio do exemplo do homicídio,estimula 
a refl exão sobre os deveres que, segundo Durkheim, se impõem ao homem, 
independentemente do grupo a que ele pertença e do local em que ele esteja.
REFERÊNCIAS
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional, 1972.
_______. Da Divisão do Trabalho Social. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 
2010.
10. Os manuscritos intitulados Física dos 
Costumes foram cedidos pelo etnólogo 
Marcel Mauss, sobrinho de Durkheim, 
à Faculdade de Direito da Universidade 
de Istambul, responsável pela publica-
ção original de Lições de Sociologia.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 23
_______. Ética e Sociologia da Moral. São Paulo: Landy, 2003.
_______. Lições de Sociologia. Trad. Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fon-
tes, 2002. Título original: Leçons de Sociologie.
MUSSE, Ricardo. Apresentação e Comentários. In: Émile Durkheim. Fato social 
e divisão do trabalho. São Paulo: Ática, 2007. (Ensaios Comentados).
RODRIGUES, José Albertino. Introdução. In: Durkheim. Sociologia. São 
Paulo: Ática, 2001. (Grandes Cientistas Clássicos).
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 24
2D — AULA 7: TOCQUEVILLE E O JUDICIÁRIO AMERICANO NO 
SÉCULO XIX
ALEXIS DE TOCQUEVILLE
IGUALDADE E LIBERDADE
Alexis de Tocqueville nasceu em 1805, em Paris, no seio de uma família 
nobre marcada pelos desdobramentos da Revolução Francesa de 1789. O 
jovem Alexis quase perdeu o pai, o historiador e político Hervé de Tocque-
ville, para a guilhotina, o que só não ocorreu graças ao 9 Th ermidor. O avô 
de Hervé, o também político Lamoignon de Malesherbes, não teve a mesma 
sorte. Por sua defesa de Luís XVI, ele e outros entes queridos foram presos e 
guilhotinados entre 1793 e 1794.
Em sua análise sobre as causas da Revolução publicada em 1847, Hervé 
de Tocqueville concentra-se na deterioração dos laços entre a monarquia e a 
aristocracia francesas, ressaltando as reivindicações liberais da nobreza não 
atendidas pelo absolutista Luís XV (Furet, 2005). Pode-se dizer que, em algu-
ma medida, Alexis seguiu os passos do pai, colocando a aristocracia, em sua 
complicada relação com a democracia, no centro de sua obra. No entanto, 
engana-se quem, olhando para esse histórico familiar, deduza que o nosso 
personagem tenha se tornado avesso a qualquer transformação que afrontasse 
as estruturas aristocráticas. A leitura de A Democracia na América será crucial 
para evitar tal engano.A viagem aos Estados Unidos que permitiu que Ale-
xis de Tocqueville escrevesse sua primeira grande obra ocorreu entre 1831 e 
1832. Àquela altura, Tocqueville já havia obtido o grau de Licenciado em Di-
reito na Universidade de Paris, havia sido nomeado juiz-auditor em Versalhes 
e assistido a cursos sobre a história da civilização europeia, lecionados por 
François Guizot na Universidade de Sorbonne. Tocqueville foi acompanhado 
do amigo e também magistrado Gustave de Beaumont, ambos atribuídos do 
estudo das instituições penitenciárias americanas.
Nos anos que seguiram o retorno à França, os dois amigos publicaram o 
relatório sobre o sistema penitenciário americano (1833) e Tocqueville o pri-
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 25
meiro volume de A Democracia na América (1835). Após viagens à Inglaterra, 
onde conheceu sua esposa, e à Suíça, Tocqueville passou a experimentar os 
sabores e dissabores de uma carreira política.
Eleito deputado do distrito de Valognes e membro da comissão encarregada 
de elaborar a Constituição após a Revolução de Fevereiro de 1848, Tocquevil-
le atuou coerentemente com seus escritos, em prol da liberdade dos cidadãos 
franceses. No seu entender, os poderes estatais só deveriam prevalecer quando 
em nome da garantia das liberdades fundamentais. Assim, sustentou que a 
educação fosse obrigatória e assegurada pelo Estado, mas sem que se interferis-
se na autonomia pedagógica das escolas. Defendeu, ainda, a descentralização 
administrativa e a liberdade de imprensa e relatou leis em favor da reforma 
prisional e da abolição da escravatura nas colônias, embora não abrisse mão 
da dominação da Argélia, vista como importante para a grandeza da França.
Neste cenário, Tocqueville fez viagens à Argélia e à Alemanha, foi eleito 
para a Academia Francesa e novamente para mandato legislativo e ocupou o 
cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo republicano de Luís 
Napoleão Bonaparte. Ocorre que, com o advento do golpe de Estado de Luís 
Bonaparte, Tocqueville redigiu manifesto contrário ao golpe e em afronta ao 
poder autoritário do então Napoleão III, o que acarretou em sua prisão.
Se por um lado Tocqueville viu interrompida sua carreira política, por 
outro, passou a dedicar-se à sua segunda grande obra, O Antigo Regime e 
a Revolução. O autor reconhece a Revolução Francesa como parte de um 
processo de desenvolvimento da democracia, na medida em que extirpou as 
instituições políticas aristocráticas e feudais e ergueu uma ordem social e po-
lítica fundada na igualdade de condições. Porém, alerta, como já havia feito 
em A Democracia na América, para os perigos da confi guração de um Estado 
excessivamente centralizado, sem participação dos cidadãos na política e na 
administração pública. O Antigo Regime e a Revolução foi publicado em 1856, 
cerca de três anos antes de Alexis de Tocqueville falecer.
A DEMOCRACIA NA AMÉRICA
É sabido que Tocqueville viajou aos Estados Unidos da América com a 
atribuição de estudar o sistema prisional daquele país. É sabido também que, 
na época da viagem, Tocqueville vivia um momento de desconforto na Fran-
ça — com o advento da Revolução de 1830 e a lei de 31 de agosto do mesmo 
ano, que impunha o juramento ao novo rei. Contudo, foram estes realmente 
os principais motivos de sua viagem? Teriam as refl exões desenvolvidas em A 
Democracia na América surgido somente em solo americano? O historiador 
francês François Furet traz à baila carta em que o próprio Tocqueville admite 
que a resposta para as duas indagações é negativa:
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 26
“Não foi portanto sem ter refl etido maduramente a esse respeito que me aba-
lancei a escrever o livro que ora estou publicando. Não dissimulo em absoluto o 
que há de incômodo na minha posição: ele não deve atrair para mim as simpa-
tias vivas de ninguém. Uns acharão que no fundo eu não gosto da democracia 
e que sou severo para com ela; outros pensarão que favoreço imprudentemente 
o seu desenvolvimento. O que haveria de mais feliz para mim seria que não se 
lesse o livro, e essa é uma felicidade de que talvez desfrutarei. Sei de tudo isso, 
mas eis a minha resposta: há dez anos venho pensando parte das coisas que logo 
lhe exporei. Fui para a América apenas para me esclarecer sobre esse ponto. O 
sistema penitenciário era um pretexto: tomei-o como um passaporte que me 
permitiria penetrar em todos os lugares dos Estados Unidos” (Tocqueville, apud, 
Furet, 2005).
Mais uma vez, as palavras do autor podem nos ajudar a identifi car o moti-
vo pelo qual os Estados Unidos foram escolhidos como seu objeto de análise:
“Portanto, não é apenas para satisfazer a uma curiosidade, de resto legítima, 
que examinei a América; quis encontrar ali ensinamentos que pudéssemos apro-
veitar. Enganar-se-ia estranhamente quem pensasse que quis fazer um panegí-
rico; quem ler este livro fi cará convencido de que não era esse o meu desígnio. 
Meu objetivo não foi tampouco preconizar determinada forma de governo em 
geral, porque sou dos que acreditam que não há quase nunca uma qualidade 
absoluta nas leis; nem mesmo pretendi julgar se a revolução social, cuja marcha 
parece-me irresistível, era vantajosa ou funesta para a humanidade; admiti essa 
revolução como um fato consumado ou prestes a consumar-se e, entre os povos 
que a viram produzir-se em seuseio, procurei aquele em que ela alcançou o 
desenvolvimento mais completo e mais pacífi co, a fi m de discernir claramente 
suas conseqüências naturais e perceber, se possível, os meios de torná-la provei-
tosa para os homens. Confesso que vi na América mais que a América; procurei 
nela uma imagem da própria democracia, de suas propensões, de seu caráter, de 
seus preconceitos, de suas paixões; quis conhecê-la, ainda que só para saber pelo 
menos o que devíamos dela esperar ou temer” (Tocqueville, 2005).
É interessante notar que, no entender de Tocqueville, sua obra poderia 
ser interpretada de maneiras diametralmente opostas: seus leitores poderiam 
enxergá-lo tanto como um defensor incondicional quanto como um crítico 
ferrenho da democracia. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, Tocqueville 
enxergava que as nações inexoravelmente caminhariam rumo à democracia, 
mas advertia que a igualdade de condições poderia representar uma ameaça 
à liberdade. No continente americano, no país que havia feito a revolução 
social sem a revolução das armas, Tocqueville acreditava ter encontrado pos-
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 27
síveis antídotos para essa incompatibilidade. No entanto, com seu estudo, 
não desejava prescrever uma receita a ser copiada por outros países, mas jogar 
luz no funcionamento e efeitos das instituições estadunidenses, de maneira 
que se aproveitasse o que conviesse a cada processo de desenvolvimento de-
mocrático.
A Democracia na América divide-se em dois volumes. No primeiro, intitu-
lado Leis e costumes e publicado em 1835, com uma descrição detalhada das 
instituições, Tocqueville examina as principais características da democracia 
nos Estados Unidos e suas consequências no que tange ao governo, às leis e à 
administração dos negócios públicos. Assim, há textos sobre cada um dos três 
poderes republicanos — como os selecionados para a leitura nesta disciplina 
—, sobre direitos fundamentais e sobre a descentralização de poderes para os 
estados, que se revela como um ponto crucial para se compreender a relação 
entre igualdade e liberdade nos Estados Unidos. No segundo volume, Senti-
mentos e Opiniões, publicado cinco anos mais tarde, o autor procura demons-
trar a infl uência do estado social democrático sobre o movimento intelectual, 
hábitos, ideias e sentimentos da sociedade estadunidense e a infl uência que 
tais ideias e sentimentos, por sua vez, exerciam sobre a política.
Se houver sinceridade na declaração de Tocqueville de que seria mais feliz 
se A Democracia na América não fosse lido, ele não estaria exultante se vivesse 
no Brasil atualmente. Ora, o livro é estudado em cursos de graduação e pós-
graduação em Ciências Sociais, já foi citado em decisões de diferentes Mi-
nistros do Supremo Tribunal Federal11 e possui edições publicadas por pelo 
menos quatro editoras brasileiras12.
REFERÊNCIAS
FURET, François. Prefácio, Bibliografi a e Cronologia. In: TOCQUEVILLE, 
Alexis de. A Democracia na América. Trad. Eduardo Brandão. 2. ed. São 
Paulo: Martins Fontes, 2005. v. 1. p. XI-LVI. Título Original: De la 
Démocratie en Amérique.
OLIVEIRA, Isabel de Assis Ribeiro. Teoria Política Moderna: uma introdu-
ção. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
QUIRINO, Célia Galvão. Tocqueville: sobre a liberdade e a igualdade. In: 
WEFFORT, Francisco (Org.). Os Clássicos da Política. 11. ed. São Paulo: 
Ática, 2006. v. 2. p.149-160.
TOCQUEVILLE, Alexis de. A Democracia na América. Leis e Costumes. 
Trad. Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. v. 1. 
Título Original: De la Démocratie en Amérique.
11. Vide a Arguição de Descumprimento 
a Preceito Fundamental 130 e a Ação 
Direta de Inconstitucionalidade 3367, 
entre outras ações.
12. Companhia Nacional, Edusp/Itatiaia, 
Folha de São Paulo e Martins Fontes.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
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_______. A Democracia na América. Sentimentos e Opiniões. Trad. Eduardo 
Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. v. 2. Título Original: 
De la Démocratie en Amérique.
_______. O Antigo Regime e a Revolução. Trad. Yvone Jean. 4. ed. Brasília: 
UnB, 1997. Título Original: L’Ancien Regime et La Revolution.
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2E — AULA 8: JUDICIALIZAÇÃO E CRISE REPUBLICANA
O LIVRO E SEUS AUTORES
Luiz Jorge Werneck Vianna, Maria Alice Rezende de Carvalho, Manuel 
Palacios Cunha Melo e Marcelo Baumann Burgos integram o Cedes (Centro 
de Estudos de Direito e Sociedade)13, os três primeiros como coordenadores 
e o último como membro de seu conselho consultivo. O Cedes apresenta-se 
não somente como um centro de pesquisas — que, diante do declínio da 
esfera pública tradicional, busca compreender os espaços para o exercício da 
soberania popular e as novas formas de aquisição de direitos —, mas também 
como um centro de divulgação de conhecimentos e de animação da vida 
associativa popular.
O Cedes não é, contudo, a única instituição que liga os quatro douto-
res em Sociologia. Todos cursaram o doutorado no Iuperj, com a exceção 
de Werneck Vianna, doutor pela USP (Universidade de São Paulo). Porém, 
Werneck Vianna foi professor do Instituto por nada menos que trinta anos, 
tendo inclusive orientado as teses de doutorado de Manuel Palacios e Marce-
lo Burgos, bem como a dissertação de mestrado de Luanda Botelho, coautora 
deste material didático.
Os anos de Iuperj foram muito frutíferos para a parceria entre os quatro 
estudiosos. Em 1995, foi publicado o primeiro livro assinado pelo grupo, O 
Perfi l do Magistrado Brasileiro, que divulgou os dados obtidos pela primeira 
parte de uma pesquisa sobre a magistratura e o Poder Judiciário brasileiros, 
encomendada pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) ao Ins-
tituto. O impressionante número de 3.927 magistrados, ativos e inativos, 
respondeu ao questionário formulado pelos pesquisadores.
Pouco tempo depois, foi publicado Corpo e Alma da Magistratura Bra-
sileira, que se baseou nos dados da mesma pesquisa. Entretanto, no novo 
livro, além de sistematizar informações sobre o perfi l e a trajetória familiar, 
13. O Cedes é um centro de estudos 
atualmente associado à PUC-Rio (Pon-
tifícia Universidade Católica do Rio de 
Janeiro). No entanto, até 2010, o Ce-
des era associado ao Iuperj (Instituto 
Universitário de Pesquisas do Rio de 
Janeiro). A mudança se deu por ocasião 
da absorção de quase todos os profes-
sores e todos os alunos do Iuperj pela 
Uerj (Universidade do Estado do Rio 
de Janeiro), onde fundaram um novo 
Instituto, o Iesp (Instituto de Estudos 
Sociais e Políticos). Luiz Werneck Vian-
na participou da fundação do Iesp, mas 
optou por seguir para a PUC-Rio, junta-
mente com o Cedes.
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FGV DIREITO RIO 30
acadêmica e profi ssional dos magistrados, os autores procuram estabelecer 
correlações estatísticas entre as respostas dadas nos questionários. Neste pas-
so, foram construídos indicadores que mapeiam as opiniões dos magistrados 
sobre os papéis do Estado, em especial quanto ao uso de políticas sociais 
como instrumento redistributivo, sobre a organização e a atuação do Poder 
Judiciário e sobre a própria magistratura.
Em 1999, os autores trouxeram a público os resultados da segunda par-
te da pesquisa. Naquele ano, Werneck Vianna, Maria Alice de Carvalho, 
Manuel Palacios e Marcelo Burgos lançaram o seu trabalho conjunto mais 
relevante: A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil. A afi rma-
ção da relevância do trabalho não é exagerada. De fato, àquela altura, entre 
nós, o tema ainda não aparecia com destaque na academia14. No entanto, o 
destaque seria merecido, pois como bem observaram os autores, o Judiciário 
se mostrava “uma instituição central à democracia brasileira, quer no que se 
refere à sua expressão propriamentepolítica, quer no que diz respeito à sua 
intervenção no âmbito social” (Vianna, et. al., 1999).
A partir de então, mais estudiosos passaram a se concentrar na questão 
da judicialização, seja no campo das políticas públicas, seja no das relações 
trabalhistas, entre outros15. O papel do Poder Judiciário suscita debates acalo-
rados, colocando em lados opostos aqueles que valorizam o Poder como uma 
nova arena para o exercício da democracia e da cidadania, como o próprio 
Werneck Vianna — que segue se manifestando sobre o tema por meio de 
artigos, entrevistas e palestras —, e os que o acusam de usurpador de compe-
tências dos demais Poderes16.
Independentemente da posição que se assuma ante os diferentes aspectos 
do fenômeno da judicialização, cumpre reconhecer os méritos de A Judiciali-
zação da Política e das Relações Sociais no Brasil. O livro, além de explicar cau-
sas, expor os eixos procedimentalista e substancialista de análise do fenômeno 
e situar a Constituição de 1988 no debate, apresenta e examina os resultados 
da pesquisa que abrange todas as mil novecentos e trinta e cinco ações diretas 
de inconstitucionalidade ajuizadas entre a promulgação da Constituição e o 
fi nal do ano de 1998 e dados sobre a institucionalização dos Juizados Espe-
ciais no Brasil e sobre o seu funcionamento no Rio de Janeiro.
Posteriormente, o artigo Dezessete Anos de Judicialização da Política, de au-
toria de Werneck Vianna, Marcelo Burgos e Paula Martins Salles, ampliou a 
abrangência da análise das ações diretas de inconstitucionalidade até o ano de 
2005. No artigo, conclui-se que, em nosso país, tais ações constituem, além 
de instrumento para a defesa das minorias, recurso institucional estratégico 
de governo. Segundo seus autores, as ações diretas de inconstitucionalidade 
fazem parte do cotidiano de nossa democracia, solucionando confl itos entre 
a sociedade e o Estado e no interior da própria Administração.
14. “Inexiste um esforço sistemático que 
se oriente ao estudo das grandes trans-
formações doutrinárias e intelectuais 
em curso – e não apenas ocorridas 
no campo do direito –, resultantes da 
exposição do direito, suas instituições e 
procedimentos a demandas crescentes 
dos cidadãos, com freqüência represen-
tadas por intérpretes vinculados à esfe-
ra pública, como o Ministério Público e 
a Defensoria Pública” (Portal do Cedes). 
Apesar da reconhecida falta de desta-
que concedida ao tema, não se podem 
ignorar os trabalhos que antecederam 
A Judicialização da Política e das Rela-
ções Sociais no Brasil, como Política e 
Economia no Judiciário, de Marcus Faro 
de Castro, e A Judicialização da Politica 
no Brasil, de Ariosto Teixeira. 
15. Citem-se alguns livros e artigos que 
tratam do tema da judicialização: 
Ministério Público e Judicialização da 
Política, de Cássio Casagrande, Judicia-
lização ou Representação?, de Thamy 
Pogrebinschi, Sentidos da Judicializa-
ção, de Débora Alves Maciel e Andrei 
Koerner, Judicialização e Privatizações 
no Brasil, de Vanessa Elias de Oliveira, 
e Os Partidos dentro e fora do Poder, de 
Matthew Taylor e Luciano Da Ros.
16. No dia 12 de abril de 2011, o Supre-
mo Tribunal Federal, no julgamento 
da Arguição de Descumprimento a 
Preceito Fundamental n. 54, decidiu 
que, nos casos de fetos anencefálicos, a 
interrupção da gravidez não se enqua-
draria no art. 124 do Código Penal que 
criminaliza o aborto. No dia seguinte, 
no programa de rádio a Voz do Brasil, 
um parlamentar afi rmou que iria pro-
por uma Emenda Constitucional que 
acrescentasse à Constituição um dispo-
sitivo que permitisse que o Congresso 
Nacional anulasse decisões do Supre-
mo que invadissem a competência do 
Poder Legislativo. A afi rmação é curiosa 
não apenas por levantar a indagação de 
quem seria o responsável por diagnos-
ticar a suposta invasão (seria o próprio 
Congresso?), mas principalmente por-
que o Supremo Tribunal Federal pode 
declarar a inconstitucionalidade de 
emendas constitucionais... 
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 31
REFERÊNCIAS
VIANNA, Luiz Werneck; BURGOS, Marcelo Baumann; SALLES, Paula 
Martins. Dezessete anos de Judicialização da Política. Tempo Social, São 
Paulo, v. 19, n. 2, nov. 2007.
VIANNA, Luiz Werneck; et. al. Corpo e Alma da Magistratura Brasileira. 3. 
ed. Rio de Janeiro: Revan, 1997.
_______. A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil. Rio de 
Janeiro: Revan, 1999.
Currículo Lattes de Luiz Werneck Vianna. Acesso em: 08 abr. 2012. Dispo-
nível em: http://lattes.cnpq.br/1944208293448093.
Currículo Lattes de Maria Alice Rezende de Carvalho. Acesso em: 08 abr. 
2012. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/2473628350274931.
Currículo Lattes de Manuel Palacios Cunha Melo. Acesso em: 08 abr. 2012. 
Disponível em: http://lattes.cnpq.br/0871769445993260.
Currículo Lattes de Marcelo Baumann Burgos. Acesso em: 08 abr. 2012. 
Disponível em: http://lattes.cnpq.br/7419302491760122.
Sítio virtual do Centro de Estudos de Direito e Sociedade. Disponível em: 
http://www.soc.puc-rio.br/cedes/. Acesso em 08 abr. 2012.
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2F — AULAS 9 E 10: PIERRE BOURDIEU
DA FILOSOFIA À SOCIOLOGIA E O PODER SIMBÓLICO
Nascido em agosto de 1930 em Béarn, região rural no sudoeste da França, 
Pierre Bourdieu era descendente de uma família de agricultores e cresceu ao 
lado de fi lhos de camponeses, de operários e de pequenos burgueses. O des-
taque do jovem aluno Bourdieu no ensino médio rendeu-lhe uma bolsa de 
estudos que lhe permitiu, assim como Durkheim, preparar-se para o ingresso 
na Escola Normal Superior no Liceu Louis-le-Grand de Paris, instituição de 
ensino concorrida, onde os melhores alunos da França imergiam nos estudos.
Na Escola Normal Superior, Bourdieu matriculou-se em Filosofi a, dedicando-
se principalmente ao estudo da Lógica e da História da ciência. Em 1954, gradu-
ado como fi lósofo, passou a lecionar no Liceu de Moulins. Contudo, cerca de um 
ano depois, sua carreira acadêmica foi interrompida pelo chamado militar. Em-
bora tenha sido convocado para Versalhes, por razões disciplinares, acabou sendo 
integrado à missão de pacifi cação da Árgelia, ainda colônia francesa na época.
Bourdieu foi professor na Universidade da Argélia, porém, foi novamente 
obrigado a abandonar a universidade em que trabalhava, desta vez, em de-
corrência do golpe pró-colônia, que colocava em risco a vida de franceses no 
continente africano. Em seu retorno à França, Bourdieu passou a lecionar 
na Universidade de Sorbonne e, em seguida, na Universidade de Lille, onde 
ministrou cursos sobre Marx, Weber e Durkheim. Ocupou também os car-
gos de diretor de pesquisas na École des Hautes Études en Sciences Sociales, 
professor do Collège de France e diretor da revista Actes de la Recherche en 
Sciences Sociales e do Centre de Sociologie Européenne.
Em O Legado Sociológico de Pierre Bourdieu (2002), o sociólogo francês Loïc 
Wacquant revela como cada etapa da trajetória pessoal de Bourdieu infl uenciou 
a trajetória intelectual, levando-o a caminhar da Filosofi a para as Ciências So-
ciais. Vejamos, então, algumas das principais observações de Wacquant.
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FGV DIREITO RIO 33
É interessante notar que até a infância de Bourdieu está refl etida em sua 
obra. De fato, seu último livro publicado, Le bal des célibataires, tem como ob-
jeto justamente a sociedade camponesa em que vivera, com foco na crise gerada 
pelas transformações nas estratégias maritais e relações de gênero em Béarn.
Passando ao período em que Bourdieu viveu em Argélia, Wacquant afi r-
ma categoricamente que o contato com as marcas das guerras debeladas 
pela França contra o nacionalismo argelino “mudou o destino intelectual de 
Bourdieu para sempre: a experiência despertou seu interesse pelasociedade 
argelina, de um ponto de vista político e científi co, e promoveu, na prática, 
sua conversão da Filosofi a para a Ciência Social” (2002). Com efeito, seu 
primeiro livro, Sociologie de l’Algérie, escrito em 1957, conjugando História, 
Etnologia e Sociologia, chama a atenção para as contradições da sociedade 
colonizada argelina e para as desilusões do movimento nacionalista. Também 
em solo argelino, em regiões que estiveram à frente das guerrilhas naciona-
listas, Bourdieu empreendeu seus primeiros inquéritos antropológicos, que 
resultaram nos trabalhos Travail et travailleurs en Algérie e Le déracinement. 
Com aparato etnográfi co e estatístico, Bourdieu, mais uma vez, aborda as 
questões do capitalismo colonial e da luta de libertação nacional.
O regresso à França não signifi cou o rompimento de Bourdieu com a ex-
periência vivida na Argélia, nem no que tange ao país enquanto seu objeto de 
estudo — realizando, em seus meses de férias, pesquisa de campo em áreas rurais 
e urbanas argelinas —, tampouco quanto à preocupação metodológica com as 
condições sociais e operações concretas de construção de seu objeto. Conforme 
aponta Wacquant, “essa era uma exigência prática incontornável, às vezes mes-
mo uma questão de vida ou morte, na Argélia beligerante” (2002). A relação 
entre o observador e seu objeto aparece como tema em diversos trabalhos de 
Bourdieu, dentre eles Esquisse d’une théorie de la pratique e Le métier de sociologue.
Em uma década marcada não somente pela descolonização da Argélia, mas 
também pelas manifestações de maio de 1968 e pela disputa entre os intelectuais 
no campo cultural francês, Bourdieu, aproveitando as infl uências de Marx, Weber, 
Durkheim e Bachelard, consolidou um quadro teórico original associado à produ-
ção de novos objetos de pesquisa. Fundador do Centre de Sociologie Européenne, 
Bourdieu incentivou e conduziu investigações sobre as relações entre cultura, po-
der e desigualdades sociais. Analisou as formas de apropriação de objetos culturais 
por diferentes grupos sociais e o papel do sistema de ensino na reprodução das 
desigualdades, revelando um espaço social organizado simultaneamente pelo ca-
pital econômico e pelo capital cultural. Wacquant, atento às lições de Bourdieu, 
esclarece que é a distribuição desses capitais que defi ne as oposições propulsoras 
“de confl ito nas sociedades avançadas, aquelas entre as classes dominantes e as 
dominadas (defi nidas pelo volume de seu capital), e aquelas entre frações rivais da 
classe dominante (opostas pela composição de seu capital)” (2002). Assim, foram 
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
FGV DIREITO RIO 34
gestadas algumas de suas mais importantes obras, como La distinction e Th e Logic 
of Practice.
Neste cenário, Bourdieu desenvolveu conceitos que aparecem em O Poder 
Simbólico, coletânea de textos de onde selecionamos A Força do Direito e que 
reúne outros artigos e conferências proferidas pelo autor. Para a nossa leitura da 
sociologia do campo jurídico, merecem destaque três conceitos. O primeiro, 
que atravessa toda a coletânea, é o de poder simbólico, “o poder quase mági-
co que permite obter o equivalente daquilo que é obtido pela força (física ou 
econômica), graças ao efeito específi co de mobilização, só se exerce se for reco-
nhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário” (Bourdieu, 2007). O segundo é 
o conceito de habitus, que, “como indica a palavra, é um conhecimento adqui-
rido e também um haver, um capital (de um sujeito transcendental na tradição 
idealista) o habitus, a hexis, indica a disposição incorporada, quase postural —, 
mas sim o de um agente em acção” (Bourdieu, 2007). Por último, mas não 
menos importante, a ferramenta analítica de campo designa, como bem sin-
tetiza Wacquant, “espaços relativamente autônomos de forças objetivas e lutas 
padronizadas sobre formas específi cas de autoridade, para dar força à estática e 
reifi cada noção de estrutura e dotá-la de dinamismo histórico” (2002).
Apesar de ter se tornado o cientista social mais citado do mundo17, Bourdieu 
evitou as possíveis distrações proporcionadas pela fama, sempre com vistas a 
preservar sua autonomia científi ca, que enxergava como pilar para uma socio-
logia rigorosa. No mesmo passo, procurou consolidar instituições científi cas 
alheias à interferência estatal e às regras de mercado, como o periódico já citado 
Actes de la recherche en science sociales e a Raisons d’agir Editions, que, denuncian-
do os males da globalização neoliberal, contestava a restrição das políticas do 
Estado de Bem-Estar Social na Europa. Bourdieu faleceu em 2002 e os últimos 
anos de sua vida foram marcados por esta resistência da autonomia intelectual, 
bem como por uma atuação que inspirou os mais diversos movimentos sociais, 
voltada a combater o neoliberalismo e a defender os desempregados, os desabri-
gados e os imigrantes ilegais. (Foto: Fernando Fontainha no túmulo de Pierre 
Bourdieu — Cimetière du Père Lachaise, Paris, setembro de 2010).
17. Apesar desse dado trazido por 
Wacquant, considerando-se a vasta 
produção de Bourdieu, não são muitos 
os seus trabalhos que foram traduzidos 
para a língua portuguesa.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
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REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 10. ed. Trad. Fernando Tomaz. Rio 
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. Título original: Le pouvoir symboli-
que.
WACQUANT, Loïq J. D.. O Legado Sociológico de Pierre Bourdieu: duas 
dimensões e uma nota pessoal. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, 
n. 19, nov. 2002. Acesso em: 02 maio 2012. Disponível em: http://
dx.doi.org/10.1590/S0104-44782002000200007.
SOCIOLOGIA DAS INSTITUIÇÕES JURÍDICAS
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2G — AULA 11: RITUALÍSTICA FORENSE, O DIREITO 
E SEUS SÍMBOLOS
ANTOINE GARAPON
BREVES LINHAS SOBRE OS DIVERSOS TRABALHOS DE GARAPON
Antoine Garapon, nascido em 1952, é um jurista francês, doutor em Di-
reito, que foi durante muitos anos juiz do Tribunal de Menores. Atualmente, 
Garapon pertence ao comitê de redação da revista Esprit, publicação mensal 
fundada em 1932 que se dedica à análise de transformações políticas, sociais e 
culturais, na França e no mundo. O primeiro artigo que Garapon publicou na 
revista, nos idos anos de 1985, tratou da perseguição a intelectuais na Iugos-
lávia e, desde então, o autor mantém o seu olhar de jurist a direcionado para a 
cena política internacional, abordando temas como o pós-guerra em Kosovo, 
o exército francês e a Argélia, o julgamento de Milosevic, direito internacional 
e terrorismo e a prevenção de genocídios como o que ocorrera em Ruanda.
Desde 1991, Garapon integra também a equipe permanente do Institut des 
Hautes Études sur la Justice, que propõe uma refl exão pluridisciplinar e trans-
nacional sobre a evolução do Direito e da Justiça. O instituto, criado com a 
fi nalidade de aproximar a pesquisa das necessidades práticas dos profi ssionais 
da Justiça, organiza suas atividades em cinco programas: Politiques de justice, 
Cultures judiciaires comparées, Régulation de la mondialisation, Justice pénale in-
ternationale e Images et représentations de la justice. Garapon, além de secretário 
geral do instituto, é responsável por um destes programas, o Cultures judiciaires 
comparées. Por meio de seminários internacionais e da elaboração de novos ma-
teriais pedagógicos sobre o tema, procura-se acompanhar a virada epistemoló-
gica observada no campo jurídico, que prioriza, ao invés do direito positivo, a 
justiça, entendida como realidade social concreta. Por isso se fala em “culturas 
judiciárias comparadas” e não apenas em “direito comparado”. Com esta men-
talidade, eleva-se o processo acima do direito, o procedimento acima de princí-
pios abstratos, os fatos e a verdade acima da argumentação jurídica.
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