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Lynn Kurland
** O Presente dos Natais Passados**
(The Gift of Christmas Past) —1996
	
Disponibilização em Esp: Nora y Marina
Tradução: YGMR
Revisão: Franciele
Revisão Final e Formatação: Gis Miranda
Projeto Revisoras Traduções
Resumo:
Sir Sweetums, o gato da Abigail Garret, fica perdido por algum tempo e a vida da Abigail parece vir-se abaixo: sem trabalho, sem gato, sem seguro desemprego e sem noivo justo a poucos dias do Natal... e a ponto de atirar-se da ponte ao rio. Bem, não se atirou exatamente, e sim caiu e quando subiu para tomar ar encontrava-se em um fosso. Não somente um fosso: já não estava em Wisconsin, mas na Inglaterra e já não era 1998, mas 1238! Conseguiu arrastar-se para fora do fosso e aproximar-se do portão ao final da ponte levadiça só para encontrar um homem vestido como um cavalheiro medieval com uma espada na mão o qual tampouco sabia o que fazer com ela!
Tudo é obra do Sir Sweetums, que passou já sua 9ª vida e é agora o gato anjo-da-guarda que tem a missão de lhe encontrar o par ideal.
Prólogo
—Damas—, disse Bruno, sacudindo sua cabeça com pesar. —O que é o que podemos fazer com elas?
Sir Maximillian Sweetums meneou sua cauda duas vezes, ajeitou-se mais comodamente sobre sua almofada, e admitiu para si mesmo que estava totalmente de acordo com o que tão indelicadamente havia dito seu companheiro.
—Ah, Bruno querido —, disse Sir Sweetums, - aí está à essência. As mulheres não gostam de ser “governadas”. Sobretudo a “Abigail”. Ela tem o espírito muito liberal e independente.
—Não que você não tenha tentado, Chefe—, disse Bruno. —antes que você, uh, quero dizer... Enquanto você ainda estava, uh...
Sir Sweetums levantou sua branca pata bem polida para poupar ao ruborizado bulldog de passar por mais vergonha.
—Sim, entendo—. Era muito descortês mencionar a um felino que suas nove vidas tinham terminado, mas Sir Sweetums passou por cima da questão. Depois de tudo, ele tinha vivido suas vidas ao máximo, usando seu considerável engenho e melhores artimanhas para seu maior proveito.
Ele tinha tido um “encargo” diferente durante cada uma de suas nove vidas, e ele tinha visto oito daqueles “encargos” mortais satisfatoriamente resolvidos. Era o número nove quem tinha evitado, e continuava fazendo-o, suas superiores habilidades casamenteiras. A “Abigail”. E ele tinha tentado, ah, como o tinha tentado.
Ele tinha feito um imencionável depósito na caixa de ferramentas de um eletricista pouco desejável. Abigail lhe tinha tido carinho. Tinha saltado do respaldo do sofá sobre um insofrível advogado, arrebatando a peruca do homem e atirado-a ao piso. As unhadas em calças de gabardina, uivos horripilantes, furtivos ataques dos arbustos - todos eles tinham servido só para manter ao indesejável com a “Abigail”. Mas um pretendente satisfatório? Sir Sweetums enrugou seu nariz aristocrático com desdém. Nenhum, querido leitor, nem sequer um! 
Mas isso foi antes. Depois de dois anos em sua pós-nona vida e o subseqüente ingresso na Sociedade de Felinos Guardiões, Sir Sweetums tinha encontrado ao Senhor Perfeito para a “Abigail”.
Agora tinha somente o problema de como fazer para que se juntassem.
—Hey! Chefe, uh, já está preparado para ir?
Sir Sweetums colocou um pouco de pele solta detrás de sua orelha esquerda. 
—Sim, meu amigo, acredito que chegou o momento. Você ocupou-se dos detalhes?
—Sim, Chefe. O filme está agora mesmo. Mas, como é que eles não têm alguma parte para um Animal da Guarda com ele?
—Possivelmente O Capra era alérgico.
Uma expressão pensativa desceu sobre a cara rechonchuda do buldogue. 
—Sim, disse, balançando a cabeça devagar. —Talvez seja isso—. Elevou o olhar para Sir Sweetums e lhe chamou a atenção quando viu que o felino se ajeitava para saltar. —Algo mais, Chefe, antes que se vá? Algo que queira levar? Alguma guloseima?
Sir Sweetums já estava saltando atleticamente da almofada. 
—Não há tempo, querido Bruno—, disse enquanto se afastava. —Não devemos fazer o destino esperar mais! 
—Boa sorte, Chefe! Vai necessitar —, acrescentou Bruno, em voz baixa. "Damas", disse, com uma sacudida lenta de sua cabeça. —O que vamos fazer com elas?
Capítulo 1
Não era uma vida maravilhosa. (1) 
Abigail Moira Garrett estava de pé sobre a ponte e baixou a vista para as águas escuras debaixo dela. Ainda não tinha podido encontrar um rio suficientemente caudaloso para lançar-se. O melhor que pôde encontrar foi o lago Murphy e a pequena ponte de um só sulco que se arqueava sobre o estreito final. Em vez de encontrar o fim de sua vida em uma correnteza de água, provavelmente o que conseguiria seria morrer estrangulada pelo lodo do fundo. Era o indicativo de como tinha estado indo sua vida ultimamente. 
Tudo tinha começado na segunda-feira passada. A luz acabou durante a noite, fazendo-a dormir até as dez da manhã. Tinha sido o telefonema de seu chefe que a tinha despertado. Havia lhe dito que não se incomodasse em ir. Nunca.
Se isto só tivesse parado ali. Mas não parou. E por quê? Porque ela tinha pronunciado as palavras, “não pode haver algo pior que isto”. Essas foram às palavras mágicas, que garantiram que estava equivocada, palavras que conjuraram cada força contrária no universo para pôr a zero todas suas possibilidades.
Na terça-feira tinha sido informada que, devido a uma interferência no sistema, levaria várias semanas para poder receber o seguro desemprego.
Na quarta-feira tinha sido informada que não conseguiria nenhum cheque porque seu número de Seguro Social não existia. Se ela quisesse dar entrada no Seguro Social, seu número era...
Na quinta-feira, seu locador lhe havia dito que a despejaria. Estando sem emprego, ela agora era uma parasita e ele não desperdiçaria uma oportunidade com ela. As dores no peito tinham começado essa noite.
Na sexta-feira seu noivo, a quem ela sempre tinha considerado como um homem encantador, um homem amável, e como um homem lindo, tinha-lhe deixado uma carta lhe dizendo que já que ela não tinha mais um trabalho e não seria capaz de mantê-lo no estilo ao qual ele se acostumou depois de que eles se casassem, ele seguiria adiante, a pastos mais verdes. À mulher no apartamento do lado, para ser exato.
E agora, depois de todo o resto, o Natal seria em três dias. O Natal era para ser passado com a família, desfrutando da amizade e alimento, e junto ao fogo. Tudo o que tinha para desfrutar era o aroma de meias três - quartos suadas que impregnava seu apartamento apesar de suas tentativas de dissipá-lo. Ela não tinha nenhuma família, nenhuma esperança para a posteridade e, sobretudo, nenhum gato.
� Nota da tradutora: Faz referência ao filme de Frank Capra: It’s a wonderful life: É uma vida maravilhosa.
Passou a manga da camisa pelos olhos. Este era seu segundo natal sem o gato. Já deveria estar acostumada agora, mas não estava. Como faria, depois de ter conhecido ao Sir Maximillian Sweetums, vivido com ele durante dez anos, para logo viver sem ele? Um dia ele estava aqui e no seguinte, poof, foi-se. Ela tinha chorado durante dias, tinha procurado semanas, tinha esperado durante meses. Mas Sir Sweetums não apareceu.
E agora este maldito filme acabava de tornar as coisas piores. Ela tinha visto George Bailey perder tudo, para logo recuperar-se ainda melhor, mais sensível ao espírito natalino. Certamente ele tinha tido uma maravilhosa vida. Tudo o que viu nesse filme tinha foi lhe fazer compreender exatamente tudo o que ela não tinha. Que demônios, nem sequer tinha seu número de Seguro Social!
Subiu o primeiro degrau do corrimão e olhou as aprazíveis águas abaixo. Bem, agora era tempo de controlar-se e tomar decisões. Não tinha nenhuma intenção de saltar – de qualquer modo, não faria grandes estragos. Bom, exceto o enredar-se com o lodo do rio, nada mais. Não, ela tinha vindo para enfrentar a morte e decidir se tinha por que viver.
Suas mãos se soltaram quando uma rajada de ventoa desequilibrou. Bem, então talvez isto fosse um pouco drástico, mas ela era uma Garrett e os Garretts nunca faziam as coisas pela metade. Isto era o que seu pai sempre lhe dizia e tinha tomado como regra de vida. Seu pai tinha cumprido. Ele tinha caído do Everest à idade de setenta anos.
Olhou fixamente para o aprazível lago e sopesou sua situação. Bom, tinha perdido seu trabalho. Não gostava de escrever a máquina para viver e odiava o vício de seu chefe em café. Podia encontrar outro. E seu apartamento era ofensivo a seu olfato. Poderia alugar algo melhor.
Seu noivo, Brett, poderia ser substituído também. Para que necessitava ela um perpétuo Peter Pan que tinha três vezes mais roupa que ela, usava litros de colônia, e a quem, embora custasse reconhecê-lo, devia apoiar enquanto ele se encontrava onde mesmo? Talvez ela procurasse um tipo diferente de homem desta vez, um a quem não lhe importasse trabalhar e que não ocuparia todo o espaço em seu armário. Ela cruzou seu coração enquanto fazia seu voto. Ninguém que se vista melhor cheire melhor, ou que trabalhe menos do que eu.
Possivelmente sua vida estivesse indo pelo ralo. Mas ao menos ela ainda estava na área, não fluindo para a boca-de-lobo. Poderia agüentar uns poucos dias.
Ah, mas Sir Sweetums. Abby cambaleou sobre o corrimão, tremendo. Ele era insubstituível. Inclusive depois de dois anos, ainda sentia sua perda. Com quem se supunha que falaria agora enquanto trabalhava na pequena horta abaixo? Quem a saudaria ao final de cada dia com um miado como dizendo, "como esteve, senhorita? Realmente exijo sua atenção!” Quem despertaria pelas manhãs com uma solene carícia sobre a bochecha com sua suave pata?
Miauuu!
Abby ofegou quando viu algo dar um salto como de anjo no lago. Subiu ao corrimão para ver melhor. Tinha que ter sido um gato. Definitivamente tinha miado e os faróis haviam certamente iluminado uma cauda.
Faróis? Um enorme caminhão viajando a uma velocidade insana retumbou sobre a ponte estreita, deixando uma pesada rajada de vento. Abby fez movimentos parecidos com um moinho de vento com seus braços ao lutar para manter equilíbrio sobre aquele delgado corrimão.
—Né! Eu estava resolvendo minha vida! —exclamou, lutando no ar.
Foi inútil.
A escuridão a rodeou. Não viu vir o lago, mas certamente o sentiu. Perdeu o fôlego de repente ao inundar-se sob a água. Afundou-se como uma rocha. Seu peito queimava pelo esforço de conservar o pouco fôlego que ainda possuía.
O tempo se deteve e ela perdeu todo o senso de direção. Ocorreu-lhe, fugazmente, que o lago Murphy não era tão profundo. Talvez ela tivesse golpeado sua cabeça sobre algo duro do fundo e agora estava alucinando. Ou pior.
Uma eternidade mais tarde, seus pés tocaram algo sólido, embora brando. Com a força nascida do pânico puro, empurrou-se do fundo pegajoso e pôde sair à superfície. Estava começando a perder a consciência e lutou com todas suas forças. Esta Garrett não fazia nada pela metade.
Saiu à superfície lutando para encher seus pulmões de ar. Sacudiu braços e pernas em um esforço por manter-se flutuando, agradecida de estar respirando ar e não água. Finalmente, conseguiu deixar de tossir tempo suficiente para poder respirar.
E então lamentou poder fazê-lo.
O aroma a aturdia. Seus dentes começaram a tocar castanholas. Talvez tivesse morrido e tivesse sido enviada diretamente ao inferno. Era assim como cheirava o inferno?
Bem, ao menos havia terra firme à vista. Era possível que ela saísse em uma parte diferente do lago Murphy. Coisas flutuavam perto dela, mas não ficou para investigar. Era melhor deixar sem examinar os detritos. Nadou para a borda e saiu da água. Estendeu-se sobre suas costas e fechou seus olhos, contente por estar sobre terra firme, ainda respirando, ainda consciente.
Tinha que controlar-se. A vida não era tão má, afinal de contas. Muita gente a deixava pior. Ela poderia havê-la deixado pior. Poderia ter se casado com o Brett e ver seu espaço do armário reduzir-se a nada. Poderia estar levando o café ao Sr. Schlessinger até parecer-se com o vaso de cactos que ele tinha no batente de sua janela. A vida lhe tinha dado a possibilidade de recomeçar. Seria muito ingrata se não aproveitasse a oportunidade e corresse como o demônio.
Inspirou profundamente uma última vez. Tinha que levantar-se, encontrar seu carro e ir para casa. Talvez parasse no Mini Mart e comprasse uma pequena guloseima. Um pouco de chocolate. Algo muito ruim para ela. Sim, isso é o que faria. Sentou-se, retirou o cabelo dos olhos e olhou para trás, sobre o lago, perguntando-se onde teria saído.
Ficou gelada.
Depois, sua mandíbula se afrouxou. 
Parecia que a lua tinha saído. Que bonito. Iluminava o campo bastante bem. Primeiro piscou. Depois esfregou os olhos.
Não estava sentava na borda do lago Murphy. Estava sentava na borda do fosso de um castelo.
Olhou a sua esquerda. A ponte que deveria ter estado sobre o final estreito do lago, não estava. Mas bem parecia uma ponte levadiça. Seguiu-o com o olhar através da água, logo levantou a vista. Voltou a piscar, mas não serviu de muita coisa.
Bem, talvez ela tivesse morrido e ido ao inferno. Mas sempre assumiu que o inferno era muito quente, com todo aquele fogo e enxofre ardendo. Ela definitivamente não estava quente e definitivamente não estava cheirando enxofre. Estava olhando um castelo.
Gemeu e se deitou sobre a grama. Desmaie, demônios! Ordenou-se.
Raios! Era essa maldita constituição Garrett destacando-se. Os Garretts nunca desmaiavam. Mas, ficavam loucos? Abby deu voltas em sua essa cabeça durante uns minutos. Não sabia de ninguém na família que tivesse enlouquecido. Muitos Garretts mortos por dirigir a velocidades suicidas nos vinhedos do avô, esquiando em colinas inseguras, escalando coisas que era melhor admirar de longe. Mas nenhuma incontinência, incapacidade, ou loucura.
Miauuu.
Abby se sentou tão rápido que viu estrelas. Pôs uma mão em sua cabeça. Uma vez que o mundo voltou para a rotação normal, olhou ao redor desesperadamente.
—Sir Sweetums? —chamou Abby.
Miauuu foi a resposta, a sua esquerda.
 Abby olhou, então olhou outra vez. 
—Sir Sweetums! —disse, saltando sobre seus pés. —É você!
Ali, a não mais de seis metros dela, estava sentado seu querido Sir Maximillian Sweetums, olhando-a fixamente com o que só poderia ser descrito como seu olhar de dignidade felina. Ele moveu suas orelhas para ela. 
Abby se adiantou, e logo se deteve. O que significava isto? Certamente Sir Sweetums não tinha sido enviado ao inferno. Mas ela havia sentido que ele não podia estar vivo. Significava isto que ela estava morta, também?
Sem mais preâmbulos, pegou-se com a mão uma forte palmada na cara.
—Auh! —exclamou, esfregando sua bochecha. Bem, isto respondia umas perguntas. Embora Sir Sweetums pudesse haver partido deixando seu couro para trás, ela não o tinha feito.
Mas, independentemente de seu estado, Sir Maximillian estava obviamente apressado para estar em algum lugar. Ele voltou a lhe miar, logo parou em quatro patas, deu um salto cheio de graça para mudar de direção, e rumou para a ponte levadiça.
—Hey! —disse Abby - espere!
E Sir Sweetums, sendo como era, não fez caso dela. Assim era a coisa com os gatos; pensavam por si mesmos.
—Sir Sweetums, espere!
O maldito gato estava agora sobre a ponte levadiça e partia diretamente para o castelo.
O castelo?
—Lidarei com isto mais tarde, - prometeu-se Abby.
Mais tarde… quando compreendesse por que a luz da lua iluminava umas paredes que terminavam em torres e essas pequenas fendas que pareciam suficientemente grandes para que um homem pudesse esconder-se e também disparar algo contra alguém, ou jogar azeite fervendo contra alguém. Mais tarde… quando tivesse decidido como estava ela: morta ou viva, no céu ou o inferno. Mais tarde… quando tivesse tomado um banho para tirar a encantadora fragrância de boca-de-lobo de seu cabelo e roupa.
—Hey, pare! —gritou Abby, atravessando a pontelevadiça. Ela se aproximou um pouco mais da porta. Parecia-se vagamente com algo que tinha visto em um documentário de castelos medievais. Abby suspirou e acrescentou esse pequeno detalhe a sua lista de coisas com as quais preocupar-se mais tarde.
Agora tinha que agarrar seu escorregadio gato antes que ele escapasse pelas aberturas da porta.
Ela deu um salto e conseguiu alcançar a cauda de Sir Sweetums. Acabou caindo, seu rosto em um atoleiro de barro, agarrando um punhado do que deveria ter sido pêlo de gato.
Levantou-se de um salto e aproximou da porta, olhando atentamente pelas aberturas. Eram de 25 centímetros de largura, suficientemente grandes para que pudesse olhar por elas, mas definitivamente não o bastante grande para atravessá-las.
—Sir Sweetums, — cantarolou, com sua melhor voz — venha—gatinho—que—tenho—sua—abastada—comidinha—em—seu—pratinho—preferido.
Nada. Merda!
—Vamos, Max, - tentou ela, com sua melhor voz de vou—te—matar—quando—te—pegar.
Nem sequer um meneio de cauda para lhe avisar que tinha sido ouvida.
—Venha aqui, gato estúpido! —gritou.
Isto não estava funcionado tampouco. Nenhum gato. Nem donos do castelo tampouco. Bem, talvez estivessem dormindo.
Pensou esperar até a manhã para pedir ajuda, mas havia algo em tudo aquilo que lhe dizia que não era uma boa opção. Possivelmente tudo isto era parte do inferno, também. Fantasmas de gatos, fedor parecido a uma boca-de-lobo aderido à roupa, entorno ilusório.
Esfregou sua lamacenta bochecha pensativamente. Estava dolorida ainda. Ela se sentia muito viva para estar morta. Não, ela não estava morta. Já totalmente em controle de suas faculdades mentais era discutível, mas deixaria esse pensamento para mais tarde.
O que queria agora eram um banho quente e uma taça Swiss Miss com pequenos malvaviscos. Era uma donzela em apuros. Talvez houvesse um formoso cavalheiro dentro, preparado para resgatá-la de sua desgraça.
E então, começou a gritar.
Capitulo 2
Miles de Piaget se acomodou em sua cadeira, aproximando seus pés do fogo que ardia no meio do grande salão, e tratou de dormir. Tinha uma cama, mas a tinha evitado em favor da cadeira dura. Provavelmente poderia haver-se contentado com simplesmente afogar-se com a abundante fumaça do salão, mas de algum modo esta tortura em dobro o tinha satisfeito mais. Certamente, tinha que permanecer ao serviço de seu Sire, mas poderia ter estado sentado em uma cadeira mais cômoda, desfrutando das festividades da estação em um salão sem fumaça. Artane era um lugar realmente moderno, com várias lareiras por parede, com suas respectivas chaminés para levar a fumaça fora. 
Mas Miles tinha procurado o desconforto e Speningethorpe certamente lhe proveu isso. Era, sendo cortês, uma maldita pocilga. Miles sabia que era afortunado de ter chegado e ter encontrado um lugar que tinha teto. Mas ele o tinha pedido. Quase o tinha exigido. Tinha querido um refúgio. Com o par de anos aos que acabava de sobreviver, paz e tranqüilidade era tudo o que necessitava, não importava a condição do entorno.
Ele nunca deveria ter feito a viagem à Terra Santa. Aye, esse foi o princípio de todos seus problemas. Agora, olhando atrás, sobre as ruínas de sua vida, perguntou-se por que seus motivos tinham parecido tão fascinantes então. Não era como se tivesse tido que provar-se ante seu Sire, ou ao resto do reino, na realidade. Vagamente recordava o desejo de ver o que seu pai e irmãos tinham visto em suas viagens.
Possivelmente a história tivesse terminado pacificamente se tivesse sido capaz de manter sua maldita boca fechada no caminho de casa. Azedado e desiludido depois da volta de Jerusalém, tinha soltado a língua em cima de um antigo cruzado francês. Se houvesse sabido quem era o insultado!
Deixou a um lado seus pensamentos. Não era bom deter-se no passado. Tinha escapado da França com seu corpo intacto e tinha que agradecer a seu avô por isso. Já fazia quatro meses que estava em casa; era tempo de enviar seu agradecimento ao homem pelo oportuno resgate. Faria-o, mal ele tivesse pensado o suficiente para estar em dia consigo mesmo. Mas, certamente, não seria antes que as celebrações terminassem. Se alguma vez havia sentido o desejo de celebrar o nascimento do Senhor, já não o tinha mais. Tinha visto muitas atrocidades cometidas em altares da conservação das santas relíquias. Nay, o que queria era silêncio, longe de sua família, longe da alegria e risada. Não tinha coração para tais coisas.
Seu pai não tinha discutido com ele. É que, Rhys de Artane tinha tido sua própria experiência de guerra, e o entendia. Não tinha feito nenhuma pergunta, simplesmente tinha atendido ao pedido de Miles de um desolado pedaço de terra, sem comentários. Sua única ação tinha sido o enviar, depois de outorgar-lhe uma guarnição generosamente provida. Miles tinha guardado os mantimentos, mas tinha enviado os homens de volta. Ele se inteiraria disto bastante logo. Riu com gravidade. Este fato provocaria indubitavelmente a seu pai. Esperava que sua mãe tivesse o mobiliário bem assegurado.
Um tronco estalou, sobressaltando-o. Trocou de posição na cadeira, e logo fez uma pausa. Era uma voz?
Certamente seu pai não teria cavalgado desde Artane tão rápido. Miles franziu o cenho. Teria que investigar, obviamente. Obrigou-se a levantar-se, sentindo-se muito mais velho que seus vinte e quatro anos. Os Santos tivessem piedade dele se alcançasse a idade de seu Sire. Já estava esgotado de viver.
Caminhou até a porta do salão, logo a desobstruiu levantando a viga de madeira de seus suportes de ferro. Deixou a viga a um lado e puxou a pesada porta para trás.
Definitivamente havia alguém na porta. Miles suspirou pesadamente e voltou até a cadeira para pegar sua espada. Teria sido sábio ao menos vestir a cota de malha, mas não tinha nenhum escudeiro para ajudá-lo, nem energia para armar-se sozinho. Uma espada e um cenho franzido teriam que bastar. Apanhou uma tocha do suporte na parede e deixou o grande salão. Possivelmente tinha sido muito precipitado em sua decisão de deixar para trás os criados. Era muito mais fácil perguntar quem estava às portas que averiguar o assunto por si mesmo.
Miles caminhou para a solitária guarita na parede exterior. Havia vezes em que se perguntava por que alguém se incomodou em construir uma parede rodeando o torreão. Speningethorpe era muito fácil de assaltar, um fato sobre o qual não pensava excessivamente. Quem quereria o lugar?
—Abram, maldita seja!
 Miles parou no túnel da guarita, muito surpreso para fazer algo mais que olhar fixamente. Havia algum tipo de criatura batendo em seu castelo, murmurando coisas de uma rápida, e obviamente irritado, modo.
A criatura interrompeu seu discurso e logo saltou acima e abaixo.
—OH, há alguém em casa! Genial. Você pode abrir esta porta? Perdi meu gato ai dentro. Ao menos penso que é meu gato. Ele se parece com Sir Sweetums, mas não sei como pode ser. — O ser parou de repente seu discurso e o olhou.
 Miles olhou para trás. Deu outro passo e se aproximou, mantendo afastada a tocha.
—Estou no inferno?—perguntou a criatura, duvidando.
 Miles quase sorriu. 
—Perto dele, certamente.
—Sério? — disse isto com um ofego.
 	Miles se adiantou mais um pouco. O ser que estava frente a ele se achava coberto de lodo. Franzindo o cenho, pensou que possivelmente era um demônio que vinha atormentá-lo. Os Santos sabiam que o merecia. Ele tinha cometido suficientes pecados em sua juventude para garantir que uma legião de demônios o atormentasse o resto de seus dias.
Mas os demônios cheiravam tão mal? Era um ponto sobre o qual não estava seguro. Considerou-o enquanto a arpía coberta de lodo que estava frente a ele lhe jogava outro olhar. Tinha que ser uma arpía. Ele tinha se informado que essas criaturas vagavam sobre a Grécia. Eram parte mulher e parte pássaro. Este ser, certamente, chiava como um. Ela falava a língua dos camponeses, mau, e seu acento era bastante estranho. Miles franziu o cenho.Vinha ela realmente da Grécia? E como tinha feito para estar de pé fora das portas do castelo? .
—Olhe, você ao menos pode abrir a porta? Estou congelando e imunda.
 Miles o considerou. 
—Com efeito, você tem o aroma mais asqueroso que já senti.
—Estive nadando no seu fosso.
—Ah, - ele disse. —Isso explica muito. 
A arpía lhe olhou com o cenho franzido. Miles se aproximou outro passo. Ela era uma arpía muito roliça, na verdade. Seus braços estavam excessivamente inchados, assim como sua cintura. Tinha pernas magras, pensou. Embora, sem dúvida, estivessem de acordo com sua metade de pássaro. Ficou olhando pensativamente suas pernas. Ela vestia umas meias muito estranhas. Inclusive eram estranhos seus sapatos. Ele se inclinou um pouco mais. Suas meias poderiam ter sido brancas em outra época. Era difícil dizer sua cor atual à luz da tocha, mas ele teve pouco problema em identificar o fedor.
—Hey! —chiou-lhe o ser, - você poderia me deixar entrar?
Ele vacilou. 
—É realmente uma arpía? 
A criatura franziu o cenho. 
—Certamente que não. Quem é você? O porteiro do inferno?
Miles riu, a seu pesar. 
—Você insulta tanto a mim como minha fina mansão, e agora devo lhe deixar entrar?
A mulher, que dizia não ser uma arpía, olhou-o com fúria. 
—Mansão?
—Speningethorpe, - esclareceu-lhe.
—E onde é isso? —exigiu ela.
Ele encolheu os ombros. 
—Isso depende do ano, e quem é o rei. Como está perto do muro do Adriano, alguns anos se encontra na Inglaterra, alguns anos na Escócia. Um lugar encantador, realmente, se você não gosta das comodidades humanas.
A mulher cambaleou. 
—Inglaterra? Escócia?
—Aye, - disse Miles.
A mulher se sentou de repente. 
—Estou sonhando.
 Miles franziu seu nariz. 
—Não, penso que não está sonhando. Eu sei que não o faço.
A mulher elevou a vista para ele. Ele pensou que ela poderia estar à beira das lágrimas. Era difícil de dizer com toda essa lama sobre seu rosto.
—Estou tendo um dia muito ruim, - sussurrou ela.
Demoiselle, seu senso está um pouco mais que confuso. Já não é mais dia. A bem da verdade, já passa da meia-noite. 
Ela assentiu entumecidamente. 
—Você tem razão. 
 Miles a olhou e, apesar de seu bom senso, sentiu um pequeno estremecimento de compaixão. Ela tremia. Fosse ela o que fosse realmente, ele não podia dizê-lo, mas tinha vindo bater à sua porta no meio da noite procurando refúgio. Como poderia ele rechaçá-la?
Ele enganchou a tocha em um gancho da parede, em seguida voltou e a olhou.
— Você está sozinha?
Ela cabeceou outra vez, silenciosamente.
—Nenhum criado está à espreita, preparado para assaltar meu torreão e tomá-lo à força depois de que lhe deixar entrar?
Ela elevou a vista para ele e piscou. 
—Criados?
—Homens-de-armas. 
—Não. Somente eu e meu maltratado ego.
 Miles quase riu. 
—Muito bem, então. Os dois podem entrar. Levantarei a porta só o suficiente para que você passe por baixo, está de acordo?
—O que você disser.
 	Miles apoiou sua espada contra a parede e subiu trabalhosamente ao primeiro piso da guarita. Por isso ele sabia, a mulher poderia estar mentindo. Ela, muito possivelmente, poderia ser um chamariz enviado por algum laird das Terras Baixas para preparar o caminho para um assalto.
Ele se encontrou levantando o restelo apesar de tudo.
—Você está dentro? —perguntou.
Ouviu uma débil resposta afirmativa. Liberou a manivela e o restelo se fechou de repente. Miles baixou esmurrando a escada circular. Deu-se conta ao recuperar sua espada e a tocha com assombro ao encontrar ambos ainda em seus lugares. Os anos cobraram seu preço, pensou com um suspiro arrependido.
Bem, ao menos a mulher ainda estava só e não acompanhada por vinte homens armados. Isto não teria feito muito por seu humor. Sua convidada estava de pé do outro lado da entrada. Sorriu-lhe, aparentemente um pouco tímida.
—Sinto irromper em sua vida desta forma. Mas necessito um banho e depois eu gostaria de procurar meu gato.
—Gato? Seu nariz começou a mover-se só de pensar em tal animal. Esfregou o possivelmente ofendido apêndice quase sem pensar. — Gato, você disse?
—Você é alérgico? —perguntou-lhe ela.
—Alérgico?
Ela o olhou atentamente. 
—Você sabe, espirra quando há um por perto?
—Aye, é o que faço, demoiselle. Se seu animalzinho vagou por meu torreão, atrevo-me a dizer que não teremos nenhum problema em localizá-lo. 
Ela sorriu. Miles se encontrou Sorrindo em resposta. Santos do céu estava se tornando estúpido. Tinha admitido a uma desconhecida dentro de suas portas sem demandar saber absolutamente nada de suas intenções, salvo que ela estava procurando um felino perdido. Seu aspecto não fazia nada para recomendá-la, especialmente desde que ele pôde respirar o mesmo ar que ela ocupava. Mas sua risada era encantadora.
Sem dar-se conta, Miles sentiu surgir nele uma onda de bom humor. Na verdade ele poderia ter permanecido em Artane e desfrutado das festividades eventualmente, mas se o tivesse feito, não estaria na entrada com esta mulher. Melhor dizendo, não teria podido ajudá-la; por isso, pensava que tinha feito a escolha correta. Fez-lhe uma pequena reverência. 
—Miles de Artane, ultimamente de Speningethorpe, seu criado. —Endireitou-se e lhe lançou seu melhor olhar senhorial. Ela não respondeu. Ele esclareceu garganta. Possivelmente ela necessitava simplesmente algo mais para ser impressionada. Não tinha sentido não fazer uso de suas conexões. — Meu Sire é Rhys De Piaget, - disse ele. — Lorde de Artane. 
Ela o olhava em branco. 
—Você o conhece, não? —perguntou Miles, surpreso. A reputação de seu pai chegava do muro de Adriano até a Terra Santa. E se a reputação do Rhys não fosse suficiente, também havia seus irmãos maiores, Robin e Nicholas, que tinham a própria. Certamente esta mulher devia saber algo sobre sua família.
Sua boca se moveu, mas não saiu nada.
—Por todos os Santos, Lady, qualquer laird das Terras Baixas sabe de meu pai. 
Ela tragou. 
—Penso que estou realmente perdida aqui. 
 Miles franziu o cenho. 
—O que você perdeu?
—Minha mente. — Ela sacudiu sua cabeça, como se isso de algum modo solucionasse o problema. Mas não devia ter ajudado, porque ela juntou forças e deu uma dura sacudida em si mesma, que a fez tremer.
Miles olhou apressadamente para trás para ver o que se tirou.
—Olhe, - disse ela franzindo o cenho, - estou confusa. Agora, estou no inferno, ou não? Diga-me a verdade, é o mínimo que você pode fazer.
—Nay, Lady, não você está no inferno, - disse ele. — Como disse antes, você está em Speningethorpe. Está no norte da Inglaterra, na fronteira escocesa.
—E você é Miles do Ar - alguma coisa, recentemente chegado desse outro lugar, certo?
—Bastante perto. Aye.
Ela sacudiu sua cabeça. 
—Impossível. Não posso estar na Inglaterra. Eu estava no Freezing Bluff, Michigan, faz meia hora. Caí em um lago. — Ela começava a resfolegar. — Eu não posso ter emergido na Inglaterra. Coisas como estas, simplesmente, não acontecem! — Sua voz ficava cada vez mais frenética.
—Possivelmente o frio a aturdiu, — cogitou ele.
—Não estou aturdida! Cheiro muito mal para estar aturdida!
Ele teve que concordar, mas se absteve de dizê-lo.
—Inglaterra! Demônios! E nos limites da Inglaterra ainda por cima!
—Limites? — repetiu ele.
—Limites, — repetiu. Ela o olhou acusadoramente. — Certamente você não tem água corrente, verdade?
Miles gesticulou desculpando-se, para o fosso. 
—Não, temo que a água não corra a nenhuma parte. Por isso temos este aroma tão agradável.
—Ou um telefone?
—Telefone?—repetiu ele.
—OH, genial! —exclamou ela. —Isto é realmente genial! Nenhum telefone, nenhuma água corrente. Com certeza terei que conduzir minha própria água para um banho também, verdade?
—Nay, Lady. Ocuparei-me disso para você. —Deixou-a pensar que era cortês. Na realidade, ele não queria que se movesse excessivamente dentro de sua casa. Ela estava imersa até os ossose ele não queria água do fosso gotejando por toda parte em seu salão, que já era uma pocilga. A idéia de ter o poço negro esvaziando no fosso tinha parecido uma boa forma de dissuadir a atacantes, mas ele se perguntava sobre a sabedoria disso agora.
—Olhe, - disse ela, plantando suas mãos sobre sua amaciada cintura, - aprecio a hospitalidade, a que seja, mas o que realmente necessito de você é um banho, um chocolate quente e uma cama, e o agradeceria muito nessa ordem. Sir Sweetums terá que esperar até amanhã. As coisas parecerão mais claras pela manhã.
Disse o último como se o desafiasse a discordar dela.
Então ele assentiu, como se realmente estivesse de acordo com ela.
—E logo entenderei onde, infernos, estou.
Ele assentiu outra vez. Fosse o que fosse o que ela planejava, certamente necessitava um banho. Possivelmente seu juízo voltasse com um pouco de limpeza.
—Os Garretts nunca ficam histéricos, - disse ela severamente, meneando seu dedo em seu rosto.
—Ah, - disse ele, sabiamente. —É bom sabê-lo. —Só os Santos saberiam quão histérica era, mas ele tinha o pressentimento que a mulher ante ele nunca o tinha sido.
—Você é uma Garrett? —conjeturou.
—Abigail Moira Garrett.
—Abigail, repetiu ele.
—Correto. Mas não me chame assim. Só minha avó me chamava assim, e só quando eu fazia algo que não deveria ter feito. Chame-me Abby.
—Eu gosto mais de Abigail, - declarou ele.
Jogou-lhe um duro olhar. 
—Bem, trabalharemos nisso mais tarde. Agora, vamos ver se conseguimos um banho, verdade? 
 Miles olhou como partia para os estábulos. Ele sorriu a contragosto. Só os Santos sabiam de onde tinha surgido esta criatura, mas isso não o preocupava. Havia visto muitas coisas estranhas em suas viagens. Gostava de seu espírito. Ela o fazia rir com sua fanfarronice e bate-papo.
— Miles?
—Aye, Abigail?
—Não posso ver onde estou indo, - disse ela, soando como se estivesse inteiramente certa.
—Isso não deveria importar, já que a direção que escolheu é a incorreta. O grande salão é por este caminho.
Ela apareceu dentro do círculo de sua tocha outra vez. 
—Grande salão? O que é o que tem de grande? Você tem calefação central? O que, nenhum telefone, mas uma grande caldeira?
Miles ainda não tentava entendê-la. Inclinou a cabeça para sua direita. 
—Por este caminho, milady. Ocuparei-me do banho para você. 
Ele a conduziu ao salão acompanhou-a ao interior e pendurou de novo a tocha. Encaixou a barra cruzando a porta. Foi então quando a ouviu começar a resfolegar outra vez.
—Os Garretts não desmaiam. Os Garretts não desmaiam. 
—Voltarei para buscá-la quando a tina estiver cheia, - disse ele, lhe lançando seu melhor sorriso tranqüilizador. —As coisas parecerão melhor depois de um banho. 
Ela assentiu. 
—Os Garretts não desmaiam, - respondeu ela.
 	Miles ria para si mesmo enquanto cruzava o salão para as cozinhas. Se ela continuasse dizendo, chegaria a acreditar nela. 
Capítulo 3
Abby se sentou em uma primitiva tina de madeira refletindo sobre a vida e seus mistérios. Isto lhe deu dor de cabeça, mas ainda continuou refletindo. Os Garretts não fugiam das dificuldades.
Nem telefone, nem eletricidade e nenhum Mini Mart na esquina. As coisas não estavam parecendo boas. E ao olhar a seu redor, foi piorando. Tinha tropeçado com um lugar tão antiquado que parecia saído da Idade Média? O fogo na lareira dava bastante luz para iluminar uma cozinha que continha pisos de pedra, mesas desbastadas e negras caldeiras ordinárias. Não exatamente digna do Better Homes and Gardens.
Abby se levantou e se enxaguou com uma água de questionável claridade. Não estava segura de sentir-se muito melhor. Inclusive o sabão que Miles lhe tinha dado era barato. Nesse momento decidiu que era uma pessoa com pouca gordura, especialmente quando teve que se ensaboar. No mínimo, pensou, lavou-se com um pedaço de gordura animal. Arquivou isto junto com meia dúzia de outras coisas que digeriria mais tarde. Tinha um lado positivo, pensou, ao menos não cheirava mais como uma boca-de-lobo. Esbanjaria o dinheiro em num sabonete dos sonhos quando chegasse em casa.
Secou-se com um trapo completamente inadequado, logo olhou o que Miles lhe tinha dado para vestir: toscas meias tecidas em casa e uma túnica igualmente prosaica. Não eram exatamente da melhor qualidade, mas serviriam. Vestiu a roupa, sem sua roupa íntima molhada, e percebeu, não surpreendentemente, que os objetos usados de Miles eram muito grandes. Poderiam ter servido se estivesse deixado seu enorme casaco abaixo, mas não o tinha estado usando. Segurou as meias com uma mão enquanto jogava sua roupa e casaco na tina com a outra. Deixaria-as de molho um pouquinho. Não queria lavar seus Keds de couro, mas não tinha outra opção. Mergulhou-os na tina um momento, com todo o resto.
—Atchin!
O espirro ressonou no grande salão. Abby deixou cair seus sapatos na tina e correu à entrada. Escorregou e patinou entrando no grande salão de reuniões. Miles estava parado ao lado de uma alta pilha de madeira que se amontoava no meio do cômodo, espirrando como louco. Ele a olhou e franziu o cenho.
—Maldito gato —, disse ele, passando sua manga com fúria por seus olhos chorosos.
—Onde? —disse Abby, olhando ao redor desesperadamente. —Sir Sweetums! Aqui, kitty, kitty, iujuu!
Viu um brilho de algo enfiando para o fundo do salão.
—Maldito gato —, exclamou ela, dando um firme apertão sobre sua roupa emprestada e começando a perseguição. —Volte aqui! 
— Abigail, espere!
OH, como se Miles fosse de alguma ajuda para apanhar o animado felino. Abby subiu pelas estreitas escadas circulares, quase perdendo o equilíbrio e a metade inferior de sua roupa.
—Aqui, kitty, kitty, iujuu! Teria caído de cabeça se não tivesse sido pelo braço que de repente apareceu ao redor de sua cintura, puxando-a para trás e salvando-a de cair no buraco profundo que era o topo da escada.
—Perdemos um pouco do corredor e muito do teto - disse Miles, ofegando. —Pelos Santos, mulher, você me assustou!
Seus dedos investigaram um pouco mais sua cintura. Abby teria lhe dado uma cotovelada, mas sua situação era muito precária.
—O que aconteceu com sua cintura? —perguntou ele. —E seus braços?—Ele a registrou expertamente. —Santos, pensei que você era bastante rechonchuda!
—Era meu casaco; cretino! Deixe de me colocar a mão!
—Humph, disse ele. Seus dedos ainda a seguravam, mas ele não se moveu. —Que tipo de mulher é você, Abigail Garrett? 
—Uma a ponto de ter um ataque cardíaco, se os Garretts tivessem ataques cardíacos, coisa que não fazemos. Agora, por favor, podemos voltar para baixo? Realmente há muitas correntes de ar aqui —. Olhou para as sombras. —E perdi Sir Sweetums outra vez — Teve o impulso ridículo de sentar-se e gritar. —Justo quando pensei que já o tinha. Mas como posso o ter? Ele se foi —. Uma lágrima espontânea escorregou por sua bochecha. –Perdi-o - suspirou pesadamente. —Serei a primeira em minha família a ser assim, sabe? Os Garretts nunca perdem. Morremos de modo esplêndido, destemido. Nunca vamos silenciosamente. Exceto eu. Sou o fracasso da família. 
—O único lugar ao que você vai, Abigail, é a uma cadeira diante do fogo. Apanhará as febres aqui, neste ar da noite. 
—Não me chame Abigail.
Ele grunhiu. 
—Gire e não solte minha mão. Esta escada é escarpada.
Abby o seguiu, porque ele segurava sua mão e não parecia querer deixá-la. Ela não queria ir para baixo. Queria manter seus olhos atentos em seu gato, que deveria ter estado perseguindo mariposas no céu. Em contrapartida, causava uma reação alérgica a um habitante do inferno.
—Estou cansada —, disse ela.
E com isto, caiu para frente. Ela se sentiu agarrada e levantada.
—Por todos os Santos, mulher, você é um enigma.
—Não posso suportar nada mais esta noite —, sussurrou Abby.
Ela sentiu que a apoiavam em algo relativamente suave.
—Então descanse, um pouco. As coisas parecerão melhor pela manhã. 
Abby pensou quecertamente seria assim, sobretudo considerando que a última coisa que ouviu foi um espirro.
Abby despertou, estirou-se e estremeceu. Que noite tão estranha. E que sonho horrível! Muitas gotas de chocolate comidas diretamente do pacote. Teria que mesclá-las com a massa de biscoitinhos da próxima vez, para diminuir o impacto.
Saiu da cama com os olhos fechados, mentalmente na metade do caminho para a ducha antes que seus pés tocassem o piso.
—Oof! —gritou o piso.
Abby tropeçou enquanto o piso sob seus pés se movia. Teria caído no chão se não fosse por aquelas mãos que saíram lugar nenhum e a agarraram. Como aconteceu, não podia dizer, mas de repente se encontrou deitada sobre uma longa e impressionantemente forma musculosa, seu olhar fixo em uns olhos escuros. Olhou-os durante vários minutos antes que captasse sua cor. Cinza. Cor cinza escura. Como nuvens carregadas.
Então, não tinha sido um sonho. Miles do Spen-qualquer-coisa a sustentava longe o bastante para que ela pudesse dar uma boa olhada em seu rosto. Ela pensou em ser cortês e levantar-se, mas percebeu que simplesmente, não podia.
A luz da tocha da noite passada não tinha feito justiça a este homem. Talvez ela tivesse estado distraída naquele momento pelo clamor de seu olfato. Ela devia ter cheirado realmente muito mal. Esta era a única razão possível pela qual ela poderia ter feito algo mais que olhar boquiaberta o homem que ela atualmente usava como um puf.
Apoiou seus cotovelos sobre seu peito e aproveitou sua posição vantajosa. Ele era imponente, mesmo que estivesse um pouquinho despenteado devido à abundância de cabelo negro e tivesse o queixo coberto por uma barba incipiente. Era formoso em seu modo áspero, tipo homem de montanha. Ele provavelmente viveu da terra durante meses. Não haveria luta por um espaço no espelho com este homem, não senhor. Abby sentiu aumentar sua pressão arterial com este pensamento. Ele provavelmente limitava seu toalete a passar as mãos por seu cabelo umas poucas vezes por dia e a barbear-se quando a seu rosto dava coceira. Ela pressentia que ele não usava gel para o cabelo ou mousse – o que queria dizer que os pés dela não se pegariam no chão do banheiro dele. Ah, sim, este era seu tipo de homem. Formoso e forte.
—Hmmm, - disse ela.
—Hmmm, - respondeu ele.
Estava lhe dando a mesma olhada. Elevou a mão e tocou seu cabelo. Deixava-o rebelde, ela sabia, e abriu a boca para dar uma desculpa pelo alvoroço de cachos castanhos, quando ele encontrou seu olhar fixo e riu.
— Você tem um cabelo bonito, Abigail.
Bem, se para ele era bonito, bem-vindo seja.
—Certamente, limpa você é muito mais passável.
—O que quer dizer com que limpa sou muito mais passável? —exigiu ela. —Eu dou a você um pontapé mais alto que isso.
Ele sorriu abertamente. 
—É verdade.
Abby tratou de manter sua irritação, mas não durou muito tempo quando lhe apareceu a covinha em sua bochecha.
—OH, você é lindo —, disse ela, sentindo-se um pouco sem fôlego.
— Entenderei que me acha passível de olhar.
—Quem, você? Certamente não. Eu somente falava de sua covinha. O resto de você não é mais que passável. 
Ele riu. 
—Empregada desrespeitosa. Você não tem nem idéia a quem esta insultando.
—Ao menos lhe dava o crédito de um rasgo decente, - queixou-se ela. Ela começou a levantar-se para afastar-se dele, logo dirigiu um bom olhar a seu piso. —Diabos, Miles, quem se ocupa de sua sala de estar? Você está pensando em trazer animais de curral para dentro em qualquer momento? 
Ele suspirou. 
—Sei que os juncos precisam ser trocados.
—Ahã —, disse ela, subindo com cautela à cama. Foi nesse momento que ela compreendeu que tinha dormido sobre uma cama enquanto que ele tinha dormido sobre uma manta no chão. Sobre o feno podre, mais precisamente. Olhou-o com o cenho franzido. —Por que simplesmente não foi dormir em outra cama?
—Não há outra cama.
—Bem —, disse ela, devagar, - avaliando o gesto galante, mas não teria tido que fazê-lo se não dirigisse um hotel tão xexelento. Você sabe, uma estalagem —, esclareceu ela ao ver seu olhar em branco.
Ele sacudiu sua cabeça, com uma pequena risada. 
—Isto não é uma estalagem, milady.
—Spen-qualquer-coisa. Se não é o nome para uma estalagem, então não sei o que é. 
—Speningethorpe. É o nome de meu torreão. Sei que não é muito, mas isto me deu paz e tranqüilidade.
—Até a noite passada.
Ele encolheu os ombros. 
—Possivelmente muita paz e tranqüilidade não seja uma boa coisa.
—Bem —, disse ela, sentando-se sobre suas pernas, - se você não dirige uma estalagem, o que faz? Só está aqui?—. Naquele momento lhe ocorreu um pensamento surpreendentemente penoso. —Você é casado? — exigiu. Olhou ao redor. —Há uma esposa escondida por aí em algum lugar? Isso é tudo o que preciso... 
Uma mão grande cobriu-lhe a boca. Miles se sentou, logo retirou sua mão.
—Nay, nenhuma esposa. As mulheres não gostam de mim.
—Sério? — perguntou ela, olhando-o e achando isto muito difícil de acreditar. — Que desgraça, estão todas cegas aqui, nas fronteiras da Inglaterra?—. Levou a mão a sua boca quando compreendeu o que havia dito. — Quero dizer... 
Ele sorria abertamente. 
—Sei o que você quis dizer, Abigail. E lhe agradeço o elogio. Mas mesmo que seja um cavalheiro com terra própria, as mulheres não se interessam excessivamente por minhas façanhas passadas.
—E quais seriam elas? —. Genial. De todos os lugares aonde ela poderia ter emergido, tinha emergido no fosso de alguém com façanhas passadas questionáveis.
Mas ao menos ele tinha façanhas. E o que era isso sobre ser um cavalheiro? Talvez fosse por isso que ele levava uma espada. Abby o olhou pensativamente. Não podia machucar a ninguém se conservasse seu juízo até que averiguasse mais sobre ele. Compreendeu que já o tinha quase no topo de sua lista do Homem Ideal, mal podia resistir. Além do mais, lhe tinha dado a única cama em sua casa. Era, simplesmente, o homem mais atraente que tinha visto em anos. E gostava de seu cabelo. Ele tinha um sotaque incrível. Ele não era mais que um administrador, mas isso se poderia arrumar. A primeira coisa que teria que fazer era levar para fora a parafernália mais própria de celeiros.
—... queimem-me na fogueira —.
—Hummh?—exclamou ela, lhe prestando atenção. — Repita-o, por favor.
Ele a olhou franzindo o cenho. 
—Estava me escutando?
—Não. Estive catalogando seus pontos bons. Não penso que isso seja um deles. 
Ele sacudiu sua cabeça, rindo lentamente. 
—Eu lhe dizia que recentemente tinha evitado ser queimado na fogueira. Por heresia. 
—Por quê? 
—Heresia - o que era uma mentira, certamente. Simplesmente cometi o grave engano de expressar minhas opiniões sobre as Cruzadas —, disse Miles. —Viajava pela França outono passado, recém-chegado da Terra Santa, onde vi e ouvi contar de desumanas matanças. Por certo, eu não poderia achar nada recomendável em todo este assunto das Cruzadas. Uma noite procurei refúgio em uma estalagem. Estava bastante bêbado, mas voltei em mim rapidamente ao menosprezar meu companheiro de mesa, um homem do que, logo compreendi, era um antigo cruzado e um poderoso conde francês.
—E o que lhe fez ele? Ameaçou-lhe com um processo? —. Problemas com a lei pensou Abby. Definitivamente poderia ser uma marca na coluna negativa.
 Miles sorriu. 
—A lei não teve nada que ver com isso, milady. Ele mandou trazer o bispo, e juntos organizaram uma improvisada inquisição, sem nenhuma autoridade, poderia acrescentar — e fui condenado tanto por heresia como bruxaria.
—Bruxaria? —Abby se obrigou a relaxar sobre a cama. Isso, sem dúvida, merecia uma marca vermelha. 
Ele soprou. 
—Aye, se você pode agüentar isso. As testemunhas, generosamente pagas, é óbvio, declararam que tinham me visto conversando com meu familiar.
—Que seria...?
—Um rechonchudo gato negro. 
Abby riu. 
—OH, claro. Deve ter sido uma conversa muito interessante, com você espirrando até não poder mais.
 Milessorriu. 
—Eu também ri, a princípio. Fiquei sóbrio bruscamente quando vi a madeira amontoada ao redor da estaca e um dos homens do conde de pé ali com uma tocha acesa.
—Bom Deus —, disse ela, - eles realmente não iam fazer isso, não é? Em que tipo de lugar atrasado estava você, de qualquer maneira? Alguma vez tinha ouvido falar de Anistia Internacional? Os ativistas de direitos humanos teriam sido contra tudo isso.
—Atrevo-me a dizer que os homens do conde estavam inteirados de muitas coisas, ainda assim estavam de acordo em cumprir as ordens. Prenderam-me ao poste, mas não sem uma luta considerável de minha parte. 
Abby estava muda. A que lugar do mundo tinha chegado? Tomou nota mental de evitar a França rural numa viagem.
—O conde tinha tomado a tocha ele mesmo e estava vomitando uma última fanática prédica religiosa quando ocorreu um milagre. 
Abby estava agarrando a beira da cama com ambas as mãos. 
—O que? —sussurrou. —Um aguaceiro?
 	Miles riu. 
—Teria sido oportuno, asseguro-lhe. Nay foi meu avô, com quem eu estava indo me encontrar. Seus homens venceram o conde, pôs-me em liberdade e escapei como um cão fugindo, sem sequer me incomodar em lhe oferecer um beijo de paz. Nem é preciso acrescentar que minha viagem pela França teve, a partir de então, vida muito curta.
—Você contou à polícia sobre esse homem? Que maníaco!
—Polícia? —repetiu ele, tropeçando com a palavra. —O que é isso?
Abby franziu o cenho. 
—Você sabe, as autoridades.
—Ah —, disse Miles, assentindo, - você quer dizer ao Luis. Nay, não pensei que fosse sábio fazer uma visita à corte. Meu avô mandou dizer uma quinzena depois que cheguei em casa que ele se ocupou do assunto —. Disse Miles em tom agradável. —A velha raposa ardilosa tem um pouco de reputação. Atrevo-me a dizer que ele aplicou a espada liberalmente, assim como que informou ao rei que me tinha ido.
—A espada?—. Bem, Miles parecia ter uma habilidade. Talvez toda sua família tivesse um pouco com o metal. — E o que você pensa que informou ao rei? —perguntou ela. —Que rei?
—Luis. Luis IX, Rei da França.
—Mas a França não tem um rei —, corrigiu ela.
—Aye, tem.
—Não, não tem. Tem um presidente.
—Nay, tem um rei. Luis IX. Um bom rei, para os que o servem.
Abby moveu seus pés, tendo o cuidado de mantê-los sobre o piso coberto pela manta. No último momento, ela segurou as meias para impedir que caíssem a seus joelhos.
—A França não tem um rei —, insistiu ela.
 Miles saltou sobre seus pés rapidamente.
—Como você pode não saber do Rei Luis? —perguntou ele.
—O que é ele, algum tipo extremista que tenta derrubar o governo?
—Ele é o maldito rei do reino inteiro! —exclamou Miles. Ele a olhou como se ela estivesse louca. —Depois você me dirá que não sabe nada do Enrique. 
—Enrique o que?
—Enrique III, Rei da Inglaterra!
—Não, não, não —, disse ela, sacudindo sua cabeça. —Enrique não é o rei. É o príncipe Harry, mas ele é somente o herdeiro do trono. Elizabeth é a rainha.
—Elizabeth? Quem é Elizabeth?
Ele começava soar tão exasperado como se sentia ela.
—Bem —, disse ela, tomando uma grande baforada de ar. —Comecemos pelo princípio. E poderíamos nos sentar perto do fogo? Estou com frio.
—Com muito prazer —, disse Miles. Ele embutiu seus pés em suas botas, logo sapateou sobre o montão de lenha que estava no meio do quarto e reavivou o fogo.
Abby foi nas pontas dos pés e com cautela à cozinha e calçou seus sapatos. Não estavam tão secos como poderiam ter estado, mas iria ao inferno antes de deixar que a roupa que lhe desse Miles tocasse o piso mais do que já o tinha feito. Ela voltou para junto do fogo para enfrentar seu zangado anfitrião.
 Miles cruzou seus braços sobre seu peito. 
—Vejamos se podemos desenredar o matagal que tem em sua cabeça.
—Em minha cabeça? Eu não sou a que está confundida aqui - disse Abby.
—Aye, sim está - lhe respondeu ele.
—Não estou! A França não tem um rei, e tampouco a Inglaterra o tem. A Inglaterra tem uma rainha e se chama Elizabeth.
—Tem um rei e seu nome é Enrique!
Abby sorriu com satisfação. —Eu diria para ligarmos a televisão e vermos o que o locutor local diz, mas com certeza você não tem televisão tampouco, não é? 
—Nay, não tenho —, disse ele, rigidamente. —Tampouco o teria.
—Já! —, disse ela. —Nem sequer sabe o que é uma televisão.
Ele franziu o cenho com ferocidade. 
—Aye, sei sim. 
—Não sabe.
—Como você poderia saber o que sei ou não sei?
—Você não tem eletricidade, bobo. Cai de maduro.
Grunhiu-lhe. 
—Você é uma mulher exasperante.
—Sério?—disse ela, surpresa. De repente, sorriu. —Que agradável. Sempre quis ser exasperante. Parece que por fim apareceu o sangue Garrett. Minha avó estaria tão orgulhosa.
—Penso que eu gostaria de retorcê-la um pouco, sobretudo... a... a... atchin! 
Abby apenas se apartou a tempo para evitar que a salpicasse seu violento espirro. Ela agarrou seu braço.
—Silêncio —, sussurrou, frenética. —Sir Sweetums deve estar perto.
 Miles ofegou por sua boca. 
—Sir Sweetums? Que tipo de estúpido nome é esse para um maldito gato?
—É um termo afetuoso. Como estes: bombonzinho, doçura, bichano —. Fez-lhe cócegas sob o queixo para fazer efeito. — Vê?
 Miles franziu o cenho. 
—Eu não vejo nad... —a! ... a...! 
Abby pôs seu dedo sob seu nariz para pará-lo. 
—Nem pense nisso, tolo. Temos que encontrar um gatinho. Não faça nenhum movimento repentino.
Ela manteve seu dedo sob seu nariz enquanto eles giravam devagar em um círculo.
—Viu algo?—sussurrou ela.
—Nay.
—Siga procurando.
Eles deram outra volta e Miles se congelou de repente. 
—Ali —, disse ele, brandamente.
Sir Sweetums estava sentado ao lado da porta da sala.
—Talvez ele venha se você o chamar —, disse Miles, respirando pela boca. Obviamente lutava para não espirrar.
—Aqui, gatinho, vem gatinho —, disse Abby. Fez-lhe gestos. —Venha aqui, Sir Sweetums. Miles não te fará mal. Gosta dos gatos.
 Miles amorteceu um espirro em sua manga.
—Bem, seu nariz não, mas o resto dele gosta.
Abby se adiantou. Sir Sweetums chegou a seus pés, e lhe miou de um modo que não pôde interpretar exatamente, e girando sobre suas patas, com a cauda parada, saiu através da porta. 
Através da porta fechada. 
 Miles cambaleou. Jogou seus braços ao redor dela e se agarrou. 
—Misericordioso São Miguel —, ele balbuciou. —Eu não vi o que acabo de ver.
Abby teria que sentir-se da mesma maneira, mas ela tinha informação interna. Era difícil de engolir, mas ela tinha o pressentimento que Sir Maximillian Sweetums era um fantasma. Ela se apoiou em seu perplexo anfitrião e se perguntou como dar as más notícias a ele. 
—Coisas desta natureza não acontecem —, disse Miles, em voz baixa. —Estamos na era moderna. Eu não acredito no que acabo de ver.
Abby o olhou. 
—Querido, eu penso que você vive no passado. Todos os outros têm revestimento de chumbo interno.
—Quanto mais moderna pode ser uma época? —perguntou ele, lhe devolvendo o olhar, seus olhos largos. —A mim não importa excessivamente a política, mas o Rei Enrique é um monarca de pensamentos muito adiantados.
Ela revirou seus olhos. 
—OH, irmão. Isso outra vez não.
—Aye, isso outra vez —, disse ele, parte da cor voltando para seu rosto. Ele se deu conta de seu abraço mortal e a liberou, retrocedendo um passo. —Santos, mulher, onde esteve?
—Fora, almoçando —, disse ela, - obviamente. 
—Enrique governa a Inglaterra —, insistiu ele. 
—Não, ele não.
— Por todos os Santos do céu, você é uma teimosa criada! Você se esqueceu o maldito ano? Quem mais se sentaria no trono em 1238? 
Abby piscou. 
—O que?
 Miles bateu na cabeça. 
—Está totalmente confusa, Abigail. 
—O que você disse antes? —repetiu. —Que ano? 
—1238. O Ano de Nosso Senhor 1238! 
Abby continuou respirando. Soube por que teve que recordar-se fazê-lo. Dentro, fora, dentro, fora. Doze e trinta - oito, doze e trinta - oito. Ela aspiroue exalou a esse ritmo. 
Não podia ser verdade. Ela deu uma olhada a seu redor, no salão de pedra. Não havia nenhuma chaminé; apenas a fogueira de Miles no meio do recinto. Não havia eletricidade, nem calefação central, nem tapetes. As paredes estavam descobertas, deixando que as pedras falassem por si mesmas. Não havia nenhuma construção do século vinte ali.
Olhou para baixo. Havia pedra sob seus pés, podia-a perceber debaixo da capa de verdín e feno. Deu uma olhada ao redor outra vez. Havia um par de mesas de madeira crua perto das paredes, e cadeiras que pareciam feitas rusticamente à mão. E esses eram todos os móveis. Aspirou profundamente. Bem, o lugar certamente tinha ares de 1238.
Olhou Miles. Ele usava roupa para ficar em casa, exatamente igual à sua, exibindo um cenho muito medieval. Não contava com o benefício de nenhum implemento moderno, se o cabelo penteado com os dedos e a túnica sem engomar eram um indício. Definitivamente portava uma espada na noite anterior. Havia dito que era um cavalheiro. Poderia isso ser verdade também?
Abby olhou para a porta. Possivelmente se saísse ao ar fresco, teria uma perspectiva diferente das coisas.
Quis passear através do grande vestíbulo casualmente, mas teve a sensação que o fez no mais frenético estilo me-leve-de-volta-a-meu-maldito-século. Lutou com a pesada viga de madeira que servia obviamente como ferrolho em 1238. Umas mãos pesadas se apoiaram em seus ombros. 
—Abigail 
—Deixe-me sair! —chiou ela. 
—Abigail —, disse ele, começando a soar um pouco preocupado. 
Abby não estava simplesmente um pouco preocupada. Estava à beira de ter um ataque de histeria, e estava a ponto de desconsiderar o que os Garretts faziam ou não faziam.
—Por favor! —suplicou.
 Miles levantou a viga e abriu a porta, para procurar ajudá-la. Ela correu para fora.
Estava chovendo. Aterrissou diretamente em três polegadas de esterco. 
—Ahhh! —exclamou.
Ela teria caminhado para qualquer lado, só caminhado, mas aparentemente não podia fazer com que os pés se soltassem dessa substância pegajosa. 
—Abigail.
Antes que ela pudesse dizer a Miles o que a deixava tão frenética, viu-se virada e sustentada contra um corpo muito morno e firme. Sem dar-se tempo de pensar se era bom ou ruim, passou seus braços ao redor dele e se segurou.
—OH, Deus —, disse ela, começando a resfolegar outra vez. Era um hábito desagradável no qual tinha caído recentemente. Estava convencida de que resfolegar era algo que um Garrett que se respeitasse jamais faria. —OH, Deus, OH, Deus —, resfolegou outra vez. 
—Pelos Santos, você está tremendo —, disse Miles, soando surpreso. Ele acariciou suas costas com sua mão grande. —Não tem nada que temer, Abigail.
—Estou em 1238! —exclamou ela contra sua áspera camisa, camisa que não era como a de uma loja de roupas masculinas. 
—Vê? —disse Miles, tratando obviamente de soar apaziguador. —Você recordou o ano. É um sinal muito animador. Estou seguro que simplesmente foi um pouco de frio que se filtrou em sua cabeça e perdeu a noção do tempo. A razão está voltando definitivamente a você.
Abby sentia que suas meias começavam a escorregar e as agarrou antes que elas emigrassem mais para o sul. Inclinou sua cabeça para trás e olhou para Miles.
—Estamos realmente em 1238, não? — murmurou. —E você é realmente Miles do Spendingthorn...
—Speningethorpe.
—O que seja, e você é realmente um cavalheiro, não é verdade?
—Para o que for necessário, Aye, sim, sou.
Bem, tinham acontecido coisas estranhas. Como Sir Sweetums atravessando a grossa tábua de madeira de uma porta. 
Então teria que reconsiderar sua viagem sob o lago Murphy da noite anterior. Tinham-lhe tomado um tempo terrivelmente longo, não?
Mas setecentos anos?
Descansou o nariz contra o peito de Miles e pensou. Os Garretts não desmaiam. Os Garretts não fogem das dificuldades. Os Garretts não perdiam o juízo. 
O divertido era que ela nunca tinha ouvido nada a respeito de que os Garretts não viajam no tempo.
Olhou Miles. 
—Você não acredita em bruxas, não?
Ele sorriu fracamente. 
—Tendo escapado são de uma fogueira eu mesmo, teria que dizer nay, não acredito em bruxas.
—Então penso que você deve sentar-se.
—Por quê?
—Porque cairá quando lhe disser o que tenho que lhe dizer. Doerá menos se estiver mais perto ao chão.
— Miles a olhou com ironia. —Os De Piaget de Artane não desmaiam.
Abby se aproximou dele e o tocou em sua formosa bochecha. 
—Há uma primeira vez para tudo, falastrão.
—Falastrão? Por que persiste em me chamar disso?
Abby tomou sua mão e o puxou até levá-lo para dentro do vestíbulo. Ele acabaria acreditando nela. 
E ela definitivamente esperava que ele tivesse querido dizer o que havia dito a respeito das bruxas, ou ela, certamente, acabaria com suas revelações no fogo.
Capítulo 4
 	Miles franziu o cenho para si enquanto permitia a Abigail que o empurrasse para dentro de sua sala. Algo obviamente a tinha incomodado profundamente, se seu salto frenético sobre seu fogo fora algum indício. Mas o quê? Ela o tinha olhado como se tivesse visto um fantasma. 
Deu-se conta bruscamente de que ele se permitia ser dirigido e cravou seus calcanhares. Abigail parou e o olhou com esse mesmo olhar quase frenético. Miles se manteve em seu lugar.
—Qualquer coisa que tenha a me dizer, pode seguramente me dizer enquanto estamos aqui parados. Realmente, insisto nisso.
Ele baixou o olhar para ela enquanto dizia isso, e se perguntou se ela não era a que deveria sentar-se. Estava muito pálida. Céus teria sofrido algum tipo de ferimento que tinha prejudicado sua mente, em decorrência do qual nem recordava o ano?
Ele levantou as mãos e as cravou em seu rosto, esfregando os polegares brandamente sobre suas bochechas. A pele era tão suave e lisa. Possivelmente ela era a filha de um nobre que se perdeu e caiu em seu fosso. Nunca pensou no modo como estava vestida. Era possível que seu sire empregasse moças com idéias muito estranhas sobre moda. Devia ter lhe perguntado antes a respeito de sua família, mas tinha estado muito desconcertado por suas ações na noite anterior, e hoje muito confuso com a aparição e desaparecimento de seu gato, para pensá-lo profundamente. 
Ela agarrou sua mão direita e o olhou. 
—Você tem mais calos nesta mão que na outra.
—É obvio —, disse ele. 
—Por quê?
—É meu braço da espada, Abigail. — Pôs sua calosa mão na frente dela. Não tinha febre. Entretanto, tinha calafrios. — Talvez devamos reavivar o fogo —, disse ele, levando-a nessa direção, - depois você me contará sua história. Perdoe-me por não ter perguntado antes. Seu sire sem dúvida deve estar angustiado por sua perda. Eu a levarei a ele mal possa ser...
—Querido, disse ela, — acho que deveria sentar-se.
—Por que me chama de querido? Perguntou ele, enquanto era empurrado para uma cadeira. Sentou-se para contentá-la.
—É um termo carinhoso.
—Como Sir Sweetums? —perguntou. —Santos, que nome!
Teria se demorado mais no tema, mas Abigail tinha levado um tamborete para diante dele e se sentou. A túnica que lhe tinha dado para usar caiu de um de seus ombros. Era extremamente perturbador.
Ele olhou seu rosto e deixou instantaneamente de prestar atenção ao que dizia. Sabia que os lábios se moviam, mas não podia concentrar-se em suas palavras de tão estranho sotaque. Havia certamente umas quantas coisas que o desconcertavam a respeito dela, mas não parecia poder enfocar seus pensamentos em uma só delas. Tudo o que podia fazer era olhar à mulher ante ele e maravilhar-se.
Dizer que, uma vez limpa, ela se via bem, era minimizar. De onde tinha saído com essa exuberante massa de cabelo, ele não sabia, mas certamente lhe caía bem. Quase podia ouvi-la dizer: “o cabelo Garrett nunca é disciplinado”. Sorriu ao pensá-lo. Verdadeiramente, o cabelo da Abigail parecia ser um reflexo da mulher, além do limite da razão ou da conveniência. 
E se seu espírito não o tivesse intrigado, sua gentilezacertamente o teria feito. Ele se descobriu totalmente distraído com pensamentos sobre mãos acariciantes e uma boca mordiscando esse pedacinho de ombro que ela parecia não poder manter coberto. Seguiu a curva de seu ombro, desceu pelo braço e chegou a sua mão. Foi então quando se deu conta de que ela estalava os dedos ante ele. 
—Há luzes, mas não há ninguém em casa —, estava dizendo.
—Ah —, evadiu-se, - estava pensando em suas palavras.
Ela subiu de um puxão sua túnica sobre o ombro. Sua túnica, a roupa dele que cobria seu flexível corpo, como ele queria estar fazendo. Miles estava a ponto de permitir-se ser distraído por este pensamento quando Abigail se inclinou para ele.
—Vamos, Miles —, disse ela, soando exasperada–. Preste atenção. Estou tratando de lhe dizer algo muito importante.
Ele piscou ante ela. 
—OH.
Ela suspirou com exagerada paciência. 
—Você está comigo agora?
—Certamente, nós estamos sentados aqui juntos.
Ela deixou cair seu rosto em suas mãos e riu. Miles não pôde evitar. Estirou sua mão e a passou sobre o cabelo dela. Era agradável e suave ao tato. Não era tão escuro como o seu, e com um tom um tanto avermelhado. Era o cabelo no que ele desejava afundar as mãos tanto como desejava afundar outra parte de si mesmo.
—Bom Deus! —exclamou Abigail, erguendo-se e afastando-se. —você pode concentrar-se no que estou dizendo durante cinco minutos?
—Preferiria me concentrar em beijá-la, se for o mesmo para você —, ofereceu ele.
—Não —, disse ela, firmemente. —Isto é sério.
E, de repente, a verdade o golpeou como um trovão. Voltou a sentar-se e sentiu o sangue abandonar seu rosto. Ela estava prometida. Como ele não tinha visto antes? Ou isso, ou estava casada. Não era uma criada. Sorrindo bobamente tinha que depender de seu sire para cada pausa que dava e cada palavra que saía de sua boca. Abigail era muito segura de si. Tinha, provavelmente, aproximadamente seus vinte e quatro anos, suficientemente velha para ter estado casada vários anos.
—Prossiga — disse ele, sinceramente, - me conte dele.
—Quem, Brett? Como sabe você a respeito do Brett?
—Maldição —. Saber que tinha suposto corretamente não era consolo.
—Eu supus —, disse ele, cortante.
Deveria ter permanecido no Artane. O que no nome do inferno o havia possuído para vir aqui? Para ter Abigail Moira Garrett em seus braços e sentir-se apaixonado por seu cabelo revolto e seu espírito indomável? O que o fez pensar que ela podia ser livre? Que parvo permitiria que ela se fosse, uma vez que a tinha tido? 
E o que o fazia pensar que ela talvez o quisesse? Senhor de seu próprio castelo podia que o fosse, mas de que castelo! As terras de lavoura que rodeavam seu torreão tinham estado sem arar por anos. Os bosques estavam lotados de ladrões. E não era como se ele pudesse ir ao continente para melhorar sua situação. Não haveria para ele, certamente, uma calorosa recepção onde fosse bem-vindo na França, apesar de Luis ter sido muito generoso com sua compreensão. Ele tinha sido acusado de bruxaria. Para que Abigail iria querer um marido dessa índole?
—... E quando perdi meu trabalho, ele rompeu comigo e se foi. Ao lado, para ser exato. Ao apartamento do Bunny Ann Bartlett.
Mas, teria uma oportunidade de tentar ganhá-la. Olhou-a e, para sua surpresa, encontrou-se desejando ter essa oportunidade como não tinha desejado nada em anos, salvo suas esporas de cavalheiro. Escutar seu nome dito por esses lábios exuberantes com o mesmo tom amoroso que ela utilizou ao falar de seu marido...
—... um completo chato. Guardava potes de gel e mousse em meu apartamento para um retoque de emergência. Houve momentos que tive que passar uma espátula ao piso do banheiro para consertar seus desastres...
Ser o único a quem ela olhasse com desejo, ser o único bem-vindo em sua cama cada noite...
—... é obvio, penso que é por isso que eu não dormia com ele. Os Garretts não fazem isso até depois do casamento, você sabe. Aí que ele me deixou. Bunny provavelmente se enfiou nos lençóis com ele no minuto que ele passou por sua porta.
Miles piscou. Deu-se conta de que não tinha ouvido nada do que ela havia dito. E que tinha entendido ainda menos.
—Bunny? —perguntou.
—A nova amiga de Brett. Vão se casar logo.
—Seu marido vai se casar com outra pessoa? 
Abigail o olhou como se tivesse perdido o juízo. 
—Marido! Está brincando? Eu nunca teria me casado com esse miserável! Só fiquei noiva dele porque me sentia horrível depois que Sir Sweetums encontrou seu infeliz final felino. Sabia que Brett nunca quis realmente casar-se comigo. Só queria utilizar meu gel de ultra fixação.
Miles sacudiu a cabeça, sentindo-se poderosamente aturdido. 
—Então você não é casada?
—É obvio que não!
—OH, - disse ele. Então entendeu.
—Aaahh —, disse, começando a sorrir. Não podia remediá-lo. Um sentimento de alívio começou nos dedos de seus pés e foi subindo até instalar-se em sua boca. —Os Santos sejam louvados por isso!
Abigail se inclinou para o e lhe tocou a testa. 
—Você não tem febre —, murmurou. 
—Com efeito, estou seguro que não —, disse, agarrando sua mão e arrastando-a a seu regaço. Sorriu-lhe. —Então não é casada.
—Menino, está passando mal, não?
Ele ignorou seu tom de brincadeira a favor de contemplar sua próxima ação. 
—Acredito que ouvi suficiente —, anunciou. —vou beijá-la agora.
Ela evitou seus lábios e conseguiu escapar de seus braços e sentar-se outra vez em seu tamborete.
Miles franziu o cenho. 
—Possivelmente fui pouco claro... —começou ele, alcançando-a outra vez.
— Miles!
—O que? —disse ele, sentindo que seu cenho se franzia mais. 
—Você não pode me beijar. Não ouviu o que tenho a lhe dizer.
—Você não é casada. Que mais poderia precisar saber?
Ela pôs as mãos nos joelhos, então parou com cuidado exagerado.
—Tenho um caso grave de falta de açúcar no sangue e você não pode me ajudar com isso. Preciso comer algo. Suponho que você não tem nada com chocolate, não?
—Chocolate?
—É óbvio que não, - gemeu ela e se afastou para a cozinha. —É muito tempo antes do chocolate.
Miles foi atrás dela, que resmungava sobre o estado de sua cozinha lastimosamente mantida. Olhou-a enquanto registrava as provisões que os homens de seu pai tinham descarregado em uma das mesas, e se descobriu perguntando-se o que ela tinha a lhe dizer. Tinha deixado seu lar sem permissão? Terei que considerar a seu antigo prometido. O compromisso tinha sido quebrado, obviamente, mas era isso suficiente para havê-la feito fugir de seu lar? 
—Abigail —, disse, —talvez você deva me dizer quem é seu sire. Não duvidarei em lhe dar minha palavra de que você está bem —. Aqui, agora ele teria toda a história.
Ela se deu volta com um pão na mão. 
—Você não pode, disse, brandamente. —Ele está morto.
—OH, disse Miles, brandamente. 
—Me perdoe.
Ela sorriu. 
—Você não podia havê-lo sabido.
Miles se moveu até aproximar-se dela. Pegou um pedaço de pão. 
—Como ele morreu?
—Caiu da ladeira de uma montanha. Minha mãe caiu tentando segurá-lo.
—Um fim glorioso e assombroso, como corresponde. Embora, sinto muito, Abigail. Você deve sentir muitas saudades deles. 
Ela encolheu os ombros e continuou mastigando lentamente.
—Não tem outra família? Tios? Tias? Irmãos?
Ela engoliu e o olhou. 
—Eles estão um pouco longe para contatá-los.
—Pode-se enviar um mensageiro.
Ela sacudiu a cabeça. 
Ele franziu o sobrecenho. 
—O mundo não é tão grande, Abigail, e eu vi muito dele. Agora onde está esse lugar de onde você vem... Frozen Muff?
—Freezing Bluff. Está em Michigan.
Esse era um lugar que ele certamente não tinha ouvido jamais, mas era resistente admitir sua ignorância.
—Escócia —, adivinhou. 
—Nem sequer perto.
—Hmmm —, disse ele, franzindo o sobrecenho. —Onde fica exatamente Freezing Bluff se não está no norte?
Abigail deixou seu pão de lado. Ela tomou o pão de Miles e o pôs sobre a mesa, também. Então ela elevou a vistapara ele lentamente.
—Onde está não é exatamente a pergunta correta —. Ela se deteve um tempo considerável, e então o olhou gravemente. —Quando é, acredito que é a correta.
Ele franziu o cenho. 
—O que quer dizer você com isso?
Ela se agarrou as mãos em suas costas. 
—Acredito que você tem razão a respeito de Enrique. Ele era provavelmente rei em 1238.
—Vejo que finalmente voltou para seu juízo perfeito... como era? Ele ainda é.
—Se você está vivendo em 1238. 
—Estou —. Santos, talvez nadar tenha confundido seriamente sua inteligência.
—O qual eu não fazia... ontem.
 Miles sacudiu a cabeça. 
—Não entendo.
—Elizabeth é rainha em meus dias.
—Seus dias?
—1996.
—1996? —ele sussurrou.
—O Ano de Nosso Senhor 1996 —, disse Abby, lenta e claramente. —Setecentos anos no futuro.
Miles piscou. Olhou sua cabeça. Nenhum chifre. Estirou-se e colocou as mãos sobre os ombros dela. Parecia perfeitamente sã. Sentia-a perfeitamente normal.
—1996 —, repetiu ele. Os mesmos números se pareciam estranhos em sua língua.
Olhou Abigail outra vez. Era possível? Poderia ter estado ela vivendo e ter estado respirando em outro tempo em um momento, e encontrar-se vivendo em seu tempo em outro? Santos do Céu, o pensamento o deixou com a cabeça dando voltas.
Certamente, o quarto inteiro parecia estar girando. 
— Miles! 
Ele sentiu Abigail jogar seus braços ao redor dele. Não ajudou. A pedra do piso da cozinha subiu para encontrá-lo. Bruscamente.
—Oof! —, queixou-se, enquanto Abigail aterrissava em seu estômago. 
—Salvei sua cabeça —, disse ela ofegando.
—Eu agradeço —, disse Miles, dando-se conta que verdadeiramente seus dedos estavam entre sua cabeça e o duro piso. —Sinceramente.
—Pensei que os homens de Artane não desmaiavam.
Miles só conseguiu emitir um grunhido. As palavras estavam fora de seu alcance. Jazia no piso de sua cozinha com uma mulher estendida sobre ele que vivia em um tempo em que, conforme supunha, o mundo devia ter acabado. Com grande esforço, deixou cair pesadamente seus braços ao redor dela e a abraçou. Ele podia senti-la como uma verdadeira mulher. Tinha uma fala um pouco estranha e utilizava palavras que ele tinha que decifrar, mas agora, conhecendo sua história, ele podia entender. Sua história? Santos, sua história era seu presente. Seu passado era seu futuro. Ele gemeu. Não pôs muito empenho em duvidar dela. Se ele podia acreditar ter visto seu gato atravessar a porta do salão, podia acreditar nisto. Mas, por todos os Santos, só de pensar nisso lhe doía à cabeça.
E então a verdade do tema o golpeou com a força de um cavalo de carga. 
Não poderia ficar com ela.
Gemeu outra vez, do fundo de sua alma. Misericordioso São Cristóvão, ele não poderia conservá-la! Como poderia, quando ela pertencia a outro tempo tão completamente estranho ao dele? Ela tinha uma vida ali, uma vida que devia viver. Como ela poderia condená-la a uma vida em Speningethorpe? Nem sequer era Artane, com seu moderno conforto, o que lhe oferecia. Seu salão não era melhor que um estábulo. Certamente ela estava acostumada a luxos que ele não podia nem imaginar. Como podia lhe roubar tudo isso? 
Empurrou-a brandamente, afastando-a e lutou para levantar-se.
—Encontrarei uma maneira de mandá-la de volta —, disse ele, pesaroso. —Hoje.
—O que?
—Voltar para casa! —disse zangado, olhando-a com raiva. —Encontrarei a forma de devolvê-la a seu lar. Maldição, Abigail, o farei mal tenha recuperado o fôlego.
—Você vai me mandar de volta? —perguntou ela.
Miles estreitou os dentes. 
—É obvio! —. Ele cambaleou e se agarrou à mesa para sustentar-se. —Tão malditamente rápido quanto eu puder!
Ela ficou silenciosa por um momento, o suficiente para que ele recuperasse o fôlego e recuperasse seu equilíbrio. Sua visão clareou bem a tempo para ver sua expressão trocar de ferida a uma de cólera. Nem teve tempo de decifrar o mistério dessa mudança quando foi assaltado por um bombardeio de palavras. 
—OH, genial! —exclamou ela, pondo-se de pé. —Isto é realmente genial! Nem sequer você me quer! —. Ela começou passear diante dele. —Primeiro é meu chefe o que me despede, embora odiasse esse trabalho e seus estúpidos cactos de todo modo. Então, meu locador me põe na rua. Peter Pan vai embora porque já não posso manter seus gastos. Sinos do inferno, nem o escritório de Seguro Social querem algo comigo! O que é o que há de mal comigo, de todos os modos? —. Parou, olhou-o com outro olhar acusador, e então o golpeou duramente no peito. —Você me diz isso, Senhor Causar Pena Cavalheiro do Spendingthorn.
—Speningethorpe.
—O que seja —, retrucou ela.
—Ah. . . —começou ele.
—Nem pense nisso—, disse ela, seus olhos ardendo. —Eu tampouco o quero — Sua casa é um desastre. Você nem sequer tem um trabalho. Eu não gastarei os dedos até o osso para alimentar e vestir a outro noivo. Esqueça. Encontrarei meu gato —, disse, elevando o nariz no ar—, e irei —. Ela se afastou dele rapidamente. —Sir Sweetums, venha aqui agora!
Miles a olhou boquiaberto enquanto ela pisoteava sua cozinha. E, por mais que odiasse admitir, não tinha entendido nenhuma palavra do que ela havia dito. Exceto a parte a respeito da Inquisição. 
OH, e que ela pensava que ele não a queria. 
Quem teria pensado isso, ele se felicitava pela habilidade de ter deduzido, que ela o queria. 
 E enquanto ele pensava no assunto, deu-se conta de que talvez ela tivesse percebido que o queria recentemente; ele a tinha desejado desde o momento em que tinha pousado seus olhos em sua anteriormente rechonchuda forma parada ante suas portas. Arpía ou não, ele tinha um forte desejo de entender tudo o que tivesse que entender a respeito de Abigail Moira Garrett. Desejava-a ainda mais agora. E se isso significava mantê-la no Glorioso Ano de Nosso Senhor 1238, então que assim fosse. 
Saiu do grande salão e olhou enquanto ela se arregaçava e sapateava através do grande salão, gritando por seu maldito gato. Que mulher encantadora. Infernos, não lhe importava se ela era uma mulher mágica. Desejava-a.
E Miles De Piaget sempre obtinha o que queria.
Convidaria-a para ficar. Na realidade, faria tudo menos obrigá-la a ficar.
Adiantou-se a largas pernadas. Precisou dar quatro largos passos para alcançá-la, outro para posicionar-se apropriadamente, e a metade de outro para atraí-la, enquanto se retorcia, em seus braços. Ele baixou o olhar para seu formoso rosto e lhe deu seu mais senhorial olhar. Sabia que não era tão convincente como seu sire, mas como Abigail não tinha nada com o que compará-lo, não notaria.
—O futuro terá que continuar sem você —, anunciou-lhe.
Ela piscou. 
—Perdão?
—A dor do Peter é algo que você não terá que suportar outra vez.
—A dor do Peter?
—Aye, disse ele, firmemente.
—OH —, sussurrou ela. Então sorriu, um sorriso aprazível. "Você quer dizer Peter Pan”.
—O que seja —, disse ele, com um imperioso olhar. "E esse seg... seg...
—Seguro social —, indicou-lhe.
—Aye, isso. Você não terá necessidade disso. Para nada —, adicionou ele. Você terá a mim.
—Terei você?
—Sim, quer você queira ou não.
—Já vejo.
Ele grunhiu. 
—Eu desejo.
Ele caminhou zangado para o fogo. Os braços de Abigail se apertaram ao redor de seu pescoço e lhe romperam o coração. Como podia pensar ela que ninguém a queria? 
Ele a pôs de pé perto do fogo pôs-lhe a mão sob o queixo, e levantou seu rosto. 
—Presumo que está de acordo com isto —, disse.
Ela elevou o olhar solenemente. 
—Não pensei que me estava dando a possibilidade de decidir neste assunto.
—Não o faço. Penso cortejá-la com ferocidade. Simplesmente acho que a idéia não lhe é desagradável.
Um pequeno sorriso curvou a boca de Abby. 
T—Suponho que o futuro não será tão ruim como me parecia.
—Especialmente quando o Glorioso Ano de Nosso Senhor 1238 nos provê este luxo excessivo —, disse ele, indicando seu lastimoso salão com um grande gesto do braço.
—Bem. . . Agora que você disse...Ele não desejava ouvir o que ela pensava mencionar, então, como bom soldado que era, partiu diretamente ao combate sem vacilar. Baixou a cabeça e cobriu sua boca com a própria.
Ela tremeu. 
E então correspondeu o beijo.
Os sentidos de Miles cambalearam. Aproximou-se da Abigail e a envolveu com seus braços. Sorriu enquanto recordava a primeira vez que a viu e que arpía roliça lhe tinha parecido. Definitivamente ela não estava roliça agora. Logo se ocuparia disso. Visões de meia dúzia de pequenas Abigail brincando de correr por seu salão, chamando "aqui, gatinho, gatinho," apareceu em sua mente. Ele levantou a cabeça e piscou.
— Miles, eu acho...
Ele capturou sua boca outra vez. Pensar não era algo que queria fazer no momento. Mais tarde ele se dedicaria a pensar em pequenos com cabelos escuros, olhos cinza e a sua mãe correndo despreocupadamente por seu vestíbulo e seu coração. Mas agora, estava muito perdido nos braços da Abigail. 
Miles mal podia acreditar nos acontecimentos das últimas horas. Tinha chegado o Speningethorpe um dia antes, determinado a murchar-se e converter-se em um homem velho, amargurado e intolerante. Sem advertência, Abigail tinha vindo e caído em seu fosso e mudado sua vida completamente. Talvez houvesse mais em Sir Sweetums que o que o olho podia ver.
De qualquer forma, Miles soube que tinha feito a escolha correta. Talvez a convivência fosse um pouco difícil a princípio, com os dois vindos de mundos diferentes. Já seu gato tinha prejudicado seu nariz. Só os Santos saberiam que despojos deixariam Abigail de seu coração. Mas certamente valeria a pena o esforço. 
O aroma de algo queimado finalmente chamou sua atenção. E esse calor em seu traseiro, que ele tinha pensado eram as mãos da Abigail, tornou-se de repente algo completamente diferente.
—Merde! —gritou ele. 
—Se jogue no chão e role! —disse Abigail, empurrando-o. —se jogue no chão e role, idiota! 
Ele se deixou cair e ela o fez girar. Logo se encontrou de barriga para baixo no piso. Sentiu um suave toque acalmando seu machucado traseiro. 
— Temo que o fogo tenha queimado bastante suas calças —, disse Abigail. —É uma pena. Seu traseiro tem um lindo vermelho
Miles saltou, sentando-se sobre seu traseiro descoberto, no piso. Sentia subir um rubor furioso a suas bochechas. Abigail riu. 
—OH, Miles —, disse, sacudindo a cabeça.
Ele grunhiu e franziu o cenho para salvar seu orgulho. Abigail se inclinou e o beijou na bochecha. 
—É muito bonito.
Bom, ele sabia que isso era um elogio. Pena que tinha tido que torrar o traseiro para conseguir um vindo dela! Para acalmar seu queimado traseiro e aplacar seu ego machucado, arrastou-a para seu regaço e a olhou resolutamente.
—Precisarei ser acalmado —, anunciou-lhe. 
Pôs-lhe seus braços ao redor do pescoço. 
—E como se faz isso em 1238?
—Eu te mostrarei.
—Tinha o pressentimento que o faria.
Miles a beijou. E, por um momento, esqueceu-se da dor de seu traseiro queimado. Esqueceu-se que, por todos os Santos, ele era uns setecentos anos mais velho que a mulher em seus braços. Distraiu-se o suficiente para evitar pensar no que ele diria a seu pai a respeito dela quando a levasse a Artane. 
—Hey —, disse-lhe Abigail, olhando-o carrancuda, - mantenha a mente no que tem entre mãos. Realmente, Miles. Não pode ser tão difícil.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. Talvez este fosse realmente o presente que ele mais tinha necessitado para o Natal, uma mulher que não via nenhuma razão para ter receio dele. Olhou Abigail e sorriu. 
—Milady, assombra-me.
—É obvio que o faço. Que outras garotas do século vinte encontrou recentemente?
Ele sorriu e a beijou outra vez. Ela era certamente única, os Santos sejam louvados. Ele duvidava poder sobreviver ao cortejo. 
Seu nariz começou a coçar, mas colocou um dedo debaixo e manteve sua boca apertadamente pressionada contra Abigail. Com um pouco de sorte o maldito gato manteria distância até que Abigail fosse cortejada apropriadamente.
E, se Miles pegasse alguma vez Sir Sweetums, ofereceria-lhe uma taça do mais fino leite em agradecimento.
Capítulo 5
Abby se sentou com as pernas cruzadas sobre a mesa na cozinha e olhou Miles cortando em pedaços verduras para um guisado.
—Sabe o que está fazendo? —perguntou ela, duvidando.
Ele a olhou por baixo de suas sobrancelhas. 
—Cozinhei muitas de minhas refeições em minhas viagens. Nós não morreremos de fome.
—Mas quão bem nós comeremos?
Miles apoiou com cuidado a faca, transpôs os dois passos que havia entre onde ela descansava e sua área de trabalho, e parou diante dela.
—OH, não, não o fará...
Ela não foi suficientemente rápida. Nem sequer teve a oportunidade de lhe fazer seu discurso “me beijar-não-solucionará-nossos-problemas” antes que uma boca muito firme e morna baixasse sobre a sua. Ela estremeceu. Uma boca que momentos antes estava circundada por uma barba. Miles tinha se barbeado uma vez que soube que os homens modernos o faziam todos os dias. Abby tinha jurado solenemente a si mesma não usar com muita freqüência essa estratégia de “não-pode-ser-menos que-os-homens-do-século-vinte”. Mas valia a pena para isto. Beijar a um Miles barbudo era grandioso, mas este fazia tremer a terra.
E ele tinha começado cedo com este assunto de beijá-la para lhe fechar a boca. Ia diretamente calá-la e não parecia se importar com a forma de consegui-lo, dentro da boca ou fora. Abby pensava que ele talvez estivesse desejando acabar arrastar-se para dentro ela e isto era o melhor que podia obter no momento. Não lhe tinha dado seu discurso “Os-garretts-não-fazem-isso-antes-de-se-casar, pois não tinham chegado tão longe ainda. Ela esperava sinceramente que chegassem tão longe eventualmente. Abby piscou quando Miles levantou a cabeça. 
—Terminou? —grasnou.
—Dúvidas de minha habilidade na cozinha?
Ela sacudiu a cabeça, os olhos muito abertos.
Ele sorriu muito satisfeito de si mesmo e voltou a cortar as verduras. Abby esfregou seu dedo pensativamente sobre seu lábio inferior. Talvez beijar resolvesse algumas coisas. 
Abby olhou Miles, que cortava diligentemente. Como tinha podido ser tão afortunada? Tinha sido resgatada por um homem de uma fantástica aparência, que conseguia distraí-la beijando-a a ponto de atear fogo nas próprias roupas. Encaixava tão bem em sua lista do Homem Ideal. Quase a fazia esquecer-se que devia ir para casa. 
Casa. Sua cabeça deu voltas a esse pensamento. As comodidades modernas dançaram ante os olhos de sua mente e examinou cada uma. De alguma forma, mal pareciam importantes. Os telefones eram ruidosos, a comida rápida era pouco saudável e a vida no mundo corporativo, passada sob luzes fluorescentes, dava-lhe dor de cabeça. Sempre tinha gostado de acampar, o que foi uma boa coisa, já que o castelo de Miles estava quase no mesmo nível de civilização.
E provavelmente não havia nenhuma utilidade em pensar a respeito de tudo isso. Não tinha nenhuma garantia que mergulhando no fosso de Miles ressurgiria no lago Murphy.
Por outro lado, que futuro tinha ela no passado? Miles certamente não tinha mencionado casamento. Ele definitivamente reunia as condições que ela exigia em alguém com quem poderia compartilhar sua vida, mas ele era livre para escolher a esposa? Seu conhecimento das práticas maritais da nobreza medieval era escasso, infelizmente. Mesmo que pudesse escolher, quem lhe assegurava que ele a quereria?
—Aonde vai?
Abby não se deu conta que desceu da mesa até que Miles falou.
—Só dar uma volta —, disse, movendo-se para a porta da cozinha. Talvez afastar-se um pouco tranqüilizasse seus alterados sentimentos. Estava perdida. Por que demônios ela pensou...
—Soa como se precisasse ser convencida a ficar, - declarou Miles, agarrando sua mão. —Volte aqui, milady, e me deixe te olhar.
Abby permitiu que a levasse de volta, a girasse, e tomasse em seus braços.
 —Abigail, disse ele brandamente, o que te preocupa?
Ela pôs seus braços ao redor delee sacudiu a cabeça. 
—Nada.
—Sente falta de seu lar?
—Não.
Ele levantou seu rosto. Abby encontrou seus olhos cinza escuro e quase quis chorar. Por que teve que cair aqui se não podia o ter?
—Santos, mas vocês os Garretts são muito teimosos —, disse ele, olhando-a e Sorrindo. —Está resistindo ao meu cortejo. Não me deixa outra opção a não ser pôr mais energia nisso. Talvez sem que me distraia em preparar o jantar.
Bem, a parte do cortejo soava bem. Talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam uns poucos dias mais. Afinal de contas, ela talvez averiguasse que realmente não gostava muito dele.
Ele a liberou pôs o resto das verduras na panela, pendurou-a sobre o fogo, e então se voltou para ela com um olhar decidido.
—Está tudo o necessário ali? —perguntou ela.
Ele encolheu os ombros e avançou.
—E se o sabor for horrível?
—Nunca saberá.
—Por que não?
—Porque estará muito distraída por meu mau humor se não me der sua completa atenção.
—Um destes dias, Miles De Piaget, me beijar para conseguir minha submissão não vai funcio...
Mas, OH, como funcionava no presente! Com um último pensamento coerente, Abby soube que o dia que ela decidisse que não o queria seria o mesmo em que seriam necessários agasalhos para neve no inferno. 
Uma hora mais tarde, Abby segurava uma nota de dólar à luz do fogo. 
—Este é George Washington. Foi o primeiro presidente dos Estados Unidos.
—Não rei?
—Não! Isso foi pelo que nós dissemos “'Não, abrigada” à Inglaterra em 1700. Todos podemos viver, em liberdade e tratando de conseguir a felicidade, sem que uma monarquia nos diga como temos que fazê-lo.
Miles olhou com interesse sua carteira, que estava entre eles sobre a manta, perto do fogo. Abby tinha convertido sua manta de dormir em um tapete. A cadeira era muito incômoda para sentar-se, e o piso muito repugnante para sentar-se nele.
—Que mais tem nessa pequena bolsa? —perguntou ele.
—Não tantas coisas quanto eu gostaria —, disse Abby com um suspiro. 
Ela tinha em sua pequena carteira uma corda, suas luvas, e suas chaves. Seus óculos de sol tinham estado dentro de seu casaco. A única outra coisa que ela tinha tido em seu bolso era uma bolsa plástica de gominolas e alguns fios empapados. Mas ele estava fascinado por tudo. Ela tinha estado bastante segura que tinha acreditado nela quando caiu no piso na cozinha, mas não havia nada como um pouco de evidência substancial para açoitar a porta da dúvida.
Ele tinha examinado seu jeans de perto, aparentemente muito impressionado pelos rebites de cobre nos bolsos. Seu casaco ainda estava molhado, mas ela tinha o pressentimento que lutariam por ele depois de seco. E ela tinha podido enfim arrancar de suas mãos suas calcinhas e o sutiã. Foi então quando lhe fez seu discurso de “Os-garretts-não-fazem-isso-antes-do-casamento”. Tinha esperado protestos. Em vez disso, tinha obtido um olhar perplexo. 
—É obvio que não o fazem —, tinha sido seu único comentário.
Assim, agora eles estavam sentados diante da fogueira, examinando o conteúdo de sua carteira e comendo gominolas.
—Aaack —, disse Miles, mastigando com cautela. —De que sabor é este?
Ela se inclinou para diante e o cheirou. 
—Pipocas de milho, acredito.
—Asqueroso —. Ele o engoliu de repente. —Há aí esse chocolate do que tanto fala? —perguntou, revolvendo na bolsa com ilusão.
—Assim espero —, disse ela esperançosa. Ela tinha comido uma gominola de limão e dado as demais a Miles. A menos que o açúcar estivesse mesclado a uma generosa quantidade de cacau, ela não estava interessada. Agora, se tivesse sido um pacote de M&M o que ela tivesse guardado, Miles teria que se conformar com uma pequena dentada e muitos suspiros. —O chocolate não chega à Inglaterra até o século XVII. Confie em mim. Essa parte da história a conheço.
—De onde vem?
—Cresce na África.
—OH, - disse ele, soando quase tão compungido quanto ela se sentia. —Uma viagem bastante longa.
—Não viu nada em qualquer de suas viagens?
Ele sacudiu a cabeça. 
—Não que eu recorde.
Abby se recostou contra os pés da cadeira.
—O que te fez decidir ir para Jerusalém?
—Queria ver os lugares que meu pai tinha visitado em sua juventude, suponho. Meu pai foi as Cruzadas com Ricardo Coração de Leão, primeiro como pajem, depois como escudeiro de um Senhor normando. Meus irmãos seguiram seus passos na Terra Santa, inclusive não havendo uma guerra gloriosa que empreender —. Sorriu fracamente. —Penso que simplesmente tive o desejo de um jovem de ver o mundo e descobrir seus mistérios. Em vez disso, vi cidades devastadas pela guerra, mulheres sem maridos, meninos sem pais.
 	Encolheu-se de ombros. 
—Eu não acredito que lutar por relíquias fosse à mensagem que Cristo deixou. Talvez tenha achado isso até mais irônico porque dominamos a cidade de Jerusalém no dia de Natal
—Levou em conta que talvez o conde tenha tomado como um insulto?
 	Miles sorriu. 
—Verdadeiramente, o fez. E eu não sou tímido para expressar minhas opiniões, esteja bêbado ou não.
— Seu avô estava preocupado com você?
—Nay. Sabe, de todos os seus netos, ele dizia que eu recordava muito a ele mesmo. —Sorriu modestamente, e continuou. —Meu irmão maior, Robin, queixaria-se e amaldiçoaria para sair. Nicholas é um pacificador e raramente diz algo ofensivo. Meus irmãos mais jovens são como criadas frívolas, não falando de nada mais que das donzelas que cortejam atualmente —. Sorriu outra vez. —Eu, por outro lado, sou áspero e mal-humorado e geralmente me asseguro que os outros saibam.
—OH, o menino áspero e mal-humorado —, disse ela, com deleite. —E pensar que poderia ter caído no fosso de alguém que fora simplesmente agradável e atento.
—E como seria tedioso se tivesse encontrado essa maneira de ser —, disse ele, com uma careta. —Meu Senhor compartilha meu temperamento. Sou seu favorito, é obvio.
—É obvio —, concordou ela, secamente. —Foi bastante afortunado que aparecesse quando o fez.
—Talvez fosse mais que sorte. Soube mais tarde que um de seus serventes tinha estado passeando e me escutou dizer ao conde bastante alto que era um descuidado sem inteligência.
—OH, Miles —, ela riu. —Seria um terrível diplomata.
—Aye —, concordou. —Por fortuna, nunca quis seguir essa vocação.
—Então o que é o que tem intenção de fazer? Ela sabia que era uma pergunta difícil, mas não pôde evitar perguntar-lhe.
Seu sorriso se aprofundou. 
—Penso conseguir você, é obvio.
—Sério? —chiou ela. Ela clareou a garganta e tentou outra vez em um tom mais digno. —Sério? —, ela disse, esperando soar casual.
Ele assentiu. 
—Aye. Mas como se corteja a uma garota do século vinte? Com presentes?
—Bem, é quase Natal.
 Ele franziu o sobrecenho. 
—E você planeja tomar parte nas festividades?
—Se eu o posso fazer, você também pode —. Ela tinha suas próprias razões para achar o Natal penoso, mas o festejava cada ano. Miles poderia, também. —Poderíamos arrumar um pouco o lugar.
—Aye —, concordou ele, soando resistente.
—Anda, mal-humorado. Será divertido.
—Divertido? —, repetiu ele receoso.
—Como agradável, entretido. Limparemos e arrumaremos um pouco e se sentirá melhor com o Natal. Confie em mi. E enquanto limpamos, eu te contarei o conto do Ebeneezer Scrooge. —Ela riu. —Falando sobre o Fantasma do Natal do Passado! Homem, isto lhe põe uma volta inteira ao conto.
 Miles só a olhou.
—Teremos que nos privar dos presentes, - continuou ela. —Teria posto as gominolas em sua meia, mas já comeu todas.
Miles arrotou discretamente. 
—E estavam deliciosas. Isso é o que fazem no Natal? Arrumar e dar presentes?
—Muito mais.
Ele se estirou, pôs-lhe a mão atrás da cabeça e a atraiu para ele. 
—Você é o melhor presente que poderia ter pedido —, murmurou contra seus lábios. —Não necessito nada mais.
Abby fechou seus olhos enquanto ele a beijava. Era possível apaixonar-se por alguém tão rápido?
Era muito mais tarde quando ela conseguiu recuperar o fôlego para lheperguntar se pensava que o guisado estava pronto. 
—Importa-se? —perguntou ele, com seus olhos brilhando. —Meu apetite é cada vez maior por sua boca. Posso te garantir que é mais saborosa que o que ferve naquela panela.
—Quem precisa de comida? —disse Abby. E essa foi à última coisa que disse por muitíssimo tempo.
Capítulo 6
 	Miles se esforçou em arquear a suave palha. 
—Servirá isto? —perguntou, segurando-o no ar.
—Bem, não é ráfia, mas sobreviverá.
 Miles lhe entregou o arco, logo apoiou os cotovelos sobre a mesa e a olhou revirar seu equipamento procurando outros artigos apropriadamente Natalinos, como ela os chamou. 
Ele tinha dormido mal na noite anterior. Ficou tentado a colocar a culpa disto em seu guisado. Tinha sido, em uma palavra, indigesto. O mais provável era que se devesse ao fato de ter dormido tão perto de Abigail e não havê-la tocado. Os Garretts não faziam esse tipo de coisas antes do casamento - não é que ele tivesse esperado nada. Ele não a tomaria até que estivessem casados. O só de pensar nisso um estremecimento percorreu seu corpo; não estava seguro se era de entusiasmo ou de pânico. Sempre soube que tomaria uma esposa cedo ou tarde. Tinha sido certamente satisfatório para seus irmãos, embora cortejar a suas damas tenha sido bastante tumultuoso. 
 Miles lançou um olhar a Abigail e se perguntou se cortejá-la custaria tanto a ele. Não acreditava. Ela parecia bastante serena enquanto examinava as coisas de Miles. Talvez ela o aceitasse sem problemas, com o tempo. 
Ele a olhou e isso não pareceu ajudá-lo, mas se o fez sorrir. Parecia uma coisa melhor para fazer que sacudir a cabeça, que era o que tinha estado fazendo desde que ela tinha começado a lhe contar sobre coisas do futuro a noite anterior. Aviões, carros, trens, microondas; a lista era interminável. Tomaria uma vida lhe fazer esquecer todas as coisas que ela dava por certas, coisas que ele nunca teve nem imaginou, por mais viajado que ele pudesse ter sido.
—Abigail, que tipo de trabalho fazia em seu tempo? —perguntou ele.
—Era secretária de um vendedor de seguros —, disse ela, arqueando as sobrancelhas. Dirigiu-lhe um sorriso breve. —As pessoas pagam a este homem certa quantia em dinheiro cada mês para o caso de morrerem ou sua casa se incendiar. Se isso acontecesse, então ele lhes substituiria a casa ou, em caso de morte, pagaria à família pelo falecimento. Escrevia toda sua correspondência e coisas em uma máquina chamada computador. E regava suas plantas. Odiava isso.
—O que teria preferido fazer?
—Tudo, menos isso —. Ela assinalou um figo. —Eu sempre quis ser jardineira. Adoro ver crescer as coisas. Uma família teria sido agradável, também.
—Entendo —, disse ele. Não é de estranhar que ela tivesse achado Brett tão ruim. O homem obviamente não compartilhava seus sentimentos sobre o matrimônio. Mas por que ela estava tão preocupada por isso de arrumar e presentear? Seria isso parte do problema?
—Por que todo este assunto do Natal é tão importante para você? —perguntou ele.
Poderia não ter percebido sua vacilação se não estivesse olhando-a tão atentamente. Mas a percebeu, e certamente notou o sorriso falso que ela pôs para disfarçar.
—Esta é a época do “Ho, ho, ho, Feliz Natal” e tudo isso —, disse ela, alegremente.
—Hmmm —, disse Miles, amavelmente. Ela estava mentindo, obviamente. Ele olhou seu pequeno e triste montão de arcos de palha, e depois a olhou a ela.
—Como celebrava em seu tempo?
—OH, há muito que fazer. Tem que decorar a casa com a árvore, ornamentos e folhagem. Toda a família se junta e há muita comida e risada —. Ela deu um duro puxão a outro pedaço de palha. —É o tempo da união familiar.
 	Miles estirou suas mãos e as pôs sobre as dela. 
—Abigail, eu quero saber como você a celebrava.
Ela apartou o olhar. 
—Ia à casa de minha avó. Até que ela e meu avô morreram.
—Então deve ter sido bastante festivo. Conte-me de seus irmãos. Que reuniões devem ter sido, com uma casa cheia do Garretts.
—OH, era uma grande reunião —, disse ela. —Eu não tenho nenhum irmão ou irmã, mas tenho muitos primos e tias e tios. Todos apareciam com presentes e coisas.
—E os seus pais?
Abby encolheu os ombros. 
—Eles geralmente me levavam para lá e me deixavam. Nunca ficaram —. Sorriu-lhe brevemente. —Sempre tinham outras coisas a fazer.
O peito de Miles se apertou. Tentou tomá-la em seus braços, mas ela resistiu.
—Eu fui uma surpresa —, disse ela, indo para a cozinha. —Tiveram-me depois de ter estado casados quase vinte anos. Nunca tinham querido filhos e era muito inoportuno me incluir em seu estilo de vida, suponho.
—OH, Abigail —, Miles disse brandamente.
—Não o faça —, disse ela, levantando a mão. —Não te contei isto para que tivesse pena de mim. Tive uma grande vida. Meus avós eram maravilhosos. Eu não precisei de minha mãe e de meu pai para tornar minha vida melhor do que era.
Ele digeriu isto durante uns minutos. Isto era obviamente mais profundo que isso. 
—Então estes artigos natalinos recordam seus avós?
Ela encolheu seus ombros. 
—Suponho. Ou talvez só queira o que eles tiveram.
 	Miles entendeu. Seu pai venerava a sua mãe e ela a ele. Eles tiveram suas desavenças, certamente, mas nunca houve um momento em que Miles tivesse duvidado do amor de um pelo outro. Não é que em cada lar na Inglaterra fosse assim. A maioria dos matrimônios era feitos para formar alianças e provavelmente desprovido de amor. Miles sabia que seus pais eram algo assim como uma exceção. Abigail obviamente queria um casamento igualmente excepcional. Miles sorriu para si mesmo. E ele tinha toda a intenção de dar-lhe. A vida era verdadeiramente milagrosa.
—Quero a torta inteira —, estava dizendo ela. —Quero um marido que me ame. Quero filhos. Quero Natais verdadeiros, com luzes e uma árvore e com minha própria família reunida, ali, ao redor de mim. Quero uma lareira. Miles ponderou sobre o último item. Era óbvio que teria que fazer melhorias no salão.
—E já que estamos falando de matrimônio, me permita ser perfeitamente clara nisto. Quero um marido que fique comigo quando as coisas ficarem difíceis, que não desapareça ao primeiro sinal de problemas. Lançou-lhe um olhar desafiante.
—Desapareça?
—Me deixar. Escapar.
—Ah, já entendi.
—Melhor mesmo.
Ela pôs as mãos na cintura outra vez. Miles pensou que estava se preparando para a batalha. Começou a suspeitar que talvez ele fosse o inimigo.
—Então, você não quer um homem que corra quando as coisas ficarem difíceis —, disse ele, querendo certificar-se de ter entendido.
—É isso, bobo.
—Algo mais?
Ela levantou sua mão e começou a pontuar com os dedos os temas importantes.
—Não pode se vestir melhor que eu, não pode cheirar melhor que eu, e tem que ter um trabalho.
—Um trabalho?
—Uma ocupação. Não pode ficar sentado em casa vendo televisão o dia todo e esperar por mim para pagar todas as contas.
Miles se segurou as mãos atrás das costas. 
—E?
Ela ficou em silencio por um momento. 
—Tem que me amar —, disse ela calmamente.
Bem, isso era bastante fácil. Miles suspeitava que houvesse se apaixonado por ela na primeira vez que ela tinha começado a resfolegar.
 O assunto da ocupação seria um problema. Miles se recostou contra a mesa de trabalho e olhou pensativamente ao teto. Podia reconstruir Speningethorpe e convertê-lo em uma propriedade proveitosa, mas isso seria suficiente para Abigail? Era verdade que ele teria que fazer algo com suas mãos para não parecer um folgazão. Talvez fizesse trazer seus cães de caça. Ele os tinha criado em sua juventude, pelo menos, enquanto tinha conseguido ficar em casa até que teve quase doze anos. Aye, sempre havia mercado para um cão de caça finamente treinado. 
E se os cães de caça não fossem suficientemente substanciais, lidaria com os cavalos. Sua mãe tinha bom olho para os cavalos. Quando levasse Abigail a Artane, pediria a opinião de sua mãe no assunto. 
 Miles considerou as outras exigências deAbigail. Com certeza ele não estava mais bem vestido que ela; ele usava seu par mais velho de meias. Chegavam ao joelho, mas era melhor joelhos descobertos que o traseiro descoberto, a seu modo de ver. E estava bastante seguro que ela cheirava, de longe, melhor do que ele. E ela sem dúvida o aceitaria uma vez que fosse à casinha. 
Cumpria com todas as exigências, pensou ele bastante contente. 
Dirigiu-lhe um sorriso breve e começou a caminhar para o grande salão. Não havia tempo como o presente para ver o futuro, justificou. Era apenas meio-dia. Se cavalgasse sem descanso, poderia ir à Abadia de Seakirk e voltar para a alvorada. O abade provavelmente estaria ali para celebrar o Natal. Miles não hesitaria em utilizar qualquer tática que fosse necessária para ver o homem cavalgando, dirigindo-se ao norte com ele. Sem dúvida sua própria reputação como um herege condenado lhe serviria. Seus irmãos maiores já tinham difundido o conto de uma ponta a outra da ilha, embelezando-o com cada nova versão. Miles tinha estado furioso ao princípio, especialmente desde que eles tinham achado que isto podia ser uma brincadeira tão boa. Agora, pensava que a mancha em seu passado talvez lhe viesse a calhar.
—Aonde vai?
O tom desesperado da voz da Abigail o fez deter-se. Olhou-a enquanto jogava a capa ao redor dos ombros e calçava as luvas.
—Tenho coisas a fazer.
A mandíbula de Abby se afrouxou. 
—Como o que?
—Abigail, tenho uma tarefa a cumprir...
—Eu lhe desnudo minha alma —, disse ela, soando irritada, - e tudo o que faz é ir embora?
—Abigail...
—Grandioso! —exclamou ela. —É simplesmente genial!
 Ele se deteve e ficou pensando. Se lhe dissesse o que estava pensando em fazer, só o céu sabia o que ela diria. Talvez dissesse que pensava que ele devia dar um mergulho em seu fosso. Pior ainda, talvez ela fosse embora. 
Nem sequer podia pensar nisso. Só a noite passada ele tinha começado a dar-se conta que lhe estaria pedindo a ela que aceitasse ficar com ele. 
Ele não podia suportar pensar nela lhe dizendo nay.
Aye era melhor que ele tivesse perto ao sacerdote quando a informasse de suas intenções. Os Garretts nunca faziam as coisas pela metade, e os De Piaget tampouco.
—Há madeira suficiente para o fogo —, disse ele, - portanto não deveria ter frio...
—É pela questão do sexo, não é verdade? —, demandou ela.
—Bem, aye —, disse ele, assentindo, - isso é parte do assunto, com certeza —. Ele certamente não a tomaria enquanto não se casasse com ela e quanto mais rápido se casassem, mais feliz seria ele. 
—Ooohh —, disse ela, chiando os dentes. Recolheu um pedaço de madeira e o atirou - É um tremendo idiota!
 Miles se agachou, seus olhos abertos com assombro. 
—Abigail...
—Vá —, gritou furiosa, assinalando a porta. — Vá aonde quer que esteja indo!
Miles pensou que era o melhor que podia fazer, enquanto ele estivesse inteiro. E quando Abigail alcançou outro pesado tronco de madeira, fez a coisa mais sensata que podia fazer. Correu para a porta.
Mal tinha aberto a porta do salão quando ouviu o golpe de uma madeira no outro lado. Então deixou sua dignidade para trás. Ele sorriria quando contasse a seus filhos quão difícil tinha sido cortejar sua mãe. Seria um estupendo conto. 
Estava a meio caminho dos estábulos quando se deu conta de em quão precária situação estava deixando a sua dama. Não podia permitir que ficasse em um torreão com uma porta aberta e nenhum homem para protegê-la.
Voltou para vestíbulo e empurrou a porta. Não se moveu. Abigail tinha utilizado, obviamente, a viga transversal. Bem, talvez fosse o melhor. Daria-se tanta pressa como fosse possível. Quanto mais rápido estivesse em casa, com o sacerdote, mais rápido conseguiria o que queria.
Supondo, claro, que não tivesse que romper sua própria porta para chegar a sua noiva. Sorria enquanto ia a pernadas aos estábulos. Que estupenda vida prometia ser!
Capítulo 7
Abby atirou outro tronco no fogo, então arrastou uma mão sobre seus olhos.
—Que idiota —, disse ela, em um fôlego contra a manga. —Ele não é melhor que o resto deles.
Mal podia acreditar que Miles se foi, deixando-a para analisar suas razões para sair correndo. Talvez ao despir sua alma o tivesse assustado. Abby franziu o cenho. Covarde. E ele tinha admitido a toda pressa que parte do problema era o sexo. E depois de ter aceitado tão facilmente antes, como se ele tivesse sido surpreendido por algo mais! Ela franziu o cenho outra vez. Por tudo o que ela sabia, ele só tinha estado brincando com ela. 
Abby se aproximou do fogo, murmurando uma maldição. Tinha sido um dia muito ruim. Depois que Miles a tinha deixado, por volta do meio-dia, ela tinha passado a tarde indo e vindo impacientemente. Depois tinha chorado. Quando cansou disso, refugiou-se na cadeira de Miles. Tinha estado sentada ali desde o crepúsculo, amaldiçoando seu fogo inadequado e o dia que ela tinha aterrissado em seu fosso. Depois de difamar seu salão e sua pessoa a seu bel prazer, ela simplesmente se sentou e refletiu sobre a vida e seus mistérios, sacudindo a cabeça. Sua avó sempre tinha sacudido muito a cabeça. Abby começava a entender por que.
Os atos de Miles a desconcertavam. Ela tinha se preparado para perdê-lo quando lhe havia dito de onde e de quando vinha. Mas quando lhe tinha contado seu pequeno e diminuto sonho de uma casa e um lar próprio, não só não deu a seu sonho o devido respeito e a apropriada atenção que merecia, mas também a tinha abandonado. E na Véspera de Natal, ainda por cima! Esta noite era uma noite para ter a seu redor às pessoas que a queriam. Tudo o que ela tinha, era um castelo vazio. Não tinha árvore de Natal, nem luzes cintilantes, e nenhum presente. Sinos do inferno, nem sequer tinha um miserável bolo de fruta para poder descontar nele! 
Mas isso não era o pior de tudo. Por mais que não quisesse admiti-lo, o que não tinha era o que mais queria. 
Miles. 
Sempre tinha se perguntado se havia tal coisa como conhecer uma pessoa e intuir imediatamente ele era O Senhor Apropriado. Ela nunca tinha experimentado isso antes. Estava mais familiarizada com a atração pelo Senhor Inapropriado. Ela conhecia um homem, pensava que era bonito, então dez minutos mais tarde começava a procurar desculpas para seus evidentes defeitos. Mas nenhuma desculpa tinha transformado jamais a qualquer desses homens no Senhor Correto.
Com Miles, tinha sido completamente diferente. Em um momento tinha estado criticando-o por não ter encanamento interno, no seguinte o tinha estado comparando com seus requisitos para o Homem Ideal e percebido que não lhe faltava nada. Até hoje. Escapar dela era uma grande marca no lado negativo da lista. Se não a queria o suficiente para ficar, ele não servia. 
Além disso, o que queria ela com a velha e primitiva a Inglaterra medieval, de qualquer maneira? Não havia água corrente, nem telefone, nem o History Channel na TV a cabo. Diabos, ela estava vivendo no History Channel. 
Ela necessitava do conforto moderno. Duchas quentes. O sabão com embalagem e contendo cremes hidratantes com nomes longos e científicos. Lojas de presentes, onde ela pudesse comprar artigos para decorações natalinas. Céu Santo, inclusive as coisas mais singelas como interruptores de luzes, encanamentos, calefação central... o Mini Mart!
Bem, era hora de agir. Ficou de pé de um salto e se dirigiu à porta resolutamente. Iria para casa. Não havia nada para ela ali tampouco, mas ao menos se sentiria miserável, mas com conforto. Era definitivamente melhor que sentir-se miserável em um castelo velho, com correntes de ar e andrajoso até para os padrões medievais! 
Pôs o ombro sob a viga transversal e empurrou para sua esquerda. Foram necessárias várias tentativas, mas finalmente conseguiu deslizá-la o suficiente para um lado para dar um bom empurrão para cima e tirá-la do suporte restante. Agarrou o anel de ferro da porta e começou a puxar.
—Miauuu.
Abby se deteve, depois sacudiu a cabeça. —Isso nãofuncionará desta vez. Estou atrasada para meu encontro com o fosso.
—Eu disse, velha amiga, Miauuu!
Abby se virou, esperando ver alguém atrás dela. 
Estava sozinha. 
Isto era muito para um fantasma. Deu uns poucos passos vacilantes para o centro do quarto, procurando nas sombras. Então gemeu pela surpresa. 
Sir Sweetums estava sentado no primeiro degrau da escada circular de Miles. Moveu a cauda impacientemente, logo girou e subiu, desaparecendo nas sombras.
—Lamentarei isto —, murmurou Abby para si.
Cruzou o salão, e começou a subir a escada circular. Esperou até que seus olhos se adaptassem completamente. Havia lua cheia, o que ajudava. Mas um dia desses Miles realmente teria que fazer algo com o telhado nesta parte de seu castelo...
—Realmente, minha querida, você é a mais teimosa das mulheres.
Abby chiou e saltou para trás. Com isso conseguiu golpear-se contra a pedra do oco da escada. 
—Quem está aí? —disse ela, sua voz fina, como um pássaro. 
—Sou eu —, disse uma voz culta da escuridão. —Seu amado Sir Sweetums.
Contra seu melhor julgamento, Abby se esforçou por ver no corredor escuro em frente a ela. O que realmente deveria estar fazendo era procurar uma arma, não olhar nas sombras para encontrar um vislumbre do fantasma de um gato que parecia estar tendo delírios de conversação. Talvez essa faca grande de açougueiro na cozinha fosse proteção suficiente. 
E então, antes que ela pudesse reunir seus membros e mover-se, Sir Sweetums mesmo apareceu através da fossa que se abria no que devia ter sido escada que, e provavelmente era em outros tempos, um corredor que levava aos dormitórios.
Abby desceu um degrau e ficou boquiaberta pelo assombro. —Sir Sweetums? —pôde dizer.
—Mas é obvio —, disse ele, dando uma lambida em sua pata e passando-a pelo lado de seu nariz. Ele acabou com suas abluções e a olhou. —Quem mais?
—Ooooh —, disse Abby, agarrando-se às pedras a cada lado dela. —Eu realmente perdi o juízo desta vez. Os Garretts não têm alucinações!
—Não é uma alucinação, queridíssima Abigail —, disse, calmamente, Sir Sweetums. —Sou eu, que venho fazê-la recuperá-lo. Estive tentando durante anos, desde que você perdeu a cabeça por aquele garoto com a cara cheia de espinhas chamado Cachorro Louco McGee quando tinha doze anos.
Os Garretts nunca choramingavam. Abby pensou que gemer talvez não fosse uma mancha contra ela, assim o fez com vontade.
—Não salpique, rogo-lhe!—. Exclamou Sir Sweetums, levantando sua pata.
—Está falando —, disse Abby, roucamente. Ela sacudiu a cabeça. —Estou falando com um gato. Não posso acreditar isto.
—Falamos antes, - indicou Sir Sweetums. —Lembro de muitas conversas afetuosas enquanto estava à espreita no arbusto tentando caçar uma mariposa e você vadiava entre as flores...
—Isso era diferente. Você utilizava palavras como “miauuu” e “prrrr”. E eu não vadiava entre as flores —. Abby o olhou zangada. —Isto é antinatural!
 	—Esta é uma época para ser generosa, minha querida, e este é um dom dado aos animais, cada ano, da meia-noite da véspera do nascimento do Menino Jesus até a saída do sol a manhã seguinte.
—Mas você não está vivo —, sussurrou Abby. —Eu sei que não está.
—Ah —, concordou Sir Sweetums, assentindo, - aí está o coração do assunto. Teria preferido ter podido ir até você e lhe contar, mas uma vez que um felino entra na Sociedade dos Guardiões, não pode voltar. A menos que ele tenha trabalho adicional para fazer. —Sir Sweetums inclinou a cabeça para um lado. —E lhe asseguro, tive muitíssimo trabalho a fazer com você, minha menina!
Abby se recostou contra a pedra e teve um calafrio. Quando passou, respirou profundamente e logo soltou o ar.
—Bom —, disse ela. —Posso lidar com isto. — riu, apesar de si mesma. —Estou vivendo em 1238. Se posso acreditar isso, posso acreditar que estou falando contigo - olhou seu querido Sir Sweetums e sentiu que seus olhos se enchiam de lágrimas. —Senti tanta saudade.
Sir Sweetums tossiu, um pouco incomodamente pareceu a ela. 
—É obvio, minha querida.
—Você sentiu saudades?
—É obvio, minha querida —, disse ele, brandamente. —Dos mortais que tive a meu cargo durante minhas nove vidas, você foi minha favorita. Não sabia?
Abby sorriu apesar de suas lágrimas. 
—Não, não sabia. Mas obrigado por me dizer isso.
Sir Sweetums sorriu, como só um gato pode sorrir. 
—Não tem que me agradecer isso. Agora, vamos à razão pela qual estou aqui. Você deve considerar seriamente ficar com Miles. Ele é um humano perfeitamente aceitável. Verdadeiramente, teria que dizer que ele é a melhor das escolhas que poderia ter feito.
—Ele é um idiota total —, queixou-se ela.
—Voluntarioso —, contradisse Sir Sweetums. —Seguro de si mesmo e sem medo de dizer o que pensa.
—Ele pode falar, mas não escuta. Contei-lhe a maioria de meus sonhos mais prezados ontem pela manhã e ele nem sequer se deu por informado!
—Talvez ele esteja pensando em suas palavras.
—Hrumph —, disse ela, sem apaziguar-se. —Se isso for verdade, por que se foi?
—Quando retornar, você perguntará.
—Eu não estarei aqui quando ele volte.
—Tsk, tsk —, disse Sir Sweetums. —Minha querida Abigail, você não pensa que eu tive todo o trabalho de trazê-la até aqui, só para que agora vá embora, não?
—Você? —chiou ela. —Você é o responsável por isto?
—Quem mais? —disse ele, com um pequeno e modesto sorriso.
—Por quê? —exclamou ela. —Por que, de todos os lugares no mundo, me arrastou até aqui?
—Porque aqui é onde você precisa estar —, disse ele, simplesmente.
—Correto. Sem chocolate, sem meu colchão ortopédico, e sem água corrente. Muito, muito obrigada.
Sir Sweetums sacudiu a cabeça pacientemente. 
—Realmente, minha querida. Essas são coisas das quais você pode prescindir.
—Não, não posso. Vou para casa.
—É possível que no futuro haja mais comodidades, querida menina, mas quem a aguarda ali para compartilhar essas comodidades com você?
Bem, ele tinha um ponto. Abby franziu o cenho e ficou silenciosa. Ela não permitiria que um gato, não importa quanto ela o amasse, lhe falasse de ficar nesta Inglaterra medieval, velha e miserável.
—Abigail —, disse brandamente Sir Sweetums, — Miles é um homem extremamente bom.
—Ele é um herege condenado!
—Abigail —, repreendeu-a Sir Sweetums, —você sabe a verdade sobre isso.
—Bem, então... Ele sempre tenta me beijar para conseguir o que quer, - terminou ela, triunfal. —Isso é bárbaro.
—Considere sua educação, minha querida! O homem é um cavalheiro. Está acostumado a tomar o que quer, quando quer.
—E não quiser ser tomada? —disse ela, mal-humorada. Zangar-se era bom. Deixava sair os sentimentos machucados.
—Então diga. Mas suspeito que na realidade você queira.
—Estou rodeada de chauvinistas —, murmurou ela impacientemente.
Sir Sweetums permaneceu sereno. 
—Pense nas alternativas que teve no passado, minha querida. Brett? Teria lutado por você? Esforçou-se em fazer algo salvo ajudá-la a gastar seus recursos e exaurir sua despensa?
—Não —, admitiu ela.
—E esses outros insofríveis patifes que só você conseguia encontrar? Qualquer um deles teve coragem para cuidar de você?
—Senhor, me proteja —, disse Abby, rendendo-se.
Sir Sweetums concedeu o ponto com uma elegante cabeçada. 
—Como Miles o faz. É um comportamento perfeitamente aceitável para um cavalheiro medieval. Um cavalheiro medieval muito moderno se quiser uma opinião. Ele é bastante liberal em seus pensamentos, minha querida. Não tenho nenhuma dúvida que os dois verão com os mesmos olhos no final.
—Ele tem uma grande marca na coluna dos defeitos —, insistiu ela. —Sair correndo é o beijo da morte para mim
—Talvez ele tivesse assuntos a resolver.
—Teria sido agradável que o dissesse, sabe? Como se supõe que vamos arrumar as coisas, não é que esteja segura que queira fazê-lo, quando ele nem sequer está por perto?
—Você esperou todo este tempo por ele, minha querida. O que são umas poucas horas mais no grandioso esquema das coisas?Abby olhou ao mais querido de seus gatos e, apesar de si mesma, achou que tinha que concordar com ele. Talvez Miles a tivesse deixado por uma razão. Uma boa razão.
—É melhor que seja uma maldita boa razão —, murmurou ela. —E será melhor que volte aqui logo, embora seja arrastando-se, ou considerarei minha segunda alternativa!
Uma garganta se esclareceu imediatamente detrás dela. 
—Realmente, milady, houve muito pouca necessidade de arrastar-me. Andei bastante bem com meus próprios pés.
Abby deu volta rapidamente para olhar Miles, que estava parado na curva da escada. Ele subiu outro passo ou dois. Sorriu-lhe, e então seu olhar chegou através do espaço a Sir Sweetums. 
 	Miles espirrou. 
—Igualmente, o asseguro —, disse Sir Sweetums, movendo a cauda. 
Abby não podia decidir a quem olhar. Miles parecia querer desmaiar outra vez; ela conhecia esse olhar. Estendeu a mão para estabilizá-lo.
—Este é Sir Sweetums —, informou-lhe ela.
—Supunha-o.
—Ele fala. Mas só até o sol nascer.
—Que encantador —, conseguiu dizer Miles.
Sir Sweetums fez uma careta. 
—Calma, homem, está bem? Já está quase amanhecendo. Queria ver a Abigail comodamente instalada antes que a noite se acabe.
 —Talvez eu não queira estar comodamente instalada —, exclamou Abby.
—Sir Miles? —incitou-o Sir Sweetums. 
 	Miles subiu outro degrau e se ajoelhou. Abby endireitou sua coluna e se recordou de todas as razões que ela tinha para estar zangada com ele.
—Abby? –disse ele, calmamente. 
OH, genial. Agora ele decidia chamá-la de Abby. Franziu-lhe o cenho.
—Isto não vai funcionar.
Ele a olhou solenemente. 
—O que é o que você não gosta de mim? Meu semblante? Sou muito horrível para olhar o resto de sua vida? —Ele flexionou um braço para seu benefício. —Muito descarnado? Muito frágil? Vê aqui. Cheira aqui.
Ela se inclinou, aproximando-se, então enrugou o nariz. 
—Está bem, é certo, não cheira muito bem. O que esteve fazendo?
—Estive cavalgando duramente desde meio-dia de ontem. Agora, em que outra coisa falhei?
—Veste-te melhor do que eu. Um assunto muito importante para mim.
Miles deixou cair uma pequena tilitante bolsa em seu colo. 
—Emprega a uma costureira. Algo mais?
Abby tocou o dinheiro da bolsa. Ela olhou Sir Sweetums, que a olhava silenciosamente. Então ela levantou o olhar às estrelas; não podia olhar Miles.
—Eu quero tudo —, disse ela, calmamente. —Filhos, um jardim, o Natal —. Ela pigarreou. —E um marido que me ame.
—E eu não o faço? —perguntou ele.
Ela o olhou. 
—Você se foi. O que se supõe que tinha que entender? Digo-te o que é mais importante para mim, ignora-me, e depois vai embora.
—Fui trazer um sacerdote.
Ela o olhou com o cenho franzido. 
—Para que? Para me exorcizar?
Miles sorriu. 
—Nay, Abby, para nos casar apropriadamente.
Ela piscou. 
—Nos casar? —perguntou ela.
—Aye. Ele tomou sua mão entre as suas. —Eu te amo, Abby, em minha vida e em minha cama. Prometo sempre cheirar pior que você. Dou-te minha solene palavra que sempre terá a maioria dos objetos de vestir em nosso baú —. Ele levantou a mão e lhe tocou a bochecha. —Quero te dar tudo o que deseja, Abby. Quero te dar um lar e uma família.
Ela o olhou. Foi difícil, mas ela se forçou a olhá-lo e perguntar pelo que mais importava a ela. 
—E o que passa com o amor? Entre nós?
Ele sorriu, e a ternura do gesto foi diretamente ao coração de Abby. 
—Penso que comecei a me apaixonar por você no momento em que fixei meus olhos em você, parada em minha porta. Cada fôlego que tomei após só me convenceu que a vida contigo é imensamente mais alegre que a vida sem ti —. Ele levou sua mão aos lábios. —Minha doce Abby, como pode pensar que eu te ofereceria algo menos?
—OH, Miles —, disse ela. Era tudo o que ela sempre tinha querido ouvir. Ela jogou os braços ao redor de seu pescoço, fechou seus olhos e permitiu que suas lágrimas banhassem suas bochechas. —OH, Miles.
—Quero que fique —, sussurrou ele, pondo seus braços ao redor dela e abraçando-a. —Estou meio atemorizado em te pedir que renuncie ao futuro por mim —. Virou-se para trás e a olhou. —Fará isso? Não tenho muito para te oferecer, ainda.
Ela apertou seus braços ao redor do pescoço e lhe sorriu, sentindo uma imensa alegria no coração. 
—Tudo o que quero realmente —, disse ela, piscando para parar as lágrimas que enchiam seus olhos, - é você.
—Não sentirá falta do chocolate?
—Ouvi dizer que fazer o amor é um bom substituto.
Miles sorriu. 
—Talvez em nossas viagens, algum dia, saibamos a verdade disso. Até então, pode suportá-lo?
—Sim.
—E te casará comigo?
—Sim.
—Finalmente —, exclamou Sir Sweetums, triunfantemente. —Bem feito, Miles, velho amigo! Finalmente, alguém que cuidará de minha querida Abigail!
—Eu não preciso ser cuidada...
Miles a beijou.
—Vê? —disse Abby entre dentes. Ela fez um esforço tremendo para afastar-se e assim indicar que tais práticas bárbaras definitivamente não eram para ela, mas de algum modo se encontrou hipnotizada pela sensação da boca de Miles na sua.
Bem. Se ele queria beijá-la para submetê-la, ela o permitiria. De vez em quando. 
—Talvez, Sir Sweetums —, disse Miles, quando lhe permitiu respirar, - Abby estaria mais disposta ser ela a que cuide de mim, ao invés do contrário.
Sir Sweetums considerou. 
—Bem, os Garretts fazem esse tipo de coisas.
Os olhos de Miles começaram a lacrimejar. 
—A primeira coisa que ela poderia fazer seria tirá-lo de minha presença, meu bom gato. Não quero ofendê-lo, é obvio.
Sir Sweetums retrocedeu ante o espirro repentino de Miles. 
—Bem, sim, talvez fosse inteligente. Estarei por aí por agora.
—OH —, disse Abby, estendendo a mão, - não vá.
—Mas devo, minha querida. Você esta bem estabelecida. Minha tarefa terminou.
—Mas —, disse Abby, - não quer ver como que resolve nossa vida? E se tivermos filhos problemáticos?
Sir Sweetums sorriu outra vez, um sorriso de gato de Cheshire. 
—Sou um membro permanente da Sociedade de Felinos Guardiões, minha querida. Estamos sempre atentos, emprestando uma pata quando é necessário. Agora que você está aqui, talvez venha à Inglaterra medieval mais regularmente.
—Sempre em Véspera de natal —, disse Miles com outro espirro. —Duvido que possa suportar seu bate-papo um pouco mais freqüente durante o ano.
Sir Sweetums levantou uma pata em despedida.
—Até o próximo ano, então. Que Deus os acompanhe, meus queridos!
Sir Sweetums se desvaneceu. Abby olhou Miles com um sorriso apagado.
—Demônio de gato, huhh?
Miles riu. 
—Verdadeiramente, meu amor, ele certamente é. Agora, acredito que você e eu temos que resolver um assunto com o sacerdote.
Ela o seguiu, descendo a estreita escada, para encontrar o sacerdote parado perto da inadequada fogueira de Miles, tiritando. Abby deu um último olhar ao redor do salão e sacudiu a cabeça. O lugar era um desastre. Fazia que seu apartamento parecesse um hotel de quatro estrelas. 
Então Miles se deteve, olhou-a, e sorriu. Estirou uma mão para ela. Abby pôs sua mão na dele. O piso se afundava sob seu Keds enquanto ela permitia que Miles a conduzisse ao sacerdote. Talvez ela pedisse uma pá para o Natal do próximo ano. Por que não tinha pensado em levar uma lata de desinfetante na jaqueta antes de deixar o século vinte?
Abby saiu de sua contemplação do piso de Miles para encontrar o sacerdote olhando-a, esperando que dissesse se queria ou não ficar com Miles na Inglaterra medieval para o resto de sua vida. 
Ela olhou em torno de Miles. 
—Não deveriam estar aqui seus pais?
Miles encolheu os ombros. 
—Eles se inteirarão disto em seguida.
Abby olhou para o abade, que parecia lhe estar advertindo com seus olhos que ela se sentenciava a uma vida com um herege condenado e que deveria realmente dar uns poucos minutos mais para pensá-lo.
—Eu tomarei —, disse ela impulsivamente.
Miles se apressou a acompanhar o sacerdote até a porta antes que tivesse oportunidade de dizer algo mais.Abby se aproximou da fogueira quase patinando. Acabava de casar-se com um homem uns setecentos anos mais velho que ela. Falariam disso em todas as revistas do coração! Ela tiritou. Oxalá sua família fosse tão liberal como ele parecia ser. Escutou Miles sacudindo os pés fora da porta principal e respirou fundo. Ele não parecia estar preocupado pelo que seus pais diriam. Eles teriam de cruzar essa ponte quando chegassem.
Abby girou seus olhos. Tinha que ser uma ponte o que tinha começado toda sua aventura?
A porta principal se abriu e Abby renunciou a preocupar-se com os pais de Miles. Agora estava casada e os Garretts faziam amor uma vez que estavam casados. Com freqüência. Com entusiasmo. Sua avó tinha sido muito clara a respeito disso. 
Abby parou ereta e pôs as mãos na cintura. Não havia tempo como o presente para começar a trabalhar. E que trabalho maravilhoso prometia ser.
Capítulo 8
Miles deixou ao abade instalado comodamente na casa do guarda, e logo voltou para o salão. Parou na soleira e voltou o olhar para a muralha. Sua mente já arranjava idéias para melhorá-la. Não podia expor Abigail a viver nestas condições. Faria Speningethorpe tão moderno quanto pudesse, para o bem de Abigail. 
Sacudiu suas botas enlameadas para limpá-las, entrou no salão, e fechou a porta atrás de si. Abigail estava parada junto ao fogo, as mãos na cintura. Ah, então ela estava preparada para apresentar batalha outra vez. Miles se recostou contra a madeira e sorriu. Por Deus, com que mulher tinha se unido. Sua vida com ela seria uma alegria atrás da outra.
Se sobrevivessem às próximas horas, claro. Miles cruzou seus braços sobre o peito e considerou os próximos passos a seguir. Estavam legalmente casados. Para assegurar-se, queria deitar-se com ela, mas não seria muito cedo?
—Hey! —, disse ela, franzindo o cenho. —Por que fica aí?
—Estou te olhando —, respondeu-lhe ele, Sorrindo.
—Sou mais linda de perto.
Miles ria enquanto cruzava o piso. 
—Você me atrai de qualquer distância, milady. Atraiu-a para seus braços e a colou a seu corpo. —Deus abençoe a esse maldito Sir Sweetums por te trazer para mim.
—Eu não poderia estar mais de acordo.
Miles a susteve em silencio durante vários minutos. Depois de um tempo, ele começou a sentir-se bastante quente. Ele se afastou de um puxão de Abigail e se olhou para certificar-se de que nenhuma parte dele estava se queimando. Abigail o olhou como se tivesse perdido a razão.
—Estou queimando —, explicou-lhe.
Os olhos do Abby cintilaram alegremente. 
—Nada parece estar pegando fogo, Miles.
Ele a olhou, sentindo-se extremamente incômodo. O que era o que queria dizer, que seu calor definitivamente não vinha de nenhum fogo? Abigail inclinou a cabeça para um lado e o olhou apreciativamente.
—Você se barbeou —, notou ela.
Ele assentiu. 
—E me lavei também, acrescentou. —Mas estou seguro que você cheira ainda melhor que eu.
Ela riu. 
—Obrigado. Acredito.
Miles empurrou com o dedo um pouco de feno viscoso. 
—Poderíamos nos beijar —. Ele a olhou através das pestanas.
—Poderíamos.
—Não quero te apressar, Abby.
Ela sacudiu a cabeça, com um sorriso divertido. 
—Não o faz. Os Garretts geralmente o fazem logo depois da cerimônia. Por ter tido que esperar.
—Entendi —, disse Miles, afastando-se. Abby se aproximou e pôs seus braços ao redor dele. O que estava fazendo?
—Não se preocupe —, murmurou ela, ainda Sorrindo. —Só te beijarei.
Nesse momento, ele se deu conta, tarde, que não estava preparado para o que ela se propunha. Ele e Abigail se beijaram bastante freqüentemente, mas este beijo o sacudiu até os ossos. Talvez fosse porque sabia que este podia levá-los definitivamente a outras coisas. Miles passo seus braços ao redor dela e a abraçou. 
De repente, lhe permitiu respirar. Ele piscou.
—Eu acredito —, começou ele, que eu gostaria de receber outro desses.
Ela o atraiu para si. Miles se aderiu a ela e esperou não se envergonhar ao sentir que os joelhos lhe dobravam.
Ele tinha planejado lhe dar uns beijos agradáveis até que ela se acostumasse completamente a ele, talvez uns poucos dias, mas se ela não parasse de beijá-lo assim, ele duvidava sinceramente ser capaz de conter-se muito mais à margem de seu desejo. E, depois de tudo, os Garretts pareciam ter um programa definido a respeito destas coisas. E se Abigail o desejava agora, quem era ele para dizer Nay? 
Miles separou sua boca da dela. 
—Vou cair logo, acredito. Talvez pudéssemos ir para a cama e nos deixar levar...
Abigail riu. 
—O que pensará sua família quando lhe ouvirem falar como um sujeito do século vinte?
—Pensarão que me tornei parvo —, disse ele, dirigindo-a a sua cama e deitando-se ao lado dela. —Deveria ter visto o olhar que me lançou o abade em Seakirk quando lhe disse que queria obter uma licença.
—E onde está o frade em questão?
—No pequeno quarto em cima da guarita —, disse ele. Enterrou as mãos em seu cabelo e lhe girou a cara para ele. Miles sorriu. Tinha estado desesperado por tocar seu cabelo pelo que pareciam anos. 
—Ele é só um simples sacerdote, então? —perguntou ela.
—Nay. É um abade poderoso. 
Ela se afogou. 
—Vejo que sua nefasta reputação tem suas vantagens. 
Sorriu-lhe. 
—Está arrependida de ter se casado com alguém como eu? 
—Não, Dastardly Dan, não estou —, disse ela, lhe puxando a orelha. —Venha aqui e me beije, homem mau. 
Como podia ele negar-se? Beijou-a como ela desejava e depois a beijou como ele desejava. E então desejou que houvesse menos roupa entre eles. 
—OH, Deus —, disse ela, quando ele deslizou suas mãos sobre sua pele cada vez mais descoberta.
 	—Verdadeiramente —, disse ele com um tremor, quando os dedos frios de Abby vagaram por seu peito. Ele teria que construir lareiras melhores. Talvez o melhor fosse arrasar todo o maldito torreão e construí-lo outra vez. As mãos de Abigail encontraram o calor de suas costas e ele grunhiu. Aye, mais calor era sem dúvida uma necessidade da qual se ocuparia assim que possível.
Quando suas túnicas foram descartadas, ele a arrastou para a ele e saboreou a sensação de sua pele nua contra a sua. 
—OH, Abby —, murmurou, fechando sua boca sobre a dela. 
Ela estava tremendo. Ele esperava que fosse de paixão e não de medo. Sabia que não podia ser de frio. Ele ardia de tal forma que era como se tivesse parado em meio de um montão de lenha ardendo. 
Beijou-a e a acariciou até que ambos ofegaram em busca de ar. Então Abigail afastou sua boca da dele. 
—Ouviu algo?
—Nay —, disse ele, tratando de recapturar sua boca. 
—Estão batendo, Miles.
—É o sangue pulsando em seus ouvidos. Isso é paixão, Abby.
 	Ela evitou seus lábios. 
—Esses são punhos golpeando sua porta, bobo. Não é paixão, é companhia.
 	Miles levantou a cabeça e franziu o cenho. 
—Maldição. 
Abigail congelou. 
—Tipos maus?
 Miles a olhou furioso. 
—Batendo? Duvido, meu amor. Os inimigos geralmente preferem um ataque surpresa.
—Então quem pode ser? —perguntou ela, estirando-se para alcançar sua túnica. 
—Meu maldito sire, provavelmente. 
Por que Rhys teria escolhido este preciso momento para uma visita... Miles grunhiu. 
—Matarei-o por nos interromper.
Seu sorriso começou em seus olhos. 
—Realmente te amo muito - disse ela. 
Ele a beijou outra vez, com ardor, e então se separou e levantou. Ele vestiu sua túnica e esperou enquanto Abigail fazia o mesmo. 
—Será melhor que o deixemos entrar — queixou ele. —Se não o fazemos baterá o dia todo.
—O que lhe dirá a respeito de mim? —perguntou ela. Parecia muito preocupada. 
Ele encolheu os ombros. 
—Lhe diremos que é de Michigan. 
—Devo ter algum título de nobreza para me casar com você? —perguntou ela. Estava começando a resfolegar outra vez.
Miles a abraçou forte. 
—Como eu mesmo sou apenas nobre, não, você não precisa sê-lo. Mas nós podemos dizê-lo, se o preferir —. Ele se virou para trás e lhe sorriu. —O que será? Aprincesa de Freezing Bluff? 
—Não sei por que pensa que isto é tão engraçado —, disse ela, seus dentes tocavam castanholas. 
Miles sorriu e a beijou. 
—É somente meu sire, Abby. Ele te adorará porque você é você. Diremos-lhe que é de Michigan, que é um lugar muito longe, e que não tem família perto. Que saiu, perdeu seu caminho, e acabou em minha sala. Isso é suficiente verdade no momento. Preocuparemo-nos com o resto mais tarde. 
—Se você diz. 
—Confie em mim. Agora vamos, deixemos entrar o irritante ancião. 
Não tinha dado dez passos quando a porta principal se abriu violentamente e não só seu pai, mas também quatro de seus irmãos entraram no salão, empunhando as espadas, olhando por todos os lados como se tivessem esperado uma batalha.
Rhys parou de repente e ficou boquiaberto. Robin, Nicholas, Montgomery, e John fizeram o mesmo, amontoando-se detrás de seu pai quase o fazendo cair. Uma vez que o grupo armado de cinco recuperou o equilíbrio coletivo, renasceu a calma. 
—Então, é como disse o abade —, sussurrou Robin, com incredulidade. —Ele achou uma moça suficientemente parva para casar-se com ele.
 	Rhys calou seu filho maior com uma cotovelada nas costelas, então olhou para Miles avaliando-o.
—Presumi que viria e que o encontraria invadido por rufiões, uma vez que você devolveu seus soldados. 
—Nay, estou bem —, disse Miles, tentando não sorrir.
Rhys assentiu. 
—Posso ver por que você quis o torreão para só você.
—Aye —, concordou Miles, - suponho que pode imaginá-lo. 
—Santos, ela é atraente —, disseram Montgomery e John ao mesmo tempo. 
Miles franziu o cenho. Seus irmãos mais jovens eram gêmeos, e uns caipiras. Ele pôs um braço ao redor de sua esposa possessivamente.
—Aye, é —, grunhiu ele. —E se casou comigo.
—Pobre garota —, disse Robin, com um pesaroso movimento de sua cabeça. —Montgomery, vá trazer a Mãe e as garotas, assim elas podem oferecer à noiva de Miles o necessitado consolo. Não tenho nenhuma dúvida que ela teve um dia muito difícil.
Miles grunhiu a Robin. Seu irmão maior lhe dirigiu um malicioso sorriso em troca. Miles dirigiu sua atenção outra vez a seu sire. Esperou que seu pai considerasse os fatos por um momento ou dois e chegasse a uma decisão. Rhys embainhou sua espada e cruzou o salão. Tomou a mão de Abigail e a levou aos lábios. 
—Bem-vinda, filha —, disse, com um sorriso aprazível. —Meu filho sorri, assim devo assumir que você o fez fazer isso. Agora, como ele se comporta com você? Razoavelmente bem?
—OH —, disse Abigail fracamente. — Acho que ele é maravilhoso.
Miles sorriu para seu pai. 
—Ela tem um gosto excelente, papai não acha?
Rhys riu. 
—Santos, Miles, vim aqui pensando te encontrar confinado neste montão de pedras como um ermitão, e agora acho que interrompi as festividades pós-nupciais.
—Aye —, disse Miles, recordando por que ele tinha estado irritado com seu sire. —Seu senso da oportunidade é, como de costume, muito pobre.
Ele teria dito algo mais, mas não teve oportunidade, já que sua mãe, irmãs, cunhada, e numerosas sobrinhas e sobrinhos tinham entrado no salão, junto com o abade, várias pessoas que não eram da família, mas pensavam que eram, e um exército de serventes. Miles gemeu. Onde poria todas estas almas? E onde poderia ter privacidade com Abigail?
—Espetacular, - grunhiu para Abigail, e então lançou a seu pai um olhar muito contrariado. Recebeu uma piscada e uma risada afável em resposta. Miles franziu o cenho e virou para olhar sua mãe que vinha para ele. Teve o pressentimento, para seu descontentamento adicional, que uma vez que as apresentações fossem feitas, não veria sua esposa por algum tempo.
Abby cambaleou sob o violento ataque de pessoas. Uma vez que a mãe de Miles entrou no cômodo, o caos fez erupção. Se sua beleza não tivesse sido suficiente para fazê-lo, a maneira em que ela dividiu em grupos de trabalho aos homens certamente o faria. 
Era seguida por pelo menos duas dúzias de pessoas que estavam vestidas muito agradavelmente, e pelo menos uma dúzia que Abby supôs deviam ser serventes. A mãe de Miles veio a ela imediatamente.
—Sou Gwen —, disse ela, - e posso ver por que Miles te manteve em segredo, se não o tivesse feito ele teria estado lutando com seus irmãos para te ter.
—OH —, disse Abby, agarrando a mão de Miles, - penso que eu teria preferido a ele de todos os modos.
Miles riu e apertou suavemente a mão de Abby. —Eu acredito que ela me ama, Mamãe.
—Como é que foi suficientemente afortunado para encontrá-la, filho?
—Abby perseguiu seu gato até meu fosso.
Abby obrigou Miles a olhá-la, e ele o fez... finalmente. Piscou-lhe um olho, e então se inclinou para beijá-la.
—Temo que a única intimidade que poderemos ter é nos estábulos. Quando eu puder te afastar das mulheres de minha família, claro.
—Vamos, o que é um pouco de feno entre amigos?
—Penso exatamente o mesmo.
E essa foi à última vez que ela o viu por bastante tempo. Gwen tomou em suas mãos. Abby encontrou nada mais que carinho e aceitação nos olhos verde-azulados de Gwen, e logo se sentiu completamente cômoda com a mulher. Gwen a apresentou formalmente aos quatro irmãos de Miles, à sua irmã gêmea, e à sua irmã maior. Também estavam os sogros, o que era bastante confuso; netos, e outros não membros da família que pareceram querer sentir-se parte dela. Abby se esqueceu imediatamente de todos os nomes. Ah, os riscos de muitos parentes!
—Flores! —gritou um menino maior. —Onde vão ficar, avó Gwen?
Gwen uniu seu braço com o Abby. 
—Este é o torreão de Abby, Phillip. Ela te dirá onde ela quer que as ponha.
—E temos outras coisas para você —, disse outra parenta, uma mulher que parecia com uma versão mais jovem de Gwen. —Sou Amanda. Miles e eu brigamos, mas não tanto como brigo com o Robin. Suficiente apresentação. Sempre tive o pressentimento que Miles se casaria logo. Penso que devo ter trazido isto com você em mente —. Levantou uma cesta cheia de muitas coisas, sabão sólido, toalhas limpas de linho, e um pente. Abby cheirou o sabão cuidadosamente, e então sorriu com alívio.
—OH, obrigado!
—Aye, e eu tenho coisas para ti, também —, disse outra moça. Ela tinha cabelo comprido e loiro e olhos verdes. —Sou Anne, esposa de Robin, e eu nunca brigo com Miles. Penso que ele é maravilhoso, mesmo quando está mal-humorado. Talvez já tenha começado a domesticá-lo. Ele parece muito alegre.
—Bem, eu... —começou Abby, e então foi distraída por roupas que não se pareciam com as que Miles tinha lhe mostrado.
Depois a levaram a uma esquina detrás de um biombo provisório. Deram-lhe água quente e nenhuma intimidade para um banho de esponja, mas as roupas mais que compensaram isso. Nem bem estava apropriadamente vestida e penteada, aromas divinais começaram a sair da cozinha. 
Saiu detrás do biombo para perceber que o salão tinha sido transformado. O piso tinha sido trocado, as mesas tinham sido colocadas e cobertas com toalhas, e a comida começava a sair da cozinha. As flores tinham sido espalhadas por toda parte do salão e inclusive tinham pendurado uma tapeçaria.
Ela procurou Miles. Estava parado perto do fogo escutando seus irmãos mais jovens, que pareciam estar tampando-se um ao outro ao tratar de lhe contar alguma história. Então ele posou a vista nela. Abby se ruborizou enquanto Miles deixava seus irmãos falando com vento e vinha diretamente através do aposento, empurrando a família e os móveis de seu caminho para chegar a ela. Ela sorriu fracamente.
—Você gostou do vestido?
A boca de Miles apanhou a dela. Bem, isso foi resposta suficiente. Ela se agarrou a seus braços quando ele finalmente levantou a cabeça. Uma vez que ela pôde enfocar outra vez, olhou-o. 
—Imagino que você gostou.
Ele baixou a cabeça para ela e lhe sorriu. 
—Aye, eu gostei. Ele retrocedeu um passo, inclinou-se ante ela, e lhe ofereceu o braço. 
—Participaremos do festejo?
Abby segurou-lhe o braço e permitiu que a conduzisse à mesa. Em minutos, a mesa se encheude comida. Um pequeno grupo de músicos assumiu os instrumentos e começou a tocar. A festa logo estava em seu apogeu. Abby mal havia começado a comer quando se deparou consigo mesmo sendo o centro das atenções mais que a celebração medieval que a rodeava.
As crianças começaram a andar perto dela. Os meninos queriam lhe tocar o cabelo e escutá-la falar com seu estranho acento. E uma vez que satisfaziam essa vontade, simplesmente quiseram estar perto dela. A família de Miles revoava ao redor dela, lhe contando histórias a respeito de seu novo marido, lhe fazendo perguntas a respeito de sua própria vida. Os irmãos maiores lhe perguntaram repetidas vezes por que se decidiu por esse sujo pedaço de terra quando havia dois irmãos Piaget muito mais apropriados procurando esposas ainda. 
Depois de passar bastante tempo na mesa, a companhia se transladou às cadeiras que rodeavam o fogo. Abby se recostou em sua cadeira e aventurou um olhar a seu redor, mal era capaz de acreditar os giros e voltas que tinha dado sua vida nos poucos dias que tinham passado. Sacudiu a cabeça, maravilhando-se. O dito favorito de sua avó tinha sido "Tudo em seu tempo.” Isso, é obvio, sempre sido precedido por um ataque grave de sacudidas de cabeça. Abby o entendia completamente. Quem teria pensado que ela encontraria o homem de seus sonhos e o Natal que sempre tinha querido setecentos anos no passado? Talvez em seu tempo fosse uma brincadeira... mas que brincadeira maravilhosa! Talvez o salão de Miles não fosse exatamente algo que Currier and Ives teriam posto em uma tela; isto era muito melhor porque era real.
Alimento abundante. A família estava reunida ao redor dela, uma família que veio com mãos amáveis, corações cálidos, e sorrisos carinhosos. Ela teve uma árvore pela forma em que a família de Miles repartiu as flores e a folhagem que havia trazido para adornar seu castelo. O fogo faiscava o suficiente para igualar centenas de luzes cintilantes. E o melhor presente se sentava ao lado dela, correndo o polegar sobre o dorso de sua mão e olhando-a com amor em seus olhos. Tinha lhe dado muito mais que um teto sobre sua cabeça, suas próprias roupas para usar, e um guisado indigesto. Abby lhe sorriu através de seus olhos cheios de lágrimas. 
—Obrigado —, disse ela simplesmente. 
Ele devolveu-lhe o sorriso. 
—Por todos estes artigos apropriadamente natalinos? Por minha família?
Ela assentiu. 
—E, mais especialmente, por ti.
—Deus benza meu áspero e terrível humor —, disse ele, com um sorriso aprazível. Ele passou o braço ao redor dela e a aproximou de si. —Eu te amo —, sussurrou-lhe na orelha. 
—Eu te amo, também.
Ele se virou para trás e a olhou. 
—Não sei o que teria sido de minha vida sem você... a... a... a—atchoo!
—Tio Miles! —disse um menino jovem, com espuma na boca pelo entusiasmo. —Olhe o que encontrei lá fora!
—OH, gatinhos —, exclamou Abby. —Que maravilhoso!
—MA… Mara... a—atchoo!. Miles espirrou ruidosamente. —Malditos gatos!
—OH, Kendrick —, exclamou Amanda, seguindo o menino, agarrada a seus calcanhares, - leve esses gatinhos para fora! Ela olhou Abby pedindo desculpas. —Seu pai o incitou a isto, é óbvio, o caipira —. Ela virou para o irmão em questão e o fulminou com o olhar. —Céus, Robin, você sabe que Miles não pode suportar o aroma desses animais!
Robin não pareceu preocupar-se. Ele apoiou suas costas na cadeira, rindo com vontade. Ou pelo menos o fez até que Amanda partiu sobre ele, pôs seu pé na frente da cadeira, e empurrou.
—Saiamos, agora —, disse Miles, puxando Abby até pô-la de pé. —Antes que estoure a guerra.
—Aonde? —perguntou ela enquanto ele a arrastava para a porta, longe de sua alegre família e seu barulhento irmão.
—Para os estábulos. Nunca nos procurarão ali.
Abby fugiu com ele, primeiro para fora e depois para os estábulos. Pararam finalmente diante de um monte de feno. O feno estava coberto com uma manta e uma vela tinha sido deixada acesa sobre um tamborete.
—Minha mãe obviamente não se preocupa muito com meus cavalos —, queixou-se Miles. —Ela poderia ter queimado todo o maldito lugar.
—Sua mãe fez isso?
Sorriu-lhe e a atraiu para seus braços. 
—Ela foi recém-casada um dia também. E gosta muito de você, senão, não teria se dado ao trabalho. Agora que o penso, eu gosto muito de você também.
—Que conveniente —, disse ela, sorrindo-lhe.
—É claro que sim —, disse ele, baixando a boca para a dela. —Agora, onde estávamos antes que minha família invadisse nossa noite de núpcias?
E quando Miles a fez sua nesse frio estábulo, Abby decidiu várias coisas. 
Um, a calefação central não era tão importante quanto costumava ser. 
Dois, os hereges condenados eram uns amantes gentis e intensos.
E três, Sir Sweetums merecia uma promoção.
Epílogo
Sir Maximillian Sweetums se recostou em uma nuvem muito cômoda, contemplando sua merecida comida. Ele atraiu um tenro Vittle especialmente feito para seu aristocrático nariz e o cheirou criticamente. Ah, o buquê era excelente! Ele comeu um pedaço com prazer.
—Então, Chefe, você terminou o trabalho?
Sir Sweetums estava de um humor tão bom, que não repreendeu ao bulldog por sua interrupção do chá da tarde. —Sim, querido Bruno, minha tarefa está terminada. Abigail está bem acomodada.
—Sip, Chefe, mas a dose de meninos que ela vai obter —. O bulldog se estremeceu. —Guauu!
—Não tema, Bruno. Estarei ali para ajudá-la quando ela precisar. E sempre cuidarei de seus pequenos. Tudo faz parte do trabalho, você sabe.
 	Bruno pelejou para coçar-se atrás da orelha. Uma vez que conseguiu colocar sua pata onde queria, coçou-se brandamente.
—Pequeno trabalho, Chefe. Uhh, você não precisa de um pouco de ajuda às vezes?
—Por certo, Bruno, é uma tarefa muito exigente —, concordou Sir Sweetums. —Sem um momento para sentar-se ociosamente.
—Então, uhhh... Chefe, eu estava pensando, você sabe, quando... uhh...
O bulldog estava se deixando levar pelo nervosismo. Sir Sweetums olhou seu leal companheiro e sentiu surgir a compaixão em seu felino peito. 
—Talvez na próxima tarefa, meu estimado moço. Esta parece um enredo bastante difícil de desenredar.
—Meu Deus, CHEFE, sério? Realmente vou poder ir desta vez? 
Bruno saltou de alegria, perdeu o equilíbrio e caiu por meia dúzia nuvens antes que recordasse no que estava trabalhando.
Sir Sweetums suspirou. Seria um desenrolar verdadeiramente muito longo, com Bruno a bordo.
—Mais creme, Chefe? —bramou Bruno, feliz, a certa distancia. —Algo mais que eu possa lhe trazer?
—Talvez, algo de uma galáxia diferente, meu amigo —, disse Sir Sweetums. 
Bruno saltou entusiasmadamente. Sir Sweetums se reacomodou para gozar de paz e calma. Sim, de verdade, que felizes eram “A” Abigail e “O” Miles juntos. Sir Sweetums se felicitou pela sorte de uma tarefa bem terminada. A tranqüilidade estava, é obvio, destinada a durar tão somente o tempo que Abigail levasse para produzir um menino ou dois.
Bruno tinha sido, desgraçadamente, muito oportuno com respeito à procriação. Uauu! Era verdadeiramente a palavra.
Mas não tema, estimado leitor, nunca tema! Sir Sweetums sabia que a Abigail e seu galhardo Sir Miles superariam qualquer tempestade juntos e amariam um ao outro para sempre. Quando fosse tempo, como membro da Sociedade de Felinos Guardiões, teria meninos com o cabelo escuro da Abigail, e olhos cinza para fiscalizar. Com um pouco de sorte, eles não herdariam a propensão de Miles a espirrar a mais leve provocação. Senhor Sweetums sorriu. 
A vida depois da morte era verdadeiramente maravilhosa!
FIM.
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