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P 158 O Flagelo da Galáxia Clark Darlton

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O FLAGELO DA
GALÁXIA
Autor
CLARK DARLTON
Tradução
S. PEREIRA GUIMARÃES
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
�
A imprudência do cientista causa a destruição de uma nave...
Surgiu o ano 2.326 da cronologia terrana e, nos últimos dois séculos, os astronautas terranos realizaram transformações radicais em muitas partes da Galáxia. Desde o dia 1o de janeiro de 2.115, data em que Atlan abdicou, não existe mais nem o Império Solar, nem o Arcônida, mas tão-somente o Império Unido, a cuja frente está Perry Rhodan como grande administrador. O arcônida Atlan é o chefe da USO, cujos especialistas são os homens do chamado “Corpo de Bombeiros Galácticos”.
Sempre que surgem problemas ou situações de emergência que extrapolam os limites da jurisdição administrativa de um planeta, podendo exercer influência no âmbito gálático, entra então em ação a USO, criada e dirigida pelo Lorde-Almirante Atlan.
Na procura frenética dos ativadores celulares, distribuídos pela imensidão da Galáxia pelo exótico Ser imortal do planeta Peregrino, antes de sua fuga precipitada, já se positivou sobejamente a ação benéfica e imprescindível da USO para a manutenção da paz no Universo.
Depois, durante a missão em Eysal, o planeta dos salonos, acontece um contratempo de graves conseqüências a um dos melhores agentes da USO, Lemy Danger, o siganês, que faz um disparo pelo assim chamado gerador de impulso frontal com energia gravitacional. O que estas ondas de impulso conseguem fazer nos planos pentadimensionais da Galáxia é presenciado pela tripulação de um Explorer terrano.
Mais tarde, as mensagens de catástrofes se sucedem. É a morte roxa que avança, é “O Flagelo da Galáxia”.
= = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = =
Perry Rhodan — Grande administrador do Império Unido.
Professor Nordmann — Seu amor à pesquisa trouxe-lhe a morte...
Gucky — Estupendo mutante ou rato-castor “muito observador”?
Coronel Schonepal — O comandante que perdeu sua espaçonave.
Darelle, Hoax, McNamara — Sobreviventes da Explorer-3218.
Major Hellwege — Comandante da Cantor.
�
1
A quase cinco mil anos-luz da Terra, um pequeno e insignificante planeta gira em torno de seu sol amarelo. É o único planeta do sistema e está situado casualmente na faixa mais adequada para a vida. Apesar destas condições favoráveis, conta apenas com a flora, aliás exuberante em variações e colorido.
O planeta ainda continua hoje a girar em torno de seu sol, mas todo o resto pertence à História, pois o flagelo da Galáxia o visitou. Hoje não passa de um planeta morto.
Antes não era assim, outrora, em meados de agosto de 2.326.
* * *
Deram ao planeta o nome de Amazonas por estar recoberto por um cinturão verde de flora exuberante, na altura do equador. Tinha um só continente e dois grandes mares; um ao norte e outro no sul. As camadas polares raramente se cobriam de gelo.
O sol amarelo, do tipo do nosso, estava classificado nos catálogos siderais simplesmente como GM-35. Não se conhecia outro nome.
A tripulação da base de observação era pequena: um tenente e três sargentos da Frota Imperial. A missão era explorar o planeta geológica e biologicamente. Atividade esta que não deixava de ser monótona nem ficava mais interessante com o uso dos velozes flutuadores.
Apesar disso, o Tenente Gomes não estava descontente com sua missão. Aquele posto avançado era relativamente sem perigo e, de qualquer forma, de vida muito calma. Seus estudos adicionais no Departamento de Pesquisa Geral o tornavam apto para interpretar e registrar todos os dados obtidos em Amazonas. Seus três sargentos eram também cientistas.
A única ligação com o Império era um pequeno hipertransmissor, com o qual podia-se entrar em contato com a próxima base da frota de exploração. A Base Amazonas estava próxima à zona equatorial, no alto de um morro, bem acima das ondulações intermináveis da mata virgem, perto de um riacho de águas claras, cujo leito entre as rochas formava verdadeiras piscinas naturais.
Há dez dias atrás, o morro e a base foram atingidos por um terremoto, de curta duração, não chegando a causar danos. Um pequeno teste comprovou que o hipertransmissor continuava funcionando normalmente. O flutuador, que estava mais abaixo num trecho terraplanado, recebera apenas alguns arranhões, sem maior importância, pois um bloco de pedra passara rente ao aparelho. A cabana de moradia e os aposentos de trabalho nada sofreram.
Isto ocorrera há dez dias e o susto já estava esquecido.
— Foi, pelo menos, uma boa variação — disse o sargento Hiller, um biólogo.
Hoje era o seu dia de cuidar da cozinha e da manutenção de todas as dependências da base. O sargento Gilmore, sentado perto dele, ocupado com anotações no livro de registros, não se deixou perturbar e continuou escrevendo. Lá no riacho, deitado numa pedra lisa, estava o sargento Bendix, tentando dar mais cor à sua pele clara. O Tenente Gomes havia saído com o flutuador.
Hiller abria vários pacotes de alimentos concentrados, sempre resmungando ou dizendo qualquer coisa. Achava que devia falar, mesmo que fosse besteira, para não rebentar.
— Se, pelo menos, existissem por aqui ursos ou porcos-do-mato, poderia oferecer um belo bife. Mas não temos nada disso, nem mesmo um ratinho ou um mosquito miserável. Só gostaria de saber por que temos de ficar neste fim de mundo.
Gilmore parou de escrever.
— Dê-se por feliz por não haver destas coisas por aqui. Acha que então poderíamos ficar nesta tranqüilidade, como se estivéssemos de férias? A mata virgem lá embaixo é um verdadeiro parque para a gente passear à vontade, exatamente pelo fato de não haver animais de espécie alguma. Portanto, nada nos ameaça, vivemos num paraíso. Além disso, você pode fazer bons bifes com carne congelada.
E continuou a escrever.
Meia hora depois, aterrissou o flutuador de Gomes. Veio direto para os três homens, sentou-se num caixão emborcado, com os olhos contraídos, como se estivesse muito preocupado. Sua mão tremia ao acender o cigarro.
— Já são dois meses que estamos em Amazonas — disse esticando as palavras. — Alguém já registrou alguma irradiação nos rastreadores? Não, acho que não. Não me refiro a irradiações comuns, mas a impulsos que vêm de mil direções diferentes e parecem ser sempre iguais.
Quando os três sargentos sacudiram a cabeça espantados, ele continuou:
— Mas eu já as descobri. Se quiser ser mais sincero, devo dizer que isto já tem mais de duas semanas. Queria ter toda certeza antes de lhes falar a respeito. Tenho receio de haver cometido um erro, agindo assim.
Bendix, que já retornara do banho de sol no riacho, olhou indagador para Gomes.
— Um erro, tenente? O que o senhor quer dizer com isto?
— A irradiação já acabou. Desapareceu há mais de oito dias.
— E daí? — Bendix, físico e químico ao mesmo tempo, olhava firme para ele. — Pode se tratar de irradiação do solo. Desapareceu depois do terremoto?
— Sim, exatamente. Você acha que uma coisa está ligada à outra?
— Talvez. No seu lugar, não me preocuparia tanto com isto.
A fisionomia de Gomes não se alterou. Virou-se para o sargento Hiller, o biólogo.
— Já está mais do que constatado que não há ser vivo em Amazonas. Você concorda comigo? Bem, então me explique, por favor, se lhe for possível, como é que uma extensão de mata virgem do tamanho da Austrália foi totalmente devorada? Vi isto com meus próprios olhos, no vôo de hoje.
— Devorada totalmente!? — Hiller se erguera e seus olhos cintilavam excitados. — O senhor disse devorada totalmente? Então tem que haver uma espécie de insetos que ninguém até hoje descobriu.
Depois, balançando a cabeça, concluiu:
— Como é possível uma coisa dessa?
O tenente prosseguiu com suas considerações:
— Tais animais, se são mesmo animais, devem ter se escondido até agora em algum lugar. Ou talvez somente agora é que saíram das larvas. Que sabemos, aliás, sobre o planeta Amazonas? Somos a terceira levade terranos aqui, pois Amazonas foi descoberto há apenas oito meses. Talvez as larvas tenham levado este tempo para saírem dos casulos, se são insetos de fato.
Hiller apontou para o flutuador.
— O senhor tem alguma coisa que possa me convencer, no próprio local, do que se trata? Talvez possa pegar um destes animais e examiná-lo no laboratório.
— Em pri...
— É um assunto de nossa esfera e diz respeito ao meu setor, a Biologia, e só começará a escurecer daqui a três horas.
Dê-me a posição do trecho da mata, para o encontrar mais depressa. Devorada totalmente! Puxa! Ainda anteontem dei duas voltas por aí e não notei nada. Para mim, não existia ninguém mais no planeta, além de nós e das plantas.
— De fato é uma coisa incompreensível — disse Gomes, concordando. — Faça um vôo até lá, mas volte antes de escurecer. A posição você encontra no diário de bordo.
O sargento reuniu alguns instrumentos e correu para o flutuador. Bendix, que o queria acompanhar, acabou ficando, pois se lembrou de que hoje era o dia de contato via hiper-rádio com as demais bases da Frota.
O flutuador ganhou altura, deslizando sobre os penhascos que ladeavam o riacho, e seguiu pela planície. Logo se viram as primeiras árvores que achavam pouco alimento no chão pobre. Na grande planície já era diferente, o solo era úmido e fértil. A vegetação crescia abundante e só conhecia um inimigo: a si mesma e as plantas da sua espécie.
O sol já descambava para oeste, direção para onde também se dirigia, com a vantagem de ser mais veloz que o astro rei. Assim, o sol parecia cada vez mais alto no céu.
— Puxa! Agüentar duas vezes no mesmo dia a canícula das doze horas — murmurou Hiller, ligando o ar-condicionado. — Devorada totalmente! Estou curioso para saber o que Gomes viu.
A posição registrada no diário de bordo estava cerca de sete mil quilômetros da estação no alto do morro. O continente abrangia todo o planeta, como uma espécie de cinturão irregular. Os dois oceanos estavam separados um do outro. O ponto mais estreito do continente devia ter uns duzentos quilômetros. Algumas ilhas ao norte e ao sul não tinham nenhuma vegetação.
Hiller voava a trinta quilômetros de altura, quando viu os primeiros sinais do fenômeno descrito por Gomes. O verde existente em toda a mata virgem desaparecera e, ao invés dos rochedos descobertos, muito comuns no meio da floresta, via-se apenas uma camada cintilante de uma matéria esquisita, indefinida. Nem mesmo na tela de ampliação se podia perceber sua natureza.
Hiller desceu mais, até cerca de cem metros da paisagem devastada. Não sobrara nada da mata virgem. Nem de seus rochedos. Restavam apenas pequenas elevações cônicas, cobertas com a tal camada cintilante.
Se fossem insetos de verdade não poderiam devorar rochedos. Hiller começou a perceber que o problema não era tão fácil. O solo da ex-floresta parecia endurecido, rígido. Nada se movia. O sol forte refletia na crosta que dava a impressão de ser muito dura. Com muita cautela, durante quase meia hora, observou bem a região desolada, sem encontrar, porém, um único ser vivo. Voou de volta para o leste até chegar ao final do trecho devastado, onde surgia de novo o tapete verdejante da mata. Mas entre ele e a crosta cintilante havia uma coisa diferente...
Um tapete roxo, que se movia!
Deviam ser eles, os misteriosos insetos, de que ninguém sabia nada até então. Vorazes herbívoros que em uma semana poderiam devorar um continente inteiro. Portanto, não fora um sonho ou miragem do Tenente Gomes.
Hiller desceu mais, até ver na tela os tais insetos com mais nitidez. Não pareciam ser muito perigosos. Assemelhavam-se a um tipo de lagartas de três centímetros de espessura e dez ou doze de comprimento. Na parte dianteira do corpo, notava-se uma infinidade de pés muito pequenos, com os quais se arrastavam, se bem que nem todos tocavam no solo. Alguns insetos mais apressados se recurvavam e saltavam cinco ou seis metros para frente. Atrás da cabeça redonda havia quatro ferrões ou coisa semelhante que trituravam qualquer matéria... mesmo pedras!
— Como se fossem gafanhotos — disse Hiller para si mesmo, sem perceber que estava dando o nome quase certo.
O nome que neste momento a Galáxia toda repetia horrorizada: gafanhotos-do-inferno.
O flagelo da Galáxia!
Mas Hiller não podia saber disso ainda. Quase ninguém o sabia.
Na crosta cintilante, exemplares isolados passavam de um lado para o outro, aparentemente mais sossegados. Hiller lhes dedicou toda sua atenção, pois estes animaizinhos recém-descobertos lhe interessavam muito. Tinha a intenção de apanhar um ou outro e levar. Não seria tão difícil assim, pois tinha os meios para isto. Na base poderia então examiná-los com calma.
Quando estava para pousar o flutuador, parou de repente. Viu algo inconcebível. Um dos insetos quedava imóvel e de repente começou a estreitar o meio de seu corpo alongado. Em poucos segundos separou-se a parte de trás. Era um novo inseto que nascia. De um único corpo surgiram em poucos segundos dois insetos. Não quis acreditar no que estava vendo.
Divisão celular!
Os animais podiam se multiplicar rapidamente. Não era de admirar seu número quase infinito, nem o fato de terem devorado meio continente. E se este processo se repetisse, podia-se prever o momento em que o exército roxo atingiria a estação de observação no alto do morro.
Aterrissou bem ao lado dos dois insetos recém-separados. Pegou o recipiente metálico de apanhar e guardar pequenos animais e saltou pela escotilha.
A crosta cintilante do chão dava impressão de aço puro. Era um mistério para o biólogo, como podia surgir em tão pouco tempo das plantas e do húmus massa tão resistente. Cauteloso, aproximou-se dos dois animais que ainda ali estavam imóveis, olhando para ele. Mas não tinham olhos, pareciam apenas ouvir.
Um deles pulou, aterrissando no uniforme de Hiller e ali se agarrando. A boca se abriu lentamente. Hiller que não tinha idéia do perigo a que se expunha, olhou calmo para a fileira dos dentes agudos. No meio havia um maior, recurvado, que parecia ser oco. Na frente, e bem ao centro deste dente, havia um orifício, parecendo ser um injetor. Dali saiu um jato fino de um vapor esbranquiçado atingindo Hiller. O biólogo quis se retirar, tentando afastar com a mão o inseto no seu uniforme. Sentiu-se como se tivesse tocando num pedaço de metal. Veio então a dor alucinante que lhe tirou o estado de consciência. Estava morto, antes de tocar o chão. O segundo inseto se aproximou.
Vieram de todas as direções. Poucos minutos depois, não se via nada do sargento Hiller. Mesmo o flutuador a seu lado se transformou na gosma cintilante, endurecendo logo depois para formar a crosta mais dura que o aço.
Um homem sucumbira a um único verme.
Milhões deles continuaram avançando para o leste. E no leste estava a base...
* * *
O sargento Bendix transmitira o radiograma e obtivera confirmação: durante dois dias, o transmissor ficaria desligado. A energia era preciosa demais, pois a base não dispunha de um bom gerador. Em caso de necessidade, porém, sempre se podia entrar em contato com as hiperestações da Frota. Este estado de coisas parecia um absurdo, ao menos até o presente momento.
O sol já se tinha posto há muito tempo e o sargento Hiller não voltara ainda, o que fez com que Gomes ficasse muito preocupado. O pequeno transmissor e receptor em seu pulso não dera o menor sinal. Portanto, Hiller não tentara se comunicar com ele. Se estivesse em apuros, certamente o teria feito. Onde estaria então? Possuíam apenas um flutuador, por isso, a única coisa que poderiam fazer era esperar. Raiou o novo dia, depois de uma longa noite de espera, mas Hiller não deu sinal de si. Pelo meio-dia, deu ordem para que se entrasse em ligação com a base do hipertransmissor. Pediu que Bendix emitisse um sucinto relatório e solicitasse a remessa de um outro flutuador.
Isto não seria nenhum problema em si, pois a central transmitiria a ordem a uma nave Explorer que passassepela redondeza, para que chegasse até GM-35 e lá deixasse um flutuador para o único planeta supervisionado pela base do Tenente Gomes. O negócio seria resolvido em poucas horas. Mas, infelizmente, Bendix não recebeu nenhuma confirmação de seu rádio, mas captara somente esta mensagem em fita:
Para todos! Alarma e máxima cautela para todos os planetas. Assunto: um verme ou inseto de doze centímetros de comprimento, sem classificação conhecida. Dispõe de uma secreção altamente venenosa, matando e desintegrando na hora. Só se pode matar com raios energéticos muito concentrados. Atenção, multiplicam-se por divisão celular! Matar imediatamente! Em caso de excesso dos tais vermes é necessário abandonar o respectivo planeta. Mais detalhes seguirão. A central pede o contato de cada estação assim que o perigo se manifestar. Atenção! O verme produz ácidos que destroem tudo. Nenhum meio de proteção ainda conhecido.
Comando Supremo
O Tenente Gomes começou a blasfemar. Não calculava o perigo que lhes estava iminente, a ele e aos seus, mas estava muito preocupado com Hiller. O biólogo seria o único que lhe poderia explicar o que era este tipo de verme ou inseto que ameaçava a Galáxia.
De fato, Hiller poderia fazer isto, se ainda estivesse vivo.
Pela tarde, Bendix obteve contato com a base. Renovou o pedido para que enviassem um flutuador, pedido este recusado por não haver nenhum cruzador nas imediações. Prometeram, no entanto, retirar os homens do Tenente Gomes, dentro de três dias.
* * *
Sem flutuador, não podiam ter liberdade de movimentação. Tinham que se manter nas imediações do alojamento, enquanto Bendix permanecia a maior parte do tempo perto do receptor, aguardando as mensagens de alarma, procedentes agora de todas as partes da Galáxia. Não fazia, por enquanto, nenhuma relação entre os assustadores acontecimentos de fora e seu pequeno planeta. Só depois que começaram a chegar descrições detalhadas sobre o aparecimento dos gafanhotos-do-inferno, foi que teve as primeiras preocupações. Desligou o receptor e deixou a cabina de rádio.
Gomes e Gilmore estavam deitados ao lado do riacho, contemplando o céu. Fazia três dias desde o desaparecimento de Hiller. Esta tarde deveria chegar um Explorer trazendo o prometido flutuador.
— Tenente, esta região totalmente devorada, como é que parecia mesmo?
Gomes respondeu meio a contragosto:
— Como parecia antes? Eu estava alto demais para ver bem. As árvores estavam todas desfolhadas, era isto. Já falamos a respeito. Conhecemos Amazonas há apenas oito meses. Talvez foi o tempo que levaram as larvas para saírem do casulo. Os insetos viveram escondidos sob a folhagem no chão e agora matam sua fome. Ainda há muita mata sobrando por aí, não é?
— O senhor por acaso notou que a superfície devorada brilhava como uma crosta arroxeada?
— Do que está falando? Brilho? Ah! Sim... Brilhava como se houvesse chovido e logo depois viesse o sol. Mas realmente não choveu, aliás há muito tempo.
Bendix sentou-se, ficou olhando preocupado para Gomes e disse:
— Então não pode haver mais dúvida. Não são insetos, mas gafanhotos.
— Os tais de divisão celular? — espantou-se Gomes, levantando-se repentinamente. — Como é que podem ter chegado à base se nunca existiram por aqui?
— Só pude captar fragmentos da mensagem, pois nossa potência de recepção é pequena. Mas o que ouvi foi suficiente. Se em Amazonas vivem estes gafanhotos, estamos perdidos. Se ao menos tivéssemos um flutuador!
— Logo virá uma nave...
— Sim, mas quando?
Bendix se levantou de novo e olhou para a planície, onde o verde dócil da floresta ainda era o mesmo. Chegava até o horizonte. Através do imenso verde serpenteava o curso do rio. Ao longe viam-se os cumes da montanha.
— Tenho receio que chegue tarde demais — respondeu a si mesmo o sargento.
Gilmore veio para o lado de Gomes.
— Tenho um pressentimento esquisito, senhor. Não está ouvindo nada?
Gomes ficou atento e meneou a cabeça.
— Não, que deveria ouvir? O vento...?
— Não é o vento não, senhor. Gilmore se virou lentamente na direção do cume da montanha. Os alojamentos da base estavam bem aos pés do referido cume, protegidos por grandes blocos de pedra.
— Parece mesmo com o vento soprando pelas fendas dos rochedos. Mas, no momento, não há vento algum. Seríamos os primeiros a senti-lo aqui no planalto — continuou Gilmore.
Os três ficaram, então, de ouvidos atentos. Havia mesmo um sussurro no ar, um sibilar fino, como o farfalhar das folhas ao embalo da brisa.
Mas ali no alto não havia folhas, e muito menos se podia falar em vento ou brisa.
Bendix saiu caminhando na direção do cume.
— Vou dar uma olhada do outro lado — disse olhando para os dois homens. — Enquanto a planície em volta estiver livre, nós aqui em cima estaremos seguros.
Por motivos de segurança, os acumula-dores de energia não estavam muito próximos do alojamento, mas numa caverna a mais de cem metros do lado leste. O caminho para lá era pelo morro e logo atrás da caverna a rocha caía íngreme para a planície. O cume da montanha estava mais para a direita.
O próprio Bendix não soube por que parou no alojamento e, hesitante, foi apanhar sua pistola. Até então ninguém fizera uso das armas em Amazonas, pois não havia inimigos neste planeta. Examinou bem a munição, depois enfiou a arma no cinturão.
O trilho era estreito e pedregoso.
No meio do caminho, Bendix virou-se mais uma vez. Viu o Tenente Gomes e o sargento Gilmore no mesmo lugar à beira do riacho. Abanou-lhes a mão e continuou.
Pouco antes da caverna dos acumuladores, desviou-se para a direita e, apoiando-se nas partes salientes da rocha e nas fendas maiores, galgou o cume. Ao chegar em cima, ficou horrorizado. Era exatamente como Gomes descrevera. A planície já era outra. Não existia mais a mata virgem. Ao invés das árvores, uma crosta cintilante cobria o chão.
Na frente da crosta, movia-se um tapete de milhões de animaizinhos, de coloração arroxeada e de uns doze centímetros de comprimento. Moviam-se — ou se arrastando ou dando grandes saltos de alguns metros — no sentido do cume da montanha. Os mais avançados não estavam a mais de cem metros.
Bendix parecia paralisado, com a garganta seca sem poder emitir nenhum som. Eram os gafanhotos, não restava dúvida. A sucinta descrição dada pela mensagem da fita era suficiente para lhe trazer esta certeza. Não havia possibilidade de engano. Tinham vindo não do oeste mas do leste. Quem sabe o cume do morro já estava cercado?
Não haveria mais salvação se a nave não chegasse dentro de meia hora. Estava vendo como o exército dos gafanhotos caminhava depressa, pois agora, depois de poucos minutos, a distância dos mais avançados estava entre dez e vinte metros.
Começou a gritar a fim de chamar a atenção de seus companheiros. Tirou a arma da cintura e apontou para a primeira fila. Pareciam larvas roxas que se curvavam a cada momento para saltarem quatro ou cinco metros. Até agora não vira nada da divisão celular.
O jato de raios com regulagem para poucos centímetros os destruiu, porém, levando mais tempo do que pensava. A carapaça dos insetos devia ser terrivelmente resistente. Mesmo se fosse o fortíssimo aço arconídio já estaria dissolvido. Porém um gafanhoto só se dissolvia após cinco segundos de fogo ininterrupto...
Gomes e Gilmore foram alertados.
— Que aconteceu, Bendix? Contra o que você está atirando?
Bendix não chegou a ouvir, a volúpia de matar o tremendo inimigo o empolgou. Destruía um após o outro, chegando a deter o avanço da falange.
Mas não por muito tempo. Os bichinhos de trás vinham sôfregos e eram em quantidade tal que Bendix reconheceu sua inferioridade absoluta. Atirava sem parar e não reparou que um deles deu um salto e se agarrou em suas costas.
Gomes e Gilmore já estavam se aproximando e puderam observar o que se passava, estáticos, como que colados no chão. Viram Bendix de pé atirando sem cessar em algo que não distinguiam bem. Depois perceberam que um gafanhotopulara nas costas do sargento. Horrorizados viram como Bendix foi de repente atingido por uma fina camada de um vapor esbranquiçado, dissolvendo-se literalmente diante de seus olhos estarrecidos. Segundos após, o que restou de Bendix foi uma pequena saliência gelatinosa, dando a impressão de muito consistente.
Depois, uma grande vaga dos terríveis gafanhotos chegou até a beira do planalto, passando por sobre a saliência gelatinosa. O exército se dividiu, uma parte rumando para a caverna onde estavam os acumula-dores e a outra seguindo na direção de Gomes e Gilmore. Os dois despertaram do torpor que os inibia!
— Vamos nos armar...
— Não vai adiantar nada — gritou Gilmore — lutarmos contra esta multidão! Quem sabe conseguimos ainda transmitir um pedido de socorro?
Gomes foi contra.
— Até conseguirmos a ligação, já estaremos mortos. Temos que correr, correr, até que a nave nos venha buscar. Mas vamos levar as armas. Não vão me pegar tão facilmente.
Ao saírem da cabana do alojamento, o exército roxo estava a caminho deles, deixando para trás um solo diferente. Devoravam tudo, cobrindo toda matéria com as secreções ácidas, restando então só a crosta cintilante.
— Vamos embora!
Não perderam mais nenhuma palavra, correndo morro abaixo pela margem do regato, deixando seus perseguidores para trás. Lá na planície, tudo estava intacto. Correram cerca de meia hora antes de fazerem uma pausa para olharem para trás.
Seu morro ainda estava lá, mas não era mais o mesmo que conheciam. Até a metade, estava recoberto pelo exército em rebuliço. O cume perdera em altura, como se estivesse dissolvido. Com os raios do sol, as pedras brilhavam em todas as cores.
— Fomos mais velozes que eles — disse ofegante Gilmore, encostando-se num tronco de árvore. — Se mantivermos a direção do oeste, podemos escapar deles. Acho que a nave não vai demorar.
— Somente de tarde, daqui a três ou quatro horas. Mas a dificuldade é que logo não poderemos mais manter o mesmo ritmo de corrida, pois a mata fica cada vez mais cerrada. Também não temos nada para comer. Quem sabe o rio nos pode ajudar? Lembra-se do que disse Bendix? Os gafanhotos podem nadar?
Não sabia informar. As notícias e as mensagens de alarma não foram completas. Depois de normalizarem a respiração, continuaram a corrida. O exército da destruição já ocupara todo o morro e já iniciava o ataque rumo ao oeste da mata virgem.
Quando Gomes e Gilmore alcançaram a margem do rio, os inimigos estavam a um quilômetro dali, mas o ruído típico de sua atividade chegava até eles. Quando a peçonhenta secreção atingia os troncos, mesmo as grandes árvores tombavam. O ar estava saturado de um cheiro acre, trazido pelo vento.
— Vamos pegar quatro ou cinco troncos de árvores, amarrá-las com cipó e teremos uma jangada. Depois seremos levados suavemente para o mar.
Gomes concordou.
Possuíam apenas as pistolas de raios térmicos que valiam, às vezes, por ferramenta. Depois de vinte minutos, puderam partir na embarcação improvisada. Foi na hora exata, pois o inimigo já estava chegando à margem do rio.
Parecia mais do que natural que não gostavam muito da água.
A correnteza do rio não era muito forte, mas mesmo assim não precisavam fazer força para ir mais depressa. Mantinham a jangada sempre no meio do rio, observando com cuidado as margens. No começo, os gafanhotos eram um aqui, outro ali. Mas seu número foi aumentando e os da frente resistiam à pressão da retaguarda, para não serem lançados n’água. A floresta atrás deles não existia mais. O ruído forte das árvores que caíam se misturava ao sibilar contínuo dos milhares de insetos que se esfregavam.
Os primeiros gafanhotos começaram a cair ou a serem empurrados para o rio. Curioso foi que não afundavam, mas começaram a se mover na superfície calma do rio com saltos de quatro ou cinco metros. Podia-se ver logo que tinham a intenção de atravessar o curso d’água e chegar à margem oposta.
Gilmore era quem, com uma vara comprida, controlava a direção da jangada, enquanto Gomes estava sentado na frente, de arma na mão, para se defender do inimigo. Na água era sempre mais fácil liquidá-los, pois vinham em geral separados.
Até então, tal hipótese acontecia.
É verdade que o número que entrava na água era cada vez maior, mas a pequena correnteza os espalhava. Acrescia a isto que muitos deles tentavam voltar à margem. Rio abaixo, ainda era pequeno o movimento dos insetos. E os poucos que tentavam cruzar o riacho, Gomes os matava, geralmente esperando o momento em que se curvavam para o salto, o que sempre levava cinco ou seis segundos.
Foram diminuindo, até ficar toda a água livre deles. Os dois sobreviventes da base se sentiam vitoriosos, pois tinham escapado do exército da destruição.
A jangada continuava rio abaixo e, caso não se desmantelasse, teriam ainda esperança de se salvarem. Suposto, naturalmente, que viesse a nave para retirá-los do planeta.
O sol caía no poente. À esquerda e à direita, as margens se afastavam, o rio estava bem mais largo. Mas até o mar eram ainda duzentos quilômetros. Para chegar lá levariam alguns dias.
Gilmore estava tremendo de frio.
— Quando escurecer não podemos mais ver esses insetos desgraçados.
— Já não os vemos há mais de uma hora. Não acredito que nos estejam perseguindo. Acho também que não são inteligentes.
Atrás das verdejantes grimpas da serra, que a princípio pareciam tão inofensivas aos homens, o sol já estava se escondendo. Onde ainda havia vegetação, não devia por ora existir o terrível gafanhoto. Escureceu depressa.
— A nave de salvamento já deveria ter chegado — disse Gomes. — Espero que Bendix não tenha compreendido mal.
— E como é que a nave vai nos achar? — indagou Gilmore e depois apontou para o pulso. — Não tenho nem o rádio comigo. O senhor também não. Quem, em nossa situação, o teria levado para tomar banho de sol na beira do riacho?
— A pistola energética! — disse o Tenente Gomes com pouca convicção.
Sabia tão bem como Gilmore que seria um mero acaso se a tripulação da nave salvadora conseguisse ver a cintilação da arma. O pior é que não havia jeito de ele e Gilmore perceberem a chegada da nave, por mais baixa que voasse. E nem de ouvir. Ouviu-se o ruído típico do marulhar das águas.
— Será que vamos ter agora uma pororoca? Uma correnteza rio acima? — perguntou Gilmore que ainda continuava de pé na traseira, com o leme primitivo. — Tomara que não seja um corredeira ou mesmo cachoeira!
— Não acredito.
Gomes fazia grande esforço para enxergar na escuridão. O ruído vinha do lado direito.
Pouco depois tombou uma árvore, ouvindo-se os estalos dos galhos que se quebravam contra a vegetação rasteira.
— São os malditos insetos! — sussurrou Gilmore. — Só peço a Deus que eles não sintam a nossa presença e possamos escapulir depressa.
Gomes nada respondeu. Sentado, continuava atento para todos os lados, enquanto a jangada descia lentamente na escuridão dupla, da noite e da mata cerrada. Não viu nada, mas ouvia muito mais forte agora o marulhar da água. Alguma coisa caiu num tronco da jangada.
— Estão atravessando o rio — disse Gomes trêmulo, sacando a arma e procurando o inimigo oculto. — Abaixe-se que vou atirar.
E atirou. O feixe de raios esbranquiçados iluminou a noite. Atingiu o gafanhoto e o matou. Mas mostrou também as muitas centenas ou milhares que flutuavam n’água em torno da jangada. A luz ou talvez o calor emanado dos raios os atraiu. Mudaram de direção e vieram para a jangada.
Gomes regulou a pistola para fogo contínuo e Gilmore seguiu seu exemplo. Os dois não perderam mais tempo. Sabiam que não havia mais salvação, mas sabiam também que haveriam de destruir tantos insetos quanto lhes fosse possível.
A água começou a ferver e o vapor chegava até eles. E com o vapor d’água fervente se misturava a névoa fina dos terríveis ácidos. A diluição apenas trazia um retardamento no processo de dissolução de toda a matéria. Assim, Gomes e Gilmore eram os únicos homens a quem havia sidodado tempo suficiente para estudar mais exatamente o fenômeno inexplicável. Infelizmente, porém, morreram também relativamente cedo e seus conhecimentos não serviram a ninguém.
Uma hora mais tarde, chegou a nave Explorer, a que vinha salvá-los. Por cerca de cem minutos procurou os sobreviventes na face iluminada e na face escura do planeta Amazonas. Não achou nem vestígios.
Via-se apenas a destruição e a morte...
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2
Na tela dos fundos do couraçado Assor, o sol amarelo diminuía de proporções, até que desapareceu totalmente.
O Coronel Schonepal, um dos sobreviventes do catastrófico planeta Zannmalon, continuava com seu relatório, enquanto Rhodan o ouvia atento, sem interrompê-lo. Mais outros oficiais e cientistas estavam reunidos na central de comando, todos, porém, calados. Os que não pertenciam ao grupo de sobreviventes da Explorer-3218, salvos pela Assor, deviam considerar estes acontecimentos como um pesadelo que se tornara realidade.
— Agora, senhor, pode ver em traços gerais o que aconteceu. Aterrissamos em Zannmalon, pisamos seu solo dentro de todas as medidas de segurança e encontramos as “vagens”, como dizíamos, ou “ervilhas”, nas cavernas da montanha. Abriram-se de repente e saltaram então os gafanhotos corníferos. Com a ininterrupta divisão celular, seu número cresceu tanto que tivemos de fugir.
“Alcançaram a nave e a destruíram. Nosso pedido de socorro chegou até seus ouvidos, senhor, e se não tivessem chegado naquele instante, não estaríamos mais vivos. Por favor, faça agora suas perguntas, pois pode ser que tenha me esquecido de alguma coisa. Meus cientistas fizeram tudo para estudar o terrível inimigo, mas não chegaram a nenhum resultado definitivo.”
— Coronel, o senhor falou de um sáurio gigante. — Não esperando a resposta, Rhodan continuou: — O senhor acha que o gigantesco animal tenha alguma coisa a ver com os gafanhotos? Crê haver alguma relação aí? Acha também que a máquina, diante da qual estava o monstro, participou direta ou indiretamente...?
Schonepal olhou com a interrogação nos olhos para um cientista não muito idoso. O Professor Nordmann, o cosmólogo, assentiu sorrindo.
— Realmente, não sabemos, senhor.
Não se pode negar que os dois seres tinham certa semelhança, mas a diferença de tamanho é grande demais; além disso, os gafanhotos se multiplicam, pela divisão celular, espantosamente rápido. Não precisariam, pois, de ter um animal procriador tão grande assim. Suponho que o surgimento das duas espécies em Zannmalon foi mera coincidência. No referente à máquina, há um fato indiscutível: começou a funcionar no momento exato em que as larvas também começaram a sair dos casulos, talvez pouco antes, não sei. Aí existe de fato ligação de dependência, que infelizmente não se pode aprofundar melhor.
Rhodan olhava com respeito para Nordmann. Seu experimentado senso de avaliar os homens lhe dizia que tinha diante de si um competentíssimo cientista, que media a exatidão de cada palavra. Tudo que narrara tinha exatidão e ponderação.
— Obrigado, professor. Mais uma pergunta: falou-se em secreções e algo de viscoso. Que há em tudo isto?
Quem respondeu foi o Tenente Borowski, chefe do Setor de Biologia da nave destruída pelos insetos. Disse o seguinte:
— Os gafanhotos-do-inferno, como os chamamos, destroem seus inimigos borrifando-os com um ácido, a que demos o nome de ácido da morte. Tal ácido dissolve tudo, até mesmo o aço arconídio, em poucos segundos. E não há defesa alguma contra isto. Forma-se uma massa que é devorada pelos animaizinhos.
“Estas secreções são uma goma que enrijece rapidamente. Concomitantemente, no processo da divisão celular, aparece também um líquido claro e transparente. Finalmente, deixam atrás de si uma camada cintilante tão dura, que mesmo o mais intenso fogo dos raios energéticos nada pode fazer. Esta camada é mais resistente que qualquer metal que nós conhecemos. Não tivemos ocasião de fazer experiências, mas provavelmente deve ser o único material que resiste aos ácidos mortíferos.”
Rhodan continuava ouvindo com a maior concentração.
— Obrigado, tenente. Talvez tudo isto nos vá ajudar mais tarde, se não descobrirmos nenhum outro meio de destruir os gafanhotos. Viria ainda a pergunta de como explicar que esta catástrofe pudesse se dar exatamente em Zannmalon. Se lá existem estes insetos, devem estar pelo planeta já há muito tempo. Por que nunca se descobriram seus vestígios? E por que surgiu assim tão de repente o fenômeno dos casulos e da passagem para larvas? Quem tem uma resposta para isto?
Schonepal olhou para seus cientistas, depois sacudiu a cabeça.
— Sinto muito, senhor, deve ser mera coincidência. Talvez se deva frisar que, pouco antes da abertura dos casulos e do aparecimento das larvas, se registraram três tremores de terra, quase seguidos. Se há uma relação de causa e efeito do terremoto com os casulos não sabemos. Não se esqueça de que tivemos de fugir correndo e desorientados. Quase a metade de minha tripulação perdeu a vida.
Rhodan fez ainda outras perguntas, recebendo respostas insatisfatórias.
Neste exato momento, ouviu-se a voz do radiotelegrafista através do intercomunicador. O comandante da Assor, Coronel Jenkins, ligou o amplificador e todos puderam ouvir o que dizia o radiotelegrafista.
— Senhor, uma mensagem de alarma da Central de Exploração. Posso transmiti-la?
Jenkins olhou para Rhodan, esperando a resposta.
— Não, eu vou até a sala de rádio, Jenkins. Diga ao radiotelegrafista que quero receber pessoalmente a mensagem e que ele continue em contato com a Central de Exploração.
Depois fez um sinal para Schonepal e concluiu:
— Acho que vocês todos precisam de uma pausa de descanso. Podem voltar para seus alojamentos e aguardem novas instruções.
Deixou a central de comando e dirigiu-se até o hipertransmissor. Na tela oval da complicadíssima instalação, via-se o rosto de um oficial superior, um almirante da Frota de Exploração. Ao reconhecer Rhodan, seu semblante fechou-se. Cumprimentou-o rapidamente.
— Senhor, temos diversas mensagens de astronaves de muitos setores, registrando que também em outros planetas surgiram os terríveis gafanhotos. Algumas bases de observação acabam de ser destruídas. Em muitos casos, o socorro chegou atrasado. Outros planetas tiveram que ser evacuados, pois a multiplicação dos insetos estava muito além da possibilidade de serem destruídos. Senhor, estamos aguardando suas ordens.
O rosto de Rhodan parecia lavrado em pedra fria. Os dentes comprimiam os lábios inferiores, enquanto os ossos faciais tremiam. Depois, sua voz veio calma:
— Tenho aqui os mapas siderais. Enumere-me os sistemas onde os gafanhotos surgiram. Depressa, por favor!
— Caso o senhor queira examinar as posições a fim de constatar uma relação entre elas, poderá economizar tempo — disse o almirante. — Já fizemos um estudo a respeito.
— Bem! Qual é o resultado?
— Não há nenhuma interdependência, senhor. Os gafanhotos corníferos surgiram tanto em planetas habitados, como desabitados, em todas as partes conhecidas da Galáxia. Alguns planetas puderam ser evacuados a tempo, não havendo pois danos pessoais. Em outros, o socorro chegou tarde e as proporções verdadeiras da catástrofe só vieram a ser conhecidas após a chegada de nossas naves. Estes planetas, senhor, foram literalmente arrasados, não há mais vida neles. Onde passa o flagelo dos gafanhotos, a destruição é total e definitiva. Estes planetas estão recobertos por uma camada cintilante e os gafanhotos já sumiram. Ninguém sabe onde ficaram ou para onde foram. Encontraram-se apenas amontoados de uma matéria desconhecida; é tudo.
— Quantos planetas habitados foram atingidos?
— Até o momento há a relação de nove deles.
— Diga-me mais uma coisa, almirante, quantos deles puderam ser evacuados a tempo?
Houve uma certa hesitação do almirante. Depois disse: 
— Dois, senhor.
— Dê o grande alarma para a Galáxia, almirante. Mande comandos para todos os planetas à procura das tais “vagens”ou casulos. Lembre que podem ser localizados facilmente porque emitem uma irradiação desconhecida. São indestrutíveis. Todos estes casulos devem ser levados para o espaço. O melhor é jogá-los de encontro aos sóis que não estejam cercados por planetas. É muito importante observar que não fique nenhum deles para trás. Compreendeu, almirante?
— Vou transmitir imediatamente a ordem, senhor. Fora disso, mais alguma instrução?
— Infelizmente, não. Não podemos fazer mais nada. Nosso principal trabalho agora é desvendar a natureza destes animais, para descobrirmos uma arma eficaz contra eles. Até que isto aconteça, estamos de braços cruzados. Ponha a Terra e o Lorde-Almirante Atlan a par de tudo. A Frota Imperial deve entrar em ação. Precisamos ser muito rápidos para podermos salvar os mundos contaminados.
Rhodan fez uma curta pausa, enxugando o suor da face.
— Mais uma pergunta, almirante: pode mandar constatar quando foi exatamente que os gafanhotos saíram dos casulos nos diversos planetas? É necessário fazer uma estatística a respeito.
— Também isto já foi feito, senhor. O mais esquisito é que os gafanhotos saíram dos casulos, em todos os planetas atingidos, na mesma data, isto é, no dia quatro de agosto.
Rhodan ficou perplexo.
— No dia quatro de agosto? Em todos os planetas!? Puxa, isto é mais do que singular. Mas creio que isto nos vá ajudar em alguma coisa. Deve ter acontecido alguma coisa a quatro de agosto que influenciou os casulos a se abrirem e trazerem à luz do dia os incríveis gafanhotos. E isto num âmbito de milhares de anos-luz. Obrigado, almirante. Não se esqueça do grande alarma para a Galáxia.
O almirante sorriu.
— Já foi transmitido, senhor. Rhodan não sorriu, mas estava muito contente com seu interlocutor. Sua reação pronta e eficaz lhe poupara muito tempo e trabalho. As medidas de prevenção já estavam se concretizando. Começara a guerra contra a sementeira do diabo. Guerra em que todos os trunfos estavam do lado do inimigo. Pelo menos por enquanto.
Rhodan voltou com passos lentos para a central de comando e o Coronel Jenkins olhou-o preocupado.
— Então, senhor?
O Grande Administrador do Império Unido se acomodou em sua poltrona. Notou que todos os olhares eram um só sinal de interrogação, mas os ignorou. Estava pensando na astronave de Schonepal que aterrissara em Zannmalon e fora devorada pela praga oriunda dos casulos. Pensava em todos os planetas que tinham sido vítimas do mesmo inimigo. E nos muitos milhões de terranos, arcônidas, saltadores e descendentes de outras raças da Galáxia que não mais existiam porque não foram socorridos a tempo.
De um dia para o outro, surgira um perigo que nunca ocorrera antes. Um miserável inseto ou larva de doze centímetros de comprimento ameaçava abalar ou mesmo destruir os alicerces do mais poderoso de todos os impérios.
Pelo menos enquanto não dispusessem de uma arma eficaz.
A resolução de Rhodan estava tomada. Olhou para o Comandante Jenkins e disse:
— Mude o rumo da Assor, coronel. Tome a rota de Zannmalon novamente. Neste meio tempo, vou enviar para a Terra todos os dados conhecidos a respeito dos gafanhotos, para que as instituições científicas se ocupem deles. Estarei na central de hiper-rádio.
O supercouraçado diminuiu a velocidade, voltando ao espaço normal, com vôo agora inferior à velocidade da luz. Só então fez a curva, regressando para o sistema de Zannma, há muito tempo desaparecido na imensidão do espaço. Quando, segundos depois, mergulhou novamente no semi-espaço, voando a milhões de vezes acima da velocidade da luz, o sol amarelo retornou à tela frontal, aumentando rapidamente de tamanho. Depois de algumas horas, já se podiam ver os planetas.
O sol Ex-Zannma estava a uma distância de mais de doze mil anos-luz da Terra, parecendo muito com o nosso sol. Somente seu segundo planeta possuía vida — vida terrivelmente destruidora!
* * *
O Professor Nordmann tinha plena convicção de que estavam correndo um risco perigoso. Era essencialmente um cientista e não um oficial. Naturalmente estava também preocupado com o problema de como destruir os gafanhotos em massa; era, porém, de opinião de que, para isto, seria necessário estudar mais a fundo a natureza do terrível inimigo. O que sabiam até agora não era suficiente. Tinham de ser conhecidos seus hábitos, tinha de ser esclarecido seu maior segredo, a reprodução por divisão celular e finalmente o que os poderia matar.
Nunca recebera do Coronel Schonepal permissão para fazer experiências com um gafanhoto vivo, se é que isto fosse de fato possível.
Havia um nos pacotes de remédio do Dr. Mährlich. Estava vivo, mas não se mexia. Parecia estar numa fase de entorpecimento, uma espécie de hibernação. Então seria muito fácil matá-lo neste estado.
Este incidente excitou a fantasia do professor. Se encontrasse outro exemplar neste estado, poderia começar suas experiências, mas ninguém deveria tomar conhecimento do fato, pois o terror da divisão celular e da desenfreada multiplicação era grande demais.
Quando os sobreviventes da Explorer-3218 ainda estavam acampados na pequena ilha do oceano de Zannmalon, ele havia achado um outro gafanhoto. Ninguém soube disso e o professor por muitos dias o ficou observando, mas o bichinho não se mexia, parecendo de todo inofensivo. Escondeu-o no embrulho de seus pequenos objetos de uso pessoal. Mais tarde, quando a nave Assor os veio apanhar e salvar da morte certa, escondeu-o no meio de papéis particulares de suas preciosas anotações.
Não tinha intenção de contar seu segredo a ninguém, pois pretendia levar aquele exemplar do inimigo número um de toda a Galáxia para a Terra a fim de estudá-lo com maiores recursos. Assim que começasse a se dividir, haveria de matá-lo.
É claro que Professor Nordmann não deixava de observar com atenção o comportamento do animalzinho de duas em duas horas. Julgava que esta medida de segurança era suficiente para se evitar uma catástrofe. Embora vivesse em cabina coletiva com mais dez colegas, não lhe era muito difícil de vez em quando dar uma olhada no seu bloco de anotações.
Além de Rhodan, estava também a bordo o rato-castor Gucky. O fato de o grande telepata não ter ainda captado os pensamentos do Professor Nordmann foi também um grande acaso. Primeiro, Gucky caíra num sono profundo, depois, quando acordou, a Assor já estava de novo de volta para o planeta Zannmalon. Além disso, só de dentro da Assor estava recebendo mais de três mil impulsos diferentes, impulsos estes que não lhe interessavam. Como podia saber neste momento que era muito importante captar exatamente os pensamentos do pacato professor?
Nordmann estivera no observatório e voltara agora para sua cabina. Constatou, para sua surpresa, que estava vazia, pois os outros cientistas aproveitaram a oportunidade para dar um passeio pelo couraçado. Estava caminhando para sua cama, quando viu algo que lhe provocou um calafrio. Seu embrulho com as anotações — o esconderijo para o gafanhoto — estava no meio da cama, todo carcomido. Mais para o lado, junto do cobertor, cintilava um líquido incolor, transparente...
Parecia exatamente com a secreção expelida durante a divisão celular do gafanhoto.
Nordmann parecia paralisado pelo pânico, mas seu cérebro reagiu prontamente.
O gafanhoto se multiplicara. Portanto, havia agora na nave Assor, pelo menos dois insetos do diabo. Caso se escondessem bem e se multiplicassem, seriam quatro. Depois oito, dezesseis, trinta e dois, sessenta e quatro...
Sabia que o processo era muito rápido. A última vez que observara o gafanhoto, numa espécie de hibernação, foi há uma hora atrás. Quem sabe os dois animaizinhos ainda estavam na cabina? Tinha que achá-los e matá-los. E só o feixe de raios térmicos, regulado na maior concentração, podia fazer isto. Sem perda de tempo, pôs-se a procurar uma pistola, pois deixara a sua em Zannmalon, por estar convencido de que não precisaria mais dela. Fora mais um erro que cometera. Era urgente encontrar outra. Não precisouir longe, nas coisas de Borowski achou uma. Examinou-a, regulando-a para o feixe de dez centímetros. Deixou-a destravada, começando a nervosa procura dos dois gafanhotos.
Os animais mesmos, não os encontrou. Porém descobriu um buraco debaixo de sua cama, de cerca de três centímetros de espessura. Parecia ter sido queimado com ácidos. As bordas estavam viradas para cima, cobertas por uma crosta cintilante. Os dois temíveis inimigos fugiram pelo chão da cabina. Com muito sacrifício, o cientista se arrastou por baixo da cama e inspecionou o orifício da fuga. Viu que embaixo havia um recinto felizmente não habitado. Prateleiras e caixas empilhadas deixavam supor que se tratava de um depósito.
Numa astronave esférica de quilômetro e meio de diâmetro, não era nada fácil localizar um aposento que estava um andar mais para baixo, correspondendo exatamente a uma determinada posição. Nordmann sentou-se na cama e procurou guardar na memória a localização exata de sua cabina. Com a arma escondida sob a jaqueta, saiu pelo corredor a fora.
“De maneira alguma”, pensava ele, “confessarei meu erro.”
Ninguém, jamais, poderia saber que introduzira ilegalmente e perigosamente o gafanhoto a bordo da Assor. Estava expondo à morte mais de três mil homens. Procurava aliviar a consciência dizendo a si mesmo que o fizera somente para descobrir o ponto fraco dos insetos e poder exterminá-los definitivamente. Mesmo assim, o sentimento de culpa o oprimia. Alcançou o elevador e desceu ao andar inferior.
A disposição dos corredores era idêntica à do andar de cima e depois de dez minutos, de cálculo meticuloso, chegou ao tal depósito. Abriu a porta com cuidado e olhou cauteloso para dentro, fechando-a sem fazer barulho. Um olhar para o alto confirmou sua suposição. Lá no teto estava o buraco redondo. Tirou a arma do casaco e começou a procurar. Foi de fato muito cauteloso, mas não o suficiente para um gafanhoto-do-inferno, como era chamado no planeta Zannmalon, já semidestruído.
Foram três que lhe saltaram nas costas. O Professor Nordmann morreu sem disparar um único tiro.
* * *
Gucky acordou sem saber explicar por quê. Estava no sofá de sua cabina diretamente encostada na de Rhodan. Estava acontecendo que, nos últimos meses, o rato-castor acompanhava sempre o grande administrador em suas viagens pela Galáxia. No vôo da Assor, porém, fora mera coincidência.
Rhodan jamais dispensava a companhia de bons mutantes, se houvesse oportunidade para isto. Na saída apressada para Zannmalon, o único disponível era Gucky.
Levantou-se de um salto. Não era seu costume selecionar os pensamentos que lhe vinham de todos os cantos e ficar escutando por curiosidade. Se bem que, algumas vezes, para quebrar a monotonia das grandes viagens especiais, gostava de se distrair com os bobos e fúteis cuidados dos homens. Mas no momento não se tratava de monotonia.
No fluxo contínuo dos impulsos mentais, havia algo de estranho e Gucky não conseguiu definir com exatidão nem entender. Eram impulsos, mas não de pensamentos humanos. Sinais de rádio não eram certamente. Deviam ser mesmo impulsos oriundos de cérebros orgânicos.
Algo semelhante, Gucky já experimentara numa visita ao Jardim Zoológico de Terrânia. Embora conseguisse detectar pensamentos isolados de animais mais evoluídos, a grande maioria de seus impulsos mentais continuava confusa e ininteligível. Eram como o zumbido de fundo entre as harmonias de um concerto ou como o leve chiado de um aparelho de rádio mal sintonizado.
Depois de algum tempo conseguiu calcular sua intensidade e ficou perplexo ao notar que de repente duplicou de volume. Embora não tivesse participado diretamente das conversas de Rhodan com Schonepal e os cientistas sobreviventes da Explorer-3218, alguma coisa não lhe escapara. Ouvira algo a respeito de esquisitos impulsos mentais... Provinham dos tais casulos ou ovos, dos quais saíram depois os gafanhotos que também podiam emitir os mesmos impulsos...
De um segundo para o outro, Gucky percebeu a importância do que estava ouvindo. Não tentou mais interpretar os impulsos confusos, mas determinar a direção de onde vinham. Notou que a dispersão era mínima. Não seria difícil teleportar-se para a fonte da irradiação. Por motivo de precaução, fez um “pulo” mais curto. Ao se rematerializar, estava num corredor. Os impulsos vinham do aposento à sua frente. A porta estava fechada, mas por meio da telecinese, abriu-a sem contato manual.
Gucky nunca vira um gafanhoto cornífero mas os conhecia por descrição. Sabia das proporções de sua periculosidade e não ignorava que um ataque direto seria um suicídio.
O recinto estava repleto de gafanhotos. Começou a contá-los, mas não lhe sobrou tempo. Perceberam sua presença e um deles se curvou todo e pulou. Mas Gucky foi mais veloz e saltou antes.
Rhodan não estava em sua cabina e o rato-castor se teleportou para a central de comando, começando a emitir sons agudos ao ver Rhodan ao lado de Jenkins, olhando para as telas.
— Perry! Gafanhotos aqui na nave!
Rhodan virou-se na mesma hora. Gucky nunca vira um homem mudar de cor tão depressa.
— Gucky! — saiu correndo atrás do rato-castor e o pegou pelo cangote, tendo que se abaixar para isto. — Gucky, que você está dizendo?
— Vi os gafanhotos; uma cabina cheia deles. Pelo menos uns trezentos. Atacaram-me logo e tive que fugir.
— Onde?
Gucky descreveu o andar e o corredor. Era uma parte mais afastada do supercouraçado.
Rhodan mandou dar o alarma número um, ordenando a intervenção dos robôs de combate. O trecho descrito por Gucky foi isolado por chapas de arconídio e as cabinas situadas acima foram evacuadas. O Coronel Schonepal e o Tenente Borowski correram para a central ao ouvirem a notícia aterradora. Rhodan estava aparentemente calmo, mas a cor de seu rosto falava de sua preocupação.
— Como pode ser possível uma coisa desta, coronel?
Schonepal retribuiu o olhar que parecia penetrar em seu íntimo.
— Não tenho explicação, senhor. A não ser que alguém tivesse trazido intencionalmente um exemplar para bordo. Mesmo assim, isto teria que ser notado já há mais tempo.
— De quem o senhor suspeitaria uma ação destas?
— De ninguém, senhor. Todos sabem do perigo e não teriam dúvida de que isto seria simplesmente suicídio.
— E que providências o senhor recomenda?
— Só existe uma: os homens devem matar com os raios energéticos concentrados um por um. Tiro certeiro de cinco segundos de duração. Enquanto não forem mais numerosos que nós, pela rápida multiplicação, haverá ainda esperança.
— Gucky falou de trezentos.
A voz de Schonepal soou mais trêmula.
— Então, senhor, não se pode perder um minuto.
— Já pus os robôs de combate em atividade. Estão equipados com duas pistolas cada um e foram programados de tal modo que podem destruir os insetos conforme as mais recentes informações.
Jenkins interveio na conversa:
— Senhor, estamos nos aproximando do sistema Zannma. Aguardo suas ordens.
Rhodan consultou a grande tela panorâmica.
— Somente o segundo planeta é habitável. O primeiro é muito quente e não podemos aterrissar. Voe primeiro em volta do segundo planeta, para termos tempo de nos concentrarmos na destruição dos gafanhotos. Isto é muitíssimo importante. Chame-me pelo intercomunicador, se precisar de mim.
— Onde estará o senhor?
— Onde devo estar, major. Rhodan deixou a central de comando.
— Schonepal, venha comigo. Pode ser que precisemos de seus conselhos.
— Vou também — disse Borowski, correndo na frente.
Rhodan concordou com um aceno da cabeça.
— Vocês têm mais experiência que eu. Agradeço-lhes se me ajudarem a dirigir a operação. Onde estão seus outros homens?
— Nos alojamentos, se é que não foram ainda evacuados.
Na fronte do grande administrador via-se uma ruga.
— Pode averiguar se falta alguém de sua antiga tripulação?
Schonepal mesmo se encarregou de fazer a constatação, enquanto Rhodan, Borowski e Gucky corriam para o elevador mais próximo para chegarem ao localda macabra descoberta. Em toda parte se encontravam com homens armados e robôs de combate dispostos para a luta. A nave toda estava em polvorosa. Mas mesmo que os gafanhotos não pudessem ser destruídos de imediato, levariam muito tempo para inundar a gigantesca astronave. Teriam que devorar muitos milhares de chapas blindadas de puro arconídio e destruir a invencível falange dos robôs de combate.
Dois corredores antes do depósito em que Gucky descobriu os gafanhotos, o grupo de Rhodan se encontrou com uma parte dos sobreviventes de Zannmalon. Borowski iniciou logo uma rápida conversa com eles, falando primeiro com o sargento Hoax, o médico, sobre os singulares impulsos mentais captados por Gucky e que o levaram a descobrir o perigo. Dr. Mährlich participou da troca de experiência e Borowski concluiu:
— Nossos cientistas, senhor, são de opinião de que tais impulsos só podem ser transmitidos por cérebros semi-inteligentes, ou no mínimo por animais guiados por um instinto muito desenvolvido.
Rhodan sacudiu a cabeça.
— Pelo menos de acordo com as descrições que recebi até agora, acho que atribuir inteligência aos gafanhotos é um absurdo. Não se mostraram em nada inteligentes, mas sim guiados por um forte instinto. Entre um e outro há grande diferença.
— Mas o fato de se terem escondido na Assor até atingirem um número suficiente para...
— Pode ser mero acaso. Também a descoberta de Gucky foi mero acaso. Se ele não desse atenção aos pequenos impulsos, em dez horas seriam talvez cem mil gafanhotos que nos iriam surpreender.
Apesar de todos os argumentos, Rhodan recusava aceitar a existência de inteligência naqueles insetos. Podia admitir, sim, a esperteza inata das aves de rapina e um instinto bem arraigado, que fez com que os gafanhotos procurassem um aposento afastado na grande nave para o processo da divisão celular.
Alguns gafanhotos já estavam saindo do depósito, a caminho do interior da nave. Aspergiam as portas blindadas com seu ácido que tudo destruía, afastando assim qualquer empecilho. Não paravam de se dividir celularmente assim que tinham oportunidade. Não o faziam regularmente, de maneira que Borowski pudesse afirmar que até este processo era controlado por eles.
Seus postos avançados foram destruídos facilmente pelos robôs e pelos comandos da Assor. Na primeira meia hora da luta, o ataque dos terranos foi vitorioso.
Acontece, porém, que um andar para baixo foi também inundado. Os gafanhotos abriram caminho devorando o piso e tentavam agora invadir as cabinas de moradia dos tripulantes. Apesar do alarma dado antes, muitos homens das equipes técnicas foram tomados de surpresa e não conseguiram fugir a tempo. A praga roxa os desintegrara.
Quando uma nuvem de gafanhotos foi descoberta numa escotilha lateral, Rhodan resolveu fazer uma experiência: ordenou aos robôs que avançassem. Após um isolamento hermético do resto da nave, mandou abrir a escotilha interna e ficou observando o que acontecia nas telas do vídeo.
Os robôs foram destruídos pela supremacia berrante dos insetos que aparentemente nada notaram do vácuo ali produzido. Depois Rhodan mandou injetar gases venenosos através dos tubos de ventilação na câmara novamente fechada. Os insetos continuaram vivendo do mesmo modo, multiplicando-se e prosseguindo em seu avanço.
Neste momento chegou Schonepal.
— Com exceção do Professor Nordmann, toda minha gente está a bordo.
Rhodan não desviou o olhar das telas do intercomunicador. Viu que um novo pelotão de robôs estava avançando.
— Onde o professor foi visto pela última vez?
— Ninguém se lembra. Quem sabe veio cair na parte da Assor em poder dos gafanhotos, sendo atacado de surpresa? Se lhe fosse possível, certamente teria dado o alarma...
Rhodan não quis insistir no assunto.
— É possível. O senhor tem alguma sugestão?
Schonepal lembrou-se de suas peripécias em Zannmalon. Sabia que não havia mais salvação para a Assor, contudo não tinha coragem de dizer isto diretamente a Rhodan.
— Bem, eu tenho uma: isolar os hangares, senhor. Se estes animaizinhos conseguirem penetrar lá, vão nos privar do único meio de escaparmos vivos. Os flutuadores e os girinos devem ficar prontos para decolar a qualquer momento.
Rhodan olhou de frente para ele. Havia no olhar do grande administrador ponderação e determinação.
— Então o senhor acha que teremos de abandonar a Assor? — meneou a cabeça. — Não vamos nos entregar tão depressa assim. Temos três mil homens a bordo e quinhentos robôs.
Schonepal preferiu não responder.
— Está bem, coronel, pegue sua gente e isole bem os hangares. Terá duzentos robôs de combate para ajudá-lo. Serão previamente programados. Cuide para que principalmente as naves auxiliares ou girinos estejam prontas para decolarem. Somente com elas é que poderemos realizar um trabalho razoável de salvamento. O senhor tem razão.
Schonepal não perdeu tempo.
Rhodan voltou-se para a tela panorâmica. Os robôs de combate iam com cautela, guiados pelos impulsos do posto de controle. Mas com seu plasma cerebral pensavam também independentes e aprendiam rapidamente. Já haviam, inclusive, compreendido o tipo de inimigo que tinham à frente.
Ao se depararem com o exército roxo, irrompeu uma terrível batalha. O próprio Rhodan não podia recordar-se de ter visto jamais coisa semelhante. Os robôs atiravam com os dois braços e os feixes de raios concentrados atingiam o alvo. Não havia tiro perdido. Nas fileiras dos gafanhotos atacantes surgiam grandes claros, mas a retaguarda multiplicava-se! Pareciam não olhar para o volume dos já destruídos, nem temer a morte. Um misterioso instinto os tocava sempre para frente, mesmo que não houvesse possibilidade de sucesso.
Os robôs eram também destruídos e cada vez mais os gafanhotos conseguiam pular sobre eles e se manter em suas chapas metálicas. Pareciam grudar-se nos robôs, começando logo a borrifá-los com o terrível ácido. Em poucos minutos estavam destruídos, ou melhor, dissolvidos. Outros gafanhotos vinham e devoravam a massa gelatinosa que sobrava da dissolução química. Como parte do processo, vinham também as secreções que se misturavam com a fase da divisão celular.
Era uma luta desigual. Os robôs não sabiam o que era retirada. Lutariam até que o último deles caísse “esfacelado”.
Os gafanhotos continuavam o avanço inexorável...
* * *
Gucky desenvolvera uma estratégia própria. Usava uma pistola pequena mas muito possante. Teleportava-se inesperadamente e se rematerializava no meio dos insetos e, antes que algum deles tivesse tempo de se recurvar para o salto, matava três ou quatro. Desaparecia imediatamente. Mas por mais rápidos que fossem seus ataques, não passavam de gotas d’água fria em pedra superescaldante. A multiplicação por via celular era algo de espantoso. Apesar do esforço de tantos homens, seu número aumentava sempre. Podia-se prever o momento em que teriam destruído a soberba astronave Assor.
Schonepal sabia o que dependia do sucesso da missão que lhe fora confiada, mas não podia impedir que a praga de Zannmalon penetrasse nos hangares. Quando a primeira brecha se abriu na parede metálica, teve que fazer uso dos robôs de combate. Conseguiu deter o exército roxo, mas meia hora depois não sobrou mais um robô.
Não havia outra alternativa a não ser convocar os cientistas para a linha de frente. Um depois do outro, os hangares foram sendo destruídos.
Sobrara apenas um girino e uma nave esférica de sessenta metros de diâmetro, equipada com propulsão linear e capaz de transportar mais de mil homens. Schonepal estava resolvido a defender esta última fração dos hangares de qualquer maneira. Mesmo que tivessem que pagar com a vida, nenhum inseto poderia penetrar nos aparelhos restantes. Concentrou suas forças e fez um anel de defesa.
Quando surgiram os gafanhotos, foram recebidos por uma barragem de fogo que lhes cortou o avanço. Morriam aos milhares, mas não desistiram. Dividiam-se e morriam. Tentavam saltar, mas a defesa concentrada em pequeno espaçonão lhes dava oportunidade para isto. O anel de defesa em torno das duas naves estava agüentando. O mesmo não se podia dizer dos demais comandos de ação.
Depois de uma hora de luta renhida, Rhodan começou a perceber como Schonepal estava com a razão. Havia apenas uma possibilidade de salvar alguns sobreviventes: desistir de salvar a Assor e isto imediatamente. Conseguiu chegar até a central de comando. O Comandante Jenkins estava com os olhos fixos nos controles. Virou-se quando Rhodan entrou.
— Senhor...?
— Vamos transmitir pedido de socorro à Frota em hiper-rádio e abandonar a Assor. Peço que você cuide disso e faça com que toda a tripulação se dirija para a proximidade dos hangares ainda existentes. Mas antes de deixarmos a Assor, temos que fazer uma última tentativa. Tome a direção do centro da Via Láctea e acelere o máximo que puder. Não sabemos ainda como os malditos animais vão reagir à velocidade milhões de vezes superior à da luz. Talvez caíam num estado de torpor, pois o pequeno grupo que penetrou a bordo se manteve muito tempo passivamente.
Jenkins tirou a supernave da órbita do planeta e começou a fantástica aceleração. As turbinas trabalhavam com carga máxima. A nave mergulhou no espaço linear. A velocidade subia rapidamente. O sol amarelo de Zannma há muito já sumira na imensidão do Universo. Em frente estava a Galáxia.
Nenhuma reação se notava nos gafanhotos. Continuavam devorando tudo e se multiplicando estupidamente.
Rhodan mandou transmitir a mensagem de alarma, não podendo ainda dar o posicionamento exato. A estação de hiper-rádio estava de prontidão. Devia estar sempre preparada para entrar em contato com as bases do Império Unido.
Nesse instante aconteceu o pior...
O primeiro oficial da Assor, Capitão Baer, assumira o comando da unidade de defesa das instalações de tração e, como Schonepal, fizera um anel de defesa, de tal modo que nem um só animal poderia ali penetrar. E se isto acontecesse, seria logo eliminado pelo fogo rápido.
Enquanto o inimigo atacava individualmente ou em pequenos grupos, isto era realmente possível.
Mas de repente vieram dois exércitos de sentidos diferentes e invadiram a casa de máquinas. O Capitão Baer percebeu que agora eram mais de três mil gafanhotos que, em saltos mortíferos, atacavam os homens. Queria apelar para Rhodan pedindo reforço, mas o intercomunicador para a central de comando não funcionava mais. Estava sozinho, com mais da metade de sua gente morta.
Um ímpeto de fúria o acometeu. Se tinha que morrer, então os malditos invasores com ele. Queria matar o maior número possível. Viu como blocos enormes de máquinas e geradores começaram a se dissolver, interrompendo seu funcionamento. A luz apagou. A escuridão era interrompida pelos raios energéticos que também foram diminuindo.
Baer continuava atirando e matando, até acabar a munição.
Passando por ele, a massa bruta dos atacantes se dirigira para o conversor linear kalupiano.
* * *
A explosão abriu uma fenda no centro do supercouraçado... O Capitão Baer conseguira de alguma maneira seu intento. Morrera mas destruíra cerca de vinte mil. Aliás, também não sobrou um só de seus homens.
A Assor voltou imediatamente ao espaço normal, passando para velocidade inferior à da luz.
Gucky pegou Rhodan pela mão e se teleportou com ele para a central de comando. O abalo da explosão derrubara Jenkins de sua poltrona. Estava se levantando no momento, com leve sangramento na testa.
— Foi o conversor kalupiano, senhor. Deve ter explodido. Não temos mais ligação com a casa de máquinas.
— Qual é nossa posição?
— Exatamente quatro mil anos-luz da Terra, na direção da zona periférica.
— E o hiper-rádio?
— Ainda funcionando normalmente, senhor.
— Transmita então nosso posicionamento e peça apoio da Frota. Temos de evacuar a Assor.
Dez minutos depois, todos os sobreviventes estavam a caminho dos hangares. Com o auxílio de Gucky, Rhodan teleportou-se para onde estava Schonepal, cujo grupo combatia denodadamente, não permitindo o avanço dos gafanhotos.
Através do intercomunicador e do rádio, Rhodan dava as instruções para a evacuação. Havia só um caminho livre para os hangares. Enquanto os corajosos homens de Schonepal continham a linha de ataque do inimigo, os sobreviventes da Assor embarcavam na nave auxiliar K-9. O último a entrar foi Jenkins.
— Senhor, deixei ligado o automático de retardamento. Daqui a dez minutos começará a funcionar a tração normal e a Assor voará com a velocidade da luz para a extremidade da Galáxia.
Depois disso, Rhodan ordenou a Schonepal que entrasse com os seus o mais rápido possível na K-9.
As mulheres já estavam em segurança e os homens de Schonepal se retiraram lutando sempre. O círculo de fogo foi diminuindo e os raios cada vez mais concentrados. Hesitantes, os gafanhotos recuavam, diminuindo o ritmo do ataque. Também não se multiplicavam mais.
Quando o Coronel Schonepal, o último da fila, penetrou na escotilha, os motores do girino já estavam ligados. Abriu-se o portão do hangar e o vácuo provocado sugou milhares de gafanhotos para o sem-fim. A nave auxiliar K-9 se atirou no espaço e a gigantesca esfera da Assor, condenada à destruição, foi ficando para trás, até se perder de vista. Com a carga maldita, disparava pela imensidão, sem objetivo certo, com a grande interrogação sobre o que aconteceria ao inexorável exército destruidor, depois de haver devorado todo o material da nave.
O girino acelerava, tomando o rumo do sistema solar mais próximo, a três anos-luz de distância. Os mapas siderais não assinalavam, mas os rastreadores constataram a presença de três planetas, dos quais o segundo possuiria condições razoáveis de vida.
Ao penetrar na central da K-9, Jenkins estava dando instruções ao piloto. Schonepal e Borowski estavam também ali. Faltava somente Gucky.
— Astro vermelho, de proporções muito pequenas, senhor. Três planetas, cujas características...
— Vamos chamá-lo de “Sol Schonepal”, pois sem o coronel não teríamos feito esta descoberta.
Não havia nenhuma ironia na voz do administrador, ao dizer isto. E ao concluir foi enérgico:
— Procure atingi-lo o mais depressa possível, pois a K-9 é pequena demais para mil homens.
O girino passou para o espaço linear e percorreu os três anos-luz em menos de uma hora. Depois, se aproximou com cautela do sistema desconhecido. A seção de rastreamento começou seus exames.
— Distância da Terra quase exatamente quatro mil e oitenta e seis anos-luz — disse o Major Jenkins, cuja testa ficara ainda mais roxa, depois do ferimento na hora da explosão.
Via-se que estava muito cansado, quando falou:
— O segundo planeta pode nos interessar. Transmitimos nosso posicionamento pelo hiper-rádio e já temos confirmação. Nosso pedido de apoio foi retransmitido.
— Atlan está a par dos acontecimentos?
— Não sabemos, senhor. Tivemos apenas um curto contato com a base. Ah!... Estou vendo que os exames preliminares já foram concluídos. Desejaria ouvir os resultados?
Depois que Rhodan fez que sim com a cabeça, Jenkins pegou a folha plastificada e leu os dados.
— Atmosfera com oxigênio, favorável, com a composição normal; a superfície do planeta emite leve radioatividade, inofensiva mesmo para permanência mais longa; clima muito quente e seco; grandes extensões desérticas, vegetação mais abundante só nas regiões polares. Lá poderemos também aterrissar facilmente.
— Radioatividade?
Rhodan esperou até que as telas panorâmicas entrassem em funcionamento. O que viu não era muito encorajador. O planeta, mais ou menos do tamanho da Terra, estava no espaço com um brilho arroxeado, sua superfície muito esburacada, de impressão desagradável. Gigantescas crateras tinham um brilho vítreo, deixando perceber facilmente o que se passara... Uma guerra terrível devia ter aniquilado a civilização por lá existente, não podia haver dúvida. Talvez, uma raça florescente se destruíra nos horrores de uma guerra nuclear. Daí a exuberante vegetaçãonos pólos, conseqüência das mutações.
— Vamos dar ao planeta, então, o nome de “Hirosha” — sentenciou Perry.
Hirosha era um deserto atômico, onde não podia existir vida.
A K-9 estava ainda em órbita, na expectativa de aterrissagem. Rhodan ainda não se decidira quanto ao local da descida. A região do pólo norte lhe parecia mais favorável. Estava para comunicar sua resolução ao Major Jenkins, quando Gucky se rematerializou na central de comando. Olhou para Rhodan, ergueu as mãos e as abaixou num gesto de desalento. A expressão de tanta tristeza parecia até cômica. Mas seus olhos estavam graves e mais ainda: arregalados de terror!
— Perry, é melhor não aterrissarmos agora...!
Rhodan olhou atento para ele.
— Por que não, Gucky?
A expressão de tristeza se acentuou ainda mais.
— Sinto muito, chefe, ser sempre eu que lhe vem trazer as más notícias. Na minha última teleportação, constatei a existência dos malditos gafanhotos a bordo. Não são muitos, apenas uns vinte ou trinta.
Rhodan empalideceu.
— Era o que eu temia. Mas desta vez não vamos ser tão bobos. Major Jenkins, providencie a entrega para todos os uniformes de combate capazes de flutuarem no espaço. Deixe prontos os flutuadores blindados, providencie os gêneros alimentícios. Vamos evacuar a K-9L.
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3
Rhodan queria ter o tempo suficiente para tomar todas as providências possíveis. Se apenas um único gafanhoto chegasse ao planeta Hirosha, não haveria mais salvação se as naves da Frota não chegassem a tempo.
A K-9 se encontrava ainda em órbita, o que significava que todos os objetos que fossem atirados dela permaneceriam também em órbita, até mesmo os homens.
O Major Jenkins transmitiu pelo intercomunicador que todos deviam vestir o traje espacial e esperar para entrar em ação. Eram excelentes os trajes espaciais dos arcônidas que, por meio de um regulador de gravidade, possibilitariam mais tarde que os sobreviventes pudessem sair da órbita do planeta e descer até Hirosha.
Começaram a sair do girino os primeiros homens e mulheres. Saíram também da grande escotilha do hangar os flutuadores blindados, que dispunham de tração independente e de cabinas à prova de pressão. Pairando bem rente da K-9, foram examinados pela última vez e com muito cuidado pelos técnicos. Não se encontrou nenhum gafanhoto. Somente depois é que as senhoras puderam embarcar, para lhes ser poupada uma descida, aliás perigosa, com os trajes espaciais.
Aos poucos, toda a tripulação foi abandonando a nave auxiliar.
É claro que os gafanhotos começaram a se multiplicar e a penetrar nave a dentro. Gucky já havia captado seus fracos impulsos na casa de máquinas. Estava, pois, na hora de agir com segurança para que a desgraça não ficasse sempre girando em torno do planeta Hirosha.
Rhodan se certificou de que, fora ele e Gucky, não restava ninguém mais a bordo, e voltou depois para a central de comando. Os primeiros gafanhotos ainda levariam meia hora para chegarem até ali.
Com o maior cuidado, Perry manobrou a K-9, fazendo-a sair fora da órbita do planeta, a fim de não prejudicar os homens que flutuavam pelo espaço sem-fim. O pior já passara, não precisando mais ter pressa. Não poderia acontecer nada de mal aos sobreviventes e o que tinha em mira agora era prender todos os insetos dentro da K-9 e torná-los incapazes de infestar o planeta. Eram resistentes e muito difícil de serem destruídos, mas as chamas vivas de um sol não seriam um bom ambiente para eles.
Pelo rádio de pulso, Rhodan deu as últimas instruções ao Major Jenkins:
— Continue em órbita até eu chegar aí. Ninguém pode aterrissar em Hirosha sem antes ser examinado com o máximo rigor. O senhor é responsável pelo cumprimento desta ordem.
— Entendido, sir! Estamos à sua espera.
Rhodan não teve muito trabalho para calcular o rumo certo e para programar o piloto automático. Gucky estava sempre de um lado para o outro, com suas ininterruptas teleportações, controlando o avanço do exército roxo. O interior da bela nave auxiliar era um triste quadro de destruição. Nos depósitos de carga havia já muitos milhares de gafanhotos. Parece que ainda não tinham percebido que os homens não estavam mais a bordo. Gucky acreditava que estavam aumentando suas fileiras, com o maior número possível, para concluírem com um ataque fulminante sua obra de destruição.
Ao captar a ordem mental de Rhodan, o rato-castor teleportou-se para a central.
— Não chegaram ainda à casa de máquinas. Vão levar cerca de meia hora.
— Daqui a meia hora, isto não vai mais nos prejudicar, pois a esta altura a K-9 já estará rumando para o sol.
Com a mão esquerda segurou a de Gucky e, com a outra, fechou o capacete do seu traje espacial. Depois ligou o automático do transmissor.
— Você vai saltar comigo dentro de cinco segundos — não seria necessário dizer, pois Gucky estava lendo seu pensamento.
No quarto segundo, Rhodan empurrou a alavanca da partida até encaixar no contato. A direção estava já garantida e, dentro de meia hora, a nave atingiria uma velocidade tal, que mesmo a falha dos motores de tração não a impediria de ir ao encontro do sol.
No exato momento, Gucky se teleportou. Foi apenas um pequeno salto, mas naquele segundo o girino já se havia afastado tanto dos sobreviventes que ambos não o viam mais. A nave ia desaparecendo... Rhodan e Gucky flutuavam no nada e lentamente foram descendo para a superfície de Hirosha. Através do rádio, Rhodan entrou em contato com Jenkins.
— Major, dê seus sinais de orientação e tome a minha direção.
— Não há necessidade — interveio Gucky. — Tenho milhares de impulsos mentais diferentes, pelos quais me posso orientar. Três ou quatro saltos serão suficientes.
Os sobreviventes ofereciam um espetáculo único. Quase mil homens flutuando sem nenhuma gravidade, como penas ao vento, exatamente onde não havia vento algum — no vácuo. Aparentemente imóveis, na realidade, porém, giravam com a velocidade de um satélite em volta de seu planeta.
Rhodan tinha tempo bastante. Levaram dez horas ocupados no exame meticuloso, de um por um, à procura do terrível inimigo escondido. Ainda como medida de precaução, foi ordenado que todos se desfizessem do traje espacial assim que chegassem ao solo, a fim de evitar a entrada de um só animalzinho.
A esta altura já estava determinado o local da aterrissagem.
— Vamos ficar no hemisfério norte — disse Rhodan, iniciando as últimas instruções antes da descida ao planeta. — Lá parece que a guerra atômica não foi tão renhida. Há florestas, estepes, rios e até um pequeno mar. Se houve civilização nesta região, haveremos de encontrar vestígios.
Fez uma pausa, talvez para pensar que nunca existiu um planeta deste tipo tão curioso, planeta este que possuía um satélite artificial constituído por mil homens.
— Atenção! Ligar o dispositivo dos amortecedores no sentido da descida, dentro de um minuto. Não se esqueçam de que Hirosha tem um vírgula três gravos.
Passado este minuto, diminuiu a velocidade da circunvolução do planeta por parte dos mil homens e dos flutuadores blindados. Sentiu-se então a força de atração do planeta e suavemente se desfez o singular satélite artificial. Alguns flutuadores caíam rápidos demais; outros, muito lentamente. O mesmo acontecia com os homens. Os que começaram a cair muito depressa regularam seu aparelho antigravitacional. Faziam grande esforço para manterem-se mais ou menos unidos. Ao penetrarem na atmosfera tinham de diminuir bastante a velocidade da queda, para evitarem que o traje espacial pegasse fogo.
Gucky se mantinha perto de Rhodan.
— Não é bom eu fazer uma rápida teleportação lá para baixo e dar uma olhada no local?
Rhodan ficou pensando. Talvez não fosse uma idéia ruim. Ao menos saberiam o que iriam encontrar. Mas, por outro lado, não valia mais a pena, pois, de qualquer maneira, teriam mesmo de aterrissar. Antes que Rhodan tivesse tempo de responder, Gucky falou:
— Está certo, estou lendo seus pensamentos. Não vale a pena. Queria apenas fazer

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