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P 190 O Almirante Geco Clark Darlton

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O ALMIRANTE GECO
Autor
CLARK DARLTON
Tradução
RICHARD PAUL NETO
Digitalização e Revisão
ARLINDO_SAN
�
A situação de Rhodan se complica — os blues estão à sua procura!...
Já faz vários meses que Perry Rhodan, Atlan e Reginald Bell desapareceram nas profundezas do espaço.
Eles, que já foram os homens mais poderosos da Galáxia, não possuem nenhum poder — ao menos enquanto não conseguirem entrar em contato com as espaçonaves da USO ou da Frota Solar, que ainda estão à sua procura. Nem os plofosenses, de quem tinham sido prisioneiros, nem os rebeldes de Badum lhes deram a possibilidade de ter acesso a um hipercomunicador. E quando os bigheads dispensaram os terranos, uma vez cumprida sua missão, a espaçonave automática não os levou à Terra, conforme esperavam, mas à estação dos “mortos-vivos”
Mas nesta estação, situada em pleno círculo da morte dos raios gama, Atlan conseguiu, arriscando a própria vida, ativar certos aparelhos que irradiaram urna mensagem que não poderia deixar de ser captada. O cruzador dos ratos-castores chamado Tramp, a única nave solar que se encontrava na área alcançada pelos impulsos transmitidos, sai na direção dos mesmos e prepara-se para entrar em combate...
O Almirante Geco quer saber o que está acontecendo!
= = = = = = = Personagens Principais: = = = = = = =
Almirante Geco — Cujos companheiros pertencentes à mesma espécie fazem brincadeiras bobas — mas ele luta com os blues.
Ooch, Vulevul, Biggy, Bokom e Hemi — Membros da estranha tropa de Geco.
Zbron, Brcl, Vlck e Stozi — Astronautas pertencentes ao povo dos uniters.
Perry Rhodan, Bell, Atlan, André Noir e Melbar Kasom — Os desaparecidos que são encontrados, mas nem por isso estão salvos.
�
1
O mundo submarino era somente um crepúsculo azul-esverdeado.
À direita os recifes subiam verticalmente, perdendo-se na agitação iluminada da superfície. Havia cavernas escuras cercadas por árvores coloridas, que balançavam levemente para todos os lados. De vez em quando uma sombra escura passava rapidamente. As sombras eram pequenas e tinham o aspecto de projéteis. Para a esquerda estendia-se uma ampla superfície arenosa, que se perdia a menos de cinqüenta metros de distância num azul misterioso e infinito.
Três mergulhadores flutuavam à frente de uma das cavernas.
Usavam equipamento de mergulho, mas não tinham mais de um metro de altura. Atrás das lâminas transparentes dos capacetes viam-se os contornos pouco nítidos dos rostos escuros. Os olhos castanhos e bondosos espiavam atentamente para a escuridão das cavernas.
Os mergulhadores não eram seres humanos.
Mas a língua que falavam, transmitida pelo rádio, era humana. Tratava-se do intercosmo.
— Ei, Vulevul, está com vontade de ser devorado por um caranguejo gigante? Eles moram aqui.
O ser que proferiu estas palavras teve a sabedoria de manter-se num ponto mais afastado. Não flutuava, mas estava de pé. Trazia pedras presas à grossa cintura, e estas lhe garantiam o equilíbrio. No lugar em que se encontravam o mar só tinha alguns metros de profundidade. Quando quisesse emergir, bastaria soltar o cinto com as pedras. Mas geralmente Geco preferia ir a pé até a praia, que ficava a pequena distância.
— Pois eu lhes daria uma indigestão da mesma forma que você — retrucou Vulevul, que era um dos membros esperançosos da gloriosa expedição da Tramp e da raça dos ratos-castores, da mesma forma que seus companheiros Geco e Ooch, que acabavam de nadar um pouco para o lado, a fim de olhar para dentro da caverna de uma posição diferente.
— Hoje não estão querendo — constatou Ooch em tom decepcionado e acrescentou: — Que pena!
Geco lembrou-se de que era o chefe da expedição e o comandante da nave Tramp, que há poucos dias realizara um pouso de emergência naquele planeta desabitado. Nunca devia esquecer que além de direitos também tinha deveres. Inclusive o de servir de exemplo aos outros.
— Vou dar uma olhada — disse em tom corajoso e deu um passo na direção dos outros.
Uma mensagem de rádio vinda da Tramp salvou-o do constrangimento de ter de fugir de um caranguejo que talvez habitasse a caverna. O piloto da Tramp, um uniter chamado Zbron, disse:
— Está na hora, Geco. Está tudo pronto. A nave pode decolar.
— Voltaremos imediatamente. Prepare a decolagem, Zbron! — Dirigindo-se aos companheiros, disse: — Vamos embora! Emergir! A viagem vai continuar. Ainda bem que já podemos sair deste mundo louco, no qual só existem fantasmas e superabelhas.
Não estava de todo sem razão, pois nos últimos dias não tinham experimentado somente a alegria do ambiente ensolarado. A Tramp fora atacada por uma nave desconhecida, tendo sido obrigada a pousar. O inimigo só aparecera bem mais tarde. Tratava-se de enormes insetos dotados de inteligências, aos quais deram o nome de caçadores. Quando atacaram a Tramp, foram destruídos juntamente com a nave que os tinha trazido.
Mas ainda havia outros seres no décimo oitavo planeta do sol sem nome. Tratava-se de figuras transparentes, que apareciam que nem fantasmas e voltavam a desaparecer; eram inocentes “projeções de sonhos” de seres muito inteligentes, que viviam em outro planeta do mesmo sistema. Andavam por toda parte, por várias vezes tinham ajudado a expedição em situações difíceis e andavam constantemente com medo dos salteadores, que transformavam este setor da Via Láctea numa área insegura.
Os três ratos-castores caminharam para a praia e abriram os capacetes.
— É uma pena que já vamos decolar — disse Vulevul. — Gostei tanto daqui.
Geco parou. Nos últimos dois dias parecia ter esquecido a presunção e arrogância que era uma das suas características. A aventura pela qual tinha passado de certa forma o amadurecera, aproximando-o mais dos seres de sua espécie, e também dos uniters e dos Willys.
Era a expedição mais estranha que já tinha saído do Sistema Solar. As circunstâncias exigiam medidas extraordinárias. Perry Rhodan, Reginald Bell, Atlan e mais dois colaboradores importantes de Rhodan estavam desaparecidos há muito tempo e eram considerados mortos. Mas ninguém acreditava que realmente estivessem mortos. Dessa forma milhares de naves cruzavam a Galáxia, à procura dos desaparecidos.
A colônia de ratos-castores instalada em Marte também queria contribuir para encontrar Rhodan e salvá-lo. Gucky convencera o substituto de Rhodan, Julian Tifflor, a concordar com o envio de uma expedição de ratos-castores. O comandante seria Geco, que era o mais idoso deles, com exceção de Gucky. Era acompanhado por vinte ratos-castores, entre eles o telepata Ooch e uma rato-castor fêmea. Todos eram bons telecinetas, e Geco até era teleportador.
Além disso havia trinta uniters. Apesar do aspecto grosseiro, eram humanóides dotados de grande inteligência. Sua característica mais marcante era a longa tromba, que também lhes servia de instrumento para várias coisas. Sempre que isso se tornava necessário, usavam-na para surrar um rato-castor que os molestasse demais — isso naturalmente quando conseguiam pegá-lo.
Também havia dez Willys a bordo da Tramp. Tratava-se de estranhas inteligências, parecidas com amebas fluidas, que também como elas se deslocavam. Geralmente ficavam deitados sob a forma de placas achatadas e permaneciam completamente imóveis. Mas se queriam podiam assumir praticamente qualquer forma que desejassem. Sua característica principal era a vontade de ajudar e agradar outros seres em todas as ocasiões possíveis. Fora este um dos principais motivos por que Geco resolvera solicitar um grupo de Willys para sua expedição. E até então não tivera por que arrepender-se. Os Willys tinham destruído o resto dos insetos num ataque cerrado.
— Então você gostou? — Geco mediu Vulevul com um olhar indignado. — Será que esqueceu que temos uma tarefa imensa pela frente?
— Não esqueci coisa alguma — objetou Vulevul em tom enérgico, balançando os braços curtos. — Afinal, não sou culpado por este maldito pouso de emergência.Quando aconteceu, você estava na sala de comando.
Vulevul estava aludindo à queda da nave.
Geco era tão culpado disso quanto qualquer outra pessoa a bordo da Tramp. Mas era o comandante e, conforme ele mesmo fazia questão de dizer, ocupava o posto de Almirante-Geral. Por isso também carregava o fardo da responsabilidade.
Não gostava que o lembrassem disso — mais precisamente, da responsabilidade.
— Deixe de bobagem — chiou Geco e saiu andando. A Tramp erguia-se para o céu azul a menos de quinhentos metros da baía. Era uma esfera de sessenta metros de diâmetro, equipada com um sistema de propulsão linear, e podia deslocar-se a uma velocidade milhares de vezes superior à da luz. O conversor danificado tinha sido trocado. A operação de busca por meio da qual se pretendia encontrar Rhodan já podia prosseguir.
Depois de ter percorrido cem metros a pé, Geco cansou-se. Teleportou-se e rematerializou-se na sala dos ratos-castores, a bordo da nave. Era o único entre os vinte e um ratos-castores que sabia teleportar.
Vulevul e Ooch soltaram assobios indignados quando se viram abandonados de forma tão vergonhosa. Percorreram o resto do caminho a pé, praguejando constantemente. Chegaram à nave exaustos e fungando fortemente. Também chegaram à sala dos ratos-castores, usando elevadores antigravitacionais e corredores.
Neste exato momento o intercomunica-dor entrou em funcionamento. A voz do piloto Zbron disse:
— Estão todos a bordo. Decolaremos dentro de trinta minutos. Peço o comparecimento do comandante à sala de comando.
Geco já tirara o traje espacial leve que usara para mergulhar e vestira o uniforme. Alisou as divisas sem dar atenção aos olhares zombeteiros dos outros ratos-castores, ficou sério — e desmaterializou-se.
O ambiente na sala de comando era tenso.
Os sonhadores os haviam informado de que as naves dos caçadores estavam à espreita fora do sistema. Os insetos salteadores pareciam ter a intenção de isolar os quarenta planetas do sistema do resto do Universo. Não se sabia qual era a finalidade dessa medida. Mas era possível que tivessem tido conhecimento do que acontecera com a nave que tinha atacado a Tramp. Nesse caso o motivo de suas medidas seria a vingança.
Zbron já se acomodara no assento do piloto. Quando notou a presença de Geco, fez sinal com a tromba para que se aproximasse.
— Se conseguirmos surpreendê-los, poderemos passar, Geco. Temos de acelerar ao máximo. A primeira manobra linear deverá ser iniciada antes de sairmos do sistema. É o único meio de escaparmos à superioridade de forças.
Contrariando seus hábitos, Geco não chamou a atenção do uniter para que este lhe desse o tratamento de comandante ou almirante-geral. Pelo contrário. Aproximou-se arrastando os pés e deu uma pancadinha amistosa no ombro largo daquele humanóide, que para seus padrões era um verdadeiro gigante.
— Excelente, Zbron, excelente mesmo! Pregaremos uma peça nestas superabelhas. Como se costuma dizer mesmo? Uma retirada tática, se não me engano.
— Isto soa melhor que fuga; também acho. É bem verdade que os jogos de palavras são minha especialidade, mas neste caso a diferença é evidente demais. Só se poderia dizer que estamos fugindo se quiséssemos evitar uma luta honesta. Mas pelo que informam os sonhadores há pelo menos duas mil naves-ovo à nossa espera. Desviar-se delas é um ato de autodefesa, não de covardia.
— Também penso assim — confirmou Geco e passou a caminhar numa pose altiva pela sala de comando. Estufou o peito de uma forma que chegava a ser amedrontadora, dando a impressão de que a qualquer momento poderia perder o equilíbrio. — Nem mesmo Gucky seria capaz de contestar isso, embora só seja tenente e por isso mesmo não tenha nenhum conhecimento estratégico. — Dirigiu-se à porta que dava para a sala de rádio e abriu-a. Stozi estava sentado atrás dos aparelhos. Estava com os fones de ouvido colocados sobre a cabeça e girava os botões. Havia uma fileira de pequenas telas de imagem à sua frente. Algumas estavam escuras, enquanto outras mostravam figuras coloridas pouco nítidas. — Então, Stozi? — disse Geco. — Ainda não conseguiu ligação?
Stozi sacudiu a cabeça. Geco ficou parado mais algum tempo mas, como não houve nenhuma reação, resignou-se, bateu a porta e voltou para perto de Zbron.
— Ele não quer ser incomodado — disse o uniter em defesa do ser de sua raça. — Seria formidável se conseguíssemos o apoio de um cruzador terrano.
— Seria tranqüilizador — corrigiu Geco e saltou para dentro da poltrona que ficava ao lado de Zbron.
Os dois seres tão diferentes sentados lado a lado formavam um estranho quadro. O uniter era humanóide, pesava quase cento e cinqüenta quilos e exibia uma tromba móvel e uma cabeça grosseira. A seu lado estava um rato-castor pequeno, embora corpulento, envergando um vistoso uniforme de almirante.
— Importante e tranqüilizador! — disse Zbron, sempre disposto a estabelecer um compromisso. Examinou os indicadores de tempo. — Faltam quinze minutos. A espera me incomoda. Por que não decolamos imediatamente?
Geco respondeu em tom professoral.
— Existem bons motivos para isso, Zbron. Os sonhadores prometeram incomodar os caçadores. São imateriais e independentes do ambiente. Flutuarão em bandos pelo espaço e penetrarão nas naves dos insetos. E verdade que não lhes poderão fazer nada, mas certamente os deixarão assustados e confusos. Manifestaram a intenção bastante elogiável de distraí-los e atraí-los para outro lugar. Dessa forma o caminho ficaria livre para nós. Depende exclusivamente de nós aproveitarmos esta vantagem. Quanto mais rápidos formos, maiores serão nossas chances de escapar sem que os insetos percebam. Dentro de exatamente quatorze minutos chegará o momento mais favorável.
Geco parou. Sentia-se exausto. Provavelmente era o discurso mais longo que já proferira em sua longa vida. Era bem verdade que em comparação com a loquacidade exagerada de Zbron só se tratava de uma tentativa miserável, mas de qualquer maneira a tromba do uniter empalideceu ligeiramente de inveja.
Este não respondeu.
Os minutos pareciam arrastar-se.
Finalmente chegou o momento da decolagem.
Todos os campos antigravitacionais foram ativados, para neutralizar a tremenda pressão que surgia em virtude da forte aceleração da nave esférica. Dentro de alguns minutos o planeta transformou-se numa bola, e depois numa estrela luminosa. À frente da Tramp só restavam os planetas exteriores do sistema e as formações de bloqueio dos caçadores.
Nestes minutos decisivos nenhuma das pessoas que se encontravam na sala de comando disse uma palavra. Zbron, o piloto, verificava os controles e efetuava pequenas correções de rota. O navegador Vlck observava as telas de rastreamento, mas não descobriu o menor sinal dos caçadores. Na sala de rádio que ficava ao lado Stozi ainda tentava entrar em contato com as unidades terranas. O co-piloto Brcl estava sentado do outro lado de Zbron e controlava o funcionamento do sistema de propulsão.
Geco era o único que não tinha nada a fazer. Apesar disso desta vez não sentiu nenhum tédio. Não tirava os olhos da tela frontal. Não se via nada na mesma. Alguns planetas foram passando lentamente ao lado da nave, mas a velocidade desta aumentava constantemente. A Tramp voava cada vez mais depressa. Na tela de popa o sol desconhecido ia minguando. A nave corria para a órbita do planeta exterior.
— Alcançamos cem vezes a velocidade da luz — disse Zbron com a voz tranqüila.
A Tramp já se deslocava no espaço linear, situado entre o universo einsteiniano e o hiperespaço. De repente, alguns minutos antes da fase decisiva da fuga, apareceram alguns sonhadores.
Eram transparentes e praticamente incolores. Não se detiveram diante do campo defensivo ou do casco da Tramp e entraram na sala de comando, formando um bloco telepático. Seus impulsos mentais eram tão fortes que foram captados até mesmo por um telepata fraco como Geco, que os compreendeu sem dificuldade.
O caminho está livre. Fazemos votos deque tenham um vôo feliz.
Geco escorregou para fora da poltrona e ficou em posição de sentido.
— Ficamo-lhes muito gratos pelo apoio, sonhadores. Tomara que os caçadores nunca os encontrem. É possível que um dia voltemos para entrar em contato com vocês. Viremos como amigos.
A resposta foi a seguinte:
— “Estaremos dispostos a recebê-los a qualquer momento. E também lhes agradecemos. Vocês nos prestaram um grande serviço.”
Antes que Geco tivesse tempo para responder novamente, as estranhas figuras desapareceram. Voltaram para o cosmos e dali retornariam ao seu planeta. Voltariam para dentro de seus corpos, que descansavam nas máquinas de sonhos.
Geco comunicou a Zbron o que acabara de ouvir. O uniter acenou com a cabeça.
— Quer dizer que está na hora. O caminho está livre; conseguiremos. 
O caminho estava livre. Uma única nave, cuja forma grosseira lembrava a de um ovo, apareceu na tela de relevo, mas perdeu-se numa fração de segundo no infinito. Ficara irremediavelmente para trás. Antes que tivesse tempo para acelerar, a Tramp estaria a bilhões de quilômetros de distância, poderia ter mudado de rota e teria mergulhado no nada.
O sol transformou-se numa pequena estrela.
No momento em que a Tramp atingiu mil vezes a velocidade da luz e continuava a acelerar, o perigo tinha ficado para trás. A aventura no planeta dos sonhadores, que tivera um início tão perigoso, passara a ser apenas um episódio interessante guardado na memória dos participantes. Mas a tarefa propriamente dita ainda estava pela frente.
Era uma tarefa na qual até então todos se tinham esforçado em vão.
Geco estava decidido a dar conta dela.
* * *
O desaparecimento de Rhodan produzira efeitos calamitosos não somente no Império Solar, mas entre todos os povos humanóides da Galáxia. Alianças não muito coesas eram desfeitas, e velhos conflitos voltavam a irromper. A união desapareceu, e os amigos transformaram-se em inimigos exasperados. Em todos os setores da Via Láctea travavam-se sangrentas batalhas na disputa do poder. Notava-se a ausência de uma mão firme.
Os aconenses invadiram o antigo Reino dos Arcônidas numa operação-relâmpago e o conquistaram. Não havia ninguém que os impedisse. O império dos blues também entrou em decomposição. As diversas raças que compunham este império guerreavam-se e travavam batalhas encarniçadas no espaço. Mas como estas batalhas se desenvolviam do outro lado da condensação central da Galáxia, a partir da Terra, elas praticamente não afetaram os terranos. Estes tinham suas próprias preocupações.
A Tramp encontrava-se além da concentração central e avançava à velocidade máxima em direção aos setores periféricos do leste. Estava a cerca de oitenta mil anos-luz da Terra e corria por uma área desconhecida, na qual havia poucas estrelas.
Era o dia dois de fevereiro do ano de 2.329.
O piloto Brcl, que estava de serviço, acabara de localizar fortes grupos de naves e reduzira a velocidade da Tramp. As telas de rastreamento revelavam que não se tratava das naves-ovo dos caçadores, mas das unidades dos blues. Dificilmente haveria motivo para recear um ataque de sua parte, a não ser que a nave se colocasse entre duas frentes.
Brcl acompanhou os acontecimentos que se desenrolavam a várias horas-luz de distância na tela do rastreador, cuja imagem fora fortemente: ampliada. Por enquanto preferiu não dar o alarme.
Um dos grupos de naves dos blues entrou em formação compacta, constituindo uma enorme esfera composta por milhares de naves. As unidades menores foram colocadas no centro, onde não corriam tanto perigo. A periferia da esfera foi ocupada por grandes couraçados, alguns dos quais ainda possuíam blindagens de molkex.
Brcl, que tivera a curiosidade despertada, continuou a investigar até descobrir o motivo da extraordinária medida de segurança. A cerca de cinco horas-luz da Tramp um grupo gigantesco de naves dos mais diversos tipos entrou em formação de ataque contra a esfera. Neste grupo também havia algumas naves de molkex. Portanto, o mesmo também devia ser formado por naves dos blues.
Via-se que as raças começavam a dilacerar-se.
“Isso não é da nossa conta”, pensou Brcl, espantado e tranqüilizado ao mesmo tempo. “Podem matar-se à vontade, desde que nos deixem em paz. Mas quem sabe se não podem dar alguma informação sobre Rhodan? Será que podemos perguntar?”
Não conseguiu chegar a uma decisão. Dentro de meia hora seria substituído por Zbron. Será que poderia esperar até lá?
Viu-se libertado do peso da decisão quando a porta se abriu e Geco entrou na sala de comando.
Desde o pouso de emergência e os encontros com os sonhadores e os caçadores que perdera algumas de suas qualidades desagradáveis. Já não fazia questão de ser tratado respeitosamente como senhor ou almirante-geral. Também não se importava quando deixavam de cumprimentá-lo à sua entrada ou de lhe oferecer um relato. Era o comandante; todo mundo sabia disso. Suas ordens eram cumpridas, e era quanto bastava. Qualquer advertência no sentido de dar mais atenção ao tratamento devido às pessoas seria pura perda de tempo. Bem no íntimo Geco naturalmente lamentava que os acontecimentos tivessem tomado esse curso, mas não via nenhuma possibilidade de evitar isso. Por enquanto sempre saíra perdendo quando se metia em debates ou provas de força. Eram principalmente os ratos-castores que se mostravam como inimigos obstinados de qualquer forma de subordinação. Queriam ser deixados em paz e divertir-se. Será que Geco pretendia convencê-los de que não se divertia com a viagem, por mais séria que fosse a tarefa que tinham pela frente? Geco fechou a porta, soltou um suspiro resignado e enfiou-se na segunda poltrona. Passou algum tempo olhando para as telas, até que finalmente compreendeu o que seus olhos viam. Levantou-se de um salto.
— São naves! — gemeu, apontando para a tela frontal.
Brcl confirmou com um aceno de cabeça.
— São blues — confirmou laconicamente. Ao contrário de Zbron, não era muito loquaz. Chegava a ser calado a tal ponto que Vulevul já manifestara a suposição de que Brcl não era o verdadeiro nome do uniter, mas apenas uma abreviatura confortável.
— Blues? Por que não fui informado antes? Sou o comandante desta- nave e tenho o direito...
— Não quis deixá-lo nervoso, gorducho. 
Geco respirava com dificuldade. Seu nariz marrom ficou muito pálido e os pêlos da nuca eriçaram-se. Realmente tinha afrouxado os costumes a bordo, para não se aborrecer, mas o que acabava de ouvir ia longe demais.
Constituía uma infração de todas as regras sobre a hierarquia.
— Para você não sou o gorducho, mas o Almirante-Geral Geco, comandante do couraçado Tramp. Tomara que não demore muito a aprender. — As naves dos blues que via na tela levaram-no a mudar logo de assunto. — O que houve, Brcl? O que estão fazendo essas naves?
— Não tenho a menor idéia — disse o uniter em tom indiferente. — Parede que vão entrar em combate. Não temos nada com isso. Por isso não dei o alarme. Se mudarmos de rota talvez nem percebam nossa presença.
Geco refletiu apressadamente. Naturalmente poderiam esquivar-se ao encontro, mas por outro lado com isso talvez perderiam uma chance de descobrir alguma coisa sobre o paradeiro de Rhodan. Era possível que os blues soubessem alguma coisa. Mas será que contariam?
Não o fariam num momento em que sua superioridade era tão pronunciada. Os tiros energéticos de três ou quatro naves seriam suficientes para romper o campo defensivo da Tramp. Nestas condições não teriam como defender-se. Isso evidentemente não atendia às conveniências dos terranos.
Muito menos à dos tripulantes da Tramp.
— Vamos deslocar-nos para uma posição mais distante e observar os acontecimentos — sugeriu Geco diplomaticamente. — Talvez consigamos capturar uma nave atingida por um tiro ou avariada para interrogar os tripulantes.
— A sugestão não é nada má — admitiu Brcl em tom bonachão e passou a tromba pelos controles.
Geco guardou para si a repreensão que iria formulare olhou para as telas.
Os dois grupos de naves pareciam ficar menores enquanto a Tramp se afastava deles em velocidade reduzida. Os blues estavam tão absortos em seus próprios problemas que nem notaram a presença da pequena nave terrana.
Os primeiros tiros energéticos chiaram pelo espaço e as cargas atômicas dos torpedos espaciais detonaram. Várias naves de ambos os lados foram atingidas e afastaram-se cambaleantes do teatro dos acontecimentos.
Geco apontou-as.
— Está vendo o que quero dizer, Brcl? Vamos pegar uma destas naves. Desta forma talvez possamos descobrir alguma coisa.
— É bastante improvável que o comandante de uma unidade menor saiba qualquer coisa sobre o paradeiro de Rhodan, mas não custa tentar. Qualquer informação estratégica que obtenhamos também pode ser muito importante. Acho que convém colocar a Tramp em estado de prontidão. Pode ser que a captura de um blue nos traga problemas.
Geco dignou-se em concordar.
O alarme soou na Tramp. Os uniters levaram apenas alguns segundos para chegar aos seus postos. Até mesmo os ratos-castores deram-se ao incômodo de abandonar seus alojamentos para assumir seus postos. Os Willys continuaram deitados no interior de seu porão de carga. Eram os únicos que não precisavam entrar em serviço, a não ser que recebessem instruções expressas para isso.
Zbron apareceu para revezar Brcl. Recebeu algumas informações ligeiras sobre os acontecimentos que se tinham desenrolado e sobre os planos concebidos por Geco. A vítima aparecia nitidamente na tela. Tratava-se de uma nave alongada, não muito grande, que sem dúvida estava à deriva. Deslocava-se em velocidade bem inferior ã da luz, exatamente na direção da Tramp.
— Nem precisamos mudar de direção — observou Zbron, que concordara prontamente com a sugestão de Geco. — Esta nave destroçada vem exatamente em nossa direção. Talvez descubramos alguns detalhes interessantes. Ainda bem que os blues dominam a língua do Império, ou ao menos têm um intérprete a bordo de cada nave.
Quando os detalhes se tornaram mais nítidos, os ocupantes da Tramp que observavam a nave avariada constataram a existência de algumas aberturas irregulares na proa da nave desconhecida, além de outras avarias graves. O campo defensivo e as armas mais importantes tinham sido postos fora de ação. A nave destroçada não representava um perigo imediato.
— Procure entrar em contato com eles, Stozi. Use o código do intercosmo. Sem dúvida entenderão. Exigimos que recebam uma delegação nossa a bordo. Em compensação garantimo-lhes livre passagem.
Stozi sentia-se no seu elemento. Devia conseguir contato, a não ser que o equipamento de rádio da nave destroçada não estivesse funcionando. As duas naves estavam a poucos quilômetros uma da outra e deslocavam-se praticamente à mesma velocidade. Aproximavam-se lentamente.
Stozi foi bem-sucedido. Não obteve uma resposta direta à sua pergunta, mas o comandante da nave avariada dos blues solicitou auxílio técnico urgente através do intérprete. Zbron em pessoa encarregou-se da resposta.
— Aqui fala da Tramp, nave-capitânia da frota dos ilt, comandada pelo Almirante-Geral Geco. Piloto Zbron no aparelho. O que entendem por auxílio?
— Meus técnicos explicarão — respondeu a voz. Zbron ficou um pouco aborrecido com o tom arrogante usado por seu interlocutor. A tela continuou escura. As instalações da outra nave deviam estar avariadas, ou então os blues não queriam aparecer. — Pode enviar uma delegação. Abriremos a escotilha.
Era exatamente o que Zbron queria. Virou a cabeça e olhou para Geco.
O rato-castor imaginou que se esperava uma decisão de sua parte. Acenou com a cabeça. Zbron comunicou aos blues que dentro de alguns minutos uma equipe técnica deixaria sua nave. Advertiu os tripulantes da nave avariada para que não cometessem nenhuma ação irrefletida. Explicou que os canhões da Tramp estavam apontados para a nave destroçada.
— Quem vai para lá? — perguntou Geco.
Num gesto irônico, Zbron enrolou a tromba e voltou a atirá-la para a frente.
— Você não é técnico, mas é o comandante. Sugiro que vá com alguns uniters. Ficarei aqui e dar-lhes-ei cobertura. Desta forma conseguiremos duas coisas. Os técnicos poderão verificar as avarias e prestar o auxílio que for possível, enquanto você conversa com o comandante dos blues. Alguma objeção?
Geco não tinha nenhuma.
Dali a cinco minutos saiu da eclusa de ar da Tramp em companhia de três uniters e deixou que o impulso o levasse para a nave destroçada. Não se sentia muito bem no seu pêlo, mas não deixou que os outros percebessem. Sabia que a poderosa artilharia energética de sua nave e os irresistíveis canhões conversores dela o protegiam. Ficou com o rádio ligado, para que sua conversa com os blues pudesse ser ouvida e registrada na Tramp.
— Daqui a pouco chegaremos lá — anunciou. — A eclusa está aberta; vamos entrar. Voltou a fechar-se. Ò ar está penetrando. Estamos abrindo os capacetes. Hum, o ar é bom, mas frio demais para meu gosto. Tudo em ordem lá fora?
— Se houver algum problema, você poderá teleportar-se — consolou Zbron em tom irônico.
Geco fez como se não tivesse notado a ironia. Esperou que a escotilha interna se abrisse e foi entrando na nave destroçada à frente dos uniters. Viram-se num largo corredor. Um blue veio ao seu encontro.
Estes seres tinham forma humanóide, mas em cima de um pescoço comprido e dotado de grande mobilidade havia uma cabeça chata, em forma de disco, na qual se viam grandes olhos que enxergavam em todas as direções. Da mesma forma que nos terranos e nos arcônidas, também havia variações, mas para um ser humano era muito difícil distingui-las.
— Bem-vindos a bordo — disse o blue e ficou parado. Contemplou Geco com uma expressão de insegurança, e a seguir lançou os olhos para os três uniters. — Sou Zrag, o intérprete. O comandante Grechk incumbiu-me de servir de guia. Venham comigo.
Geco teve vontade de explicar ao cabeça de prato que ele estava lidando com um personagem muito importante, mas preferiu adiar o debate sobre este assunto. Dessa forma só precisaria fazê-lo uma única vez. Além disso o intérprete já lhe tinha virado as costas e saía caminhando.
Encontraram-se com mais alguns blues e membros de uma raça menor, cujo aspecto lembrava o dos pingüins. Era sabido que os blues costumavam contratar povos auxiliares para trabalhar em suas naves.
Grechk estava à sua espera na sala de comando. Não era nem um pouco diferente de Zrag. Quando viu Geco, emitiu um som assustado.
A conversa foi conduzida por intermédio do intérprete Zrag.
— Que houve? — perguntou Geco, espantado. — Por que se assustou ao me ver?
Ou será que são os uniters que o deixam tão perplexo?
O blue não tinha certeza sobre o tratamento que deveria usar, mas o tom familiar usado por Geco parecia incutir-lhe nova confiança.
— Não me assustei. Apenas fiquei admirado por me encontrar com um personagem tão célebre e importante. Sempre tive vontade de me encontrar com o mais importante dos representantes do Império Solar para dizer-lhe o quanto o admiro. Um dos desejos que tenho nutrido por toda a vida acaba de cumprir-se. Fico tão grato ao destino porque minha nave foi avariada durante a batalha e pude cruzar a rota da sua. — Levantou-se e fez uma ligeira mesura. — Sejam bem-vindos em minha nave, você e seus amigos, embora ela esteja reduzida a destroços.
Geco já não sabia o que pensar. Será que o blue se divertia à sua custa, ou estava falando sério? Infelizmente não conseguiu captar nenhum impulso telepático. Quem dera que Ooch estivesse com ele. Mas paciência; afinal, era bem possível que sua fama já tivesse chegado a esta parte da Via Láctea. Mas um personagem conhecido...? Não, por mais que quisesse, Geco não era capaz de imaginar que fosse uma pessoa conhecida. Sempre vivera em Marte, com os outros ratos-castores, e nunca tivera oportunidade de dar prova de sua coragem e das qualidades extraordinárias que possuía. Fazia duas semanas que comandava a Tramp. Era só. Todavia...— Sinto-me honrado — disse em tom formal e um tanto desconfiado. — Quer dizer que você me conhece, Grechk?
— Será que existe alguém que não o conheça? Afinal, você é a figura mais importante do Grande Império, o salvador do Universo e o melhor amigo do lendário Perry Rhodan. Eu me envergonharia se não o tivesse reconhecido. Em toda a Via Láctea fala-se nos seus feitos e em sua coragem, que excede tudo que se possa imaginar e não tem igual. O que seria da humanidade solar se não fosse seu melhor e mais poderoso aliado, o famoso rato-castor Gucky?
Geco sentiu-se como se alguém tivesse despejado uma banheira de água fria sobre sua cabeça. Encolheu-se dois centímetros, enquanto os uniters que estavam de pé atrás dele continuavam impassíveis. Mas os fones de ouvido de Geco transmitiram uma risadinha. Devia ser Zbron e Stozi, que estavam grudados no rádio.
Geco conseguiu controlar a decepção.
— Sou o Almirante-Geral Geco, e não devo ser confundido com Gucky que, como todos sabem, não passa de um simples tenente — disse com a maior calma.
— Geco? — perguntou Grechk em tom de perplexidade. — Almirante-Geral? Bem, nunca ouvi falar no senhor.
Geco começou a ferver por dentro.
— Está bem. Neste caso você pode ver como consegue consertar este calhambeque. Talvez você consiga se antes dermos um tiro de canhão no mesmo, o que para mim seria um grande prazer.
— Calma — pediu o blue. Voltara a sentar, sem convidar os visitantes a fazerem a mesma coisa. As boas maneiras não pareciam ser seu forte. — Pedimos auxílio a vocês, e vocês vieram. Eu o confundi com Gucky. O que é que uma coisa tem que ver com a outra? Afinal, todos os ratos-castores são iguais. Além disso todo mundo acreditava que Gucky fosse um exemplar único. Quer dizer que existem outros indivíduos de sua espécie?
Aos poucos Geco foi recuperando a autoconfiança.
— Só na minha nave estão vinte, e qualquer um deles pode ocupar o lugar de seu Gucky. Pode substituí-lo muito bem, Grechk. Você vê quais são suas chances se não andar direito conosco. Gucky — ora essa! É verdade que goza de certa fama e de vez em quando tem feito uma coisinha. Mas nós também já fizemos muita coisa. Vou dar um exemplo. Nós o abandonaremos neste setor da Via Láctea, se não responder a algumas perguntas que vou fazer. Se você nos deixar satisfeitos, ajudaremos. Do contrário... — Concluiu com um gesto.
— Pode perguntar, que responderemos. Por que não? Afinal, não temos nada a esconder.
— Logo veremos. Lã vai a primeira pergunta. Onde está Rhodan?
Zrag traduziu a pergunta, mas Grechk levou algum tempo para responder.
— Não sabemos. Ninguém sabe. Dizem que está morto.
— Não pode estar morto! Nós o encontraremos; não tenha a menor dúvida. Quero que diga tudo que sabe, o que ouviu falar, o que simplesmente supõe.
— É o que já disse. Supomos que Rhodan esteja morto, tal qual seus companheiros. Foi seqüestrado e morreu ao tentar a fuga. O Grande Império está em decomposição, os povos oprimidos conquistam a independência, mesmo que sob o domínio dos gatasianos vivessem melhor. A mesma coisa acontece com a Terra. Todos os planetas coloniais romperam os tratados que celebraram. O caos reina na Galáxia.
— Está bem, Grechk. Mas você ainda não disse o que sabe sobre o paradeiro atual de Rhodan.
— Sobre isso não sei nada nem ouvi qualquer boato. Estou viajando em minha nave há meses e nem sei mais o que significa ter chão firme sob os pés. Rhodan desapareceu. É só o que eu sei. Eu já disse que ninguém sabe mais que isso.
Geco pôs-se a refletir. Fez um sinal para os três uniters, teleportou-se para a Tramp e trouxe Ooch, o telepata. Antes que Zrag e Grechk pudessem recuperar-se da surpresa, viram dois ratos-castores à sua frente.
— Está vendo, Grechk? — disse Geco em tom de triunfo. — Aquilo que o lendário Gucky consegue fazer, o famoso Geco faz há muito tempo. Apresento-lhe Ooch, o telepata. Quero que você repita o que acaba de dizer.
Ooch constatou que o blue estava dizendo a verdade.
Geco deu ordem para verificar as avarias da nave e fazer um conserto precário. Voltou para a Tramp juntamente com Ooch.
Zbron olhou-o com um sorriso.
— Que tal a sensação de ser confundido com o grande Gucky?
— Cale a boca! — gritou Geco. — Não se meta naquilo que não lhe diz respeito. Não existe ninguém com quem você possa ser confundido. A não ser que seja sua avó.
— Foi uma mulher muito honrada de tromba azul — disse Zbron para defender-se contra o ataque pouco objetivo de Geco.
— Pouco me importa que a tromba dela tenha sido azul ou lilás. Providencie para que seus técnicos logo consertem o calhambeque dos blues, para que possamos dar o fora daqui. Não tenho a menor vontade de bancar o bom samaritano entre duas frentes. Se quiser, faça uma visita a Grechk; talvez consiga descobrir mais do que eu.
Depois que Geco se retirou, Zbron fez um aceno de cabeça na direção do co-piloto.
— Acho que a idéia do Chefe até que não é má. Irei a bordo da outra nave para dar uma olhada nos cabeças de prato. Quem sabe se não descubro alguma coisa?
Geco foi para junto de seus ratos-castores.
Quando abriu a porta, uma coberta dobrada atingiu-o com tamanha violência na cabeça que perdeu o equilíbrio e tropeçou de volta para o corredor. No alojamento havia uma tremenda algazarra. A voz de Vulevul destacava-se entre as demais. Deblaterava contra Ooch em várias tonalidades e afirmou que o mesmo era um patife traiçoeiro.
Geco conseguiu pôr-se de pé. Por um instante esqueceu que era o comandante. As recordações dos belos tempos de juventude passados em Marte vieram-lhe à mente. Era uma vida sem dificuldades, cheia de brincadeiras e tolices, livre de preocupações e obrigações. E sem qualquer responsabilidade.
Levantou cautelosamente a coberta caída no chão, voltou a dobrá-la e rastejou em direção à porta. Ninguém lhe deu atenção. No enorme alojamento a batalha dos travesseiros estava em pleno andamento. Dois partidos se haviam formado. Os chefes eram Vulevul e Ooch. Biggy ficou parada entre as duas frentes, tentando acalmar os ânimos. Tal qual acontece com todas as pessoas de boa vontade, sofreu a decepção de ser atacada de ambos os lados, com cobertores, travesseiros e outras peças das camas.
— Eu lhe mostrarei — gritou Vulevul com a voz estridente. 
Fez pontaria e atirou. Usou a telecinese para fazer algumas correções da rota do travesseiro, que passou rente ao corpo de Biggy e atingiu Ooch bem no rosto. As pernas foram literalmente puxadas debaixo do corpo de Ooch, que sentou no chão com certa violência e logo se pôs a berrar.
— Isso é uma sujeira! Sem telecinesia! Não combinamos assim!
— Não combinamos coisa alguma — chiou Vulevul e supriu-se de outro projétil.
Biggy, que era a causa da luta entre dois rivais, não conseguiu decidir-se por nenhum dos lados. Ficou indecisa na saraivada de projéteis e teve certo êxito em suas tentativas de desviar-se dos mesmos. Geco entrou na sala e pegou um colchão de plástico que errara o alvo. Fez pontaria, tomou impulso e atirou.
Ooch, que acabara de pôr-se de pé, foi atingido de novo. Desta vez atingiu-o inesperadamente de lado. Deu uma cambalhota e caiu sobre o rosto. Ficou deitado, todo confuso, e fingiu-se de machucado. Vulevul uivou de triunfo e juntamente com os amigos tomou de assalto a barricada de cadeiras, mesas e colchões. Passaram simplesmente por cima de Biggy, que se retirou para cima de uma das camas saqueadas para acompanhar os acontecimentos de um lugar seguro.
O partido derrotado recorreu à telecinesia. De repente Vulevul perdeu o apoio dos pés e foi levitando em direção ao teto. Como não sabia quem dera início à nova forma de luta, não tinha como defender-se. Ficou indefeso, à espera do momento em que o colocassem no chão ou simplesmente o deixassem cair.
Isto aconteceu no momento em que se encontrava em cima de Ooch, que estava encerrando o drama que tinha representado e acabara de sentar-se. O peso de Vulevul comprimiu-o contra o chão. Os dois galos de brigaenrodilharam-se e saíram rolando bem juntinho, indo parar aos pés de Geco.
Os outros ratos-castores, que já tinham percebido a chegada do comandante, fizeram os rostos mais inocentes deste mundo. Ficaram sentados nas posições mais variadas sobre os travesseiros e cobertores que estavam espalhados pelo chão, fazendo de conta que nada tinha acontecido e bancando verdadeiros anjos de inocência.
Quando Vulevul finalmente conseguiu libertar-se das mãos de Ooch e olhou para cima, viu o rosto indagador de Geco.
— Por que tudo isso? — perguntou o comandante em tom sério.
Vulevul deu um empurrão em Ooch e rolou para o lado. Quando se pôs de pé, balançou um pouco. Segurou-se numa mesa derrubada.
— Não foi por nada. Só resolvemos arrumar algumas coisas.
Ooch, que ainda estava sentado, fez um gesto de assentimento.
— Isso mesmo. Fizemos uma arrumação. Havia uma tremenda confusão.
Os dois malfeitores ficaram unidos.
Geco olhou em torno. O alojamento dava a impressão de que a Tramp tinha girado cem vezes em torno do próprio eixo em pleno vôo, sem ligar os neutralizadores de pressão. Não se via o menor sinal de ordem. E Geco não se esquecera do cobertor que o tinha derrubado.
— Quer dizer que para vocês isso é uma arrumação? Enquanto temos um encontro com a nave dos blues que pode decidir nosso destino, vocês fazem uma arrumação. E que arrumação! Eu lhes mostrarei! Voltarei dentro de dez minutos, e então a cabine dará a impressão de que acabamos de sair da academia.
— Oh! — fez Ooch e levantou-se. 
Ainda teve a impressão de ver Vulevul ser atingido e derrubado por um travesseiro atrasado. Foi Biggy quem o arremessou. Estava de pé ao lado de sua cama.
— Seu patife! — esbravejou em tom estridente. — Será que eu não sou nada? Geco, os dois andaram brigando por mim. Vivem brigando por minha causa. — Balançou os quadris num gesto provocador e, gingando o corpo, avançou para o primeiro plano. — Sei que sou bonita, mas meu coração não pertence a Vulevul nem a Ooch, mas somente ao nosso comandante Geco. Quero dizer que vocês lutaram em vão.
Ooch e Vulevul entreolharam-se com uma expressão de perplexidade. O que Biggy acabara de dizer era uma novidade para eles. Até então Geco sempre tinha sido considerado uma espécie de pólo neutro, que não participava da competição que se desenvolvia em torno de Biggy. Afinal, tinha muitas preocupações e carregava uma responsabilidade enorme. E agora Biggy anunciava em público que gostava de Geco.
Isso encerrava de vez a disputa. Geco estufou o peito, caminhou duas vezes em torno de Biggy, todo empertigado, e deixou que ela o admirasse. Finalmente fez um gesto benevolente.
— Obrigado, Biggy. Oportunamente me lembrarei disso. — Lançou um olhar de triunfo para Ooch e Vulevul. — O que houve com vocês? Perderam a língua?
— Oh... — fez Ooch.
Vulevul olhava fixamente para Biggy, mas não disse nada.
Geco dirigiu-se à porta. Parecia satisfeito e orgulhoso ao mesmo tempo.
Antes de sair, virou a cabeça.
— Se quiserem, continuem — disse. 
Depois disso saiu para o corredor e fechou cuidadosamente a porta atrás de si.
Biggy soltou uma risada estridente. Abaixou-se, pegou um colchão muito pesado e arremessou-o com tamanha habilidade que atingiu Ooch bem nas costas.
Dali a dez segundos ambos os partidos prosseguiram na luta.
Biggy ficou sentada na cama, assistindo a tudo. Ficou olhando até que oito castores tiveram a mesma idéia no mesmo instante.
Foi literalmente enterrada embaixo de oito travesseiros.
* * *
Quando a nave dos blues mergulhou nas profundezas do espaço para seguir em direção à batalha espacial que bramia lá adiante, Zbron relatou a conversa que tivera com os blues. Geco voltou à sala de comando e ouviu atentamente as palavras de Zbron.
— Ele realmente não sabe nada sobre o paradeiro de Rhodan e dos outros desaparecidos. Mas descobri certas coisas que certamente interessarão a Tifflor. Os blues afirmam que em algum lugar existe uma chave para outras galáxias. Não sabem o que vem a ser isso. Deve ser um segredo que ainda não conseguiram desvendar. Só se fala vagamente nisso. Talvez seja uma raça desconhecida, que possui um sistema especial de propulsão, que permite superar as distâncias inconcebíveis que separam as galáxias. Até hoje ninguém conseguiu realizar esta façanha. No momento o império cósmico dos blues está em decadência, mas isso não importa. Sempre restará um núcleo, e este núcleo sairá à procura da misteriosa chave.
— Que bom! — observou Geco em tom astucioso. — Se encontrarem a chave, sairão da Via Láctea e desaparecerão para sempre.
— Não tenho tanta certeza! De qualquer maneira, ficariam de posse de uma coisa que nós não temos. Mais precisamente, de um sistema de propulsão diante do qual o nosso será considerado obsoleto.
Geco interrompeu-o com um gesto.
— Será que você acredita em fábulas? O tal do Grechk andou fazendo gozação com você. A chave para outra Galáxia... bolotas! Uma invenção! Um fantasma! Não acredito nestas bobagens. Devemos procurar Rhodan, e é só. Em minha opinião basta.
Zbron enrolou a tromba.
— Já sabia que você não possui imaginação. Não falemos mais nisso. Conseguimos livrar-nos dos blues, e pronto. Que rota o senhor comandante quer que sigamos?
Geco esteve a ponto de bater com o punho na mesa de instrumentos, mas controlou-se em tempo. Num caso como este era preferível assumir uma atitude apaziguadora. Ainda precisariam de seus nervos. Assumiu um ar de superioridade e disse:
— Quero observar o resultado da batalha entre os blues.
Zbron não teve nenhuma objeção.
— Para mim está bem, embora não veja para que isso possa servir. O que nos interessam os blues?
— É uma ordem, e basta! — Geco ajeitou as insígnias, colocando-as bem à vista do uniter e fez um rosto zangado, que em sua opinião impressionaria e intimidaria seu interlocutor. Quase chegou a destroncar o pescoço para levantar os olhos para Zbron. — Eu sou o comandante! Quem dá as ordens sou eu. Entendido?
— Está bem. — Zbron transmitiu a Vlck algumas instruções relativas à rota. As luzes de controle do computador de navegação piscaram. Umas poucas estrelas mudaram de posição nas telas. — Brcl assumirá os controles. Vou dormir um pouco. — Levantou-se. — Desejo um vôo agradável.
Geco seguiu-o com os olhos.
— Não passa de um macaco presunçoso — constatou.
Fez um gesto benevolente para Brcl e Vlck e saiu todo empertigado atrás de Zbron.
Antes que atingisse a primeira curva do corredor, as campainhas de alarme soaram.
Todos os alto-falantes transmitiram a voz potente de Brcl:
— Sala de controle chamando todos os ocupantes da nave! Sala de controle chamando todos os ocupantes da nave! Entrar em prontidão! Comandante e piloto, compareçam imediatamente à sala de comando! Repito...
Geco parou.
Pôs-se a praguejar terrivelmente.
— E a última vez que aceito o comando de uma nave. Os outros descansam e se divertem, e eu sou o bobo. Se a tarefa gloriosa de que vivem falando é esta, nem quero saber. Comandante — lorotas!
Assim que acabou de proferir estas palavras, teleportou-se para a sala de comando.
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2
Os rastreadores estruturais da Tramp acabavam de reagir a alguma coisa.
Os aparelhos registraram violentas ondas de choque, que se desenvolviam além da quarta dimensão. Os instrumentos realizaram imediatamente os respectivos cálculos e os registraram em fitas perfuradas. Os abalos podiam originar-se tanto da transição de alguma nave como de algum transporte pelo transmissor.
Naturalmente as naves dos blues também tinham registrado e interpretado as ondas de choque.
Zbron fitou Geco e disse:
— Brcl me avisou assim que os goniômetros e os rastreadores entraram em funcionamento. Já dispomos dos resultados. Brcl deu o alarme assim que os mesmos se tornaram conhecidos.
— São tão ruins assim? — perguntou Geco e saltou para dentro de uma poltrona.
— Ruins não, mas estranhos — observou Brcl.
— Como uniters que somos, possuímos bastanteexperiência espacial para tirarmos nossas conclusões — explicou Zbron. — Os abalos, que se propagam em forma de ondas de choque regulares, só podem provir de um transmissor defeituoso. Jamais poderiam ter sua origem na transição de uma espaçonave. Neste caso as ondas seriam diferentes, Geco. Quer dizer que há um transmissor — mais precisamente, um transmissor de matéria — aqui, em pleno espaço, a vários anos-luz de qualquer mundo habitado. Até conseguimos determinar a direção aproximada da qual vieram as ondas de choque. Quando a interpretação for concluída, teremos outras informações. Posso garantir que os blues e suas batalhas perderam todo interesse. Estamos na pista de outra coisa; até pode ser nova e desconhecida. Algo não está em ordem no lugar em que se originaram as ondas de choque. Pode ser um simples erro na manipulação dos controles, mas também pode ser mais que isso. De qualquer maneira, sou de opinião que vale a pena investigar. O que acha, Geco?
O rato-castor ignorou o fato de que um velho e experimentado astronauta pedia conselho, a ele. Achava que apenas era uma demonstração de respeito perfeitamente natural. Nem pensou na possibilidade de que o uniter talvez não o levasse a sério.
Pigarreou para fazer-se de importante.
— Primeiro quero ver a interpretação completa dos dados.
Zbron confirmou com um gesto.
— É para já. — Transmitiu algumas instruções a Vlck. 
Dali a dez minutos o navegador empurrou alguns cartões para o piloto. Zbron examinou-os, enrolou a tromba e assumiu uma atitude pensativa.
— Hum, é estranho, mas também é interessante.
Geco não sabia o que fazer com as misteriosas insinuações.
— O que é mesmo? Será que eu posso saber?
Zbron entregou-lhe os cartões.
— Fique à vontade.
Geco examinou os cartões. Só viu colunas de algarismos e algumas letras que pareciam não fazer sentido. Além disso havia gráficos perfurados em chapas, produzidos pelo computador de bordo. Não conseguiu compreender nada. Devolveu tudo ao uniter com o rosto impassível.
— Leia — disse.
Um sorriso sarcástico apareceu no rosto de Zbron, que colocou as fichas à frente dos olhos.
— A fonte das ondas de choque que captamos fica a exatamente trezentos e doze anos-luz daqui — e é muito potente, se me permite esta observação. Também o desempenho e a precisão dos nossos aparelhos e a energia consumida pelos transmissores que foram utilizados é notável. Quer dizer que são trezentos e doze anos-luz. A direção já foi determinada.
Veja o senhor mesmo o que o mapa cósmico registra nesta direção. Não era muita coisa.
— Um pequeno sol amarelo — leu Brcl.
— Não é conhecido; somente foi catalogado. Possui três planetas, provavelmente desabitados. A área ainda não foi explorada. — Levantou os olhos. — Será que há uma estação de transmissor por lá? Tomara que não nos tenhamos enganado.
— Nossos rastreadores estruturais nunca se enganam — apressou-se Zbron em objetar.
— Nem nós. — Voltou a olhar para Geco.
— Quais são as ordens do comandante? Vamos dar uma olhada no local?
Geco pôs-se a refletir.
Uma descoberta como esta poderia ser muito valiosa. Quem sabe se não encontrariam uma pista de Rhodan — ou ao menos uma nova raça? Ou então uma fonte de riquezas. Uma nova invenção ou uma tecnologia mais avançada, que possa ser levada à Terra como resultado da expedição. O que diria Tifflor, por exemplo, se alguém lhe levasse um transmissor de matéria capaz de deslocar mercadorias de uma extremidade da Via Láctea à outra...?
“O que vale minha pele?”, continuou a pensar Geco. “Tenho de jogá-la na balança do destino. Além disso é minha a pele que eu arrisco.”
Acenou com a cabeça.
— Naturalmente daremos uma olhada. Nem sei por que está perguntando.
Zbron fez um sinal para Brcl. O co-piloto imediatamente pôs em funcionamento o computador de navegação e fez o cálculo da rota juntamente com Vlck. Assim que os dados se tornaram disponíveis e foram armazenados no sistema de pilotagem automática, Geco deu oficialmente ordem de partida.
Quase no mesmo instante Vlck disse: 
— Parece que os blues também notaram alguma coisa, e isso de ambos os lados. Liguei as telas de rastreamento. Vejam...
Geco e Zbron olharam para as telas. Não era um quadro muito tranqüilizador. Quase uma dezena das naves separou-se das formações que participavam do combate e seguiu por outra rota. Saíram na mesma direção que a Tramp pretendia tomar, acelerando fortemente.
— Era o que eu imaginava — resmungou Zbron, contrariado. — Eles ainda nos darão muito aborrecimento.
Nem imaginava que os fatos confirmariam plenamente sua previsão.
* * *
Durante o vôo pelo espaço linear perdeu-se o contato de rastreamento com os blues. Geco sentiu-se aliviado. Nunca apreciara a proximidade dos cabeças de prato, em parte porque isto representava certo perigo.
Finalmente a Tramp aproximou-se do sistema do pequeno sol normal amarelo. Ele só possuía três planetas, e o segundo oferecia condições mais favoráveis à vida. Se as ondas de choque provinham de um dos mundos do sistema, só podia ser o segundo planeta.
Geco deu ordem para contornar este planeta numa altura que oferecesse segurança, para realizar observações de todos os tipos.
A gravitação era pouco superior a 1 G, chegando aproximadamente a 1,03 G. Em virtude da proximidade do sol, o clima era quente e seco. O tempo de rotação era de 34,9 horas. A maior parte da superfície do planeta estava coberta por gigantescas florestas. Avistaram várias cidades e os dois continentes eram separados por um braço de mar, junto ao qual havia montanhas muito altas.
— Hum — fez Brcl.
Zbron virou a cabeça e olhou para ele.
— Quer dizer alguma coisa?
— Apesar das cidades, este mundo me parece bastante abandonado. De qualquer maneira não se vê sinal de uma civilização capaz de construir transmissores de matéria, ao menos de um tipo cujas ondas de choque ainda possam ser registradas a trezentos anos-luz de distância.
— Acho que você tem razão, mas não pode haver dúvida quanto à localização da fonte de energia. Temos certeza de que as ondas de choque vieram daqui.
— E verdade — confirmou Vlck.
Geco ficou calado. Preferiu não participar do debate, porque não entendia nada do tema. Teve bastante inteligência para deixar isso por conta dos experimentados uniters.
— Vamos pousar?
— Acho que ainda é cedo. Onde estão os blues? Devem aparecer a qualquer momento.
Zbron levantou-se e foi para junto dos rastreadores. Foi ligando as telas uma após a outra e fez girar a antena direcional para todos os lados. Finalmente acenou com a cabeça.
— Eu não disse? Já estão chegando; são dez.
— Qual é a distância?
— Atingiram a órbita do terceiro planeta, mas continuam a penetrar no sistema. Poderão estar aqui dentro de dez minutos. O que acha, Geco?
O rato-castor já esperava a pergunta. Era o comandante e quando a situação se tornasse crítica, era ele que tinha de segurar o rojão.
— Vamos aguardar — decidiu.
— É uma solução diplomática — disse Zbron em tom irônico. — Onde vamos aguardar?
— Onde? — perguntou Geco, irritado. — Na Tramp! Onde poderia ser?
Os rastreadores mostravam que seis naves dos blues estavam sendo perseguidas. Outras unidades apareceram nas telas, e realizavam manobras individuais bem coordenadas com o objetivo de cortar todos os caminhos de retirada das naves perseguidas. Finalmente abriram fogo.
A batalha irrompeu exatamente entre o terceiro e o segundo planeta. Ao que parecia, cada um dos lados queria evitar que o outro chegasse ao segundo planeta. Era a melhor prova de que acreditavam que ali houvesse um segredo valioso — uma estação de transmissor que emitia ondas de choque de potência enorme.
Enquanto isso a Tramp continuava a contornar o segundo planeta.
Geco estava sentado numa poltrona. Não se sentia muito bem. Aos poucos começou a reconhecer que a operação era apressada e não oferecia nenhuma chance. Tudo bem. Os ratos-castores quiseram dar sua contribuição para encontrarRhodan, mas até certo ponto isso fora uma questão de prestígio. Nunca houvera uma verdadeira chance de sucesso. Poderiam dar-se por satisfeitos se conseguissem voltar à Terra sãos e salvos.
“Ainda mais com uma tripulação como esta”, pensou para consolar-se.
Não se podia negar que os uniters possuíam certa experiência, mas faltava-lhes a iniciativa. E aos Willys também. Eram amáveis e prestativos. Nem mesmo Geco poderia negar isso. Mas com essas qualidades não se ganhava uma guerra..
E os ratos-castores?
Neste ponto Geco não se iludiu. Com eles só se poderia contar quando surgisse uma ameaça direta à sua vida. Sem essa ameaça, cada um fazia exatamente aquilo que desejava. Enquanto a Tramp manobrava para desviar-se dos grupos de naves inimigas, os ratos-castores ficavam na cama e contavam histórias alegres de sua vida. Ou então travavam batalhas de travesseiros e corriam que nem loucos pelos corredores da nave para brincar de pegar. Os uniters que trabalhavam na sala de máquinas já se haviam queixado cinco vezes de que os ratos-castores tinham trocado suas roupas de trabalho. Um deles fora trancado na toalete, que não podia ser aberta de fora. A fechadura só pôde ser aberta por um rato-castor, mediante a telecinesia. Todo o bando contestou com muita indignação a suspeita de que a mesma poderia ter sido fechada dessa maneira.
Não, pensou Geco, resignado, com uma equipe destas não poderia praticar atos de heroísmo. Mesmo que ele fosse um herói.
Quando suas reflexões chegaram a este ponto, resolveu dar quanto antes as costas a este sol desconhecido e voltar para casa. Pouco lhe importava que zombassem dele e o escolhessem como objeto de suas piadas. Não estava com vontade de morrer. O que adianta a fama e as honrarias se a gente está morta?
— Não valem coisa alguma! — disse em tom enfático.
Zbron levantou a tromba na vertical, dando mostra da estranheza que o comportamento de Geco lhe causava.
— Como?
Geco acordou do devaneio.
— Oh, nada — respondeu.
Neste momento a porta abriu-se violentamente e dois ratos-castores entraram rolando. Eram Ooch e Bokom, que se seguravam pela mão e assobiavam em tons exaltados, enquanto tentavam pôr-se novamente de pé.
Geco escorregou para fora da poltrona.
— O que é isso? — berrou para os dois infelizes, que se separaram num movimento titubeante e voltaram a pôr-se de pé. — Não sabem o que é disciplina? Eu lhes darei um puxão...
— Encontramos Rhodan! — exclamou Ooch.
Geco fitou-o estupefato. Engoliu em seco.
— Vocês o quê? — gritou Geco depois de algum tempo.
Ooch empertigou-se. Bokom também cresceu um pouco.
— Encontramos Rhodan e André Noir. Estão lá embaixo, no planeta.
Geco ficou sem fôlego.
Tinha certa compreensão para as brincadeiras sem graça de seus ratos-castores e sabia perdoar quase tudo que faziam, mas desta vez estavam indo longe demais. Rhodan não podia ser objeto de brincadeiras, pelo menos enquanto estivesse desaparecido.
Viu o olhar de advertência de Zbron e procurou controlar-se. Voltou à sua poltrona o mais calmo que pôde e saltou para dentro dela. Olhou para as telas.
— Vamos! Falem logo — pediu, dirigindo-se a Ooch e Bokom. — E depois desapareçam tão depressa como apareceram. Mais tarde conversaremos sobre a idéia esquisita que vocês tiveram.
Ooch aproximou-se saltitando. A expressão de triunfo que se notava em seus olhos travessos parecia sincera. Zbron notou e de repente mostrou-se muito interessado. Geco não conseguiu ver. Exercitou sua paciência.
— Captamos impulsos mentais. Eram muito fracos e confusos — principiou Ooch depois de algum tempo, quando já se tinha deleitado com a situação. — Conhecemos o modelo destes impulsos. Até que o conhecemos muito bem. Vêm do segundo planeta. Trata-se dos impulsos mentais de Perry Rhodan e do hipno Noir. Não existe a menor dúvida, Geco; nós os encontramos.
Geco permaneceu imóvel por algum tempo. Finalmente virou-se lentamente e fitou Ooch nos olhos. Levou alguns longos segundos para compreender que os dois ratos-castores estavam falando sério.
Então não era brincadeira!
Tinham encontrado Rhodan.
Rhodan!
Geco saltou da poltrona e caminhou em direção a Ooch. Bateu-lhe no ombro com a pata direita e finalmente abraçou o velho amigo. De tão emocionado que estava, não conseguiu proferir uma única palavra. Algumas lágrimas brotaram de seus olhos castanhos.
— Será que não estão enganados?
— De forma alguma — afirmou Bokom. — Também captei os impulsos, e mais alguns dos nossos companheiros. Eram impulsos muito fracos, mas temos certeza de que não estamos enganados.
O uniter Zbron parecia a calma em pessoa. Não se notava o abalo que um ser humano certamente teria demonstrado numa situação como esta. Rhodan estava vivo! Um morto não emite impulsos mentais. Rhodan acabara de ser encontrado; num planeta de um sol distante e desconhecido, onde jamais se poderia supor que estivesse.
— Vamos pousar logo? — perguntou. Geco olhou para, Ooch.
— O que acha?
— Os impulsos revelavam temor e preocupações, mas também certa confiança. Eram confusos. Talvez seria um erro pousarmos antes de nos livrarmos dos blues. E o planeta desconhecido pode oferecer perigos de que nem desconfiamos. Se Rhodan está lá, deve ter sido levado de alguma forma e por algum motivo. Se a Tramp for destruída, ficaremos todos presos. Ninguém saberá onde estamos.
Depois desta longa fala Ooch ficou calado, pois estava exausto. Até então sempre ficara em segundo plano, e agora de repente um comandante pedira sua opinião. Transformara-se numa pessoa importante. Talvez a mais importante a bordo. Biggy ficaria...
— O que estão fazendo os blues, Vlck? — A pergunta de Geco trouxe Ooch de volta ao mundo da realidade. Os blues! — A que distância se encontram?
— A distância é variável. Alguns romperam as linhas inimigas e fugiram, mas voltarão quando não houver mais perigo.
— Sempre haverá perigo, ao menos aqui. — Geco fez um sinal para Zbron. — Vamos descer. Precisamos encontrar Rhodan ou ao menos dar-lhe um sinal. Deve saber que a salvação está próxima.
— Quer que tentemos estabelecer contato telepático com Rhodan? — perguntou Ooch.
— Rhodan é um telepata muito fraco, e Noir só é um hipno. Não acredito que consigam estabelecer contato, mas não custa tentar. Usem meu camarote, pois lá estarão sossegados. Preciso ficar na sala de comando para dirigir a operação.
Ooch e Bokom desapareceram.
O Geco que ficou na sala de comando já não era o mesmo.
A idéia de que justamente ele e seus ratos-castores tinham encontrado os desaparecidos e talvez até viessem a salvá-los virou-o pelo avesso numa questão de segundos. Naturalmente ainda estava com medo e receava a morte, mas por nada deste mundo permitiria que alguém percebesse. Além disso a proximidade de Rhodan dava-lhe novo ânimo.
Quando a Tramp estava dando mais uma volta em torno do planeta, a nave ficou entre as frentes das unidades que se combatiam. Os blues não tomaram conhecimento da presença da nave esférica, mas também não se desviaram dela. Alguns tiros energéticos foram absorvidos pelos campos defensivos da Tramp. Mais ao lado um cruzador dos blues explodiu é caiu. Quando atingiu a atmosfera do segundo planeta, entrou em combustão. Desapareceu numa nova explosão, deixando para trás somente o brilho apagado de uma nuvem energética.
Ooch e Bokom seguravam-se pelas mãos. Como a rato-castor fêmea Hemi também possuía dons telepáticos bastante pronunciados, os dois haviam recorrido a ela. Em conjunto formaram um bloco telepático, aumentando enormemente as possibilidades de transmissão e recepção.
— Perry Rhodan! Responda! Recebemos sua mensagem e aguardamos novas instruções! Viemos para levá-los para casa.
Proferiram estas palavras em voz alta, para aumentar a intensidade dos impulsos. Depois ficaram na escuta. Nenhuma resposta.
Ao menos por enquanto.
Não desistiram, mas sempre voltavam a tentar. Depois de algum tempo Ooch disse:
— Precisamos reforçar o bloco. Acho queGeco poderia ajudar.
— Além disso é melhor que eu veja o lugar ao qual devo dirigir a mensagem. — Bokom acenou com a cabeça. — Não tenho nada contra Geco, mas tenho contra o barulho da sala de comando.
— Os uniters saberão calar suas trombas, pois sabem o que está em jogo. — Ooch levantou-se. — Vamos andando. Não podemos perder tempo. Dentro de alguns minutos teremos de atingir novamente o ponto da superfície do planeta do qual vieram os primeiros impulsos.
Geco logo se mostrou disposto a participar do bloco telepático. Zbron não fez nenhum comentário. Ele e os demais uniters permaneceram mudos diante dos controles. Sabiam que qualquer palavra que proferissem distrairia os ratos-castores da tarefa que estavam desempenhando.
A paisagem foi desfilando pelas telas. No momento não se via sinal das naves dos blues.
— E ali — disse Ooch e apontou para uma das telas.
Uma porção de terra surgiu no horizonte de um dos mares, mas os impulsos mentais de Rhodan ainda não puderam ser captados. Em compensação os ratos-castores pensavam intensamente em sua mensagem, repetiam-na constantemente e só faziam ligeiras pausas para a recepção.
Geco começou a transpirar.
De repente uma coisa muito fraca chamou em seu cérebro. Parecia uma batida tímida numa porta, um tanto incrédula, mas cheia de alegria e de esperança:
— Quem vem lá...? 
Geco irromperem júbilo.
— É ele! E seu modelo. Estou reconhecendo. Vamos responder!
Mais uma vez expediram sua mensagem em direção ao planeta. Desta vez a resposta veio mais nítida e com maior intensidade:
— Quer dizer que finalmente nos encontraram? Estamos vivos, mas encontramo-nos num perigo grave. Pousem, recolham-nos e decolem imediatamente. É o segundo platô na encosta da montanha. Rápido!
Geco enviou outra mensagem e pediu que tivessem paciência. Falou sobre os blues e prometeu que pousariam o mais cedo possível e enviariam uma expedição de busca.
Não houve mais nenhuma resposta.
O segundo planeta do sol amarelo permaneceu em silêncio.
A Tramp continuou a descer e descreveu uma grande curva.
Neste exato momento foram atacados por três cruzadores dos blues.
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3
Há algumas semanas uma nave dirigida automaticamente tinha levado os seqüestrados para fora das áreas próximas ao centro da Galáxia. Quando se encontrava a cerca de oitenta mil anos-luz da Terra, a nave robotizada tomou a direção de um pequeno sistema solar e pousou no seu segundo planeta. Desembarcou cinco homens e uma mulher chamada Mory Abro num planalto rochoso e voltou a decolar, para desaparecer totalmente nas profundezas do espaço cósmico.
Os seqüestrados ficaram completamente indefesos num planeta que parecia desabitado. Mas a primeira impressão era enganadora. O planeta não era desabitado. A raça desconhecida à qual pertencia a nave cilíndrica robotizada há muito tempo já devia ali ter instalado uma base.
Mais tarde os fugitivos descobriram os outros nativos. Tratava-se de descendentes de saltadores que há muito tempo tinham realizado um pouso de emergência. Ajudados por eles, conseguiram penetrar na base misteriosa dos desconhecidos, que era vigiada pelos remanescentes de uma raça extinta há muito tempo. Nessa oportunidade Atlan tentou ligar um transmissor automático que pudesse existir por ali, mas acabou ativando um aparelho que na oportunidade ainda era desconhecido, do qual partiram as ondas de choque que atraíram a Tramp e também os blues.
Depois de fugirem apressadamente da base contaminada pela radioatividade, Rhodan e seus companheiros retiraram-se para uma das inúmeras cavernas situadas na encosta do planalto. O mar estendia-se no horizonte, mil metros abaixo deles. Não podiam contar com o auxílio dos descendentes de saltadores. Entre os saltadores o sol amarelo era chamado de Simban, enquanto o segundo planeta tinha o nome de Roost.
Esta era a situação, no momento em que Rhodan e Noir captaram os impulsos mentais dos ratos-castores. Pela primeira vez depois de semanas de desespero voltou a ser estabelecido contato com amigos, se bem que a presença dos blues representava uma ameaça grave, contra a qual não se podia opor nenhuma resistência.
Atlan estava numa alegre exaltação. 
— Meu Deus, ratos-castores! — Abanou a cabeça. — Poderia esperar qualquer coisa, menos isto. Será que você não se enganou, Perry?
— Não há possibilidade de erro, Atlan. Não há dúvida de que os impulsos foram expedidos por três ou quatro ratos-castores, que formaram um bloco telepático. Tomara que tenham recebido minha mensagem e venham nos buscar. A ligação era muito fraca; não sou bom telepata.
Bell, que tinha perdido alguns quilos, estava sentado numa pedra junto à entrada da caverna. Mostrava sinais das canseiras dos últimos meses. Mas naquele momento seus olhos brilhavam.
— Deve ser Gucky. Quem mais poderia ser? Ele nos encontrou! É inacreditável!
— Se fosse Gucky, eu o teria reconhecido — disse Rhodan. — Seu modelo de ondas cerebrais talvez seja o único que eu poderia identificar imediatamente. São ratos-castores, mas Gucky não está entre eles.
— Não compreendo.
— Nem eu — confessou Rhodan. — É possível que Gucky tenha enviado alguns dos ratos-castores de Marte à nossa procura. Bem que seria capaz disso. Mas seja como for, o que importa é que eles nos encontraram. Meu Deus, como não devem estar as coisas na Terra...?
Atlan saiu para o planalto. Seus braços estendidos apontaram para cima.
— Naves... duas... não, são três! Voam devagar, como se procurassem alguma coisa. Será que são eles?
Rhodan foi para junto dele, olhou para cima e puxou Atlan para dentro da caverna.
— Cuidado, são os blues. Se eles nos descobrirem, a situação poderá tornar-se perigosa. Segure minha mão, André. Precisamos tentar entrar em contato com os ratos-castores. No momento não podem pousar, pois sua nave correria perigo de ser destruída. Dessa forma o único caminho de fuga que nos resta seria cortado.
No início seus esforços não deram resultado, mas, quando já se tinham passado quase trinta minutos, começaram a chegar impulsos fracos e incompletos. Noir e Rhodan tiveram dificuldade em estabelecer uma ligação entre os mesmos.
...Ataque dos blues... pouso impossível...
ficar escondidos... esperem...
— Vocês nos entendem? Respondam! Precisamos estabelecer uma ligação constante. E muito importante!
Não houve resposta.
Dali a alguns segundos duas naves dos blues passaram a pouca altura sobre o planalto, em direção às três pirâmides, embaixo das quais ficava a base dos desconhecidos. Um canhão automático começou a disparar contra os blues.
As naves retiraram-se imediatamente para uma altitude mais segura.
— Aqui estamos presos mesmo — disse Bell.
— Por enquanto estamos livres, o que é muito importante — objetou Rhodan. — E a salvação está próxima.
— Mas ela se torna bem difícil, Perry. Se não fossem os blues, já poderíamos estar viajando em direção à Terra.
Rhodan confirmou com um gesto. Era claro que Bell tinha razão, mas acontecia que os blues tinham sido atraídos pelos mesmos sinais que os ratos-castores. Se Atlan não tivesse posto em funcionamento o misterioso transmissor, nem os blues nem os ratos-castores teriam tido a idéia de dirigir-se ao sol Simban ou de pousar em Roost.
— Quem dera que ao menos tivéssemos um rádio — resmungou o enorme Melbar Kasom, contrariado. — Onde existem naves dos blues, também há unidades do Império por perto. O aparecimento dos ratos-castores é a melhor prova disso.
— Pode ser uma coincidência. — Rhodan avançou cautelosamente um passo e olhou para o platô abandonado. Não viu nenhum movimento. A oeste, ao sul e a leste estendiam-se enormes florestas com extensos lagos e pântanos. Ao norte erguia-se uma cadeia de montanhas entrecortadas. — Daqui a algumas horas vai escurecer, e é possível que aí tenhamos uma chance. Que pena que a comunicação com a nave não funciona melhor...
A situação podia ser tudo, menos agradável. Durante o último encontro com os guardiões das pirâmides tinhamperdido seu equipamento e suas armas. A única coisa que lhes restava eram as roupas e as facas, além de algumas rações de alimentos concentrados. Isso não bastava para travar uma guerra, ainda mais com os cruzadores fortemente armados dos blues, que se interessavam por tudo que acontecesse em sua área de interesse.
Rhodan deu um salto para trás.
— Cuidado! Estão atacando as pirâmides. Protejam-se!
A advertência seria desnecessária. Os outros já tinham visto os três cruzadores disformes dos blues descerem do céu, voarem a pequena altura sobre o planalto e tomarem a direção das pirâmides. Abriram fogo quando ainda se encontravam a alguns quilômetros.
Gigantescos feixes energéticos precipitaram-se sobre as pirâmides e envolveram-nas em nuvens de gases incandescentes. Crateras surgiram na rocha, e uma lava viscosa entrava nas depressões do solo, lançando bolhas. Depois disso as naves desapareceram.
— Sem dúvida voltarão — avisou Rhodan ao ver que Bell pretendia sair. — Precisamos ficar aqui e aguardar os acontecimentos. Os ratos-castores certamente voltarão a chamar. Devo dizer que são muito cautelosos. Quase chegam a ser cautelosos demais.
— Se fosse você, não acusaria o comandante — disse Atlan em voz baixa. — Ele deve saber o que está em jogo. Rhodan sorriu.
— Longe de mim acusar quem quer que seja, Atlan. Seja quem for a pessoa que comanda a nave, ela deve ter bons motivos para retardar a operação de salvamento. Talvez esteja esperando que anoiteça.
As horas foram-se arrastando, até que finalmente o sol amarelo baixou a oeste em direção à coberta verde da mata. Os blues tinham atacado as pirâmides mais duas vezes. Os canhões automáticos ocultos continuavam a responder ao fogo. Rhodan e seus amigos estavam sentados nas profundezas da caverna, esperando.
Começou a escurecer.
Neste momento mais um contato mental foi estabelecido com os participantes da operação de salvamento.
Desta vez Atlan participou do fraco bloco formado por Rhodan e Noir. Talvez fosse por causa disso que os impulsos se tornaram mais intensos e mais fáceis de serem captados. Os ratos-castores pareciam entendê-los melhor. Pelo menos surgiu algo parecido com uma conversa.
...chamando Rhodan! Responda, por favor... só dispomos de alguns minutos...
— Entendido. O que houve? Quando pretendem pousar?
A resposta foi rápida e perfeitamente compreensível:
— Impossível pousar! Somos perseguidos ininterruptamente pelos blues. Tentaremos enviar um jato espacial ou pelo menos um planador. Desviaremos a atenção dos blues e iremos buscá-los.
— Não se esqueçam de trazer armas e equipamentos. Não temos mais nada.
— No planador há de tudo. Precisamos terminar. Os blues...
Neste ponto a comunicação foi interrompida.
— Já é alguma coisa — observou Bell e pôs a mão no bolso, à procura de um cubo de alimento concentrado. — Só me sentirei bem quando perceber o peso de uma arma energética pesada no cinto. Ou quando estiver na nave.
— Se fosse o senhor, não me alegraria tanto com esta idéia — observou Kasom com um sorriso.
— Por que não? — indagou Bell. Kasom continuava a sorrir.
— Porque seremos salvos por um grupo de ratos-castores, senhor Bell. Já imaginou o que eles vão fazer com o senhor? Se me lembro do que Gucky andou fazendo com o senhor quando tiveram uma briguinha, a idéia de nos defrontarmos com três ou quatro ratos-castores deixa-me apavorado. Vão desmontá-lo.
Bell exibiu um sorriso forçado.
— Veremos. Acontece que nem todos os ratos-castores são tão sem-vergonhas como Gucky. Fico admirado porque ele não participa da expedição. O velho camarada deve estar de férias.
Bell não se sentiria tão confiante se soubesse que outros ratos-castores eram muito mais sem-vergonhas que Gucky.
* * *
Naquele momento Geco poderia ser tudo, menos um sem-vergonha.
Há várias horas a Tramp não fazia outra coisa senão fugir. Às vezes eram somente duas, outras vezes eram quatro ou cinco naves dos blues que ficavam no seu encalço. Não quiseram atirar diretamente contra ela, mas tentaram levar a Tramp à superfície para obrigá-la a pousar. Se não fosse isso, a Tramp já teria deixado de existir.
— Estão com medo — disse Geco, dirigindo-se a Zbron e procurando dar um tom confiante à voz trêmula. — Esquivam-se de uma luta honesta. Vamos atacar, Zbron.
O uniter não era da mesma opinião, e tinha bons motivos para isso. Sabia perfeitamente que os blues faziam questão de descobrir o que a nave terrana viera fazer nesse sistema afastado. Talvez também estivessem interessados em conhecer a causa dos estranhos impulsos de choque que haviam atraído todos para cá. Achava que o ataque seria uma tolice. E disse a Geco.
O rato-castor fez de conta que ficou contrariado, mas na verdade mal conseguiu dissimular o alívio que sentia por poder continuar a fugir sem prejudicar seu prestígio, que só existia em sua fantasia.
Ooch, Bokom e Hemi acabavam de estabelecer contato pela última vez com Rhodan. Geco prometera enviar um veículo, o que era mais fácil de dizer que de fazer.
— Um jato espacial levará pelo menos cinco minutos — informou Zbron. — Nesses cinco minutos poderíamos pousar e recolher Rhodan. É bem verdade que nesse caso os blues ficariam mesmo grudados em nossos calcanhares.
— Que tal um planador?
O planador era um veículo de esteira de dez metros de comprimento, que podia voar. Era bem verdade que não se prestava para o vôo espacial. Mas podia manobrar perfeitamente na atmosfera de um planeta e era considerado perfeitamente seguro. Possuía esteiras com unidades propulsoras acopladas. Em seu interior havia armas, equipamentos e ferramentas de todos os tipos, além de uma reserva de mantimentos capaz de alimentar a tripulação por várias semanas.
— Por que justamente um planador? 
Zbron levantou-se e entregou os controles a Brcl.
— É muito simples, Geco. Um planador pode ser colocado fora da nave numa questão de segundos. Não perdemos tempo e não provocamos suspeitas entre os blues. Continuarão a perseguir-nos, sem notar a sua saída. Poderá pousar e recolher Rhodan. Com ele poderão dirigir-se a um lugar relativamente seguro. Mais tarde, quando o perigo tiver passado, nós os recolhemos. Além disso o planador possui rádio. Finalmente poderemos estabelecer comunicação verbal.
— Quem vai dirigi-lo?
— Os controles desse veículo são muito simples. Tenho certeza de que qualquer uniter seria capaz de pilotá-lo.
Geco fez um gesto de estranheza.
— Você deve saber que só podemos cogitar de um rato-castor. Afinal, fomos nós que tivemos a iniciativa da expedição e conseguimos levá-la avante. Quem encontrou Rhodan foram os ratos-castores, e por isso nós o salvaremos. Bokom pilotará o veículo. Entendido?
— Tudo bem. Tomara que ele saiba. 
Bokom sabia. Foi ao menos o que ele disse.
— É claro que sei pilotar um planador! Aprendemos em Marte, pois isso fazia parte do treinamento. Foi muito divertido correr com aquilo pelos desertos e fazer saltos pelo ar. Até chegamos a fazer excursões...
— Desta vez não será uma excursão — ponderou Zbron.
— Seja como for, sei lidar com isso — concluiu Bokom.
— Hemi o acompanhará. Vocês combinam. — Geco caminhava todo empertigado pela sala de comando e elaborou seu plano de batalha. — Desceremos ainda mais com a Tramp e faremos várias mudanças de rota ao acaso. É bom que os blues acreditem que estamos procurando um local para pousar. Desta forma não nos incomodarão. Lá embaixo já é noite. Rhodan e seus homens estão numa caverna. Os blues nem perceberão quando o planador sair da nave. Aí será sua vez, Bokom. Pouse o mais depressa possível e encontre Rhodan. Desviaremos a atenção dos blues. Mais tarde entraremos em contato pelo rádio e então veremos o resto. Deve haver uma possibilidade de recolher vocês e dar o fora. Neste ponto não posso deixar de concordar com Zbron. Não será uma fuga, mas um golpe tático. Entendido, Bokom? E você, Hemi?
Os dois ratos-castores fizeram um gesto de assentimento.
A manobra foi iniciada.

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