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Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 93 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. OBSTETRÍCIA VITALIDADE FETAL (Professor Eduardo Borges) Avaliar a vitalidade fetal , para a obstetr cia, definir se o beb est ou no em sofrimento. Assim como vimos no Cap tulo anterior, o sofrimento fetal consiste na resposta que o produto conceptual apresenta frente hipxia que, caso no corrigida, culmina em acidemia fetal. Portanto, os mtodos propeduticos de anlise da vitalidade fetal tm o objetivo de diagnosticar o sofrimento fetal. Este Cap tulo tem, pois, como objetivo, listar e detalhar os principais mtodos utilizados pela obstetr cia para anlise da vitalidade fetal. Contudo, antes de iniciar o estudo destes mtodos, faremos uma breve considerao sobre as caracter sticas que definem o sofrimento fetal. SOFRIMENTO FETAL Em outras palavras, o sofrimento fetal nada mais que a tentativa de adaptao do feto hipxia que, se no for corrigida, culmina com a acidose metablica e morte. Diante da hipxia, o papel adaptativo do feto pode ser feito atravs de uma adaptao hemodinmica ou de uma adaptao metablica. Adaptação hemodinâmica: desvio de sangue para rgos nobres (crebro, corao e supra-renais) atravs de vasodilatao nestes s tios. Adaptação metabólica: produo de energia pela via anaerbica, em que h menor dficit de ATP (como ocorre no ciclo de Krebs, por exemplo, uma etapa da via aerbia da respirao celular). Desta forma, o organismo economiza mais ATP para a demanda metablica. ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS Diante de um quadro de insuficincia placentria, em que haja dficit de oxignio, ocorre hipoxemia tecidual fetal e dficit nutritivo. O dficit nutritivo culmina em restrição do crescimento fetal (RCF). Do ponto de vista hemodinmico, a hipoxemia fetal leva centralização da circulação fetal, responsvel por proteger os rgos nobres (sistema nervoso central, corao e glndulas suprarrenais) at certo ponto – quando os fatores agravantes tornam-se mais eminentes, este mecanismo torna-se descompensado e leva o feto ao bito. Alm disso, a centralizao fetal no prioriza outros rgos (como os rins, pulmo, pele, intestino, etc.), levando a uma isquemia pulmonar e renal. Este fato desencadeia o oligomnio, que favorece a compresso funicular (do cordo umbilical) e a liberao de mecnio, que pode ser aspirado pelo feto (promovendo a chamada s ndrome de aspirao meconial e morte). Portanto, o substrato cl nico das alteraes hemodinmicas que caracteriza o sofrimento fetal representado pela restrição do crescimento fetal e oligoamnio. O substrato biof sico, por sua vez, representado pela centralizao da circulao fetal, com vasodilatao em rgos nobres e comprometimento de rgos no-nobres. ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS O substrato bioqu mico da insuficincia placentria e da hipxia a acidose metabólica fetal. Como vimos anteriormente, para suprir a carncia energtica causada pela falta de O2, o feto lana mo da via anaerbia para obteno de energia, em que a glicogenlise origina lactato e piruvato, acumulando ons H+ e promovendo a acidose metablica. Desta forma, o feto armazena mais energia, perdendo menos ATP do que perderia realizando seu metabolismo aerbio. Contudo, esta rota metablica predispe acidose metablica fetal, caracterizada por: Valores de pH < 7,20 (quando pH < 7,10 a acidose considerada como extremamente grave) Valores de base excess < -12 Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 94 AVALIA O DA VITALIDADE FETAL O objetivo da avaliao da vitalidade fetal corresponde, justamente, ao diagnstico do sofrimento fetal. Portanto, as indicaes para a anlise mais apurada da vitalidade fetal esto baseadas em situaes que possam promover este sofrimento. Portanto, basicamente, as seguintes situaes indicam a avaliao da vitalidade fetal. Doenças maternas: s ndromes hipertensivas, endocrinopatias, cardiopatias, colagenoses, nefropatias, endopatias, neoplasias, desnutrio, etc.; Intercorrências na gestação: oligoamnio, polidramnio, ps-datismo, ruptura prematura de membranas, gravidez gemelar complicada, placenta prvia, etc.; Doenças fetais: anemias fetais, cardiopatias compat veis com a vida, infeces, etc.. Os principais mtodos propeduticos para avaliao da vitalidade fetal esto resumidos na tabela abaixo. Eles visam identificar os substratos do sofrimento fetal: substrato cl nico (restrio do crescimento fetal e oligoamnio), substrato biof sico (centralizao fetal e alteraes hemodinmicas) e o substrato bioqu mico (acidose metablica fetal). Métodos clínicos Métodos biofísicos Métodos bioquímicos Aferio da altura uterina BCF Mobilograma Amnioscopia Dopplervelocimetria Cardiotocografia Perfil biof sico fetal Dosagem hormonal/enzimtico Dosagem de lactato Gasometria fetal: Anteparto (cordocentese) Intraparto (couro cabeludo) De um modo geral, os mtodos cl nicos devem ser sempre prioridade. Todavia, os mtodos biof sicos s sero indicados diante de patologias identificadas atravs dos mtodos cl nicos. Os mtodos bioqu micos servem para avaliar as alteraes metablicas do feto diante do sofrimento. Contudo, como praticamente todos os mtodos bioqu micos so invasivos e/ou necessitam de tempo para mostrar alteraes (cerca de 48h), eles ca ram em desuso, de modo que apenas os mtodos cl nicos e biof sicos merecem uma abordagem mais precisa. MTODOS CLNICOS PARA AVALIA O DA VITALIDADE FETAL Os principais artif cios que podemos lanar mo para avaliar os substratos cl nicos que caracterizam um eventual sofrimento fetal (RCF e oligodramnio) so: Aferio da altura uterina Batimentos cardiofetais (BCF) Mobilograma Amnioscopia AFERIÇÃO DA ALTURA UTERINA Toda mulher gestante deve medir o tero mensalmente. A altura uterina reflete, de maneira indireta, o tamanho do beb. Diante de um beb aumentado (macrossmico), podemos sugerir diabetes gestacional, por exemplo. Ao contrrio, diante de um beb pequeno (restrio do crescimento fetal), poder amos sugerir um poss vel sofrimento fetal. Da a importncia deste parmetro. A altura fetal deve ser medida com fita mtrica, desde a s nfise pbica at a altura do fundo uterino (verificado palpao). Diante de alteraes com relao s demais medidas mensais, devemos rastrear melhor as condies desta gestante, seja atravs da medio da glicemia ou atravs dos mtodos biof sicos para avaliar o bem-estar fetal. BATIMENTOS CARDÍACOS FETAIS Os batimentos cardiofetais (BCF) podem ser aud veis atravs do abdome materno, desde que a tcnica de ausculta seja realizada de maneira adequada (com o sonar-Doppler, o estetoscpio de Pinnard ou com a campnula menor do estetoscpio tradicional). De um modo geral, a literatura afirma que a frequncia card aca fetal normal estaria no intervalo entre 120-160. Portanto, temos: FCF normal: 120 – 160bpm Taquicardia: FCF > 160bpm/10 minutos Bradicardia: FCF < 120bpm/10 minutos De modo mais espec fico, alguns autores afirmam que da 5 a 10 semana de gestao, os BCF se apresentam em uma frequncia de 110 – 170bpm, sendo esta uma faixa normal para esta idade gestacional. A partir da 10 semana Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 95 at a 14 semana, os BCF caem para uma faixa de 100 – 150bpm, permanecendo assim, em mdia, at o final da gestao. Por esta razo, o valor considerado normal para a FCF a partir da 12 semana de gestao varia, portanto, de 110-120bpm a 160bpm. OBS1: Diante de uma alterao durante a anlise dos BCF, podemos lanar mo de uma manobra propedutica que auxilia no diagnstico do bem-estar fetal. Esta manobra consiste no estímulo sônico ou mecânico,que se baseia na estimulao do feto atravs de um susto sonoro (buzinar durante 3 segundos) ou mecnico. Quando se faz esta manobra, espera-se que o feto apresente um aumento na sua frequncia de mais de 20bpm e que dure pelo menos 3 minutos. MOBILOGRAMA O mobilograma o teste que avalia os movimentos fetais. A metodologia deve ser realizada da seguinte maneira: a paciente deve se posicionar em decbito-lateral e o mobilograma deve ser registrado trs vezes ao dia, durante 30 minutos. Ao longo destas medies, o beb deve ser movido pelo menos 10 vezes. A interpretao deste exame feita atravs da observao dos seguintes sinais de alarme: Movimentos fetais < 10 vezes/dia Reduo dos movimentos em 50% O mobilograma s deve ser indicado para as seguintes pacientes: Gestante de alto risco internada Gestante diabtica ou hipertensa Exame não orientado para o baixo risco, salvo situaes especiais, para no aumentar a carga de exames desnecessrios para a gestante. AMNIOSCOPIA A anlise do aspecto do l quido amnitico (LA) pode ser feito atravs da amnioscopia ou da amniocentese. Normalmente, o LA claro, l mpido e cristalino, assim como gua, ou esbranquiado como leite, devido ao vrnix caseoso e clulas do beb. Amnioscopia: introduo de um aparelho de ptica atravs do colo do tero para avaliar o LA. Amniocentese: consiste na aspirao transabdominal de uma pequena quantidade de fluido amnitico com o aux lio da ultrassonografia. muito pouco utilizada, atualmente. Na maior parte dos casos, quando o beb entra em sofrimento, ele libera mecnio, alterando o aspecto do normal do LA para um padro meconial, de forma que ele se apresenta escuro ou esverdiado e espesso. Quando o LA se mostra amarelado, pode demonstrar aumento da bilirrubina fetal (decorrente de hemlise, principalmente). Quando o LA se mostra amarronzado sugere morte fetal, decorrente da degradao de hemcias do beb. MTODOS BIOFSICOS PARA AVALIA O DA VITALIDADE FETAL Os principais artif cios que podemos lanar mo para avaliar os substratos biof sicos que caracterizam um eventual sofrimento fetal (centralizao da circulao fetal e alteraes hemodinmicas, em geral) so: Dopplervelocimetria Cardiotocografia Perfil biof sico fetal CARDIOTOCOGRAFIA (CTG) Como vimos em seu Cap tulo referente, a cardiotocografia um importante mtodo no-invasivo de avaliao da vitalidade e do sofrimento fetal, sendo um dos exames realizados para traar o perfil biofísico fetal, permitindo determinar o bem-estar fetal. A CTG avalia, dentre outros critrios, a frequncia card aca fetal, sendo assim, um mtodo primrio na avaliao da vitalidade fetal. Embora tenha valores de predio variveis e no diminuir as taxas de mortalidade e morbidade, seu uso ante-parto (antes do parto) tornou-se imprescind vel para a anlise do perfil biof sico fetal. Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 96 Parmetros da CTG. A cardiotocografia deve ser analisada sistematicamente e, de preferncia, atravs do estudo dos seguintes parmetros: Linha de base: definida como sendo uma linha imaginria desenhada ao longo do traado grfico da frequncia card aca fetal, no intuito de estabelecer uma mediana desta frequncia. Variabilidade: consiste na alterao basal do padro nos batimentos card acos fetais de acordo com a sua amplitude. Esta variao deve ser prolongada (no m nimo, 1 minuto) ao ponto de no ser confundida com uma acelerao transitria. Acelerao transitria: considerada como o melhor parmetro da cardiotocografia para avaliar a vitalidade fetal: uma vez presente, indica um bom vigor card aco fetal e/ou uma boa reserva de oxignio. Pode ser definida por caracterizado pelo aumento transitrio da FCF (variao maior que 15 batimentos com relao linha de base previamente traada) por um per odo curto de tempo (10 – 20 segundos). Desaceleraes: so parmetros cardiotocogrficos demonstrados no traado como quedas da frequncia card aca fetal, descrevendo verdadeiros vales no traado. Seriam, portanto, o contrrio da acelerao transitria. ndice cardiotocogr fico. A interpretao da cardiotocografia pode ser feita atravs de vrios ndices. Um dos mais utilizados o ndice cardiotocomtrico de Ivo Behle e Zugaib, que estabelece notas para cada um dos parmetros da cardiotocografia. Como a acelerao transitria considerada o melhor parmetro para anlise da CTG, ela recebe a maior nota se estiver presente. Parmetros Nota Linha de base 120 – 155bpm 1 Variabilidade 10 – 25bpm 1 Acelerao transitria 1 em 10 minutos 2 Desaceleraes Nenhuma 1 Portanto, de acordo com o ndice cardiotocomtrico de Behle & Zugaib, podemos concluir que o feto pode ser ativo (quando recebe 5 ou 4 pontos), hipoativo (quando recebe 3 ou 2 pontos) e inativo (quando recebe 1 ou 0 pontos). Quando o feto for considerado ativo, diz-se que est normal, de modo que a me pode receber alta e retornar ao seu lar. Contudo, quando o feto classificado como hipoativo ou inativo, devemos realizar o estmulo snico, que um teste propedutico caracterizado pelo ato de buzinar ou promover outro ru do sonoro perturbante prximo ao ouvido da criana durante 3 segundos. Feito este est mulo, devemos esperar a seguinte resposta m nima do: aumento de 20bpm na FCF por durao ≥ 3minutos. Com base nesta resposta, podemos classificar o feto hipoativo ou inativo da seguinte maneira: Reativo: ocorreu aumento de 20bpm por, no m nimo, 3 minutos. Hiporreativo: a resposta foi parcial ao est mulo sonoro. No-reativo: no houve resposta alguma ao est mulo sonoro. Padro bifsico: caracterizado pelo feto que, durante o exame, no apresentou nenhuma acelerao transitria e, durante o novo teste, aps o est mulo sonoro, a criana pode ter despertado de um eventual sono e apresentar aceleraes transitrias. Como sabemos, este o parmetro mais importante da cardiotocografia, e pode indicar, por si s, uma boa vitalidade fetal. Diante de todos estes passos, os seguintes resultados da CTG so considerados favorveis, normais ou tranquilizantes: Cardiotocografia mostrando feto ativo; Cardiotocografia mostrando feto reativo; Cardiotocografia mostrando padro bifsico. Total da pontuao Interpretao 5 – 4 Ativo 3 – 2 Hipoativo 1 – 0 Inativo Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 97 PERFIL BIOFÍSICO FETAL (PBF) O perfil biofísico fetal é um método utilizado para avaliação dos substratos biofísicos da vitalidade fetal, assim como a CTG. Em outras palavras, o PBF é um método utilizado para avaliação da vitalidade do concepto. A ultra- sonografia e a cardiotocografia basal são utilizadas para o estudo das variáveis estudadas. As principais indicações para o estudo do PBF são: Cardiotocografia suspeita Cardiotocografia normal, mas com suspeita de oligoidrâmnio Variáveis que compõem o PBF. O PBF avalia a cardiotocografia, alguns parâmetros fetais através da ultrassonografia e avalia a quantidade de líquido amniótico. Desta forma, temos: Variáveis que analisam marcadores agudos Variáveis que analisam marcadores crônicos São aquelas variáveis que avaliam o sistema nervoso central, identificando sofrimento agudo. Análise da FCF pela cardiotocografia Movimentos fetais Movimentos respiratórios Tônus Representadas por apenas um parâmetro, avaliam o sistema renal do feto, identificando sofrimento crônico. Avaliação do líquido amniótico Portanto, este método emprega variáveis que representam comprometimento agudo do feto, ou seja, se alteram quando a hipoxia fetal já se encontra deflagrada. As variáveis agudas são os movimentos respiratórios, movimentos do concepto, tônus e reatividade de freqüência cardíaca. A variável querepresenta o comprometimento crônico de insuficiência placentária é o volume do líquido amniótico, que se altera gradativamente, ao longo do processo de deteriorização da função placentária. OBS2: Teoria da hipóxia gradual (Vintzileos et al., 1991). Tal teoria diz respeito à ordem cronológica das funções afetadas pela hipóxia. Daí, as alterações nos exames do PBF também seguiriam uma ordem, a depender das alterações de seus marcadores. Segundo ela, quanto mais precoce for o amadurecimento neurológico de uma determinada função, mais resistente ela é à hipóxia. O feto desenvolve as seguintes funções na mesma ordem cronológica que elas se apresentam: tônus, movimentos corpóreos, movimentos respiratórios e controle autonômico (taquicardia e bradicardia). Por esta razão, segundo Vintzileos, o primeiro parâmetro a se mostrar alterado diante de uma hipóxia é a CTG e, só depois, o bebê perde a amplitude de seus movimentos respiratórios, corpóreos e tônus. OBS3: Esta teoria defende, portanto, que: quanto mais tardio for o amadurecimento de um determinado órgão, mais sensível ele é à hipóxia. É por esta razão que o SNC e autonômico é mais frequentemente afetado pela hipóxia pois, apesar de o tubo neural ser uma das primeiras estruturas a ser formar, o amadurecimento cerebral só ocorre na vida pós-parto. Marcadores agudos do PBF. Cardiotocografia BASAL ou ESTIMULADA o Reativo: presença de aceleração transitória (AT) da freqüência cardíaca fetal à movimentação do concepto (AMF). O aumento da frequência cardíaca deve ser de pelo menos 15bpm, em função da linha basal, com duração mínima de 15 segundos. o Não reativo: AMF ausente. o Suspeito: oscilação ondulatória o Grave: oscilação comprimida ou desaceleração desfavorável/tardia. o Terminal: oscilação lisa Movimentos respiratórios fetais (MRF) o Presente: mínimo de um episódio com duração > 30 segundos o Ausente: não observado movimento respiratório ou duração menor que 30 segundos Movimentos fetais (MF) e Tônus fetal (TF): avaliados em conjunto pela sua interdependência o Normal: quando observado > 1 MF rápido de extensão-flexão; abertura e fechamento das mãos. o Anormal: quando os MF estão ausentes ou são lentos; membros totalmente em extensão; mãos abertas. Volume do líquido amniótico (vLA): o Normohidramnia: índice de líquido amniótico (ILA) > 8 cm e < 18 cm Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 98 Marcador crônico: avaliação do líquido amniótico. O LA um marcador crnico do PBF. Sua anlise depende da avaliao do volume do maior bolsão ou pelo índice de líquido amniótico. Consideramos o ndice de L quido Amnitico (ILA), aferido nos quatro quadrantes, segundo padronizado, mais fidedigno que o bolso de LA isolado. No PBF, considera-se normal, o maior bolso maior ou igual a 2cm ou o ILA maior ou igual a 5 cm. Maior bolsão Índice de LA (ILA) Interpretação <2 cm <5 cm Oligomnio entre 2 e 3 cm entre 5 e 8 cm Reduzido entre 4 e 7 cm entre 8 e 18 cm Normal >8 cm >20 cm Polidrmnio Resultados e Interpretação do PBF. A concluso, ou o laudo do PBF, pode ser realizada de formas diferentes. Os marcadores sempre devem ser observados, ao atestar qualquer anormalidade, por um exame que dure de pelo menos 30 minutos. A pontuao dos resultados pode ser obtida, de forma clssica, avaliando cada varivel individualmente, considerando o valor 2 para aquelas consideradas normais e 0 para as anormais. Assim, de uma maneira geral, classicamente sero considerados como normais os resultados de 8 e 10; 6 como duvidoso e 4 ou menos como anormais (Manning e col., 1987). Marcador Resultado Nota do PBF Cardiotocografia Ativo, reativo ou bifsico 2 - 0 Movimentos respiratrios 1 episdio de 30 segundos 2 - 0 Movimentos fetais 1 rpido e amplo ou 3 lentos 2 - 0 Tnus Abertura e fechamento da mo 2 - 0 Volume do LA Maior bolso > 2 cm 2 - 0 A interpretao do PBF depende das notas dadas a cada um destes marcadores. O total das notas pode somar 10 ou 0 (um feto com PBF nota 0 no est morto, necessariamente). Desta forma, de acordo com a relao entre a nota obtida pelo PBF e o aspecto do l quido amnitico, podemos traar a seguinte conduta: Nota do PBF Líquido amniótico Conduta 10 ou 8 Normal Conservadora 8 Anormal Resoluo de acordo com a idade gestacional 6 Normal Repetir em 6h 6 Anormal Resoluo baseada na maturidade e/ou viabilidade ≤ 4 Independente Resoluo a partir da viabilidade Vantagens x Desvantagens do PBF. Vantagens Desvantagens Baixo custo Resultado normal: feto bem oxigenado Falso negativo: 0,4 a 0,6/1000 nascidos vivos Valor preditivo negativo: 99,9% O resultado anormal pode falar a favor de um dficit de oxigenao, de um ciclo sono-vig lia ou do uso de algum medicamento. Apresenta valor preditivo positivo de 50% O fato de o PBF apresentar o valor preditivo positivo de 50% quer dizer que, nos casos que ele vier alterado, apenas a metade apresentar, de fato, alguma alterao. , portanto, um mtodo “cara-ou-coroa”, e nunca deve ser utilizado isoladamente – seus achados sempre devem ser associados aos mtodos cl nicos de avaliao detal e cardiotocografia. DOPPLERVELOCIMETRIA A dopplervelocimetria , de fato, o principal divisor de guas na anlise da vitalidade fetal. Ela estuda o fluxo sangu neo da placenta para o feto e de rgos do prprio concepto. Portanto, seus principais fundamentos so: Avaliar a função placentária atravs do fluxo da artria umbilical; Avaliar a resposta fetal à hipóxia, atravs do fluxo da artria cerebral mdia (como componente arterial que avalia a funo arterial cerebral) e do ducto venoso (pequeno vaso presente durante a via embriolgica que serve como um “atalho” entre a veia umbilical e o corao, aps passar pelo f gado na forma de veias hepticas). Depois da artria umbilical, o ducto venoso o segundo componente mais oxigenado do feto e sua anlise reflete a funo miocrdica do beb (avaliando a funo arterial miocrdica). Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 99 Análise da dopplervelocimetria. A análise da dopplervelocimetria pode ser feita através de duas maneiras: Avaliar a velocidade do fluxo exibida no sonograma: o traçado gráfico mostrado pelo sonograma arterial sempre mostra um pico relativo á sístole (S) e outro pico menor relativo à diástole (D): quanto menor a resistência, maior é o componente diastólico, o que significa que o sangue flui muito bem. O sonograma do ducto venoso, entretanto, além da sístole e da diástole, mostra um componente referente à sístole atrial (onda a): quando há refluxo de sangue do átrio para as grandes veias, temos o achado conhecido com onda a reversa. Utilização de índices: consiste em uma outra maneira de utilizar a dopplervelocimetria, através dos índices demonstrados abaixo. O cálculo dos índices é feito pelo próprio aparelho. De um modo geral, quanto maior o índice, maior é a resistência. Relação sístole/diástole (S / D) Índice de resistência (IR) Índice de pulsatilidade (IP): é o mais importante. Índice de pulsatilidade para veias (IPV) Sequência de alterações. Diante do sofrimento fetal, a sequência cronológica de alterações na dopplervelocimetria segue a ordem descrita a seguir: Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 100 Em resumo, o primeiro doppler que se altera o umbilical (pois reflete a insuficincia placentria), aumentando a resistncia (devido fibrose placentria) e o IP torna-se alto. Por fim, pode haver distole zero ou reversa. Diante de um doppler de artria umbilical alterado, devemos investigar o doppler da artria cerebral mdia (ACM). Por meio deste parmetro, podemos avaliar a presena de um mecanismo compensatrio, que seria a vasodilatao cerebral. Quando a ACM dilata, huma queda na resistncia do fluxo sangu neo cerebral, diminuindo, assim, o IP. Por ltimo, h uma diminuio no fluxo na contrao atrial, facilmente verificada pelo doppler de ducto venoso, que verifica um aumento do IPV, com a presena de onda a reversa. OBS3: Uma das nicas situaes em que se tem um doppler de ACM alterado mas com manuteno do fluxo umbilical normal a hipotensão arterial materna. Esta situao pode fazer com que haja falta de sangue para o beb, o qual realizar uma vasodilatao compensatria; contudo, como a placenta est normal, o doppler retorna a normalidade rapidamente. Portanto, no podemos considerar esta situao como uma centralizao da circulao fetal: s podemos afirmar este quadro depois que o doppler da artria umbilical estiver alterado. Esta uma das razes que fez da relao ACM/Umbilical cair em desuso atualmente. Critérios para resolução da gestação. A distole zero no critrio para resoluo da gestao pois, uma vez presente, ela exige a avaliao da ACM e do ducto venoso. A centralizao fetal evidenciada pelo doppler da ACM tambm no indica resoluo da gravidez pois, uma vez presente, ela exige a avaliao do ducto venoso. Quando o ducto venoso est alterado (elevao do IPV > 1), indica-se a resoluo e, a depender da idade gestacional, podemos utilizar corticide para resolver. Portanto, os seguintes critrios, por sua vez, indicam a resoluo da gestao: Diástole reversa Ducto venoso alterado IPV entre 1,0 –1,5: avaliar a possibilidade de corticide IPV >1,5: Resoluo imediata Arlindo Ugulino Netto – OBSTETRCIA – MEDICINA P7 – 2010.2 101 Indicações da dopplervelocimetria. Em resumo, apesar de a CTG e o PBF serem exames fundamentais para avaliação do substrato biofísico do sofrimento fetal, a avaliação deste quadro deve ser iniciada pela dopplervelocimetria, pois esta é responsável, por si só, pelo direcionamento quanto à resolução ou não da gravidez. Além disso, de uma forma geral, nenhum método deve ser avaliado espontaneamente, mas sim, mediante as seguintes indicações: Alto risco para insuficiência placentária. Suspeita clínica e/ou ultrassonográfica de RCF. CONSIDERAES FINAIS QUANTO VITALIDADE FETAL A avaliação da vitalidade fetal é ferramenta útil e necessária no acompanhamento das gestações de alto risco, sobretudo para insuficiência placentária. As gestações de baixo risco não são beneficiadas com a incorporação dessa tecnologia na rotina pré-natal, exceto em casos de gestação pós-data. O prognóstico da gestação de alto risco tem melhorado sensivelmente, não apenas pela adequação do controle terapêutico das doenças maternas, mas também pelo maior entendimento dos métodos de avaliação do bem estar fetal
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