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Ato de Escrever
“Escrever é expressar-se.
Escrever é lembrar-se.
Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou conquistar posições e honrarias.
Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever.”
Lêdo Ivo apud Campedelli, 1998, p. 335
Como sabemos, a redação é um dos elementos mais requisitados em processos seletivos de uma forma geral, e em virtude disso é que devemos estar aptos para desenvolvê-la de forma plausível e, consequentemente, alcançarmos o sucesso almejado.
Escrever redação não é difícil! A primeira coisa que podemos salientar para que tenha um bom desempenho com o seu trabalho é sempre priorizar as questões de coerência e também coesão, em outras palavras, dar cabo no assunto, e não fugir dele em momento algum.
É sempre importante estarmos atentos para a realidade mundial e em especial a brasileira, temos que ler e assistir jornais, ler revistas, etc. em síntese, estar em sintonia com as notícias, pois manter-se sempre atualizado pode ser a chave para o sucesso.
Os concusos públicos e vestibulares atuais exploram com certo peso essas atualidades, incorporando o aspecto do dia a dia. As provas de hoje estão todas intertextualizadas, com a integração de conteúdos comuns à prova de gramática, literatura e interpretação de texto (uma boa interpretação é 60% de garantia de se ter uma boa nota!), além do qual o senso crítico e de compreensão do concursando farão a diferença. 
Uma redação bem feita é sinal que a pessoa tem um bom conhecimento da sua língua. É necessário também ter calma e paciência, sempre prestar muita atenção nas propostas dadas pelos examinadores. 
Faça um rascunho a lápis de sua redação, crie seu texto, revise para ver se não há erros, e passe a limpo na folha especificada a tinta. Depois disso é torcer para que você tenha ido muito bem e conseguido uma boa nota, já que na maioria dos concursos e vestibulares do Brasil, a prova de redação tem um peso muito alto.
Na produção de um texto, o mais importante é como você organiza as ideias, muitas vezes o candidato sabe muito sobre o assunto, todas as suas causas e consequências, porém ele não tem a preocupação de organizar suas ideias, e esse, certamente é o responsável pela reprovação de muitos na prova de redação. 
O modo de correção da prova é muito rígido, de modo que determinado professor não possa expor sua opinião julgando o concursando ao espelho de seu pensamento. A correção abordará aspectos formais do texto, o emprego da gramática normativa, o senso crítico e a correlação tema/texto.
Escrever bem não é coisa do outro mundo, é alcançável a todos, basta apenas interesse. 
Tipos de Redação
Para escrever uma redação ou um texto, necessitamos de técnicas que implicam no domínio de capacidades linguísticas. Temos dois momentos: o de formular pensamentos (o que se quer dizer) e o de expressá-los por escrito (o escrever propriamente dito). Fazer uma redação, seja ela de que tipo for, não significa apenas escrever de forma correta, mas sim, organizar ideias sobre determinado assunto.
 E para expressarmos por escrito, existem alguns modelos de expressão escrita: Descrição – Narração – Dissertação – Carta.
Descrição
- expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma visão;
- é um tipo de texto figurativo;
- retrato de pessoas, ambientes, objetos;
- predomínio de atributos;
- uso de verbos de ligação;
- frequente emprego de metáforas, comparações e outras figuras de linguagem;
- tem como resultado a imagem física ou psicológica.
Narração
- expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta antes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente);
- é um tipo de texto sequencial;
- relato de fatos;
- presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;
- apresentação de um conflito;
- uso de verbos de ação;
- geralmente, é mesclada de descrições;
- o diálogo direto é frequente.
Dissertação
- expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa;
- é um tipo de texto argumentativo.
- defesa de um argumento:
a) apresentação de uma tese que será defendida,
b) desenvolvimento ou argumentação,
c) fechamento;
- predomínio da linguagem objetiva;
- prevalece a denotação.
Carta
- esse é um tipo de texto que se caracteriza por envolver um remetente e um destinatário;
- é normalmente escrita em primeira pessoa, e sempre visa um tipo de leitor;
- é necessário que se utilize uma linguagem adequada com o tipo de destinatário e que durante a carta não se perca a visão daquele para quem o texto está sendo escrito.
Descrição
É a representação com palavras de um objeto, lugar, situação ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em imagens.
Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Não é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa forma, o que será importante ser analisado para um, não será para outro.
A vivência de quem descreve também influencia na hora de transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto, pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento.
Exemplos:
(I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.” 
(extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector)
(II) Chamava‑se Raimundo este pequeno, e era mole, aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aquilo que a outros levava apenas trin​ta ou cinquenta minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso gran​de medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola de​pois do pai e retirava‑se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco.
(Machado de Assis. "Conto de escola". Contos. 3ed. São Paulo, Ática, 1974, págs. 31‑32.)
Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor da escola que o escritor frequentava. 
Deve‑se notar:
- que todas as frases expõem ocorrências simul​tâneas (ao mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha grande medo ao pai); 
- por isso, não existe uma ocorrência que possa ser considerada cronologicamente anterior a outra do ponto de vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na escola é cronologi​camente anterior a retirar‑se dela; no nível do relato, porém, a ordem dessas duas ocorrên​cias é indiferente: o que o escritor quer é ex​plicitar uma característica do menino, e não traçar a cronologia de suas ações); 
- ainda que se fale de ações (como entrava, reti​rava‑se), todas elas estão no pretérito imperfei​to, que indica concomitância em relação a um marco temporal instalado no texto (no caso, o ano de 1840, em que o escritor frequentava a escola da rua da Costa) e, portanto, não denota nenhuma transformação de estado; 
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não correríamos o risco de alterar nenhuma re​lação cronológica ‑ poderíamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar e ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo com ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes...
Evidentemente, quando se diz que a ordem dos enunciados pode ser invertida, está-se pensando apenas na ordem cronológica, pois, como veremos adiante, a ordem em que os elementossão descritos produz determinados efeitos de sentido.
Quando alteramos a ordem dos enunciados, precisamos fazer certas modificações no texto, pois este contém anafóricos (palavras que retomam o que foi dito antes, como ele, os, aquele, etc. ou catafóricos (palavras que anunciam o que vai ser dito, como este, etc.), que podem perder sua função e assim não ser compreendidos. Se tomarmos uma descrição como As flores manifestavam todo o seu esplendor. O Sol fazia-as brilhar, ao invertermos a ordem das frases, precisamos fazer algumas alterações, para que o texto possa ser compreendido: O Sol fazia as flores brilhar. Elas manifestavam todo o seu esplendor. Como, na versão original, o pronome oblíquo as é um anafórico que retoma flores, se alterarmos a ordem das frases ele perderá o sentido. Por isso, precisamos mudar a palavra flores para a primeira frase e retomá-la com o anafórico elas na segunda.
Por todas essas características, diz‑se que o fragmento do conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de texto em que se expõem ca​racterísticas de seres concretos (pessoas, objetos, ​situações, etc.) consideradas fora da relação de anterioridade e de posterioridade.
Características:
- Ao fazer a descrição enumeramos características, comparações e inúmeros elementos sensoriais;
- As personagens podem ser caracterizadas física e psicologicamente, ou pelas ações;
- A descrição pode ser considerada um dos elementos constitutivos da dissertação e da argumentação;
- é impossível separar narração de descrição;
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim a capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza.
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo: “(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que parecem conformados expressamente para esposas da multidão (...)” (Raul Pompéia – O Ateneu)
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não existe relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados.
- Devem‑se evitar os verbos e, se isso não for possível, que se usem então as formas nominais, o presente e o pretério imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferência aos verbos que indiquem estado ou fenômeno.
- Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto.
A característica fundamental de um texto descritivo é essa inexistência de progressão temporal. Pode‑se apresentar, numa descri​ção, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam sempre simultâneos, não indicando progressão de uma situação anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas linguísti​cas da descrição é o predomínio de verbos no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo: o primeiro expressa concomitância em relação ao momento da fala; o segundo, em relação a um marco temporal pretérito instalado no texto.
Para transformar uma descrição numa narra​ção, bastaria introduzir um enunciado que indi​casse a passagem de um estado anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, para transformá​-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso grande medo do pai. Mais tarde, Iibertou‑se desse medo...
Características Linguísticas:
 
O enunciado narrativo, por ter a representação de um acontecimento, fazer-transformador, é marcado pela temporalidade, na relação situação inicial e situação final, enquanto que o enunciado descritivo, não tendo transformação, é atemporal. 
Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático-semânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão: 
- Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente no presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver, situar-se, existir, ficar). 
- Enfâse na adjetivação para melhor caracterizar o que é descrito; Exemplo:
 
"Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço entalado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo ia-se alargando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgado no alto; tingia os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por trás da nuca - e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais brilho à calva; mas não tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito despegadas do crânio." 
(Eça de Queiroz - O Primo Basílio) 
- Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações, sinestesias). Exemplo:
 
"Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês. Apesar de seu corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e saltitante que lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente com os olhinhos de azougue." 
(José de Alencar - Senhora) 
- Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo:
 
"Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali tinha um corredor comprido de onde saíam três portas; no final do corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça..." 
(Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ)
Recursos:
- Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas. Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do sol. 
- Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas, concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu sereno, uma pureza de cristal. 
- As sensações de movimento e cor embelezam o poder da natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente que deslumbrava e enlouquecia qualquer um. 
- A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal, muito crente. 
A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
 
Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passagem são apresentadas como realmente são, concretamente. Ex: "Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética, ombros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos negros e lisos".
 Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo: “ A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado, dentro de uma estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei. Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais velha que Juiz de Fora, provavelmente sede de alguma fazenda que tivesse ficado, capricho da sorte, na linha de passagem da variante do Caminho Novo que veio a ser a Rua Principal, depois a Rua Direita – sobre a qual ela se punha um pouco de esguelha e fugindo ligeiramente do alinhamento (...).” (Pedro Nava – Baú de Ossos)
Descrição Subjetiva: quando há maior participação da emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar ou expressar seus sentimentos. Ex: "Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao homem. Não só as condecorações gritavam-lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei..." ("O Ateneu", Raul Pompéia)
“(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-de-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando por lei, de sobregoverno.” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos descritivos:
Como se disse anteriormente, do ponto de vista da progressãotemporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente, uma vez que eles indicam propriedades ou características que ocorrem si​multaneamente. No entanto, ela não é indiferente do ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para baixo ou vice‑versa, do detalhe para o todo ou do todo para o detalhe cria efeitos de sentido distintos.
Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio", de Bocage:
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
bem servido de pés, meão de altura,
triste de facha, o mesmo de figura,
nariz alto no meio, e não pequeno.
Incapaz de assistir num só terreno,
mais propenso ao furor do que à ternura;
bebendo em níveas mãos por taça escura
de zelos infernais letal veneno.
					Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão,
					1968, pág. 497.
				
O poeta descreve‑se das características físicas para as características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria o mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer relevo.			
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas características exteriores, facilmente identificáveis (descrição objetiva), ou suas características psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva).
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos, também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado desta técnica, sugere‑se que o concursando, após escrever seu texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva.
Descrição de objetos constituídos de uma só parte:
- Introdução: observações de caráter geral referentes à procedência ou localização do objeto descrito.
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) ‑ formato (comparação com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões (largura, comprimento, altura, diâmetro etc.)
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) ‑ material, peso, cor/brilho, textura.
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto como um todo.
Descrição de objetos constituídos por várias partes:
- Introdução: observações de caráter geral referentes à procedência ou localização do objeto descrito.
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das partes que compõem o objeto, associados à explicação de como as partes se agrupam para formar o todo.
- Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo (externamente) ‑ formato, dimensões, material, peso, textura, cor e brilho.
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em sua totalidade.
Descrição de ambientes:
- Introdução: comentário de caráter geral.
- Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e aroma (se houver).
- Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a objetos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas ou quaisquer outros objetos.
- Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no ambiente.
Descrição de paisagens:
- Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer outra referência de caráter geral.
- Desenvolvimento: observação do plano de fundo (explicação do que se vê ao longe).
- Desenvolvimento: observação dos elementos mais próximos do observador ‑ explicação detalhada dos elementos que compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem.
- Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca da impressão que a paisagem causa em quem a contempla.
Descrição de pessoas (I):
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer aspecto de caráter geral.
- Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas).
- Desenvolvimento: características psicológicas (personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura, objetivos).
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter geral.
Descrição de pessoas (II):
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer aspecto de caráter geral.
- Desenvolvimento: análise das características físicas, associadas às características psicológicas (1ª parte).
- Desenvolvimento: análise das características físicas, associadas às características psicológicas (2ª parte).
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter geral.
A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam. Porque toda técnica descritiva implica contemplação e apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever, precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade.
Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não-literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. Por ser objetiva, há predominância da denotação. 
Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os compõem, para descrever experiências, processos, etc.
Exemplo: 
Folheto de propaganda de carro 
Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de elevada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do ambiente.
Porta-malas - O compartimento de bagagens possui capacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado.
Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar a deformação em caso de colisão. 
Textos descritivos literários: Na descrição literária predomina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de associações conotativas que podem ser exploradas a partir de descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes; situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também podem ocorrer tanto em prosa como em verso.
 
Exemplos de descrições segundo a época:
Descrição Romântica
"Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor de cobre, brilhava com reflexos dourados; os cabelos pretos cortados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exteriores erguidos para a fronte; a pupila negra, móbil, cintilante; a boca forte mas bem modelada e guarnecida e dentes alvos, davam ao rosto pouco oval a beleza inculta da graça, da força e da inteligência.
Tinha a cabeça cingida por uma fita de couro, a qual se prendiam ao lado esquerdo duas plumas matizadas que, descrevendo uma longa espiral, vinham roçar com as pontas negras o pescoço flexível.
(...)
Ali, por entre a folhagem, distinguiam‑se as ondulações felinas de um dorso negro, brilhante, marchetado de pardo; às vezes viam-se brilhar na sombra dois raios vítreos e pálidos, que semelhavam os reflexos de alguma cristalização de rocha, ferida pela luz do sol." 
(Alencar, José de. O guarani)
Descrição Realista
"Imaginem um homem de trinta e oito a quarenta anos, alto, magro e pálido. As roupas, salvo o feitio, pareciam ter escapado ao cativeiro de Babi​lônia; o chapéu era contemporâneo do de Gessler. Imaginem agora uma so​brecasaca, mais larga do que pediam as carnes, ‑ ou, literalmente, os ossos da pessoa; a cor preta ia cedendo o passo a um amarelo sem brilho; o pêlo desaparecia aos poucos; dos oito primitivos botões restavam três. As calças, debrim pardo, tinham duas fortes joelheiras, enquanto as bainhas eram roí​das pelo tacão de um botim sem misericórdia nem graxa. Ao pescoço flutua​vam as pontas de uma gravata de duas cores, ambas desmaiadas, apertando um colarinho de oito dias. Creio que trazia também colete, um colete de seda escura, roto a espaços, a desabotoado." 
(Assis, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas)
Descrição Modernista
"A manhã me viu de pé, no banheiro, contemplando no vaso a curiosa entidade que eu tinha produzido: um objeto cilíndrico, bem formado, de cor saudável, textura fina, superfície lisa, quase acetinada. E tinha, à guisa de olhos, dois grãos de milho.
Flutuava displicentemente, a graciosa criatura. A descarga vazava; a corrente que fluía marulhando orientava‑a ora para o norte, ora para o nor​deste, ora para o sul. De repente virou‑se e ficou boiando de costas. Estava tão bem ali, que vacilei em dar a descarga. Mas não podia deixar sujeira no vaso: apertei o botão." 
(Scliar, Moacyr. O ciclo das águas)
Exemplos de descrições segundo o objeto:
Descrição de Ambiente
"Ali naquela casa de muitas janelas e bandeiras coloridas vivia Rosali​na. Casa de gente de casta, segundo eles antigamente. Ainda conserva a im​ponência e o porte senhorial, o ar solarengo que o tempo de todo não co​meu. As cores das janelas e das portas estão lavadas de velhas, o reboco caído em alguns trechos como grandes placas de ferida, mostra mesmo as pedras e os tijolos e as taipas de sua carne e ossos, feitos para durar toda a vida; vi​dros quebrados nas vidraças, resultado do ataque da meninada nos dias de reinação, quando vinham provocar Rosalina (não de propósito e ruindade, mas sem‑que‑fazer de menino), escondida detrás das cortinas e reposteiros: nos peitoris das sacadas de ferro rendilhado, formando flores estilizadas, se​tas, volutas, esses e gregas, faltam muitas das pinhas de cristal faceitado cor‑de‑vinho que arrematavam nas cantoneiras a leveza daqueles balcões." 
(Dourado, Autran. Ópera dos mortos. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei​ra, 1975, p. 1‑2.)
Descrição de Tipo
"Quando o coronel João Capistrano Honório Cota mandou erguer o so​brado, tinha pouco mais de trinta anos. Mas já era homem sério de velho, re​servado, cumpridor. Cuidava muito dos trajes, da sua aparência medida. O jaquetão de casimira inglesa, o colete de linho atravessado pela grossa cor​rente de ouro do relógio; a calça é que era como a de todos na cidade ‑brim, a não ser em certas ocasiões (batizado, morte, casamento ‑ então era parelho mesmo, por igual), mas sempre muito bem passada, o vinco perfei​to. Dava gosto ver.
O passo vagaroso de quem não tem pressa ‑ o mundo podia esperar por ele, o peito magro estufado, os gestos lentos, a voz pausada e grave, des​cia a rua da Igreja cumprimentando cerimoniosamente, nobremente, os que por ele passavam ou os que chegavam na janela muitas vezes só para vê‑lo​ passar.
Desde longe a gente adivinhava ele vindo: alto, magro, descarnado como uma ave pernalta de grande porte. Sendo assim tão descomunal, podia ser desajeitado: não era, dava sempre a impressão de uma grande e ponde​rada figura. Não jogava as pernas para os lados nem as trazia abertas, esticava‑as feito medisse os passos, quebrando os joelhos em reto.
Quando montado, indo para a sua Fazenda da Pedra Menina, no cava​lo branco ajaezado de couro trabalhado e prata, aí então sim era a grande imponente figura, que enchia as vistas. Parecia um daqueles cavaleiros anti​gos, fugidos do Amadis de Gaula ou do Palmeirim, quando iam para a guer​ra armados cavaleiros."
(Dourado, Autran. Ópera dos Mortos. Rio de Janei​ro: Civilização Brasileira, 1975, p. 9‑1O)
Descrever é fazer viver os pormenores, situações ou pessoas. Evocar o que se vê e o que se sente. É criar o que não se vê, mas se percebe ou imagina. Não copiar friamente, mas deixar rica uma imagem transmitindo sensações fortes.
Narração
A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo apresenta personagens que atuam em um tempo e em um espaço, organizados por uma narração feita por um narrador. É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de um estado para outro, segundo relações de sequencialidade e causalidade, e não simultâneos como na descrição. Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm essa vivência.
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de texto são os verbos de ação. O conjunto de ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de texto recebe o nome de enredo.
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas personagens, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio que está sendo contado. As personagens são identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos próprios.
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem querer) ele acaba contando "onde" (em que lugar)  as ações do enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre uma ação ou ações  é chamado de espaço, representado no texto pelos advérbios de lugar.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer "quando" ocorreram as ações da história. Esse elemento da narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor "como" o fato narrado aconteceu. 
A história contada, por isso, passa por uma introdução (parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o "miolo" da narrativa, também chamada de trama) e termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). Aquele que conta a história é o narrador,  que pode ser pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele...). 
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada.
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a história.
Elementos Estruturais (I):
- Enredo: desenrolar dos acontecimentos.
- Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam e dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por meio de características físicas ou psicológicas. Os personagens podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais (trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis ou anti‑heróis, protagonistas ou antagonistas.
- Narrador: é quem conta a história.
- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico.
- Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo interior, subjetivo.
Elementos Estruturais (II):
Personagens ‑ Quem? Protagonista/Antagonista
Acontecimento ‑ O quê? Fato
Tempo ‑ Quando? Época em que ocorreu o fato
Espaço ‑ Onde? Lugar onde ocorreu o fato
Modo	‑ Como? De que forma ocorreu o fato
Causa	‑ Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato
Resultado - previsível ou imprevisível.
Final - Fechado ou Aberto.
Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se de tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente, como simples exemplos de uma narração. Há uma relação de implicação mútua entre eles, para garantir coerênciae verossimilhança à história narrada.
Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão, obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as personagens ou o fato a ser narrado.
Exemplo:
Porquinho‑da‑índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho‑da‑índía.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
‑ O meu porquinho‑da‑índia foi a minha primeira namorada.
Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110.
Observe que, no texto acima, há um conjunto de transformações de situação: ganhar um porquinho‑da‑índia é passar da situação de não ter o animalzinho para a de tê‑lo; levá‑lo para a sala ou para outros lugares é passar da situação de ele es​tar debaixo do fogão para a de estar em outros lugares; ele não gostava: “queria era estar debaixo do fogão” implica a volta à situação anterior; “não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas” dá a entender que o menino passava de uma situação de não ser terno com o animalzinho para uma situação de ser; no último verso tem‑se a passagem da situação de não ter namorada para a de ter. 
Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande conjunto de mudanças de situação. É isso que define o que se chama o componente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança de estado pela ação de alguma personagem, é uma transformação de situação. Mesmo que essa personagem não apareça no texto, ela está logicamente implícita. Assim, por exemplo, se o menino ganhou um porquinho‑da‑índia, é porque alguém lhe deu o animalzinho.
Assim, há basicamente, dois tipos de mudança: aquele em que alguém recebe alguma coisa (o menino passou a ter o porquinho‑da índia) e aquele alguém perde alguma coisa (o porquinho perdia, a cada vez que o menino o levava para outro lugar, o espaço confortável de debaixo do fogão). Assim, temos dois tipos de narrativas: de aquisição e de privação.
Existem três tipos de foco narrativo:
- Narrador-personagem: é aquele que conta a história na qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa.
- Narrador-observador: é aquele que conta a história como alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a história é contada em 3ª pessoa.
- Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo e as personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece misturada com pensamentos dos personagens (discurso indireto livre).
Estrutura:
- Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá. 
- Complicação: é a parte do texto em que se inicia propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem, conduzindo ao clímax.
- Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento crítico, tornando o desfecho inevitável.
- Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações dos personagens.
Tipos de Personagens:
Os personagens têm muita importância na construção de um texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou secundários, conforme o papel que desempenham no enredo, podem ser apresentados direta ou indiretamente.
A apresentação direta acontece quando o personagem aparece de forma clara no texto, retratando suas características físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando os personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo.
- Em 1ª pessoa:
Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a história e é o protagonista. Exemplo:
“Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra vez e estacava.”
(Machado de Assis. Dom Casmurro)
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar, eu estava lá e vi. Exemplo:
“Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista que fez cancha nos banhados do Ibirocaí.
Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a cruzar os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, na escuridão das noites, na cerração das madrugadas...; ainda que chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como por alma de padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou cruzada!...
(...)
Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele. Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos desde muito tempo. (...)
Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matança dos leitões e no tiramento dos assados com couro.
(J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
- Em 3ª pessoa:
Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa. Exemplo:
“Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fantasiaram de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha de cetim, das asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra, sem máscara piedosa para disfarçar o sentimento impreciso de ridículo.”
(Ilka Laurito. Sal do Lírico)
Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo:
Festa
Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois meninos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos com menos de dez anos.
Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas resolutamente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas desertas.
O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O homem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois pãezinhos.
__ Duzentos e vinte.
O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.
__Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.
__ Como?
__ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gostoso.
O homem olha para os meninos.
__ O preço é o mesmo – informa o rapaz.
__ Está certo.
Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.
O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em seguida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada um. O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira.
Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o primeiro bocado do pão.
O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando criteriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvidos com o sanduíche e a bebida.
Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados naquela mesa.
(Wander Piroli)
Tipos de Discurso:
Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para o personagem, sem a sua interferência. Exemplo:
Caso de Desquite
__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca). Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado. Agora com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha.
__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não me pise, fico uma jararaca.
__ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão.
__ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom? Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar no primeiro mês.
__Você desempregado, quem é que fazia roça?
__ Isso naquele tempo. O hominhoaqui se espalhava. Fui jogado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom?
__ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende?
__ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém morre só. Sempre tem um cristão que enterra o pobre.
__ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher...
__ Eu arranjo.
__ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem dois cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de melhor. Vai me deixar sem nada?
__ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a potranca, deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato de comida e roupa lavada.
__ Para onde foi a lavadeira?
__ Quem?
__ A mulata.
(...)
(Dalton Trevisan – A guerra Conjugal)
Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem diz, sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo:
Frio
O menino tinha só dez anos.
Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde. Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que trazia, afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa errada. (Nos bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que percebesse; e depois?... Que é que diria a Paraná?)
Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as vitrines, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia firme e esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito para nada.
__ Olho vivo – como dizia Paraná.
Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele ia pelas beiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas esquinas. O seu coraçãozinho se apertava.
Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mulher. Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo jardim, pelos escuros da Alameda Cleveland. Ela lhe deu, ele seguiu. Ignorava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente faltava mais ou menos uma hora para chegar em casa. Os bondes passavam.
(João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço)
Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exemplo:
A Morte da Porta-Estandarte
Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços. Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso segurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciência... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambores? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por que não está malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar Rosinha da cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo do País... Abraçá-la no alto de uma colina...
(Aníbal Machado)
Sequência Narrativa:
Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma coordena‑se a outra, uma implica a outra, uma subordina‑se a outra. 
A narrativa típica tem quatro mudanças de situação: 
- uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo); 
- uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma competência para fazer algo); 
- uma em que a personagem executa aquilo que queria ou devia fazer (é a mudança principal da narrativa);
- uma em que se constata que uma transformação se deu e em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens (geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os maus).
Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela efetua‑se porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazê‑la. Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um apartamento: quando se assina a escritura, reali​za‑se o ato de compra; para isso, é necessário po​der (ter dinheiro) e querer ou dever comprar (res​pectivamente, querer deixar de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido despejado, por exemplo).
Algumas mudanças são necessárias para que outras se deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um bambu ou outro instrumento para derrubá‑la. Para ter um carro, é preciso antes conseguir o dinheiro.
Narrativa e Narração
Existe algu​ma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é um componente narrativo que pode existir em textos que não são narrações. A narrativa é a transformação de situações. Por exemplo, quando se diz “Depois da abolição, incentivou‑se a imigração de europeus”, temos um texto dissertativo, que, no entanto, apresenta um componente narrativo, pois contém uma mudança de situa​ção: do não incentivo ao incentivo da imigração européia.
Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto, o que é narração?
A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características:
- é um conjunto de transformações de situação (o texto de Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche essa condição); 
- é um texto figurativo, isto é, opera com perso​nagens e fatos concretos (o texto "Porquinho​-da‑índia" preenche também esse requisito);
- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e posterioridade (no texto "Porquinho‑da‑índia" o fato de ganhar o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fo​gão, que por sua vez é anterior ao de o menino levá‑lo para a sala, que por seu turno é anterior ao de o porquinho‑da-índia voltar ao fogão).
Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance macha​diano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narrador começa contando sua morte para em seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações de anterioridade e de posterioridade.
Resumindo: na narração, as três características explicadas acima (transformação de situações, fi​guratividade e relações de anterioridade e poste​rioridade entre os episódios relatados) devem es​tar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só uma ou duas dessas características não é uma narração.
Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto narrativo:
- Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que aconteceu, quando e onde.
- Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos personagens.
- Desenvolvimento: detalhes do fato.
- Conclusão: consequências do fato.
Caracterização Formal:
Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, porquanto a criação e o colorido do contexto estão em função da individualidade e do estilo do narrador. Dependendo do enfoque do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim é de grande importância saber se o relato é feito em primeira ​pessoa ou terceira pessoa. No primeiro caso, há a participação do narrador; segundo, há uma inferência do último através da onipresença e onisciência.
Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo o aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”. O narrador que usa essa técnica (característica comum no cinema moderno) demonstra maior criatividade e originalidade, podendo observar as ações ziguezagueando no tempo e no espaço.
Exemplo - Personagens
"Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr. Amâncio não viu a mulher chegar.
‑ Não quer que se carpa o quintal, moço?
Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do passado, os olhos)."
(Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mercado Aberto, p. 5O)
Exemplo - Espaço
Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza escura e unifor​me dos seixos. Seria o leito secode algum rio. Não havia, em todo o caso, como negar‑lhe a insipidez."
(Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto Alegre: Movimento, 1981, p. 51)
Exemplo - Tempo
“Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembra‑se: a mulher lhe pediu que a chamasse cedo."
(Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)
Ao longo da nossa vida, vivemos em meio a muitas narrativas. Desde muito cedo, ouvimos histórias de nossas famílias, de como era a cidade ou o bairro há muito tempo atrás; como eram nossos parentes quando mais novos. Ouvimos também histórias de medos, de personagens fantásticos, de sonhos. Enfim, ouvimos, contamos, lemos, assistimos, imaginamos histórias.
Texto 1
“Noite escura, sem céu nem estrelas. Uma noite de ardentia. Estava tremendo. O que seria desta vez? A resposta veio do fundo. Uma enorme baleia, com o corpo todo iluminado, passava exatamente sob o barco, quase tocando-lhe o fundo. Podia ser sua descomunal cauda, de envergadura talvez igual ao comprimento do meu barco, passando por baixo, de um lado, enquanto do outro, seguiam o corpo e a cabeça. Com o seu movimento verde fosforescente iluminando a noite, nem me tocou, e iluminada seguiu em frente. Com as mãos agarradas na borda, estava completamente paralisado por tão impressionante espetáculo— belo e assustador ao mesmo tempo. Acompanhava com os olhos e a respiração seu caminho sob a superfície. Manobrou e voltou-se de novo, e, mesmo maravilhado com o que via, não tive a menor dúvida: voei para dentro, fechei a porta e todos os respiros, e fiquei aguardando, deitado, com as mãos no teto, pronto para o golpe. Suavemente tocou o leme e passou a empurrar o barco, que ficou atravessado a sua frente. Eu procurava imaginar o que ela queria.
(Klink, Amir. "Cem dias entre céu e mar". Rio de Janeiro: José Olympio, 1986)
Texto 2
A lebre e a tartaruga
A lebre estava se vangloriando de sua rapidez, perante os outros animais: “Nunca perco de ninguém. Desafio a todos aqui a tomarem parte numa corrida comigo.”
“Aceito o desafio!”, disse a tartaruga calmamente. “Isto parece brincadeira. Poderia dançar à sua volta, por todo o caminho”, respondeu a lebre.
“Guarde sua presunção até ver quem ganha”, recomendou a tartaruga.
A um sinal dado pelos outros animais, as duas partiram. A lebre saiu a toda velocidade. Mais adiante, para demonstrar seu desprezo pela rival, deitou-se e tirou uma soneca. A tartaruga continuou avançando, com muita perseverança. Quando a lebre acordou, viu-a já pertinho do ponto final e não teve tempo de correr, para chegar primeiro.
Moral: Com perseverança, tudo se alcança.
Comentário:
- o texto mostra, através de um relato de experiência vivida, cenas da memória do famoso navegador brasileiro - Amir Klink, autor de vários livros sobre suas viagens;
- o texto 2 conta uma história de animais - fábula - que ilustra um comportamento humano e cuja finalidade é dar um ensinamento a respeito de certas atitudes das pessoas.
Podemos afirmar que os dois textos têm em comum os seguintes aspectos:
- acontecimento, fato, situação (ou "o que aconteceu" e "como aconteceu")
- personagem (ou "com quem aconteceu")
- espaço, tempo (ou o "onde" e "quando aconteceu")
- narrador (ou "quem está contando")
Ambos os textos são narrativas, mas com uma diferença: o primeiro é uma narrativa não ficcional, porque traz uma história vivida e relatada por uma pessoa. O segundo é uma narrativa ficcional, em que um autor cria no mundo da imaginação, uma história narrada por um narrador e vivida por seus personagens.
Para a distinção entre narrativa ficcional e não ficcional ficar mais clara, é bom lembrar, por exemplo, que a notícia de jornal é também uma narrativa de não ficção, pois relata fatos da realidade que mereçam ser divulgados.
Tipologia da Narrativa Ficcional:
- Romance
- Conto
- Crônica
- Fábula
- Lenda
- Parábola
- Anedota
- Poema Épico
Tipologia da Narrativa Não‑Ficcional:
- Memorialismo
- Notícias
- Relatos
- História da Civilização
Apresentação da Narrativa:
- visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em quadrinhos) e desenhos.
- auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos.
- audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas.
Exemplos de Textos Narrativos:
Conto: é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total: o conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade. Ao escritor de contos dá-se o nome de contista. Exemplo:
A noite em que os hotéis estavam cheios
O casal chegou à cidade tarde da noite. Estavam cansados da viagem; ela, grávida, não se sentia bem. Foram procurar um lugar onde passar a noite. Hotel, hospedaria, qualquer coisa serviria, desde que não fosse muito caro. 
Não seria fácil, como eles logo descobriram. No primeiro hotel o gerente, homem de maus modos, foi logo dizendo que não havia lugar. No segundo, o encarregado da portaria olhou com desconfiança o casal e resolveu pedir documentos. O homem disse que não tinha, na pressa da viagem esquecera os documentos.
— E como pretende o senhor conseguir um lugar num hotel, se não tem documentos? — disse o encarregado. — Eu nem sei se o senhor vai pagar a conta ou não!
O viajante não disse nada. Tomou a esposa pelo braço e seguiu adiante. No terceiro hotel também não havia vaga. No quarto — que era mais uma modesta hospedaria — havia, mas o dono desconfiou do casal e resolveu dizer que o estabelecimento estava lotado. Contudo, para não ficar mal, resolveu dar uma desculpa:
— O senhor vê, se o governo nos desse incentivos, como dão para os grandes hotéis, eu já teria feito uma reforma aqui. Poderia até receber delegações estrangeiras. Mas até hoje não consegui nada. Se eu conhecesse alguém influente... O senhor não conhece ninguém nas altas esferas?
O viajante hesitou, depois disse que sim, que talvez conhecesse alguém nas altas esferas.
— Pois então — disse o dono da hospedaria — fale para esse seu conhecido da minha hospedaria. Assim, da próxima vez que o senhor vier, talvez já possa lhe dar um quarto de primeira classe, com banho e tudo.
O viajante agradeceu, lamentando apenas que seu problema fosse mais urgente: precisava de um quarto para aquela noite. Foi adiante.
No hotel seguinte, quase tiveram êxito. O gerente estava esperando um casal de conhecidos artistas, que viajavam incógnitos. Quando os viajantes apareceram, pensou que fossem os hóspedes que aguardava e disse que sim, que o quarto já estava pronto. Ainda fez um elogio. 
— O disfarce está muito bom. Que disfarce? Perguntou o viajante. Essas roupas velhas que vocês estão usando, disse o gerente. Isso não é disfarce, disse o homem, são as roupas que nós temos. O gerente aí percebeu o engano: 
— Sinto muito — desculpou-se. — Eu pensei que tinha um quarto vago, mas parece que já foi ocupado. 
O casal foi adiante. No hotel seguinte, também não havia vaga, e o gerente era metido a engraçado. Ali perto havia uma manjedoura, disse, por que não se hospedavam lá? Não seria muito confortável, mas em compensação não pagariam diária. Para surpresa dele, o viajante achou a idéia boa, e até agradeceu. Saíram. 
Não demorou muito, apareceram os três Reis Magos, perguntando por um casal de forasteiros. E foi aí que o gerente começou a achar que talvez tivesse perdido os hóspedes mais importantes já chegados a Belém de Nazaré.
("A Massagista Japonesa", "Contos para um Natal brasileiro", 
Editora Relume: IBASE — Rio de Janeiro, 1996, p. 09.)
Crônica: é uma narração, segundo a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos noticiários dos jornais, comentários literários ou científicos, que preenchem periodicamente as páginas de um jornal. Exemplo:
Escuta
"Já que está se falando tanto em aparelhos de escuta, imagine se existisse um aparelho capazde captar do ar tudo que já foi dito pela raça humana desde os seus primeiros grunhidos. Nossas palavras provocam ondas sonoras que se alastram e quem nos assegura que elas não continuam no ar, dando voltas ao mundo, junto com as palavras dos outros, para sempre? Como não parece existir fronteiras para a técnica moderna, o aparelho certamente se sofisticaria em pouco tempo e logo poderíamos captar a época que quiséssemos e isolar palavras, frases, discursos inteiros, inclusive identificando o seu lugar de origem. Sintonizar o Globe Theater de Londres e ouvir as palavras de Shakespeare ditas por atores da época elizabetana, com intervenções do ponto e comentários da platéia, por exemplo. Ouvir, talvez, o próprio Shakespeare falando. Ou tossindo, já que todos os sons que emitimos? espirros, gemidos, puns também continuariam no ar para serem ouvidos. O grito do Ipiranga. Discursos do Rui Barbosa. O silêncio do Maracanã quando o Uruguai marcou o segundo gol. As grandes frases da humanidade, na voz do próprio autor! Descobriríamos que Alexandre, o Grande, tinha voz fina, que Napoleão era linguinha, que a primeira coisa que Cabral disse ao chegar ao Brasil foi "Diabos, enxarquei as botas"...
As pessoas se reuniriam para sintonizar o passado, à procura de vozes conhecidas e frases famosas.
"Se for para o bem de todos e a felicidade geral da nação, diga ao povo que..."? Isso não interessa. Muda. "Gugu"? Espera! Essa voz não me é estranha... "Dadá"? Sou eu, quando era bebê! Aumenta, aumenta! É verdade que não haveria como identificar vozes famosas, dizendo coisas banais. Aquela frase, captada numa rua de Atenas? "Aparece lá em casa, e leva a patroa"? pode muito bem ter sido dita por Péricles. Aquela outra "Um pouquinho mais para cima... Aí, aí! agora coça!" pode ter sido dita por Madame Currie para o marido. Ou por Max para Engels. E não se deve esquecer que algumas das coisas mais bonitas ditas pelo homem através da História foram ditas baixinho, no ouvido de alguém, e não causaram ondas. Da próxima vez que disser alguma coisa que valha a pena no ouvido de alguém, portanto, grite. Você pode estar rompendo um caso de amor, e talvez um tímpano, mas estará falando para a posteridade. 
[...]"
(Veríssimo, Luís Fernando. Jornal do Brasil, 27/O9/98, p. 11)
Fábula: é uma narrativa figurada, na qual são animais que ganham características humanas. Sempre contém um moral por sustentação, constatada no final da história. É um gênero muito versátil, pois permite diversas maneiras de se abordar determinado assunto. É muito interessante para crianças, pois permite que elas sejam ensinadas dentro de preceitos morais sem que percebam. Exemplo:
O Lobo e o Cordeiro
A razão do mais forte é a que vence no final (nem sempre o Bem derrota o Mal).
 
Um cordeiro a sede matava 
nas águas limpas de um regato. 
Eis que se avista um lobo que por lá passava 
em forçado jejum, aventureiro inato, 
e lhe diz irritado: - "Que ousadia 
a tua, de turvar, em pleno dia, 
a água que bebo! Hei de castigar-te!" 
- "Majestade, permiti-me um aparte" - 
diz o cordeiro. - "Vede 
que estou matando a sede 
água a jusante, 
bem uns vinte passos adiante 
de onde vos encontrais. Assim, por conseguinte, 
para mim seria impossível 
cometer tão grosseiro acinte." 
- "Mas turvas, e ainda mais horrível
foi que falaste mal de mim no ano passado. 
- "Mas como poderia" - pergunta assustado 
o cordeiro -, "se eu não era nascido?"
- "Ah, não? Então deve ter sido
teu irmão." - "Peço-vos perdão 
mais uma vez, mas deve ser engano, 
pois eu não tenho mano." 
- "Então, algum parente: teus tios, teus pais. . . 
Cordeiros, cães, pastores, vós não me poupais;
por isso, hei de vingar-me" - e o leva até o recesso 
da mata, onde o esquarteja e come sem processo. 
La Fontaine
Lenda: é uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos. De caráter fantástico e/ou fictício, as lendas combinam fatos reais e históricos com fatos irreais que são meramente produto da imaginação aventuresca humana. Com exemplos bem definidos em todos os países do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Podemos entender que lenda é uma degeneração do Mito. Como diz o dito popular "Quem conta um conto aumenta um ponto", as lendas, pelo fato de serem repassadas oralmente de geração a geração, sofrem alterações à medida que vão sendo recontadas. Exemplo:
Boi Tatá
É um Monstro com olhos de fogo, enormes, de dia é quase cego, à noite vê tudo. Diz a lenda que o Boitatá era uma espécie de cobra e foi o único sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra. Para escapar ele entrou num buraco e lá ficou no escuro, assim, seus olhos cresceram.
Desde então anda pelos campos em busca de restos de animais. Algumas vezes, assume a forma de uma cobra com os olhos flamejantes do tamanho de sua cabeça e persegue os viajantes noturnos. Às vezes ele é visto como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para outro da mata. No Nordeste do Brasil é chamado de "Cumadre Fulôzinha". Para os índios ele é "Mbaê-Tata", ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios.
Dizem ainda que ele é o espírito de gente ruim ou almas penadas, e por onde passa, vai tocando fogo nos campos. Outros dizem que ele protege as matas contra incêndios.
A ciência diz que existe um fenômeno chamado Fogo-fátuo, que são os gases inflamáveis que emanam dos pântanos, sepulturas e carcaças de grandes animais mortos, e que visto de longe parecem grandes tochas em movimento.
Parábola: narrativa curta ou apólogo, muitas vezes erroneamente definida também como fábula. Sua característica é ser protagonizada por seres humanos e possuir sempre uma razão moral que pode ser tanto implícita como explícita. Ao longo dos tempos vem sendo utilizada para ilustrar lições de ética por vias simbólicas ou indiretas. Narração figurativa na qual, por meio de comparação, o conjunto dos elementos evoca outras realidades, tanto fantásticas, quanto reais. Exemplo:
O Filho Pródigo
“Um certo homem tinha dois filhos. E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda. E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua e ali desperdiçou a sua fazenda, vivendo dissolutamente. E, havendo ele gastado tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a padecer necessidades. E foi e chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para os seus campos a apascentar porcos. E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço, e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se. E o seu filho mais velho estava no campo; e, quando veio e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo. E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou e não queria entrar. E, saindo o pai, instava com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgrediro teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas. Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado”
 (Evangelho Lucas 15:11-32)
 
Erros Comuns na Narração:
- Uso e mau uso das palavras: Sabe-se muito bem que as palavras funcionam como matéria-prima para a construção de qualquer texto. Um defeito que um bom texto jamais deverá apresentar é a repetição de palavras sem fins estilísticos. Claro que não estamos falando de repetições intencionais como as anáforas, por exemplo, mas daquele tipo que desgasta a narrativa e empobrece, inclusive, seus significados. Exemplo: 
"A menina esteve sentada ali durante toda à tarde. Coitada da menina, não sabia que a consulta duraria tanto e que sua mãe ficaria, então, preocupada. A menina pediu para telefonar e falou com a mãe, explicando-lhe a demora." 
Procure substituir os nomes por pronomes quando perceber que você repetiu muito a mesma palavra.
 
- Uso de clichês: Entendendo-se como clichê as repetições de expressões, ideias ou palavras que, pelo uso constante e popularizado, nada mais significam. Exclua de sua redação narrativa as expressões: "lindo dia de sol", "abraço cheio de emoção", "beijo doce", "ao pôr-do-sol", "faces rosadas", "inocente criança", "Num belo domingo de Primavera...", "família unida", "uma grande salva de palmas", "paixão intensa". 
Estes são apenas alguns exemplos. E depende da sensibilidade de cada um para captar os desgastes que as palavras e expressões possuem.
 
- Falta de coerência interna: Levando-se em conta que uma narrativa é uma sucessão de acontecimentos que ocorrem em tempo e espaço determinados, que envolvem ações feitas e recebidas pelas personagens, é interessante que jamais percamos a coerência interna. Precisamos ter atenção na construção do texto narrativo, a fim de que ele não perca suas qualidades de completude. Deixar pelo caminho situações mal desenvolvidas, circunstâncias mal nomeadas ou esclarecidas dão sempre a ideia de desatenção, pressa ou falta de cuidado com a tessitura do texto. Ele deve sempre parecer um todo verossímil, capaz de convencer quem o leia. Imitação da vida ou ultra-realidade, o texto não pode, a não ser por escolha do autor, como estilo, parecer frágil em alguns aspectos, sem resistência de continuidade. 
Mesmo que o tempo seja "cortado" e nele se insiram os flashback, não permita que ele se fragmente e esses fragmentos esgarcem a compreensão do que você imprimiu à sua história. Lembre-se de que a narrativa é como uma vida, um trecho dela: há circunstâncias que, se retiradas, fazem-na tornar-se incompleta ou superficial.
 
- Ausência de características das personagens: Quando construímos a personagem ou personagens, sabemos que elas devem parecer verdadeiras, criaturas assemelhadas que são aos humanos. Mesmo numa fábula ou num apólogo, em que animais ou coisas são personificados, há uma tendência de caracterizá-las como criaturas do mundo real. Uma personagem, sobretudo a protagonista, deve ter traços fortes, típicos, particulares. Se você criá-las sem características específicas, não há como ressaltar-lhe os atos e tomá-los significativos na sequência da narração. Uma boa personagem tem um cacoete qualquer; uma cor de olhos, tiques, manias, gestos (passar a mão no cabelo, estalar os dedos ou balançar a cabeça de um lado para o outro.)
 
- Ausência de características espaciais: Caracterização do espaço onde ocorrem as ações. Muitas vezes, ele sequer existe, como no trecho: "Enquanto lá fora chovia intensamente, as crianças pulavam aos berros sobre o sofá da sala." 
Quando o corretor lê isso, sem mais nenhuma indicação posterior, o que pode imaginar é um sofá no meio do nada e três crianças pulando sobre ele... uma janela dependurada e lá fora a chuva intensa... Este aspecto é tão importante que, frequentemente, revela estados de espírito, características psicológicas e intelectuais das personagens. Não seja excessivamente minucioso, aborde aspectos. Por exemplo: numa narrativa de terror ou suspense, em que uma determinada cena vai se desenvolver no sótão; ou no porão, é imprescindível que você, em dado momento, indique e descreva os caminhos que conduzem a tais lugares.
 
- Uso reiterado de adjetivos: Exemplo: "Numa linda, perfeita, maravilhosa, fantástica e ensolarada manhã de primavera brasileira, aquela extraordinária jovem de cabelos longos, negros e volumosos abriu a ampla janela para o belíssimo e perfeito jardim..." 
É evidente que, ao descrever uma personagem ou o ambiente em que ela se encontra, precisaremos da ajuda de adjetivos; mas saiba priorizá-los no uso, evitando abundância desnecessária. Uso ampliado de adjetivos também desgasta (como no exemplo acima).
- Escrita circular: Rigorosamente, não há tamanho exato para nenhum tipo de texto, muito menos os narrativos. Mas convém não ultrapassar 40 ou 50 linhas para que não incorramos num erro muito significativo: escrever "circularmente", ou seja, repetir, infinitamente repetir, ao redor do mesmo tema, a mesma história ou argumentos como uma espécie de bêbado que fala sempre a mesma coisa. Escrever circularmente é como andar em círculos, sem que possamos sair do lugar, investindo em algo que é importante para qualquer narrativa: as ações novas que se encadeiam, a peripécia dos acontecimentos, a sequência que nos permita um bom fecho. Antes de começar a escrever, faça um breve roteiro (não é um resumo) sobre como quer que a história se desenvolva. Ajuda muito e nos auxilia a não nos perdermos em descaminhos.
 
- Começo, meio e fim: Muita gente, quando escreve, imagina que, para ser compreendido, é preciso ser didático. Não acredite nisso. Uma pergunta que se faz muito ao intentar um texto narrativo é se ele pode terminar em "aberto", ou seja, apenas com a sugestão de fecho, aceitando a interferência, a interação com o leitor que pode, de acordo com suas vivências e experiências, "fechá-lo" à sua maneira. Isso é uma boa dica, acredite, para fazer melhor o seu texto. Experimente, por exemplo, começá-lo pelo clímax, assim você rompe o lugar comum e chama mais a atenção do seu corretor.
 
- Esquecendo uma personagem: Antes de começar o seu texto, lembre-se de ler com atenção todas as recomendações do enunciado e não se esquecer de qualquer recomendação. Sobretudo quando se trata de criar um determinado tipo de personagem. Se o enunciado pedir a você que crie um detetive, uma mulher que lê mãos, um homem misterioso de chapéu, tais pedidos, certamente, fazem parte fundamental do que se pretende da narrativa. Pior do que isso é começar a narrar e, após citar uma personagem, esquecê-la, deixá-la de lado, não trazê-la ao fio da história para que se desenvolva plenamente. "Esquecer" uma personagem é ato narrativo imperdoável.
 
- Esquecendo uma ação: Nada pior que esquecer uma ação exigida pelo enunciado. Quando ele pede um determinado componente acional, melhor prestar muita atenção e dar um contorno de relevância a isso. Normalmente, o enunciado destaca o que pede como imprescindível. E antes de passar a limpo a redação, vá ao rol de exigências e confira se cumpriu todos os itens. Há duas coisas que dão nota zero na hora de elaborar o texto: fugir do modal, trocá-lo (pede-se, por exemplo, uma narração e você faz uma dissertação..). A outra é esquecer os itens do enunciado, descumpri-los ou relegar exigências fundamentais a circunstâncias secundárias.
Dissertação
A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema. Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, clareza, coerência, objetividade na exposição,um planejamento de trabalho e uma habilidade de expressão.
É em função da capacidade crítica que se questionam pontos da realidade social, histórica e psicológica do mundo e dos semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu significado diz respeito a um tipo de texto em que a exposição de uma ideia, através de argumentos, é feita com a finalidade de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou artístico.
Exemplo:
Há três métodos pelos quais pode um homem che​gar a ser primeiro‑ministro. O primeiro é saber, com prudência, como servir‑se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, com zelo fu​rioso, contra a corrupção da corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que se valem do último des​ses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes à vontade e às pai​xões do amo. Tendo à sua disposição todos os cargos, conservam‑se no poder esses ministros subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei), garantem‑se contra futuras prestações de contas e retiram‑se da vida pública carregados com os despojos da nação.
	Jonathan Swift. Viagens de Gulliver.
São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234‑235.
Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem chega a ser primeiro‑ministro, acon​selha o príncipe discreto a escolhê‑lo entre os que clamam contra a corrupção na corte e justifica es​se conselho.
Observe‑se que:
- o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro‑ministro, mas do homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder);
- existe mudança de situação no texto (por exem​plo, a mudança de atitude dos que clamam con​tra a corrupção da corte no momento em que se tornam primeiros‑ministros);
- a progressão temporal dos enunciados não tem importância, pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a corrupção da cor​te implica ser corrupto depois da nomeação para primeiro‑ministro).
Características:
- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático;
- como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação;
- ao contrário do texto narrativo, nele as rela​ções de anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior importância ‑ o que importa são suas relações lógicas: analo​gia, pertinência, causalidade, coexistência, correspondência, implicação, etc.
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem características próprias a cada tipo de texto.
  
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento / Conclusão.
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento. Tipos:
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos. Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” 
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana, cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população brasileira.” 
- Proposição: o autor explicita seus objetivos.
- Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse momento!
- Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex: “É importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a solução no combate à insegurança.”
- Características: caracterização de espaços ou aspectos. 
- Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: “Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). (...)”
- Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato. 
- Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder, escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.”
- Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que compõem o texto. 
- Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo futebol não é uma prova de alienação?”
- Suspense: alguma informação que faça aumentar a curiosidade do leitor. 
- Comparação: social e geográfica. 
- Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira doença do século...”
- Narração: narrar um fato. 
Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais importante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas:
- Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com este tipo de abordagem.
- Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a idéia principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a definição.
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações distintas.
- Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos favoráveis e desfavoráveis.
- Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou descrever uma cena.
- Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatísticos.
- Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para prováveis resultados.
- Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve apresentar questionamento e reflexão.
- Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, valores, juízos.
- Causa e Consequência: estruturar o texto através dos porquês de uma determinada situação.
- Oposição: abordar um assunto de forma dialética.
- Exemplificação: dar exemplos.
Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fechamento integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem todas as ideias anteriormente desenvolvidas.
- Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
- Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de quem lê.
Exemplo:
Direito de Trabalho
Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um novo modelo econômico: o capitalismo, que até o século XX agia por meio da inclusão de trabalhadores e hoje passou a agir por meio da exclusão. (A)
A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo o trabalho automático, devido à evolução tecnológica e a necessidade de qualificação cada vez maior, o que provoca o desemprego. Outro fator que também leva ao desemprego de um sem número de trabalhadores é a contenção de despesas, de gastos. (B)
Segundo a Constituição, “preocupada” com essa crise social que provém dessa automatização e qualificação, obriga que seja feita uma lei, em que será dada absoluta garantia aos trabalhadores, de que, mesmo que as empresas sejam automatizadas, não perderão eles seu mercado de trabalho. (C)
Não é uma utopia?!
Um exemplo vivo são os bóias-frias que trabalham na colheita da cana de açúcar que devido ao avanço tecnológico e a lei do governador Geraldo Alkmin, defendendo o meioambiente, proibindo a queima da cana de açúcar para a colheita e substituindo-os então pelas máquinas, desemprega milhares deles. (D)
Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão cursos de cabeleleiro, marcenaria, eletricista, para não perderem o mercado de trabalho, aumentando, com isso, a classe de trabalhos informais.
Como ficam então aqueles trabalhadores que passaram à vida estudando, se especializando, para se diferenciarem e ainda estão desempregados?, como vimos no último concurso da prefeitura do Rio de Janeiro para “gari”, havia até advogado na fila de inscrição. (E)
Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos têm o direito de trabalho, cabe aos governantes desse país, que almeja um futuro brilhante, deter, com urgência esse processo de desníveis gritantes e criar soluções eficazes para combater a crise generalizada (F), pois a uma nação doente, miserável e desigual, não compete a tão sonhada modernidade. (G)
1º Parágrafo – Introdução
A. Tema: Desemprego no Brasil.
Contextualização: decorrência de um processo histórico problemático.
2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento
B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que remetem a uma análise do tema em questão.
C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da realidade. 
D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de quem propõe soluções.
E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.
7º Parágrafo: Conclusão
F. Uma possível solução é apresentada.
G. O texto conclui que desigualdade não se casa com modernidade.
É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos recursos que permite uma segurança maior no momento de dissertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são atitudes que favorecem o senso crítico, essencial no desenvolvimento de um texto dissertativo.
Ainda temos:
Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o assunto que vai ser abordado.
Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo discutido.
Argumentação: é um conjunto de procedimentos linguísticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma determinada tese.
Estes assuntos serão vistos com mais afinco posteriormente.
Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são:
- toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade de pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação;
- em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema;
- a coerência é tida como regra de ouro da dissertação;
- impõem-se sempre o raciocínio lógico;
- a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer ambiguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração do que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original, nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve ser impessoal (evitar-se o uso da primeira pessoa).
O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar: uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou mais frases que explicitem tal ideia.
Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada (ideia central) porque oculta os problemas sociais realmente graves. (ideia secundária)”.
Vejamos:
Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida urgentemente.
Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser combatida urgentemente, pois a alta concentração de elementos tóxicos põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo daquelas que sofrem de problemas respiratórios:
- A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado muita gente ao vício.
- A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação criados pelo homem.
- A violência tem aumentado assustadoramente nas cidades e hoje parece claro que esse problema não pode ser resolvido apenas pela polícia.
- O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise atualmente.
- O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a sociedade brasileira.
O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras:
Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de características, funções, processos, situações, sempre oferecendo o complemente necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. Pode-se enumerar, seguindo-se os critérios de importância, preferência, classificação ou aleatoriamente.
Exemplo:
1- O adolescente moderno está se tornando obeso por várias causas: alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos e demasiada permanência diante de computadores e aparelhos de Televisão.
2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o número de emissoras que dedicam parte da sua programação à veiculação de programas religiosos de crenças variadas.
3-
- A Santa Missa em seu lar.
- Terço Bizantino.
- Despertar da Fé.
- Palavra de Vida.
- Igreja da Graça no Lar.
4-
- Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o governo brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilíbrios sociológicos e poluição.
- Existem várias razões que levam um homem a enveredar pelos caminhos do crime.
- A gravidez na adolescência é um problema seríssimo, porque pode trazer muitas consequências indesejáveis.
- O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua sobrevivência no mundo atual e vários são os tipos de lazer.
- O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em várias categorias.
Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através da comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e apresenta-lhes a semelhança ou dessemelhança.
Exemplo: 
“A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”. 
(Arthur Schopenhauer)
Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes, encontra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato motivador) e, em outras situações, um segmento indicando consequências (fatos decorrentes).
Exemplos: 
- O homem, dia a dia, perde a dimensão de humanidade que abriga em si, porque os seus olhos teimam apenas em ver as coisas imediatistas e lucrativas que o rodeiam.
- O espírito competitivo foi excessivamente exercido entre nós, de modo que hoje somos obrigados a viver numa sociedade fria e inamistosa.
Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos.
Exemplos: 
Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma lenta evolução. Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. Depois deu um significado a cada grunhido. Muito depois, inventou a escrita e só muitos séculos mais tarde é que passou à comunicação de massa.
Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas úmidos, os solos são profundos. Existe nessas regiões uma forte decomposição de rochas, isto é, uma forte transformação da rocha em terra pela umidade e calor. Nas regiões temperadas e ainda nas mais frias, a camada do solo é pouco profunda. (Melhem Adas)
Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se conceituar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais compreensíveis.
Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na ligação entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém sangue vermelho-vivo, recém oxigenado. Na artéria pulmonar, porém, corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o coração remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar gás carbônico”.
Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve delimitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a partir das seguintes ideias:
- A violência contra os povos indígenas é uma constante na história do Brasil.
- O surgimento de várias entidadesde defesa das populações indígenas.
- A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio brasileiro.
- A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena.
Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve fazer a estruturação do texto.
A estrutura do texto dissertativo constitui-se de:
Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida (geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para dois itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvolvimento. Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de análise e a hipótese ou a tese a ser defendida.
Desenvolvimento: exposição de elementos que vão fundamentar a ideia principal que pode vir especificada através da argumentação, de pormenores, da ilustração, da causa e da consequência, das definições, dos dados estatísticos, da ordenação cronológica, da interrogação e da citação. No desenvolvimento são usados tantos parágrafos quantos forem necessários para a completa exposição da ideia. E esses parágrafos podem ser estruturados das cinco maneiras expostas acima.
Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação (um parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o objetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da argumentação básica empregada no desenvolvimento.
Observe o texto abaixo:
Vida ou Morte
Introdução
A grande produção de armas nucleares, com seu incrível potencial destrutivo, criou uma situação ímpar na história da humanidade: pela primeira vez, os homens têm nas mãos o poder de extinguir totalmente a sua própria raça da face do planeta.
Desenvolvimento 
A capacidade de destruição das novas armas é tão grande que, se fossem usadas num conflito mundial, as consequências de apenas algumas explosões seriam tão extensas que haveria forte possibilidade de se chegar ao aniquilamento total da espécie humana. Não haveria como sobreviver a um conflito dessa natureza, pois todas as regiões seriam rapidamente atingidas pelos efeitos mortíferos das explosões.
Conclusão
 
Só resta, pois, ao homem uma saída: mudar essa situação desistindo da corrida armamentista e desviando para fins pacíficos os imensos recursos econômicos envolvidos nessa empreitada suicida. Ou os homens aprendem a conviver em paz, em escala mundial, ou simplesmente não haverá mais convivência de espécie alguma, daqui a algum tempo.
(Texto adaptado do artigo “Paz e corrida armamentista” in Douglas Tufano, p. 47)
Na introdução, o autor apresenta o tema (desenvolvimento científico levou o homem a produzir bombas que possibilitam a destruição total da humanidade), no desenvolvimento, ele expõe os argumentos que apóiam a sua afirmação inicial e na conclusão, conclui o seu pensamento inicial, com base nos argumentos.
Na dissertação, pode-se construir frases de sentido geral ou de sentido específico, particular. Às vezes, uma afirmação de sentido geral pode não ser inaceitável, mas se for particularizada torna-se aceitável. 
Exemplo: 
É proibido falar ao telefone celular. (sentido geral) 
É proibido falar ao telefone celular dirigindo. (sentido específico)
Quando o autor se preocupa principalmente em expor suas ideias a respeito do tema abordado, fica claro que seu objetivo é fazer com que o leitor concorde com ele. Nesse caso, tem-se a dissertação argumentativa Para que a argumentação seja eficiente, o raciocínio deve ser exposto de maneira lógica, clara e coerente.
O autor de uma dissertação deve ter sempre em mente, as possíveis reações do leitor e por isso, deve-se considerar todas as possíveis contra-argumentações, a fim de que possa “cercar” o leitor no sentido de evitar possíveis desmentidos da tese que se está defendendo. As evidências são o melhor argumento.
Os principais autores de redação em língua portuguesa no Brasil sugerem os conhecidos esquemas de acordo com cada tipo de texto. Seguir as instruções de introdução dá ao candidato o ponto pertinente.
Gênero textual: Este quesito contempla a adequação ao gênero em foco. Por exemplo, caso o candidato se exprima, em uma dissertação, com subjetividade, própria de textos literários como a narração e a descrição, perderá pontos.
Esquema: Cada tipo de texto requer esquema próprio. A utilização correta de um esquema vale ponto na prova. Leia com atenção e siga todos os passos a seguir.
Quanto à introdução, Hildebrando A. de André (1998, p.67) sugere frase‑síntese acrescida de tópicos frasais do segundo e terceiro parágrafos.
Por sua vez, Branca Granatic (1996, p.80) aborda a redação dividida em esquemas, independentemente da tipologia textual.
Esquema 1
- Introdução: expressão inicial (facultativa) + tema com objetivo + citação dos argumentos 1, 2 e 3.
- Desenvolvimento do argumento 1
- Desenvolvimento do argumento 2
- Desenvolvimento do argumento 3
- Conclusão: expressão conclusiva (facultativa) + tema com objetívo + observação final (impessoal, positiva, otimista, que solucione o problema e apresente viés humanístíco).
Em primeiro lugar, leia o(s) texto(s) apresentado(s) na prova várias vezes, até sua perfeita compreensão. Lembre‑se de que não há necessariamente relação direta dos textos com o tema. A seguir, identifique o tema, caso este não tenha sido explicitado. Depois, crie seu objetivo, ou seja, sem fugir do tema, posicione‑se. Alguns autores chamarão o tema com o objetivo de tese. Por fim, de acordo com seu posicionamento e sem fugir do tema, busque dois ou três argumentos para desenvolver a redação. 
Exemplos:
 
Tema: Sexo antes do casamento.
Objetivo: Apresentar visões favoráveis ao sexo antes do casamento.
Argumentos: 
(1) Maior conhecimento íntimo do parceiro; 
(2) Novo conceito de liberdade; 
(3) Ruptura da ideologia vigente.
Tema: Problema hídrico no Distrito Federal.
Objetivo: Mostrar a real e trágica situação e apresentar soluções.
Argumentos: 
(1) A construção de poços artesianos sem nenhuma fiscalização e planejamento em condomínios irregulares; 
(2) A conivência do GDF; 
(3) A construção de uma nova barragem (Corumbá 4) para abastecimento de água do DF e entorno.
Tema: MST
Objetivo: Apresentar a existência de várias correntes dentro do MST e suas posições.
Argumentos: 
(1) Propostas de reforma agrária pelas quais eles lutam; 
(2) Posição das correntes mais radicais; 
(3) Soluções do governo ao MST.
Sugestões extraídas da coluna Língua Solta, de Dad Squarisi, do jornal Correio Braziliense.
Assunto: Velhice		
Leitor: Grupo de pessoas com idade entre 60 e 65 anos.
Delimitação do assunto: O perigo da ociosidade na velhice.
Objetivo: Apresentar sugestões de atividades capazes de prevenir a ociosidade na velhice.
	Ideias do desenvolvimento: 
(1) A aposentadoria do trabalho não significa aposentadoria de mãos, pés e cabeça; 
(2) Há muitas ofertas de atividades para pessoas que já passaram dos 60 anos: grupos de estudo, viagens, cerâmica, contadores de histórias; 
(3) Atividade física é importante, mas não deve ser vista como tortura. Escolha a que mais lhe dá prazer: caminhada, musculação, hidroginástica, natação.
Assunto: Falar em público.
Leitor: Alunos do curso de expressão oral.
Delimitação do assunto: Falar bem é dom ou habilidade aprendida?
Objetivo: Demonstrar que, com treino, qualquer pessoa pode falar em público com desenvoltura e sem medo.
Ideias do desenvolvimento: 
(1) Falar, como escrever, é habilidade ‑ melhorar depende de treino;
(2) Exemplo de pessoas que, graças ao treino, venceram as dificuldades. O principal deles: Demóstenes, pai da Oratória. Ele venceu até a gagueira; 
(3) Como melhorar a expressão oral.
Após considerar todas essas etapas, é possível começar a redação.
Comece o primeiro parágrafo com uma expressão inicial (adverbial) que não seja óbvia. Por exemplo,a palavra "atualmente" é muito óbvia na introdução, usada por diversas pessoas. Por esse motivo, use alguma expressão que aluda a seu objetivo e argumentação. Em seguida, cite o tema e seu objetivo previamente elaborado. 
Lembre‑se: nada de copiá‑lo; reescreva‑o com outras palavras. Isso também vale em relação a seus argumentos, que devem apenas ser citados, e não desenvolvidos ou explicitados. Tudo em um único parágrafo, curto, de três a cinco linhas.
Nos próximos três parágrafos, desenvolva seus três argumentos. Para tal, siga a ordem de sua introdução, abordando cada argumento em um parágrafo. Lembre‑se de que a tese será desenvolvida exatamente agora; por isso, é preciso convencer o leitor de seu ponto de vista sobre o tema e, oportunamente, dar explicações, desenvolver cada argumento.
Esta é a reta final. Isso significa que você deve continuar atento(a) ao regramento da redação dissertativa, que também tem suas especificidades quanto à conclusão do texto. Por isso, comece com uma expressão conclusiva que não seja óbvia como "portanto", "assim", "dessa forma".
Não inicie frase com gerúndio. Aliás, em todo o texto, o gerúndio só cabe após uma vírgula ou no meio de uma construção não virgulada (não utilize de maneira nenhuma "concluindo", por exemplo). Empregue algumas palavras que denotem finalização (sem se valer de chavões), preferencialmente relacionadas ao tema ou à argumentação. 
Exemplos: "Com base nos dados acima explicitados", "Sob o foco da argumentação anterior". E não se esqueça de utilizar a vírgula, caso venha antes do verbo, como já sugerido.
Cite, em seguida, o tema e o objetivo, com outras palavras, fazendo uma relação com a observação final do texto, no ponto forte da redação. Ela deve ser impessoal (nunca em primeira pessoa, singular ou plural), denotar otimismo com relação ao problema abordado, enfatizar a valorização do ser humano, concluir de maneira sucinta os dados comprobatórios referentes ao tema e ao objetivo. 
Lembre‑se: jamais cite os argumentos na conclusão.
Esquema 2
- Introdução: expressão inicial + tema com objetivo + citação dos argumentos 1 e 2.
- Desenvolvimento do argumento 1
- Desenvolvimento do argumento 2
- Conclusão: expressão conclusiva + tema com objetivo + observação final (impessoal, positiva, otimista, que solucione o problema e apresente viés humanístíco).
Quanto ao esquema 2, que apresenta somente dois argumentos, o candidato deve seguir as orientações do esquema 1, com atenção ainda maior aos dois argumentos para fundamentar o texto.
Texto Argumentativo, Dissertativo e Expositivo
Quando se pensa em um desses três tipos de texto, geralmente acredita‑se que se trata de uma dissertação. Por mais que haja uma série de proximidades com a dissertação, os textos argumentativo, dissertativo e expositivo têm características particulares. A principal delas é exatamente o fato de proporcionarem maior liberdade ao redator, pois o deixa livre das expressões inicial e conclusiva, obrigatórias na dissertação.
Há várias maneiras de organizar logicamente um texto argumentativo. No entanto, para facilitar a redação, sugerem‑se dois esquemas de estrutura:
Esquema 1
- Introdução: tema com objetivo + citação dos argumentos 1 e 2.
- Desenvolvimento do argumento 1 + expressão de ligação entre os argumentos + desenvolvimento do argumento 2.
- Conclusão: tema com objetívo + observação final (impessoal, positiva, otimista, que solucione o problema e apresente viés humanístíco).
Esquema 2
- Introdução: tema com objetivo + citação dos argumentos 1 e 2 + desenvolvimento do argumento 1
- Expressão de ligação entre os argumentos + desenvolvimento do argumento 2 + conclusão (tema com objetivo + observação final - impessoal, positiva, otimista, que solucione o problema e apresente viés humanístíco).
Tanto o esquema 1 como o 2 estão corretos quanto à estrutura de um texto argumentativo, dissertativo ou expositivo. Contudo, recomenda‑se utilizar o esquema 1, pela organização mais explícita da redação, a partir da "separação de atitudes": introduzir o tema, desenvolver, concluir.
Requisitos para uma boa dissertação:
• sistematizar os dados reunidos;
• ordená‑los;
• interpretá‑los coerentemente.
Tipos: Dependendo da eleição do autor e da natureza do tema, a dissertação pode ser expositiva ou polêmica:
Dissertação Expositiva
O autor poderá reunir material de fontes diversas e desenvolver uma posição compreensiva do assunto, baseado no que foi coletado. Esse tipo dissertação exige do expositor informação atualizada.
Dissertação Polêmica
O autor, além de reunir dados e expô‑los com pertinência, apresentará posicionamentos, apoiado em razões e evidências.
Esse tipo de dissertação é feito a partir de assuntos polêmicos, encadeando ideias que se desenvolvem através de argumentos.
Na dissertação polêmica, há selecão de prós e/ou contras; o autor deve focalizar o assunto proposto, questionando‑o e procurando solucioná‑lo antes de uma análise valorativa. Aqui se exige, além de conhecimentos razoáveis, outra habilidade: capacidade de persuasão.
Estrutura básica da dissertação polêmica
Introdução:	
- Apresentação do assunto proposto.
- Frase-ponte (de ligação)
Desenvolvimento:	
- Elemento relacionador + pró (ou contra) + justificativa.
- Elemento relacionador + pró (ou contra) + justificativa.
- Elemento relacionador + pró (ou contra) + justificativa.
- Frase-ponte (de separação).
- Elemento relacionador + contra (ou pró) + justificativa.
- Elemento relacionador + contra (ou pró) + justificativa.
- Elemento relacionador + contra (ou pró) + justificativa.
Conclusão:
- Frase-ponte de ligação.
- Conclusão propriamente dita.
Observações: Para maior funcionalidade, não se devem misturar, indiscriminadamente, os prós e os contras. Primeiro, expõem-se todos os prós e, depois, todos os contras (ou vice-versa). A técnica dissertativa é a empregada nos trabalhos científicos, ensaios, reportagens, editoriais, artigos.
Dissertação Polêmica
Megalópole: Um bem ou um mal?
Apresentação do assunto proposto:
Quando uma cidade cresce vertiginosa e desenfreadamente, assume as características de uma megalópole. Assim, Nova Iorque, Tóquio, São Paulo e outros centros urbanos espalhados pelo mundo têm conseguido diariamente aumentar a sua densidade demográfica, apresentando os pontos positivos e negativos para os seus habitantes.
Frase-ponte (ligação):
Vejamos primeiramente os aspectos positivos numa grande cidade.
Elemento relacionador + pró + justificativa:
Com relação ao setor econômico, há maiores possibilidades de emprego, melhores salários, mais chance de ascensão profissional, conferindo tudo isso ao trabalhador da megalópole a oportunidade, por tantos desejada, de atingir um “status” social.
Elemento relacionador + pró + justificativa:
Se focarmos o assunto através do prisma cultural, observaremos que a megalópole, possuindo vários teatros, museus, universidades e casas de cultura, poderá oferecer grandes oportunidades para a aquisição de conhecimentos na área artístico-cultural.
Elemento relacionador + pró + justificativa:
Quanto ao lazer, podemos afirmar que a megalópole proporciona uma vida social intensa, possuindo boas casas de diversão, muitos clubes, restaurantes com comidas das mais variadas origens, lugares aprazíveis para passear e toda a sorte de atrativos.
Elemento relacionador + pró + justificativa:
Finalmente, se levarmos em consideração as facilidades que a megalópole oferece aos seus moradores, podemos averiguar toda a gama de conforto conquistada pela moderna tecnologia científica, como o metrô, o aperfeiçoamento da aparelhagem doméstica nos prédios residenciais, hipermercados, alimentos prontos, etc.
Frase-ponte (separação):
Se focarmos porém, o lado negativo da megalópole, veremos que a mesma apresenta diversos pontos cruciais.
Elemento relacionador + contra+ justificativa:
Em primeiro lugar, podemos citar a falta de solidariedade humana e o egoísmo que habitam o coração dos indivíduos da grande metrópole. Sendo pessoas sem tempo para dialogar, os moradores da megalópole tornam-se praticamente insensíveis à dor e aos problemas dos que os cercam.
Elemento reacionador + contra + justificativa:
Como decorrência desse fato, o habitante da megalópole, embora cercado por alguns milhões de indivíduos, sente-se, paradoxalmente, muito só; o ambiente lhe é estranho, o meio lhe é hostil.
Elemento relacionador + contra + justificativa:
Acrescente-se a isto o problema da poluição ambiental. Numa cidade, onde a indústria prolifera, lançando, no ar, rios e mares, toda sorte de detritos químicos, um indivíduo que aqui se desenvolva terá maior chance de adoecer física e psiquicamente.
Frase-ponte (ligação) + Conclusão propriamente dita:
De tudo que se expôs acima, infere-se que a megalópole apresentará mais pontos positivos do que negativos, se a pessoa que nela habita for ambiciosa (econômica e culturalmente) e apreciar o movimento das grandes cidades, a rapidez e o conforto. Se, por outro lado, tratar-se de indivíduo preso à natureza e à vida pacata, o aspecto negativo da megalópole pesará muito mais na sua balança valorativa, porquanto não atenderá às suas necessidades vitais.
Conhecimento Científico e Tecnologia
Em sentido amplo, conhecimento é o atributo que tem o homem de reagir frente ao que o cerca. Dessa forma, podemos distinguir três tipos de co​nhecimento: o empírico, o científico e o filosófico.
Com relação ao primeiro, constatamos que, através dele, se apreende a aparência das coisas. Assim, observamos que o conhecimento empírico situado na esfera do particular.
Quanto ao conhecimento filosófico, percebemos que o mesmo vai tirar a essência do ser, já que o cientista, permanecendo na faixa do físico não consegue atingi‑Ia.
Em se tratando, porém, do conhecimento científico, observamos que o mesmo é orientado, sistemático e formal. A pesquisa científica exige método e coordenação. Conhecer alguma coisa é analisá‑la profundamente, obedendo a uma série de etapas e fatores. Essa persistência na busca é que vai permitir ao espírito científico equacionar o problema.
Por outro lado, a natureza é o objeto do conhecimento científico. Assim, ela não pode ser encarada como um complexo de forças misteriosas e inexoráveis. Acrescente‑se a isso que a ciência não poderá se dissociar da tecnologia, pois as duas estão intimamente ligadas. Enquanto aquela é busca ordenada, pesquisa pura, esta é aplicação do científico ao técnico. A ciência fundamenta a tecnologia, é o seu apoio. A primeira sem a segunda constituir‑se‑ia num saber desligado da prática. A segunda sem a primeira seria algo empírico, unilateral, sem base.
Ciência e tecnologia precisam caminhar juntas, pois são dois seres que se completam, formando um todo homogêneo que, em última análise, deveria visar ao progresso do homem e ao bem comum. Mas a ciência têm uma função explicativa, desde que sua finalidade é examinar o fenômeno natural. Interrogação e a dúvida geram, de certo modo, um conflito entre o homem e o mundo. E, nesse esforço de buscar a solução para a natureza que o constrói e investiga o porquê das coisas, o homem espera perplexo uma resposta. Aqui, a ciência esgotou o seu potencial e cedeu lugar a um outro tipo de conhecimento referenciado anteriormente, o filosófico, para que o homem tente e consiga desvendar a realidade.
Assim, concluímos que, se o conhecimento empírico é insuficiente para chegarmos aos universais, o conhecimento científico, embora suporte da tecnologia, apresenta as suas limitações. E, para se autojustificar, necessita do amparo de um conhecimento mais alto: o filosófico.
Carta
A carta é um dos instrumentos mais úteis em situações diversas. É um dos mais antigos meios de comunicação. Em uma carta formal é preciso ter cuidado na coerência do tratamento, por exemplo, se começamos a carta no tratamento em terceira pessoa devemos ir até o fim em terceira pessoa: se, si, consigo, o, a, lhe, sua, diga, não digas, etc., seguindo também os pronomes e formas verbais na terceira pessoa.
Atenção aos pronomes de tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Excelência, eles devem concordar sempre na terceira pessoa.
Há vários tipos de cartas, a forma da carta depende do seu conteúdo:
- Carta Pessoal é a carta que escrevemos para amigos, parentes namorado(a), o remetente é a própria pessoa que assina a carta, estas cartas não têm um modelo pronto, são escritas de uma maneira particular.
- Carta Comercial se torna o meio mais efetivo e seguro de comunicação dentro de uma organização. A linguagem deve ser clara, simples, correta e objetiva. Existem alguns tipos de carta comercial:
- Particular, familiar ou social: são tipos de correspondência que são trocadas entre particulares, cujo assunto, se enquadra em particular, íntimo e pessoal.
- Bancária: este é focalizado nos assuntos relacionados à vida bancária.
- Comercial: associado às transações industriais ou comerciais.
- Oficial: Destinada ao serviço militar, público ou civil.
A documentação comercial compreende os papéis empregados em todas as transações da empresa como: Carta, Telegrama, Cheque, Pedido de Duplicatas, Faturas, Memorandos, Relatórios, Avisos, Recibos, Fax. Na correspondência a linguagem mais correta é aquela que é adequada ao contexto, ao momento, e à relação entre o emissor e o destinatário.
Por exemplo: a linguagem que você usa para falar com um amigo, não é a mesma que você usa para falar com sua avó, ou com um parente distante.
Existem vários tipos de cartas, e pessoas diferentes para qual deve mandá-las, cartas de amor, de familiares que moram muito longe, ou se alguém é parabenizado por seu aniversário. A carta ao ser escrita deve ser primeiramente bem analisada em termos de língua portuguesa, ou seja, deve-se observar a concordância, a pontuação e a maneira de escrever com início, meio e então o fim, contendo também um cabeçalho e se for uma carta formal, deve conter pronomes de tratamento (Senhor, Senhora, V. Ex.ª etc.) e por fim a finalização da carta que deve conter somente um cumprimento formal ou não (grato, beijos, abraços, adeus etc.).
Depois de todos esses itens terem sido colocados na carta, a mesma deverá ser colocada em um envelope para ser enviado ao destinatário. Na parte de trás e superior do envelope deve-se conter alguns dados muito importantes tais como: nome do destinatário, endereço (rua, bairro e cidade) e por fim o CEP. Já o remetente (quem vai enviar a carta), também deve inserir na carta os mesmos dados que o do destinatário, que devem ser escritos na parte da frente do envelope. E por fim deve ser colocado no envelope um selo que serve para que a carta seja levada à pessoa mencionada. Exemplo:
- Cabeçalho: cidade, data, mês e ano.
- Conteúdo: o texto da carta com começo, meio e fim. 
- Saudações: finalização da carta. 
No envelope deve conter: Atrás do envelope, lado com aba. Remetente. 
- Nome completo.
- Rua – número – bairro (não obrigatório)
- Cidade – Estado.
- CEP.
Alguns concursos e exames vestibulares trazem como prova de redação o pedido de elaboração de uma carta argumentativa. Significa que o estudante deverá elaborar uma carta que tenha "tese" (o assunto propriamente dito) argumentação (o conjunto de ideias ou fatos que constituem os argumentos que levam ao convencimento ou à conclusão de algo) e conclusão.
A carta argumentativa que apresento como exemplo tem como tese o "casamento", ou melhor, "a manutenção do casamento". A argumentação, em dois parágrafos, tenta convencer o interlocutor de que o casamento não deve ser desfeito, sendo esta a conclusão.
Caro Nicolo
Chegou-me a notícia de que você e Maria Lúcia estão em vias de separação. Isso me entristeceu deveras, já que vocês sempre foram considerados o casal exemplar. Lembra-se daquela época quando brincávamos,dizendo que vocês eram "mais" perfeitos que Tarcísio Meira e Glória Meneses, o casal modelo da televisão brasileira? Pois é. E agora me vem essa informação estapafúrdia de que a perfeição é imperfeita. Fiquei chocado, mas ainda tenho a esperança de que não passa de uma crise superável. Por isso peguei da caneta para escrever-lhes minhas considerações sobre o assunto e tentar ajudá-los a superar isso. Como amigo de infância e mais velho que você, portanto mais experiente, acho que tenho esse direito, não é mesmo? E também porque, conforme você sabe muito bem, minha tese sempre foi a de que casamento é dedicação e sacrifício. Isso que quero evidenciar a vocês nestas linhas.
Quando vocês se uniram, não apenas formaram um casal, mas sim se tornaram um casal, o que significa que a individualidade de cada um não foi extinta. Cada um de vocês traz uma bagagem de história pessoal e familiar muito forte, e isso não pode ser jamais desprezado. Em alguma crise conjugal, cada um deve ter isso em mente, para entender os pontos de vista do outro e, assim, relevar pequenos deslizes e perdoá-los. Perdoar não significa esquecer completamente o problema, mas sim renunciar à punição e deixar de considerar essenciais os erros. O mais importante está na harmonia do casal e do próprio ser. Quem consegue agir dessa maneira desenvolve, certamente, suas inteligências interpessoais e intrapessoais. 
O segundo aspecto que quero frisar é o da honra, esse princípio ético que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade. Muito bem. Não quero entrar em detalhes de caráter religioso, mas quero lembrar-lhes que prometeram perante a comunidade e perante seu líder religioso ficar juntos "até que a morte os separe". Foi uma promessa solene. Uma pessoa honrada cumpre suas promessas e não se deixa abater por seus problemas, e sim os resolve conforme surgirem, por mais graves que sejam.
Vocês são extremamente inteligentes e têm aquelas duas inteligências, intrapessoal e interpessoal, bem desenvolvidas, eu o sei. Devem, portanto, renunciar à punição que estão infligindo a si mesmos e enfrentar a situação com dignidade, já que são pessoas honradas. Devem, portanto, tentar, até a última esperança, manter o casamento. E não podem deixar que essa última esperança se esgote. "Aparem as arestas", como dizem alguns, e não esgotem os recursos para permanecerem juntos, afinal casamento é dedicação e sacrifício. Espero que essas poucas palavras produzam o efeito desejado: a conscientização de que vocês são unos, de que o casal que se tornaram não deve e não pode ser desfeito e de que são capazes de solucionar as desavenças e transformá-las em aprendizagem.
Abraços fraternos de seu amigo.
Noslid Takannory
Carta Argumentativa
Relembrando, é preciso destacar dois tipos básicos de carta. O primeiro é a correspondência oficial e comercial, que nos é enviada pelos poderes políticos ou por empresas privadas (comunicações de multas de trânsito, mudanças de endereço e telefone, propostas para renovar assinaturas de revistas, etc.).
Este tipo de carta caracteriza-se por seguir modelos prontos, em que o remetente só altera alguns dados. Apresentam uma linguagem padronizada (repare que elas são extremamente parecidas, começando geralmente por “Vimos por meio desta…”) e normalmente são redigidas na linguagem formal culta. Nesse tipo de correspondência, mesmo que venha assinada por uma pessoa física, o emissor é uma pessoa jurídica (órgão público ou empresa privada), no caso, devidamente representada por um funcionário.
Outro tipo de correspondência é a carta pessoal, que utilizamos para estabelecer contato com amigos, parentes, namorado(a). Tais cartas, por serem mais informais que a correspondência oficial e comercial, não seguem modelos prontos, caracterizando-se pela linguagem coloquial. Nesse caso o remetente é a própria pessoa que assina a correspondência.
Embora você passa encontrar por aí livros que trazem “modelos” de cartas pessoais (principalmente “modelos de carta de amor”), fuja deles, pois tais “modelos” se caracterizam por uma linguagem artificial, surrada, repleta de expressões desgastadas, além de serem completamente ultrapassados.
Não há regras fixas (nem modelos) para se escrever uma carta pessoal, afora a data, o nome (ou apelido) da pessoa a quem se destina e o nome (ou apelido) de quem a escreve, a forma de redação de uma carta pessoal é extremamente particular.
No processo de comunicação (e a correspondência é uma forma de comunicação entre pessoas), não se pode falar em linguagem correta, mas em linguagem adequada. Não falamos com uma criança do mesmo modo que falamos com um adulto.
A linguagem que utilizamos quando discutimos um filme com os amigos é bastante diferente daquela a que recorremos quando vamos requerer vaga para um estágio ao diretor de uma empresa. Em síntese: a linguagem correta é a adequada ao assunto tratado (mais formal ou mais informal), à situação em que está sendo produzida, à relação entre emissor e destinatário (a linguagem que você utiliza com um amigo íntimo é bastante diferente da que utiliza com um parente distante ou mesmo com um estranho).
Na correspondência deve ocorrer exatamente a mesma coisa: a linguagem e o tratamento utilizados vão variar em função da intimidade dos correspondentes, bem como do assunto tratado. Uma carta a um parente distante comunicando um fato grave ocorrido com alguém da família apresentará uma linguagem mais formal. Já uma carta ao melhor amigo comunicando a aprovação no vestibular terá uma linguagem mais simples e descontraída, sem formalismos de qualquer espécie.
Partes da Carta
- local e data;
- destinatário;
- saudação;
- interlocução com o destinatário;
- despedida;
- assinatura.
Esses itens estão na ordem em que devem aparecer. Caso se esqueça de dizer algo importante e já tenha finalizado a carta é só acrescentar a abreviação latina P.S (post scriptum) ou Obs. (observação). Essa sigla é originada do verbo latino “post scribere” que significa “escrever depois”.
As Expressões Surradas
Na produção de textos, devemos evitar frases feitas e expressões surradas (os chamados clichês), como “nos píncaros da glória”, “silêncio sepulcral”, “nos primórdios da humanidade”, etc. Na carta, não é diferente. Fuja de expressões surradas que já apareceram em milhares de cartas, como “Escrevo-lhes estas mal traçadas linhas” ou “Espero que esta vá encontrá-lo gozando de saúde”.
A Coerência no Tratamento
Na carta formal, é necessário a coerência no tratamento. Se a iniciamos tratando o destinatário por tu, devemos manter esse tratamento até o fim, tomando todo o cuidado com pronome e formas verbais. Nesse tipo de carta, são comuns os erros de uniformidade de tratamento como o que apresentamos abaixo:
“Você deverá comparecer à reunião. Espero-te ansiosamente. Não se esqueça de trazer tua agenda.”
Observe que não há nenhuma uniformidade de tratamento: começa-se por você (terceira pessoa), depois passa-se para a segunda pessoa (te), volta-se à terceira (se), terminando com a segunda (tua).
Ainda com relação à uniformidade, fique atento ao emprego de pronomes de tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Excelência, etc. Embora se refiram às pessoas com quem falamos, esses pronomes devem concordar na terceira pessoa. Veja:
“Aguardo que Vossa Senhoria possa enviar-me ainda hoje os relatórios de sua autoria.
Vossa Excelência não precisa preocupar-se com seus auxiliares.”
Pronome de Tratamento
- Abade, prior, superior, visitador de ordem religiosa – Paternidade – Revmo. Dom (Padre)
- Abadessa – Caridade – Revma. Madre
- Almirante – Excelência – Exmo. Sr. Almirante
- Arcebispo – Excelência e Reverendíssima – Exmo. e Revmo. Dom
- Arquiduque – Alteza – A Sua Alteza Arquiduque
- Bispo – Excelência e Reverendíssima – Exmo. E Revmo. Dom
- Brigadeiro – Excelência – Exmo. Sr. Brigadeiro
- Cardeal – Eminência e Reverendíssima – Emmo.E Revmo. Cardeal Dom
- Cônego – Reverendíssima – Revmo. Sr. Côn.
- Cônsul – Senhoria (Vossa Senhoria) – Ilmo. Sr. Cônsul
- Coronel – Senhoria – Ilmo. Sr. Cel.
- Deputado – Excelência – Exmo. Sr. Deputado
- Desembargador – Excelência – Exmo. Sr. Desembargador
- Duque – Alteza (Sereníssimo Senhor) – A Sua Alteza Duque
- Embaixador – Excelência – Exmo. Sr. General
- Frade – Reverendíssima – Revmo. Sr. Fr.
- Freira – Reverendíssima – Revma. Ir.
- General – Excelência – Exmo. Sr. General
- Governador de Estado – Excelência – Exmo. Sr. Governador
- Imperador – Majestade (Senhor) – A Sua Majestade Imperador
- Irmã (Madre, Sóror) – Reverendíssima – Rema. Ir. (Madre, Sóror)
- Juiz – Excelência (Meritíssimo Juiz) – Exmo. Sr. Dr.
- Major – Senhoria – Ilmo. Sr. Major
- Marechal – Excelência – Emo. Sr. Marechal
- Ministro – Excelência – Exmo. Sr. Ministro
- Monsenhor – Reverendíssima – Revmo. Sr. Mons.
- Padre – Reverendíssima – Revmo. Sr. Padre
- Papa – Santidade (Santíssimo Padre), Beatitude – A Sua Santidade Papa (Ao Beatíssimo Padre)
- Patriarca – Excelência, Reverendíssima e Beatitude – Exmo. E Revmo. Dom (Ao Beatíssimo Padre)
- Prefeito – Excelência – Exmo. Sr. Prefeito
- Presidente de Estado – Excelência – Exmo. Sr. Presidente
- Príncipe, Princesa – Alteza (Sereníssimo Senhor, Sereníssima Senhor) – A Sua Alteza Príncipe (ou Princesa)
- Rei, Rainha – Majestade (Senhor, Senhora) – A Sua Majestade Rei (ou Rainha)
- Reitor (de Universidade) – Magnificência (Magnífico Reitor) – Exmo. Sr. Reitor
- Reitor (de Seminário) – Reverendíssimo – Revmo. Sr. Pe.
- Secretário de Estado – Excelência – Exmo. Sr. Secretário
- Senador – Excelência – Exmo. Sr. Senador
- Tenente Coronel – Senhoria – Ilmo. Sr. Ten. Cel.
- Vereador – Excelência – Ilmo. Sr. Vereador
- Demais autoridades, oficiais e particulares, chefes de seção, presidentes de bancos, órgãos de segundo escalão do governo – Senhoria – Ilmo. Sr.
  
Na Correspondência Pública, costuma-se usar V.Sª para pessoa de categoria igual ou inferior, e V. Exª para pessoa de categoria superior.
Consultor geral, Chefe de estado, chefe de gabinetes Legislativo, Demais autoridades recebem como pronome de tratamento Vossa Senhoria. Como vocativo – quando se dirige a autoridade (forma adequada ao Cargo): Usa-se “Senhor”.
Todos os tratamentos podem aparecer na forma oblíqua, após dirigir-se a uma autoridade. Podemos, sem temor de erro, dizer: “Formulamos-lhe”, “pedimos-lhe”, vemos na sua pessoa”, em vez de formulamos a V. Sª., ou a V.Exª., etc.
A Carta é o elemento postal mais importante, constituída por algumas folhas de papel fechadas em um envelope, que é selado e enviado ao destinatário da mensagem através do serviço dos correios.
Atualmente a carta vem sendo substituída pelo e-mail que é a forma de correio eletrônico mais difundida no mundo, mas ainda há pessoas que pelo simples prazer de trocar correspondências físicas preferem utilizar o método da Carta.
Encontramo-nos hoje, inseridos em uma sociedade extremamente dinâmica, na qual o fator “tempo” desempenha sua palavra de ordem. Para que possamos acompanhar esta evolução, precisamos nos adequar constantemente, principalmente com o manuseio referente aos recursos tecnológicos.
Sua finalidade restringe-se à comunicação entre as pessoas, uma vez que esta se dá de forma rápida e eficiente, permitindo que haja a troca de mensagens feitas em meio eletrônico, interagindo as relações pessoais e profissionais. Essa comunicação, que antes só era possível por meio de cartas e telegramas, atualmente possibilita a troca de informações a qualquer instante, independente da distância a que se inserem os interlocutores envolvidos.
Quanto à estrutura, assemelha-se à carta no que se refere ao vocativo, texto, despedida e assinatura. A data não é fator relevante, pois o próprio programa já se incube de detalhar o dia e a hora em que a mensagem foi enviada. 
No que se refere à linguagem, esta varia de acordo com o grau de intimidade estabelecido entre os interlocutores e com a finalidade a que se destina a comunicação. Obviamente que, ao se tratar de assuntos profissionais, o vocabulário tende a apresentar um certo formalismo.
A palavra e-mail constitui a redução de eletronic mail, cuja significância é correio eletrônico, sua estrutura pauta-se pela seguinte forma: nome@provedor.com.br
O nome representa o usuário; @ é o símbolo que passa ao computador a mensagem de que o conjunto de informações é de um endereço de e-mail; o provedor é a empresa que viabiliza o acesso à Internet de forma gratuita ou mediante o pagamento de uma taxa. O termo “com” tem o sentido de comercial e “br” de Brasil.
Relações entre
Descrição - Narração - Dissertação
Descrição e Narração
Os textos descritivos e narrativos são figurati​vos. Eles representam o mundo, simulam‑no. A narração mostra mudanças de situação de um ser particular (o menino que ganhou um porquinho-​da‑índia, por exemplo), com os enunciados dispos​tos numa progressão temporal, numa relação de anterioridade e posterioridade. A descrição expõe propriedades e aspectos de um ser particular (o céu numa noite estrelada, um rosto sofrido, uma personagem, a hora do rush) numa relação de si​multaneidade; nela não há mudança de situação.
Dissertação
O texto dissertativo é temático. Ele comenta, explica, analisa, classifica os seres. Por isso, sua referência ao mundo se faz por conceitos amplos, modelos genéricos, muitas vezes abstraídos do tempo e do espaço. Pela mesma razão, embora também nele apareçam mudanças de situação, não têm maior importância as relações de anterio​ridade e posterioridade entre os enunciados, mas sim as relações lógicas. O texto dissertativo típico é o da ciência e da filosofia.
O texto dissertativo é mais abstrato que os ou​tros dois. Ele interpreta e analisa os dados concre​tos da realidade. Esses dados, quando aparecem numa dissertação, só servem para confirmar ou exemplificar as ideias abstratas que estão sendo apresentadas.
Embora a progressão temporal da dissertação não tenha importância, não se pode mudar à von​tade a sequência dos enunciados, pois há o risco de se alterarem as relações lógicas.
A dissertação fala também de mudanças, mas aborda essas transformações de maneira diferente da narração. Enquanto a finalidade central da narração é relatar mudanças, a da dissertação é explicar e interpretar as transformações relatadas.
O ponto de vista do produtor do texto
Geralmente se pensa que é só na dissertação que o produtor do texto expressa seu ponto de vista sobre o objeto posto em discussão. Isso não é verdade. Também na narração e na descrição estão presentes os pontos de vista do enunciador. O modo como eles são apresentados é que difere em cada tipo de texto.
Como a dissertação é um texto temático, nela os ​pontos de vista são explícitos. Na descrição, o ponto de vista é manifestado, entre outros recursos pelos aspectos selecionados e pela adjetivação colhida: o produtor do texto transmite uma mensagem positiva ou negativa do que está sendo dito. Na narração, um dos meios mais eficientes de manifestar um ponto de vista é o encadeamento das figuras.
Para entender o ponto de vista existente na narração e na descrição, é preciso não esquecer que se trata de textos figurativos e que por trás das figuras existe um tema implícito. Por exemplo, narrar a história de um país cujo presidente praticava os mais variados esportes, vivia a dizer trabalhava em favor dos pobres, enquanto a recessão aumentava, e com ela o desemprego e miséria, é manifestar um ponto de vista sobre o tal presidente.
Desfazendo um equívoco
“Seria difícil encontrar uma definição do mito que fosse aceito por todos os eruditos e, ao mesmo tempo, acessível aos não‑especialistas. Por outro lado, será realmente possível encontrar uma única definição ca​paz de cobrir todos os tipos e todas as funções dosmitos, em todas as sociedades arcaicas e tradicionais? O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada através de perspectivas múltiplas e complementares.
A definição que a mim, pessoalmente, me parece a menos imperfeita, por ser mais ampla, é a seguinte: o mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fa​buloso do "princípio". Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos entes sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, seja uma realidade to​tal, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma "criação": ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. Os perso​nagens dos mitos são os entes sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo pelo que fizeram no tempo prestigioso dos "primórdios". Os mitos revelam, portan​to, sua atividade criadora e desvendam a sacralidade (ou simplesmente a "sobrenaturalidade") de suas obras. Em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas, irupções do sagrado (ou do "sobre​natural") no Mundo. É essa irupção do sagrado que realmente fundamenta o Mundo e o converte no que é hoje. E mais: é em razão das intervenções dos entes sobrenaturais que o homem é o que é hoje, um ser mortal, sexuado e cultural.”
Mircea Eliade. Mito e Realidade.
São Paulo, Perspectiva, 1972, p.11.
	Alguém poderia dizer que esse texto é uma descrição, pois ele "descreve" as propriedades, as características do mito. No entanto, cabe lembrar que o que define a descrição são todas as proprie​dades enunciadas acima, tomadas conjuntamente. Uma descrição é um texto figurativo. Este é um texto temático, pois fala de coisas abstratas: defi​nição, tipos e funções do mito, sociedades arcaicas e tradicionais, realidade cultural, etc. Ele aborda uma transformação: vai da ausência de definição do mito à existência de uma definição. Nele as relações importantes são as relações lógicas; por exemplo, 
a causalidade 
“A definicão que (...) me parece a menos imperfeita, por ser mais ampla”
e a conclusão
“É sempre, portanto, a narrativa de uma criação.”
Se o texto é temático, mostra mudan​ças de situação e coloca em primeiro plano as re​lações lógicas entre os elementos que o compõem​ é uma dissertação.
Poder‑se‑ia dizer ainda que o texto citado é uma descrição porque só são utilizados verbos no presente do indicativo. No entanto, deve‑se obser​var que o presente, nesse caso, tem um valor epis​têmico, ou seja, tem um significado onitemporal (do latim omni = "todo"): o que ele enuncia é váli​do para todas as épocas, e não somente para o momento da fala. A frase “o mito conta uma histó​ria sagrada” quer dizer que o mito sempre conta uma história sagrada. O presente usado nas des​crições, diversamente, é pontual, indica um estado no momento da fala. Quando se diz, numa descri​ção, “O sol nasce no horizonte”, está‑se afirmando que aquilo está ocorrendo naquele momento; não se está enunciando a verdade científica de que o sol sempre nasce no horizonte.
O texto dissertativo fala do geral; o texto des​critivo, do particular. Quando se fala da árvore em geral, disserta‑se; quando se fala de um ipê em flor diante de certa janela, descreve‑se. O texto te​mático que enuncia propriedades e características é dissertativo; o texto figurativo que apresenta propriedades e características de um ser singular é descritivo.
Uniformidade e Diversidade
Existe uma concepção muito difundida de que cada texto é uma criação nova, riginal. Quando estamos diante de um texto, é comum a impressão de que nunca lemos outro como aquele. É a ilusão da originalidade absoluta.
Trata‑se, sem dúvida, de uma ilusão, porque nenhum texto é completamente novo. De um la​do, há modos de organização textual, mecanismos de construção de sentido que se repetem em vá​rios textos; de outro, os textos reproduzem as ideias, as concepções e os valores que circulam na sociedade de dado lugar e de certa época. Eviden​temente, essas ideias não são únicas, porque em qualquer sociedade complexa há um conjunto muito grande de concepções em conflito e em concorrência, isto é, diferentes discursos: são múltiplas concepções religiosas, diferentes modelos políticos, diversos sistemas filosóficos e assim por diante.
O texto, que é sempre um produto de dimen​sões históricas, vincula‑se a uma dessas concep​ções. Da mesma forma, há também diversos mo​dos de construção textual que servem de modelo para textos particulares que fazem uso de proce​dimentos conhecidos e que se repetem em mui​tos outros textos do mesmo gênero. Desse modo, todo texto, ao lado de algumas novidades que, sem dúvida, o distinguem e o singularizam, obe​dece a determinados padrões gerais, seja no ní​vel das ideias que transmite, seja no domínio da composição. Isso significa que, num texto, nem tudo é totalmente novo, nem tudo é totalmente velho e já conhecido. Em qualquer texto coexis​tem a diversidade e a uniformidade, a variabilidade e a invariabilidade. Sob a superfície diferenciada, há, num nível mais profundo, modelos que se repetem.
Procedimen​tos composicionais, que são modelos ou planos para a construção de diferentes textos.
Narração, Descrição e Dissertação
Há séculos a tradição do ensino vem trabalhando com uma classificação de textos que se revelou bastante produtiva: é a que os distingue em narração, descrição e dissertação. Se os textos podem ser distribuídos nessas três classes, é porque cada uma delas apresenta um plano de construção uniforme, ​isto é, um conjunto de procedimentos comuns.
A descrição é um texto construído por acúmulo: seu enunciador vai acrescentando detalhes, propriedades, características simultâneas do objeto descrito. A narração elabora‑se por meio de uma progressão temporal, que vai mostrando as transformações do objeto narrado. A dissertação é constituída por uma progressão lógica, em que cada enunciado, que se articula logicamente a outro, é um comentário sobre fatos ou ideias postos em discussão.
Podem ocorrer, numa dissertação, trechos narrativos ou descritivos. No entanto, eles estarão não como um fim em si mesmo, mas para serem comentados ou interpretados pelos enunciados. Observe o texto que segue:
O evento mais significativo na América Latina, na ​semana passada, não foi a posse do novo presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, outro líder de esquerda que chega ao poder. Também não foi a tentativa de relan​çamento do Mercosul pelos presidentes Lula, do Brasil e Duhalde, da Argentina, nem a articulação de um gru​po de países da região para servir de mediador na crise da Venezuela. O evento mais significativo deu‑se nos ares, e tem a ver também com a Venezuela: um Boeing 727 que partira de Caracas com destino a San​to Domingo teve de voltar, por razões de segurança, tal a balbúrdia a bordo desde que os passageiros identificaram a presença, entre eles, de um contestável do regime de Hugo Chávez, o general da reserva Belisário Landis, ex‑comandante da Guarda Nacional e atual embaixador na República Dominicana. Os passageiros apupavam e ofendiam o general. A gritaria chegou a tal ponto que o piloto, meia hora depois da decolagem ​julgou por bem voltar. 
(...)
O episódio mostra a que ponto se chegou, na Vene​zuela. ( ... ) O espaço de um Boeing ficou pequeno de​mais para conter representantes dos dois pedaços em que se dividiu a população.
		Roberto Pompeu de Toledo. In: Veja, 22/1/2003, p.98.
A narrativa do que aconteceu no Boeing que ia de Caracas a Santo Domingo não é o objetivo cen​tral desse texto, mas aí foi incluída como pretexto para que o enunciador comentasse a respeito da divisão que se produziu na Venezuela entre partidários e opositores do governo. O texto trata justamente desse tema, que foi desenvolvido a partir do fato narrado.
Dissertação
Pode‑sedizer que a dissertação é, por exce​lência, um texto do comentário. É a análise de um tem​a posto em debate. Em outros termos, comen​tário significa explicitar os diversos pontos de vista ou os diversos ângulos pelos quais se pode analisar um problema ou uma questão posta em julgamento. Por meio do comentário, o sentido do tema é desdobrado, pondo‑se em evidência significados ainda não revelados. O comentário põe à mostra novos ângulos de uma questão posta sob consideração.
A dissertação é sempre uma leitura ativa de um tema, pois é uma operação em que dele se extraem as mais variadas relações de sentido com vistas a uma conclusão. O enunciador utiliza‑se de vários tipos de comentário, de várias relações significativas para persuadir o leitor a aceitar sua conclusão.
Tradicionalmente, divide‑se a dissertação em três partes: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Na primeira, o enunciador situa o tema que será tratado; na segunda, faz sobre ele dife​rentes comentários; na terceira, apresenta, sob forma de conclusão, o resultado final a que os comentários anteriores servem de fundamento.
O poder persuasivo dessa montagem depende ​da pertinência dos comentários, da sua com​binação e da implicação entre a conclusão e seus antecedentes.
Tipos de Comentários
Os comentários podem ser de vários tipos, pois é possível explorar diferentes relações de sentido para explicar os diversos significados presentes num tema. O que importa é que eles sempre servem para tornar explícitos significativos ocultos por baixo de qualquer questão posta em discussão.
Tipos de comentá​rios utilizáveis na dissertação, que se destacam por serem aqueles com que mais frequentemente os textos são compostos.
Comentário por Tradução ou Especificação
É aquele que define o significado pelo qual um tema deve ser analisado, o ângulo pelo qual uma questão deve ser considerada.
Do Revólver Fumegante à Boca na Botija
Smoking gun, literalmente, "revólver fumegante", em inglês, é o revólver que acaba de ser usado. Foi acionado há tão pouco que seus mecanismos não ti​veram tempo de entrar em descanso, e a fumaça ain​da escapa do cano. Achar o "revólver fumegante", ou surpreender alguém com o revólver fumegante, é uma expressão que, nos Estados Unidos, significa pegar al​guém em flagrante. A metáfora é apropriada. Nada mais incriminador do que encontrar o revólver ainda soltando fumaça na mão do assassino, a vítima esta​telada ao lado, o cenário a revelar a vítima, o autor e o instrumento do crime com clareza solar.
Roberto Pompeu de Toledo. In: Veja, 19/2/2003, p.102.
Nesse texto, o enunciador começa seu comen​tário especificando ou traduzindo o sentido pelo qual vai analisar o tema: “Do revólver fumegante à boca na botija”. O trecho reproduzido acima mos​tra apenas uma parte dessa especificação: apre​senta o sentido com que se vai tomar a expressão revólver fumegante.
Nos parágrafos seguintes o enunciador, depois de mostrar que as expressões usadas nos Estados Unidos e no Brasil para significar o ato de pegar alguém em fla​grante são, respectivamente, achar alguém com o revólver fumegante e pegar com a boca na botija, tece considerações sobre a cultura de cada povo.
Comentário por Contraste
	
É aquele em que se confrontam dois temas, duas situações, dois fatos, pondo em evidência as diferenças entre eles. Destina‑se a precisar o sentido de um dado tema, a facilitar a compreensão de um certo enunciado.
O que interessa aqui é o revólver fumegante em si. Quer dizer: a própria expressão. Ela é usada não só em casos de guerra ou de crimes de sangue. No caso Watergate, no qual não havia violência física, a expressão também foi fatalmente utilizada. E assim também nas numerosas vezes em que, nos oitos anos da era Clinton, se tentou envolver o presidente em algum escândalo. Não é mais do que dizer o óbvio lembrar que a imagem casa bem com um país de caubóis. Ou um país em que comprar uma arma é quase mais fácil que comprar antibióticos, afinal, antibióticos precisam de receita. O revólver é algo tão presente quanto a Bíblia, na formação americana, daí não causar espanto que esteja em todas as bocas. Também não espanta que seja tão invocado num país que não consegue ficar sossegado, precisa sempre arrumar um ini​migo e, como um viciado, sofre crise de abstinência se não se engaja de tempos em tempos numa guerra.
No Brasil não se usa a expressão revólver fumegan​te. Não é corrente, nem fica bem, em português, em ma​téria de sonoridade. Nosso equivalente seria... apa​nhar alguém "com a boca na botija". Pronto, diriam os mais apressados. Estamos vingados. Enquanto eles reve​lam a propensão para soluções violentas, na escolha de uma expressão que evoca sangue, nós, para dizer a mes​ma coisa, adotamos uma pacífica imagem de cozinha.
Não sejamos tão condescendentes conosco mes​mos, nem patriotas pelas razões erradas. Admitamos hu​mildemente que talvez não sejamos menos violentos. Apenas, a violência, por aqui, assume outras formas. De mais a mais, se as expressões idiomáticas revelam as ca​racterísticas de um povo, a "boca na botija" diz algo não muito lisonjeiro do povo brasileiro. Quem é apanhado com a boca na botija é porque está roubando comida de outrem. E se está roubando comida é porque está com fome. A expressão inscreve‑se na tradição dos contos, di​tos e anedotas que enfatizam a malandragem dos fracos contra os fortes, na luta da sobrevivência. É uma tradi​ção comum aos ambientes de penúria e desigualdade.
Idem. Ibidem.
Fazendo o contraste entre as expressões “revól​ver fumegante” e “com a boca na botija”, e pondo à mostra diferentes traços da índole e dos costumes de cada povo que se serve delas, o enunciador dis​crimina características do povo brasileiro e do norte‑americano.
Comentário pela Causa
É aquele que explica os motivos que deram ori​gem a uma dada situação. 
“É normal nos reality shows ocorrerem pequenas intrigas, discussões e explosões de ansiedade nessas produções, porque as pessoas enfrentam uma situação de isolamento e pressão.”
Veja, 22/1/2003, p.13
Nesse texto, comenta‑se a ocorrência de discussões e explosões de ansiedade nos reality shows por meio da explicitação da causa que a provoca: o isolamento e a pressão a que submetidos os participantes. Nem sempre a causa é exposta por meio de conectores tão evidentes como porque. Exemplo:
“Com as possibilidades abertas pelas novas tecnologias, a TV deverá viver uma revolução nos próximos anos.”
		
A causa da revolução na TV dos próximos anos serão as possibilidades abertas pelas novas tecnologias.
Comentário por Efeito ou Consequência
É aquele que expõe os resultados positivos ou negativos de um fato ou evento. 
“Num reality show, as pessoas encontram‑se isoladas e sob grande tensão. Essa situação acaba funcio​nando como um catalisador capaz de acelerar a for​mação de laços emocionais, tanto positivos quanto negativos, entre os participantes.”
O efeito de as pessoas estarem, num reality show, isoladas e sob grande tensão é a formação de laços emocionais positivos ou negativos.
Comentário por Finalidade
É aquele que expõe os objetivos de uma dada si​tuação, os fins pretendidos por uma determinada ação, sejam eles válidos ou não. A finalidade pode ser interpretada como um tipo de causa, já que um​ objetivo a alcançar é também um desencadeador de uma ação.
No mundo inteiro, há um padrão interessante nas respostas dos candidatos que desejam participar de nossos programas. Quando questionados por que eles gostariam de estar no Big Brother, por exemplo, to​dos vêm com a mesma conversa: é pelo desafio, pelo dinheiro do prêmio ou para se tornar famoso.
A finalidade das pessoas que querem participar de um reality show é tornar-se famosas, ganhar o dinheiro do prêmio ou enfrentar desafios.
Comentário por Implicação ou por Condição
É aquele em que o raciocínio se faz sob a forma “se x, então y", ou seja, é aquele em que se expli​cam as condições, ospré‑requisitos, os elementos prévios para que uma situação ocorra.
“Se as Farc estão fazendo terrorismo, elas têm que ser tratadas como terroristas.”
Veja, 19/3/2003, p.15.
Observe que o comentário apresenta uma im​plicação: Se as Farc (Forças Armadas Revolucioná​rias da Colômbia) estão fazendo terrorismo, (então) elas têm que ser tratadas como terroristas. O ele​mento prévio para que elas sejam tratadas como terroristas é o fato de estarem fazendo terrorismo.
Comentário por Analogia
É aquele em que se confrontam duas situações para mostrar algum tipo de semelhança entre elas. Uma situação antiga que tenha pontos em comum com uma nova, por exemplo, serve para compreender melhor esta última.
“Compara‑se o que está ocorrendo na televisão atualmente, na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, com o fenômeno que atingiu a música pop nos anos 60. Naquela época, o surgimento do rock'n’roll agravou a distância que separava os gostos da juventude e dos mais velhos. ( ... ) hoje estamos vivendo um choque de gerações parecido em relação à TV.”
Veja, 22/1/2003, p.9.
Para explicar as críticas de que os reality shows não passam de baixaria, compara‑se a atual fase da TV com a época do aparecimento do rock. Mostra-se que nesses dois períodos há um choque entre o gosto de duas gerações: da mesma forma como nos anos de 1960 os mais velhos haviam criticado o baixo nível das músicas, hoje criticam o baixo nível da TV.
Comentário por Concessão
É aquele em que se concede um argumento contrário à tese defendida pelo enunciador, para dizer que esse argumento não tem peso suficiente para desqualificá‑la ou refutá‑la. Exemplo:
“Embora estejamos enfrentando graves proble​mas de natureza econômica, nosso país não per​deu a autoconfiança: nosso povo e nossas insti​tuições são mais fortes do que os problemas são graves.”
Como se vê, concede‑se a existência de graves problemas (o que é um argumento contrário à au​toconfiança do país), mas, ao mesmo tempo, esta​belece‑se o pressuposto de que essa oposição não tem força suficiente para abalar a autoconfiança do país.
O argumento por concessão é muito eficaz, pois, de um lado, coloca em evidência a voz da​queles que discordam do ponto de vista defendido pelo enunciador; de outro, revela um enunciador não ingênuo, isto é, ciente de que sua tese tem ad​versários, e ainda um polemista seguro, que tem coragem e razão para sustentar um ponto de vista sem se abalar com a opinião contrária.
Tema e Título 
Tecer um bom texto é uma tarefa que requer competência por parte de quem a pratica, pois o mesmo não pode ser visto como um emaranhado de frases soltas e ideias desconexas. Pelo contrário, elas devem estar organizadas e justapostas entre si, denotando clareza de sentido quanto à mensagem que ora se deseja transmitir. 
Geralmente, a proposta é acompanhada de uma coletânea de textos, a qual devemos fazer uma leitura atenta de modo a percebermos qual é o tema abordado em questão.
Diante disso, é essencial que entendamos a diferença existente entre estes dois elementos: Tema e Título. 
Tema: O crescente dinamismo que permeia a sociedade, aliado à inovação tecnológica, requer um aperfeiçoamento profissional constante.
Título: A importância da capacitação profissional no mundo contemporâneo.
Como podemos perceber, o tema é algo mais abrangente e consiste na tese a ser defendida no próprio texto.
Já o título é algo mais sintético, é como se fosse afunilando o assunto que será posteriormente discutido.
O importante é sabermos que: do tema é que se extrai o título, haja vista que o mesmo é um elemento-base, fonte norteadora para os demais passos.
Existem certos temas que não revelam uma nítida objetividade, como, o exposto anteriormente. É o caso de fragmentos literários, trechos musicais, frases de efeito, entre outros. 
Nesse caso, exige-se mais do leitor quanto à questão da interpretação, para daí chegar à ideia central. Como podemos identificar através deste excerto:
“As ideias são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é o que importa”.
(José Saramago)
Essa linguagem, quando analisada, leva-nos a inferir sobre o seguinte, e que este poderia ser o título:
A importância da coerência e da coesão para o sentido do texto. Fazendo parte também desta composição estão os temas apoiados em imagens, como é o caso de gráficos, histórias em quadrinhos, charges e pinturas.
Tal ocorrência requer o mesmo procedimento por parte do leitor, ou seja, que ele desenvolva seu conhecimento de mundo e sua capacidade de interpretação para desenvolver um bom texto.
Comumente surgem questionamentos sobre a semelhança entre o título e o tema em uma produção textual. Mas será que são palavras sinônimas?
A boa qualidade de um texto depende de uma série de fatores que colaboram para a clareza das ideias transmitidas. Todos os elementos precisam estar em sintonia entre si, principalmente o tema e o título, pois ambos mantêm uma relação de dependência, representando o assunto abordado. É preciso tomar muito cuidado para não confundir título com tema. Um é a extensão do outro, mas para que fique clara esta distinção, os conheceremos passo a passo:
O Tema é o assunto proposto para a discussão, possui uma característica mais abrangente, pois é visto de uma maneira global. Para melhor exemplificarmos, tomemos como exemplo a questão da violência. Este tema engloba vários tipos de violência, como a física, verbal, violência racial, infantil e outras.
Ao delimitarmos este assunto, falando da violência em um bairro específico da cidade, estamos nos restringindo somente àquele lugar. Este, portanto, caracteriza o Título.
A seguir, veremos um texto no qual fica evidente a marca dos itens acima relacionados: Bomba na meia-idade.
“Em julho, a bomba atômica fez cinquenta anos. A primeira arma nuclear da história foi testada às 5h29min45s do dia 16 de julho de 1945, em Alamogordo, Novo México, Estados Unidos.
Libertou energia equivalente a 18 toneladas de TNT e encheu de alegria cientistas e engenheiros que haviam trabalhado duro durante três anos para construir a bomba.
Menos de um mês depois, quando uma explosão semelhante dizimou as cidades de Hiroshima e Nagasaki no Japão, a alegria deu lugar à vergonha.” 
Superinteressante, São Paulo, fev.2003. 
Destacamos como título, Bomba na meia-idade. Tema, Os cinquenta anos de criação da bomba atômica. A leitura do texto deixa clara a diferença entre título e tema:
Dieta Liberada
“Não é verdade que se lactantes obesas fizerem dieta comprometerão os bebês. Nutricionistas da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos, acompanharam quarenta mulheres que consumiam uma dieta de baixa caloria. Após dez semanas, elas perderam 5 quilos em média, mas os bebês cresceram bem. Atenção: só especialistas podem preparar a dieta.”
Superinteressante, março, 2000.
O título é: Dieta Liberada. O tema é: A dieta em mulheres obesas durante a amamentação. O título tem a função de chamar a atenção sobre o texto. Por isso é bom que seja curto, chamativo e tenha tudo a ver com o que é falado.
Reforçando:
Tema: É o assunto sobre o qual se escreve, ou seja, a ideia que será defendida ao longo da dissertação. Deve-se ter o tema como um elemento abstrato. Nunca se refira a ele como parte da dissertação
Título: É uma expressão, geralmente curta e sem verbo, colocada antes da dissertação. Se não houver verbo no título, não se usa ponto final. Não se deve pular linha depois do título. A colocação de letras maiúsculas em todas as palavras, menos artigos, preposições e conjunções, é facultativa.
Apesar de o título ser importante para uma dissertação, julgo ser também perigoso, pois, como o estudante não está acostumado a dissertar, pode equivocar-se e dar um título que não corresponda ao âmago da redação. Portanto acredito que o ideal seria colocar título apenas quandoa prova o exigir.
Coerência e Coesão
Não basta conhecer o conteúdo das partes de um trabalho: introdução, desenvolvimento e conclusão. Além de saber o que se deve (e o que não se deve) escrever em cada parte constituinte do texto, é preciso saber escrever obedecendo às normas de coerência e coesão. Antes de mais nada, é necessá​rio definir os termos: coerência diz respeito à articulação do texto, à compati​bilidade das ideias, à lógica do raciocínio, a seu conteúdo. Coesão refere‑se à expressão linguística, ao nível gramatical, às estruturas frasais e ao emprego do vocabulário.
Coerência e coesão relacionam‑se com o processo de produção e compre​ensão do texto, a coesão contribui para a coerência, mas nem sempre um texto coerente apresenta coesão. Pode ocorrer que o texto sem coerência apre​sente coesão, ou que um texto tenha coesão sem coerência. Em outras pala​vras: um texto pode ser gramaticalmente bem construído, com frases bem estruturadas, vocabulário correto, mas apresentar ideias disparatadas, sem nexo, sem uma sequência lógica: há coesão, mas não coerência. Por outro lado, um texto pode apresentar ideias coerentes e bem encadeadas, sem que no plano da expressão, as estruturas frasais sejam gramaticalmente aceitá​veis: há coerência, mas não coesão. 
Na obra de Oswald de Andrade, por exem​plo, encontram‑se textos coerentes sem coesão, ou textos coesos, mas sem coerência. Em Carlos Drummond de Andrade, há inúmeros exemplos de tex​tos coerentes, sem coesão gramatical no plano sintático. A linguagem literá​ria admite essas liberdades, o que não vem ao caso, pois na linguagem acadêmica, referencial, a obediência às normas de coerência e coesão são obrigatórias. Ainda assim, para melhor esclarecimento do assunto, apresentam‑se exemplos de coerência sem coesão e coesão sem coerência:
“Cidadezinha Qualquer”
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar:
Um homem vai devagar
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar
Devagar.. as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus."
(Andrade, 1973, p. 67)
Apesar da aparente falta de nexo, percebe‑se nitidamente a descrição de uma cidadezinha do interior: a paisagem rural, o estilo de vida sossega​do, o hábito de bisbilhotar, de vigiar das janelas tudo o que se passa lá fora... No plano sintático, a primeira estrofe contém apenas frases ou sintagmas nomi​nais (cantar pode ser verbo ou substantivo ‑ os meu cantares = as minhas canções); as demais, não apresentam coesão ‑ uma frase não se relaciona com outra, mas, pela forma de apresentação, colaboram para a coerência do texto.
“Do outro lado da parede”
Meu laço de botina.
Recebi a tua comunicação, escrita do beiral da viragem sempieterna. Foi um tiro no alvo do coração, se bem que ele já esteja treinado.
A culpa de tudo quem tem‑na é esse bandido desse coronel do Exército Brasileiro que nos inflicitou.
Reflete antes de te matares! Reflete Joaninha. Principalmente se ainda é tempo! És uma tarada.
Quando te conheci, Chez Hippolyte querias falecer dia e noite. Enfim, adeus.
Nunca te esquecerei. Never more! Como dizem os corvos."
João da Slavonia
(Andrade, O., 1971, p. 201‑202)
Embora as frases sejam sintaticamente coesas, nota‑se que, neste texto, não há coerência, não se observa uma linha lógica de raciocínio na expressão das ideias. Percebe‑se vagamente que a personagem João Slavonia teria recebi​do uma mensagem de Joaninha (Recebi a tua comunicação), ameaçando come​ter suicídio (Reflete antes de te matares!). A última frase contém uma alusão ao poema "O corvo", de Edgar Alan Poe.
A respeito das relações entre coerência e coesão, Guimarães (1990, p. 42) diz:
"O exposto autoriza‑nos a seguinte conclusão: ainda que distinguiveis (a coesão diz respeito aos modos de interconexão dos componentes textuais, a coerência refere‑se aos modos como os elementos subjacentes à superfície textual tecem a rede do sentido), trata‑se de dois aspectos de um mesmo fenômeno ‑ a coesão funcionando como efeito da coerência, ambas cúmpli​ces no processamento da articulação do texto."
A coerência textual subjaz ao texto e é responsável pela hierarquização dos elementos textuais, ou seja, ela tem origem nas estruturas profundas, no conhecimento do mundo de cada pessoa, aliada à competência linguística, que permitirá a expressão das ideias percebidas e organizadas, no processo de codificação referido na página... Deduz‑se daí que é difícil, senão impossível, ensinar coerência textual, intimamente ligada à visão de mundo, à origem das ideias no pensamento. A coesão, porém, refere‑se à expressão linguística, aos processos sintáticos e gramaticais do texto.
O seguinte resumo caracteriza coerência e coesão:
Coerência: rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação semântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com outra”).
Coesão: conjunto de elementos posicionados ao longo do texto, numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via gramática, fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do vocabulário, tem-se a coesão lexical.
Coerência
- assenta-se no plano cognitivo,da inteligibilidade do texto;
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão conceitual;
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com o aspecto global do texto;
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
Coesão
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
- relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes componentes do texto;
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
Coerência e coesão são responsáveis pela inteligibilidade ou compreensão do texto. Um texto bem redigido tem parágrafos bem estruturados e articulados pelo encadeamento das ideias neles contidas. As estruturas frasais devem ser coerentes e gramaticalmente corretas, no que respeita à sintaxe. O vocabulário precisa ser adequado e essa adequação só se consegue pelo conhecimento dos significados possíveis de cada palavra. Talvez os erros mais comuns de redaçao ​sejam devidos à impropriedade do vocabulário e ao mau emprego dos conectivos (conjunções, que têm por função ligar uma frase ou período a outro). Eis alguns exemplos de impropriedade do vocabulário, colhidos em redações sobre censura e os meios de comunicação e outras.
"Nosso direito é frisado na Constituição."
Nosso direito é assegurado pela Constituição.
"Estabelecer os limites as quais a programação deveria estar exposta."
Estabelecer os limites aos quais a programação deveria estar sujeita.
“A censura deveria punir as notícias sensacionalistas.”
A censura deveria proibir (ou coibir) as notícias sensacionalistas ou punir os meios de comunicação que veiculam tais notícias.
	
“Retomada das rédeas da programação.”
Retomada das rédeas dos meios de comunicação, no que diz respeito a programação.
“Os meios de comunicação estão sendo apelativos, vulgarizando e deterio​rando indivíduos.”
Os meios de comunicação estão recorrendo a expedientes grosseiros vulgarizando o nível dos programas e desrespeitando os telespectadores.
“A discussão deste assunto é inerente à sociedade.”
A discussão deste assunto é tarefa da sociedade (compete à sociedade).
“Na verdade, daquele autor eles pegaram apenas a nomenclatura...”
Na verdade, daquele autor eles adotaram (utilizaram) apenas a nomen​clatura...
“A ordem e forma de apresentação dos elementos das referências bibliográfi​cas são mostradas na NBR 6023 da ABNT”
(são regulamentadas pela NBR 6023 da ABNT).
O emprego de vocabulário inadequado prejudica muitas vezes a compre​ensão das ideias. É importante, ao redigir, empregar palavras cujosignificado seja conhecido pelo enunciador, e cujo emprego faça parte de seus conhecimen​tos linguísticos. Muitas vezes, quem redige conhece o significado de determina​da palavra, mas não sabe empregá‑la adequadamente, isso ocorre frequente​mente com o emprego dos conectivos (preposições e conjunções). Não basta saber que as preposições ligam nomes ou sintagmas nominais no interior das frases e que as conjunções ligam frases dentro do período; é necessário empre​gar adequadamente tanto umas como outras. É bem verdade que, na maioria das vezes, o emprego inadequado dos conectivos remete aos problemas de re​gência verbal e nominal.
Exemplos:
“Coação aos meios de comunicação” tem o sentido de atuar contra os meios de comunicação; os meios de comunicação sofrem a ação verbal, são coagidos.
“Coação dos meios de comunicação” significa que os meios de comunica​ção é que exercem a ação de coagir.
“Estar inteirada com os fatos” significa participação, interação.
“Estar inteirada dos fatos” significa ter conhecimento dos fatos, estar in​formada.
“Ir de encontro” significa divergir, não concordar.
“Ir ao encontro” quer dizer concordar.
“Ameaça de liberdade de expressão e transmissão de ideias” significa a liberdade não é ameaça; 
“Ameaça à liberdade de expressão e transmissão de ideias", isto é, a liberdade fica ameaçada.
“A princípio” indica um fato anterior (A princípio, ela aceitava as descul​pas que Mário lhe dava, mas depois deixou de acreditar nele).
“Em princípio” indica um fato de certeza provisória (Em princípio, fare​mos a reunião na quarta‑feira quer dizer que a reunião será na quarta​-feira, se todos concordarem, se houver possibilidade, porém admite a ideia de mudar a data).
“Por princípio” indica crença ou convicção (Por princípio, sou contra o racismo).
Quanto à regência verbal, convém sempre consultar um dicionário de ver​bos e regimes, pois muitos verbos admitem duas ou três regências diferentes; cada uma, porém, tem um significado específico. Lembre‑se, a propósito, de que as dúvidas sobre o emprego da crase decorrem do fato de considerar‑se crase como sinal de acentuação apenas, quando o problema refere‑se à regen​cia nominal e verbal.
Exemplos:
O verbo assistir admite duas regências: 
assistir o/a (transitivo direto) sig​nifica dar ou prestar assistência (O médico assiste o doente):
Assistir ao (transitivo indireto): ser espectador (Assisti ao jogo da sele​ção).
Inteirar o/a (transitivo direto) significa completar (Inteirei o dinheiro do presente).
Inteirar do (transitivo direto e indireto), significa informar alguém de..., tomar ou dar conhecimento de algo para alguém (Quero inteirá‑la dos fatos ocorridos...).
Pedir o (transitivo direto) significa solicitar, pleitear (Pedi o jornal do dia).
Pedir que ‑ contém uma ordem (A professora pediu que fizessem silêncio).
Pedir para ‑ pedir permissão (Pediu para sair da classe); significa também pedir em favor de alguém (A Diretora pediu ajuda para os alunos caren​tes) em favor dos alunos, pedir algo a alguém (para si): (Pediu ao colega para ajudá‑lo); pode significar ainda exigir, reclamar (Os professores pe​dem aumento de salário).
O mau emprego dos pronomes relativos também pode levar à falta de coe​são gramatical. Frequentemente, emprega‑se no qual ou ao qual em lugar do ‑que, com prejuízo da clareza do texto; outras vezes, o emprego é desnecessário ou inadequado. Barbosa e Amaral (colaboradora) (1988, p. 157) apresentam os seguintes exemplos:
“Pela manhã o carteiro chegou com um envelope para mim no qual es​tava sem remetente”. (Chegou com um envelope que (o qual) estava sem remetente).
“Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da sensibilidade...”
Encontrei belas palavras e não duvido da sensibilidade delas (palavras cheias de sensibilidade).
“Dentro do envelope havia apenas um papel em branco onde atribui muitos significados”: havia apenas um papel em branco ao qual atribui muitos significados (onde significa lugar no qual).
“Havia recebido um envelope em meu nome e que não portava destinatário, apesar que em seu conteúdo havia uma folha em branco. ( .. )”
Não se emprega apesar que, mas apesar de. E mais: apesar de não ligar corretamente as duas frases, não faz sentido, as frases deveriam ser coor​denadas por e: não portava destinatário e em seu interior havia uma folha ou: havia recebido um envelope em meu nome, que não portava destinatário, cujo conteúdo era uma folha em branco.
Essas e outras frases foram observadas em redações, quando foi proposto o seguinte tema:
“Imagine a seguinte situação:
‑ hoje você está completando dezoito anos.
‑ Nesta data, você recebe pelo correio uma folha de papel em branco, num envelope em seu nome, sem indicação do remetente.
‑ Além disso, você ganha de presente um retrato seu e um disco. Reflita sobre essa situação.
A partir da reflexão feita, redija um texto em prosa, sem ultrapassar o espaço reservado para redação no caderno de respostas."
Como de costume, muito se comentou, até nos jornais da época, a falta de coerência, as frases sem clareza, pelo mau emprego dos conectivos, como as se​guintes:
“Primeiramente achei gozado aqueles dois presentes, pois concluo que nunca deveria esquecer minha infância.”
Há falta de nexo entre as duas frases, pois uma não é conclusão da outra, nem ao menos estão relacionadas e gozado deveria ser substituído por engraça​do ou estranho.
“A folha pode estar amarrada num cesto de lixo mas o disco repete sempre a mesma música.”
A primeira frase não tem sentido e a segunda não se relaciona com a pri​meira. O conectivo “mas” deveria sugerir ideia de oposição, o que não ocorre no exemplo anterior. Não se percebe relação entre “ o disco repete sempre a mesma música” e a primeira frase.
“Mas, ao abrir a porta, era apenas o correio no qual viera trazer‑me uma encomenda.”
Observa‑se o emprego de no qual por o qual, melhor ainda ficaria que, simplesmente: era apenas o correio que viera trazer‑me uma encomenda.
Por outro lado, não mereceram comentários nem apareceram nos jornais boas redações como a que se segue:
“A vida hoje me cumprimentou, mandou‑me minha fotografia de garo​to, com olhos em expectativa admirando o mundo. Este mundo sem respos​tas para os meus dezoito anos. Mundo ‑ carta sem remetente, carta​ interrogativa para moço que aguarda o futuro, saboreando o fruto do amanhã.
Recebi um disco, também, cuja música tem a sonoridade de passos mar​chando para o futuro, ao som de melodias de cirandas esquecidas do meni​no‑moço de outrora, e do moço‑homem de hoje, que completa dezoito anos.
Sou agora a certeza de uma resposta à carta sem remetente que me comunica a vida. Vejo, na fotografia de mim mesmo, o homem que enfrentará a vida, que colherá com seu amor à luta e com seu espírito ambicioso, os frutos do destino.
E a música dos passos‑futuros na cadência do menino que deixou de ser, está o ritmo da vitória sobre as dificuldades, a minha consagração futura do homem, que vencerá o destino e será uma afirmação dentro da sociedade." C. G.
Exemplo de: (Fonseca, 1981, p. 178)
Para evitar a falta de coerência e coesão na articulação das frases, aconse​lha‑se levar em conta as seguintes sugestões para o emprego correto dos articuladores sintáticos (conjunções, preposições, locuções prepositivas e locu​ções conjuntivas).
Para dar ideia de oposição ou contradição, a articulação sintática se faz por meio de conjunções adversativas: mas, porém, todavia, contudo, no en​tanto, entretanto (nunca no entretanto). 
Podem também ser empregadas as con​junções concessivas e locuções prepositivas para introduzir a ideia de oposição aliada à concessão: embora, ou muito embora, apesar de, ainda que, conquanto, posto que, a despeito de, não obstante.
A articulação sintática de causa pode ser feita por meio de conjunções e locuções conjuntivas: pois, porque, como, por isso que, visto que, uma vez que, já que. Tambémpodem ser empregadas as preposições e locuções prepositivas: por, por causa de, em vista de, em virtude de, devido a, em consequência de, por motivo de, por razões de.
O principal articulador sintático de condição é o “se”: Se o time ganhar esse jogo, será campeão. Pode‑se também expressar condição pelo emprego dos conectivos: caso, contanto que, desde que, a menos que, a não ser que.
O emprego da preposição “para” é a maneira mais comum de expressar finalidade. “É necessário baixar as taxas de juros para que a economia se estabilize” ou para a economia se estabilizar. “Teresa vai estudar bastante para fazer boa prova.” Há outros articuladores que expressam finalidade: afim de, com o pro​pósito de, na finalidade de, com a intenção de, com o objetivo de, com o fito de, com o intuito de.
A ideia de conclusão pode ser introduzida por meio dos articuladores: assim, desse modo, então, logo, portanto, pois, por isso, por conseguinte, de modo que, em vista disso. Para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão emprega‑se ainda. Os articuladores aliás, além do mais, além disso, além de tudo, introduzem um argumento decisivo, cabal, apresentado como un acréscimo, para justificar de forma incontestável o argumento contrário.
Para introduzir esclarecimentos, retificações ou desenvolvimento do que foi dito empregam‑se os articuladores: isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras. A conjunção aditiva “e” anuncia não a repetição, mas o desenvolvimento do discurso, pois acrescenta uma informação nova, um dado novo, e se não acrescentar nada, é pura repetição e deve ser evitada.
Alguns articuladores servem para estabelecer uma gradação entre os correspondentes de determinada escala. No alto dessa escala acham‑se: mesmo, até, até mesmo; outros situam‑se no plano mais baixo: ao menos, pelo menos, no mínimo.
Introdução
A Introdução é a informação do assunto sobre o qual a dissertação tratará. O parágrafo introdutório é fundamental, precisa ser bem claro e chamar a atenção para os tópicos mais importantes do desenvolvimento.
O primeiro parágrafo da redação pode ser feito de diversas maneiras diferentes:
Trajetória histórica
Traçar a trajetória histórica é apresentar uma analogia entre elementos do passado e do presente. Já que uma analogia será apresentada, então os elementos devem ser similares; há de haver semelhança entre os argumentos apresentados, ou seja, só usaremos a trajetória histórica, quando houver um fato no passado que seja comparável, de alguma maneira, a outro no presente.
Quando apresentar a trajetória histórica na introdução, deve-se discutir, no desenvolvimento, cada elemento em um só parágrafo. Não misture elementos de épocas diferentes em um mesmo parágrafo. A trajetória histórica torna convincente a exemplificação; só se deve usar esse argumento, se houver conhecimento que legitime a fonte histórica.
Comparando social, geográfica ou historicamente
Também é apresentar uma analogia entre elementos, porém sem buscar no passado a argumentação. É comparar dois países, dois fatos, duas personagens, enfim, comparar dois elementos, para comprovar o tema.
Lembre-se de que se trata da introdução, portanto a comparação apenas será apresentada para, no desenvolvimento, ser discutido cada elemento da comparação em um parágrafo.
Conceituando ou definindo uma ideia ou situação
Em alguns temas de dissertação surgem palavras-chave de extrema importância para a argumentação. Nesses casos, pode-se iniciar a redação com a definição dessa palavra, com o significado dela, para, posteriormente, no desenvolvimento, trabalhar com exemplos de comprovação.
Contestando uma ideia ou citação, contradizendo, em partes
Quando o tema apresenta uma ideia com a qual não se concorda inteiramente, pode-se trabalhar com este método: concordar com o tema, em partes, ou seja, argumentar que a ideia do tema é verdadeira, mas que existem controvérsias; discutir que o assunto do tema é polêmico, que há elementos que o comprovem, e elementos que discordem dele, igualmente.
Não se esqueça de que o desenvolvimento tem que ser condizente com a introdução, estar em harmonia com ela, ou seja, se trabalhar com esse método, o desenvolvimento deve conter as duas comprovações, cada uma em um parágrafo.
Refutando o tema, contradizendo totalmente
Refutar significa rebater os argumentos; contestar as asserções; não concordar com algo; reprovar; ser contrário a algo; contrariar com provas; desmentir; negar. Portanto refutar o tema é escrever, na introdução, o contrário do que foi apresentado pelo tema. Deve-se tomar muito cuidado, pois não é só escrever o contrário, mas mostrar que se é contra o que está escrito. O ideal, nesse caso, é iniciar a introdução com “Ao contrário do que se acredita...”
Não se esqueça, novamente, de que o desenvolvimento tem que ser condizente com a introdução, estar em harmonia com ela, ou seja, se trabalhar com esse método, o desenvolvimento deve conter apenas elementos contrários ao tema. Cuidado para não cair em contradição. Se for, na introdução, favorável ao tema, apresente, no desenvolvimento, apenas elementos favoráveis a ele; se for contrário, apresente apenas elementos contrários.
Elaborando uma série de interrogações
Pode-se iniciar a redação com uma série de perguntas. Porém, cuidado! Devem ser perguntas que levem a questionamentos e reflexões, e não perguntas vazias que levem a nada ou apenas a respostas genéricas. As perguntas devem ser respondidas, no desenvolvimento, com argumentações coerentes e importantes, cada uma em um parágrafo. Portanto use esse método apenas quando já possuir as respostas, ou seja, escolha primeiramente os argumentos que serão utilizados no desenvolvimento e elabore perguntas sobre eles, para funcionar como introdução da dissertação. 
Pode-se transformar a introdução em uma pergunta. O mesmo já citado anteriormente, mas com apenas uma pergunta.
Elaborando uma enumeração de informações
Quando se tem certeza de que as informações são verídicas, podem-se usá-las na introdução e, depois, discuti-las, uma a uma, no desenvolvimento.
Caracterizando espaços ou aspectos
Pode-se iniciar a introdução com uma descrição de lugares ou de épocas, ou ainda com uma narração de fatos. Deve ser uma curta descrição ou narração, somente para iniciar a redação de maneira interessante, curiosa. Não se empolgue! Não transforme a dissertação em descrição, muito menos em narração.
Resumo do que será apresentado no desenvolvimento
Uma das maneiras mais fáceis de se elaborar a introdução é apresentar o resumo do que se vai discutir no desenvolvimento. Nesse caso, é necessário planejar cuidadosamente a redação toda, antes de começá-la, pois, na introdução, serão apresentados os tópicos a serem discutidos no desenvolvimento. Deve-se tomar o cuidado para não se apresentarem muitos tópicos, senão a dissertação será somente expositiva e não argumentativa. Cada tópico apresentado na introdução deve ser discutido no desenvolvimento em um parágrafo inteiro. Não se devem misturá-los em um parágrafo só, nem utilizar dois ou mais parágrafos, para se discutir um mesmo assunto. O ideal é que sejam apresentados somente dois ou três temas para discussão.
Paráfrase
Uma maneira de se elaborar a introdução é valendo-se da paráfrase, que consiste em reescrever o tema, utilizando suas próprias palavras. Deve-se tomar o cuidado, para não apenas substituírem as palavras do tema por sinônimos, pois isso será demonstração de falta de criatividade; o melhor é reestruturar totalmente o tema, realmente utilizando "suas" palavras.
Observe o que traz o Michaelis - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, quanto à definição da palavra paráfrase: Explicação ou tradução mais desenvolvida de um texto por meio de palavras diferentes das nele empregadas. Portanto sua frase deve ser mais desenvolvida que a frase apresentada como tema, e as palavras devem ser diferentes, e não sinônimas.
Frases-modelo, parao início da introdução
Não tomem estas frases como receita infalível. Antes de usá-las, analise bem o tema, planeje incansavelmente o desenvolvimento, use sua inteligência, para ter certeza daquilo que será incluso em sua dissertação. Só depois disso, use estas frases:
É de conhecimento geral que...
Todos sabem que, em nosso país, há tempos, observa-se...
Nesse caso, utilizei circunstância de lugar (em nosso país) e de tempo (há tempos). Isso é só para mostrar que é possível acrescentar circunstância divesas na introdução, não necessariamente estas que aqui estão. Outro elemento com o qual se deve tomar muito cuidado é o pronome “se”. Nesse caso, ele é partícula apassivadora, portanto o verbo deverá concordar com o elemento que vier à frente (singular ou plural).
Cogita-se, com muita frequência, de...
O mesmo raciocínio da anterior, agora com a circunstância de modo (com muita frequência).
Muito se tem discutido, recentemente, acerca de...
Muito se debate, hoje em dia...
Partícula apassivadora novamente. Cuidado com a concordância.
O (A)..... é de fundamental importância em....
É de fundamental importância o (a)....
É indiscutível que... / É inegável que...
Muito se discute a importância de...
Comenta-se, com frequência, a respeito de...
Não raro, toma-se conhecimento, por meio de..., de
Apesar de muitos acreditarem que.... (refutação)
Ao contrário do que muitos acreditam... (refutação)
Pode-se afirmar que, em razão de... (devido a, pelo)...
Ao fazer uma análise da sociedade, busca-se descobrir as causas de....
Talvez seja difícil dizer o motivo pelo qual...
Ao analisar o (a, os, as)..., é possível conhecer o (a, os, as)...., pois...
Argumentação
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informação a alguém. Quem comunica ​pretende criar uma imagem positiva de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem o dese​jo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele propõe.
Se essa é a finalidade última de todo ato de co​municação, todo texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo tipo de texto e vi​sa a promover adesão às teses e aos pontos de vista defendidos.
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocutor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio da retó​rica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recursos de linguagem.
Para compreender claramente o que é um ar​gumento, é bom voltar ao que diz Aristóteles, filó​sofo grego do século lV a.C., numa obra intitula​da “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vanta​josa e uma desvantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Suponhamos, no en​tanto, que tenhamos de escolher entre duas coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, precisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argumento pode então ser defi​nido como qualquer recurso que torna uma coi​sa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais possível que a ou​tra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
O objetivo da argumentação não é demons​trar a verdade de um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o enunciador está propondo.
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação. O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das premissas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados admitidos. No raciocínio lógico, as con​clusões não dependem de crenças, de uma manei​ra de ver o mundo, mas apenas do encadeamento de premissas e conclusões.
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
A é igual a B.
A é igual a C.
Então: C é igual a A.
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente, que C é igual a A.
Outro exemplo:
Todo ruminante é um mamífero.
A vaca é um ruminante.
Logo, a vaca é um mamífero.
Admitidas como verdadeiras as duas premis​sas, a conclusão também será verdadeira.
No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele, a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve‑se mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plausível. Se o Banco do Brasil fizer uma propa​ganda dizendo‑se mais confiável do que os con​correntes porque existe desde a chegada da fa​mília real portuguesa ao Brasil, ele estará dizen​do‑nos que um banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, confiável. Embo​ra não haja relação necessária entre a solidez de uma instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentativo na afirmação da con​fiabilidade de um banco. Portanto é provável que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que outro fundado há dois ou três anos.
Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante entender bem como eles funcionam.
Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso acrescentar mais uma: o con​vencimento do interlocutor, o auditório, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomina. Será mais fácil conven​cê‑lo valorizando coisas que ele considera positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalorizado numa dada cultura.
Tipos de Argumento
Já verificamos que qualquer recurso linguís​tico destinado a fazer o interlocutor dar prefe​rência à tese do enunciador é um argumento. Exemplo:
Argumento de Autoridade
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse recurso produz dois efeitos distintos: re​vela o conhecimento do produtor do texto a res​peito do assunto de que está tratando; dá ao texto a garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do texto um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e verdadeira. Exemplo:
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há conhecimento. Nunca o inverso.
Alex José Periscinoto. 
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem acreditar que é verdade.
Argumento de Quantidade
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior número de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior duração, o que temmaior número de adeptos, etc. O fundamento desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz largo uso do argumento de quantidade.
Argumento do Consenso
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta‑se em afirmações que, numa deter​minada época, são aceitas como verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscutível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não desfruta dele. Em nossa época, são con​sensuais, por exemplo, as afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que as condições de vida são piores nos países subde​senvolvidos. Ao confiar no consenso, porém, ​corre‑se o risco de passar dos argumentos váli​dos para os lugares‑comuns, os preconceitos e as frases carentes de qualquer base científica.
Argumento de Existência
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o argumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.
Nesse tipo de argumento, incluem‑se as provas documentais (fotos, estatísticas, depoimentos, gra​vações, etc.) ou provas concretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Durante a inva​são do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exército americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser vista como propa​gandística. No entanto, quando documentada pela comparação do número de canhões, de carros de combate, de navios, etc., ganhava credibilidade.
Argumento quase lógico
É aquele que opera com base nas relações lógi​cas, como causa e efeito, analogia, implicação, iden​tidade, etc. Esses raciocínios são chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios lógi​cos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias entre os elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis, plausíveis. Por exemplo, quan​do se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “então A é igual a C”, estabelece‑se uma relação de identidade lógica. Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu amigo” não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade provável.
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que concorrem para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se fundamentam nos dados apresentados, ilustrar ​afirmações gerais com fatos inadequados, narrar ​um fato e dele extrair generalizações indevidas.
Argumento do Atributo
É aquele que considera melhor o que tem pro​riedades típicas daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o que é mais grosseiro, etc.
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita ​frequência, celebridades recomendando prédi​os residenciais, produtos de beleza, alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consu​midor tende a associar o produto anunciado com atributos da celebridade.
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da competência linguística. A utilização da variante culta e formal da língua que o produtor do texto conhece a norma linguística socialmente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de dizer dá confiabilidade ao que se diz.
Imagine‑se que um médico deva falar sobre o estado de saúde de uma personalidade pública. Ele poderia fazê‑lo das duas maneiras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais adequada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico:
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve por bem deter​minar o internamento do governador pelo perío​do de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque alguns deles são barra‑pesada, a gen​te botou o governador no hospital por três dias.
Como dissemos antes, todo texto tem uma fun​ção argumentativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação deseja​-se influenciar alguém. Por mais neutro que pre​tenda ser, um texto tem sempre uma orientação argumentativa.
A orientação argumentativa é uma certa dire​ção que o falante traça para seu texto. Por exem​plo, um jornalista, ao falar de um homem público, pode ter a intenção de criticá‑lo, de ridicularizá‑lo ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episódios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não outras, etc. Veja:
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras trocavam abraços afetuosos.”
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
Além dos defeitos de argumentação menciona​dos quando tratamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros:
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão amplo, que serve de argumento pa​ra um ponto de vista e seu contrário. São no​ções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode ser usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter valor positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir carre​gadas de valor negativo (autoritarismo, degra​dação do meio ambiente, injustiça, corrupção).
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por um único contra‑exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir o argumento.
- Emprego de noções científicas sem nenhum ri​gor, fora do contexto adequado, sem o signifi​cado apropriado, vulgarizando‑as e atribuin​do‑lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite que outras crescam”, em que o termo imperialismo é desca​bido, uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir outros à sua de​pendência política e econômica”.
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situação concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvidos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, o assunto, etc).
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com manifestações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo mentir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evidente, afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas qualidades não se prometem, manifestam-se na ação.
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Argumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para chegar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura‑se convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu comportamento.
A persuasão pode serválida e não válida. Na persuasão válida, expõem‑se com clareza os fundamentos de uma ideia ou proposição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia‑se em argumentos subjetivos, apelos subliminares, chanta​gens sentimentais, com o emprego de "apelações", como a inflexão de voz, a mímica e até o choro.
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalida​des, expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a favor e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresenta dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos dados levantados, a maneira de expô‑los no texto já revelam uma "tomada de posição", a adoção de um ponto de vista na dissertação, ainda que sem a apresentação explícita de argu​mentos. Desse ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão, debate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento, a possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade de questionar é fundamental, mas não é suficiente para organizar um texto dissertativo. É neces​sária também a exposição dos fundamentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de vista.
Pode‑se dizer que o homem vive em permanente atitude argumentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de discurso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições, é necessá​ria a capacidade de conhecer outros pontos de vista e seus respectivos argumen​tos. Uma discussão impõe, muitas vezes, a análise de argumentos opostos, an​tagônicos. Como sempre, essa capacidade aprende‑se com a prática. Um bom exercício para aprender a argumentar e contra‑argumentar consiste em desenvolver as seguintes habilidades:
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição totalmente contrária;
- contra‑argumentação: imaginar um diálogo‑debate e quais os argumen​tos que essa pessoa imaginária possivelmente apresentaria contra a argumentação proposta;
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação oposta.
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, argumentar con​siste em estabelecer relações para tirar conclusões válidas, como se procede no método dialético. O método dialético não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. Trata‑se de um método de investigação da realidade pelo estudo de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em questão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
Descartes (1596‑1650), filósofo e pensador francês, criou o método de ra​ciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do simples para o complexo​. Para ele, verdade e evidência são a mesma coisa, e pelo raciocínio torna‑se pos​sível chegar a conclusões verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, começando‑se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, é fundamen​tal determinar o problema, dividi‑lo em partes, ordenar os conceitos, simplifi​cando‑os, enumerar todos os seus elementos e determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução.
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a argumenta​ção dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro regras básicas que cons​tituem um conjunto de reflexos vitais, uma série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca da verdade:
- evidência;
- divisão ou análise;
- ordem ou dedução;
- enumeração.
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
A forma de argumentação mais empregada na redação acadêmica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, que contém três proposi​ções: duas premissas, maior e menor, e a conclusão. As três proposições são en​cadeadas de tal forma, que a conclusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premissa maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois al​guns não caracteriza a universalidade.
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (silogística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai do particular para o geral. ​A expressão formal do método dedutivo é o silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia‑se em uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva à conclusão. Segundo esse método, partindo‑se de teorias gerais, de verdades universais, pode‑se chegar à previsão ou determinação de fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa para o efeito. Exemplo:
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal)
Fulano é homem (premissa menor = particular)
Logo, Fulano é mortal (conclusão)
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia‑se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, parte de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconhecidos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo:
O calor dilata o ferro (particular)
O calor dilata o bronze (particular)
O calor dilata o cobre (particular)
O ferro, o bronze, o cobre são metais
Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclusão falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples de sofisma no seguinte diálogo:
‑ Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
- Lógico, concordo.
‑ Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
‑ Claro que não!
- Então você possui um brilhante de 40 quilates...
Exemplos de sofismas:
Dedução
Todo professor tem um diploma (geral, universal)
Fulano tem um diploma (particular)
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
Indução
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular)
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral – conclusão falsa)
Nota‑se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são professores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Redentor. Comete‑se erro quando se faz generalizações apressadas ou infundadas. A "simples inspeção" é a ausência de análise ou análise superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, baseados nos sentimentos não ditados pela razão.
Tem‑se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não fundamentais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da verdade: análise, síntese, classificação e definição. Além desses, existem outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam os processos de dedução e indução à natureza de uma realidade particular. Pode‑se afirmar que cada ciência tem seu método próprio demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a classificação a definição são chamadas métodos sistemáticos, porque pela organização e ordenação das ideias visam sistematizar a pesquisa.
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados; a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para o todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma depende da outra. A análise decompõeo todo em partes, enquanto a síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe‑se, porém, que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combinadas, seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, o relógio estaria reconstruído.
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num conjunto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decomposição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. As operações que se realizam na análise e na síntese podem ser assim relacionadas:
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação de abordagens possíveis. A síntese também é importante na escolha dos elementos que farão parte do texto.
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou informal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é característica das ciências matemáticas, físico-naturais e experimentais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discernir” por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabelece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenômenos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou menos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores são empregados de modo mais ou menos convencional. A classificação, no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros e espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas características comuns e diferenciadoras. A classificação dos variados itens integrantes de uma lista mais ou menos caótica é artificial.
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão, canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio, sabiá, torradeira.
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá.
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo.
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira.
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus.
Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabética e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância, é uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimento de uma redação. Tanto faz que a ordem seja cres​cente, do fato mais importante para o menos importante, ou decrescente, pri​meiro o menos importante e, no final, o impacto do mais importante; é indis​pensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização. (Garcia, 1973, p. 302‑304.)
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na intro​dução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para expressar um questionamento, deve‑se, de antemão, expor clara e racionalmente as posições​ assumidas e os argumentos que as justificam. É muito importante deixar claro o campo da discussão e a posição adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também os pontos de vista sobre ele.
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da linguagem e con​siste na enumeração das qualidades próprias de uma ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme a espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferencia dos outros elementos dessa mesma espécie.
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às palavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
- o termo a ser definido;
- o gênero ou espécie;
- a diferença específica.
O que distingue o termo definido de outros elementos da mesma espécie. Exemplo:
 Na frase: O homem é um animal racional 	classifica‑se:
 Elemento espécie 	 diferença
 a ser definido		 específica
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em partes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importante é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, p.306), para determinar os "requisitos da definição denotativa”. Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta ou instalação”;
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
- deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade, definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
- deve ser breve (contida num só período). Quando a definição, ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição expandida;d
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) + cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as diferenças). 
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a palavra e seus significados. 
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. Sempre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira e necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional do mundo não tem valor, se não estiver acompanha​do de uma fundamentação coerente e adequada.
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clássica, que fo​ram abordados anteriormente, auxiliam o julgamento da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode reconhecer‑se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes, as premissas e as conclusões organizam‑se de modo livre, misturando‑se na estrutura do argumento. Por isso, é preciso apren​der a reconhecer os elementos que constituem um argumento: premissas/con​clusões. Depois de reconhecer, verificar se tais elementos são verdadeiros ou fal​sos; em seguida, avaliar se o argumento está expresso corretamente; se há coerência e adequação entre seus elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende os processos de raciocínio por dedução e por indução. Admitin​do‑se que raciocinar é relacionar, conclui‑se que o argumento é um tipo especí​fico de relação entre as premissas e a conclusão.
Procedimentos Argumentativos: Constituemos procedimentos argu​mentativos mais empregados para comprovar uma afirmação: exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio de exem​plos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns nesse tipo de pro​cedimento: mais importante que, superior a, de maior relevância que.​ Empregam‑se também dados estatísticos, acompanhados de expressões: considerando os dados; conforme os dados apresentados. Faz‑se a exemplificação, ainda, pela apresentação de causas e consequências, usando‑se comumente as expressões: porque, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa de, em virtude de, em vista de, por motivo de.
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é explicar ou es​clarecer os pontos de vista apresentados. Pode‑se alcançar esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpretação. Na explicitação por definição, empregam‑se expressões como: quer dizer, denomina‑se, chama‑se, na verdade, isto é, haja vista, ou melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme, segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece, assim, desse ponto de vista.
Enumeração: Faz‑se pela apresentação de uma sequência de elemen​tos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, depois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, depois de, antes de, atual​mente, hoje, no passado, sucessivamente, respectivamente. Na enume​ração de fatos em uma sequência de espaço, empregam‑se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mesma forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para estabelecer contraste, empregam‑se as expressões: mais que, menos que, melhor que, pior que.
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afirmação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credibilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na linha de raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais caráter confirmatório que comprobatório.
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam explicação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido por consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. Nesse caso, incluem-se
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, mortal, aspira à imortalidade);
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postulados e axiomas);
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de natureza subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria razão desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto não se discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda que parece absurdo).
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados concretos, estatísticos ou documentais.
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação se realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: causa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
Fatos não se discutem; discutem‑se opiniões. As declarações, julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opiniões pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada, e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra‑argumentação ou refutação. São vários os processos de contra‑argumentação:
Refutação pelo absurdo: refuta‑se uma afirmação demonstrando o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contra‑argumentação do cordeiro, na conhecida fábula "O lobo e o cordeiro";
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses para eliminá-las, apresentando‑se, então, aquela que se julga verdadeira;
Desqualificação do argumento: atribui‑se o argumento à opinião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo‑se a universalidade da afirmação;
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: consiste em refu​tar um argumento empregando os testemunhos de autoridade que contrariam a afirmação apresentada;
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em desautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou‑se em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Por exemplo, se na argumentação afirmou‑se, por meio de dados estatísticos, que "o controle demográfico produz o desenvolvimento", afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia‑se em uma relação de causa‑efeito difícil de ser comprovada. Para contra‑argumentar, propõe‑se uma relação inversa: "o desenvolvimento é que gera o controle demográfico".
Apresentam‑se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao desenvolvi​mento de outros temas. Elege‑se um tema, e, em seguida, sugerem‑se os proce​dimentos que devem ser adotados para a elaboração de um Plano de Redação.
Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução tecnológica
- Questionar o tema, transformá‑lo em interrogação, responder a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da resposta, justificar, criando um argumento básico;
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la (rever tipos de argumentação);
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias podem ser listadas livremente ou organizadas como causa e consequência);
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o argumento básico;
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do argumento básico;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma sequência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou menos a seguinte:
Introdução
- função social da ciência e da tecnologia;
- definições de ciência e tecnologia;
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
Desenvolvimento
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvolvimento tecnológico;
- como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as condições de vida no mundo atual;
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologicamente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países subdesenvolvidos;
- enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do passado; apontar semelhanças e diferenças;
- analisar as condições atuais de vida nos grandes centros urbanos;
- como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar mais a sociedade.
Conclusão
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/consequências maléficas;
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentosapresentados.
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de redação: é um dos possíveis.
 
Informações Explícitas e Implícitas
Texto:
“Neto ainda está longe de se igualar a qualquer um desses craques (Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé), mas ainda tem um longo caminho a trilhar (...).”
Veja São Paulo, 26/12/1990, p. 15.
Esse texto diz explicitamente que:
- Rivelino, Ademir da Guia, Pedro Rocha e Pelé são craques;
- Neto não tem o mesmo nível desses craques;
- Neto tem muito tempo de carreira pela frente.
O texto deixa implícito que:
- Existe a possibilidade de Neto um dia aproximar-se dos craques citados;
- Esses craques são referência de alto nível em sua especialidade esportiva;
- Há uma oposição entre Neto e esses craques no que diz respeito ao tempo disponível para evoluir.
Todos os textos transmitem explicitamente certas informações, enquanto deixam outras implícitas. Por exemplo, o texto acima não explicita que existe a possibilidade de Neto se equiparar aos quatro futebolistas, mas a inclusão do advérbio ainda estabelece esse implícito. Não diz também com explicitude que há oposição entre Neto e os outros jogadores, sob o ponto de vista de contar com tempo para evoluir. A escolha do conector “mas” entre a segunda e a primeira oração só é possível levando em conta esse dado implícito. Como se vê, há mais significados num texto do que aqueles que aparecem explícitos na sua superfície. Leitura proficiente é aquela capaz de depreender tanto um tipo de significado quanto o outro, o que, em outras palavras, significa ler nas entrelinhas. Sem essa habilidade, o leitor passará por cima de significados importantes ou, o que é bem pior, concordará com ideias e pontos de vista que rejeitaria se os percebesse.
Os significados implícitos costumam ser classi​ficados em duas categorias: os pressupostos e os subentendidos.
Pressupostos: são ideias implícitas que estão implicadas logicamente no sentido de certas pa​lavras ou expressões explicitadas na superfície da frase. Exemplo:
“André tornou‑se um antitabagista convicto.”
A informação explícita é que hoje André é um antitabagista convicto. Do sentido do verbo tor​nar‑se, que significa "vir a ser", decorre logica​mente que antes André não era antitabagista convicto. Essa informação está pressuposta. Ninguém se torna algo que já era antes. Seria muito estranho dizer que a palmeira tornou‑se um vegetal.
“Eu ainda não conheço a Europa.”
A informação explícita é que o enunciador não tem conhecimento do continente europeu. O ad​vérbio ainda deixa pressuposta a possibilidade de ele um dia conhecê‑la.
As informações explícitas podem ser questio​nadas pelo receptor, que pode ou não concordar com elas. Os pressupostos, porém, devem ser ver​dadeiros ou, pelo menos, admitidos como tais, porque esta é uma condição para garantir a conti​nuidade do diálogo e também para fornecer fun​damento às afirmações explícitas. Isso significa que, se o pressuposto é falso, a informação explí​cita não tem cabimento. Assim, por exemplo, se Maria não falta nunca a aula nenhuma, não tem o menor sentido dizer “Até Maria compareceu à aula de hoje”. Até estabelece o pressuposto da inclusão de um elemento inesperado.
Na leitura, é muito importante detectar os pressupostos, pois eles são um recurso argumentativo que visa a levar o receptor a aceitar a orientação argumentativa do emissor. Ao introduzir uma ideia sob a forma de pressuposto, o enunciador pretende transformar seu interlocutor em cúmpli​ce, pois a ideia implícita não é posta em discussão, e todos os argumentos explícitos só contribuem para confirmá‑la. O pressusposto aprisiona o re​ceptor no sistema de pensamento montado pelo enunciador.
A demonstração disso pode ser feita com as “verdades incontestáveis” que estão na base de muitos discursos políticos, como o que segue:
“Quando o curso do rio São Francisco for muda​do, será resolvido o problema da seca no Nordeste.”
O enunciador estabelece o pressuposto de que é certa a mudança do curso do São Francisco e, por consequência, a solução do problema da seca no Nordeste. O diálogo não teria continuidade se um interlocutor não admitisse ou colocasse sob suspeita essa certeza. Em outros termos, haveria quebra da continuidade do diálogo se alguém interviesse com uma pergunta deste tipo:
“Mas quem disse que é certa a mudança do curso do rio?”
A aceitação do pressuposto estabelecido pelo emissor permite levar adiante o debate; sua nega​ção compromete o diálogo, uma vez que destrói a base sobre a qual se constrói a argumentação, e daí nenhum argumento tem mais importância ou razão de ser. Com pressupostos distintos, o diálogo não é possível ou não tem sentido.
A mesma pergunta, feita para pessoas dife​rentes, pode ser embaraçosa ou não, dependen​do do que está pressuposto em cada situação. Pa​ra alguém que não faz segredo sobre a mudança de emprego, não causa o menor embaraço uma pergunta como esta:
“Como vai você no seu novo emprego?”
O efeito da mesma pergunta seria catastrófico se ela se dirigisse a uma pessoa que conseguiu um segundo emprego e quer manter sigilo até decidir se abandona o anterior. O adjetivo novo estabele​ce o pressuposto de que o interrogado tem um emprego diferente do anterior.
Marcadores de Pressupostos
- Adjetivos ou palavras similares modificadoras do substantivo
Julinha foi minha primeira filha.
“Primeira” pressupõe que tenho outras filhas e que as outras nasceram depois de Julinha.
Destruíram a outra igreja do povoado.
“Outra” pressupõe a existência de pelo menos uma igreja além da usada como referência.
- Certos verbos
Renato continua doente.
O verbo “continua” indica que Renato já estava doente no momento anterior ao presente. 
Nossos dicionários já aportuguesaram a palavrea copydesk.
O verbo “aportuguesar” estabelece o pressuposto de que copidesque não existia em português.
- Certos advérbios
A produção automobilística brasileira está totalmente nas mãos das multinacionais.
O advérbio totalmente pressupõe que não há no Brasil indústria automobilística nacional.
‑ Você conferiu o resultado da loteria? 
‑ Hoje não.
A negação precedida de um advérbio de tempo de âmbito limitado estabelece o pressuposto de que apenas nesse intervalo (hoje) é que o interrogado não praticou o ato de conferir o resultado da loteria.
- Orações adjetivas
Os brasileiros, que não se importam com a coletividade, só se preocupam com seu bem‑estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos, etc.
O pressuposto é que “todos” os brasileiros não se importam com a coletividade.
Os brasileiros que não se importam com a coletividade só se preocupam com seu bem‑estar e, por isso, jogam lixo na rua, fecham os cruzamentos, etc.
Nesse caso, o pressuposto é outro: “alguns” brasileiros não se importam com a coletividade.
No primeiro caso, a oração é explicativa; no se​gundo, é restritiva. As explicativas pressupõem que o que elas expressam se refere à totalidade dos elementos de um conjunto; as restritivas, que o que elas dizem concerne apenas a parte dos elementos de um conjunto. O produtor do texto es​creverá uma restritiva ou uma explicativa segundo o pressuposto que quiser comunicar.
Subentendidos: são insinuações contidas em uma frase ou um grupo de frases. Suponha​mos que uma pessoa estivesse em visita à casa de outra num dia de frio glacial e que uma janela, por onde entravam rajadas de vento, estivesse aberta. Se o visitante dissesse “Que frio terrível”, poderia estar insinuando que a janela deveria ser fechada.
Há uma diferença capital entre o pressuposto e o subentendido. O primeiro é uma informação es​tabelecida como indiscutível tanto para o emissor quanto para o receptor, uma vez que decorre ne​cessariamente do sentido de algum elemento lin​guístico colocado na frase. Ele pode ser negado, mas oemissor coloca‑o implicitamente para que não o seja. Já o subentendido é de responsabilidade do receptor. O emissor pode esconder-se atrás do sentido literal das palavras e negar que tenha dito o que o receptor depreendeu de suas pala​vras. Assim, no exemplo dado acima, se o dono da casa disser que é muito pouco higiênico fechar to​das as janelas, o visitante pode dizer que também acha e que apenas constatou a intensidade do frio.
O subentendido serve, muitas vezes, para o emissor proteger‑se, para transmitir a informação que deseja dar a conhecer sem se comprome​ter. Imaginemos, por exemplo, que um funcioná​rio recém‑promovido numa empresa ouvisse de um colega o seguinte:
“Competência e mérito continuam não valendo nada como critério de promoção nesta empresa...”
Esse comentário talvez suscitasse esta suspeita:
“Você está querendo dizer que eu não merecia a promoção?”
Ora, o funcionário preterido, tendo recorrido a um subentendido, poderia responder:
“Absolutamente! Estou falando em termos gerais.”
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre
Num texto, as personagens falam, conversam entre si, expõem ideias. Quando o narrador conta o que elas disseram, insere na narrativa uma fala que não é de sua autoria, cita o discurso alheio. Há três maneiras principais de reproduzir a fala das personagens: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre.
Discurso Direto
“Longe do olhos...”
- Meu pai! Disse João Aguiar com um tom de ressentimento que fez pasmar o comendador.
- Que é? Perguntou este.
João Aguiar não respondeu. O comendador arrugou a testa e interrogou o roto mudo do filho. Não leu, mais adivinhou alguma coisa desastrosa; desastrosa, entenda-se, para os cálculos conjunto-políticos ou políticos-conjugais, como melhor nome haja.
- Dar-se-á caso que... começou a dizer comendador.
- Que eu namore? Interrompeu galhofeiramente o filho.
Machado de Assis. Contos. 26ª Ed. São Paulo, Ática, 2002, p. 43.
O narrador introduz a fala das personagens, um pai e um filho, e, em seguida, como quem passa a palavra a elas e as deixa falar. Vemos que as partes introdutórias pertencem ao narrador (por exemplo, disse João Aguiar com um tom de ressentimento que faz pasmar o comendador) e as falas, às personagens, (por exemplo, Meu pai!).
O discurso direto é o expediente de citação do discurso alheio pela qual o narrador introduz o discurso do outro e, depois, reproduz literalmente a fala dele.
As marcas do discurso são:
- A fala das personagens é, de princípio, anunciada por um verbo (disse e interrompeu no caso do filho e perguntou e começou a dizer no caso do pai) denominado “verbo de dizer” (como recrutar, retorquir, afirmar, obtem-perar declarar e outros do mesmo tipo), que pode vir antes, no meio ou depois da fala das personagens (no nosso caso, veio depois);
- A fala das personagens aparece nitidamente separada da fala do narrador, por aspas, dois pontos, travessão ou vírgula;
- Os pronomes pessoais, os tempos verbais e as palavras que indicam espaço e tempo (por exemplo, pronomes demonstrativos e advérbios de lugar e de tempo) são usados em relação à pessoa da personagem, ao momento em que ela fala diz “eu”, o espaço em que ela se encontra é o aqui e o tempo em que fala é o agora.
Discurso Indireto
Observemos um fragmento do mesmo conto de Machado de Assis:
“Um dia, Serafina recebeu uma carta de Tavares dizendo-lhe que não voltaria mais à casa de seu pai, por este lhe haver mostrado má cara nas últimas vezes que ele lá estivera.”
Idem. Ibidem, p. 48.
Nesse caso o narrador para citar que Tavares disse a Serafina, usa o outro procedimento: não reproduz literalmente as palavras de Tavares, mas comunica, com suas palavras, o que a personagem diz. A fala de Tavares não chega ao leitor diretamente, mas por via indireta, isto é, por meio das palavras do narrador. Por essa razão, esse expediente é chamado discurso indireto.
As principais marcas do discurso indireto são:
- As falas das personagens também vem introduzidas por um verbo de dizer;
- As falas das personagens constituem oração subordinada substantiva objetiva direta do verbo de dizer e, portanto, são separadas da fala do narrador por uma partícula introdutória normalmente “que” ou “se”;
- Os pronomes pessoais, os tempos verbais e as palavras que indicam espaço e tempo (como pronomes demonstrativos e advérbios de lugar e de tempo) são usados e relação a narrador, ao momento em que ele fala e ao espaço em que está. 
Passagem do Discurso Direto para o Discurso Indireto
Pedro disse:
- Eu estarei aqui amanhã.
No discurso direto, o personagem Pedro diz “eu”; o “aqui” é o lugar em que a personagem está; “amanhã” é o dia seguinte ao que ele fala. Se passarmos essa frase para o discurso indireto ficará assim:
Pedro disse que estaria lá no dia seguinte.
No discurso indireto, o “eu” passa a ele porque á alguém de quem o narrador fala; estaria é futuro do pretérito: é um tempo relacionado ao pretérito da fala do narrador (disse), e não ao presente da fala do personagem, como estarei; lá é o espaço em que a personagem (e não o narrador) havia de estar; no dia seguinte é o dia que vem após o momento da fala da personagem designada por ele.
Na passagem do discurso direto para o indireto, deve-se observar as frases que no discurso direto tem as formas interrogativas, exclamativa ou imperativa convertem-se, no discurso indireto, em orações declarativas.
Ela me perguntou: quem está ai?
Ela me perguntou quem estava lá.
As interjeições e os vocativos do discurso direto desaparecem no discurso indireto ou tem seu valor semântico explicitado, isto é, traduz-se o significado que elas expressam.
O papagaio disse: Oh! Lá vem a raposa.
O papagaio disse admirado (explicitação do valor semântico da interjeição oh!) que ao longe vinha a raposa.
Se o discurso citado (fala da personagem) comporta um “eu” ou um “tu” que não se encontram entre as pessoas do discurso citante (fala do narrador), eles são convertidos num “ele”, se o discurso citado contém um “aqui” não corresponde ao lugar em que foi proferido o discurso citante, ele é convertido num “lá”.
Pedro disse lá em Paris: - Aqui eu me sinto bem.
Eu (pessoa do discurso citado que não se encontra no discurso citante) converte-se em ele; aqui (espaço do discurso citado que é diferente do lugar em que foi proferido o discurso citante) transforma-se em lá:
- Pedro disse que lá ele se sentia bem.
Se a pessoa do discurso citado, isto é, da fala da personagem (eu, tu, ele) tem um correspondente no discurso citante, ela ocupa o estatuto que tem nesse último.
Maria declarou-me: - Eu te amo.
O “te” do discurso citado corresponde ao “me” do citante. Por isso, “te” passa a “me”:
- Maria declarou-me que me amava.
No que se refere aos tempos, o mais comum é o que o verbo de dizer esteja no presente ou no pretérito perfeito. Quando o verbo de dizer estiver no presente e o da fala da personagem estiver no presente, pretérito ou futuro do presente, os tempos mantêm-se na passagem do discurso direto para o indireto. Se o verbo de dizer estiver no pretérito perfeito, as alterações que ocorrerão na fala da personagem são as seguintes:
Discurso Direto – Discurso Indireto
Presente – Pretérito Imperfeito
Pretérito Perfeito – Pretérito mais-que-perfeito
Futuro do Presente – Futuro do Pretérito
Joaquim disse: - Compro tudo isso.
- Joaquim disse que comprava tudo isso.
Joaquim disse: - Comprei tudo isso.
- Joaquim disse que comprara tudo isso.
Joaquim disse: - Comprarei tudo isso.
- Joaquim disse que compraria tudo isso.
Discurso Indireto Livre
“(...) No dia seguinte Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença eraproveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
Graciliano Ramos. Vidas secas. 
28ª Ed. São Paulo, Martins, 1971, p. 136.
Nesse texto, duas vozes estão misturadas: a do narrador e a de Fabiano. Não há indicadores que delimitem muito bem onde começa a fala do narrador e onde se inicia a da personagem. Não se tem dúvida de que o período inicial está traduzido a fala do narrador. A bem verdade, até não se conformou (início do segundo parágrafo), é a voz do narrador que está comandando a narrativa. Na oração devia haver engano, já começa haver uma mistura de vozes: sob o ponto de vista das marcas gramaticais, não há nenhuma pista para se concluir, que a voz de Fabiano é que esteja sendo citada; sob o ponto de vista do significado, porém, pode-se pensar numa reclamação atribuída a ele.
Tomemos agora esse trecho: “Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco.” Pelo conteúdo de verdade é pelo modo de dizer, tudo nos induz a vislumbrar aí a voz de Fabiano ecoando por meio do discurso do narrador. É como se o narrador, sem abandonar as marcas linguísticas próprias de sua fala, estivesse incorporando as reclamações e suspeitas da personagem, a cuja linguagem pertencem expressões do tipo bruto, sim senhor e a mulher tinha miolo. Até a repetição de palavras e uma certa entonação presumivelmente exclamativa confirmam essa inferência.
Para perceber melhor o que é o discurso indireto livre, confrontemos uma frase do texto com a correspondente em discurso direito e indireto:
- Discurso Indireto Livre
Estava direito aquilo?
- Discurso Direto
Fabiano perguntou: - Esta direito isto?
- Discurso Indireto
Fabiano perguntou se aquilo estava direito
Essa forma de citação do discurso alheio tem características próprias que são tanto do discurso direto quanto do indireto. As características do discurso indireto livre são:
- Não há verbos de dizer anunciando as falas das personagens;
- Estas não são introduzidas por partículas como “que” e “se” nem separadas por sinais de pontuação;
- O discurso indireto livre contém, como o discurso direto, orações interrogativas, imperativas e exclamativas, bem como interjeições e outros elementos expressivos;
- Os pronomes pessoais e demonstrativos, as palavras indicadoras de espaço e de tempo são usados da mesma forma que no discurso indireto. Por isso, o verbo estar, do exemplo acima, ocorre no pretérito imperfeito, e não no presente (está), como no discurso direto. Da mesma forma o pronome demonstrativo ocorre na forma aquilo, como no discurso indireto.
Funções dos diferentes modos de citar o discurso do outro
O discurso direto cria um efeito de sentido de verdade. Isso porque o leito ou ouvinte tem a impressão de que quem cita preservou a integridade do discurso citado, ou seja, o que ele reproduziu é autêntico. É como se ouvisse a pessoa citada com suas próprias palavras e, portanto, com a mesma carga de subjetividade.
Essa modalidade de citação permite, por exemplo, que se use variante linguística da personagem como forma de fornecer pistas para caracterizá-la. Sirva de exemplo o trecho que segue, um diálogo entre personagens do meio rural, um farmacêutico e um agricultor, cuja fala é transcrita em discurso direto pelo narrador:
Um velho brônzeo apontou, em farrapos, à janela aberta o azul.
- Como vai, Elesbão?
- Sua bênção...
- Cheio de doenças?
- Sim sinhô.
- De dores, de dificuldades?
- Sim sinhô.
- De desgraças...
O farmacêutico riu com um tímpano desmesurado. Você é o Brasil. Depois Indagou:
- O que você eu Elesbão?
- To precisando de uns dinheirinho e duns gênor. Meu arroizinho tá bão, tá encanando bem. Preciso de uns mantimento pra coiêta. O sinhô pode me arranjá com Nhô Salim. Depois eu vendo o arroiz pra ele mermo.
- Você é sério, Elesbão?
- Sô sim sinhô!
- Quanto é que você deve pro Nhô Salim?
- Um tiquinho.
Oswaldo de Andrade. Marco Zero. 
2ª Ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1974, p. 7-8.
Quanto ao discurso indireto, pode ser de dois tipos, e cada um deles cria um efeito de sentido diverso.
- Discurso Indireto que analisa o conteúdo: elimina os elementos emocionais ou afetivos presentes no discurso direto, assim como as interrogações, exclamações ou formas imperativas, por isso produz um efeito de sentido de objetividade analítica. Com efeito, nele o narrador revela somente o conteúdo do discurso da personagem, e não o modo como ela diz. Com isso estabelece uma distância entre sua posição e a da personagem, abrindo caminho para a réplica e o comentário. Esse tipo de discurso indireto despersonaliza discurso citado em nome de uma objetividade analítica. Cria, assim, a impressão de que o narrador analisa o discurso citado de maneira racional e isenta de envolvimento emocional. O discurso indireto, nesse caso, não se interessa pela individualidade do falante no modo como ele diz as coisas. Por isso é a forma preferida nos textos de natureza filosófica, científica, política, etc., quando se expõe as opiniões dos outros com finalidade de criticá-las, rejeitá-las ou acolhê-las.
- Discurso Indireto que analisa a expressão: serve para destacar mais o modo de dizer do que o que se diz; por exemplo, as palavras típicas do vocabulário da personagem citada, a sua maneira de pronunciá-las, etc. Nesse caso, as palavras ou expressões ressaltadas aparecem entre aspas. Veja-se este exemplo. De Eça de Queirós:
...descobrira de repente, uma manhã, eu não devia trair Amaro, “porque era papá do seu Carlinhos”. E disse-o ao abade; fez corar os sessenta e quatro anos do bom velho (...).
O crime do Padre Amaro. 
Porto, Lello e Irmão, s.d., vol. I, p. 314.
Imagine-se ainda que uma pessoa, querendo denunciar a forma deselegante com que fora atendida por um representante de uma empresa, tenha dito o seguinte:
A certa altura, ele me respondeu que, se eu não estivesse satisfeito, que fosse reclamar “para o bispo” e que ele já não estava “nem aí” com “tipinhos” como eu. 
Em ambos os casos, as aspas são utilizadas para dar destaque a certas formas de dizer típicas das personagens citadas e para mostrar o modo como o narrador as interpreta. No exemplo de Eça de Queirós, “porque era o papá de seu Carlinhos” contem uma expressão da personagem Amélia e mostra certa dose de ironia e malícia do narrador. No segundo exemplo, as aspas destacam a insatisfação do narrador com a deselegância e o desprezo do funcionário para com os clientes.
O discurso indireto livre fica a meio caminho da subjetividade e da objetividade. Tem muitas funções. Por exemplo, dá verossimilhança a um texto que pretende manifestar pensamentos, desejos, enfim, a vida interior de uma personagem.
Em síntese, demonstra um envolvimento tal do narrador com a personagem, que as vozes de ambos se misturam como se eles fossem um só ou, falando de outro modo, como se o narrador tivesse vestido completamente a máscara da personagem, aproximando-a do leitor sem a marca da sua intermediação.
Veja-se como, neste trecho: “O tímido José”, de Antônio de Alcântara Machado, o narrador, valendo-se do discurso indireto livre, leva o leitor a partilhar do constrangimento da personagem, simulando estar contaminado por ele:
(...) Mais depressa não podia andar. Garoar, garoava sempre. Mas ali o nevoeiro já não era tanto felizmente. Decidiu. Iria indo no caminho da Lapa. Se encontrasse a mulher bem. Se não encontrasse paciência. Não iria procurar. Iria é para casa. Afinal de contas era mesmo um trouxa. Quando podia não quis. Agora que era difícil queria.
Laranja-da-china. In: Novelas Paulistanas. 
1ªEd. Belo Horizonte, Itatiaia/ São Paulo, Edusp, 1998, p. 184.
Recursos Discursivos
Tomemos o caso de Romeu e Julieta: essa peça teatral foi ba​seada nas Novelas do frade dominicano italiano Mateo Bandelo, as quais, por sua vez, foram inspi​radas em narrativas antigas, de seu país ou es​trangeiras. Em todas elas aparece o relato da pai​xão entre dois jovens, proibida por causa do ódio de morte que separava suas famílias. O ímpeto da paixão vence a interdição paterna, mas acaba em tragédia, com o suicídio do casal de protagonistas.
As novelas de Mateo Bandelo estão publicadas e têm alguma notoriedade, mas nada comparável ao retumbante sucesso da peça de Shakespeare, que posteriormente foi tema de óperas (Bellini e Gounod), balé (Prokofiev) e filmes (George Cukor, Franco Zeffirelli, Baz Luhrmann, etc.).
Exemplos como esse são conhecidos de todos, mas poucos sabem explicar por que e como isso se dá. Por se tratar de um esclarecimento útil a todos quantos se dedicam ao ensino e ao aprendizado da leitura e da redação, vamos ensaiar aqui uma res​posta para esta questão: qual é o diferencial que torna um texto mais célebre ou simplesmente mais qualificado que outro com o mesmo sentido? Ou: como é possível encontrar um modo mais atraente e mais persuasivo de dizer a mesma coisa?
Vamos designar pelo nome de recursos dis​cursivos todo tipo de expediente que contribui para elevar o grau de perfeição de um texto sem, contudo, interferir, ao menos de maneira radical, no seu significado de base.
É operando com esses recursos que se consegue melhorar cada vez mais o mesmo texto, e tantas as possibilidades de manobra com que se costuma dizer que todo texto é perfectível ao infinito. Ou seja, por mais que se aperfeiçõe o enunciado, invariavelmente sobram aspectos a aperfeiçoar.
Todos os grandes escritores confessam que nenhum texto nasce pronto, fruto de uma iluminação momentânea. Sua elaboração começa sempre de um esboço rudimentar que vai pas​sando por sucessivas alterações, até chegar a um ponto tal, que o autor não sabe mais mexer.
Exemplo disso é o fragmento dos originais de “Grande sertão: veredas”, no qual se veem diversas alterações e anotações feitas pelo próprio Guimarães Rosa.
Quando os poetas comentam as inúmeras modificações que fazem nos seus textos, costu​mam gerar incredulidade. Mas essa revelação é expressão da mais pura verdade e, para confirmá-la, basta conferir quantos rabiscos, alterações, e acréscimos se dão na superfície dos seus originais. Nas grandes editoras, sobretudo nas de obras de caráter informativo, há profissionais especializados em melhorar o padrão de qualidade dos textos a serem impressos.
Essa melhora não consiste em trocar um texto por outro, mas em promover num mesmo texto al​terações que afetam o modo de dizer, e não o que se diz. Tais alterações são feitas por meio da exploração de certos expedientes que vamos cha​mar de recursos discursivos e que, em suma, en​quadram‑se na seguinte definição: são expedien​tes linguísticos usados para tornar o enunciado o mais próximo possível das intenções programadas pelo enunciador.
Bom texto é aquele que atinge o resultado programado, e esse resultado só pode ser atingido plenamente se todos os seus enunciados ex​ploram os recursos discursivos orientados para cumprir as intenções do seu enunciador. Convém insistir no fato de que os recursos dis​cursivos afetam dominantemente o modo de dizer, e não o que se diz. Exemplo:
Numa reportagem transmitida por um canal de televisão há algum tempo, os responsáveis pela ma​téria queriam confrontar vantagens e desvantagens dos tratamentos de saúde feitos à base de plantas medicinais ou de remédios da medicina alopática. Como é sugerido pelos manuais de jornalismo, o editor‑chefe colocou no ar a opinião de um camelô do centro de São Paulo e a de um fitoterapeuta, fa​miliarizado com a terminologia científica. Ambos disseram:
Pergunta: O que o senhor diz do tratamento por plantas medicinais?
Resposta do camelô: O tratamento por ervas é uma boa... Primeiro porque elas é mais barata que os remédio de farmácia; segundo porque, se elas não faz bem, mal também não faz.
Resposta do fitoterapeuta: A fitoterapia, em contraposição com a alopatia, tem inequívocas van​tagens: primeiro, pelo seu baixo custo; segundo, pela ausência de sequelas comprometedoras.
Confrontando as duas respostas, percebe‑se que são praticamente idênticas quanto ao sentido, como se pode observar a seguir:
Resposta do camelô: O tratamento por ervas é uma boa...
Resposta do fitoterapeuta: A fitoterapia, em contraposição com a alopatia traz inequívocas vantagens:
Resposta do camelô: Primeiro porque elas é mais barata que o remédio da farmácia;
Resposta do fitoterapeuta: primeiro, pelo seu baixo custo;
Resposta do camelô: Segundo porque, se elas não faz bem, mas também não faz.
Resposta do fitoterapeuta: segundo, pela ausência de sequelas comprometedoras.
A comparação não permite dizer que o senti​do dos dois textos seja exatamente o mesmo, mas o confronto entre as três partes em que foram di​vididas as duas declarações nos dá absoluta cer​teza de que o maior prestígio do texto do cientis​ta não decorre da diferença de sentido, ou seja, do conteúdo de verdade daquilo que é dito.
Ora, se a diferença não está no que se diz (no sentido propriamente dito), só pode estar no mo​do de dizer, isto é, no efeito de sentido provoca​do pelos recursos de linguagem explorados por um e outro enunciador. Esses efeitos são obtidos pelo modo particular com que cada um constrói o seu enunciado. Em outras palavras, o efeito de sentido produzido pelo texto depende da compe​tência de trazer para a construção do enunciado certas particularidades que o tornam mais ade​quado para atingir o resultado planejado pelo enunciador.
Essa capacidade do enunciador de adequar os recursos disponíveis na língua para conseguir o que pretende depende de escolhas que não afe​tam propriamente o sentido, mas sim o efeito de sentido do texto.
No caso das duas respostas dadas pelos entre​vistados, fica evidente o maior prestígio das pala​vras selecionadas pelo cientista: tratamento por er​vas e fitoterapia possuem exatamente o mesmo sen​tido, mas o prestígio social da palavra científica é maior; assim também a expressão é uma boa pode significar o mesmo que traz inequívocas vantagens, mas o prestígio da segunda expressão é maior.
Efeitos de Sentido
Já dissemos que os recursos discursivos não interferem propriamente no sentido básico do tex​to, mas no efeito de sentido, ou seja, podemos, por exemplo, comunicar praticamente a mesma infor​mação de modos diferentes: com mais envolvimento emocional, com mais imparcialidade, com sensacionalismo, etc.
Uma maneira de constatar essa variedade de formas e expressão é observar como manchetes de jornais diferentes transmitem a mesma notícia.
A título de ilustração, vamos transcrever algumas manchetes da derrota da seleção brasileira na ​final da Copa do Mundo de 1998 na França, todas elas publicadas na primeira página de diversos jornais no dia 13 de julho daquele ano.
Brasil 0 X 3 França - (Jornal Lance – São Paulo)
França X Brasil - 3 X 0 - Tristeza - (Zero Hora – Porto Alegre)
É o Penta que partiu! - (Notícias Populares – São Paulo
França goleia Brasil e leva Copa - (O Estado de S. Paulo – São Paulo)
Zagallo engole Zidane - (Diário Popular – São Paulo)
E o Brasil teve que engolir. A última Copa do Milênio é da França - (Correio Popular – Campinas- SP)
França adia sonho do Penta - (O Globo – Rio de Janeiro)
Brasil Decepciona. E França é Campeã do Mundo Invicta - (Jornal do Brasil – Rio de Janeiro)
Valeu, Brasil! - (A Gazeta Esportiva – São Paulo)
Era uma vez o Penta - (Folha da Tarde – São Paulo)
França leva sonho do Penta - (A Tribuna – Santos-SP)
Não há dúvida de que a notícia veiculada em todas as manchetes é uma só: O Brasilperdeu a Copa do Mundo de 1998.
Fica evidente também que a mesma notícia foi dada de diferentes modos, cada um a serviço de uma intenção diferente.
Há jornais que preferiram mostrar perplexida​de e tristeza diante da derrota; outros lamentaram a perda da possibilidade de conquistar o até então inédito quinto título mundial; uns preferiram o tom trágico; outros, certo humor; alguns optaram por aparentar neutralidade.
Esses efeitos foram produzidos pela explora​ção de recursos de linguagem que afetaram muito mais o modo de dizer do que o conteúdo do que se disse, comprovando a afirmação de que os chamados recursos discursivos são ex​pedientes linguísticos utilizáveis para dizer de diversas maneiras um mesmo conteúdo de verdade.
A exploração desses recursos permite que um mesmo fato seja enunciado de forma mais elo​quente, mais neutra, mais humorada, mais irôni​ca, com mais subjetividade, com mais objetividade, etc.
Os recursos discursivos valorizam o enunciador do texto e dão credibilidade às suas palavras, mas não atingem esse resultado por meio do exibicionismo indisfarçado daquele que escreve.
Diz um provérbio: "Elogio em boca própria é vitupério", isto é, quando o elogio é feito pelo próprio indivíduo, transforma‑se em insulto, já que é sintoma de vaidade e de autopromoção. Por isso, não causa boa impressão o enunciador do texto tentar conquistar credibilidade expondo de forma explícita suas competências: “O ho​mem que diz sou, não é”; quem sabe demonstra isso no fazer, construindo enunciados tão bem elaborados, que induzam o interlocutor a olhar com respeito e admiração quem os construiu.
Um exemplo às avessas é dado por políticos em campanha eleitoral: raramente dão a impressão de estar falando a verdade. Num debate entre candidatos a governador de São Paulo em 2002, por exemplo, um dos concorrentes, ao ser argui​do sobre a questão da segurança pública, deu uma resposta aproximadamente como esta:
“Eu estudei esse assunto muito bem durante três anos e, por isso, me sinto perfeitamente capaci​tado para enfrentar o grave problema da violência em nosso estado.”
Quem domina um tema não precisa (e nem de​ve) anunciar sua competência; simplesmente a de​monstra falando sobre ele com precisão, fluência e grande quantidade de informação.
Liberdade Gramatical
Se as leis impostas pela estrutura gramatical fossem todas rígidas e não admitissem nenhuma variação, não sobraria espaço para direcionar o enunciado ao resultado programado por um enunciador em particular. Todos seriam compul​soriamente condicionados pelas mesmas regras, e não haveria diferenças entre os textos.
Existem, sim, estruturas gramaticais não sujeitas a variação alguma, como, por exemplo, a posição do artigo em português: como ele jamais pode vir pos​posto ao substantivo a que está associado, sua posi​ção não é explorável como recurso discursivo.
Já o adjetivo admite que o enunciador escolha uma de duas posições possíveis, de acordo com o efeito de sentido que deseja produzir. Exemplo:
- Para se chegar ao fim, há que se percorrer uma estrada longa.
- Para se chegar ao fim, há que se percorrer uma longa estrada.
O adjetivo longa, no primeiro enunciado, vem depois do substantivo e, nessa posição, indica a extensão da estrada de forma objetiva, sem assinalar ne​nhuma impressão do enunciador; colocado antes, o adjetivo traduz a mesma qualidade, mas acresci​da da impressão do enunciador de que a estrada é cansativamente longa.
Com referência ao artigo “uma”, a estrutura do português não admite a escolha de posição possí​vel no caso do adjetivo longa. Seriam inaceitáveis versões como estas:
- *Para se chegar ao fim, há que se percorrer longa estrada uma.
- *Para se chegar ao fim, há que se percorrer estrada uma longa.
O asterisco (*) antes de uma palavra ou expressão quer dizer que ela é impossível de ocorrer na língua ‑ é agramatical.
Em síntese, pelos exemplos apresentados, fica evidente que uma das formas de dar crédito ao conteúdo de verdade de um texto é investir no enunciado. Em outras palavras, o modo de dizer qualifica a coisa dita. Os enunciados são a mani​festação concreta da competência do seu enuncia​dor: por trás de um enunciado bem construído existe sempre um bom construtor.
Como as possibilidades abertas pela língua são praticamente infinitas, os recursos discursivos são da mesma ordem de grandeza. Isso torna impossí​vel qualquer pretensão de fazer um inventário fe​chado deles.
O que se pode fazer é selecionar alguns des​ses recursos, com o propósito principal de chamar a atenção para o fato de que a lei maior que regula seu uso é a adequação. Isso quer dizer que o grande segredo do bom texto consiste em corresponder integralmente às intenções do enunciador, ou seja, em atingir o resultado programado.
O enunciador deve, portanto, ter clareza sobre as várias condições que interferem na construção dos enunciados, tendo em mente sempre o pressuposto ​de que certa característica que é positiva para um gênero de texto, pode ser negativa para outro.
Para o texto dissertativo de caráter científico, por exemplo, é considerada como imprópria qualquer revelação subjetiva da preferência do enunciador por uma opinião ou por outra sobre o tema que está sob consideração.
Seria caricato, por exemplo, num texto científico de psicologia, o enunciador, ao descrever as ca​racterísticas do indivíduo introvertido, mostrar sua antipatia por esse tipo psicológico.
Comparemos, por exemplo, o texto abaixo com a versão que o segue, deliberadamente adulteradas ​com as inserções em itálico:
Introversão. Do latim “intro” = dentro + “vertere” = volver, voltar para. É a tendência do indivíduo a dirigir seus interesses para a vida interior, em vez de fazê-lo para o mundo exterior. Jung (1875–1961) dividia os tipos de personalidade em duas classes básicas: introvertidas e extrovertidas. Esta divisão tem como base dois modos diferentes de reagir às circunstâncias e, segundo ele, são suficientemente marcados para serem considerados típicos.
Fernado B. Ávila. Pequena enciclopédia
de moral e civismo. MEC/Fename, 1972, p. 395.
Versão alterada:
Introversão. Do Latim "intro" = dentro + “vertere” = volver, voltar para. É a mania de um indi​víduo sorrateiramente ocultar‑se no seu mundi​nho interior, em vez de expor‑se com sinceridade à vida exterior. Jung (nascido em 1875 e, infeliz​mente, falecido em 1961) divide os tipos de perso​nalidade em duas classes opostas: enrustidas e transparentes. Esta divisão tem como base dois modos diferentes de peitar a realidade e, segun​do o sublime psicólogo, são desgraçadamente marcados e difundidos para serem considerados típicos.
Nem é preciso comentar por que a segunda ver​são é totalmente despropositada para um texto dis​sertativo de caráter científico. Todas as intromis​sões do enunciador e todas as manifestações de subjetividade são desqualificantes para esse tipo, de texto. O tom neutro do original, com palavras usadas em sentido literal, em busca do efeito de objetividade, é o mais adequado para a exposição científica.
Não é demais insistir que a boa utilização dos recursos discursivos depende do resultado que o enunciador pretende atingir com o seu texto.
No texto científico, o uso de palavras carregadas de subjetividade ou desviadas do seu sentido literal compromete a credibilidade do que se diz, pois a falta de precisão no uso dos termos não é compa​tível com o rigor que se exige desse gênero de texto.
Veremos um tipo de mani​pulação da língua que chama a atenção mais para o modo de construir o enunciado do que para o significado imediato da mensagem:
- Clever, successful people read. The Economist. (It’s not just what you say.)
Pessoas inteligentes e bem sucedidas leem The Economist. (Não é apenas o que você diz.)
- “I never read The Economist.” (It’s how you say it.)
“Eu nunca leio The Economist.” (É a forma como você diz.) - Estagiário na área de Administração, 42 anos.
O produto divulgadonesse anúncio (premiado com o Leão de Ouro em Cannes) é uma escola de propaganda. O resultado pretendido pela agência é divulgar o diferencial que caracteriza o publici​tário formado por esse tipo de instituição, pondo em confronto duas formas de fazer publicidade: uma baseada no senso comum; outra, numa com​petência só adquirida numa escola de propagan​da. Ambos os textos manifestam a intenção de persuadir o leitor a comprar The Economist, revis​ta semanal inglesa, mundialmente respeitada so​bretudo pela sua competência de análise e inter​pretação dos fatos. O argumento utilizado tam​bém é semelhante: revelar que a leitura da revista torna as pessoas mais competentes para o suces​so no mundo dos negócios. A diferença está no modo de dizer, enquanto o primeiro texto faz uso de uma linguagem rotineira, pouco criativa e por isso mesmo pouco impactante, o segundo usa uma linguagem provocante e desafiadora:
A apreensão do sentido global resultante do confronto entre os dois textos não é imediata e re​quer conhecimento de mundo, sobretudo o de que a idade de 42 anos não é nada prestigiosa para um estagiário (trainee) na área de Administração. A citação entre aspas, que produz efeito de realida​de, justifica o que está entre parênteses: exata​mente por não ser leitor da revista, o presumível profissional, aos 42 anos, ainda está em estágio de principiante.
Recursos Qualificantes
A competência para produzir textos dissertati​vos é, sem dúvida, a mais reclamada para atender às necessidades práticas tanto do mundo do tra​balho quanto da vida escolar, sobretudo nos seus graus mais avançados. Não é por outra razão que, nos vestibulares e nos concursos em geral, é o ti​po de texto mais exigido: quando não é imposto obrigatoriamente aos candidatos, costuma ser proposto a eles como opção. O conhecimento dos mecanismos de construção do texto dissertativo é, pois, uma necessidade.
O texto dissertativo, dominantemente atrelado à função referencial, deve produzir o efeito de verdade, isto é, criar a impressão de estar repro​duzindo com a maior precisão possível a verdade das coisas ou dos objetos. Deve perseguir o efeito de objetividade.
É claro que, como todo texto, será construído por um sujeito e conterá sua visão de mundo, mas convém dar a impressão de que esse sujeito não interferiu na verdade das coisas de que tra​ta. O enunciador do texto dissertativo deve acio​nar todos os dispositivos possíveis para criar a impressão de que a verdade aí exposta depende da lógica das coisas, e não da subjetividade do enunciador.
É por isso que, em princípio, não contribuem em nada para aumentar o poder argumentativo desse tipo de texto quaisquer marcas de individualidade, tais como:
- uso da primeira ou da segunda pessoa (eu; tu/você);
- manifestações de juízo pessoal (penso que, quero crer, no meu ponto de vista);
- restrições de espaço (aqui) e de tempo (agora), que diminuem o campo de validade de uma afirmação;
- manifestações de reação emotiva.
Exemplo: Para você ter noção de como anda a política por “aqui”, basta ler o noticiário dos jornais de “hoje”. “Você” pode admitir o “absurdo” de fiscais remetendo “seu” dinheiro para a Suíça? “Acredito” que, como “eu”, o povo inteiro fique furioso com tanta falta de vergonha “desses descarados”!
Esse trecho, como se pode perceber, está fora do tom reclamado pelo enunciado dissertativo. A relação entre o enunciador do texto e seu interlocutor está marcada pela pessoalidade (eu/você), pela proximidade do espaço (aqui) e pelo caráter momentâneo do tempo (hoje). Além disso, há exclamações e expressões de caráter emotivo. O tom é mais o de uma carta familiar. Excluir essas marcas do enunciado não muda substancialmente o sentido, mas muda o tom e faz crescer a impressão de que o texto é mais consistente sob o ponto de vista dissertativo.
Exemplo: Para se ter noção de como anda a política nacional, basta ler o noticiário dos jornais. É inadmissível que fiscais remetam dinheiro de impostos ​para o exterior. É de causar repulsa o despudor da fiscalização.
Sem alterar praticamente o conteúdo de verdade, apenas optando pela escolha de palavras menos marcadas pela subjetividade ou proximidade do enunciador, deu‑se ao texto outra impressão mais parecida com editorial de jornal do que com carta para um amigo.
Todo esforço de quem constrói um texto referencial deve ser o de trazer para a sua superfície as coisas a que ele faz referência.
É imperioso, portanto, apagar qualquer ruído que impeça ou dificulte a apreensão mais imediata possível do conteúdo informativo do texto que desvie a atenção do interlocutor do objeto de referência. Como decorrência desse esforço de trazer a informação da maneira mais rápida transparente, o enunciador deve tomar vários cuidados, tais como: 
Neutralidade: Nenhum texto é neutro, pois todos eles contêm a visão de mundo do seu enunciador, mas a elabo​ração do texto dissertativo requer o esforço de aproximá-lo daquilo que se convencionou chamar de neutralidade científica. Contribui para produ​zir esse efeito a exclusão de tudo o que chama a atenção sobre o enunciador e sobre o enunciado.
O respeito às normas, ao costumeiro, ao usual é uma forma de não chamar a atenção nem sobre o enunciador, nem sobre o enunciado. O terno e a gravata são anormais numa praia tanto quanto o maiô é anormal na tribuna do Senado e, em prin​cípio, o desvio da norma desperta mais curiosida​de. Se uma senadora ocupar a tribuna e quiser que prestem atenção no que diz o seu discurso, deve usar traje social; se quiser que prestem atenção nela, deve usar biquíni.
É essa a razão por que, ao redigir uma dis​sertação, é conveniente seguir todas as normas e formalidades típicas desse tipo de texto. O res​peito à norma culta escrita, a pontuação, a ausência de rasuras, o cuidado com a letra, a lim​peza do papel, tudo isso contribui para evitar o que se chama de desnecessário esforço de inter​pretação por parte do leitor. Quanto menos cha​mar a atenção para algo diferente do seu con​teúdo, mais o texto dissertativo se aproxima do modelo ideal.
Sentido Literal: O uso das palavras em seu sentido literal tam​bém é uma providência útil para ajustar‑se ao tom do texto dissertativo. O sentido não literal ou figu​rado pode ser usado, mas somente quando for funcional, isto é, quando contribuir para revelar o conteúdo de verdade, e não para deslocar o olhar para o modo de arquitetar o enunciado. A palavra desviada do seu sentido literal tem valor quase de finalidade no texto poético; no referencial, apenas de instrumento. Exemplo:
“A violência tende a recrudescer nos centros mais populosos.”
Esse modo de dizer é mais típico do texto dis​sertativo do que:
“A mãe da criminalidade floresce mais nos canteiros mais repletos de vegetação.”
 O uso da ironia, por exemplo, deve ser feito com cuidado, para evitar que o interlocutor entenda a palavra irônica no seu sentido literal. Exemplo:
“No sistema liberal capitalista, por exemplo, é sempre possível ocorrer o milagre de um cidadão fazer fortuna com trabalho e suor, dos outros.”
Sem a frase final, ainda que curta, não é possível perceber o sentido irônico de todo o trecho anterior.
Precisão Conceitual: No texto dissertativo, dada a sua natureza referencial, quanto mais precisamente as palavras in​dicarem os objetos, tanto melhor. Por isso, o sen​tido denotativo é sempre preferível ao conotativo, pois a conotação é mais sujeita a variações de grupo para grupo, tanto no plano do sentido quanto no da valorização social. Exemplo:
A discussão sobre a legalização da eutanásia, de quando em quando, vem à tona no nosso noticiário. “Pelo termo se entende a eliminação não dolorosa de doentes portadores de moléstia incurável, causa de so​frimento insuportável, eliminação consumada seja a pedido do paciente, seja por imposição de outros.”
Fernando Bastos de Ávila.
 Pequena enciclopédia de moral e civismo (verbete "Eutanásia").
MEC/Fename, 1972, p. 290.
Eis um texto emque a escolha das palavras es​tá totalmente adequada ao tom dissertativo. Perce​be-se o cuidado de evitar palavras marcadas por conotações de um grupo social particularizado. Para se perceber o efeito de neutralidade pro​duzido por essa escolha lexical, pode‑se confrontar o texto com esta paráfrase:
“A briga sobre a aprovação da eutanásia, de vez em quando, vira notícia.”
Essa paráfrase ainda tem o tom dissertativo, mas se percebe que as palavras escolhidas não têm a precisão das que ocorrem no original. Além disso, são palavras mais marcadas por conotação popular. Para tornar mais enfática a demonstração de quanto a escolha das palavras interfere no efeito de sentido criado pelo texto, vamos fazer mais esta paráfrase:
“O bate-boca sobre a liberação da eutanásia, vira e mexe, pinta na mídia.”
O sentido é praticamente o mesmo, mas o efeito de sentido é bem diferente: as palavras escolhidas, além do seu significado de base, comportam uma sobrecarga de conotação pouco condizente com o tom neutro reclamado pelo texto dissertativo.
Regiões Lexicais: Grosso modo, podemos definir léxico como o conjunto de palavras de que dispõe uma língua. Sabe‑se que uma língua moderna, como o português, o espanhol, o francês, o inglês, tem em tor​no de 500 mil palavras. Desse repertório, essencialmente coletivo, um indivíduo não consegue re​ter na memória muito além de 3 mil. Existem, pois, palavras que só ocorrem em determinados con​textos e são usadas apenas por certo grupo de pessoas ou em certas ocasiões.
Uma palavra que se usa, por exemplo, para xingar o juiz no campo de futebol não se usa em con​versa de salão. Podemos então falar em regiões lexicais, isto é, subconjuntos de palavras típicas de certo grupo social, de certas situações de interlocução, de certos campos do saber: região lexical da polidez, do insulto, da intimidade, das religiões, da filosofia, etc.
Evidentemente, num texto dissertativo, não devem estar presentes palavras de uma região lexi​cal típica de um grupo particular, sobretudo se ele é desprestigiado.
Costuma‑se dizer que uma variante linguística carrega o prestígio do grupo social que a utiliza. Palavras marcadas como típicas de um grupo so​cial depreciado como que chamam para o texto a mesma depreciação de que esse grupo padece.
Nesse particular, é preciso cuidado para não cair em dois extremos: nem abusar de palavras depreciadas, nem forçar o uso artificioso de palavras prestigiadas das quais o enunciador não tem domínio. A escolha lexical é um terreno em que di​ficilmente se consegue tapear sem dar tropeções, às vezes desconcertantes.
Um bom exemplo (guardado de memória) é o de uma apresentadora de TV que recebeu em seu programa um advogado para falar sobre o novo Código Civil. Para adequar‑se à importância do entrevistado e do tema, ela procurou caprichar na escolha das palavras. Ao fazer uma pergunta sobre a complexidade e a delicadeza de controvérsias entre herdeiros, disse aproximadamente estas palavras:
“Mas quando se trata de dividir herança, aí o bicho pega.”
A expressão “aí o bicho pega” para designar uma situação conflituosa e tensa não é compatível com o tema e a circunstância em que foi produzida.
Auditório Universal: Sabe‑se que o poder argumentativo de um texto depende decisivamente de sua adequação ao auditório, cujo sistema de valores e crenças deve ser levado em consideração pelo enunciador. Para um evangélico, uma citação bíblica tem grande poder de persuasão; para um materialista, pode produzir efeito contrário.
Como a maioria dos textos dissertativos pro​postos nos concursos e vestibulares não são endereçadas a um auditório particular, é preciso escolher argumentos que tenham validade universal, isto é, que sirvam para qualquer tipo de auditório. Nesses casos, não convém utilizar o léxico de um grupo particular mesmo que seja prestigiado. Quando se pretende persuadir a todos, não é conveniente dar demonstração de pertencer a um ​grupo particular, já que, numa sociedade complexa, raramente um grupo desfruta da unanimidade. Exemplo:
“A sexualidade é uma força energizante que co​loca o homem em sintonia com ondas cósmicas e aumenta sua capacidade mental de captação da luz interior.”
Muitas das palavras escolhidas nesse texto vinculam o enunciador a um tipo de crença que não é unanimemente aceita. Pode‑se dizer a mesma coisa com palavras de uma região lexical mais neutra menos marcada, como, por exemplo:
“A sexualidade é uma pulsão de dimensão biofísica que pode aumentar a vitalidade.”
Temático: O texto dissertativo é temático, isto é, construído dominantemente com palavras abstratas. Sa​be‑se que palavras concretas são ótimas para exemplificar e ilustrar ideias gerais, mas inade​quadas para construir teorias, comentários gené​ricos. Não é possível um texto dissertativo ser composto só por palavras concretas. Exemplo:
“Segundo estatísticas, o brasileiro passa mais de três horas por dia na frente do televisor. Ninguém fez ainda o cálculo do número de horas diárias que um aluno consome com o estudo. Em alguns luga​res como cursinhos, por exemplo, o mínimo que um aluno bom estuda são três horas por dia. Há quem estude seis horas além das aulas e até mais.”
Como se vê, esse texto dissertativo ainda não "decolou". Os dados fornecidos por meio de pala​vras concretas podem ser matéria para uma refle​xão dissertativa, mas sua simples exposição não constitui uma dissertação.
Palavras Abstratas e o Risco do Vazio: As palavras abstratas são ótimas para fazer grandes sínteses, expressar julgamentos genéri​cos, fazer interpretações abrangentes, por isso são apropriadas para formular enunciados dis​sertativos. Mas é preciso cuidado com a escolha dessas palavras. Primeiro porque elas não repre​sentam coisas ou objetos do mundo natural e, por isso mesmo, são mais difíceis de definir, e as​sim a extensão dos fenômenos a que elas se refe​rem pode variar segundo a concepção da corren​te de pensamento a que pertencem. A palavra ci​dadania, por exemplo, hoje muito em voga, pode, para uns, indicar amor à pátria, civismo; para ou​tros, a prerrogativa de um cidadão fazer valer os seus direitos.
Segundo, porque o uso abusivo dessas pala​vras pode resultar num vazio, isto é, levar à per​da do controle sobre o que está sendo dito e cair naquilo que costumam chamar de psitacismo, is​to é, mera reprodução de palavras, como um pa​pagaio (psitacós, em grego), sem noção do con​teúdo expresso por elas. Isso é muito comum em pessoas que, usando um emaranhado de palavras de difícil compreensão, querem exibir erudição ou confundir o interlocutor. O gênero humorístico tem explorado o uso das palavras abstratas, exatamente para satirizar o va​zio que, muitas vezes, está oculto por baixo desse tipo de vocabulário. Exemplo:
“O caráter discricionário de grupos hegemônicos é função direta de um processo de elitização e sec​tarismo pequeno burguês, marcado, de um lado, pela pulsão atávica de relegar ao ostracismo a dife​rença, de outro, a repulsa pelo choque dialético ne​cessariamente implicado na convivência com o plu​ralismo e, por fim, a conivência esquizofrênica com a patologia do isolacionismo.”
Mesmo que isso impressione, trocado em miú​dos tem um significado muito mais pobre do que indicam as aparências.
O jornalista Elio Gaspari, na sua página publi​cada aos domingos na Folha de S. Paulo, costuma incluir uma coluna em que, sob o título "Curso Madame Natasha de piano e português", comen​ta declarações ou textos alheios. O trecho repro​duzido por ele na edição de 6 de abril de 2003 (p. A‑14) padece exatamente do abuso de subs​tantivos abstratos que, se têm sentido unívoco, é só no círculo fechado dos economistas:
Madame Natasha tem horror a música. EIa deu uma de suas bolsas de estudo ao professor Eduardo Fiúza, do departamento de economia da PUC, pela seguinte formulação num artigo sobre preços de auto​móveis: "Se os preços não forem instrumentados, os es​timadores dos parâmetros de preço na equação de de​mandaserão viesadas, devido à correlação que existe entre o preço e as características não observadas pelos econometristas (mas percebidas pelos consumidores e fabricantes), uma espécie de viés de simultaneidade".
Madame entendeu que o professor busca uma forma de cálculo para os preços dos automóveis. Só.
Escolha Lexical: A escolha criteriosa das palavras é um dos indicadores mais sensíveis de um bom texto. E, nes​se particular, a melhor impressão que o enuncia​dor pode provocar é a de que cada palavra do enunciado corresponde perfeitamente à sua inten​ção. O contrário também é verdade: nada pior pa​ra um texto do que a impressão de que não era bem aquela a intenção de quem o escreveu ou a de que o enunciado fugiu ao controle do enunciador. Exemplo:
“Sendo este o domingo de Páscoa, pedimos à Sra. Jandira que ponha um ovo no altar.”
A escolha da forma verbal ponha, em vez de co​loque, deposite, pouse, seguramente não decorreu da intenção de criar efeito de sentido humor: a frase foi transcrita de um comunicado exposto no interior de uma igreja em São Paulo (reproduzido na íntegra no Jornal da USP de 2 de setembro de 1996). A escolha, que estaria perfeita se a intenção fosse fazer piada com a Sra. Jandira, depõe contra o enunciador, sobretudo porque o enunciado produz um sentido não programado. Caso mais comprometedor para quem escreve é o uso de palavras que não fazem o menor senti​do, produzindo o nonsense, como se vê nesta frase reproduzida de uma redação de aluno: “O Brasil é um país de extensão territorial.”
É provável que o enunciador, já tendo ouvido dizer que o Brasil é um país de extensão continen​tal, inadvertidamente tenha trocado o adjetivo por territorial, dando mostras de que não tinha o menor controle sobre o que estava dizendo.
Se quisermos resumir os critérios de seleção lexical, podemos agrupá‑los em três tipos:
- precisão lexical;
- valorização social;
- sonoridade.
Precisão Lexical: Por precisão lexical entende‑se a maior aproxi​mação possível entre a palavra escolhida e o con​ceito que se pretende transmitir. Em outros ter​mos, entre várias palavras capazes de traduzir um conceito, existe uma que, por assim dizer, acerta no alvo. Outras, no mesmo contexto, ficariam mais próximas ou menos do conceito desejado. Exemplo:
‑ Como é mesmo que se diz quando queremos falar de uma pessoa que não tem jeito?
‑ Desajeitada?
‑ Não. Aquela que não tem mais conserto.
‑ Como assim?
‑ Uma pessoa que é má e a gente sabe que nunca vai deixar de ser.
‑ Ah! Incorrigível.
‑ Isso. Essa é a palavra que eu queria.
É mais ou menos isso que se passa na mente de uma pessoa em busca da precisão lexical. Quan​do se escreve podendo fazer consulta, o dicionário comum ou o dicionário de sinônimos ajuda. Na fal​ta desse recurso, num exame sem consulta, cabe ao redator sempre teimar um pouco, em vez de se entregar à primeira palavra que lhe vem à mente. Esse cuidado faz com que o texto se aprimore cada vez mais, até chegar ao ponto melhor, se der tempo.
Vejamos três estágios de redação:
- Tem hora que, na política, eles acabam sem mais nem menos ajudando certas pessoas que não mereciam ser ajudadas só porque gostam mais delas nem se sabe por quê.
- Há circunstâncias, no mundo da política, e​ que pessoas mais graduadas beneficiam outras que não têm merecimento para isso só razões pessoais.
- No mundo da atividade política, há exemplos da prática do favoritismo, espécie de injustiça caracterizada por conceder vantagens motivadas não por mérito do premiado, mas por preferência subjetiva do benfeitor.
Fica evidente a melhora progressiva em ter​mos de precisão, do primeiro para o terceiro enunciado. Outro aspecto relacionado com a precisão lexical é o uso de palavras polissêmicas, isto é, aquelas que admitem sentidos variados de acordo com o contexto. Há certas palavras que funcionam como verdadeiros curingas e pode​riam ser substituídas por outras mais específi​cas. Exemplos bastante ilustrativos do quotidia​no são termos como coisa, negócio, treco, troço, etc., cujo emprego indiscriminado, além de em​pobrecer o enunciado, prejudica a imagem do enunciador.
O enunciado fica empobrecido porque uma va​riedade grande de sentidos possíveis acaba redu​zida a uma só impressão de caráter genérico. O enunciador fica prejudicado porque dá mostras de um olhar grosseiro e pouco analítico sobre as coisas. A visão pormenorizada é mais argumentativa que a visão indiferenciada.
O texto publicitário a seguir, anuncia com humor, um dicionário que se apresenta como solução para o problema daquelas pessoas que, por pobreza lexical, lançam mão de meia dúzia de palavras para traduzir uma enorme variedade de sentidos.
“Este treco serve para você nunca mais esquecer o nome daquele coiso.”
O abuso de palavras polissêmicas tem o incon​veniente de nivelar significados e provocar a per​da de traços de sentido presentes em palavras mais específicas e mais apropriadas para traduzir o fenômeno representado. O uso da expressão “aí fica difícil” tem sido abu​sivo na fala quotidiana, servindo para traduzir os mais variados sentidos. Exemplo:
“Se o paciente não sabe dizer os seus sintomas para o médico, aí fica difícil.”
Tradução: o diagnóstico fica prejudicado.
“Se o jogador não segue as táticas combinadas no vestiário, aí fica difícil.”
Tradução: qualquer treinamento é inútil.
“O governo promete, mas não cumpre suas promessas: aí fica difícil.”
Tradução: nesse caso, não pode esperar o apoio dos eleitores.
“Certas pessoas querem progredir sem esforço: aí fica difícil.”
Tradução: uma coisa não ocorre sem a outra.
Valorização Social: palavras com o mesmo sentido não desfru​tam do mesmo prestígio social. Essa contradição é um fenômeno linguístico muito apropriado pa​ra demonstrar que a língua é, ao mesmo tempo, um código e um fato social.
Muitas vezes, usos indiferentes para o funcio​namento do código, isto é, para a produção do significado, não o são para a imagem social da​quele que fala ou daquele de quem se fala. Um ter​mo mal empregado pode fornecer indícios sobre a condição social do falante ou da imagem social que ele faz do seu interlocutor ou do objeto de que está falando.
Suponhamos a cena do rapaz no primeiro jan​tar na casa da namorada. A mãe, solícita, per​gunta a ele se está servido de mais uma porção de sobremesa e ouve como resposta algo nestes termos: “‑ Não, chega. Já estou cheio!”
Sem levar em cota outros aspectos do ritual da polidez esquecidos pelo rapaz, a escolha lexical “cheio”, convenhamos, não é a mais apropriada, para a situação. Outras palavras, como “satisfeito”, “bem servido”, são socialmente tidas como mais polidas. Nesse caso, a escolha da palavra prejudica a imagem de quem a produziu.
Imaginemos agora que, num jantar de apresentação semelhante, o anfitrião se dirija ao convidado da filha nestes termos: “‑ A briga por um trampo hoje em dia, malandro, não está mole.”
Nesse caso, a seleção de uma palavra como “trampo” não é a mais esperada, e o vocativo “malan​dro”, além de corroborar a imagem de falta de po​lidez do pai da garota, ainda sugere que ele não tem boa imagem do rapaz.
Por fim, imaginemos que, ao informar a mãe sobre uma convocação para uma reunião de pais e mestres na escola, o filho ouça uma pergunta como esta: “‑ Quando é que vai ser essa joça? A escolha da palavra “joça” denota o desapreço pelo tema tratado.
Sonoridade: Poucas pessoas se dão conta de que a língua, mesmo a escrita, é constituída de sons. As letras da língua escrita passam pelos olhos do leitor mas inevitavelmente chegam também aos seus ouvidos sob a forma de uma representação acústica, isto é, de uma imagem sonora.
Uma palavra ou frase é formada de múltiplos sons combinados entre si, e essa combinação, além do sentido produzido, produz também uma sequência sonora que pode ser agradável ou desa​gradável de ouvir.
São inúmeros os exemplos de sequências de pa​lavras que são inconvenientes não pelo sentido que produzem,nem pela contradição que envolvem, nem pela transgressão às normas gramaticais. Exemplo: 
“Achei estranho o teu comportamento: nunca vi-te tão irritado.”
A sequência nunca vi‑te tão, sem dúvida, deve ser trocada por coisa melhor. E o melhor, nesse caso, é apenas trocar o pronome de lugar: nunca te vi tão irritado.
Outro exemplo:
“Até o momento é o único medicamento para tratamento do estiramento da musculatura femural.”
A terminação idêntica de uma série de palavras produz o que os estudiosos chamam de eco. Tam​bém aqui, basta uma troca que evite esse desconforto, e a frase fica boa, com o mesmo sentido. Quando se fala da sonoridade, não se pode es​quecer do cacófato, mau som resultante da junção de duas ou mais palavras. Por mau som entenda​-se aqui sentido grotesco sugerido pelo encontro de palavras. Exemplos:
Nunca gastes mais do que recebes.
Nosso hino deve ser cantado por cada brasileiro.
Mesmo que não resulte num nome chulo como no primeiro exemplo, o mau som é considerado um cacófato e deve ser evitado.
Informações Importantes
Estética
Este critério, em primeira instância, desperta o interesse ou a aversão do leitor por sua produção textual. É a apresentação do texto, assim como são para nós a adequação e o asseio de uma roupa. Deve‑se enfatizar que a estética se aplica a todos os tipos de texto. Alguns autores abordam a letra como a expressão da personalidade do concursando ou aluno. Contudo, por vezes, as bancas examinadoras punem o uso de letras de imprensa, sobretudo quando utilizadas em caixa‑alta (maiúscula). Assim, seguem‑se algumas sugestões para não perder pontos referentes à apresentação textual, aqui denominada "estética". Como critério de correção, será utilizada a perda da pontuação total do quesito sempre que houver uma incidência de erro, entendida como o descumprimento das sugestões de cada um dos quesitos.
Legibilidade
A letra não precisa ser bonita ou enfeitada, como em convites de casamento, por exemplo. Ela deve ser correta e legível! Exemplos:
- i e j com pingo;
- c com cedilha correto = ç;
- til sobre a primeira vogal do ditongo nasal acentuado, e não ao centro das duas ou sobre a segunda = ão;
- n e m corretos e não com aparência de u; não pular linhas; letras menores com metade do tamanho das maiores.
Caso você tenha muita dificuldade, pense na possibilidade de adquirir um caderno de caligrafia e reaprenda a escrever as letras corretamente, de acordo com os exemplos acima. Caso opte pelas letras de imprensa, não se esqueça de mesclar maiúsculas com minúsculas, de modo gramaticalmente correto.
Margens
Ao refletir sobre a relação das margens com a estética, pensa‑se automaticamente em um texto alinhado tanto à margem esquerda como à direita, sem a utilização abusiva de separações silábicas. Sugestões:
- não deixe espaço superior a 0,3cm entre o texto e a margem estabelecida;
- separe no máximo cinco palavras em todo o texto, de forma correta. Consideram‑se separações incorretas: isolar vogais, dissílabas, palavras que comecem por h;
- separe apenas palavras que sejam pelo menos trissílabas, que comecem por consoante que não seja h;
- separe substantivos compostos com hífen com traço lateral, e as demais palavras com traço abaixo da última letra;
- nunca ultrapasse a margem.
Parágrafos
Pontinha de unha ou um dedo nunca foram nem nunca serão medidas padrão de um parágrafo. Algumas sugestões para elaborar um parágrafo esteticamente ideal:
- faça recuo de 2 a 4cm;
- não marque o início dos parágrafos;
- não deixe uma diferença superior a 0,3cm entre o recuo de um parágrafo e outro, pois isso passa ao leitor a sensação de estarem desalinhados;
- escreva pelo menos duas frases em cada parágrafo;
- utilize no máximo 60 palavras por frase.
			
Fusão de letras
Escolha uma letra, cursiva ou de imprensa, e não misture as duas formas. Este item também contempla a utilização incorreta de letras maiúsculas ou minúsculas. Nunca escreva o texto todo em caixa alta.
Alguns concursos optam pela análise grafológica, que analisa a personalidade com base na letra cursiva. Por isso, a letra cursiva lhe dá maior segurança, já que há bancas de correção que eliminam candidatos que utilizam letra de imprensa.
Rasuras
Definitivamente, as rasuras prejudicam a estética do texto e, a depender da forma como se evidenciarem, podem levar à reprovação do candidato. Considera‑se rasura a utilização de corretivo ou o rabisco de palavras.
- use um traço retilíneo cortando toda a palavra; tal anulação pode acontecer em até cinco palavras em todo o texto;
- não coloque a palavra anulada entre parênteses.
Gramática
Este critério contempla a mensuração de conhecimentos gramaticais aplicados à produção textual. Apresenta‑se aqui apenas a explicação do que faz perder pontos gramaticais em uma redação (para tirar dúvidas de ortografia, conjugação verbal e sintaxe, entre outros, consulte o resumo Português-Gramática de nossa coleção – Nova Apostila).
- Ortografia: avalia o emprego da grafia correta das palavras, como o uso de ç, ss, sc, x, ch...
- Acentuação: avalia a utilização correta de acentos, como o uso de acento agudo (´), acento circunflexo (^), til (~) e acento grave indicativo de crase (`). Lembre‑se: crase não é acento, mas a fusão de duas vogais iguais; o til é sinal de nasalização;
- Pontuação: avalia‑se a utilização correta da pontuação, como o uso de ponto final (.), vírgula (,), ponto‑e‑vírgula (;), dois‑pontos (:), ponto de interrogação (?), ponto de exclamação (!) e reticências (...). 
- Conectores e Colocação Pronominal: este ponto considera a utilização correta dos conectores para uma boa construção textual, bem como os fatores de próclise, ênclise e mesóclise, como o uso de "eu te amo", "amo‑te", "amar‑te‑ei", entre outros.
- Concordância ou Regência: avaliam a concordância e a regência, verbais ou nominais.
Conteúdo
- Adequação ao tema
- Domínio do conteúdo
- Pertinência dos argumentos: progressão lógica da argumentação
- Pertinência dos argumentos: consistência da argumentação
- Originalidade
Os pontos dispensados ao conteúdo, estreia central da dissertação ou do texto argumentativo, estão diretamente relacionados a seu domínio. Por isso, a leitura de jornais e revistas informativas e uma visão política, econômica e cultural, por exemplo, são fundamentais para a elaboração de textos convincentes.
Tipos de Desenvolvimento
Alguns autores, porém, sugerem a organização dos conteúdos em tipos de desenvolvimento. Por exemplo, Ana Helena Cizotto Belline (1988, p.36) divide‑os em dez categorias: causa e consequência, oposição, tempo, espaço, tempo e espaço, definição, semelhança, exemplos/citações/dados estatísticos, enumeração, perguntas.
- Causa e Consequência: Esta categoria é a organizadora de seu texto e deve ser utilizada na montagem de sua estrutura. Atente para a enumeração dos argumentos de acordo com as tabelas:
1º argumento: causa / causa / causa / consequência.
2º argumento: causa / causa / consequência / consequência.
3º argumento: causa / consequência / consequência / consequência
1º argumento: causa / causa / consequência.
2º argumento: causa / consequência / consequência.
- Oposição: Serve também como organizadora do texto e deve ser utilizada durante a montagem da estrutura. Para a enumeração dos argumentos, recomenda‑se tomar por base o seguinte esquema:
1º argumento: Favorável / Contrário.
2º argumento: Contrário / Favorável.
3º argumento: Contrário / Favorável.
Como é possível observar, só há duas possibilidades de organizar o texto por oposição e ambas exigem três argumentos. Com apenas dois argumentos por oposição, automaticamente haveria um favorável e outro contrário ao tema e, portanto, uma argumentação morna, que tanto afirma como nega, sem posicionamento,elemento central da dissertação. Vale lembrar que é necessário manter coerência na enumeração dos argumentos: deve‑se colocar primeiramente o que for minoria e deixar os outros dois (maioria) como segundo e terceiro argumentos, isso facilita, inclusive, na constituição de uma ponte com a conclusão.
- Tempo: É o tipo de desenvolvimento, e a categoria, que objetiva situar o leitor temporalmente. Para tanto, a utilização de advérbios de tempo se faz obrigatória. É recomendável utilizar, no mínimo, três advérbios temporais: "No século passado", “Em 1945”, "No dia da posse", "Às duas da tarde" etc.
- Espaço: Situa o leitor espacialmente e, para tanto, a utilização de advérbios de lugar também é obrigatória. Recomenda‑se o uso de, no mínimo, três advérbios espaciais: "No Brasil", "Na América Latina", "No mundo", "No prédio do ministério", "Na Praça dos Três Poderes", "Na escola" etc.
- Tempo e espaço: O objetivo é situar o leitor temporal e espacialmente. Nesse sentido, é obrigatória a utilização de advérbios de tempo e lugar. Sugere‑se, no mínimo, o uso de quatro advérbios temporais e espaciais: "A partir de 2000, no Brasil", "No último semestre, em São Paulo", "Neste século, a América Central", "Hoje, na Praça da Sé", "Ontem, no Maracanã" etc.
- Definição: Tem por objetivo explicar determinado argumento, para comprovar a tese diante do tema. Recomenda‑se o uso de, no mínimo, três verbos que indiquem definição: "entende‑se por", "define‑se por", "quer dizer", "enfatiza‑se", "denota".
- Semelhança: Desenvolvimento que tem por objetivo comparar para comprovar. Devem‑se utilizar, no mínimo, três comparações: "tão... como", “tanto quanto”, "tal qual", "assim como" etc.
- Exemplos/citações/dados estatísticos: Nessa categoria, a finalidade é exemplificar, mencionar autores e citações ou dados estatísticos. Use, no mínimo, dois exemplos ou citações.
- Enumeração: Desenvolvimento com vistas a enumerar fatos ou situações em um mesmo argumento. Devem‑se fazer pelo menos três enumerações.
- Perguntas: Desenvolvimento que utiliza perguntas retóricas como argumentação e posicionamento, e deve conter, no mínimo, quatro delas.
Estilística
- Subjetividade: Recomenda‑se não utilizar a primeira pessoa nem do singular, nem do plural: se isso for feito, além de pontuação na prova, o candidato perderá pontos no quesito "gênero textual". A dissertação é um texto denotativo; logo, não devem ser empregadas marcas de pessoalidade, próprias apenas de textos literários.
‑ Incoerência ou Repetição: É aconselhável não repetir palavras das seguintes classes gramaticais: substantivo, adjetivo, verbo, advérbio, interjeição. Lembre‑se de que é possível utilizar o mesmo radical com vários afixos sinônimos, pois o que é proibido especificamente é a repetição da flexão. Analise as ideias na argumentação, com a finalidade de deixar o texto coerente.
‑ Pouca Objetividade: Evite verbos de ligação, entre eles, "ser", "estar", "ficar", "permanecer", "parecer", porque apenas ligam palavras. Após terminar o rascunho, revise a dissertação e substitua os verbos repetidos ou de ligação. Veja algumas sugestões:
Afirmação: consistir, constituir, significar, denotar, mostrar, traduzir‑se por, expressar, representar, evidenciar...
Causalidade: causar, motivar, originar, ocasionar, gerar, propiciar, resultar, provocar, produzir, contribuir, determinar, criar...
Finalidade: visar, ter em vista, objetivar, ter por objetivo, pretender, tencionar, cogitar, tratar, servir para, prestar‑se para...
Oposição: opor‑se, contrariar, negar, impedir, surgir em oposição, surgirem contraposição, apresentar em oposição, ser contrário...
- Coloquialismo: Evidencia características da fala na escrita. Como estratégia de avaliação, veja a seguir algumas proibições que, se não acatadas, fazem perder pontos neste quesito.
- três usos da primeira pessoa na redação inteira;
- três usos de verbo de ligação no mesmo parágrafo;
- começar frase com gerúndio, duplo gerúndio na mesma frase, gerúndio no futuro;
- usar gírias, regionalismos etc.
‑ Conotação ou Estrangeirismo: Já que a dissertação é um texto denotativo, informativo, formal, sugere‑se a não utilização de: sentido figurado, figuras de linguagem, funções de linguagem, estrangeirismo etc.
Atitudes não recomendadas
Expressões Condenáveis
- a nível de, ao nível. Opção: em nível, no nível.
- face a, frente a. Opção: ante, diante, em face de, em vista de, perante.
- onde (quando não exprime lugar). Opção: em que, na qual, nas quais, no qual, nos quais.
- (medidas) visando... Opção: (medidas) destinadas a.
- sob um ponto de vista. Opção: de um ponto de vista.
- sob um prisma. Opção: por (ou através de) um prisma.
- como sendo. Opção: suprimir a expressão.
- em função de. Opção: em virtude de, por causa de, em consequência de, por, em razão de.
Expressões não recomendadas
- a partir de (a não ser com valor temporal). Opção: com base em, tomando-se por base, valendo-se de...
- através de (para exprimir “meio” ou instrumento). Opção: por, mediante, por meio de, por intermédio de, segundo...
- devido a. Opção: em razão de, em virtude de, graças a, por causa de.
- dito. Opção: citado, mensionado.
- enquanto. Opção: ao passo que.
- fazer com que. Opção: compelir, constranger, fazer que, forçar, levar a.
- inclusive (a não ser quando significa incluindo-se). Opção: até, ainda, igualmente, mesmo, também. 
- no sentido de, com vistas a. Opção: a fim de, para, com o fito (ou objetivo, ou intuito) de, com a finalidade de, tendo em vista.
- pois (no início da oração). Opção: já que, porque, uma vez que, visto que.
- principalmente. Opção: especialmente, mormente, notadamente, sobretudo, em especial, em particular.
- sendo que. Opção: e.
Expressões que demandam atenção
- acaso, caso – com se, use acaso; caso rejeita o se
- aceitado, aceito – com ter e haver, aceitado; com ser e estar, aceito
- acendido, aceso (formas similares) – idem
- à custa de – e não às custas de
- à medida que – à proporção que, ao mesmo tempo que, conforme
- na medida em que – tendo em vista que, uma vez que
- a meu ver – e não ao meu ver
- a ponto de – e não ao ponto de
- a posteriori, a priori – não tem valor temporal
- de modo (maneira, sorte) que – e não a
- em termos de – modismo; evitar
- em vez de – em lugar de
- ao invés de – ao contrário de
- enquanto que – o que é redundância
- entre um e outro – entre exige a conjunção e, e não a
- implicar em – a regência é direta (sem em)
- ir de encontro a – chocar-se com 
- ir ao encontro de – concordar com
- junto a – usar apenas quando equivale a adido ou similar
- o (a, s) mesmo (a, s) – uso condenável para substituir pronomes
- se não, senão – quando se pode substituir por caso não, separado; quando se pode, junto
- todo mundo – todos
- todo o mundo – o mundo inteiro
- não-pagamento = hífen somente quando o segundo termo for substantivo
- este e isto – referência próxima do falante (a lugar, a tempo presente; a futuro próximo; ao anunciar e a que se está tratando)
- esse e isso – referência longe do falante e perto do ouvinte (tempo futuro, desejo de distância; tempo passado próximo do presente, ou distante ao já mencionado e a ênfase).
Erros Comuns
- "Hoje ao receber alguns presentes no qual completo vinte anos tenho muitas novidades para contar”. Temos aí um exemplo de uso inadequado do pronome relativo. Ele provoca falta de coesão, pois não consegue perceber a que antecedente ele se refere, portanto nada conecta e produz relação absurda.
- "Tenho uma prima que trabalha num circo como mágica e uma das mágicas mais engraçadas era uma caneta com tinta invisível que em vez de tinta havia saído suco de lima”. Você percebe aí a incapacidade do concursando ou vestibulando organizar sintaticamente o período. Selecionar as frases e organizar as ideias é necessário. Escrever com clareza é muito importante.
- "Ainda brincava de bonecaquando conheci Davi, piloto de cart, moreno, 20 anos, com olhos cor de mel. "Tudo começou naquele baile de quinze anos", "...é aos dezoito anos que se começa a procurar o caminho do amanhã e encontrar as perspectiva que nos acompanham para sempre na estrada da vida”. Você pode ter conhecimento do vocabulário e das regras gramaticais e, assim, construir um texto sem erros. Entretanto, se você reproduz sem nenhuma crítica ou reflexão expressões gastas, vulgarizadas pelo uso contínuo. A boa qualidade do texto fica comprometida.
- Tema: Para você, as experiências genéticas de clonagem põem em xeque todos os conceitos humanos sobre Deus e a vida? "Bem a clonagem não é tudo, mas na vida tudo tem o seu valor e os homens a todo momento necessitam de descobrir todos os mistérios da vida que nos cerca a todo instante”. É importante você escrever atendendo ao que foi proposto no tema. Antes de começar o seu texto leia atentamente todos os elementos que o examinador apresentou para você utilizar. Esquematize suas ideias, veja se não há falta de correspondência entre o tema proposto e o texto criado.
- "Uma biópsia do tumor retirado do fígado do meu primo (...) mostrou que ele não era maligno”. Esta frase está ambígua, pois não se sabe se o pronome ele refere-se ao fígado ou ao primo. Para se evitar a ambiguidade, você deve observar se a relação entre cada palavra do seu texto está correta.
- "Ele me tratava como uma criança, mas eu era apenas uma criança”. O conectivo mas indica uma circunstância de oposição, de ideia contrária a. Portanto, a relação adversativa introduzida pelo "mas" no fragmento acima produz uma ideia absurda.
- "Entretanto, como já diziam os sábios: depois da tempestade sempre vem a bonança. Após longo suplício, meu coração apaziguava as tormentas e a sensatez me mostrava que só estaríamos separadas carnalmente”. Não utilize provérbios ou ditos populares. Eles empobrecem a redação, pois fazer parecer que seu autor não tem criatividade ao lançar mão de formas já gastas pelo uso frequente. 
- "Estou sem inspiração para fazer uma redação. Escrever sobre a situação dos sem-terra? Bem que o professor poderia propor outro tema”. Você não deve falar de sua redação dentro do próprio texto.
- "Todos os deputados são corruptos”. Evite pensamentos radicais. É recomendável não generalizar e evitar, assim, posições extremistas. 
- "Bem, acho que - você sabe - não é fácil dizer essas coisas. Olhe, acho que ele não vai concordar com a decisão que você tomou, quero dizer, os fatos levam você a isso, mas você sabe - todos sabem - ele pensa diferente. É bom a gente pensar como vai fazer para, enfim, para ele entender a decisão”. Não se esqueça que o ato de escrever é diferente do ato de falar. O texto escrito deve se apresentar desprovido de marcas de oralidade.
- "Mal cheiro", "mau-humorado". Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar.
- "Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.
- "Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais. 
- "Existe" muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam ideias.
- Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.
- Entre "eu" e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti.
- "Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás. 
- "Entrar dentro". O certo: entrar em. Veja outras redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido. 
- "Venda à prazo". Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter.
- "Porque" você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado: Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que razão você se atrasou. Porque é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado. 
- Vai assistir "o" jogo hoje. Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes.
- Preferia ir "do que" ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória. 
- O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias.
- Não há regra sem "excessão". O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: "paralizar" (paralisar), "beneficiente" (beneficente), "xuxu" (chuchu), "previlégio" (privilégio), "vultuoso" (vultoso), "cincoenta" (cinquenta), "zuar" (zoar), "frustado" (frustrado), "calcáreo" (calcário), "advinhar" (adivinhar), "benvindo" (bem-vindo), "ascenção" (ascensão), "pixar" (pichar), "impecilho" (empecilho), "envólucro" (invólucro). 
- Quebrou "o" óculos. Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias. 
- Comprei "ele" para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-me. 
- Nunca "lhe" vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama. 
- "Aluga-se" casas. O verbo concorda com o sujeito: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se empregados. 
- "Tratam-se" de. O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-se com os amigos. 
- Chegou "em" São Paulo. Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo. 
- Atraso implicará "em" punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. / Promoção implica responsabilidade. 
- Vive "às custas" do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não "em vias de": Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão. 
- Todos somos "cidadões". O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres. 
- O ingresso é "gratuíto". A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo. 
- A última "seção" de cinema. Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a tempo de uma reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso. 
- Vendeu "uma" grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc. 
- "Porisso". Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de. 
- Não viu "qualquer" risco. É nenhum, e não "qualquer", que se emprega depois de negativas: Não viu nenhum risco. / Ninguémlhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu nenhuma confusão. 
- A feira "inicia" amanhã. Alguma coisa se inicia, se inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã. 
- Soube que os homens "feriram-se". O que atrai o pronome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois o procuro. 
- O peixe tem muito "espinho". Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O "fuzil" (fusível) queimou. / Casa "germinada" (geminada), "ciclo" (círculo) vicioso, "cabeçário" (cabeçalho). 
- Não sabiam "aonde" ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos? 
- "Obrigado", disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: "Obrigada", disse a moça. / Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo. 
- O governo "interviu". Intervir conjuga-se como vir. Assim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc. 
- Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga.
- "Fica" você comigo. Fica é imperativo do pronome tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui. 
- A questão não tem nada "haver" com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você. 
- A corrida custa 5 "real". A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais. 
- Vou "emprestar" dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: Pediu emprestadas duas malas. 
- Foi "taxado" de ladrão. Tachar é que significa acusar de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano. 
- Ele foi um dos que "chegou" antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre vibravam com a vitória. 
- "Cerca de 18" pessoas o saudaram. Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com números exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram. 
- Ministro nega que "é" negligente. Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa.
- Tinha "chego" atrasado. "Chego" não existe. O certo: Tinha chegado atrasado.
- Tons "pastéis" predominam. Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas. 
- Queria namorar "com" o colega. O com não existe: Queria namorar o colega. 
- O processo deu entrada "junto ao" STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do (e não "junto ao") Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não "junto aos") leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não "junto ao") banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não "junto ao") Procon. 
- As pessoas "esperavam-o". Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos. 
- Vocês "fariam-lhe" um favor? Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca "imporá-se"). / Os amigos nos darão (e não "darão-nos") um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo "formado-me").
- Chegou "a" duas horas e partirá daqui "há" cinco minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias. 
- Blusa "em" seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira. 
- A artista "deu à luz a" gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado dizer: Deu "a luz a" gêmeos. 
- Estávamos "em" quatro à mesa. O em não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na sala. 
- Sentou "na" mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador.
- Ficou contente "por causa que" ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu.
- O time empatou "em" 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por. 
- À medida "em" que a epidemia se espalhava... O certo é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas existem. 
- Não queria que "receiassem" a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e que precede a terminação ear: receiem, passeias, enfeiam). 
- Eles "tem" razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem. 
- A moça estava ali "há" muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indicativo.) 
- Não "se o" diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc. 
- Acordos "políticos-partidários". Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia: acordos político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico-financeiras, partidos social-democratas. 
- Andou por "todo" país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos. 
- "Todos" amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas as contradições do texto. 
- Favoreceu "ao" time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favoreceu os jogadores. 
- Ela "mesmo" arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia. 
- Chamei-o e "o mesmo" não atendeu. Não se pode empregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos servidores (e não "dos mesmos"). 
- Vou sair "essa" noite. É este que designa o tempo no qual se está ou objeto próximo: Esta noite, esta semana (a semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 20).
- A temperatura chegou a 0 "graus". Zero indica singular sempre: Zero grau, zero-quilômetro, zero hora. 
- Comeu frango "ao invés de" peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de significa apenas ao contrário: Aoinvés de entrar, saiu. 
- Se eu "ver" você por aí... O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer), predissermos. 
75. Ele "intermedia" a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio. 
- Ninguém se "adequa". Não existem as formas "adequa", "adeque", etc., mas apenas aquelas em que o acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc. 
- Evite que a bomba "expluda". Explodir só tem as pessoas em que depois do “d” vêm “e” e “i”: Explode, explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale "exploda" ou "expluda", substituindo essas formas por rebente, por exemplo. Precaver-se também não se conjuga em todas as pessoas. Assim, não existem as formas "precavejo", "precavês", "precavém", "precavenho", "precavenha", "precaveja", etc. 
- Governo "reavê" confiança. Equivalente: Governo recupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos casos em que este tem a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem "reavejo", "reavê", etc. 
- Disse o que "quiz". Não existe z, mas apenas s, nas pessoas de querer e pôr: Quis, quisesse, quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos. 
- O homem "possue" muitos bens. O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em uir só têm a terminação ui: Inclui, atribui, polui. Verbos em uar é que admitem ue: Continue, recue, atue, atenue. 
- A tese "onde"... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa ideia. / O livro em que... / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que... 
- Já "foi comunicado" da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém "é comunicado" de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria "comunicou" os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados. 
- "Inflingiu" o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não "inflingir") significa impor: Infligiu séria punição ao réu. 
- A modelo "pousou" o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito). 
- Espero que "viagem" hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também "comprimentar" alguém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado). 
- O pai "sequer" foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar. 
- Comprou uma TV "a cores". Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV "a" preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores. 
- "Causou-me" estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não "foi iniciado" esta noite as obras). 
- A realidade das pessoas "podem" mudar. Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso: A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e não "foram punidas"). 
- O fato passou "desapercebido". Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. Desapercebido significa desprevenido. 
- "Haja visto" seu empenho... A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas. 
- A moça "que ele gosta". Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que participou, o amigo a que se referiu, etc. 
- É hora "dele" chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado... / Depois de esses fatos terem ocorrido... 
- Vou "consigo". Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e não "para si"). 
- Já "é" 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não "são") 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite. 
- A festa começa às 8 "hrs.". As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não "kms."), 5 m, 10 kg. 
- "Dado" os índices das pesquisas... A concordância é normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o resultado... / Dadas as suas ideias... 
- Ficou "sobre" a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás. 
- "Ao meu ver". Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver.
Temas de Redação
A seguir, são listados diversos temas apresentados em provas de concursos públicos para que possam praticar.
01 – (Cespe – DPF/DGP – Escrivão da Polícia Federal)
Depois de cuidadoso tratamento estatístico, os autores de uma pesquisa em Nova Iorque verificaram que, independentemente dos fatores de risco (a renda familiar, a possível existência de desinteresse paterno pela sorte dos filhos, os níveis de violência na comunidade em que viviam, a escolaridade dos pais e a presença de transtornos psiquiátricos nas crianças), o número de horas que um adolescente com idade média de 14 anos fica diante da televisão, por si só, está significativamente associado à prática de assaltos e à participação em brigas com vítimas e em crimes de morte mais tarde, quando atinge a faixa etária dos 16 aos 22 anos.
(Internet:<www.drauziovarella.com.br> (com adaptações).
Na revista Science, Craig Anderson, da Universidade de Iowa, responsabiliza a imprensa por apresentar até hoje como controverso um debate que deveria ter sido encerrado anos atrás.
Segundo o especialista, esse comportamento é comparável ao mantido por décadas diante da discussão sobre as relações entre o cigarro e o câncer de pulmão, quando a comunidade científica estava cansada de saber e de alertar a população para isso. Seis das mais respeitadas associações médicas norte-americanas (entre as quais as de pediatria, psicologia e a influente American Medical Association) publicaram, em 2001, um relatório com a seguinte conclusão sobre o assunto: 
“Os dados apontam de forma impressionante para uma conexão causal entre a violência na mídia e o comportamento agressivo de certas crianças”.
Idem. Ibidem.
Os valores transmitidos pelo sistema educacional seriam, na visão de Pinheiro Guimarães, os “da produção material e da maximização do consumo individual do ser humano como unidade de trabalho e não como cidadão político-solidário, digno de uma vida espiritual superior”.
Ele vê essa “vida espiritual superior” prejudicada pelos “programas degradantes e idiotizantes de televisão”, atividade que consome, segundo sua conta, mais de 80% do tempo livre do cidadão comum. “Esse tempo foi capturado pela televisão, que os estados e os governos têm tratado como uma atividade econômica normal e não como um veículo com influência extraordinária sobre a sociedade e seu imaginário”.
Merval Pereira. O imagináriosocial. 
In: O Globo, 07/08/2004 (com adaptações).
Considerando que as idéias apresentadas nos textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando-se acerca do tema seguinte.
A influência da televisão no imaginário social.
02 – (Cespe – SGA/AAJ – Analista de apoio às atividades jurídicas/Arquiteto)
De acordo com o Regimento Interno da Secretaria de Estado de Gestão Administrativa (SGA) do Governo do Distrito Federal (GDF), a Subsecretaria de Gestão de Recursos Logísticos (SGRL), órgão de comando e supervisão, é subordinada diretamente à SGA.
Entre as várias atribuições da SGRL, está a de propor, promover, supervisionar e avaliar normas e procedimentos operacionais relativos às atividades de gestão, de manutenção predial e locação de bens imóveis no âmbito da administração direta do Distrito Federal.
A utilização de imóveis de propriedade de terceiros para a instalação de serviços de órgãos estruturais do GDF só pode ocorrer, em caráter excepcional, para casos de absoluta necessidade e, para isso, é primordial que inexista, na localidade, imóvel do GDF em condições de ser considerado elegível para tal finalidade.
Suponha que o GDF aprove a instalação de um posto do Instituto de Defesa do Consumidor do DF (IDC-PROCOM) em Samambaia e constate que não há, na localidade, imóvel de sua propriedade que possa abrigar tal serviço. Nessa situação, redija um texto dissertativo relativo ao fato, abordado, necessariamente, os seguintes aspectos:
- procedimentos a serem adotados para que se inicie o processo de locação;
- escolha do imóvel;
- ações a serem executadas após a escolha do imóvel e antes da assinatura do contrato de locação.
03 – (Cespe – MMA – Analista Ambiental/Políticas de gestão em meio ambiente)
Durante a Conferência de Estocolmo, em 1972, o representante do governo brasileiro declarou textualmente, para assombro do mundo civilizado: “Um país que não alcançou o nível satisfatório mínimo para prover o essencial não está em condições de desviar recursos consideráveis para a proteção do meio ambiente”.
Com base na declaração acima, redija um texto dissertativo acerca das medidas propostas durante a ECO-92 para compatibilizar o desenvolvimento econômico com a proteção do meio ambiente.
04 – (Cespe – Anvisa – Especialista em regulação e vigilância sanitária/Arquitetura)
Resíduos sólidos de saúde
Atualmente, os resíduos sólidos de saúde constituem sérios problemas para os administradosres hospitalares, devido à falta de informações e à carência de trabalhos de conscientização mais eficazes nas unidades de saúde. O despreparo e o desconhecimento têm gerado especulações errôneas e fantasiosas entre funcionários, pacientes e comunidades vizinhas às instalações hospitalares e aos aterros sanitários. Sem dúvida, não só os resíduos hospitalares mas também os de outras unidades de saúde, como clínicas odontológicas e de análises bioquímicas e veterinárias, apresentam potenciais riscos à saúde e ao meio ambiente, devido à presença de material biológico, químico, radiotivo e perfurocortante.
A aplicação de procedimentos corretos de biossegurança em todas as unidades de saúde, incluindo o manejo e o tratamento adequado dos resíduos, previne infecções cruzadas, proporciona conforto e segurança à clientela e à equipe de trabalho e mantém o ambiente limpo e agradável.
Considerando que as ideias do texto acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando-se acerca do seguinte tema.
Importância da atuação dos órgãos de vigilância sanitária na fiscalização e na manutenção da qualidade do meio ambiente.
05 – (Cespe – DPF/DGP – Agente da Polícia Federal)
Pedindo uma pizza em 2009
Telefonista: __ Pizza Hot, boa noite!
Cliente: __ Boa noite, quero encomendar pizzas...
Telefonista: __ Pode me dar o seu NIDN?
Cliente: __ Sim, o meu número de identificação nacional é 61021993-8456-54632107.
Telefonista: __ Obrigada, Sr. Lacerda. Seu endereço é Av. Paes de Barros, 1988 ap. 52B e o número de seu telefone é 5494-2366, certo? O telefone do seu escritório da Lincoln Seguros é o 5745-2302 e o seu celular é 9266-2566.
Cliente: __ Como você conseguiu essas informações todas?
Telefonista: __Nós estamos ligados em rede ao Grande Sistema Central.
Cliente: __ Ah, sim é verdade! Eu queria encomendar duas pizzas, uma quatro queijos e outra calabresa...
Telefonista: __ Talvez não seja uma boa idéia...
Cliente: __ O quê?
Telefonista: __ Consta na sua ficha médica que o Sr. sofre de hipertensão e tem a taxa de colesterol muito alta. Além disso, o seu seguro de vida proíbe categoricamente escolhas perigosas para a sua saúde.
Cliente: __ É, você tem razão! O que você sugere?
Telefonista: __ Por que que o Sr. não experimenta a nossa pizza Superlight, com tofu e rabanetes? O Sr. vai adorar!
Cliente: __ Como é que você sabe que vou adorar?
Telefonista: __ O Sr. consultou o site “Recettes Gourmandes au Soja” da Biblioteca Municipal, dia 15 de janeiro, às 14:27h, onde permaneceu ligado à rede durante 39 minutos. Daí a minha sugestão...
Cliente: __ OK, está bem! Mande-me duas pizzas tamanho família!
Telefonista: __ É a escolha certa para o Sr., sua esposa e seus quatro filhos, pode ter certeza.
Cliente: __ Quanto é?
Telefonista: __ São R$ 49,99.
Cliente: __ Você quer o número do meu cartão de crédito?
Telefonista: __ Lamento, mas o Sr. vai ter que pagar em dinheiro. O limite do seu cartão de crédito já foi ultrapassado.
Cliente: __ Meta-se com a sua vida! Mande-me as pizzas que eu arranjo o dinheiro. Quando é que entregam?
Telefonista: __ Estamos um pouco atrasados, serão entregues em 45 minutos. Se o Sr. estiver com muita pressa pode vir buscá-las, se bem que transportar duas pizzas na moto não é aconselhável, além de ser perigoso...
Cliente: __ Mas que história é essa, como é que você sabe que eu vou de moto?
Telefonista: __ Peço desculpas,mas reparei aqui que o Sr. não pagou as últimas prestações do carro e ele foi penhorado. Mas a sua moto está paga, e então pensei que fosse utilizá-la.
Cliente: __ @$%§@&?#>§/%#!!!!!!!!!!!!
Telefonista: __ Gostaria de pedir ao Sr. para não me insultar... Não se esqueça de que o Sr. já foi condenado em julho de 2006 por desacato em público a um Agente Regional.
Cliente: __ (Silêncio)
Telefonista: __ Mais alguma coisa?
Cliente: __ Não, é só isso... não, espere... não se esqueça dos 2 litros de Coca-Colam que constam na promoção.
Telefonista: __ Senhor, o regulamento da nossa promoção, conforme citado no artigo 3095423/12, nos proíbe de vender bebidas com açúcar a pessoas diabéticas...
Cliente: __ Aaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!! Vou me atirar pela janela!!!
Telefonista: __ E machucar o joelho? O Sr. mora no andar térreo!
(Luís Fernando Veríssimo).
Considerando que o texto tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo, posicionando-se a respeito do tema a seguir.
O avanço da tecnologia da informação e o respeito à privacidade do indivíduo
06 – (Cespe – DPF/DGP – Delegado de Polícia Federal)
Texto I
A onda de violência que vivemos hoje deve-se a incontáveis motivos. Um deles parece-me especialmente virulento: o desinvestimento cultural na idéia do “próximo”.
Substituímos a prática de reflexão ética pelo treinamento nos cálculos econômicos; brindamos alegremente o “enterro” das utopias socialistas; reduzimos virtude e excelência pessoais a sucesso midiático; transformamos nossas universidades em máquinas de produção padronizada de diplomas e teses; multiplicamos nossos “pátios dos milagres”, esgotos a céu aberto, analfabetos, delinqüentes e, por fim, aderimos à lei do mercado com a volúpia de quem aperta a corda do próprio pescoço, na pressa de encurtar o inelutável fim.
Voltamos as costas ao mundo e construímos barricadas em torno do idealizado valor de nossa intimidade. Fizemos de nossas vidas claustros sem virtudes;encolhemos nossos sonhos para que coubessem em nossas ínfimas singularidades interiores; vasculhamos nossos corpos, sexos e sentimentos com a obsessão de quem vive um transe narcísico e, enfim, aqui estamos nós, prisioneiros de cartões de crédito, carreiras de cocaína e da dolorosa consciência de que nenhuma fantasia sexual ou romântica pode saciar a voracidade com que desejamos ser felizes.
Sozinhos em nossa descrença, suplicamos proteção a economistas, policiais, especuladores e investidores estrangeiros, como se algum deles pudesse restituir a esperança no “próximo” que a lógica da mercadoria devorou.
Jurandir Freire Costa. Folha de S. Paulo, 22/9/1996 (com adaptações).
Texto II
Inesgotável, o repertório do tráfico para roubar-nos a dignidade revive as granadas. Três delas ganharam a rua no curto intervalo de cinco dias, atiradas com a naturalidade de estalinho junino. Não explodiram por sorte, inabilidade ou velhice.
Mas detonaram em nossas barbas o deboche repetido com a métrica cotidiana da violência: é guerra. Uma de suas raízes alimenta-se da disseminação de armas de fogo entre os traficantes, ferida aberta à sombra de varizes socioeconômicas, cuja cicatrização agoniza no mofo de desencontros e desinteresses políticos.
Como o natimorto dueto entre os governos estadual e federal para reaver armamento militar em favelas do Rio: muita encenação, nenhuma palha movida.
Doutor em combate, não precisa sê-lo para ver: urge desarmar o adversário.
(Um adversário aparelhado até os dentes, cujo desplante avança como formiga no açúcar.) Caminho que exige a orquestração entre força e inteligência, prevenção e ataque – regidos pela convergência de esforços políticos, indispensável para se vencer uma guerra.
Editorial. Jornal do Brasil, 16/9/2004 (com adaptações).
Redija um texto dissertativo a respeito da violência, estabelecendo relações entre as idéias expressas nos textos I e II.
07 – (Cespe – DPF/DGP – Escrivão de Polícia Federal)
Este momento que atravessamos, marcado por antagonismos étnicos, econômicos e socioculturais, transforma-se em um desafio para todos os cidadãos que desejam uma sociedade mais justa e igual. Fazem-se necessárias, mais do que nunca, discussões e reflexões em busca de saídas para as grandes questões sociais e humanas.
A construção da Paz. Ano 10, n. 14, jan.-jun/2001. 
Internet: http://www.uneb.br (com adaptações).
100 questões
Excelente a última reportagem especial (“100 questões para entender o mundo”, 23 de junho). Ficou muito bem registrado que os desafios superados pela comunidade mundial nas últimas décadas ensinam que é, sim, possível vencermos os dramas da desigualdade, promover a tolerância e associar prosperidade com justiça, desde que todas as nações se reconheçam como partícipes soberanos e legítimos dessa nova conjuntura.
Hugo Lions Coelho. Recife: Veja. Cartas, 30/6/2004 (com adaptações).
Pesquisa ouviu 3.500 jovens de 15 a 24 anos de idade em todos os estados brasileiros. Leia abaixo alguns dos aspectos que compõem o retrato da juventude no país.
Qual o problema que mais o preocupa atualmente?
Pensando em uma sociedade ideal, qual desses valores seria o mais importante?
Violência/criminalidade 27%, Temor a Deus 17%; Desemprego/futuro profissional 26%, Respeito ao meio ambiente 12%; Drogas 8%, Igualdade de oportunidades 12%; Educação 6%, Religiosidade 10%; Família 6%, Respeito a diferenças 8%; Saúde 6%, Solidariedade 8%; Crise financeira 5%, Justiça social 7%.
Isto é, 5/5/2004 (com adaptações).
Considerando que a humanidade dos humanos reside no fato de serem racionais, dotados de vontade livre, de capacidade para a comunicação e para a vida em sociedade, de capacidade para interagir com a natureza e com o tempo, nossa cultura e sociedade nos definem como sujeitos do conhecimento e da ação, localizando a violência em tudo aquilo que reduz um sujeito à condição de objeto.
Do ponto de vista ético, somos pessoas e não podemos ser tratados como coisas. A ética é normativa exatamente por isso: visa impor limites e controles ao risco permanente de violência.
Marilena Chauí. Convite à filosofia. 
São Paulo: Ática, 1995, p. 337 (com adaptações).
Considerando que as idéias apresentadas nos fragmentos de textos acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo posicionando-se acerca do tema seguinte e utilizando, necessariamente, o recurso de exemplificação.
“A sociedade não é o retrato apenas de seus governantes, é o retrato de seus cidadãos, em destaque, de suas elites. É o nosso retrato, do Brasil todo, de todos nós.”
(Sérgio Abranches)
08 – (Cespe – Anatel – Analista Administrativo/Comunicação Social)
Nas questões da prova discursiva, cada uma delas valendo 2,5 pontos, faça o que se pede.
1- Sistemas de comunicação podem ser classificados em analógicos e digitais. Atualmente, a digitalização de sinais analógicos, como no caso da telefonia e da radiodifusão sonora e de imagens, constitui um processo irreversível. Embora apresente diversas vantagens, o sistema digital também possui problemas na transmissão de sinais, que vêm sendo resolvidos pelo uso de técnicas adequadas.
A partir das informações acima, redija um texto argumentativo identificando os motivos pelos quais os sinais analógicos, nos sistemas que transmitem voz e imagem, vêm sendo substituídos pelos sinais digitais. O texto deve abordar, necessariamente, os seguintes aspectos:
- robustez de um sinal em face do ruído;
- possibilidades de novos serviços de telecomunicações;
- capacidade de transmissão;
- uso de espectro.
2- Os sistemas de comunicação são fundamentados em duas plataformas básicas: via rádio e via cabo. As tecnologias de sistemas via satélite e via fibra óptica constituem exemplos, respectivamente, de plataformas desses tipos de sistema. Essas tecnologias se destacam por apresentarem características importantes para os sistemas de telecomunicações, em função de capacidade de tráfego, capacidade de cobertura, mobilidade e custos relativos à infra-estrutura.
Considerando essas informações, redija um texto argumentativo que compare as plataformas de sistemas via satélite às de sistemas via fibra óptica, com vistas a destacar as vantagens e as desvantagens de cada sistema. O texto deve abordar, necessariamente, os seguintes aspectos:
- capacidade de tráfego de informação;
- capacidade de cobertura;
- estado da arte;
- aplicações típicas.
3- Uma empresa norte-americana, com sede na cidade de Nova Iorque, atualmente em fase de expansão comercial, pretende participar do mercado brasileiro de telecomunicações. Em razão disso, contratou consultoria com a finalidade de obter informações acerca das condições objetivas e subjetivas necessárias à outorga de autorização para explorar o referido serviço em regime privado.
A partir das informações acima, redija texto argumentativo em que sejam descritas, com fundamentação, as condições objetivas e subjetivas legais que a empresa norte-americana devrá observar para que lhe seja outorgada autorização para exploração de serviço de telecomunicação no Brasil, abordando, necessariamente, os seguintes aspectos:
- legislação pertinente;
- requisitos mínimos objetivos e subjetivos necessários para a outorga de serviço de telecomunicação em regime privado.
09 – (Cespe – MP/MT – Promotor de Justiça)
1- Antônio, de 11 anos de idade, estudava no Colégio Hipotético (CH), localizado em Cuiabá-M, sendo que sua mãe não pagou as mensalidades durante os últimos seis meses. Encerrado o ano letivo, a mãe de Antônio, que estava desempregada, decidiu transferi-lo para a rede pública de ensino, mas obteve do CH a resposta de que a instituição somente forneceria os documentos necessários à transferência se os débitos fossem previamente quitados. A mãe, então, procurou o MP/MT. O promotor de justiça responsável fez ingerências infrutíferas perante o CH, com o objetivo de que fossem fornecidos à criança os referidosdocumentos.
Porém, frente às reiteradas negativas por parte do CH, o promotor de justiça ingressou com mandado de segurança contra a diretora do colégio, postulando a imediata concessão da documentação necessária à transferência.
Considerando a situação hipotética apresentada acima, redija texto dissertativo, devidamente justificado, abordando necessariamente os seguintes aspectos:
- se o interesse tutelado pela referida ação é coletivo, difuso ou individual;
- se existe base constitucional e legal que confira ao MP/MT legitimidade para ingressar com a referida ação.
2- A Associação de Defesa da Terceira Idade (ADTI), uma associação civil sem fins lucrativos constituída há dois anos para defender os direitos dos idosos no estado de Mato Grosso, recentemente moveu ação judicial contra uma empresa que administra uma rede de cinemas de Cuiabá-MT, postulando sua condenação a conceder desconto de 50% a todos os cidadãos maiores de 60 anos, mediante comprovação documental de sua idade.
Acerca dessa situação hipotética, redija texto dissertativo, devidamente justificado, que aborde necessariamente os seguintes tópicos:
- existência de fundamento legal para o pedido deduzido pela ADTI na referida ação;
- possibilidade de a ADTI utilizar-se, para a finalidade de tutelar o interesse em questão, de ação civil pública, ação popular e mandato de segurança coletivo.
10 – (Cespe)
“Aquele que fizer um bem, quer seja do peso de um átomo, vê-lo-á;
e aquele que fizer um mal, quer seja do peso de um átomo, vê-lo-á.”
(Alcorão, 99ª Surata, versículos 7 e 8).
O Bom Samaritano
Um certo doutor da lei, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus:
__ E quem é o meu próximo?
E, respondendo, Jesus disse:
__Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacertode; e, vendo-o, passou de largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar, e, vendo-o passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele; e, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe:
“Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei, quando voltar.” Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse:
__ O que usou de misericórdia para com ele.
Disse, pois, Jesus:
__ Vai e faze da mesma maneira.
(Lucas, X, 29-37 – com adaptações)
I have a dream today. I have a dream that one day every valley shall be exalted, every hill and mountain shall be made low, the rough places will be made plain, and the crooked places will be made straight, and the glory of the Lord shall be revealed, and all flesh shall see it together.
Hoy, yo tengo un sueno! El sueno que algún día los valles no sean profundos y que cada colina y montana se allanen; que los lugares más ásperos se aplanen y los caminos tortuosos se hagan rectos; que la gloria de Dios se revele y que toda la gente la contemple en comunión.
Je fais un rêve aujourd’hui. Je rêve qu’un jour chaque vallée sera élevée, chaque colline et chaque montagne seront nivelées, les endroits rugueux seront lissés et les endroits tortueux seront alignés, et la gloire du Seigneur sera révélée, et tous les hommes la verront ensemble.
(Martin Luther King. Washington-USA, 28/8/1963)
Considerando que as ideias apresentadas acima têm caráter unicamente motivador, redija um texto dissertativo posicionando-se acerca do seguinte tema:
Tornar o mundo melhor é responsabilidade de todos e de cada um.
Outros temas sugeridos:
- Eleições
- Conflitos no Oriente Médio 
- Esquerda X Direita 
- Terrorismo 
- Globalização 
- Desenvolvimento sustentável 
- MST 
- Projeto de parceria civil entre pessoas do mesmo sexo (contribuição deste grupo e omissão do voto dos parlamentares) 
- Racismo 
- Diálogo inter‑religioso 
- Drogas ilícitas e drogas lícitas 
- Clonagem de órgãos 
- Doenças do nosso tempo 
- Reforma tributária 
- Governo Dilma
- Cotas para negros em universidades públicas 
- Reforma da educação superior 
- Risco‑país 
- Transgênicos 
- CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) 
- A febre dos concursos para cargos públicos 
- O Brasil e as desigualdades sociais 
- Os sindicatos e as ONGs e suas funções sociais 
- A Filosofia como componente obrigatório nas escolas 
- A união das polícias civil e militar 
- Os regionalismos e a construção de uma língua própria 
- As autarquias e seu poder de polícia
Atividades
01. Redija uma dissertação em prosa, relacionando os três textos a seguir.
Texto 1
Na prova de Redação dos vestibulares, talvez a verdadeira questão seja sempre a mesma:
 "Conseguirei?". Cada candidato aplica-se às reflexões e às frases na difícil tarefa de falar de um tema A proposto, com a preocupação em B - "Conseguirei?" - para convencer o leitor X.
Texto 2.
Ao escrever "Lutar sem palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã", Carlos Drummond de Andrade já era um poeta maior da nossa língua.
Texto 3.
"É difícil defender, só com palavras, a vida”.
 (João Cabral de Melo Neto).
02. Imagine-se nesta situação: um dia, ao invés de encontrar-se no ano de 1998, você (mantendo os conhecimentos de que dispomos em nossa época) está em abril de 1500, participando de alguma forma do seguinte episódio relatado por Pero Vaz de Caminha:
 "Viu um deles [índios] umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou no braço e acenava para a terra e então para as contas e para o colar da capitão como que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por o desejarmos; mas ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar." 
(Caminha, Pero Vaz de. Carta El Rey Dom Manuel).
Redija uma narrativa em 1ª pessoa. Nessa narrativa, você deverá:
- participar necessariamente da ação;
- fazer aparecer as diferenças culturais entre as três partes: você, que veio do final do século XX, os índios e os portugueses da época do descobrimento.
03. Leia os textos abaixo:
Este seu olhar
"Este seu olhar
Quando encontra o meu
Fala de uma coisas que eu não posso acreditar
Doce é sonhar
É pensar que você
Gosta de mim como eu de você
Mas a ilusão
Quando se desfaz
Dói no coração de quem sonhou
Sonhou demais
Ah! se eu pudesse entender
O que dizem os seus olhos."
(Antonio Carlos Jobim).
"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
(Livro dos Conselhos).
"Os olhos de duas pessoas se encontram: é o melhor sinal, na literatura de apaixonamento, do amor à primeira vista. A vista tem este poder de revelar e, quando é recíproca, de proporcionar uma entrega imediata de um amante ao outro. Pelo menos na literatura e no imaginário românticos. Porque o olhar consiste num duplo movimento: ele captura e também cede, ele extrai e doa."
(Renato Janine Ribeiro, Os amantes contra o poder).
A seguir redija um texto dissertativo, com a extensão mínima de trinta e máxima de sessenta linhas, desenvolvendo o tema a seguir.
Olhar: janela da alma, espelho do mundo.
04. Leia os textos abaixo:
 "Quanto ao povo, isto é, a camada social composta de pequenos comerciantes, artífices, empregados diversos, militares de patente inferior, gente enfim de algum rendimento, intermediários entre a casta senhorial e a população escrava, expandia-se também em divertimentos mais acessíveis, nos batuques, nas touradas, nas cavalhadas e - por que não? nas festividades religiosas. O carnaval, então como hoje,já constituiria a festa popular de sentido mais democrático, igualando ricos e pobres, humildes e poderosos."
 "A orgia está estritamente ligada à festa. Uma instituição em que se suprimem as regras da vida cotidiana e onde se realiza um estado de excitação coletiva. O todo, porém, com um início e um fim pré-organizados. Com um ritual de entrada e um ritual de saída. Também a orgia, de modo geral, se desenvolve dentro de uma festa."
Felicidade
"A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei, ou de pirata ou jardineira
E tudo se acabar na quarta-feira
Tristeza não tem fim
Felicidade, sim."
(Música de Antonio Carlos Jobim / Letra de Vinícius de Morais).
A seguir, redija um texto dissertativo com a extensão mínima de trinta e máxima de sessenta linhas, desenvolvendo o tema abaixo:
Direito igual... só no carnaval?
05. Leia os fragmentos a seguir, extraídos do livro A vida de Galileu, de Bertolt Brecht:
"Há dois mil anos a humanidade acreditou que o Sol e as estrelas do céu giravam em torno dela. O papa, os cardeais, os príncipes, os sábios, capitães, comerciantes, peixeiros e crianças de escola, todos achando que estavam imóveis nessa bola de cristal."
"...tempo antigo acabou, e agora é um tempo novo. Já faz cem anos que a humanidade está esperando alguma coisa."
"...quinhentas mãos se movem em conjunto, organizadas de maneira nova."
"...agora, veja o que se diz: se as coisas são assim, assim não vão ficar. Tudo se move, meu amigo."
"...Já se descobriu muita coisa, mas há mais coisas ainda que poderão ser descobertas. De modo que também as novas gerações têm o que fazer."
Valendo-se dessas sugestões, redija um texto dissertativo, com a extensão mínima de trinta e máxima de sessenta linhas, acerca do tema:
A construção do futuro só é possível com a participação de todos.
06. "Mestre não é quem ensina, mas quem de repente aprende."
Faça um texto dissertativo em prosa de, no máximo vinte linhas, a partir da reflexão sobre esta frase Guimarães Rosa. Dê um título ao seu texto.
07. "Em harmonia com a generalizada decadência do nosso sistema educacional, estão em curso muitas práticas que, se não reagirmos, acabarão por nos reduzir a falantes de um dialeto incompatível com as necessidades civilizadas de comunicação."
(João Ubaldo Ribeiro).
Faça um texto dissertativo em prosa de, no máximo vinte linhas, comentando essa afirmação. Dê um título ao seu texto.
08. "O que deveria surpreender é menos o grau selvagem de violência já atingido e mais o fato de que a selvageria não seja ainda maior."
(Clóvis Rossi, Folha de São Paulo).
Faça um texto dissertativo em prosa de, no máximo vinte linhas, comentando essa afirmação. Dê um título ao seu texto.
09.
Instruções: Escreva em prosa uma dissertação sobre o tema abaixo proposto. As ideias devem ser desenvolvidas de modo que se perceba uma introdução: a expressão resumida da  proposta (ideia-núcleo); um desenvolvimento: a explanação da idéia inicial; e a conclusão: fecho do raciocínio desenvolvido.
Proposta: A miséria de grande parcela da população brasileira tem sido um dos assuntos mais debatidos entre nós. Queremos que você participe deste debate, dizendo de que depende primordialmente, em sua opinião, a erradicação e/ou combate da miséria existente no Brasil.
Importante: Crie um título coerente! O texto final não pode ser feito a lápis.
10.
Instruções: Considerando a própria realidade sócio cultural (sic) brasileira e tomando como base as informações e opiniões contidas na coletânea a seguir, redija uma dissertação dizendo de que depende primordialmente a erradicação da violência entre nós.
"O problema é que as soluções privadas e violentas (iniciativas particulares para enfrentar a violência) não apenas não são as mais eficazes como também podem ter resultados contrários aos esperados. (...) Violência não é remédio para a violência. Ao contrário, é o que a faz proliferar."
(Tereza Caldeira, Folha de São Paulo).
"Ora, não serão mais perigosos e prejudiciais, para o país, os grandes crimes - o assalto ao tesouro público ou à poupança privada? E esses crimes nada têm a ver com a miséria. Podem ter a ver, sim, com a impunidade. (...) O maior perigo, para cada um de nós, não está no trabalhador desempregado, que raras vezes se torna ladrão. O perigo está no engravatado que furta enormes somas."
(Renato Janine Ribeiro, Folha de São Paulo).
"Art. 6° - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desempregados, na forma desta Constituição.
Art. 7° - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais:
(...................................................................)
VI - salário mínimo fixado em lei, capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e a de sua família..."
(Constituição do Brasil).
Importante: Dê um título ao seu texto. O texto final deve ser feito a tinta.
11. Desenvolva uma dissertação com cerca de 50 linhas, manuscritas e legíveis, sem rasuras, a tinta ou lápis. Defenda ou refute as idéias apresentadas no fragmento de texto, através de uma dissertação integrada, coerente e organicamente estruturada. Fundamente bem suas idéias sem sair do tema. Na análise da redação será aceito qualquer posicionamento ideológico. Dê um título sugestivo e criativo à sua redação. 
"Nossa cultura perdeu muito de seus valores tradicionais. O dinheiro é a única coisa que sobrou para estimular os desejos e as aspirações da maioria das pessoas. O dinheiro tomou o lugar ou entrou profundamente no mundo da religião, do patriotismo, da arte, ao amor e da ciência... Os ricos e os pobres lutam por dinheiro por razões muito diferentes. Mas quem é pobre entende algo sobre o dinheiro que os ricos não entendem. E o contrário também é verdadeiro. Os pobres sentem o poder do dinheiro na própria pele. Uma pessoa rica frequentemente sente isso nas suas emoções, não no seu corpo. Quem é rico sabe que com dinheiro, muitas vezes, você pode manipular, blefar, e fazer o que você quiser. Mas até um certo ponto. Sabe interiormente que há algo essencial na condição humana que o dinheiro não compra."
(Jacob Needleman, entrevista à Exame, ed. 645, p. 76).
12. 
Instruções: Com base no texto que se segue crie: Um título sugestivo à sua redação.
Redija um texto, a partir das ideias apresentadas. Defenda os seus pontos de vista utilizando-se de argumentação lógica.
Tema de Redação
"Bonnie nasceu nesses dias em que a morte rondou-nos com sua brutal e irredutível presença. Em sua ovina, alva e simbólica inocência, ela surgiu na TV e nos jornais, ao lado da mãe, Dolly. Nenhuma das duas suspeita de onde veio e para onde irá. Não se indagam, não formulam, não têm angústias: são apenas ovelhas, viverão e morrerão.
Para os humanos, contudo, Dolly e Bonnie são mais do que dois límpidos e pacíficos animais. São um novo episódio do ancestral duelo que a humanidade trava contra a natureza. Um ensaio divino da razão, uma esperança, possivelmente vã, de que um dia o destino humano complete-se e triunfe sobre a mãe criadora. Até lá, porém, continuará a conviver com a morte, esse defeito irrevogável da criação."
(Gonçalves M. A., Domingueira, Folha de São Paulo, 26/04/98, pg 1-9).
13. Elabore teses possíveis para textos sobre os temas propostos a seguir, conforme o exemplo abaixo:
Tema: A importância da religião na vida do homem.
Tese: O homem, por ser incompleto, procura fora de si as respostas para suas perguntas mais fundamentais, sobretudo no tocante à própria existência. Ora, a religião é a resposta perfeita, pois,descolada da razão, é capaz de responder a qualquer anseio e acalmar o coração de todo ser humano.
Tema: Desemprego e informalidade: a deterioração das oportunidades e condiçõesde trabalho no Brasil.
Tese: 
Tema: Violência urbana e crime organizado: quais as soluções para a sensação de insegurança nas grandes metrópoles?
Tese:
Tema: Cotas para negros nas universidades: Solução para o preconceito no Brasil? 
Tese:
Tema: Educação e cultura: sua importância para o indivíduo e para a sociedade.
Tese:
Tema: Corpo e Beleza: como cuidar da aparência sem descuidar da mente?
Tese:
Tema: Arte e sociedade: porque as pessoas se afastaram do teatro, museus e salas de concerto?
Tese:
Tema: O mundo de amanha: como impedir as queimadas, aquecimento global, poluição, esgotamento de reservas naturais, diminuição da biodiversidade e extinção das espécies?
Tese:
Tema: Ética e pesquisa científica: quais os limites morais da ciência?
Tese:
Tema: Inclusão digital: como fazer que todos entrem na era da informação e se beneficiem da tecnologia.
Tese:
Tema: Relacionamentos amorosos e familiares no mundo contemporâneo: melhores ou piores?
Tese:
14. Tema da Dissertação:
"– Não é preciso zangar-se. Todos nós temos as nossas opiniões.
– Sem dúvida. Mas é tolice querer uma pessoa ter opinião sobre assunto que desconhece. (...) Que diabo! Eu nunca andei discutindo gramática. Mas as coisas da minha fazenda julgo que devo saber. E era bom que não me viessem dar lições. Vocês me fazem perder a paciência."
Você tem opinião sobre as afirmações acima?
Se tem, defenda sua opinião.
Se não, explique por quê.
15. O trabalhador brasileiro, em sua grande maioria, recebe salário mensal que tem como ponto de referência a chamada "Cesta Básica". Leia o texto a seguir e, baseado no que ele significa para você, escreva a sua redação, dissertativa.
Comida
Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comida,
A gente quer comida, diversão e arte.
A gente não quer só comida,
A gente quer saída para qualquer parte.
A gente não quer só comida,
A gente quer bebida, diversão, balé.
A gente não quer só comida,
A gente quer a vida como a vida quer.
Bebida é água.
Comida é pasto.
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?
A gente não quer só comer,
A gente quer comer e quer fazer amor.
A gente não quer só comer,
A gente quer prazer pra aliviar a dor.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer dinheiro e felicidade.
A gente não quer só dinheiro,
A gente quer inteiro e não pela metade.
(Arnaldo Antunes/ Marcelo Fromer/Sérgio Britto).
“em Jesus não tem dentes no país dos banguelas.”
(Titãs, 1988)
16. Faça uma dissertação discutindo as opiniões expostas a seguir. É importante que você assuma uma posição a favor ou contra as ideias apresentadas. Justifique-a com argumentos convincentes. Você poderá também assumir uma posição diferente, alinhando argumentos que a sustentem.
- Alega-se, com frequência, que o vestibular, como forma de seleção dos candidatos à escola superior, favorece os alunos de melhor situação econômica que têm condições de cursar as melhores escolas e prejudica os menos favorecidos que são obrigados a estudar em escolas de padrão inferior de ensino.
- Por outro lado, há quem considere que o vestibular é apenas um processo de seleção que procura avaliar o conhecimento dos candidatos num determinado momento, escolhendo aqueles que se apresentam melhor preparados para ingressar na Universidade. Culpá-lo por possíveis injustiças é o mesmo que culpar o termômetro pela febre.
17. O trecho a seguir do conto "A Igreja do Diabo", de Machado de Assis, descreve a necessidade que o homem teria de regras que lhe digam o que fazer e como se comportar. Uma vez conseguido isso, ele passaria a violar secretamente as normas que tanto desejou. Escreva uma dissertação que analise esta visão que o autor tem do comportamento humano. Você pode discordar ou concordar com ela, desde que seus argumentos sejam fundamentados. O maior mérito estará numa argumentação coesa capaz de levar a uma conclusão coerente.
Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma Igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. (...) Está claro que (o Diabo) combateu o perdão das injúrias e outras máximas de brandura e cordialidade. Não proibiu formalmente a calúnia, mas induziu a exercê-la mediante retribuição, ou pecuniária, ou de outra espécie. (...) A Igreja fundara-se; a doutrina propagava-se; não havia uma região do globo que não a conhecesse, uma língua que não a traduzisse, uma raça que não a amasse. O Diabo alçou brados de triunfo.
Um dia, porém, longos anos depois, notou o Diabo que muitos dos seus fiéis, às escondidas, praticavam as antigas virtudes. (...) Certos glutões recolhiam-se a comer frugalmente três ou quatro vezes por ano (...) muitos avaros davam esmolas, à noite, ou nas ruas mal povoadas; vários dilapidadores do erário restituíam-lhe pequenas quantias; os fraudulentos falavam, uma ou outra vez, com o coração nas mãos, mas com o mesmo rosto dissimulado, para fazer crer que estavam embaçando os outros.
 [Nota: embaçar: lograr, enganar]
18. Relacione os textos abaixo e redija uma dissertação, em prosa, discutindo as ideias neles contidas e apresentando argumentos que comprovem e/ou refutem essas ideias.
"Antes mundo era pequeno
Porque Terra era grande
Hoje o mundo é muito grande
Porque Terra é pequena
Do tamanho da antena parabolicamará"
(Gilberto Gil).
                              
"Como democratizar a TV, o rádio, a imprensa, que são o oxigênio e a fumaça que a nossa imaginação respira? Como seria uma TV sem manipulação? São perguntas difíceis, mas a luta social efetiva, e sobretudo um projeto de futuro, são impossíveis sem entrar nesse terreno."
(Roberto Schwarz).
"Tevê colorida
fará azul-rósea
a cor da vida?"
(Carlos Drummond de Andrade). 
19. Relacione os textos e a imagem seguintes e escreva uma dissertação em prosa, discutindo as idéias neles contidas e expondo argumentos que sustentem o ponto de vista que você adotou.
Em muitas pessoas já é um descaramento dizerem "Eu".
T.W. Adorno
Não há sempre sujeito, ou sujeitos. (...)
Digamos que o sujeito é raro, tão raro quanto as verdades.
A. Badiou
Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.
T.W. Adorno
20. Leia atentamente os textos dados, procurando identificar a questão neles tratada. Escreva uma dissertação em prosa, relacionando os dois textos e expondo argumentos que sustentem seu próprio ponto de vista.
Texto 1
Entre os Maoris, um povo polinésio, existe uma dança destinada a proteger as sementeiras de batatas, que quando novas são muito vulneráveis aos ventos do leste: as mulheres executam a dança, entre os batatais, simulando com os movimentos dos corpos o vento, a chuva, o desenvolvimento e o florescimento do batatal, sendo esta dança acompanhada de uma canção que é um apelo para que o batatal siga o exemplo do bailado. As mulheres interpretam em fantasia a realização prática de um desejo. É nisto que consiste a magia: uma técnica ilusória destinada a suplementar a técnica real.
Mas essa técnica ilusória não é vã. A dança não pode exercer qualquer feito direto sobre as batatas, mas pode ter (como de fato tem) um efeito apreciável sobre as mulheres. Inspiradas pela convicção de que a dança protege a colheita, entregam-se ao trabalho com mais confiança e mais energia. E, deste modo, a dança acaba, afinal, por ter um efeito sobre a colheita.
(GeorgeThomson)
Texto 2
A ciência livra-nos do medo, combatendo com respostas objetivas esse veneno subjetivo. Com um bom pára-raios, quem em casa teme as tempestades? Todo ritual mítico está condenado a desaparecer; a função dos mitos se estreita a cada invenção, e todo vazio em que o pensamento mágico imperava está sendo preenchido pelo efeito de uma operação racional. Quanto à arte, continuará a fazer o que pode: entreter o homem nas pausas de seu trabalho, desembaraçada agora de qualquer outra missão, que não mais é preciso lhe atribuir.
(Hercule Granville)
21. Redija uma dissertação em prosa, relacionando os três textos abaixo.
Texto 1
Na prova de Redação dos vestibulares, talvez a verdadeira questão seja sempre a mesma: "Conseguirei?". Cada candidato aplica-se às reflexões e às frases na difícil tarefa de falar de um tema A proposto, com a preocupação em B – "Conseguirei?", para convencer um leitor X.
Texto 2
Ao escrever "Lutar com palavras / é a luta mais vã. / Entanto lutamos / mal rompe a manhã", Carlos Drummond de Andrade já era um poeta maior da nossa língua.
Texto 3
É difícil defender, só com palavras, a vida
(João Cabral de Melo Neto).
22. A partir da leitura dos textos abaixo, redija uma DISSERTAÇÃO em prosa, discutindo as idéias neles contidas.
(...) o inferno são os Outros.
(Jean-Paul Sartre)
(...) padecer a convicção de que, na estreiteza das relações da vida, a alma alheia comprime-nos, penetra-nos, suprime a nossa, e existe dentro de nós, como uma consciência imposta, um demônio usurpador que se assenhoreia do governo dos nossos nervos, da direção do nosso querer; que é esse estranho espírito, esse espírito invasor que faz as vezes de nosso espírito, e que de fora, a nossa alma, mísera exilada, contempla inerte a tirania violenta dessa alma, outrem, que manda nos seus domínios, que rege as intenções, as resoluções e os atos muito diferentemente do que fizera ela própria (...).
(Raul Pompéia)
“– Os outros têm uma espécie de cachorro farejador, dentro de cada um, eles mesmos não sabem. Isso feito um cachorro, que eles têm dentro deles, é que fareja, todo o tempo, se a gente por dentro da gente está mole, está sujo ou está ruim, ou errado... As pessoas, mesmas, não sabem. Mas, então, elas ficam assim com uma precisão de judiar com a gente...''
(João Guimarães Rosa).
(...) 
experimentar 
colonizar 
civilizar 
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de conviver.
(Carlos Drummond de Andrade).
O filósofo e psicólogo William James chamou a atenção para o grau em que nossa identidade é formada por outras pessoas: são os outros que nos permitem desenvolver um sentimento de identidade, e as pessoas com as quais nos sentimos mais à vontade são aquelas que nos “devolvem'' uma imagem adequada de nós mesmos (...).
(Alain de Botton).
23. Dissertação:
Como você avalia a jovem geração brasileira que constitui a maioria dos que chegam agora ao vestibular? Situada, em sua maior parte, na faixa etária que vai dos dezesseis aos vinte e um anos, que características essa geração apresenta? Que opinião você tem sobre tais características?
Para tratar desse tema, você poderá, por exemplo, identificar as principais virtudes ou os defeitos que eventualmente essa jovem geração apresenta; indicar quais são os valores que, de fato, ela julga mais importantes e opinar sobre eles. Você poderá, também, considerá-la quanto à formação intelectual, identificando, aí, os pontos fortes e as possíveis deficiências. Poderá, ainda, observar qual é o grau de respeito pelo outro, de consciência social, de companheirismo, de solidariedade efetiva, de conformismo ou de inconformismo que essa geração manifesta.
Refletindo sobre aspectos como os acima sugeridos, escolhendo entre eles os que você julgue mais pertinentes ou, caso ache necessário, levantando outros aspectos que você considere mais relevantes para tratar do tema proposto, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, apresentando argumentos que dêem consistência e objetividade ao seu ponto de vista.
24. Dissertação:
Recentemente, o Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoB–SP), visando proteger a identidade cultural da língua portuguesa, apresentou um projeto de lei que prevê sanções contra o emprego abusivo de estrangeirismos. Mais que isso, declarou o Deputado, interessa-lhe incentivar a criação de um "Movimento Nacional de Defesa da Língua Portuguesa".
Leia alguns dos argumentos que ele apresenta para justificar o projeto, bem como os textos subsequentes, relacionados ao mesmo tema.
"A História nos ensina que uma das formas de dominação de um povo sobre outro se dá pela imposição da língua. (...)" "...estamos a assistir a uma verdadeira descaracterização da Língua Portuguesa, tal a invasão indiscriminada e desnecessária de estrangeirismos – como ‘holding’, ‘recall’, ‘franchise’, ‘coffee-break’, ‘self-service’ – (...). E isso vem ocorrendo com voracidade e rapidez tão espantosas que não é exagero supor que estamos na iminência de comprometer, quem sabe até truncar, a comunicação oral e escrita com o nosso homem simples do campo, não afeito às palavras e expressões importadas, em geral do inglês norte-americano, que dominam o nosso cotidiano (...)"
"Como explicar esse fenômeno indesejável, ameaçador de um dos elementos mais vitais do nosso patrimônio cultural – a língua materna –, que vem ocorrendo com intensidade crescente ao longo dos últimos 10 a 20 anos? (...)"
"Parece-me que é chegado o momento de romper com tamanha complacência cultural, e, assim, conscientizar a nação de que é preciso agir em prol da língua pátria, mas sem xenofobismo ou intolerância de nenhuma espécie. (...)"
(Dep. Fed. Aldo Rebelo, 1999).
"Na realidade, o problema do empréstimo lingüístico não se resolve com atitudes reacionárias, com estabelecer barreiras ou cordões de isolamento à entrada de palavras e expressões de outros idiomas. Resolve-se com o dinamismo cultural, com o gênio inventivo do povo. Povo que não forja cultura dispensa-se de criar palavras com energia irradiadora e tem de conformar-se, queiram ou não queiram os seus gramáticos, à condição de mero usuário de criações alheias."
(Celso Cunha, 1968).
"Um país como a Alemanha, menos vulnerável à influência da colonização da língua inglesa, discute hoje uma reforma ortográfica para ‘germanizar’ expressões estrangeiras, o que já é regra na França. O risco de se cair no nacionalismo tosco e na xenofobia é evidente. Não é preciso, porém, agir como Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto, que queria transformar o tupi em língua oficial do Brasil para recuperar o instinto de nacionalidade.
No Brasil de hoje já seria um avanço se as pessoas passassem a usar, entre outros exemplos, a palavra ‘entrega’ em vez de ‘delivery’."
(Folha de S. Paulo, 20/10/98).
Levando em conta as ideias presentes nos três textos, redija uma dissertação em prosa, expondo o que você pensa sobre essa iniciativa do Deputado e as questões que ela envolve.
Apresente argumentos que dêem sustentação ao ponto de vista que você adotou.
25. 
Texto 1
Um dia sim, outro também. Duas bombas, suásticas nazistas e muitas mensagens pregando a tolerância zero a negros, judeus, homossexuais e nordestinos marcaram a Semana da Pátria em São Paulo. O primeiro petardo foi direcionado na segunda-feira 4, para o coordenador da Anistia Internacional. Tratava-se de uma bomba caseira, postada numa agência dos Correios de Pinheiros com endereço certo: a casa do coordenador. Uma hora e meia depois, foi a vez de o secretário de Segurança e de os presidentes das comissões Municipal e Estadual de Direitos Humanos receberem cartas ameaçadoras. Assinando "Nós os skinheads" (cabeça raspada), os autores abusaram da linguagem chula, do ódio e da intolerância. "Vamos destruir todos os viados, pretos e nordestinos", prometeram. Eles asseguravam também já terem escolhido os representantes daqueles que não se enquadramno que chamam de "raça pura" para receberem "alguns presentinhos".
Como prometeram, era só o começo. No dia seguinte, terça-feira 5, o mesmo grupo mandou outra bomba, dessa vez para a associação da Parada do Orgulho Gay.
(Isto é, 08/09/2000).
Texto 2
Desde então [os anos 80], o poder racista alastrou-se por todo o mundo numa torrente de excessos sanguinolentos. Também na Alemanha, imigrantes e refugiados foram mortos friamente por maltas de radicais de direita em atentados incendiários. Até hoje, a esfera pública minimiza tais crimes como obra de uns poucos jovens desclassificados. Na verdade, porém, o poder racista à solta nas ruas é o prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.
(Robert Kurz).
Texto 3
Um dos eventos realizados no final de abril deste ano no Chile foi uma conferência internacional secreta de militantes extremistas de direita e organizações neonazistas planejada e divulgada pela Internet. Foram convidados a participar do "Primeiro Encontro Ideológico Internacional de Nacionalismo e Socialismo" representantes do Brasil, Uruguai, Argentina, Venezuela e Estados Unidos.
(Isto é, 08/09/2000).
Demais textos:
(...) Nos últimos anos, grupos neonazistas têm se multiplicado. Tanto nos Estados Unidos e na Europa quanto aqui parece existir uma relação entre o desemprego estrutural do sistema capitalista e a ascensão desses grupos de inspiração neonazista.
(Página da Internet).
Toda proclamação contra o fascismo que se abstenha de tocar nas relações sociais de que ele resulta como uma necessidade natural, é desprovida de sinceridade.
(Bertolt Brecht).
Considerar alguém como culpado, porque pertence a uma coletividade à qual ele não "escolheu" pertencer, não é característica própria só do racismo. Todo nacionalismo mais intenso, e até mesmo qualquer bairrismo, consideram sempre os outros (certos outros) como culpados por serem o que são, por pertencerem a uma coletividade à qual não escolheram pertencer. (...).
(Cornelius Castoriadis).
"A violência é a base da educação de cada um."
(Resposta de um cidadão anônimo entrevistado pela TV sobre as razões da violência).
Estes textos (adaptados das fontes citadas) apresentam notícias sobre o crescimento do neonazismo e do neofascismo e, também, alguns pontos de vista sobre o sentido desse fenômeno. Com base nesses textos e em outras informações e reflexões que julgue adequadas, redija uma dissertação em prosa, procurando argumentar de modo claro e consistente.
26. Considerando os aspectos abaixo sugeridos ou, ainda, escolhendo outro que você julgue mais importante para tratar do tema, redija, com sinceridade e plena liberdade de opinião, uma dissertação em prosa, em linguagem adequada à situação, procurando argumentar com pertinência e coerência.
Como você avalia os responsáveis por sua formação, ou seja, seus pais e familiares, professores, orientadores religiosos, líderes políticos, intelectuais, autoridades etc.?
Visando ao desenvolvimento do tema, você poderá, se quiser, refletir sobre as seguintes questões:
Quais foram os principais responsáveis por sua formação?
Quais são as características mais marcantes que apresentam?
Você julga que eles assumiram, de fato, sua função de formadores?
Em que aspectos a formação que lhe proporcionaram foi satisfatória ou insatisfatória?
Você poderá, ainda, identificar os valores que são realmente importantes para eles, opinando sobre esses valores. Poderá, também, considerar se eles são em si mesmos pessoas íntegras e felizes e se, assim, constituem bons modelos de vida.
27. Leia atentamente os três textos abaixo.
Com o apoio dos três textos apresentados, escreva uma dissertação em prosa, na qual você deverá discutir manifestações concretas de afirmação ou de negação da autoestima entre os brasileiros. Apresente argumentos que deem sustentação ao ponto de vista que você adotou.
Texto 1
Está no dicionário Houaiss: autoestima s.f. qualidade de quem se valoriza, se contenta com seu modo de ser e demonstra, conseqüentemente, confiança em seus atos e julgamentos. 
A definição do dicionário parece limitar-se ao âmbito do indivíduo, mas a palavra autoestima já há algum tempo é associada a uma necessidade coletiva. Por exemplo: nós, brasileiros, precisamos fortalecer nossa autoestima.
Neste caso, a satisfação com nosso modo de ser, como povo, nos levaria à confiança em nossos atos e julgamentos. Mas talvez seja o caso de perguntar: não são os nossos atos e julgamentos que acabam por fortalecer ou enfraquecer nossa autoestima, como indivíduos ou como povo?
Texto 2
Estão num poema de Drummond, da década de vinte, os versos:
E a gente viajando na pátria sente saudades da pátria. (...)
Aqui ao menos a gente sabe que é tudo uma canalha só.
Texto 3
Está num artigo do jornalista Zuenir Ventura, de dois anos atrás:
De um país em crise e cheio de mazelas, onde, segundo o IBGE, quase um quarto da população ganha R$ 4 por dia, o que se esperaria? Que fosse a morada de um povo infeliz, cético e pessimista, não?
Não. Por incrível que pareça, não. Os brasileiros não só consideram seu país um lugar bom e ótimo para viver, como estão otimistas em relação a seu futuro e acreditam que ele se transformará numa superpotência econômica em cinco anos. Pelo menos essa é a conclusão de um levantamento sobre a "utopia brasileira" realizado pelo Datafolha.
28. Redija uma dissertação em prosa, na qual você apontará, sucintamente, as diferentes concepções do tempo, presentes nos três textos abaixo, e argumentará em favor da concepção do tempo com a qual você mais se identifica.
Texto 1
Mais do que nunca a história é atualmente revista ou inventada por gente que não deseja o passado real, mas somente um passado que sirva a seus objetivos. (...).
Os negócios da humanidade são hoje conduzidos especialmente por tecnocratas, resolvedores de problemas, para quem a história é quase irrelevante; por isso, ela passou a ser mais importante para nosso entendimento do mundo do que anteriormente.
(Eric Hobsbawm, Tempos interessantes: uma vida no século XX).
Texto 2
O que existe é o dia-a-dia. Ninguém vai me dizer que o que aconteceu no passado tem alguma coisa a ver com o presente, muito menos com o futuro. Tudo é hoje, tudo é já.
Quem não se liga na velocidade moderna, quem não acompanha as mudanças, as descobertas, as conquistas de cada dia, fica parado no tempo, não entende nada do que está acontecendo.
(Herberto Linhares, depoimento).
Texto 3
Não se afobe, não,
Que nada é pra já,
O amor não tem pressa,
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário,
Na posta-restante,
Milênios, milênios
No ar...
E quem sabe, então,
O Rio será
Alguma cidade submersa.
Os escafandristas virão
Explorar sua casa,
Seu quarto, suas coisas,
Sua alma, desvãos...
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras,
Fragmentos de cartas, poemas,
Mentiras, retratos,
Vestígios de estranha civilização.
Não se afobe, não,
Que nada é pra já,
Amores serão sempre amáveis.
Futuros amantes quiçá
Se amarão, sem saber,
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você.
(Chico Buarque, "Futuros amantes").
29. Considere os textos abaixo:
"Catraca invisível" ocupa lugar de estátua
Sem que ninguém saiba como - e muito menos o por quê – uma *catraca enferrujada foi colocada em cima de um pedestal no largo do Arouche (centro de São Paulo). É o "monumento à catraca invisível", informa uma placa preta com moldura e letras douradas, colocada abaixo do objeto, onde ainda se lê: "Programa para a descatracalização da vida, Julho de 2004".
(Adaptado de Folha de S. Paulo, 04 de setembro de 2004).
*Catraca = borboleta: dispositivo geralmente formado por três ou quatro barras ou alças giratórias, que impede a passagem de mais de uma pessoa de cada vez, instalado na entrada e/ou saída de ônibus, estações, estádios etc. para ordenar e controlar o movimento de pessoas,contá-las etc.
Grupo assume autoria da "catraca invisível"
Um grupo artístico chamado "Contra Filé" assumiu a responsabilidade pela colocação de uma catraca enferrujada no largo do Arouche (região central). A intervenção elevou a catraca ao status de monumento "à descatracalização da vida" e fez parte de um programa apresentado no SESC da Avenida Paulista, paralelamente ao Fórum das Cidades.
No site do SESC, o grupo afirma que a catraca representa um objeto de controle "biopolítico" do capital e do governo sobre os cidadãos.
(Adaptado de Folha de S. Paulo, 09 de setembro de 2004).
30. Os três textos abaixo apresentam diferentes visões de trabalho. O primeiro procura conceituar essa atividade e prever seu futuro. O segundo trata de suas condições no mundo contemporâneo e o último, ilustrado pela famosa escultura de Michelangelo, refere-se ao trabalho de artista. Relacione esses três textos e com base nas ideias neles contidas, além de outras que julgue relevantes, redija uma dissertação em prosa, argumentando sobre o que leu acima e também sobre os outros pontos que você tenha considerado pertinentes.
Texto 1
O trabalho não é uma essência atemporal do homem. Ele é uma invenção histórica e, como tal, pode ser transformado e mesmo desaparecer.
(Adaptado de A. Simões).
Texto 2
Há algumas décadas, pensava-se que o progresso técnico e o aumento da capacidade de produção permitiriam que o trabalho ficasse razoavelmente fora de moda e a humanidade tivesse mais tempo para si mesma. Na verdade, o que se passa hoje é que uma parte da humanidade está se matando de tanto trabalhar, enquanto a outra parte está morrendo por falta de emprego.
(M. A. Marques).
Texto 3
O trabalho de arte é um processo. Resulta de uma vida. Em 1501, Michelangelo retorna de viagem a Florença e concentra seu trabalho artístico em um grande bloco de mármore abandonado. Quatro anos mais tarde fica pronta a escultura "David".
(Adaptado de site da Internet).
31. Discorra, com clareza e coesão, sobre os Partidos Políticos, abordando os seguintes aspectos: 
- Natureza jurídica 
- Autonomia 
- Esfera de ação 
- Relevância do registro dos estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. 
- Vedações 
 
Utilize no mínimo 15 (quinze) linhas e no máximo 30 (trinta) linhas.
32. Leia atentamente o texto que segue. 
 
Constitucionalismos perversos
 Na União Européia, os franceses e os holandeses, recentemente, disseram não a um projeto constitucional mais interessado em constitucionalizar o mercado do que a democracia. Também os quenianos disseram não a um projeto constitucional que nasceu como um dos mais progressistas da África, mas que nos últimos anos fora totalmente adulterado pelo presidente Kibaki para concentrar em si e no governo central poderes excessivos e pouco susceptíveis de controle democrático. O fato de ambas as tentativas terem falhado é, em si mesmo, animador. Significa que, quando o processo constitucional é usado para virar a soberania do povo contra o povo e o exercício da cidadania contra cidadania, dizer não à Constituição é ato de afirmação democrática. Que isto aconteça tanto na Europa como na África é sinal de que a globalização dos mercados livres terá de conviver cada vez mais com a globalização dos cidadãos livres. 
(Boaventura de Souza Santos, 
sociólogo e professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra) 
 
Redija uma dissertação, na qual você se posicione em relação às ideias presentes no texto acima, dando relevo às afirmações que nele se encontram sublinhadas. 
A dissertação deverá ter uma extensão mínima de 20 linhas e máxima de 30 linhas.
Redação Oficial
Conceito
Entende‑se por Redação Oficial o conjunto de normas e práticas que devem reger a emissão dos atos normativos e comunicações do poder público, entre seus diversos organismos ou nas relações dos órgãos públicos com as entidades e os cidadãos.
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"A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência ( ... )".
A forma e o conteúdo da Redação Oficial devem convergir na produção dos textos dessa natureza, razão pela qual, muitas vezes, não há como separar uma do outro. Indicam‑se, a seguir, alguns pressupostos de como devem ser redigidos os textos oficiais.
Padrão culto do idioma
A redação oficial deve observar o padrão culto do idioma quanto ao léxico (seleção vocabular), à sintaxe (estrutura gramatical das orações) e à morfologia (ortografia, acentuação gráfica etc.).
Por padrão culto do idioma deve‑se entender a língua referendada pelos bons gramáticos e pelo uso nas situações formais de comunicação. Devem‑se excluir da Redagão Oficial a erudição minuciosa e os preciosismos vocabulares que criam entraves inúteis à compreensão do significado. Não faz sentido usar “perfunctório” em lugar de "superficial" ou "doesto" em vez de "acusação" ou "calúnia". São descabidos também as citações em língua estrangeira e os latinismos, tão ao gosto da linguagem forense. Os manuais de Redação Oficial, que vários órgãos têm feito publicar, são unânimes em desaconselhar a utilização de certas formas sacramentais, protocolares e de anacronismos que ainda se leem em documentos oficiais, como: "No dia 20 de maio, do ano de 2011 do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo", que permanecem nos registros cartorários antigos.
Não cabem também, nos textos oficiais, coloquialismos, neologismos, regionalismos, bordões da fala e da linguagem oral, bem como as abreviações e imagens sígnicas comuns na comunicação eletrônica.
Diferentemente dos textos escolares, epistolares, jornalísticos ou artísticos, a Redação Oficial não visa ao efeito estético nem à originalidade. Ao contrário, impõe uniformidade, sobriedade, clareza, objetividade, no sentido de se obter a maior compreensão possível com o mínimo de recursos expressivos necessários. Portarias lavradas sob forma poética, sentenças e despachos escritos em versos rimados pertencem ao “folclore” jurídico‑administrativo e são práticas inaceitáveis nos textos oficiais. São também inaceitáveis nos textos oficiais os vícios de linguagem, provocados por descuido ou ignorância, que constituem desvios das normas da língua‑padrão. Enumeram‑se, a seguir, alguns desses vícios:
- Barbarismos: São desvios:
- da ortografia: 	“advinhar” em vez de adivinhar; “excessão” em vez de exceção.
- da pronúncia: “rúbrica” em vez de rubrica.
- da morfologia: “interviu” em vez de interveio.
- da semântica: desapercebido (sem recursos) em vez de despercebido (não percebido, sem ser notado).
- pela utilização de estrangeirismos: galicismo (do francês): “mise‑en‑scène” em vez de encenação; anglicismo (do inglês): “delivery” em vez de entrega em domicílio.
- Arcaísmos: Utilização de palavras ou expressões anacrônicas, fora de uso. Ex.: “asinha” em vez de ligeira, depressa.
- Neologismos: Palavras novas que, apesar de formadas de acordo com o sistema morfológico da língua, ainda não foram incorporadas pelo idioma. Ex.: “imexível” em vez de imóvel, que nãose pode mexer; “talqualmente” em vez de igualmente.
- Solecismos: São os erros de sintaxe e podem ser:
- de concordância: “sobrou” muitas vagas em vez de sobraram. 
- de regência: 	os comerciantes visam apenas “o lucro” em vez de ao lucro. 
- de colocação: “não tratava‑se” de um problema sério em vez de não se tratava.
- Ambiguidade: Duplo sentido não intencional. Ex.: O desconhecido falou‑me de sua mãe. (Mãe de quem? Do desconhecido? Do interlocutor?)
- Cacófato: Som desagradável, resultante da junção de duas ou mais palavras da cadeia da frase. Ex.: Darei um prêmio por cada eleitor que votar em mim (por cada e porcada).
- Pleonasmo: Informação desnecessariamente redundante. Exemplos: As pessoas pobres, que não têm dinheiro, vivem na miséria; Os moralistas, que se preocupam com a moral, vivem vigiando as outras pessoas.
A Redação Oficial supõe, como receptor, um operador linguístico dotado de um repertório vocabular e de uma articulação verbal minimamente compatíveis com o registro médio da linguagem. Nesse sentido, deve ser um texto neutro, sem facilitações que intentem suprir as deficiências cognitivas de leitores precariamente alfabetizados.
Como exceção, citam‑se as campanhas e comunicados destinados a públicos específicos, que fazem uma aproximação com o registro linguístico do público‑alvo. Mas esse é um campo que refoge aos objetivos deste material, para se inserir nos domínios e técnicas da propaganda e da persuasão.
Se o texto oficial não pode e não deve baixar ao nível de compreensão de leitores precariamente equipados quanto à linguagem, fica evidente o falo de que a alfabetização e a capacidade de apreensão de enunciados são condições inerentes à cidadania. Ninguém é verdadeiramente cidadão se não consegue ler e compreender o que leu. O domínio do idioma é equipamento indispensável à vida em sociedade.
Impessoalidade e Objetividade
Ainda que possam ser subscritos por um ente público (funcionário, servidor etc.), os textos oficiais são expressão do poder público e é em nome dele que o emissor se comunica, sempre nos termos da lei e sobre atos nela fundamentados.
Não cabe na Redação Oficial, portanto, a presença do “eu” enunciador, de suas impressões subjetivas, sentimentos ou opiniões. Mesmo quando o agente público manifesta‑se em primeira pessoa, em formas verbais comuns como: declaro, resolvo, determino, nomeio, exonero etc., é nos termos da lei que ele o faz e é em função do cargo que exerce que se identifica e se manifesta.
O que interessa é aquilo que se comunica, é o conteúdo, o objeto da informação. A impessoalidade contribui para a necessária padronização, reduzindo a variabilidade da linguagem a certos padrões, sem o que cada texto seria suscetível de inúmeras interpretações.
Por isso, a Redação Oficial não admite adjetivação. O adjetivo, ao qualificar, exprime opinião e evidencia um juízo de valor pessoal do emissor. São inaceitáveis também a pontuação expressiva, que amplia a significação (! ... ), ou o emprego de interjeições (Oh! Ah!), que funcionam como índices do envolvimento emocional do redator com aquilo que está escrevendo.
Se nos trabalhos artísticos, jornalísticos e escolares o estilo individual é estimulado e serve como diferencial das qualidades autorais, a função pública impõe a despersonalização do sujeito, do agente público que emite a comunicação. São inadmissíveis, portanto, as marcas individualizadoras, as ousadias estilísticas, a linguagem metafórica ou a elíptica e alusiva. A Redação Oficial prima pela denotação, pela sintaxe clara e pela economia vocabular, ainda que essa regularidade imponha certa "monotonia burocrática" ao discurso.
Reafirma‑se que a intermediação entre o emissor e o receptor nas Redações Oficiais é o código linguístico, dentro do padrão culto do idioma; uma linguagem "neutra", referendada pelas gramáticas, dicionários e pelo uso em situações formais, acima das diferenças individuais, regionais, de classes sociais e de níveis de escolaridade.
Formalidade e Padronização
As comunicações oficiais impõem um tratamento polido e respeitoso. Na tradição ibero‑americana, afeita a títulos e a tratamentos reverentes, a autoridade pública revela sua posição hierárquica por meio de formas e de pronomes de tratamento sacramentais. “Excelentíssimo”, “Ilustríssimo”, “Meritíssimo”, “Reverendíssimo” são vocativos que, em algumas instâncias do poder, tornaram‑se inevitáveis. Entenda​-se que essa solenidade tem por consideração o cargo, a função pública, e não a pessoa de seu exercente.
Vale lembrar que os pronomes de tratamento são obrigatoriamente regidos pela terceira pessoa. São erros muito comuns construções como “Vossa Excelência sois bondoso(a)”; o correto é “Vossa Excelência é bondoso(a)”.
A utilização da segunda pessoa do plural (vós), com que os textos oficiais procuravam revestir‑se de um tom solene e cerimonioso no passado, é hoje incomum, anacrônica e pedante, salvo em algumas peças oratórias envolvendo tribunais ou juizes, herdeiras, no Brasil, da tradição retórica de Rui Barbosa e seus seguidores.
Outro aspecto das formalidades requeridas na Redação Oficial é a necessidade prática de padronização dos expedientes. Assim, as prescrições quanto à diagramação, espaçamento, caracteres tipográficos etc., os modelos inevitáveis de ofício, requerimento, memorando, aviso e outros, além de facilitar a legibilidade, servem para agilizar o andamento burocrático, os despachos e o arquivamento.
É também por essa razão que quase todos os órgãos públicos editam manuais com os modelos dos expedientes que integram sua rotina burocrática. A Presidência da República, a Câmara dos Deputados, o Senado, os Tribunais Superiores, enfim, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm os próprios ritos na elaboração dos textos e documentos que lhes são pertinentes.
Concisão e Clareza
Houve um tempo em que escrever bem era escrever "difícil". Períodos longos, subordinações sucessivas, vocábulos raros, inversões sintáticas, adjetivação intensiva, enumerações, gradações, repetições enfáticas já foram considerados virtudes estilísticas. Atualmente, a velocidade que se impõe a tudo o que se faz, inclusive ao escrever e ao ler, tornou esses recursos quase sempre obsoletos. Hoje, a concisão, a economia vocabular, a precisão lexical, ou seja, a eficácia do discurso, são pressupostos não só da Redação Oficial, mas da própria literatura. Basta observar o estilo “enxuto” de Graciliano Ramos, de Carios Drummond de Andrade, de João Cabral de Melo Neto, de Dalton Trevisan, mestres da linguagem altamente concentrada.
Não têm mais sentido os imensos “prolegômenos” e “exórdios” que se repetiam como ladainhas nos textos oficiais, como o exemplo risível e caricato que segue:
“Preliminarmente, antes de mais nada, indispensável se faz que nos valhamos do ensejo para congratularmo‑nos com Vossa Excelência pela oportunidade da medida proposta à apreciação de seus nobres pares. Mas, quem sou eu, humilde servidor público, para abordar questões de tamanha complexidade, a respeito das quais divergem os hermeneutas e exegetas.
Entrementes, numa análise ainda que perfunctória das causas primeiras, que fundamentaram a proposição tempestivamente encaminhada por Vossa Excelência, indispensável se faz uma abordagem preliminar dos antecedentes imediatos, posto que estes antecedentes necessariamente antecedem os consequentes”.
Observe que absolutamente nada foi dito ou informado.
As Comunicações Oficiais
A redação das comunicações oficiais obedece a preceitos de objetividade, concisão, clareza, impessoalidade, formalidade, padronização e correção gramatical.
Além dessas, há outras características comuns à comunicação oficial, como o emprego de pronomes de tratamento, o tipo de fecho (encerramento) de uma correspondência e a forma de identificação do signatário, conforme define o Manual de Redação da Presidência da República. Outros órgãos e instituições do poder público também possuemmanual de redação próprio, como a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, o Ministério das Relações Exteriores, diversos governos estaduais, órgãos do Judiciário etc.
Pronomes de Tratamento
A regra diz que toda comunicação oficial deve ser formal e polida, isto é, ajustada não apenas às normas gramaticais, como também às normas de educação e cortesia. Para isso, é fundamental o emprego de pronomes de tratamento, que devem ser utilizados de forma correta, de acordo com o destinatário e as regras gramaticais.
Embora os pronomes de tratamento se refiram à segunda pessoa (Vossa Excelência, Vossa Senhoria), a concordância é feita em terceira pessoa.
Concordância verbal:
Vossa Senhoria falou muito bem.
Vossa Excelência vai esclarecer o tema.
Vossa Majestade sabe que respeitamos sua opinião.
Concordância pronominal:
Pronomes de tratamento concordam com pronomes possessivos na terceira pessoa.
Vossa Excelência escolheu seu candidato. (e não “vosso...”).
Concordância nominal:
Os adjetivos devem concordar com o sexo da pessoa a que se refere o pronome de tratamento.
Vossa Excelência ficou confuso. (para homem)
Vossa Excelência ficou confusa. (para mulher)
Vossa Senhoria está ocupado. (para homem)
Vossa Senhoria está ocupada. (para mulher)
Sua Excelência - de quem se fala (ele/ela).
Vossa Excelência - com quem se fala (você)
Emprego dos Pronomes de Tratamento
As normas a seguir fazem parte do Manual de Redação da Presidência da República.
Vossa Excelência: É o tratamento empregado para as seguintes autoridades:
- Do Poder Executivo - Presidente da República; Vice-presidenIe da República; Ministros de Estado; Governadores e vice‑governadores de Estado e do Distrito Federal; Oficiais generais das Forças Armadas; Embaixadores; Secretários‑executivos de Ministérios e demais ocupantes de cargos de natureza especial; Secretários de Estado dos Governos Estaduais; Prefeitos Municipais.
- Do Poder Legislativo - Deputados Federais e Senadores; Ministro do Tribunal de Contas da União; Deputados Estaduais e Distritais; Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais; Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais.
- Do Poder Judiciário - Ministros dos Tribunais Superiores; Membros de Tribunais; Juizes; Auditores da Justiça Militar.
Vocativos
O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas aos chefes de poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República; Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional; Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal.
As demais autoridades devem ser tratadas com o vocativo Senhor ou Senhora, seguido do respectivo cargo: Senhor Senador / Senhora Senadora; Senhor Juiz/ Senhora Juiza; Senhor Ministro / Senhora Ministra; Senhor Governador / Senhora Governadora.
Endereçamento 
De acordo com o Manual de Redação da Presidência, no envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às autoridades tratadas por Vossa Excelência, deve ter a seguinte forma:
A Sua Excelência o Senhor
Fulano de Tal
Ministro de Estado da Justiça
70064‑900 ‑ Brasília. DF
A Sua Excelência o Senhor
Senador Fulano de Tal
Senado Federal
70165‑900 ‑ Brasília. DF
A Sua Excelência o Senhor
Fulano de Tal
Juiz de Direito da l0ª Vara Cível
Rua ABC, nº 123
01010‑000 ‑ São Paulo. SP
Conforme o Manual de Redação da Presidência, “em comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento digníssimo (DD) às autoridades na lista anterior. A dignidade é pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, sendo desnecessária sua repetida evocação”.
Vossa Senhoria: É o pronome de tratamento empregado para as demais autoridades e para particulares. O vocativo adequado é: Senhor Fulano de Tal / Senhora Fulana de Tal.
No envelope, deve constar do endereçamento:
Ao Senhor
Fulano de Tal
Rua ABC, nº 123
70123-000 – Curitiba.PR
Conforme o Manual de Redação da Presidência, em comunicações oficiais “fica dispensado o emprego do superlativo Ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o uso do pronome de tratamento Senhor. O Manual também esclarece que “doutor não é forma de tratamento, e sim título acadêmico”. Por isso, recomenda-se empregá-lo apenas em comunicações dirigidas a pessoas que tenham concluído curso de doutorado. No entanto, ressalva-se que “é costume designar por doutor os bacharéis, especialmente os bacharéis em Direito e em Medicina”.
Vossa Magnificência: É o pronome de tratamento dirigido a reitores de universidade. Corresponde‑lhe o vocativo: Magnífico Reitor.
Vossa Santidade: É o pronome de tratamento empregado em comunicações dirigidas ao Papa. O vocativo correspondente é: Santíssimo Padre.
Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima: São os pronomes empregados em comunicações dirigidas a cardeais. Os vocativos correspondentes são: Eminentíssimo Senhor Cardeal, ou Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal.
Nas comunicações oficiais para as demais autoridades eclesiásticas são usados: Vossa Excelência Reverendíssima (para arcebispos e bispos); Vossa Reverendíssima ou Vossa Senhoria Reverendíssima (para monsenhores, cônegos e superiores religiosos); Vossa Reverência (para sacerdotes, clérigos e demais religiosos).
Fechos para Comunicações
De acordo com o Manual da Presidência, o fecho das comunicações oficiais “possui, além da finalidade óbvia de arrematar o texto, a de saudar o destinatário”, ou seja, o fecho é a maneira de quem expede a comunicação despedir‑se de seu destinatário.
Até 1991, quando foi publicada a primeira edição do atual Manual de Redação da Presidência da República, havia 15 padrões de fechos para comunicações oficiais. O Manual simplificou a lista e reduziu​-os a apenas dois para todas as modalidades de comunicação oficial. São eles:
Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive o presidente da República.
Atenciosamente: para autoridades de mesma hierarquia ou de hierarquia inferior.
“Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas a autoridades estrangeiras, que atenderem a rito e tradição próprios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do Ministério das Relações Exteriores”, diz o Manual de Redação da Presidência da República.
A utilização dos fechos “Respeitosamente” e “Atenciosamente” é recomendada para os mesmos casos pelo Manual de Redação da Câmara dos Deputados e por outros manuais oficiais. Já os fechos para as cartas particulares ou informais ficam a critério do remetente, com preferência para a expressão “Cordialmente”, para encerrar a correspondência de forma polida e sucinta.
Identificação do Signatário
Conforme o Manual de Redação da Presidência do República, com exceção das comunicações assinadas pelo presidente da República, em todas as comunicações oficiais devem constar o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo de sua assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte:
(espaço para assinatura)
Nome
Chefe da Secretaria‑Geral da Presidência da República
(espaço para assinatura)
Nome
Ministro de Estado da Justiça
 “Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao menos a última frase anterior ao fecho”, alerta o Manual.
Padrões e Modelos
O Padrão Ofício
O Manual de Redação da Presidência da República lista três tipos de expediente que, embora tenham finalidades diferentes, possuem formas semelhantes: Ofício, Aviso e Memorando. A diagramação proposta para esses expedientes é denominada padrão ofício.
O Ofício, o Aviso e o Memorando devem conter as seguintes partes:
- Tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão que o expede. Exemplos:
	
Of. 123/2002-MME 
Aviso 123/2002-SG
Mem. 123/2002-MF
- Local e data. Devem vir por extenso com alinhamento

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