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Segunda Guerra Mundial(Marinha do Brasil)

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O Brasil na Segunda Guerra Mundial
A Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial
Pelo Cte. Gerson de Macedo Soares
A atitude do Brasil, à eclosão da Segunda Grande Guerra Mundial, era naturalmente a de neutralidade, desde logo expressamente declarada (decretos n° 4.623 e 4.624 de 5 de setembro de 1939, respectivamente quanto à guerra entre a Inglaterra e a Alemanha e a França e a Alemanha), por isso que as questões relativas a minorias raciais germânicas, espaços vitais, esferas de influência, anexações territoriais e outros, em nada interessavam diretamente à nossa Pátria; mal, porém, a luta eclodiu no continente europeu, logo se desbordou pelos mares, no afã febriante e porfiado de procurar o do​mínio das vias marítimas de comunicações.
A ânsia por esse domínio avançou logo, célere, pelas águas do oceano Atlântico, que, quase de pólo a pólo, em longuíssimo fuso, separa o nosso pró​prio país das ribas européias, debruçando-se as orlas orientais de nosso vasto território sobre a planura aquosa onde a ação de cada um dos agigantados contendores queria barrar aos respectivos contrários ou utilizar, a despeito deles, as extensas, ilimitadas rotas, pelas quais se transportassem os suprimentos de toda classe, de que necessitavam uns e outros para o escopo final - a vitória.
O oceano Atlântico era, deste modo, o domínio comum em que os inte​rêsses daqueles que lutavam, viriam colidir, sem sombra de dúvida, com os nossos próprios interêsses, já se esboçando, assim, alguma coisa que implicaria na nossa co-participação, ao menos à distância, no conflito em progressão alarmante.
Desde que havia a fatalidade geográfica da descontinuidade dos continentes, para que os efeitos dos entreveros brutais nos atingissem por terra, e que, para sermos ainda incomodados pelos ares, seriam necessárias bases bem próximas, pelo mar nos viria, pois, de imediato, quer à superfície, quer insidiosamente, entre duas águas, submarinamente, alguma ação de qualquer dos par​tidos hostis, que nos pudesse ofender física ou moralmente os melindres de nação livre, soberana e neutra.
A essa ação, mister se faria então que se opusesse outra ação de coerção que lhe anulasse os efeitos, a fim de que não nos envolvêssemos na luta, fôs​sem quais fôssem os intentos a contrariar, opostos à nossa própria isenção no conflito, partindo deste ou daquele partido.
Era isso a neutralidade que se impunha fôsse mantida pelo Brasil, em posição paralela e eqüidistante dos grupos em guerra, e, assim, como a ameaça que era iminente, vinha através dos mares, claramente inevitável quanto aos atritos que nos ia produzir, - a Força Armada Brasileira naturalmente deter​minada para exercer ação quer preventiva, quer coibidora, em nome do Direito, foi a Marinha de Guerra.
Em fins de 1939, quando a guerra foi declarada entre a Inglaterra e a França, de um lado, e a Alemanha do outro, esta já estava econômicamente preparada e com suprimentos de tôda espécie devidamente armazenados para a guerra, ao passo que aqueles outros países, mesmo em face dos acontecimen​tos que se vinham desenrolando na Europa central, pouco ou nada tinham feito nesse sentido, de modo que, ao abrirem-se as hostilidades, sua navegação mercante que devia ir buscar, à pressa e sem descanso, as utilidades além-mar, em plagas distantes, como nas Américas do Norte e do Sul, logo ficou sujeita aos ataques dos raiders e dos submarinos, cujos primeiros êxitos de pronto se fizeram sentir, quer quanto a navios de guerra, quer quanto a mercantes, nos primeiros dias de guerra, com grande alarma para os Aliados.
Tinha, pois, o Brasil que mobilizar seus recursos navais para manutenção de sua neutralidade e para defesa de suas águas territoriais que, a qualquer momento, podiam estar sendo violadas com o ataque de submarinos ou de raiders a navios ingleses ou franceses. Em dezembro do mesmo ano de 1939 já o encouraçado alemão Graf Spee, derrotado, internava-se em Montevi​déu, depois de produtiva ação como raider, atestando, de modo irretorquivel, a ameaça que nos vinha vindo, a qualquer instante, pelo mar, o perigo sempre iminente que, afinal, nos arrastaria ao conflito.
Para essa ação de sentinela sempre alerta, com os olhos fitos continuamente não só nos horizontes largos, mas também nas águas em volta até mesmo pou​cos metros de distância, dispunha apenas a Marinha de Guerra Brasileira de meios materiais bem precários. Para conjurar a ameaça, já que esta resultaria em ato de força, sem peias do direito, na repressão pronta e justificada de pro​cedimentos atentatórios da neutralidade que havíamos proclamado, contava apenas a Esquadra Brasileira, para opor a raiders e submarinos moderníssimos, com os remanescentes de uma frota de navios de mais de 30 anos de existência e com raríssimas unidades mais modernas, porém inadequadas, assim especificadas: - dois (2) encouraçados obsoletos, o "Minas Gerais" e o "São Paulo", não utilizáveis naturalmente para qualquer emprego em uma campanha antisubmarina; dois (2) cruzadores ligeiros nas mesmas condições, o "Bahia" e o "Rio Grande do Sul"; cinco (5) contratorpedeiros da classe "Amazonas", tão velhos quanto aqueles, a saber - "Piauí", "Rio Grande do Norte", "Sergi​pe", "Santa Catarina" e "Mato Grosso", aos quais se poderia juntar um sexto, o "Paraíba", alquebrado, impossibilitado de enfrentar qualquer mar grosso; um (1) outro contratorpedeiro um pouco mais moderno, o "Maranhão"; quatro (4) submarinos, o "Humaitá" e o "Tupi", o "Timbira" e o "Tamoio", che​gados no ano anterior da Itália; dois (2) navios hidrográficos adaptáveis para fins de guerra, o "Rio Branco" e o "Jaceguai", e uma flotilha de seis (6) na​vios mineiros da classe "Carioca", recém-construídos no Arsenal da Ilha das Cobras, dos quais o "Carioca" e o "Cananéia" foram incorporados à Esquadra a 16 de setembro de 1939, e o "Camocim", o "Cabedelo", o "Caravelas" e o "Camaquã" sòmente a 7 de junho de 1940; - além dessas unidades con​tava a Esquadra ainda com alguns transportes, rebocadores e navios-auxiliares de emprego especializado e restrito. O lançamento ao mar dos três (3) con​tratorpedeiros "Marcílio Dias", "Mariz e Barros" e "Greenhalgh", que depois prestaram tão bons serviços como verdadeiros navios de guerra, só se deu, res​pectivamente, a 20 de julho e 28 de dezembro de 1940 e a 8 de julho de 1941. Em julho de 1940 ainda estavam sendo batidas as primeiras quilhas de seis (6) contratorpedeiros de tipo inglês, da classe "Amazonas", os quais não ficariam prontos durante toda a guerra, e as corvetas da classe "Matias de Albuquerque", queimando carvão, encomendadas originalmente pelo governo inglês à Casa Lage & Irmão, ainda se achavam em fase de construção e lançamento ao mar, em 1942, nos estaleiros daquela firma; prestaram, entre​tanto, ainda, bons serviços no último ano de guerra.
Dos navios da velha Esquadra ainda na atividade, então chamados a pres​tar serviços de guerra, os cruzadores "Bahia" e "Rio Grande do Sul", os con​tratorpedeiros "Piauí", "Rio Grande do Norte", "Paraíba" e "Santa Cata​na", assim como o transporte "Belmonte" e o rebocador de alto mar "Laurindo Pita", já haviam constituído a Divisão Naval em Operações de Guerra que, sob o comando do Almirante Pedro Max Fernando de Frontin, mandara o Brasil às águas européias na Primeira Grande Guerra Mundial, em 1918.
Pois foi com esse material flutuante que a Marinha de Guerra do Brasil iniciou a sua ação de vigiar pela manutenção de nossa neutralidade, nas águas territoriais brasileiras, extensas de cerca de três mil (3.000) milhas, só na parte mais vulnerável às incursões atentatórias à nossa posição de neutros, ou seja da foz do Rio Pará até Santa Catarina, incluindo as ilhas de Fernando de Noronha e Trindade, em pleno oceano.
No ano de 1939, a 30 de setembro, poucos dias, portanto, após a decla​ração de guerra à Alemanha pela Grã-Bretanha e França, era torpedeado a cerca de 70 milhas da costa NE do Brasil, o cargueiro inglês "Clement", al​guns de cujos sobreviventes,numa baleeira, foram salvos pelo mercante brasileiro "Itatinga", a cerca de 15 milhas ao largo da costa de Pernambuco, e conduzidos para o porto de Salvador.
Era o perigo iminente de complicações tendentes a nos envolver no con​flito alheio, que chegava às nossas plagas​
O começo do ano de 1940 encontrou os navios ligeiros de nossa Esquadra em plena atividade no mar.
O navio-mineiro "Cananéia", a 11 de janeiro, regressava ao Rio de ja​neiro de uma viagem aos portos do norte do país. A 27 do mesmo mês os cruzadores e vários contratorpedeiros regressavam à baía de Guanabara depois de um período de exercícios.
A 9 de fevereiro, esses mesmos navios, capitaneados pelo E. "Minas Ge​rais", saíam do Rio para o sul do país, regressando a 17, enquanto outros con​tratorpedeiros e os navios-mineiros "Carioca" e "Cananéia", assim como os submarinos da classe "Tupi", estavam sempre em atividade, ora saindo, ora entrando no porto do Rio de Janeiro, em exercícios que compreendiam, delibe​radamente, um patrulhamento de observação e polícia das águas territoriais.
A 8 de março, o C. "Rio Grande do Sul" levava o Presidente da Repú​blica e o Ministro da Marinha a Santa Catarina. Nesse mesmo mês continuava o movimento dos cruzadores e contratorpedeiros.
De 9 a 27 de abril os encouraçados "Minas Gerais" e "São Paulo" com vários contratorpederos faziam exercícios nas águas da Ilha Grande. A 7 de maio tormava a sair para o mesmo fim, o primeiro desses navios.
O Monitor "Paraguaçu", de construção nacional, era incorporado à Es​quadra e partia da Guanabara a 11 de maio para Mato Grosso, a cuja flotilha fluvial deveria pertencer, sendo escoltado pelo navio-mineiro "Carioca" de porto em porto até ao de Montevidéu, aonde chegava a 30 de maio.
Até o navio-escola "Almirante Saldanha", arrostando perigos perfeitamen​te imagináveis, partia do Rio de Janeiro a 18 de maio desse mesmo ano de 1940, para uma viagem de instrução de Guardas-Marinha até Portugal.
A 7 de junho, com a incorporação dos quatro navios-mineiros "Camocim", "Cabedelo", "Caravelas" e "Camaquã", era criada pelo Ministro da Marinha a Flotilha de Navios-Mineiros.
A 13 dêsse mesmo mês, o E "São Paulo" com escolta de contratorpedei​ros saía do Rio de janeiro para novos exercícios na baía da Ilha Grande, indo-se-lhes juntar ali, a 18, o E. "Minas Gerais", regressando todos a 28. Outra saída dessas repetiu-se em julho. E também em agôsto, com os navios-mineiros.
A 2 de julho saía de Lisboa, de regresso ao Brasil, o NE "Almirante Saldanha"
O ano de 1941 encontrou a Esquadra Brasileira na mesma atividade, inclusive com os navios transportes e auxiliares. O navio-auxiliar "Vital de Olivei​ra" desde o ano anterior andava continuamente para baixo e para cima em várias comissões.
A 28 de janeiro o NE "Almirante Saldanha" tornava a sair para nova viagem de instrução de Guardas-Marinha, devendo passar pelo Estreito de Magalhães, subir ao longo da costa pelo Pacifico, passar pelo canal do Pana​má, fazendo o périplo da América do Sul para regressar ao Brasil.
O navio-tanque "Marajó" saía a 8 de março para a ilha de Aruba, a buscar óleo combustível. A 10 dêsse mesmo mês era o C "Rio Grande do Sul" que saía para o norte do país até Belém, levando a seu bordo o Ministro da Marinha e regressando ao Rio a 1° de abril.
Nesse meio tempo, dera-se, no Mediterrâneo, o ataque ao navio mercante brasileiro "Taubaté" por um avião alemão, do que resultou um morto além de vários feridos, dando o fato motivo a um protesto do Governo Brasileiro junto à Embaixada Alemã no Rio de Janeiro.
Continuou no correr desse ano de 1941 a movimentar-se a Esquadra Bra​sileira, em cujas atividades no mar, em exercícios, patrulhamento e transporte, era encontrada, quando se assinou a Carta do Atlântico a 14 de agôsto e quan​do se deu o ataque japonês de surpresa a Pearl-Harbour, a 7 de dezembro, ao qual se seguiu a declaração de guerra dos Estados Unidos e da Inglaterra ao Japão e o anúncio da solidariedade do Brasil àquele país atacado.
Era, assim, envolvido o Continente Americano na guerra e o ano de 1942 se iniciava em meio dos mais negros prognósticos, logo confirmados com o rompimento, a 28 de janeiro, das relações diplomáticas do Brasil com os três países do Eixo - Alemanha, Itália e Japão, seguindo-se a esse ato a nossa adesão à Declaração das Nações Unidas e à Carta do Atlântico.
A situação para o nosso país em face das conseqüências do avultamento gigantesco do conflito, tornava-se assim cada vez mais delicada e logo se foi tornando mais e mais insustentável com o torpedeamento e afundamento de navios mercantes nossos que navegavam em zonas de guerra, embora neutros, a princípio, e depois nas próprias águas territoriais, quando ainda sustentávamos a nossa neutralidade dentro dos postulados mais rígidos do Direito Internacional.
Assim é que o mercante nacional "Cabedelo" desapareceu em condições misteriosas, nunca mais se lhe conhecendo a sorte desde que deixou ao porto de Filadélfia, a 14 de fevereiro. Logo no dia 15 desse mesmo mês, o grande navio de passageiros e carga do Loide Brasileiro "Buarque", em viagem de Curaçau para Nova York, era torpedeado e posto a pique por submarino ger​mânico, salvando-se passageiros e tripulantes. Três dias depois, a 18 de fevereiro, era ainda o cargueiro "Olinda", da Companhia Brasileira de Comér​cio e Navegação, torpedeado e afundado ao largo da costa leste dos Estados​ Unidos, salvando-se a tripulação.
Tão insólita agressão, considerado o Mare liberum, mostrava já claramen​te o desfecho desses acontecimentos para o Brasil, que não poderia por muito tempo mais sofrer o insulto deliberado.
Entrementes, e já de algum tempo, se vinham concertando medidas de segurança mútua entre o nosso país e os Estados Unidos, a que muitas vezes não eram estranhos países outros da América, na previsão de fatos que podiam dar-se e que a seqüência acelerada das ocorrências se encarregou de confirmar em cheio. Assim é que, já em fins de 1940, sentindo-se a necessidade da orga​nização de um Código destinado às comunicações das Forças Navais das Re​públicas Americanas, o Ministro da Marinha fêz seguir, em dezembro, para os Estados Unidos o então Capitão-de-Fragata Dídio Iratim Afonso da Costa, para um trabalho de colaboração com o Navy Department americano na​quele sentido; o Código foi concluído com êxito, mas, muito complexo, sua aplicação prática no período pròpriamente da guerra não chegou a realizar-se. Assim foi, também, que, a 10 de maio de 1941, seguiu, por via aérea, para os Estados Unidos, a convite do Almirante Harold Stark, Chefe do Estado​-Maior da Armada Americana, o Vice-Almirante José Machado de Castro e Silva, Chefe do Estado-Maior da Armada do Brasil; o convite tinha por fina​lidade uma reunião em Washington, dos Chefes Navais das Repúblicas Ame​ricanas, tendente naturalmente a firmar doutrina sobre modos de proceder em face da guerra na Europa e suas futuras conseqüências para a América.
Logo que os Estados Unidos entraram no conflito, mediante normas esta​belecidas entre aquele país e o nosso, foram criados escritórios navais em todos os portos importantes do território brasileiro, chefiados por oficiais da reserva norte-americanos, designados "Observadores Navais", para obtenção de infor​mações de toda sorte e seu fornecimento às autoridades navais americanas, assim como tratar de certas medidas de interesse para a sua esquadra; tais escritórios funcionavam como um desdobramento dos serviços que incum​biam a um Adido Naval, em cada porto, onde, tendo ação semelhante à das Capitanias de Portos brasileiros, dispunham de todo o aparelhamento de comunicações necessário ao perfeito desempenho de sua missão. Esses "Observado​res Navais" tiveram, cada vez mais, ligação com as nossas próprias autoridades navais, à proporção que a nossa situação caminhava para o estado de guerra. Alguns dêles, oficiais de certa idade e muito tirocínio, prestaram relevantes serviçosàs duas Marinhas, tal como o Observador Naval no Recife, Pernam​buco, Capitão-de-Mar-e-Guerra W. A. Hodgman.
Logo também ao envolver-se a América no conflito, o Comando da Es​quadra Norte-Americana do Atlântico destacou uma força subordinada para manter o domínio das águas no Atlântico Sul, de pronto sulcadas pelas belo​naves que, cedo, começaram a procurar nossos portos do norte e do nordeste paca reabastecimento de víveres e combustível e para o descanso permitido pelas leis internacionais da neutralidade.
Era essa Força-Tarefa 23 da Esquadra do Atlântico, ao mando do Con​tra-Almirante Jonas Howard Ingram, que tinha seu pavilhão no cruzador "Mem​phis" e que já encontrava, nas águas do nordeste, alguns de nossos navios de guerra, no seu serviço de patrulhamento e de polícia nas águas territoriais.
A base dessa Força-Tarefa 23, que tão íntima ligação devia ter com as Fôrças Navais Brasileiras, era ainda a ilha de Trinidad, possessão inglesa de​morando no hemisfério norte e, portanto, bastante inadequada, mas imposta pelas necessidades, por isso que o Brasil se mantinha neutro e fazia manter sua neutralidade de acordo com os cânones consagrados; inadequada principal​mente para facilidade do cumprimento da missão dessa Força, a qual era man​ter, em alto mar, a segurança das rotas comerciais da e para a América do Sul, inclusive até ao meridiano de 20°, numa área amplíssima que ali ia limitar-se com a da esfera de ação da esquadra inglêsa, desdobrando-se esta para leste até à costa da Africa; ficava, entretanto, a ilha de Ascensão incluída na área sob a proteção dos americanos - até lá iriam também, em breve, os nossos pró​prios navios da minguada esquadra brasileira.
Em face do perigo que corriam nossas unidades mercantes no mar, na iminência de sacrifícios continuados de bens materiais e de vidas, o serviço de vigilincia e de polícia naval, ao longo dos extensos litorais brasileiras, onde ainda atentados à nossa neutralidade podiam dar-se a cada momento, tinha que fazer-se o mais ativo possível, apesar do reduzidíssimo número de navios mais ou menos adequados de que dispúnhamos.
Assim, a princípio, os cruzadores e os seis contratorpedeiros antiquados, cinco dos quais, da classe "Amazonas", ainda queimavam carvão, continuaram com sua base no Rio de Janeiro, onde poderiam contar com as grandes oficinas de reparos do Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras (AMIC), com os diques e outros recursos necessários às suas atividades de patrulhamento, os quais, infelizmente, só na Capital da República, sede permanente da Esquadra, podiam ser obtidos. Os navios-mineiros da classe "Carioca", embora não apropriados a cruzeiros de patrulha, mas por serem novos e não carecerem de repa​ros, senão eventualmente, foram mandados para os portos do leste e do nor​deste. A esses navios foram, pelo Estado-Maior da Armada, atribuídos "se​tores de patrulha", devendo servir-lhes de base os portos de Salvador, do Re​cife e de Natal, onde receberiam combustível, mantimentos, água e sobressalen​tes, valendo-se, para quaisquer reparos eventuais em máquinas e material em geral, das oficinas das Companhias das Docas de cada um desses portos. A Base Naval de Natal ainda se achava em construção e, apesar dos esforças verdadeiramente extraordinários de seu competente criador, o Almirante Ary Parreiras, ainda longe se achava de possuir um aparelhamento eficientemente montado para poder atender às múltiplas necessidades de uma força naval.
Com o rompimento de relações diplomáticas e comerciais com os países do Eixo, logo após à entrada dos Estados Unidos na guerra, e, depois, com o privilégio que lhes foi concedido pelo nosso governo de se servir das nossas bases aeronavais em vários pontos do litoral brasileiro, de norte a leste, para o salto, através do Atlântico, de Natal para a África, ampliando mais tarde essas bases, até então insignificantes, ou mesmo construindo outras inteiramente novas, em proporções consideráveis e adequadas ao uso intensíssimo que de​viam ter, - todo o setor do nordeste tomou repentinamente uma importân​cia tal que o levou às culminâncias de um dos pontos mais importantes do mundo para o prosseguimento, com êxito, da guerra contra os países do Eixo. Natal emergiu, de um salto, da pacatez de cidade modesta, capital de um Es​tado de limitados recuasos, e da tranquilidade de um porto acanhado e de pe​queno movimento, para a situação de "ponto focal" do mundo, para o qual todas as atenções e esperanças se voltavam.
De nossa parte, continuávamos ativos e atentods aos acontecimentos, não viessem eles, por culpa nossa, arrastar o Brasil ao fogaréu crepitante. Havia certas medidas que já vinham sendo tomadas para melhor aparelhar os navios que deviam fazer o serviço de patrulha e que coordenassem todas as providên​cias de vastas zonas do litoral de características acentuadamente diferentes umas das outras, acima da ação da Capitania de Portos, mais regionais, adstritas às águas e costas de cada Estado; uma dessas medidas foi a criação dos Comandos Navais, idéia antiga que então se consubstanciava. Um decreto-lei de outubro de 1941 criava, por exemplo, o Comando Naval do Amazonas, ao qual se deviam juntar os Comandas Navais de Pernambuco (decreto-lei de 5 de junho de 1942), da Bahia e do Rio de Janeiro, posteriormente designados respectivamente Comandos Navais do Norte, do Nordeste, de Leste e do Centro. Medidas complementares iam sendo tomadas de modo a dar plena eficiência a êsses órgãos da administração, subordinados ao Estado-Maior da Arma​da, e que tinham, nos seus dilatados setores da costa, atribuições análogas às dos Observadores Navais americanos.
A organização da Esquadra Brasileira compreendia, em princípios de 1942, o Comando em Chefe, exercido pelo Contra-Almirante Durval de Oliveira Tei​xeira, com o pavilhão no Encouraçado "Minas Gerais", estando-lhe subordi​nado diretamente o outro encouraçado, o "São Paulo"; uma Divisão de Cru​zadores, ao mando do Contra-Almirante Jorge Dodsworth Martins; uma Flotilha de Contratorpedeiros, sob o comando do então Capitão-de-Mar-e-Guerra Alfredo Carlos Soares Dutra, tendo o transporte "Belmonte" por capitânia e, eventualmente, no mar, o CT "Maranhão"; uma Flotilha de Navios-Mi​neiros que estava sob a chefia do Contra-Almirante Gustavo Goulart, e uma Flotilha de Submarinos, ao mando do Comte. Attila Monteiro Aché. Havia ainda uma flotilha de pequenos navios-mineiros de instrução sob as ordens do Comte. Jorge Paes Leme; os navios hidrográficos "Rio Branco" e "Jaceguaí" subordinados à então Diretoria de Navegação, e os navios-auxiliares "José Bo​nifácio", "Vital de Oliveira", o navio-tanque "Marajó", o navio-escola "Almi​rante Saldanha" e um reduzido número de rebocadores, subordinados todos ao Estado-Maior da Armada. As flotilhas fluviais do Amazonas (sede em Be​lém do Pará) e de Mato Grosso (sede em Ladário) eram forças regionais de utilização difícil e precária, na emergência.
Os navios que agiam nos "setores de patrulha", recebiam ordens diretas do Estado-Maior da Armada, relativas às suas operações.
Enquanto isso, outras medidas de grande importância vinham sendo tomadas, entre as quais a ocupação militar das ilhas de Fernando de Noronha (tor​nada Território Federal por decreto-lei de 9 de fevereiro de 1942) e da Trin​dade, aquela por contingentes do Exército que a artilharam convenientemente para repelir ataques por mar e pelo ar, e esta por forças da Marinha, para as quais era necessário um serviço constante de reabastecimento e substuição de pessoal, muito mais penosamente feito do que para aquele outro arquipélago do nordeste, mais próximo da costa e de condições de desembarque mais à feição.
Ainda em fins de 1941, sentindo nossas autoridades navais a necessidade de maior contato com os norte-americanos que se serviam de nossas instalações portuárias do nordeste, e de haver ali uma autoridade naval de alta patente com a qual aqueles melhor se entendessem e que, ao mesmo tempo, estivesse à frente do serviço depatrulhamento dos	sertores incumbidos aos navios-mineiros da classe "Carioca", como representante direto do Estado-Maior da Armada, ficara resolvido que para o Recife partisse a Divisão de Cruzadores. Concretizando essa medida, seguiu então do Rio de Janeiro, rumo a Pernam​buco, no dia 2 de janeiro de 1942, o cruzador "Bahia", a cujo bordo se içava o pavilhão do Contra-Almirante Jorge Dodsworth Martins, comandante daquela Divisão, o qual não tardou a entrar em contato com o Contra-Almirante In​gram, o Comsolant, isto é, o Comandante do "South Atlantic".
Este fato marcou positivamente o inicio de um mais estreito entendimento entre a Marinha de Guerra Brasileira e o Almirante americano Jonas Howard Ingram, Comandante da Força-Tarefa 23 da Esquadra do Atlântico, operando no Atlântico Sul, mas com base ainda em Trinidad, cujo pavilhão continuava a flutuar no cruzador "Memphis". Os dois Comandantes de Força - o bra​sileiro e o americano - este já em operações de guerra, aquele agindo ainda para manter a neutralidade de seu pais, avistaram-se duas vêzes no Recife, no mesmo mês de janeiro, e acertaram os seus planos de ação.
A respeito desse entendimento com o Almirante Ingram, escrevia em relatório o Almirante Dodsworth: - "O conhecimento que este almirante (Ingram) está procurando ter das nossas necessidades de defesa da Zona do Nordeste, vai facilitar, estou persuadido, a entrega do material pedido ao governo norte-americano. Há agora uma perfeita compreensão de que nós precisamos somente de material para a nossa defesa".
Estas palavras foram proféticas, pois, no decorrer dos tempos, sempre à ação pessoal profícua desse grande amigo do Brasil deveu-se a solução de vá​rios problemas relativos ao enriquecimento de nosso material flutuante e de suas múltiplas necessidades para manutenção e eficiência. Foi, por assim dizer, um executor, in loco, com perfeito conhecimento de causa e atividade, das pro​messas feitas, em Washington, quando da reunião da Comissão Militar Mista que se criara nos Estados Unidos e em que foram nossos representantes as brilhantes figuras do General Estevão de Carvalho, do Almirante Álvaro Rodrigues de Vasconcelos e do então Coronel-Aviador Vasco Alves Seco. Os vários assuntos tratados por essa Comissão incluíam a Lei de Empréstimos e Arrendamentos (Lend and Lease), segundo a qual podiam ser concedidas à nossa Marinha de Guerra certas unidades necessárias ao patrulhamento de nos​sas águas costeiras e para o serviço de comboios ao largo delas, do qual já se ia cogitando.
Antes que esta última medida fosse concretizada, outras houve que, tomadas pela Administração Naval, o foram um tanto prematuramente, concorren​do talvez para a suposição por parte dos dirigentes alemães de que estávamos dando aos norte-americanos ajudas e concessões muito acima das realmente feitas; tais foram a pintura de todos os navios mercantes brasileiros de cinzento, a ordem de navegarem às escuras à noite, o artilhamento de muitas unidades que partiam para zonas de guerra, quando, realmente, não estando o nosso país em guerra, não havia razão para isso.
A ação do Almirante Dodsworth no nordeste foi bastante intensa; indo, em companhia do Brigadeiro-do-Ar Eduardo Gomes, Comandante da 2ª Zona Aé​rea, a Natal, ali foi recebido pelo Almirante Ary Parreiras, que construía a Base Naval, escrevendo então em relatório: - "Notei também em Natal o que se verifica no Recife - grande cordialidade entre as autoridades brasilei​ras e os funcionários e militares americanos, sendo estes atenciosos, respeitado​res da nossa soberania e das nossas leis, mas prontos a colaborar conosco em tudo".
O Almirante Ingram visitou aquela incipiente Base, na mesma época, no CT "Winslow". A seguir, com êle conferenciou o Almirante Dodsworth, seguindo instruções do Estado-Maior da Armada, para acertar melhor os pro​blemas relativos aos inconvenientes de concentração, já àquele tempo, de forças navais numerosas no Recife; sôbre vigilância permanente no mar, à entrada dos portos considerados "pontos focais", onde, além dos ataques dos submarinos, ainda podiam ser lançadas minas; sobre abastecimentos; sobre melhoramentos no aparelhamento de nossos próprios navios; sobre colocação de redes antitor​pédicas e anti-submarinos em vários de nossos portos a começar pelo do Re​cife, etc., etc..
Nessa época já a Força Aérea Brasileira patrulhava também as rotas ma​rítimas, agindo em colaboração com os Comandantes das Forças Navais Bra​sileiras e Americanas, e tendo à frente, no nordeste, a figura tranqüila, mas dinâmica, do Brigadeiro Eduardo Gomes. A Força Aérea Norte-Americana, subordinada também à autoridade do Almirante Ingram, era reforçada com vários aviões "Catalina" e estabelecia uma rede de patrulha aérea quase inin​terrupta em todo o litoral brasileiro e águas do oceano a dentro, desde o norte até ao leste. Nós, porém, não tínhamos estabelecido nenhum plano sistemá​tico de colaboração entre as Forças Aéreas e as Navais, limitando-se umas a atender às solicitações das outras, quando necessários os seus serviços, como nas coberturas aéreas para certas escoltas de navios ou comboios.
Nessa ocasião também já o Exército Nacional aumentava os seus contin​gentes espalhados por vários pontos da costa do nordeste, montando baterias que repelissem quaisquer insólitos ataques e vigiando para que desenbarques clandestinos não fossem feitos nas êrmas praias e pontos acessíveis.
Os problemas da manutenção das duas Forças Navais, em operações de guerra uma, em manutenção da neutralidade outra, se avolumavam, entretanto, com o agigantar-se da luta que rugia e eclodia por toda a parte. Anunciou-se então a ida ao Rio de Janeiro do Almirante Ingram, a bordo do cruzador "Memphis" escoltado pelo contratorpedeiro "Winslow", a fim de conferenciar pessoalmente com o Chefe do Estado-Maior da Armada e com o Ministro da Marinha brasileiros, sobre "o momento internacional". A propósito dessa via​gem, escrevia ainda, avisando, o Almirante Dodsworth: - "Estou informado de que o Almirante Ingram é muito acatado pelo Almirante King, Comandante-em-Chefe da Frota Norte-Americana. Ele tem força de decisão nos assuntos de que trata, independente, em certos casos, de consulta prévia".
Enquanto isso se passava pelo nordeste, no sul, do Rio de Janeiro para a Ilha Grande e Santa Catarina, o restante da Esquadra também se movimen​tava intensamente. Ao tempo em quee, na Capital da República, se instalava a 3ª Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores dos países americanos, a cuja recomendação do dia 23, seguiu-se, a 28, o rompimento de relações diplomáticas do Brasil com os três países do Eixo, - a Flotilha de Contratorpedeiros andava, em patrulha e exercícios, de Cabo Frio à baía da Ilha Grande, onde lhe chegou a notícia daquele rompimento. Em Santos, foi o cruzador "Rio Grande do Sul" que forneceu contingentes para a ocupação de navios mercantes italianos e alemães, entre os quais o "Conte Grande", ita​liano, e o "Winduk", alemão, depredados por suas guarnições e depois vigia​dos de perto pelo C.T. "Piauí".
Em fevereiro, o cruzeiro de patrulha e exercícios dessa Flotilha estendia-​se até Florianópolis, tocando ainda em São Francisco, em Paranaguá, em San​tos e no canal de São Sebastião. Nesse mesmo mês, o CT "Mato Grosso" tinha ordem de seguir para o porto de Vitória, no Espírito Santo, em inspeção pelo litoral, devendo vasculhar as ilhas de Guarapari, próximas e Benevente, onde fora assinalada a presença de embarcação suspeita de ser submarino. Ao regressar ao Rio, teve, no dia 8 de março, ordem de patrulhar a barra do Rio de Janeiro, até à saída do grande "liner" inglês "Queen Mary" que transportava considerável contingente de tropas, ao qual devia o contratorpe​deiro brasileiro escoltar até cerrar-se de todo a noite; antes de suspender, o comandante do CT "Mato Grosso" foi chamado ao telefone (era um domingo), no edifício sede da Flotilha de Submarinos (Patromoria, na Ilha das Cobras) pelo Comandante-em-Chefeda Esquadra, que lhe deu instruções espe​ciais, avisando que havia suspeitas da presença de um submarino alemão entre o Rio e Santos e que, assim, se o mesmo fosse visto, o atacasse. Essa ordem verbal só poderia ser cumprida, àquela época, apenas com duas precárias armas: a proa do navio e o canhão de 101mm, pois os nossos navios ainda não tinham sido providos de bombas de profundidade, nem de cargas para cortinas de fumaça, nem mesmo de torpedos - tais eram ainda os nossos propósitos pacíficos, refratários à intromissão na contenda alheia, mesmo quando vários de nossos navios mercantes já haviam sido postos a pique com grandes perdas de vidas!
Em abril, o mesmo CT "Mato Grosso" teve ordem de sair com des​tino a Cananéia, onde devia fazer um inquérito a respeito de atividades japo​nesas contrárias aos interêsses nacionais, seguindo depois para Santos, donde escoltaria para o Rio de Janeiro, o paquete alemão "Winduk" rebocado. De​vido ao estado precário das caldeiras e do eixo de um hélice, esse navio ficou em Santos, sendo substituído nas duas comissões pelo CT "Piauí".
Entretanto, alhures, nas zonas declaradas de guerra e nos mares livres, continuavam seguidamente os torpedeamentos e afundamentos, por submarinos alemães, de navios mercantes brasileiros: - a 7 de março dêsse ano de 1942, era torpedeado e afundado o "Arabutã", em viagem de Norfolk para Port of Spain, morrendo o enfermeiro de bordo; a 8 de março, era o "Cairu", navio misto do Loide Brasileiro, com passageiros e carga, atacado e posto a pique, durante a travessia de Belém para Nova York, perecendo 47 tripulan​tes, entre os quais o próprio comandante, e 6 passageiros; a 1º de maio era a vez de ir para o fundo, do esplêndido cargueiro "Parnaíba", nas proximidl​des de Trinidad, perdendo-se 7 homens, embora estivesse artilhado com canhão de 120 mm guarnecido com pessoal da Marinha de Guerra, 1 sargento e 3 ma​rinheiros; a 18 dêsse mesmo mês, já ao largo da costa brasileira, entre o Rio Grande do Norte e Fortaleza, era torpedeado e depois metralhado e canhonea​do o mercante "Comandante Lira", do Loide Brasileiro, quando do Recife ia para Nova Orleans, não tendo, entretanto, ido a pique, pois, depois de aban​donado em chamas pela guarnição, localizado pela aviação americana, foi salvo e rebocado para o porto de Fortaleza pelo rebocador nacional "Heitor Perdi​gão" e pelo pequeno tender de aviões americanos "Thrush", numa brilhante e extenuante faina de salvamento com êxito no mar, havendo também a corveta "Caravelas" andado a procura, embora sem resultado, do navio torpedeado; seis dias depois, a 24 de maio, era o "Gonçalves Dias", ainda do Loide Brasi​leiro, perdendo-se 46 homens da tripulação, e, a 1º de junho, o "Alegrete", da mesma companhia, ambos cargueiros, em viagem do Brasil para Nova York, torpedeados ambos e metidos a pique pela ação dos submarinos alemães; ainda em junho, perdeu-se o "Pedrinhas", da Companhia de Cabotagem de Pernambuco, afundado já próximo de Porto Rico, salvando-se a tripulação; em julho, a 26 e 28, eram afundados, por torpedo, o cargueiro "Tamandaré" do Loide Brasileiro, em viagem de Recife para La Guaíra, Venezaela, e o "Barbacena", também cargueiro da mesma companhia, ambos com perdas de vidas e na altura da ilha de Trinidad, cujas cercanias se haviam transformado em verdadeiro cemitério de navios; nesse mesmo dia 28, era ainda torpedeado, canhoneado e metralhado por submarino à superfície, o "Piave", navio-tanque do Loide Nacional, em viagens para as Antilhas, perdendo-se o comandante; o navio misto "Rio Branco" do Loide Brasileiro fôra atacado também por sub​marino, logrando escapar, repelindo a agressão com o canhão de que estava armado, guarnecido por pessoal da Marinha de Guerra; de 15 a 17 de agosto, então, esses ataques insólitos a navios neutros, em viagem pacífica nos mares livres, culminaram em audácia e desumanidade, reproduzindo-se, em número de 5, em menos de três dias, ao largo de nosso próprio litoral leste, mesmo em águas próximas das territoriais; foram assim truculentamente torpedeados com dois torpedos e afundados: - o "Baependi" do Loide Brasileiro, grande na​vio de passageiros e carga, em viagem do pôrto de Salvador para Maceió, car​regado de homens, mulheres e crianças, no dia 15 desse trágico mês de agosto, salvando-se apenas 18 passageiros dos 252 que levava o navio, e 18 tripulantes dos 73; o "Araraquara", navio-motor de passageiros do Loide Nacional, a 20 milhas da cidade de Aracaju, Sergipe, salvando-se apenas 3 passageiros dos 68 e 8 tripulantes dos 74, pois o crime fôra perpetrado à noite, sem qualquer aviso, afundando o navio, como aquele outro, em cinco minutos, sem tempo para qualquer providência de salvamento; a 16, era ainda, no mesmo ponto, ao lar​go da costa de Sergipe, torpedeado e afundado em três minutos, sem o menor tempo para salvamentos, o navio de passageiros do Loide Brasileiro "Aníbal Benévolo", perdendo-se todos os 83 passageiros e salvos apenas 4 dos 71 tri​pulantes; e no dia 17 foram ainda metidos a pique pela insânia insatisfeita dos submarinos alemães, já mais ao sul, ao largo do farol de São Paulo, quase à entrada do porto do Salvador, Bahia. o paquete "Itaciba" da Companhia Nacional de Comércio e navegação, perdendo-se 30 passageiros e 9 tripulan​tes, e o cargueiro "Arara" do Loide Nacional, salvando-se apenas 15 tripulan​tes dos seus 35.
Com esses inomináveis torpedeamentos, quando ainda não havia estado de guerra declarado entre os países do Eixo e o Brasil, que suportava estoicamente os duros golpes que lhe vinham sendo desferidos, já vinte (20) navios mercan​tes brasileiros haviam sido atacados, dos quais 17 afundados por ação torpédica de submarinos germânicos.
Criava-se, assim, o casus belli insuperável, para o qual, entretanto, não fora a Marinha de Guerra Brasileira colhida de surpresa, mas em plena ação coibidora no mar, embora pouco aparelhada para evitar ou apenas suavizar tão rudes golpes, os últimos dos quais, sacrificando tantas centenas de vidas de homens, mulheres e crianças brasileiros, despreocupados e confiantes nas suas viagens em tempo de paz, emocionaram a Nação e levaram o Governo Brasileiro à declaração de guerra aos agressores, a 22 de agosto de 1942, quando estes demonstravam um poderio quase julgado impossível de subjugar e quan​do a campanha submarina estava no seu ominoso apogeu.
Entre os meses de maio e agosto de 1942, vários outros acontecimentos se verificaram na ação que a Marinha de Guerra do Brasil vinha desenvolven​do para evitar que a nossa linha de neutros fosse quebrada ou desvirtuada, no que dependesse de nossas próprias ações ou omissões.
Em maio, o Ministro da Marinha dissolvera, por aviso, a Flotilha de Navios-Mineiros e incorporou os seus navios à Divisão de Cruzadores, operan​do no norte, em patrulha, sendo substituídos seus aparelhamentos de minagem por calhas para lançamento de bombas de profundidade.
Nesse mesmo mês de maio, o Almirante Jorge Dodsworth Martins deixava o Comando da Divisão de Cruzadores, ficando os navios que agiam nas águas do nordeste e dali para o norte e para o litoral leste, isto é, os dois cruzadores e os navios-mineiros, sob as ordens, no local, de um "Comandante mais antigo", que era o Capitão-de-Mar-e-Guerra Jerônimo Francisco Gonçalves, coman​dante do C. "Rio Grande do Sul". Em seus primeiros contatos com o Captain Hodgman, Observador Naval no Recife, o Comandante Gonçalves colheu ótima impressão, referindo-se, em relatório; a este último, como sendo um "oficial que tinha grande autoridade no local e dispunha de grandes recur​sos, não só militares, como logísticos"; recebendo a bordo de seu navio, no porto de Recife, já em junho, o Almirante Ingram, a este assim se referiu, rela​tando a visita: - "O Almirante manifestando sempre sua grande simpatia e apreço pelo Brasil e pela Marinha, muito comunicativo e loquaz, disse que estaria de regresso ao porto dentro de 15 dias, em um novo cruzador, o "San Juan", e, nessa ocasião, desejaria, passando paraum contratorpedeiro, viajar até ao porto de Natal, acompanhado de dois navios-mineiros nossos", - o que, realmente, foi, mais tarde, autorizado pelo Estado-Maior da Armada e realizado a título de esplêndido exercício.
Sob a nova direção do Comte. Gonçalves nas operações que se realizavam no nordeste, acauteladoras de nossos bens, não só o C. "Rio Grande do Sul", como navios-mineiros fizeram a escolta do grande paquete "Saram'' do Loide Berro, e de outros navios de menor importância, os quais transportaram tropas e material de guerra do nosso Exército para o arqui​pélago de Ferrando de Noronha, formando-se assim o primeiro comboio, para esse fim especial, que se movimentou nas águas nordestinas.
Em junho era criado, por decreto-lei, o Comando Naval de Pernambuco, mais tarde Comando Naval do Nordeste, instalando-se a 27 do mesmo mês, no Recife, tendo por primeiro Comandante o Contra-Almirante José Maria Neiva, ampliando-se, assim, mais as providências necessárias para assegurar o êxito das operações de nossos navios no mar.
A 21 de julho, o Ministro da Marinha baixou ato extinguindo a Flotilha de Contratorpedeiros, incorporando os seus navios diretamente à Esquadra, para obter maior flexibilidade no seu emprego nas múltiplas missões que poderiam ter no mar. Na mesma ocasião era suspensa, por outro ato ministerial, a baixa das fileiras da Armada às praças que terminassem o tempo legal de serviço, dada a situação de emergência.
No sul, isto é, do Rio de Janeiro para Santa Catarina, os encouraçados e os contratorpedeiros continuavam a fazer regularmente seus exercícios, quer na baía da Ilha Grande, quer mais para baixo até às costas daquele Estado.
Extinta a Flotilha de Contratorpedeiros, o Capitão-de-Mar-e-Guerra Al​fredo Carlos Soares Dutra, seu comandante, foi nomeado para comandar a Divisão de Cruzadores, assumindo o seu novo cargo em agosto, a bordo do C. "Bahia" que se achava no Rio de Janeiro. Depois seguiu, a 11 desse mes​mo mês, por via aérea, para o Recife, onde embarcou e içou seu pavilhão no C. "Rio Grande do Sul", recebendo assim sobre seus ombros as duras atribui​ções que pesavam sobre o "Comandante mais antigo presente", que era o pró​prio comandante dêsse cruzador.
Mal assumira, com efeito, suas novas funções, estando seu navio capitâ​nia no porto, com os condensadores abertos para limpeza e ligeiros reparos, recebeu notícias do Capitão dos Portos de Alagoas, segundo as quais náufra​gos do "Baependi" torpedeado haviam chegado às praias de Estância. Deter​minou, por isso, o aparelhamento e a saída imediata do navio e do "Carioca", dando-lhes a missão de - "repelir com decisão a ação de submarinos, prestar auxilio material e moral aos náufragos que ainda estivessem no mar e prosse​guir em patrulhamento até ao sul do morro de São Paulo".
Passava, assim, a Marinha de Guerra do Brasil, de chôfre, das operações meramente defensivas de manutenção de neutralidade, para as genuinamente de guerra, ofensivas, de "repelir com decisão a ação de submarinos".
Tal missão, fruto da iniciativa de um chefe da doutrina já atrás assinalada, era ainda independente de qualquer diretiva do Almirante Ameri​cano Comandante da Fórça-Tarefa 23, embora já houvesse harmonia de vistas nos modos de proceder, mas não de comando. Não houvera ainda também comunicação de declaração de guerra, de sorte que pela justa decisão do Comandante da Divisão de Cruzadores de passar à ofensiva, a Ma​rinha de Guerra, sem qualquer período de transição nem solução de continui​dade, passava a franca operação de guerraa, perfeitamente justificada, num tea​tro de operações navais inteiramente novo, em que a luta se iniciava com tamanha virulênccia e em que o inimigo, tão temível quão insidioso, se achava presente, mas invisível, feroz, implacável, sanguinário.
O C. "Rio Grande do Sul", com o Comandante da Divisão de Cruzadores de agosto, depois de terem investigado acuradamente as águas litorâneas da Bahia até ao morro de São Paulo. Ali recebia aquele chefe carta do Almi​rante Ingram sugerindo deixar dois navios-mineiros no Recife e permanecer com o C. "Rio Grande do Sul" e o "Carioca" no porto do Salvador, sugestão de que o Comte. Soares Dutra, sempre muito cioso de suas atribuições e da independência de ação da Marinha de Guerra Brasileira, discordou, por enten​der que seu capitânia devia ter base no Recife, onde estaria em contato mais direto com todas as autoridades militares brasileiras do nordeste e com as ame​ricanas, parecendo-lhe, ao mesmo passo, não ser intenção do Estado-Maior da Armada deixar sua força sob a orientação do Almirante Americano, suposição esta que era errônea.
Com efeito, a essa altura dos acontecimentos, arrastado o Brasil à guerra, crescendo os encargos das Forças Americanas do Atlântico, o Almirante Ingram transferiu a base de sua força naval de Trinidad para o Recife, em cujo porto fizera estacionar o grande navio-tanque "Potoka", para o qual transferiu do C. "Memphis" o seu pavilhão, a fim de poder melhor agir estrategicamente na distribuição de tarefas e de promover os meios logísticos mais eficientes de modo a atender às prementes solictações de uma esquadra em operações, para as quais, afnal, por seu caráter especial, não era necessária a permanência de um almi​rante no mar.
Convidou, por isso, o Almirante Ingram ao Comte. Dutra para que fosse ao Recife, avistar-se com ele, pela primeira vez, fazendo-se a viagem por via aérea. Até então não havia, de fato, nenhuma subordinação da Divisão de Cruzadores, acrescida dos navios-mineiros, à Força do Almirante Ingram, já então com a designação de Força do Atlântico Sul da Esquadra do Atlântico. Tratou-se apenas, nesse primeiro encontro, de uma coordenação na atuação das duas forças, e o Comte. Soares Dutra regressou à Bahia.
Enquanto isso, toda a navegação mercante brasileira ficara paralisada, pois os navios que se achavam nos portos tiveram ordem de sustar a partida e os que estavm no mar a 16 e 17 de agosto foram avisados para que se recolhessem ao primeiro abrigo mais seguro.
Essa situação, porém, não podia perdurar por muito tempo, sob risco de graves prejuízos para a vida do país e assim o entendeu o Almirante Ingram de quem uma das primeiras preocupações, já dominando o cenário das operações navais brasileiro-americanas no nordeste, foi o restabelecimento, com segurança, do comércio marítimo. Por isso, determinou que dois navios-mineiros que se achavam no Recife, o "Caravelas" e o "Cabedelo", partissem para Natal, com escala pelo porto de Cabedelo, escoltando o navio-auxiliar "Vital de Oliveira". Ficaria no Recife, o navio-mineiro "Camaquã", que carecia de re​paros por ter sofrido a explosão de um cofre de pólvora.
No dia 4 de setembro suspendia, assim, aquele navio-auxiliar com sua escolta para Natal, onde se demoraria. Deste pôrto, os dois navios-mineiros deveriam escoltar para Fortaleza um navio de passageiros da Companhia Na​cional de Navegação Costeira, saindo a 8 de setembro preliminarmente para Macau, onde pernoitaram, visto que, não dispondo de nenhum aparelhamento de escuta submarina, só deviam fazer singraduras diurnas. Ao largo de Areia Branca, a 9, destacou o "Cabedelo" para fazer sair dali um outro mercante para Fortaleza. Deste pôrto, trazendo um navio do Loide Brasileiro e outro de Aracati, regressaria a escolta a Natal.
Organizou-se então ali, nas águas do Potengi, o primeiro comboio que se devia movimentar nas costas do Brasil, após os barbarescos torpedeamentos nas águas de Sergipe e da Bahia; seu trem compunha-se de seis navios mercantes, que foram dispostos em duas colunas, e a escolta compreendia o tender de aviões americano "Humboldt", comandante do comboio com o Capitão-de​-Fragata Montgomery, e os navios-mineiros "Caravelas", Capitão-de-Corveta Macedo Soares, e "Cabedelo", Capitão-de-Corveta Aldo de Souza.
A chegada desse primeiro comboio ao porto do Recife, após curta singradura, mas em águas sumamente perigosas, causou satisfação ao Almirante In​gramque disse, a bordo do "Potoka", ao Comandante do "Caravelas", ser necessário fazer movimentar de norte a sul e vice-versa, num fluxo contínuo, os navios mercantes transportadores, de seiva vital para os nossos paises. De​terminou-lhe, logo a seguir, que saísse do Recife com alguns outros navios, os quais deviam ser passados, fora do porto, a uma escolta que vinha de Sal​vador com outro pequenino comboio, recebendo os navios de seu trem em es​colta até à entrada no Recife.
O comboio que vinha da Bahia, tinha por escolta o C. "Rio Grande do Sul" e o "Carioca", e a cujo comandante, o CMG Soares Dutra, foi trans​mitida por mensagem visual a ordem emanada do Almirante Ingram. O Comandante da Divisão de Cruzadores não atendeu, entretanto, a essa determinação e entrou no porto, seguido, mais tarde, pelo "Caravelas", por isso que nenhum outro navio saíra mais dalí; julgara ele estarem sendo transmi​tidas tais ordens indevidamente pelo Almirante Americano, visto que nenhu​ma comunicação oficial do Estado-Maior da Armada havia recebido, sobre a subordinação de sua força aquele Almirante. Indo avistar-se, entretanto, com este, mal atracara seu navio, encontrou uma atmosfera carregada, o que tudo logo se desfez e explicou, com o conhecimento, só então, das decisões do Es​tado-Maior da Armada, em cumprimento aos acordos havidos em Washington no seio da Comissão Militar Mista.
O memorando da Divisão de Cruzadores, datado de 25 de setembro, em cumprimento a uma determinação do Estado-Maior da Armada em ofício de 12 de setembro, dava conhecimento aos navios da incorporação da Divisão à Força Naval Norte-Americana em operações no Atlântico Sul. A distância que foi entre a data dêste ofício (12) e a daquele memorando (25) mostra bem a importância que, têm as comunicações, máxime em tempo de guerra, atribuindo-se somente a tão grande falta à desinteligência inicial que houve entre os dois chefes - o brasileiro e o americano, na qual estiveram em jogo, por algum tempo, o prestígio disciplinar e o bom nome dos oficiais brasileiros.
A 24 de setembro, o Comando da Fôrça do Atlântico Sul, já promovido ao posto de Vice-Almirante, baixava uma "Ordem de Operações Combinadas", a de n° 1 de 1942, datada do Recife, Pernambuco mas citando ainda o C. "Memphis" como navio-capitânia, ordem essa para as Forças Navais Brasilei​ras do Nordeste, as quais constituíam, assim, a Força-Tarefa n° 1 sob o comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra Dutra. A Organização por Tarefas es​tabelecia:
a) 1.1 - Grupo-Tarefa Afir - C.M.G. Dutra
"Rio Grande do Sul"
b) 1.2 - Grupo-Tarefa Bala - C.C. Macedo Soares "Caravelas"
"Carioca"
"Cabedelo"
"Cananéia"
"Camaquã"
c) 1.3 - Grupo-Tarefa Cruz - C.F. Cox
"CS-1"
"CS-2".
1. Esta força foi posta sob a direção operacional do Comandante da Força do Atlântico Sul da Esquadra do Atlântico dos Estados Unidos.​
Submarinos estão operando ao largo da costa nordeste do Brasil contra a navegação aliada e neutra. Devem ser esperados raiders de superfície. É provável que as proximidades dos portos sejam minadas. O desembarque de agentes e o bombardeio de estabelecimentos em terra podem ser tentados por submarinos inimigos.
2. Esta Força, em cooperação com a Força do Atlântico Sul da Es​quadra Americana do Atlântico, protegerá a navegação mercante do Rio de Janeiro até Trinidad. Localizará e destruirá forças inimi​gas que cheguem às áreas marítimas contíguas à costa dentro da área de operações designada.
3. a) O Grupo-Tarefa Afir dará escoltas à navegação mercante e pa​trulhará as rotas marítimas, como for determinado. b) O Grupo-Tarefa Bala e c) O Grupo-Tarefa Cruz fornecerão escoltas para os comboios. x) - (1) - Localizar e destruir os submarinos inimigos e navios de superfície que entrem na área designada e proteger as cidades litorâneas do Brasil. (2) - O Comandante da Força do Atlântico Sul baixará diretivas para o Comandante das Forças Navais Brasileiras do Nordeste, o qual solicitará a designação de navios para opera​ções específicas. y) - Esta Ordem de Operações será tornada efetiva às 11.00 GCT do dia 25 de setembro de 1942.
4. O Comandante da Divisão de Cruzadores será responsável pelas providências logísticas de sua Força, mas todo auxilio será pres​tado pelas Forças dos Estados Unidos, mediante requisição.
5. O Comandante da Força do Atlântico Sul não será de modo al​gum responsável pelo Comando administativo dos navios brasilei​ros. Quando as escoltas forem constituídas de unidades de ambas as marinhas, o "Oficial mais antigo presente" será o Comandante.
Um plano de comunicações será posteriormente distribuído.
Fuso de + 3 horas.
O Comandante da Força do Atlântico Sul estará temporariamente no USS "Potoka".
(a) Jonas H. Ingram
Vice-Almirante, USN - Comandante da Força do Atlântico Sul.
Nesta Ordem de Operações, o Capitão-de-Corveta Macedo Soares foi designado como Comandante de um Grupo-Tarefa, porque era, no momento, o comandante do navio-mineiro mais antigo; desses navios, o "Camocim" e o "Cananéia" não estavam agindo, na ocasião, no nordeste: fizeram parte do Grupo-Patrulha do Sul e só mais tarde foram incorporados à fôrça que agia no norte. O Capitão-de-Fragata Cox (Harold Reuben Cox) figurava como outro comandante de Grupo-Tarefa, mas, na realidade, ele se achava em Mia​mi, Estados Unidos, chefiando a Comissão de Recebimento de Caça-Subma​rinos, dos quais os dois primeiros (os que figuram na Ordem, CS-1 e CS-2 "Guaporé" e "Gurupi") foram, naquela ocasião, entregues às guarnições bra​sileiras em Natal.
Ficou suficientemente esclarecido, desde essa 1ª Ordem de Operações, que a subordinação da nossa Força Naval (ainda a Divisão de Cruzadores) ao Comando Norte-Americano era tão-somente quanto a operações de guerra, estrategicamente, não se imiscuindo, de maneira alguma, o Almirante Ingram na parte administrativa; quanto à direção tática, poderia pertencer a um oficial brasileiro ou a um americano, conforme fosse, no evento, mais antigo este ou aquele no comando da escolta.
Graças a tão sábias e precisas disposições iniciais, jamais houve, em todo o correr das operações até ao término da guerra, qualquer atrito entre americ​anos e brasileiros ou suscetibilidades quanto a comando: a harmonia de vistas e o de procedimento foi sempre total.
Essa 1ª Ordem de Operações, por cujo modelo se pautaram todas as de​mais que, em reduzido número, foram baixadas até ao final, referia-se ainda à Divisão de Cruzadores. Esta foi extinta a 5 de outubro de 1942, criando-​se, por aviso, em seu lugar, na mesma data, a Força Naval do Nordeste (FNNE), composta inicialmente dos cruzadores "Rio Grande do Sul" e "Bahia", dos navios-mineiros "Caravelas", "Cabedelo", "Carioca" e "Camaquã", e dos iça-submarinos "Guaporé" e "Gurupi" de uma classe conhecida, mais tarde, por "caças-ferro", por serem construídos de chapas de ferro.
A história desses novos elementos que reforçaram, ainda que tenuamente, a nossa força naval, vinha de alguns meses antes. De acordo coms os termos da Lei de Empréstimos e Arrendamentos, os Estados Unidos podiam ceder ao Brasil, mediante certos compromissos de devolução, navios de guerra de que precisássemos para nossa defesa e serviço de comboios; nesse sentido foi criada uma Comissão especial para recebimento de caça-submarinos, cuja chefia foi dada ao dinamismo e operosidade do Capitão-de-Fragata Haroldo Reuben Cox. Em breve instalava-se essa Comissão Brasileira em Miami e para lá seguiram oficiais, suboficiais e praças a fim de tirar cursos expeditos, de modo a formar as guarnições especializadas para as novas unidades; logo se colheram os mais benéficos frutos desses cursos, graças à capacidade da gente brasileira em apren​der tudo o que havia de mais moderno e adequado ao gênero de guerra que possivelmente teríamos de enfrentar.
Foi devido à notícia dessa Comissão espalhada a grosso modo pelo povo, no Brasil inteiro, que, ao entrar nosso país em guerra, surgiram em todos os recantos os arroubos patrióticosem subscrições e donativos para ofertar à Marinha "lanchas-torpedeiros", confusão que se fazia nos espíritos pouco esclare​cidos sabre o assunto, e o que seria, afinal, inteiramente desarrazoado, pois a necessidade que surgiu, premente, não era a de possuirmos embarcações "torpe​deiras", mas, ao contrário, das que dessem caça, sem quartel, aos submarinos "torpedeiros", devendo, assim, ser armadas, de preferência, com bombas de profundidade e tipos semelhantes.
Graças às providências tomadas pela Comiissão Brasileira em Miami, pude​ram logo, em Setembro de 1942, ser entregues, na Base Naval de Natal, os dois primeiros caça-submarinos, o "Guapore" (CS-1) e o "Gurupi" (CS-2). Daí figurarem eles na 1ª Ordem de Operações, para a Força Naval Brasileira, baixada pelo Almirante Ingram, formando o Grupo-Tarefa Cruz, sob o coman​do do C. F. Cox. Esses navios foram os primeiros, na Marinha Brasileira, dotados de aparelho de escuta submarina.
Como o comboio era a solução única para a segurança da navegação mer​cante, todos os esforços do Almrante Ingram foram, desde logo, dirigidos no sentido de sua organização e sistematização, entre o parto do Recife, a cujo largo já vinham passando os comboios internacionais, e o Rio de janeiro.
De outubro a dezembro de 1942, três dêsses comboios singraram entre aqueles dois portos, tendo, entratanto, vindo de Trinidad, com escolta exclusi​vamente americana até à altura do Recife, a qual foi então substituída por uma outra mista brasileiro-americana, agregando-se ali novos mercantes ao trem ou saindo deste os que se destinavam a Pernambuco. As escoltas desses primei​ras comboios eram constituídas do C. "Rio Grande do Sul", dos mineiros "Ca​ravelas" e "Carioca" ou "Camaquã" e de um cruzador e um contratorpedeiro americanos, entre os quais o "Omaha", o "Milwaukee" e o "Greene". Dois dos comandantes desses cruzadores, os Captains Royal e Chandler, aquele antigo assessor de ensino na nossa Escola de Guerra Naval, mais tarde, já promovidos a almirantes, perderam a vida nas campanhas aeronavais do Pacífico.
No segundo desses comboios, o navio-mineiro "Caravelas", na altura do porto do Salvador, foi destacado para escoltar até ao fundeadouro dois gran​des navios petroleiros, os quais iam abastecer sete grandes transportes, que ali se achavam, e respectiva escolta de apenas um cruzador e um contratorpedeiro ingleses, cheios de algumas dezenas de milhares de homens de tropa britânica.
Como a praxe adotada era designar os comboios por letras indicativas de seu ponto de origem e do de destino, seguidas do número de ordem, esses que vinham de Trinidad e iam até ao Rio de Janeiro, foram batizados com as letras TJ e chamados Tupi-Jóia num sentido e Jóia-Tupi (JT) noutro, empregando-​se a letra J de janeiro, pois o R designaria também Recife. Nos seus trens, às vazes bem numerosos, chegando até mais de vinte navios, incluíam-se mer​cantes de várias nacionalidades - americanos, inglêses, holandeses, suecos, bra​sileiros vindos da América, - entre os quais uma boa percentagem de navios​-tanque, transportando óleo combustível para o Rio de Janeiro e portos do Pra​ta; alguns desses mercantes destinavam-se à África do Sul e eram desligados do comboio em pontos predeterminados, ao largo da costa da Bahia. Em mui​tas ocasiões, as condições de escolta e de manutenção desses comboios eram particularmente difíceis, máxime para os navios brasileiros que ainda não dis​punham de aparelho de escuta submarina nem de radar; em dezembro, um desses comboios, com escolta do "Rio Grande do Sul", "Caravelas", "Carioca e U.S.S. "Greece", com 14 mercantes de trem, muitos dos quais foram des​tacados para a África e para o Rio da Prata, chegou às proximidades do Rio de Janeiro com um nevoeiro intensíssimo e tenaz, fazendo-se a entrada no por​to sob condições sobremodo perigosas - fato que se havia de repetir por várias outras vazes.
Uma das primeiras sugestões do Almirante Ingram às autoridades navais brasileiras fôra a da necessidade de defender eficientemente os grandes portos do Recife e do Salvador contra ataques ex-abrupto de raiders ou submarinos vindos à superfície e que lhes bombardeassem as instalações portuárias e ou​tras, sem que houvesse possibilidade de reação a tempo; alvitrava, assim, a ida dos encouraçados "São Paulo" e "Minas Gerais", até então inúteis na espécie de guerra anti-submarina que se desenvolvia, os quais, com uma bordada de dez canhões de grosso calibre, poderiam, convenientemente dispostos, servir de verdadeiras fortalezas flutuantes. Com esse fim, saiu o "São Paulo" para o Recife, em outubro de 1942, escoltado por contratorpedeiros americanos, e, mais tarde, o "Minas Gerais" para o Salvador, nas mesmas condições.​
No Recife, o "São Paulo" ficou subordinado ao Comamdo Naval do Nordeste, mas, por um acordo, ali se instalou o Comando da Força Naval de Nordeste, isso é, o Comandante Soares Dutra com seu Estado-Maior, então constituído do Capitão-de-Fragata Augusto Pereira, Chefe do Estado​-Maior Capitão-de-Corveta Aroldo Zany, oficial de armamento, Capitão-de-Corverta M. Jaime de Magalhães Barreto, oficial de máquinas e reparos, Capicão-de-Corveta Gastão Monteiro Moutinho, assistente, Capitão-Tenente Afrâ​nio de Faria, oficial de comunicações, e Tenentes Floriano de Faria Lima e Carlos Eduardo Neiva, ajudantes-de-ordens.
O "São Paulo" estava, entretanto, amarrado a 4 ferros, junto do molhe, com comunicações com a terra muito precárias para poder atender ao movi​mento crescente da Força. Ficou decidido, então, que o navio-oficina "Bel​monte", até pouco tempo tender da Flotilha de Contratorpedeiros, agora ex​tinta, seguisse para o Recife, onde serviria de capitânia e base para a Força Naval do Nordeste. Aparelhado convenientemente, saiu do Rio de Janeiro a 26 de janeiro de 1943, levando a seu bordo o Capitão-de-Mar-e-Guerra Felicís​simo Vilanova Machado e o Capitão-de-Fragata Gerson de Macedo Soares; novos Encarregados de Reparos e Chefe do Estado-Maior da Força, chegando a Pernambuco a 2 de fevereiro; a escolta foi feita pelas corvetas "Rio Branco" e "Carioca". O "Belmonte" e o "Rio Branco", navio-hidrográfico armado em corveta, foram incorporados à Força Naval do Nordeste.
Enquanto se desenrolavam esses acontecimentos até janeiro de 1943, não parava a ação nefasta dos submarinos alemães e italianos, transformando as águas da costa do Brasil, desde o norte até ao sul de São Paulo, em ativíssimo teatro de operações de guerra, comparável aos em que, alhures, mais se distin​guiam pela virulência dos ataques, seguidos de afundamentos, avarias e perdas de vida.
Cronologicamente, deram-se os seguintes fatos mais característicos, ainda em 1942:
Agosto, 20 - O veleiro-barcaça "Jacira" foi afundado a tiro por um submarino, próximo à costa da Bahia;
Agosto, 24 - Seis trawlers de carvão, que estavam sendo construídos pela Casa Lage para o Governo inglês, foram transferidos para a Marinha do Brasil, com a designação de corvetas e os nomes de "Matias de Albuquerque", "Felipe Camarão", "Henrique Dias", "Fernandes Vieira", "Vidal de Negreiros"e "Barreto de Menezes";
Na mesma data são incorporados, por decreto-lei ao patrimônio nacional, os navios mercantes de nacionalidade alemã e italiana em portos nacionais;
Agosto, 31 - Um decreto declara o estado de guerra em todo o terri​tório nacional; um outro divide em seis Comandos Navais o litoral e rios nave​gáveis do Brasil;
Setembro, 2 - São incorpandos ao patrimônio nacional os bens e direi​tos de várias empresas cujas atividades se entrelaçam com as necessidades da guerra, como todas as companhias de navegação, de mineração, etc.;
Setembro, 17 - É declarada, por decreto, a mobilização geral em todo o território nacional;
Setembro, 17 - Os paquetes "Cuiabá" e "Bagé", ambos do Loide Bra​sileiro, partem do Rio de Janeiro para Lisboa, transportando os Embaixadores da Alemanha e da Itália, bem como demais funcionários diplomáticos e súdi​tos dos dois países; não são escoltados,mas levam, no costado, grandes dizeres que indicam sua missão diplomática;
Setembro, 24 - O Ministro das Relações Exteriores transmite às Missões Diplomáticas Estrangeiras, no Rio de janeiro, a lista de 3 navios alemães, 11 italianos e 5 dinamarqueses que passaram a navegar com novos nomes, sob a bandeira brasileira, por terem sido incorporados ao patrimônio nacional;
Setembro, 27 - São torpedeados e afundados os cargueiros do Loide Brasileiro "Osório" e "Lajes", em viagem entre Belém e Nova York;
Setembro, 28 - Foi afundado por submarino, a tiro de canhão, o vapor "Antonico", de propriedade particular, entre Belém e Paramaribo;
Setembro, 29 - Em visita oficial, chegou ao Rio de Janeiro, o Sr. Frank Knox, Secretário da Marinha dos Estados Unidos, com grande comitiva, entre cujos membros estavam o Almirante Ingram e o Almirante Spears, velho ami​go do Brasil onde já servira na Esquadra por largo tempo;
Novembro, 3 - Foi torpedeado e afundado o cargueiro "Porto Alegre" da Companhia Carbonífera Rio-Grandeau, em viagem de Cape-Town para Durban,
Novembro, 22 - Quando em viagem de Belém para Nova York, foi afundado por torpedo inimigo, o "Apaloide" do Loide Brasileiro;
Dezembro, 7 - Começam a ser entregues, em Miami, ao Comandante Harold Reuben Cox, representante do Brasil como chefe da Comissão de Rece​bimento, os primeiros caça-submarinos de casco de madeira da classe "Javan", os quais ficaram conhecidos por "caças-pau" em contraposição aos "caças-ferro" da classe "Guaporé"; eram aqueles verdadeiras lanchas de reduzidas dimensões, mas perfeitamente aparelhados para a campanha anti-submarina e esplêndidos para o mar; à proporção que esses caça-submarinos iam sendo entregues em Miami, após curto período de exercícios, partiam, logo em serviço de guerra, integrando escoltas de comboios para Cuba, Trinidad, Belém e Recife, sendo incorporados à Marinha Brasileira e, a seguir, à Força Naval do Nordeste; da série G (os giants na classificação pitoresca do Captain Charles R. Will, subchefe do Estado-Maior do Almirante Ingram), o "Guaíba" (CS-3) foi o primeiro navio de guerra brasileiro dotado de radar, então ainda sob grande segredo e cuja cessão à Marinha do Brasil indicava uma grande confiança a que fazia jus a sua gente; os da série J (os juniors em oposição aos giants, os "caças-pau", não comportavam a instalação desses preciosos aparelhos que, de​pois, foram montados nas corvetas da classe "Carioca", nos cruzadores e nos demais navios que nos foram entregues; todos eles, entretanto, sem exceção, foram dotados de aparelhos de escuta anti-submarino, os ASDIC, também cha​mados vulgarmente "aparelhos de som";
Janeiro de 1943, 28 - O Presidente Getúlio Vargas chegou a Natal; ali, a 29, a bordo de um navio de guerra americano, avistou-se com o Presiden​te Franklin Roosevelt, que voltava de Casablanca, onde tivera uma conferência com Churchill; como resultado desse avistamento, reuniam-se a 30, no Ministério da Marinha, em conferência, o Ministro da Marinha, Almirante Henri​que A. Guilhem, o Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Vieira de Melo, e os Almirantes Jonas Ingram e Augustin Beauregard, este Chefe da Missão Naval Norte-Americana no Brasil, para tratar dos problemas referentes à segurança da navegação no Atlântico Sul-ocidental e dos novos recursos a mobilizar.
Os torpedeamentos de navios mercantes brasileiros, entretanto, ainda continuaram por algum tempo, a saber:
"Brasiloide", do Loide Brasileiro, próximo ao farol de Garcia d'Avila, na costa da Bahia, a 18 de fevereiro de 1943;
"Afonso Pena", navio de passageiros do Loide Brasileiro, a 2 de março, ao largo dos Abrolhos, quando, desgarrado de um comboio, por seguir erro​neamente, à noite, navios destinados à Africa do Sul, se dirigia para o Rio de Janeiro; pereceram 33 tripulantes e 92 passageiros;
"Tutoia", também do Loide Basiieiro, no dia 30 de junho, ao norte da costa de Iguape, no Estado de São Paulo, quando singrando de Paranaguá para Santos; mortos 7 tripulantes;
"Pelotasloide", ainda do Loide Brasileiro, no dia 4 de julho, próximo do farol de Salinas, Pará, onde recebera prático para entrar no porto; vinha de Trinidad, escoltado com segurança até ali pelos caça-submarinos "Jacuí" e "Jundiaí", que chegavam ao Brasil, vindos de Miami; esse afundamento se deu em condições misteriosas, não se podendo certificar se foi por efeito de torpedo, de mina ou mesmo de bomba-relógio quiçá colocada a bordo por sabotagem;
"Bagé", o maior e melhor navio de passageiros do Loide Brasileiro, a 31 de julho, à noite, ao largo da costa de Sergipe, quando, por fazer fumaça excessiva, fôra mandado destacar de um comboio TJ, pouco depois da saída do Recife; salvaram-se 87 dos 107 tripulantes e 19 dos 27 passageiros, perdendo-se o Comandante;
"Itapagé", da Companhia Nacional de Navegação Costeira, a 26 de se​tembro, próximo à costa de Alagoas, em pleno dia; 18 mortos e desaparecidos entre os 70 tripulantes e 4 passageiros desaparecidos dos 36;
"Campos", ainda do Loide Brasileiro, a 23 de outubro, ao sul de Alca​trazes, próximo a Santos; perderam-se 10 tripulantes e 2 passageiros.
Este foi o último da longa série dos 30 navios mercantes brasileiros afun​dados, pesado tributo com que o Brasil concorreu para a luta pela justiça e pela civilização, com a perda de 470 vidas só de tripulantes, afora mais algu​mas centenas de não combatentes, entre homens, mulheres e crianças, passageiros.
O estancamento dos torpedeamentos de navios mercantes, os quais se ha​viam estendido até ao sul de Santos, em outubro de 1943, indicava uma maior eficiência no serviço de comboios, cujas escoltas eram mais numerosas e trei​nadas, marcando também um decréscimo acentuado na campanha submarina inimiga nas águas adjacentes ao litoral brasileiro, atribuível a várias causas ainda: perda de material e de guarnições bastante experimentadas, cansaço, indícios de enfraquecimento do potencial alemão, etc..
Enquanto a Força Naval do Nordeste organizava, ampliava e mati​zava os seus serviços, no sul, com base no Rio de Janeiro, era criado o Grupos Patrulha do Sul, composto do C. T. "Maranhão", dos navios-mineiros "Ca​nanéia" e "Carrocim" depois transferidos para aquela Força, alguns velhos contratorpedeiros da classe "Amazonas" e, posteriormente, do "Jaceguai", navio-​hidrográfico adaptado em corveta, e das corvetas da classe "Matias de Albu​querque". Esse Grupo-Patrulha do Sul encarregou-se de fazer a escolta de comboios organizadas com navios brasileiros que, do Rio, se destinavam a San​ta Catarina, com escala pelos vários portos intermediários. Esteve sob o coman​do de oficiais de alto valor, como os Comandantes Edmundo Williams Muniz Barreto, Ernesto de Araujo, Braz Paulino da Franca Veloso e, por último, do Almirante Gustavo Goulart, quando já constituindo a Força Naval do Sul, coam a incorporação daquelas últimas unidades.
A Comissão Brasileira de Miami trabalhara ativamente; os oficiais, sub​oficiais, sargentos e praças que lá se encontravam, faziam os seus cursos em em Key-West e outros pontos, freqüentando principalmente as "escolas de tática anti-submarino; com esse excelente treinamento, puderam oficiais e subalternos guarnecer com eficiência os oito (8) "caças-pau" - "Javari", "Jutaí", "Juruá", "Juruena", "Jaguaribe", "Jaguarão", "Jacuí" e "Jundiaí" -, transportando-os, já como escoltas de comboios internacionais até ao Brasil, e seis (6) "caças-ferro", além do "Guaporé" e do "Gurupí", já entregues em Natal, a saber - "Guaiba", "Gurupá", "Guajará", "Goiana", Grajaú" e "Graúna". Assim, aqueles até julho de 1943 e estes até princípios de 1944 já estavam incorporados à Força Naval do Nordeste, aumentando-lhe de muito as possi​bilidades de ação.
Em março de 1943, a Força do Atlântico Sul passou a constituir uma Esquadra, a Fourth Fleet sob o comando do mesmo Vice-Almirante Ingram, cujo indicativo passou de Comsolant para Comfleet Fourth; dessa 4ª Esqua​dra, a Força Naval do Nordeste, sob o comandodo Contra-Almirante Alfre​do Carlos Soares Dutra, promovido a este posto desde janeiro, era a Força​-Tarefa 46.
Naquela ocasião, já as operações haviam tomado tal vulto que a sua dire​ção, que nascera a bordo do "Potoka", no camarote do Comandante Goodwin, sobre cujo beliche uma prancheta de rebater encerrava a carta do Atlântico Sul em que se fazia a plotagem de derrotas de comboios, submarinos, etc., - teve que se transferir para um edifício recém-construído, de propriedade de um Instituto de Aposentadorias e Pensões, contando 10 andares, na nova Ave​nida 10 de Novembro, onde o Estado-Maior do Almirante Ingram, já com cerca de 70 oficiais, incluindo os serviços administrativos, se instalou convenien​temente. E, quando o prédio contíguo, o da Sulacap, ficou pronto, ainda se rasgou uma porta no 7º andar daquele para comunicar-se com mais dois andares deste último. Em cada um dos pavimentos funcionava um serviço diferente: aqui operações (2º andar, com dois balcões internos, dando para poços no térreo, onde se colocaram duas gigantescas cartas do Atlântico Sul, uma para plotagem dos comboios, posição de submarinos, patrulhas aéreas e navios de guerra, outra para a localização de todos os navios mercantes no mar, na vasta área sul-atlântica); ali, abastecimentos, escritório do observador naval; mais acima (7º), o salão de canferências diárias, as dependências do Almiran​te e de seu Estado-Maior, cuja chefia já estava confiada à inteligência clarividente do Captain depois, Comodoro, Clinton E. Brainer; mais acima ainda, ficavam os manipuladores dos transmissores-rádio, cuja estação, a poderosa NKM, fôra instalada no Jiquiá (subúrbio do Recife), com os seus múltiplos aparelhos transmitindo simultaneamente em quatro ondas.
Tudo isso se fazia principalmente para que mais eficiente fosse o serviço de escoltas aos comboios Tupi-Jóia e Jóia-Tupi que, incessantemente, se cruza​vam no mar, para o sul e para o norte, em derrotas pré-fixadas, e para que inú​meras outras pequenas missões e escoltas de outros menores comboios fossem devidamente cumpridas, além das parulhas oceânicas até ao meridiano de 20° e à ilha de Ascensão.
Então para abastecer, suprir, guarncer e reparar essa Esquadra e sua For​ça Aérea, cada vez mais numerosa, de que a Força Naval do Nordeste era parte importante e comando administrativo independente, foi preciso tratar de uma série enorme de problemas de instalações e logística, os mais variados, para atender até as mínimas necessidades. Assim a surpreendente organização logística americana ocuparia, mediante arrendamento, na área do cais do porto, armazéns das Docas para depósitos de sobresselentes, mantimentos e suprimen​tos de toda ordem; alugara edifícios e construíra galpões a fim de instalar ofi​cinas de reparos para os navios pequenos (Destroyers'-repairs 12 ou, pela abre​viação logo popularizada DESREP 12), e mais oficinas de artilharia, de tor​pedos, de óptica e de motores Diesel; construíra um vasto acantonamento, que, se chamou Camp Ingram, com alojamentos, cozinhas, padarias, cantinas, cam​pos de desportos, salão de recreio servindo ao mesmo tempo para os ofícios religiosos de três cultos diferentes - o católico, o protestante e o judaico; na praia de Piedade, instalara um hospital de emergência em pequenos pavilhões separados, entre o coqueiral, - o Hospital Knox, aparelhado como poucos no nosso país; no Tegipió, bairro do Recife, concluíra e equiparara um vasto edifício hospitalar do Estado de Pernambuco, mediante contrato com o gover​no, destinado a estação de repouso para as guarnições de seus numerosos na​vios de pequeno porte, ao chegarem ao porto, depois de extenuantes tarefas no mar, construíra paióis de pólvora no Jiquiá; estabelecera um vasto depósito de sobresselentes de máquinas e motores Diesel em grande armazém da rua da Aurora (o Spare Parts Distribution Center - SPDC); organizara um com​pleto serviço próprio de ônibus e outras conduções de todos os tipos, pois não podia contrar com os meios comuns de comunicações da cidade, já insuficientes para o uso da população civil; instalara, enfim, escolas técnico-profissionais, como a "de Som", com o aparelhamento mais moderno de attack-teacher, a de metralhadoras antiaéreas e a de vigilância noturna, prodígios de técnica e per​feição para treinamento de comandantes, oficiais e guarnições na guerra espe​cializada anti-submarino.
De tudo isso participava, com grandes benefícios, a nossa Marinha.
O primeiro daqueles aparelhos de attack-teacher fora montado no andar térreo do edifício-sede do Comando da 4ª Esquadra e nele todo o pessoal, quer americano, quer brasileiro, que constituía os teams de ataque dos navios de escolta, encabeçados pelos respectivos comandantes tinha a necessária instrução durante a permanência naquele porto. Em breve, entrou a funcionar uma "Escola de tática anti-submarino" no "Campo Ingram", para ande focam de​pois transportados os attack-teachers, a princípio funcionando sob a direção de oficiais e especialistas americanos e, por fim, sob exclusiva orientação de brasi​leiros. Formaram-se então em cursos de poucas semanas, turmas e turmas de especialistas em "tática anti-submarino". Para o treinamento adiantado e final, em exercícios ao vivo em pleno mar, foram, por solicitação do Almirante Ingram, mandados os nossos submarinos para o porto do Recife. Partiam então do Rio, incorporados a um comboio JT, e, naquele porto, ficavam temporariamente sob o Comando da Força Naval do Nordeste, por poucos meses; o "Tupi" (por duas vêzes), o "Timbira", o "Humaitá" e o "Tamoio" lá estiveram, nessas condições, prestando ótimos serviços ao treinamento do pessoal. Desse modo, logo que chegavam ao porto, na escolta de algum comboio, os navios, quer da Força Naval do Nordeste, quer da 4ª Esquadra, propriamente, eram escalados para toda sorte de exercícios, inclusive esse, fora do porto, com o submarino "amigo", e mais os de tiro de superfície e antiaéreo e os de torpe​dos: - não havia praticamente descanso algum, senão o que pudesse resultar da mudança contínua de atividades...
A ação dos nossos submarinos foi tão eficiente no treinamento dos navios de escolta brasileiros e americanos, nas águas ao largo do Recife, que o Almi​rante Ingram, a 10 de janeiro de 1944, fêz um elogio ao "Tupi", primeiro a executar os exercícios, prestando "serviços inestimáveis" numa "tarefa que envolveu vários problemas novos, ainda não resolvidos".
Enquanto isso tudo ia assim crescendo e instalando-se, sempre para me​lhorar o serviço e a eficiência dos que iam para o mar, os navios de nossa Esquadra, quer no nordeste, quer no sul, não paravam senão o tempo estrita​mente necessário ao reabastecimento e aos reparos, assim nas escoltas dos comboios, como em missões isoladas de salvamento de náufragos, de socorro a na​vios desarvorados depois de atacados por submarinos ou por outras motivos, etc. Entre essas missões, podem contar-se as seguintes: a) o transporte dos suprimentos para a guarnição de Fernando de Noronha, quer em gêneros alimentícios quer em material de toda espécie, assim como de pessoal, sempre foi assegurado pela Marinha de Guerra, fazendo escoltar esta os navios que, do Recife ou de Natal, saíam para aquele arquipélago, desde o primeiro comboio, com o "Santarém", no trartsporte das tropas de ocupação; o pequeno navio a motor "Tupiara", fretado ao Loide Brasileiro pelo Exército, celebrizou-se nesse transporte, graças ao número de viagens que fêz, nesse serviço, sempre escol​tado por uma corveta ou um um caça-submarino, mesmo durante o período mais ativo da campanha submarina inimiga, e a despeito das piores condições de tempo; numa das viagens, em que se formou um pequeno trem de três navio​zinhos com o "Tupiara", essas condições foram tais que, aproximando-se dema​siadamente o comboio da costa do Rio Grande do Norte, sem posição segura, o escolta, CS "Javari", teve a infelicidade de encalhar em recifes do canal de São Roque, safando-se milagrosamente e submetendo-se depois a reparos de

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