Buscar

A Lei de Deus (Pietro Ubaldi)

Prévia do material em texto

1 
 
PREFACIO 
 
Os capítulos deste livro constituem uma série de vinte e quatro palestras proferidas na 
Rádio Cultura São Vicente, todos os domingos, no período de 17 de agosto de 1958 a 8 de 
fevereiro de 1959, tendo por isso algumas vezes o caráter de conversa. Ao mesmo tempo, 
elas foram publicadas no jornal O Diário, de Santos. Apresentamos agora, aqui reunidas, essas 
palestras. Elas continuam, desenvolvendo sempre mais, os conceitos expostos em nossos dois 
livros A Grande Batalha e Evolução e Evangelho, da segunda trilogia, de nossa segunda 
Obra, de 12 volumes como a primeira. Trata-se sempre do estudo da Lei de Deus, para que 
saibamos, realmente, como orientar a nossa própria vida. 
No livro O Sistema (Gênese e Estrutura do Universo) foram apresentadas as teorias 
básicas da sua formação e funcionamento. Nos dois referidos livros, A Grande Batalha e 
Evolução e Evangelho, entramos no terreno pratico das conseqüências e aplicações dessas 
teorias, do controle racional e experimental da sua verdade. Tivemos, por isso, que enfrentar o 
problema da conduta humana, no campo da ética, assunto do presente volume (A Lei de 
Deus) e do que se lhe seguirá (Queda e Salvação). Mas, há uma diferença entre os dois. O 
primeiro, este que temos em mãos, trata o assunto de um modo geral, com uma linguagem 
fácil, acessível, adaptada a palestras pelo rádio. O segundo, Queda e Salvação, considera o 
mesmo assunto da conduta humana e da ética, mas de maneira diferente, penetrando em 
profundidade os problemas, atingindo os pormenores, provando as teorias com demonstrações 
racionais e pondo-as em contato com a realidade dos fatos. Por isso, esse segundo livro voltará 
a falar de temas que no primeiro foram só superficialmente esboçados e tratados com 
linguagem diferente, em função de outros ângulos. Podemos assim afirmar, porque o plano 
desse segundo livro já está se aproximando de nossa mente, e desde agora, vemos os liames 
que unem os dois volumes no mesmo motivo fundamental de ética. O aspecto em função do 
qual é encarado este problema no presente livro é o homem, como cidadão do seu mundo 
terreno. Assim também, o ângulo sob o qual será tratado o mesmo problema no livro Queda e 
Salvação é o pensamento de Deus que, com a Sua Lei, dirige o ser para a sua salvação final. 
No primeiro caso, a ética é concebida olhando-se para a Terra; no segundo, olhando-se para o 
Céu. 
Até agora o problema da nossa conduta foi enfrentado empiricamente pelas religiões que 
disto se encarregaram; mas, as soluções que elas nos ofereceram se baseiam em princípios 
teóricos axiomáticos, não demonstrados, enquanto na realidade, muitas vezes, aquelas 
soluções representam o resultado de ilusões psicológicas não controladas, ainda não provadas, 
mas cegamente aceitas, desabafo de instintos e impulsos do subconsciente. A forma mental 
moderna, no entanto, tomou-se mais culta e astuta. Pretende, por isso, olhar atrás dos 
bastidores da fé, para ver o que há de positivo, tanto mais quanto aquela fé implica em uma 
vida dura de virtude e sacrifício. O temor genérico de uma penalidade e a esperança de um 
ganho, sem saber onde e como, nos céus que começam a ser explorados e percorridos de 
verdade pela ciência, não convencem mais as consciências insatisfeitas. Agora que se 
aproxima o fim da civi1ização européia, encontramo-nos nas mesmas condições do fim do 
Império Romano, quando ninguém acreditava mais nos deuses. Como então, fica de pé a 
forma, esvaziada da substância. No meio de muitas religiões, antes de tudo preocupadas em 
combater umas as outras para conservar e aumentar o seu império espiritual, o mundo fica 
substancialmente materialista, apegado sobretudo aos seus negócios. 
A LEI DE DEUS 
Autor: Pietro Ubaldi 
 
 2 
 
A velha linguagem continua sendo repetida. Mas, todos estão acostumados a ouvi-la e não 
reparam mais. O mundo progrediu e tornou-se diferente. Parece que nos milênios da sua vida 
religiosa, em vez de ser transformado pelas religiões ao realizar os princípios delas, ele as 
transformou para suas comodidades. Em vez de aprender a viver nas regras da Lei, aprendeu a 
arte de evadir-se delas, a astúcia das escapatórias para enganar o próximo e, se fosse 
possível, o próprio Deus. Então, se os velhos sistemas não adiantam mais, e se este é o 
resultado deles, por que não usar hoje outra linguagem que seja mais bem compreendida? Por 
que não se apoiar sobre outros impulsos e movimentar outras alavancas às quais o homem 
possa melhor obedecer? Por que não ver a vida no seu sentido utilitário, oferecendo-nos 
também vantagens quando pede virtudes e sacrifícios? 
Foi por isso que nasceram estas palestras. Com os nossos livros A Grande Síntese, 
Deus e Universo e o Sistema, tínhamos atingido uma visão bastante completa da estrutura 
orgânica do universo. Tratava-se, agora, só de deduzir destes princípios gerais as suas 
conseqüências práticas, pondo-os em contato com a realidade da nossa vida e verificando se 
eles permanecem verdadeiros também nos pormenores do caso particular. Deste modo o 
problema da conduta humana foi enfrentado duma forma diversa, isto é, em sentido racional, 
positivo, logicamente demonstrado, experimentalmente controlável como faz a ciência, apoiado 
nos fatos que todos vemos e, assim, encontrando a sua explicação. Foi possível deste modo 
chegar a uma ética universal, não dependente de alguma religião particular, absolutamente 
imparcial e verdadeira para todos, como é a matemática, ou a ciência em geral, porque faz 
parte da grande Lei que rege tudo, escrita no pensamento de Deus, e que podemos ver 
realizada nos fatos. Chegamos assim, nestas palestras, a uma orientação que sai do terreno 
empírico das religiões para entrar no terreno positivo da ciência, o que justifica as nossas 
conclusões, de que elas têm de ser ponderadas por toda mente que queira e saiba raciocinar e 
por isso aceita a demonstração, como a de um teorema de matemática. 
A novidade e importância deste ponto de vista, sustentado nestas palestras, baseia-se nos 
seguintes fatos: 
1) Trata-se de uma ética universal, que diz respeito à vida e permanece verdadeira em 
todas ás suas formas chegadas a um dado nível de evolução, em qualquer corpo celeste do 
universo. Por isso, ficando acima de todos os pontos de vista particulares e relativos, esta ética 
resulta absolutamente imparcial a respeito das divisões humanas, porque delas é 
completamente independente. 
2) Trata-se de uma ética positiva, como é a ciência, baseada em fatos, de uma ética que 
não é senão um capítulo da Lei que tudo rege e que a ciência estuda em outros seus aspectos. 
Ética de efeitos calculáveis, determinística, baseada em princípios absolutos, sem escapatórias, 
como por exemplo, a lei da gravitação e as leis do mundo físico, químico, biológico, matemático 
etc. 
3) Trata-se de uma ética praticamente utilitária, concorde com o princípio fundamental da 
Lei, que é a justiça e também o desejo do ser; justiça que exige que o sacrifício da obediência à 
Lei e o esforço para evoluir encontrem a sua recompensa. Ética correspondente ao instinto 
fundamental do ser, que é o de fugir do sofrimento e de chegar à felicidade. Por isso, vem a ser 
uma ética capaz de ser entendida e aceita, porque satisfaz à forma mental do homem moderno. 
4) Trata-se de uma ética racional, logicamente demonstrada, que não se baseia na fé 
cega, no princípio de autoridade ou no terror de castigos arbitrários e obscuros, mas que 
convence quem saiba pensar. Uma ética que não admite enganos, porque nela se pode ver 
tudo claro: a perfeição e a bondade das regras, às quais devemos obedecer até as últimas 
conseqüências de cada ato nosso. 
5) Esta ética resulta de um sistema filosófico-científico universal que tudo abrange e 
explica desde o princípio até o fim, sistema do qual ela representa um aspecto controlável nas 
suas conseqüênciaspráticas da vida comum. Estas conclusões se baseiam no valioso apoio de 
teorias positivas gerais que as sustentam, orientando-nos também a respeito de tantos outros 
fenômenos, dos quais estas teorias oferecem uma interpretação lógica. 
 
 3 
6) Esta ética pode ser submetida a um controle experimental no laboratório da vida, com o 
mesmo método positivo da experimentação que a ciência usa para controlar a verdade das 
outras leis que vai descobrindo, e todas juntas, ao lado desta ética, constituem a grande Lei que 
tudo rege. 
7) De fato, estas conclusões foram submetidas, por nós que as estudamos em nossa 
própria vida e na alheia e por meio século, sob controle experimental, que as confirmou 
plenamente. E muitas testemunhas viram os fatos que aconteceram. 
8) Afinal de contas, não estamos dizendo coisa nova, mas repetindo com outras palavras o 
que já foi dito no Evangelho e pelas religiões mais adiantadas que o mundo possui; De tudo isto 
só quisemos dar demonstração lógica e prova experimental. Explicamos a necessidade de 
tomar a sério e viver o que o mundo está repetindo com palavras há milênios. 
9) Esta ética não somente nos orienta no imenso mundo fenomênico em que vivemos, 
dirigindo com conhecimento a nossa conduta, mas explica o que está acontecendo, a razão dos 
fatos que nos cercam e logicamente os justifica quando não quereríamos aceitá-los, como no 
caso do sofrimento. Esta ética, respondendo às nossas perguntas e oferecendo uma solução 
razoável aos problemas da nossa vida, ilumina o caminho que temos a percorrer, de modo que 
possamos vê-lo e nele avançar, não de olhos fechados, mas com as vantagens oferecidas pelo 
conhecimento da Lei e a certeza da sua justiça e bondade. 
10) Esta ética responde a uma necessidade do momento histórico atual. O Céu, 
contemplado, admirado e venerado na Terra, sempre de longe, como sonho praticamente 
irrealizável, não pode ser apenas teoria vivida por poucas exceções: deve descer e realizar-se 
entre nós. Seria absurdo que os grandes ideais existissem para nada, como o homem pregui-
çoso preferiria. Apesar da sua indiferença, ele não pode paralisar as forças da evolução na 
realização do seu objetivo fundamental, que é o progresso. 
Com o abrir-se da inteligência e o aumento do conhecimento, vai aparecer também no 
terreno da ciência positiva, a verdadeira concepção de Deus e da Sua Lei. Ela sairá, então, das 
formas das religiões particulares em lutas entre si, da clausura das igrejas, do exclusivismo dos 
seus representantes. Então, o homem, mais consciente, perceberá a grande realidade que é 
Deus e, finalmente, para o seu bem, se colocará, obediente, na ordem da Lei. 
 
S. Vicente, Páscoa de 1959. 
 
I 
 
NOVOS CAMINHOS 
 
Plano e método de trabalho. 
 
 
Na véspera do meu septuagésimo segundo aniversário, aqui em Santos, onde 
desembarquei, vindo da Itália, há quase seis anos, em dezembro de 1952, começo esta primeira 
série de rádio-palestras, a fim de poder chegar a um contato mais próximo com os meus 
amigos. Até agora este contato realizou-se por intermédio dos meus livros, isto é, da palavra 
escrita. Hoje realiza-se também de viva voz, o que toma o contato mais real, mais atual, mais 
próximo do ouvinte, do que, o obtido pelos escritos dirigidos ao leitor. 
Entro assim numa fase nova do meu trabalho, que é a de me aproximar do povo com uma 
linguagem mais simples, de maneira a ser compreendida. Procurarei fazer com que estas 
conversas se prolonguem o mais possível, a fim de chegar a uma comunhão de pensamento 
mais completa, se porventura já não teria sido alcançada; a uma união de mente e coração, que 
constitua uma ponte através da qual eu possa doar tudo de mim mesmo, doar tudo aquilo que 
consegui compreender e realizar na minha longa experiência, numa vida de tempestades e 
introspecção profunda. A dor constrangeu-me a aprender a superá-la para dela fugir ou, pelo 
menos, domesticá-la. Neste nosso mundo são muitos os que sofrem, e ensiná-los como 
 
 4 
amansar a dor é obra de caridade. 
Movimentando-nos acertadamente evitaremos o sofrimento, que é a procuraremos também 
satisfazer a sede de conhecimento que se encontra aninhada no fundo de cada alma. Tudo isto 
quero comunicar aos amigos, que serão meus herdeiros. 
Dizem que meus livros são difíceis demais; mas eles não constituem todo o meu trabalho. 
Eis que é chegado o momento da realização desta outra parte do trabalho, na qual minha tarefa 
é a de traduzir as teorias difíceis em palavras simples, tudo repetindo e esclarecendo numa 
forma diferente, acessível a todos, sem as complicações da ciência, sem as dificuldades da alta 
cultura, conservando-nos apegados a substância, mas simplificando o que é mais difícil, 
aproximando-nos da realidade do nosso mundo, a qual se compreende melhor porque todos a 
vivemos em nossa vida de cada dia. As grandes teorias do universo serão descritas de outra 
forma. Esta nova exposição daquelas mesmas teorias terá a vantagem de as confirmar em 
virtude de contato mais direto com os fatos. Desta maneira, elas se tornarão acessíveis sem ser 
necessário o esforço mental que nem todos podem fazer, sem a cultura que nem todos pos-
suem. Assim, estas verdades poderão ser compreendidas e utilizadas por um número cada vez 
maior de pessoas que desejem ser beneficiadas e precisem de orientação a fim de melhor se 
dirigirem na vida. 
Para que não haja qualquer mal-entendido, desejamos afirmar, logo de começo, que a 
nossa finalidade é só fazer o bem. Queremos fazer isto, oferecendo o fruto do nosso 
pensamento e da nossa experiência, para que os amigos possam deste conhecimento tirar a 
maior utilidade para si próprios: utilidade espiritual, que é a base da material, porque uma não 
se pode isolar da outra. 
Nossa tentativa não se destina a impor idéia alguma ou a fazer prosélitos. É apenas uma 
oferta livre, que não obriga ninguém a aceitá-la. Quem estiver convencido de possuir outra 
verdade melhor e estiver satisfeito com ela, que não a abandone. Quem não gostar de 
pesquisas no terreno de tantos mistérios que nos cercam de todos os lados, quem não quiser 
incomodar-se com o trabalho de aprofundar o seu conhecimento, enriquecendo-o com novos 
aspectos da verdade, fique tranqüilo na sua posição. Não desejamos perturbar ninguém; não 
andamos em busca de seguidores a fim de conquistar domínio na Terra; não somos rival de 
ninguém neste campo. O nosso único interesse é a pesquisa para atingir o saber. Este, e só 
este, é o nosso objetivo, e não o de conquistar poder algum neste mundo. 
Permanecemos, por isso, com o maior respeito por todas as verdades que o homem 
possui e pelos grupos que as representam. Respeitamos os campos já conhecidos, embora 
sigamos por nossa conta explorando novos continentes. Respeitamos as verdades já 
conquistadas, embora procuremos ver mais longe. Respeitamos todas as religiões e doutrinas, 
e de maneira nenhuma pretendemos destruí-las ou superá-las, a fim de as substituir por outras. 
Ensinaremos sempre o maior respeito pela fé e filosofia dos outros. 
O nosso lema é que o homem civilizado não agrida nunca o seu próximo, e que um ser 
evoluído nunca entre em polêmicas. Isto significa que, para nós quem agride o próximo não é 
civilizado e aquele que entra em polêmicas para impor a força as suas idéias aos outros ainda 
não é evoluído. Não quer dizer seja ele mau, mas tão somente atrasado no caminho da 
evolução, como o prova o uso dos métodos que mais se aproximam da fera. O método usado 
revela a sua própria natureza e o nível de vida a que pertence. Mais adiante explicaremos isto 
melhor. "Dize-me como lutas e dir-te-ei quem és". 
Tranqüilizem-se, assim, os que suponham esteja eu fazendo campanhas contra alguém. 
Isso significaria retroceder milhares de anos no caminho da evolução. Proceder assim seria 
sintonizar com forças negativas da destruição. E veremosque entre tantas leis que dirigem o 
mundo, existe aquela segundo a qual quem destrói acaba destruindo a si mesmo: quem agride 
o próximo agride a si mesmo; quem faz o mal, o faz antes de tudo a si mesmo. Veremos a 
maravilhosa justiça de Deus, sempre presente, em ação, inclusive neste mundo de injustiça. 
Veremos que a ciência e a lógica não estão contra a fé. Os poderes do intelecto nos foram 
dados por Deus para compreender e demonstrar a verdade com provas reais, pois que a fé 
pode apenas vislumbrá-la. 
 
 5 
Veremos muitas coisas boas e maravilhosas, provenientes de planos de vida mais 
elevados e que, se quisermos, podemos atrair a Terra. 
Maravilhosa descida de sabedoria e de bondade, através das quais se manifesta entre os 
homens a presença de Deus! Procuraremos aprender a arte de viver em paz e no respeito ao 
próximo, o que constitui a base de uma feliz convivência social. As longínquas teorias dos 
nossos livros descerão do mundo das abstrações, até se tornar prática a sua aplicação podendo 
assim conferir frutos reais a quem o desejar. Não prometemos poderes mágicos, nem felicidade 
fácil, mas seremos nós mesmos que nos vamos colocar, juntamente com tudo a mais, dentro de 
uma visão da vida, clara, singela e positiva, constituída pela Lei de Deus, a qual pode ser dura 
quando o merecemos, mas é sempre boa e justa. Devemos compreender finalmente como está 
feita e como funciona esta grande máquina do Universo, construída é movimentada por Deus, 
dentro da qual vivemos e de que somos parte. Ela é a nossa casa, onde moramos, sem no 
entanto a conhecermos campainha de alarme que nos avisa quando cometemos um erro, que 
deve ser corrigido para voltarmos à harmonia na ordem da Lei. Enquanto não regressarmos 
àquela harmonia, a dor não pode acabar. É lógico que o bem-estar possa nascer apenas de um 
estado harmônico e que a desordem não possa gerar senão sofrimento. O ser é livre, mas o 
universo é um concerto musical, onde qualquer dissonância produz sofrimento. Na verdade, 
que se deve colher quando o homem continuamente se rebela contra a ordem da Lei de Deus? 
Num sistema dessa natureza é lógico que a felicidade não se possa atingir senão pelo caminho 
da obediência, e que a revolta não possa trazer senão sofrimentos. O estado em que se 
encontra nosso mundo comprova, na realidade dos fatos, a verdade desta afirmação. Dado que 
seria absurdo atribuir a causa de tanto mal a Deus, que não pode ser senão bom e perfeito, não 
resta outra alternativa senão atribuí-la ao homem Quanto maior for a revolta, tanto maior será o 
sofrimento, até o homem rebelde aprender, a sua custa, a obediência. Se quisermos fugir à dor 
e conquistar a felicidade, qualquer que seja a nossa filosofia ou religião, temos de compreender 
que existem leis, existem leis, existem leis; se continuarmos violando-as, como costumamos 
fazer, teremos tanto sofrimento que acabaremos por compreender que existem leis e, se não 
quisermos sofrer, não há outro caminho a não ser o de nos ajustarmos a elas Se o mundo 
conseguir aperceber-se disso, esta seria a maior descoberta dos nossos tempos. Eis o 
conhecimento que consegui atingir em meio século de trabalho mental e de controle 
experimental. Este é o presente que agora quero oferecer aos meus amigos. 
O mundo atual parece que se está tornando cada vez pior. Mas Deus pôs limites à 
liberdade do homem, de maneira que este não tem o poder de parar o funcionamento da Lei 
que tudo rege. O mundo pode ser conduzido ao desmoronamento e ao fracasso, mas o prejuízo 
é somente para quem a isso o conduzir. A Lei de Deus permanece imutável. Isto quer dizer que, 
no meio de tantos: crimes e injustiças, a justiça de Deus fica de pé, e os que fracassarem serão 
os piores. Mas para os justos, para os honestos, que não mereceram a reação da Lei, fica, em 
sua defesa, a justiça de Deus. Perante Ele, cada um fica sozinho com o seu destino; para 
colher o que semeou e receber o que mereceu. 
Veremos o que quer dizer destino, procurando penetrar o segredo da nossa vida através 
do conhecimento das leis que a regem. Muita coisa teremos de ver juntos. Nesta primeira 
palestra não é possível tocar senão em alguns assuntos gerais. Mas, pouco a pouco, 
entraremos cada vez mais nos problemas da vida que temos a resolver, nas perguntas que 
surgem em nossa mente e às quais é necessário responder. Eis a conclusão que podemos 
antecipar: Deus vem ao nosso encontro de braços abertos, com uma lei da bondade e de justiça 
e podemos receber felicidade quando a tivermos merecido, por termos semeado bondade e 
justiça. Há um caminho para chegar a felicidade, mas se o homem não quer segui-lo, a culpa e 
as justas conseqüências não podem ser senão dele mesmo. Devido à escassez do tempo, não 
podemos prosseguir hoje, mas continuaremos depois. Irá, assim, realizar-se um colóquio entre 
as nossas almas, até chegarmos a um abraço de compreensão e alegria para mim, por tornar-
me útil ao próximo, e os ouvintes possam desfrutar das vantagens de compreenderem melhor a 
vida, e, consequentemente, de semearem para si menos sofrimentos. Procurarei falar de alma 
para alma, a cada um, como em segredo, ao ouvido, a fim de esclarecer os vossos problemas, 
 
 6 
focalizando-os diretamente, para confortar os que sofrem, orientar os que duvidam, pacificar os 
revoltados, encaminhar para Deus os desviados, dar uma fé e uma esperança aos descrentes. 
Para nos libertarmos da disciplina da Lei de nada vale dizer que Deus não existe: Ele 
permanece existindo. De nada vale negar a Sua Lei: ela continua funcionando. De nada vale 
escondermo-nos nas trevas: a luz persiste resplandecendo no Alto. Estamos vivendo dentro 
desta Lei viva; nossa própria vida deriva dela e representa o pensamento e a vontade de Deus, 
que é a causa primeira da vida universal. 
Continuaremos, assim, falando juntos, de amigo para amigo, unidos por um liame de 
bondade, para o bem de ambos. "Sem bondade não se pode dizer a verdade". Considerarei 
cada ouvinte como um amigo meu pessoal, com o qual estou desabafando a minha paixão de 
beneficiar o próximo. Não sou rico para dar dinheiro, não sou poderoso para oferecer vantagens 
materiais. Dou o que tenho: o pensamento que recebi por inspiração, e o amor do meu coração. 
Como recompensa espero que este pensamento seja compreendido e que este amor seja 
retribuído. 
 
 
II 
 
SEPARATISMO RELIGIOSO 
 
Respeito por todas as crenças 
 
 
Estou novamente convosco, continuando a nossa primeira conversa. Destas conversas 
faremos muitos elos e destes elos uma corrente de inteligência e de bondade, para construir um 
dique contra a ignorância e a maldade que inundam o mundo. 
Estas palestras singelas, estas palavras que saem dos meus lábios, serão úteis para 
afastar tantos mal-entendidos e dúvidas que nasceram por incompreensão do meu trabalho, 
desde a minha primeira vinda ao Brasil em 1951. Peço desculpas por ter de falar de mim, o que 
me é desagradável. Mas não há outra maneira de esclarecer o caso. Tenho aqui de repetir mais 
uma vez o que foi sempre o meu lema, isto é, universalidade e imparcialidade. Devo também 
explicar que as minhas palavras têm de ser entendidas literalmente; elas não contêm outros 
significados ou subterfúgios. Ora, imparcialidade quer dizer não-existência de partido, 
compreendendo-os a todos; significa não ficar fechado na forma mental de facção ou de grupo 
particular algum, sobretudo quando este grupo, seja ele qual for, se impõe combater outros 
grupos, julgando-os errados e maus e, porque sendo diferentes dele próprio, persegue-os com 
as suas condenações. 
Infelizmente, esse instinto de exclusividade, pelo qual não se pode afirmar sua própria 
verdade a não ser condenando como erradas as verdades dos outros, é produto do nosso nível 
de vida humana, sendo isso apanágio do homem em geral, qualquer que seja a religião ou 
grupo doutrinário ao qualpertença. Não é a diferença ideológica dos pontos de vista das 
religiões que deixamos de aceitar. Tudo isso é natural e lógico. Em nosso mundo relativo, não 
pode existir coisa alguma senão de forma relativa. Assim, nele, também a verdade não pode 
aparecer senão, dividida em seus aspectos diferentes. O que não podemos aceitar é a atitude 
de condenação, de exclusividade da posse da verdade, e de agressividade, que muitas vezes 
se encontra nas religiões e nos grupos doutrinários. Não nos interessa tomar parte nestas 
rivalidades terrenas, que nada têm a ver com a pesquisa da verdade que buscamos. 
O nosso objetivo não é o de defender um patrimônio já adquirido, mas o de nos 
enriquecermos com novas conquistas para doá-las a quem as quiser. Não estamos amarrados 
a quaisquer interesses terrenos que imediatamente se constróem por cima de toda e qualquer 
verdade. Quem está mergulhado no trabalho de pesquisa não pode despender as suas 
energias nessa luta de rivalidades. A nossa tarefa não é a de conservar o passado defendendo-
o, mas a de construir o futuro. Os nossos interesses não estão na Terra, mas somente nessa 
 
 7 
construção. O respeito que temos pela verdade de cada um, e que todos devem tem para com 
as verdades que o mundo possui, não pode interromper o caminho da vida e a evolução do 
pensamento. O passado não pode paralisar o florescimento do futuro. E no mundo há lugar pa-
ra todos. 
 
O primeiro mal-entendido nasceu quando julgaram que nós representávamos este ou 
aquele grupo, e por conseguinte, que éramos inimigo dos outros grupos, inimizade para nós 
simplesmente inconcebível. De maneira alguma saberíamos tomar parte nessa luta de 
rivalidades, que requer uma forma mental para isso adaptada, que não possuímos. Assim, 
fugimos de qualquer grupo logo que aparece esse espírito de condenação. O mal-entendido 
consistiu em ter-se julgado encontrar um inimigo, onde não existia inimigo algum, e de pensar 
em guerra quando tratávamos apenas da maneira como resolver os problemas do universo. Isto 
desejaria eu aqui explicar de um modo bem claro. Não somos guerreiro; somos um pensador 
que não tem interesses humanos a defender. “Nosso inimigo é a ignorância”, causa de tantos 
sofrimentos, e não o homem a quem queremos ajudar. Neste mundo podemos ser presa dos 
fortes e astutos, mas não somos forte nem astuto para na Terra fazer presas. 
Concordamos assim com todos. Os únicos seres com os quais não podemos concordar 
são os que não querem concordar de forma alguma, mas, pelo contrário, querem impor-se 
vencendo o próximo. Ora, esta é uma mentalidade atrasada, que o homem verdadeiramente 
espiritualizado não pode aceitar sem retroceder milênios no caminho da evolução. Mesmo que 
seja permitido fazer guerra, isso só será possível contra quem quiser fazer guerra. O homem 
civilizado procura e sabe encontrar, não os pontos de contraste para lutar, esmagando-se uns 
aos outros, mas os pontos de concórdia, para colaborar, ajudando-se uns aos outros. Dizemos 
civilizado porque só esse tipo de homem pode fazer parte da nova humanidade que está 
surgindo, a qual será constituída, não por bandos de lobos, más por uma coletividade social 
unida, colaborando organicamente. Esse novo mundo, que amanhã será melhor, é o que mais 
nos interessa; um mundo de compreensão e de colaboração recíprocas; o mundo do "ama o 
teu próximo como a ti mesmo". Assim, com tudo podemos concordar, menos com essa 
vontade de não concordar. Mas, não condenamos ninguém por isso, porque esse método 
corresponde a uma lei que pertence a um dado plano de vida. Isso não se deve considerar 
maldade, nem se deve chamar de mau o ser que comete erros por não ter ainda compreendido 
e sabido fazer melhor, pelo fato de não ser bastante evoluído. 
Uma vez expliquei a alguém o meu ponto de vista da imparcialidade e universalidade. Sua 
face iluminou-se e, de súbito, respondeu: “compreendo, trata-se de um novo partido: o dos 
imparciais e universalistas”. Este fato mostrou-me como a forma mental comum não consegue 
conceber coisa alguma se não a vê bem fechada dentro dos limites do relativo, isto é, dum 
grupo particular bem separado dos outros e logicamente em luta com eles. Colocada. perante a 
idéia de universalidade, esta forma mental não consegue concebê-la senão na forma dum impe-
rialismo dominador de todos, que um poder central consegue submeter. E de fato, eis como se 
encontra o mundo, eis o que vemos na Terra. 
Quando cheguei ao Brasil a convite de um desses grupos, outro grupo levantou-se contra 
mim, dizendo ter chegado um enviado de Satanás. E quando sustentei algumas teorias deste 
outro grupo, fui censurado pelo que me havia convidado. E assim acontece sempre, porque se 
trata de um mesmo tipo de homem, o qual possui uma só forma mental, que o leva a proceder 
sempre de igual maneira, isto é, com condenações e anátemas, pertença ele a que grupo 
pertencer. 
É assim que nascem os mal-entendidos. O meu trabalho não é o que todos quereriam, ou 
seja, o do oferecer-me como um seguidor a mais para engrossar as fileiras desse ou daquele 
grupo, mas é o de fazer pesquisas para resolver problemas ainda não resolvidos, esclarecer 
dúvidas, compreender mistérios, responder a perguntas a que as religiões, as doutrinas e as 
filosofias ainda não deram resposta. Disso se conclui que a idéia comum de imperialismo 
religioso, em busca de adeptos e seguidores, não me interessa e não faz parte do meu 
trabalho. Falo bem claro: não quero de maneira nenhuma chefiar coisa alguma na Terra; não 
 
 8 
quero conquistar poder algum neste mundo. Não há, assim, qualquer razão para rivalidades. O 
que almejo é só utilizar esta minha condenação de viver neste baixo nível de vida, para ajudar 
os outros a levantarem-se a um nível espiritual mais alto. Se me fosse permitido, só uma vez, 
ser egoísta, o meu único desejo seria o de ir-me embora, fugindo para bem longe deste mundo 
e não voltar mais. Por isso, as lutas pelas conquistas humanas. que tanto interessam aos meus 
semelhantes, não têm sentido para mim e, achando-as muito cansativas, não cuido delas. As 
minhas lutas dirigem-se para objetivos totalmente diferentes. 
 
É necessário explicar tudo isso para que meu trabalho seja compreendido. Infelizmente, 
em nosso mundo estamos acostumados a supor que cada palavra seja uma mentira e julgamos 
que somos astutos quando conseguimos descobrir essa mentira. Isso é o que, suponho, 
aconteceu também a meu respeito. Daí nasceu o mal-entendido, porque neste caso acontecia o 
inacreditável, isto é, que as minhas palavras eram, na realidade, verdadeiras e atrás delas não 
havia outra idéia para encobrir. É necessário tomar as minhas palavras literalmente, pelo fato 
de que elas querem dizer simplesmente o que dizem e não contêm segundas intenções. Para 
quem não quer conquistar poderes na Terra, é lógico que o método seja diferente do 
empregado pelo mundo. 
Nosso método, na verdade, é oposto ao do homem comum. Nós queremos trazer 
harmonia ao invés de luta, paz e não guerra, esclarecimento onde exista dúvida, esperança 
onde haja desespero, fé onde esteja a descrença, conhecimento onde se encontre a ignorância. 
Eis o que procuramos fazer. Conseguiremos realizar o que Deus quiser. Quando sucede que o 
homem empregue toda a sua boa vontade, as qualidades que possui e o seu esforço para 
colaborar com a vontade de Deus, o restante fica nas mãos d'Ele. O triunfo depende de 
elementos que não conhecemos, escapam ao nosso domínio, e pelos quais não somos 
responsáveis. Mas se procurarmos compreender e seguir, a vontade de Deus, certamente esta 
vontade virá ao nosso encontro para ajudar-nos. 
Estudando juntos esse método, aprenderemos a arte de alcançar sucesso, inclusive na 
vida prática. Os homens práticos não observam que, para obterem êxito no campo material, é 
necessário uma boa orientação, antes de mais nada no campoespiritual, do qual tudo depende, 
não apenas os resultados dos negócios, como a conservação da saúde e a sensação de bem-
estar em nós mesmos e em tudo o que nos rodeia. Em nosso universo tudo está coligado, e as 
coisas não podem isolar-se umas das outras. Quem não está orientado nos grandes conceitos 
da vida, não o pode estar tampouco nas coisas pequenas de cada dia, que são conseqüências 
das grandes. O nosso trabalho nestas palestras será o de esmiuçar as teorias gerais da grande 
orientação até suas conseqüências concretas, que nos tocam de perto, para aprender a viver 
conscientemente, conhecendo o valor dos nossos atos, desde suas origens até seus últimos 
efeitos. Esta é a ciência da vida, que nos explica a significação dos movimentos da nossa alma, 
como dos acontecimentos que nos rodeiam. Cada vida se desenvolve, não ao acaso, nem 
guiada pelos nossos caprichos, mas conforme um plano particular, que se chama destino, e que 
é conseqüência do passado, na forma em que o quisemos viver. 
Temos falado que há uma Lei. Aprenderemos, pouco a pouco, a arte sutil de viver em 
harmonia com essa Lei que representa Deus, arte que constitui o segredo da felicidade. Iremos 
verificando, cada vez mais, que a espiritualidade, verdadeiramente entendida e vivida, produz 
incríveis efeitos "úteis", também no plano material. Falamos de utilidade. Não queremos roubar 
o tempo aos nossos leitores, mas sim fazer um trabalho "útil" a todos. É preciso usar com mais 
inteligência a nossa vida, tomando-nos cidadãos iluminados e conscientes deste nosso univer-
so, colaborando com a vontade de Deus, Que o dirige. Aprenderemos a ver com outros olhos e 
então tudo será diferente. Ao invés de rebeldes construtores de sofrimentos, como hoje somos, 
tornar-nos-emos, para o nosso bem, obedientes construtores da felicidade. Seremos então 
amigos e colaboradores de Deus, obreiros Seus na grande obra da vida, vida que vai subindo 
até Ele, porque, assim que tivermos compreendido a Sua vontade, que visa somente ao nosso 
bem, não desejaremos outra coisa senão realizá-la. 
Diz-se muitas vezes que Deus está presente. E não há dúvida: Deus está presente. Mas 
 
 9 
não basta dizer isto. É preciso aprender a perceber esta presença, chegar a compreender o 
Seu pensamento e seguir o caminho marcado pela Sua vontade. É verdade que Deus está 
entre nós. Mas, isto tem uma finalidade. Deus está entre nós, dentro de nós, para que 
respiremos esta Sua presença e possamos fundir-nos em harmonia com a Sua vontade, 
realizando em nossa vida os ditames da Sua Lei. E isso também tem uma finalidade, que é a de 
levar-nos a não errar, como se costuma. Não errar quer dizer não sofrer mais os choques 
dolorosos que são conseqüência do erro, que por sua vez é violação da Lei. Isso significa evitar 
sofrimento e proporcionar-nos tranqüila felicidade, que só num estado de ordem é possível. 
 
 
 
 
III 
 
O PROBLEMA DO DESTINO 
 
A semeadura é livre, mas a colheita 
obrigatória. Como orientar nossa vida no 
plano geral do Universo, conhecendo o 
funcionamento da Lei. 
 
 
No capítulo anterior, tocamos levemente no assunto de uma ciência da vida como método 
para se alcançar êxito e ser menos infeliz, em virtude de se aprender a arte de viver sabiamente 
em harmonia com a Lei de Deus, seguindo com obediência a Sua Vontade. Vamos agora 
explicar melhor estes conceitos. 
É difícil a arte de saber viver. A vida é um vaso que podemos encher com o que quisermos. 
Mas, a verdade é que temos querido enchê-lo de erros. Então, que podemos receber senão 
sofrimentos? Quando era moço, li livros sobre a arte de alcançar sucesso na vida. E hoje ainda 
se encontram livros sobre este assunto. Mas, trata-se duma ciência de superfície, que se baseia 
na sugestão, na arte exterior de apresentar-se, de falar e convencer o próximo. Ora, isso só 
pode levar a um êxito parcial, momentâneo, superficial. O verdadeiro êxito na vida consiste num 
problema de construção de destinos, um problema complexo de longo alcance, que só se pode 
resolver conhecendo o funcionamento das leis profundas que regem a vida, e a posição de 
cada um dentro dessas leis, ou seja, o plano duma vida enquadrada no plano geral do universo, 
em função de Deus. Mas, o homem não conhece nem um nem outro desses dois planos. Como 
se pode chegar a uma orientação completa do caso particular, se não se conhece a Lei geral? 
A maioria não é dona dos acontecimentos da sua vida, mas é serva dirigida por eles. A vida 
deveria ser um trabalho orgânico, consciente, executado em profundidade, dirigido logicamente 
para finalidades certas, que a valorizem, dando-lhe um sentido construtivo. 
A vida é um jogo vasto e complexo. Podemos deixá-la decorrer levianamente, mas então, 
ou perdemos o nosso tempo, ou semeamos sofrimentos, cometendo erros. E depois, as 
conseqüências terão de ser suportadas inevitavelmente por nós. Fala-se de destino e da sua 
fatalidade. Mas, os construtores desse destino somos nós mesmos e depois ficamos sujeitos à 
sua fatalidade. A nossa vida atual apresenta-se como um fenômeno sem causas e sem efeitos, 
se considerada isolada. Para ser compreendida, é preciso concebê-la em função das vidas 
precedentes que a prepararam, e das vidas futuras que a completam. O presente não pode ser 
explicado senão como fruto do passado, das ações livremente desencadeadas, cujas 
conseqüências são agora o que chamamos o nosso destino. Da mesma forma que o passado 
representa a semeadura do presente, o presente representa a semeadura dó futuro. A 
semeadura é livre, mas a colheita obrigatória. Verifica-se, assim, este jogo complexo de 
semeadura e colheita, entrelaçadas em cada momento da nossa vida. 
 
 10 
Esta é a Lei de Deus e ninguém pode modificá-la. Mas dentro desta Lei somos livres para 
nos movimentar à vontade. Assim, somos ao mesmo tempo livres e dependentes. Temos o 
poder de nos arruinar ou de nos salvar, como quisermos, mas não podemos alterar a Lei, e a 
nossa ruína ou salvação fica fatalmente sujeita às normas da Lei de Deus. Ela regula os 
movimentos de tudo que existe e do homem também. Conhecê-la quer dizer conhecer as 
regras do jogo da vida, isto é, a ciência da própria conduta, a arte de evitar os movimentos 
errados e fazer os certos, para fugir do dano próprio e atingir o melhor bem-estar possível. É 
indiscutível a superioridade do homem que possui este conhecimento, em comparação com 
quem, na luta pela vida, não o possui. O primeiro tem muito mais probabilidades de alcançar 
sucesso do que o segundo. Para quem conhece a Lei geral, é possível coloca-se dentro dela na 
devida posição, evitando as dolorosas conseqüências duma posição errada. O homem comum 
acredita viver no caos, onde procura impor a própria vontade a tudo e a todos. Mas, de fato, não 
é assim. Esta suposição é fruto da sua ignorância. Não há vontade humana que possa dominar 
o poder da Lei. Esta é constituída, não só como norma, pela inteligência de Deus, mas também 
como poder, pela vontade d'Ele. Isto quer dizer que as normas são ao mesmo tempo uma força 
que quer que elas se realizem, uma força irresistível, viva e ativa, sempre presente em todos os 
tempos e lugares, da qual não é possível fugir. A Lei é boa, sábia, paciente e misericordiosa, 
mas é também justa, duma justiça inflexível, de modo que, quando a criatura abusa, ela se 
desencadeia como furacão e derruba tudo, coibindo o abuso. 
A coisa mais importante na vida, a base de tudo, é a orientação. E a maioria vive correndo 
atrás das ilusões do momento, desorientada e descontrolada. Só quem conhece tudo isto pode 
orientar-se, inclusive a respeito do seu destino e das finalidades particulares que lhe cabe 
atingir na vida atual. Pode assim evitar os atritos dolorosos contra a Lei, que atormentam os 
rebeldes, e subir mais facilmente, levado pela corrente da Lei que o ajuda, uma vez que ele quis 
colocar-se emobediência a ela. Quem, por ter compreendido, sabe obedecer com inteligência, 
conhece o caminho mais rápido e menos doloroso da salvação. 
Seguir a Lei quer dizer seguir a vontade de Deus. Esta é uma bem estranha posição para o 
mundo, que ainda obedece à lei animal do mais forte. Seguir a vontade de Deus não quer dizer 
perder a própria e tomar-se autômato. Essa obediência é um estado de abandono em Deus, em 
absoluta confiança, como o filho nos braços da mãe. Mas, esse abandono é ativo e dinâmico, 
como o de quem vai atrás de um guia sábio e bom que o defende e lhe garante o êxito, desde 
que o seguidor queira obedecer com boa vontade, sinceridade e fidelidade. É o abandono do 
operário, consciente da sabedoria do patrão que manda, mas a quem, para sua própria 
vantagem, convém obedecer, acompanhando e colaborando. Ninguém pode negar as 
vantagens de trabalhar juntamente com Deus, apegado ao Todo-Poderoso. Esta é uma posição 
de vantagem que fornece a criatura poderes, os quais não pode atingir quem caminha sozinho, 
dirigido apenas pela sua própria vontade e inteligência. 
Se soubermos aprender esta arte de viver em harmonia com Deus, a nossa existência se 
deslocará do plano da injustiça e da força em que vive o homem, ao plano da justiça e da 
bondade em que tudo funciona com princípios diferentes. Trata-se de substituir o instinto de 
domínio do nosso eu individual, que vai até à revolta contra Deus, pelo desejo de concordar 
com a Sua vontade, num estado que, em vez de ser de separação, representada pela nossa 
debilidade, será, ao contrário, de união, que constitui a nossa fortaleza. Então, a vida se tornará 
outra coisa para nós. Ela não será jamais dirigida pelo princípio da força e do engano, que 
levam ao esmagamento e a desilusão, mas, será antes dirigida pelo princípio da justiça e da 
sinceridade, que reconhece o nosso direito a tudo de que necessitamos para viver, de acordo 
com o nosso merecimento. São dois princípios absolutamente diferentes. Cabe a nos, conforme 
os nossos pensamentos e conduta, pertencer a um ou outro desses dois planos, e por 
conseguinte ser regidos por princípios bem diferentes, muito menos duros e dolorosos no 
segundo caso. Este é um problema absolutamente individual, de escolha e resultados indivi-
duais, independente da maneira boa ou má como os querem resolver os outros. Não importa se 
o mundo não quer transformar-se, preferindo o contrário. Cada um pode transformar-se e 
salvar-se por sua conta. Cada um constrói o seu próprio destino. É lógico que Deus seja justo, e 
 
 11 
é justo que as conseqüências advindas do nosso comportamento sejam o efeito de causas 
engendradas por nós mesmos. De acordo com o mundo atual, as qualidades mais úteis para 
vencer são a força e a astúcia. Isso cria um estado de luta de todos contra todos, sem repouso. 
Esse contínuo estado de guerra é uma dura, mas merecida condenação, devida a psicologia de 
revolta que domina na Terra. Pelo contrário, naquele mais alto nível de vida, a qualidade mais 
útil é a boa vontade de obedecer a Deus e à Sua Lei, merecendo assim, conforme a justiça, a 
Sua ajuda. Acontece desse modo um fato incompreensível para a mentalidade do mundo: 
quando a merecemos, esta ajuda chega por si mesma, não nos pedindo coisa alguma sequer 
em troca. O resultado é maravilhoso e inacreditável para o nosso mundo: a nossa vida passa a 
ser garantida, e tudo é providenciado de maneira a não nos faltar nada. Mas, isso pode verificar-
se somente quando o tivermos merecido, cumprindo o nosso dever perante a Lei, vivendo 
conforme a vontade de Deus. 
Surge então uma coisa que o mundo não acredita seja possível: para chegar a possuir o 
de que precisamos e para alcançar sucesso não é necessário força ou astúcia. Basta tê-lo 
merecido, como a justiça o exige. Aqui não é o prepotente ou o astuto quem vence, mas o 
homem justo que cumpre o seu dever. Somos, num nível de vida mais evoluído, regidos por um 
princípio mais alto. Trata-se de um nível ao qual pertencem os indivíduos mais amadurecidos. 
O incrível é que vemos funciona nesse novo mundo a Divina Providência. Ela funciona de 
verdade, mas, é lógico, só para quem o merece. É lógico que ela não funcione para quem não o 
merece. Quando o tivermos merecido, podemos ter a certeza de que se verificará para nos 
esse milagre da Divina Providência, que nada nos deixará faltar do que precisarmos, seja para 
a alma, seja para o corpo. Em geral não se acredita que isto possa acontecer de verdade, 
porque de fato é muito raro que aconteça, porque é raro também que o mereçamos. O mundo 
está cheio de necessidades porque está cheio de cobiça. A causa da necessidade é a cobiça. 
Quem semeia insaciabilidade, tem de recolher fome; quem furta, tirando dos outros o que não 
ganhou honestamente com o seu trabalho, terá de viver na miséria, até que aprenda, à sua 
custa, a lição da honestidade. Para reconstituir o equilíbrio da Lei, surge a privação 
correspondente ao nosso abuso. Paga-se caro esse abuso, mas o mundo parece ignorar uma 
lei tão simples. Somos livres, mas responsáveis. E o seremos tanto mais, quanto mais 
possuirmos em riqueza e poderes, pelo bom ou mau uso que deles fizermos. Teremos sempre 
de prestar contas à Lei. A mesma Lei poderá tirar-nos tudo, deixando-nos na penúria se pelo 
mau uso de poder ou fortuna, o houvermos merecido. 
O próprio Sermão da Montanha, de Cristo, se baseia nesse princípio. Mas quem o toma a 
sério? É por isso que vemos tanta pobreza no mundo. Deus não criou a pobreza, mas foi o 
homem que a criou com a sua desobediência a Lei. Deus não ficou esperando até agora, para 
que o socialismo descobrisse o problema da justiça social. A Justiça da Lei, completa e perfeita, 
sempre funcionou. Quem tem olhos para ver, fica horrorizado, ao considerar, a leviandade do 
mundo, que está brincando com forças terríveis, condenando-se a sofrer as conseqüências. É 
assim que vemos tantas humilhações para os que foram orgulhosos, tanta necessidade onde 
houve desperdício no supérfluo, constrangimento à obediência onde houve poder demais e mau 
uso das posições de domínio. 
O mundo é ainda tão ingênuo que acredita que basta apossar-se de uma coisa, de 
qualquer maneira, para que tenha o direito de possuí-la. E não sabe que tudo o que possuirmos 
sem justiça por não o ter ganho com merecimento, e por não ter querido fazer dele bom uso - 
tudo isso é gasto, consumido, corroído interiormente por esta falta de justiça que mais cedo ou 
mais tarde não pode deixar de conduzir ao fracasso. A riqueza mal construída é coisa podre e 
envenenada, que não pode dar senão frutos da mesma natureza para quem a possui. Acabará, 
assim, numa traição, como é justo que aconteça. 
 
O nosso destino e a Vontade de Deus. 
 
 No fundo das coisas não existe o que aparece na sua superfície; ali reina de fato a justiça 
de Deus, não importando que o homem não queira dela tomar conhecimento. Ela fica 
 
 12 
funcionando da mesma forma. Possuir o mundo inteiro, quando esta posse estiver fora da 
justiça, não oferece segurança alguma. Acima de todos os poderes humanos existe esse poder 
maior, que é a justiça da Lei. Lembremo-nos de que a vida é uma força inteligente que só 
defende os que são úteis à sua conservação e desenvolvimento. 
A conclusão desta palestra é que a Divina Providência existe de verdade e funciona. Mas, 
para isso é necessário saber fazê-la funcionar, acionando as alavancas que a movimentam e às 
quais ela obedece. Veremos depois quais são estas alavancas. O fato é que ela funciona, a 
nosso favor, se o merecermos. Observei isso, controlando e experimentando, durante toda a 
minha vida, e sei que é verdade. O que tivermos merecido com as nossas obras, não é valor 
que fica espalhado ao acaso, aonde podem chegar os ladrões, mas está regular e 
ordenadamente guardado no banco do Céu, donde nada se pode furtar. Este é o único 
empregoverdadeiramente seguro dos nossos capitais. Esta é a maneira verdadeiramente 
inteligente de fazer negócios. A Divina Providência não é um milagre, mas lei natural de um 
plano de vida mais alto, em que vigora uma justiça que não atraiçoa. Ali não existe engano e 
não se pode enganar. Esta Providência é um princípio que pode funcionar para todos aqueles 
que se encontram na posição devida, de maneira a serem por Ela alcançados. Deus está 
presente para proteger a todos; mas, o benefício dessa proteção é natural e justo só o recebam 
aqueles que compreenderam a necessidade de obedecer à Sua Lei. 
 
 
IV 
 
EM HARMONIA COM A LEI 
 
 
Continuemos falando sobre a Divina Providência. Se soubermos olhar em profundidade, ou 
seja, além da superfície das coisas, veremos um mundo regido por leis diferentes das que 
vigoram em nosso mundo. Trata-se de substituir o espírito de egoísmo e de separatismo 
vigente, por um espírito de união com Deus e de colaboração com o próximo. Trata-se de nos 
colocarmos num estado de aceitação perante a Lei de Deus, ao invés de nos colocarmos num 
estado de imposição para com o próximo. É na aplicação desta nova lei, a do Evangelho, que 
consiste o segredo da felicidade e o caminho para fugir dos muitos sofrimentos que nos 
atormentam. 
Falamos de união com Deus, de obediência à Lei, de aceitação da vontade d'Ele. Surge 
agora a pergunta: como é possível chegar a compreender esta vontade de Deus a que 
devemos obedecer? Deus não tem boca, mas fala; não tem mãos, mas opera. Deus está 
presente, não há dúvida, mas não podemos percebê-Lo em forma material, na superfície das 
coisas, com os nossos sentidos. Deus esta presente, mas na profundeza de tudo o que existe. 
Há então dois caminhos para percebê-Lo: ou o da introspecção, olhando e penetrando dentro 
de nós por intermédio da meditação ou concentração, ou olhando os efeitos que, da 
profundidade onde está Deus, vêm até à superfície, revelando assim a natureza das coisas que 
os geram e movimentam. Pode-se assim chegar a compreender o pensamento de Deus, pelo 
menos no que diz respeito à nossa vida, quer afinando os sentidos no caminho da 
espiritualização, quer, para os que não conseguem olhar para dentro, olhando para fora, ou 
seja, observando o que vai acontecendo conosco e ao redor de nós. Não podemos negar que a 
primeira origem de tudo está na profundidade, e que Deus, embora não tenha mãos, opera. A 
nossa vida e o nosso destino não se desenrolam ao acaso, mas são dirigidos por Deus. Então, 
se os acontecimentos podem, até certo ponto, ser o efeito da nossa vontade, em grande parte 
exprimem também a vontade de Deus. As duas vontades se misturam, colaborando quando 
concordam, e em luta uma contra a outra quando são discrepantes. No primeiro caso, dizem a 
mesma coisa, e então é fácil conhecer a vontade de Deus. No segundo caso, dizem duas 
coisas diferentes. Mas, quando tivermos separado desse conjunto o que é efeito da nossa 
vontade, restará aquilo que nos vai revelar qual é a vontade de Deus a nosso respeito. 
 
 13 
Se observarmos a nossa vida, veremos que há fatos sobre os quais podemos exercer a 
nossa livre-escolha à vontade. Mas, veremos também que existem outros fatos acima da nossa 
vontade; são acontecimentos em relação aos quais não há escapatórias. Há uma parte da 
nossa vida regida como que por um destino, com características quase de fatalidade; há uma 
outra vontade, maior do que a nossa, à qual, queiramos ou não, temos de obedecer. Muitos 
acontecimentos parecem possuir uma vontade própria contra a qual não adianta rebelarmo-nos, 
nem deles fugir, apesar de o tentarmos por todos os meios. Na vida, há para todos uma parte 
livre, mas também existe uma parte em relação á qual vigora o princípio de aceitação. Aqui está 
a vontade de Deus, e o espírito da nossa desobediência não tem poder algum. Esta parte pode 
ser triste ou alegre, de satisfação ou de sofrimento, mas é sempre justa, obrigatória, imposta 
pela Lei. Em geral, esta é a conseqüência fatal do que livremente semeamos em nosso 
passado; fatal, não por um princípio de fatalismo que nos faria autômatos irresponsáveis, mas 
como efeito exato da nossa livre-vontade e do que ela quis realizar no terreno das causas, para 
que, conforme a Lei, tivesse de atuar no terreno dos efeitos. Aqui termina o domínio da nossa 
livre-escolha e vigora, em seu pleno poder, a Lei, que exige sempre obediência. 
Entramos aqui no domínio do destino, e vemos a maneira pela qual o construimos para nós 
mesmos. O que domina tudo e todos é sempre a Lei, ou seja, a Vontade de Deus. Disso não se 
pode escapar. Mais cedo ou mais tarde temos de obedecer. Os inteligentes procuram conhecer 
a Lei nos seus princípios gerais e a Vontade de Deus no caso particular das suas vidas. 
Aceitando o que eles sabem que e justo, evitam atritos, choques, revoltas que geram a dor. 
Este é o caminho direto, mais proveitoso, menos doloroso. Se cometeram erros, estão prontos 
a pagar, de boa vontade, conforme a Lei de Deus. O método da aceitação pacífica resolve o 
conflito entre a criatura e a Lei, de maneira mais rápida e tranqüila, qualquer que seja a pena 
que se deva pagar. 
Os que não possuem esta inteligência e boa vontade, os que estão ainda mergulhados na 
ignorância e na revolta, ao invés de aceitar, rebelam-se, aumentando assim as suas faltas, 
piorando a sua posição, amontoando novas dívidas por cima das antigas. Estão acostumados a 
usar o sistema próprio do plano de vida animal do homem na Terra, segundo o qual o mais forte 
é o que vale e vence. Mas, não sabem que esse plano de vida inferior encontra-se regido pelas 
leis dos planos superiores, que a violência só pode dar fruto na Terra e unicamente nesse baixo 
nível de vida é passível o domínio da injustiça. O que esse tipo de homem julga ser a lei de 
tudo, não é senão a lei do seu ambiente terrestre. O homem usa, assim, um método errado, o 
método da revolta, pensando que por seu intermédio consegue vencer, impondo-se, quando, na 
verdade está usando um método que serve apenas para fabricar a dor. 
Mas, é lógico e justo que assim seja, porque a dor é a única voz por ele compreendida, e 
não há outro caminho para guiar um indivíduo, que por natureza tende a ser livre, até 
compreender a existência da Lei. Rebelar-se é o maior erro que se possa cometer. Se a Lei do 
universo quer que o caminho para a felicidade seja o da obediência, é lícito ao homem construir 
para si quantos sofrimentos queira, porque isto lhe faz abrir os olhos e o obriga, para seu bem, 
a aprender. Mas não lhe é lícito destruir a Lei, pois nesse caso, se ele possuísse esse poder 
lançaria tudo no caos. Se Deus permitisse ao homem tanto poder, a ruína e o sofrimento 
humanos já não seriam apenas momentâneos e suscetíveis de reparação por intermédio da 
dura limpeza feita pela dor, mas seriam um fracasso definitivo, um mal irreparável, uma derrota 
de toda a obra de Deus, sem outra possibilidade de salvação. 
De certo, a ignorância e a rebeldia do homem almejariam chegar até àquele fim. Mas, a 
sabedoria e a bondade, de Deus o salvam de um tão grande desastre à força, para seu bem, 
constrangendo-o a que ele não se perca, obrigando-o a limpar-se, a corrigir-se, a aprender 
através da dor. Perante um quadro de lógica, bondade e justiça assim tão perfeitas, há ainda no 
mundo gente que, sem ter compreendido nada, quer julgar Deus como culpado dos sofrimentos 
que há no mundo. Procuram-se assim infelizes escapatórias, lançando-se a culpa em Deus ou 
em seus próprios semelhantes. Mas, é inútil. Tudo fica na mesma. Os erros têm de ser 
corrigidos, as dívidas têm de ser pagas, a lição tem de ser aprendida. Quando chega a dor, 
nunca queremos admitir que a culpa seja nossa, e não de outros. Perante a Lei, cada um se 
 
 14 
encontra sozinho e trabalha por sua conta. Cada um fica com o destino que quis construir para 
si mesmo. Rebelar-seé pior. O mais que pode fazer é resignar-se e corrigir-se, construindo 
para si, de agora em diante, um destino melhor, de convicta obediência a Deus, agradecendo-
Lhe pela dura lição que vai conduzi-lo à felicidade. 
Esta é a verdade mais importante que cada um precisa compreender: Deus é, em tudo e 
sempre, o dono absoluto e da Sua Lei não nos podemos evadir. Seja qual for a religião a que o 
homem pertença, seja o maior dos ateus, ele obedeceu, obedece e obedecerá sempre a Deus, 
no sentido de que não pode escapar da Sua Lei. Por exemplo: o fato de pertencermos a uma ou 
outra crença não nos isenta da dependência da lei da gravitação. O erro está em acreditar que 
estas verdades, das quais estamos falando, sejam particulares a este ou àquele grupo, religião 
ou filosofia humana, quando, de fato, são verdades que existem, continuam existindo e 
funcionando, mesmo quando o homem não as conheça ou não as queira admitir. Elas existem 
de maneira independente do conhecimento, da negação e mesmo da existência do homem. A 
conclusão é que todos obedecem a Deus: os crentes sabendo o que fazem, os descrentes sem 
o saberem; os bons, de boa vontade, de olhos abertos, por amor, sustentados pela justiça de 
Deus; os maus, de má vontade, nas trevas, revoltados, com raiva, esmagados pela mesma 
justiça de Deus. 
É bem estranha e primitiva esta maneira de conceber tudo em função de si mesmo, pela 
qual o homem se faz centro, finalidade única e também dono, se pudesse, da criação. Mas, em 
quantos erros e ilusões psicológicas ele incorre nessa primitiva maneira de conceber as coisas! 
E com quantas dores terá o homem de pagar a sua ignorância! Quantas vezes terá de bater a 
sua dura cabeça contra as paredes da Lei, até que compreenda quão inútil e dolorosa é a 
loucura da sua rebeldia, e quão grande é a vantagem de coordenar-se com a Lei, conforme a 
Vontade de Deus! 
Esta Vontade, saibamos ou não, queiramos ou não, é a atmosfera que todos respiramos, 
da qual não podemos sair, assim como respiramos o ar da atmosfera terrestre inevitavelmente. 
Os materialistas julgam que a ciência poderá impor-se à Lei de Deus, quando na verdade 
poderá apenas demonstrá-la. E, ao mesmo tempo em que eles estão trabalhando para construir 
um mundo sem a espiritualidade, a Lei rege a evolução da vida, e os dirige, impulsionando-os 
para construir um mundo baseado nessa espiritualidade. Construtores e destruidores, apesar de 
o fazerem de forma oposta, de fato todos colaboram dentro da mesma Lei, para realizar a 
mesma construção. Assim como a morte é necessária para gerar a vida, e colaborar com ela 
para constantemente renová-la, sem o que não seria possível a sua evolução, assim, os 
destruidores são necessários para realizar os mais baixos trabalhos de limpeza do terreno, 
sobre o qual de outra maneira não seria possível construir. Trata-se de um trabalho feio, 
desagradável, desairoso, mas necessário, que os construtores, de raça mais nobre, nunca 
fariam, nem poderiam fazê-lo, porque, depois de terminado, quem o executou tem de ser 
afastado para não prejudicar a nova construção. Eis, de fato, o que vemos acontecer nas revo-
luções, nas quais é raro constatar que quem as realizou tenha recolhido para si o fruto das suas 
lutas. 
Continuaremos nestas nossas conversas, observando quão profunda é a sabedoria da Lei 
e quão grande é a ignorância do homem a seu respeito. Concluímos a nossa conversa de hoje 
observando que, queiramos ou não, nos fatos concernentes a nós, afinal de contas, a nossa 
vontade e a Vontade de Deus trabalham juntas. Não que a boa vontade do homem tenha de 
colaborar, mas porque Deus permite que trabalhe também a nossa vontade, para a qual 
estabelece limites, efeitos e direção final. Podemos assim calcular quantas forças atuam 
entrelaçadas, a todo momento, em cada ato da nossa vida. Antes de tudo, está presente a 
nossa vontade passada, agora na forma dos seus efeitos que aparecem como fatais. Acima 
desses impulsos sobrepõe-se e opera a nossa vontade atual que tem o poder de corrigir, nos 
seus efeitos, aquela nossa vontade passada, iniciando novos caminhos ou endireitando os 
antigos. Mas, todo esse trabalho o homem não o cumpre sozinho, abandonado a si mesmo; 
antes, o executa ao longo dos trilhos de uma estrada já marcada pela Lei de Deus, que 
estabelece até onde o ser está livre para errar, o poder e a natureza das reações da Lei ao erro, 
 
 15 
a técnica da elaboração e assimilação de experiências e a meta final de todo o grande caminho 
da evolução. Estamos no começo das nossas explicações e já podemos vislumbrar quantas 
coisas contém a nossa vida de cada dia, mesmo nos seus impulsos e atos mais simples. 
 
 
 
V 
 
A INFABILIDADE DA LEI 
 
A função da dor e a sabedoria da Lei. 
 
 
Em nossos dois últimos capítulos falamos da Divina Providência e da Vontade de Deus. 
Dissemos tudo aquilo não para fazer teorias, mas porque se trata de forças que dirigem a nossa 
vida, e que devem ser levadas em consideração se não quisermos sofrer as conseqüências. 
Quem quiser viver com sabedoria, sem se lançar aos mais variados perigos, evitando 
sofrimentos, tem de compreender que há uma Lei, sempre presente, ativa, e que é muito 
arriscado não a respeitar. Se já tivéssemos aprendido todas as lições que a Lei contém, não 
cometeríamos mais erros, desaparecendo assim as reações, necessárias para nos reconduzir 
ao caminho certo da nossa libertação. Então, deveria desaparecer também a dor, dado que a 
sua presença no mundo seria absurda, porque uma vez aprendida a lição, ela não teria mais 
função alguma a preencher. Lembremos que a Lei é sempre boa e justa; se às vezes usa o 
chicote, é apenas porque, devido à nossa dura insensibilidade, não há outro meio para nos 
corrigir, conduzindo-nos assim para o nosso bem. 
Todos sabem, através da sua própria experiência, que a dor é ponto fundamental da nossa 
vida. É verdade, no entanto, que cada um, no fundo de sua alma, alimenta um sonho de 
felicidade. Mas, quando é que, para os poderosos como para os humildes, chega a realizar-se 
de fato o que mais ambicionam? Os desejos dos pobres e dos poderosos, na maioria dos 
casos, ficam insatisfeitos e acabam fracassando em desilusões. Todos correm atrás de 
miragens que nunca se realizam, e no final, tudo se apaga num engano. Encontra-se, 
porventura, no mundo alguém que esteja satisfeito? O que há de real para todos é o sofrimento. 
Por que tudo isso? Quem deu origem a essa condenação? Estamos cheios de desejos de 
felicidade, e apenas encontramos sofrimentos! Que maldade! E quando procuramos uma causa 
para tudo isso, pensamos logo em alguém para sobre ele lançar a culpa de tanta crueldade. 
Culpa-se, então, Deus por ter feito obra errada ou o próximo que deveria comportar-se de outra 
maneira. Mas, isso nada resolve, porque Deus permanece inatingível e o próximo sabe 
defender-se. Também a dor não desaparece; pelo contrário, toma-se mais dura na revolta 
contra Deus e na contínua luta de todos contra todos. 
Continuamos, assim, todos mergulhados no mesmo pântano: ricos e pobres, cultos e 
ignorantes, poderosos e fracos. Alguns que se julgam mais astutos, procuram emergir do 
Pântano, amontoando riquezas, enganos e crimes, pisando os outros, para atingir a felicidade. 
Mas, esta é instável, porque falsa, disputada contra mil rivais ciosos, roída por dentro pela na-
tural insaciabilidade da alma humana. E, mais cedo ou mais tarde, na luta de todos contra 
todos, também os poucos que emergem, acabam afundando-se e desaparecem, tragados pelo 
pântano comum. Que jogo torpe é a vida! Esta seria a conclusão. 
Se tivermos nas mãos u'a maquina maravilhosa, mas, pela nossa ignorância da técnica do 
seu funcionamento, somente conseguirmos que ela produza péssimos resultados, dando-nos 
apenas atribulações em vez de satisfação, que providências aconselharíamos para resolver o 
caso? As máquinashumanas, se mal usadas, por estarem em mãos inábeis e portanto des-
truidoras, estragam-se e deixam de funcionar. Mas, existe uma tão perfeita que o homem não 
conseguiu estragar ou impedir seu funcionamento. Acontece por vezes que, pelo mau uso da 
máquina, não é ela que sofre, mas o mau operário, que não soube fazê-la funcionar. Assim é 
 
 16 
que surge a dor, e então há um só remédio: o de aprender a técnica do funcionamento da 
máquina; a fim de fazê-la trabalhar bem, para nossa vantagem, e não mal, para nosso dano. 
Esta máquina representa a Lei de Deus. Ela é também boa educadora. Qual o papel do 
educador? Seu único objetivo é o bem dos alunos, e nós somos os alunos da Lei de Deus. O 
educador não deseja vinganças, punições, sofrimentos, porque ama os seus alunos. Se estes 
tivessem boa vontade para ouvir e fossem bastante inteligentes, para compreender, bastaria a 
explicação das grandes vantagens da obediência. Mas, os alunos são rebeldes, não querem 
aceitar regras de vida que não sejam as que saem das suas próprias cabeças; e, se têm 
inteligência, querem usá-la só para revoltar-se contra a Lei. Então que pode fazer o educador? 
O fato é que os alunos não querem ser educados mas, antes, destruir o educador. Eles 
quereriam estabelecer uma república independente dentro dum Estado, uma outra máquina fun-
cionando às avessas contra a máquina maior que a hospeda. É um caso parecido com o do 
câncer, que representa uma tentativa de construção orgânica em sentido destruidor, com 
multiplicação celular em forma não-vital, mas parasitária da vida. 
Então, para o educador não há outra escolha De duas, uma: para agradar, poderia não 
reagir, como quereríamos nós os alunos, e como acontece no caso do câncer com os 
organismos fracos que não sabem defender-se. Mas, neste caso, depois de ter destruído tudo, 
também as células destruidoras do câncer, por sua vez, hão de morrer. Ora, o educador sábio 
não pode permitir isto. O que lhe resta é reagir, impondo disciplina. Isto é duro, porém não há 
outro caminho. Esta tentativa de construir u'a máquina às avessas dentro da máquina regular, 
ou uma república inimiga dentro de um Estado organizado, ou um câncer dentro de um 
organismo sadio, ameaça a função de bem que o educador, custe o que custar, há de cumprir. 
E ele pode fazer tudo, menos renunciar a esta sua função, porque dela depende o que para ele 
é mais importante: o bem dos alunos. Então, se ele quer verdadeiramente bem a estes, O que 
pode fazer senão usar de disciplina e ensinar por esse método, já que os outros, mais 
benignos, não deram resultado? Também as células do câncer quereriam viver. Mas somos 
nós, porventura, cruéis quando as afastamos cortando o tumor? Também os criminosos 
quereriam gozar a vida à sua maneira, e poderemos nós considerar-nos ruins quando, em 
defesa da sociedade, os isolamos nas prisões? 
A rebeldia do homem é uma espada que ele usa contra si mesmo. A Lei impede, 
entretanto, sua destruição. Ele quereria perder-se e a Lei quer levá-lo à salvação Deus perdoa 
porque sabe que o homem é um menino carente de ajuda; na sua inconsciência está 
procurando só o seu dano. Mas, Deus não pode permitir que esse dano se realize. Ele quer so-
mente o nosso bem. A lição tem de ser aprendida. Disto não há que fugir, porque de outra 
maneira seria desmoronado o plano de Deus, e nós involuiriamos ao invés de evoluirmos. 
Cientifiquemo-nos destes pontos: o progresso tem de se realizar, por isso a lição tem de ser 
aprendida; o homem é o mesmo, não restando para o educador outro método senão o da dor. A 
prova desta verdade é encontrada no mundo: para os educadores e suas leis vemos acontecer 
o mesmo que acontece com Deus e a Sua Lei. Assim, Ele tem de salvar à força os rebeldes 
inconscientes. 
O chicote é duro. A dor existe. Entretanto, ela não foi criada por nossa imaginação. É fato 
positivo que todos conhecemos. Penetra por todas as portas, sem sequer pedir licença. Não 
adianta ser rico, inteligente, poderoso. Ela sabe, toma todas as formas, adaptando-se a cada 
situação. Há dores feitas sob medida para os pobres, os ignorantes, os fracos, como para os 
ricos, os homens cultos, os poderosos. Os deserdados estão cheios de inveja dos que se 
encontram acima deles, e não sabem que acima das suas dores encontram-se, às vezes, dores 
maiores. Será que nas mais altas camadas sociais desaparecem os defeitos humanos? E se 
não desaparecem, como pode não funcionar a salvadora reação da Lei? Esta não pode 
abandonar ninguém, tampouco os que o mundo mais inveja, por terem subido mais alto na 
Terra; não pode, porque sendo o poder deles maior, maior é a sua responsabilidade, e, por 
conseguinte, maior a reação da Lei. Deus pode perdoar muito mais facilmente a um pobrezinho 
ignorante e fraco do que àqueles que possuem recursos, conhecimento e posição de domínio. 
Aos que mais conseguem materialmente subir na vida, estão muitas vezes destinadas provas 
 
 17 
mais difíceis e dores maiores. Mas a Lei é justa e não pode deixar ninguém fora do caminho da 
redenção. É justo e lógico que a riqueza, o poder, a glória e coisas semelhantes pelas quais o 
homem primitivo tanto luta, sejam apenas miragens que acabam na desilusão. A última 
realidade da vida continua sendo sempre a insaciabilidade do desejo e o sofrimento. 
Em que impasse nos encontramos, meus amigos, pelo fato de possuirmos um desejo louco 
de felicidade e termos de viver numa realidade de insatisfação e de dor! Estamos presos neste 
contraste. Almejamos o que nunca poderá realizar-se: a satisfação completa. Mas, como se 
pode satisfazer completamente a insaciabilidade? Como pode assim resolver-se para nós este 
desejo de felicidade senão numa ilusão? Parece que a felicidade está atrás dum horizonte e 
que basta atingido para encontrá-la. Mas quando, com o nosso esforço, o tivermos atingido, 
descobrimos outro horizonte e pensamos que a felicidade está atrás deste último. A corrida 
continua assim, sem fim, atrás de uma miragem que se afasta à medida que avançamos. Mas, 
ninguém se pergunta o que quer dizer este jogo estranho, de querer encher um vazio que não 
se pode encher, de procurar atingir uma determinada meta que vai fugindo de nós à medida 
que nos aproximamos dela. Queremos sempre mais. Quem não possui, quer possuir; quem 
possui, quer possuir mais, seja isto riqueza; conhecimento, glória, poder etc. De fato, é o que 
vemos acontecer no mundo. O desgosto de quem não possui é a carência. A pena de quem 
possui é não possuir bastante ou o medo de perder o que já possui. Qualquer que seja a nossa 
posição, tudo tende a resolver-se no sofrimento da insatisfação. 
Mas, como é possível que a Lei, dando prova de tanta sabedoria no funcionamento do 
universo, possa fazer, sem objetivo algum, um jogo tão cruel o de nos condenar a essa corrida 
que não acaba e que parece sem sentido? E se há um sentido, qual é? Não estamos fazendo 
teorias, mas apenas procurando compreender o que vemos acontecer em nosso mundo, a toda 
hora. Pensemos um pouco. Pode o objetivo último da vida ser o de continuarmos satisfeitos 
com as comodidades materiais deste mundo? Ou tem de ser o de conquistar formas de 
existência em planos sempre mais elevados, progredindo e aperfeiçoando-nos sempre mais? 
Se não houvesse a insaciabilidade, tudo ficaria parado na satisfação atingida, estagnado, inerte, 
num estado em que tudo acabaria apodrecendo. Se fosse assim, quem nos impulsionaria para 
a frente? Dessa maneira, deixaria de haver o movimento mais importante, que constitui a razão 
da existência, isto é, o deslocamento no sentido da perfeição, progredindo por meio de contínuo 
aperfeiçoamento. É preciso compreender que este é o escopo da vida: a busca da própria 
evolução. A evolução, com essa corrida que parece sem sentido, é indispensável para 
ascender; a ascensão é necessária para chegar à salvação, porque não há outro caminho paranos libertarmos do mal e atingirmos a verdadeira felicidade. 
A mesma coisa se pode dizer a respeito da dor. A nossa vida baseia-se nesta dura 
condenação que parece de uma crueldade sem sentido. Por que isso? O mundo ocidental 
aceita a idéia de que a paixão de Cristo foi um meio de redenção. Que quer dizer isto? Em 
todas as religiões do mundo existe o conceito de que o sofrimento é útil, que saber sofrer é vir-
tude que constitui mérito. A razão deste fato é sempre a mesma: a dor existe porque é um meio 
para progredir; nele se baseia a evolução, tendo exatamente a maravilhosa função de destruir a 
dor. Se a dor, que todos percebem e tantas coisas ensina, é meio de evolução, a evolução é 
meio de salvação Tudo o que é maceração, seja dor, trabalho para criar, esforço para subir, é 
meio de salvação. É grande erro querer parar o progresso que nos leva para Deus. 
O quadro aqui apresentado parece duro, mas não contém enganos; é justo, lógico e 
verdadeiro. A conclusão não é a tristeza, nem o pessimismo. A porta para a felicidade não fica 
fechada, mas bem aberta para todos os honestos, todos os de boa vontade. Não estamos aqui 
para destruir, mas para construir. Se destruirmos alguma coisa é só no terreno das ilusões, para 
construirmos no terreno sólido da verdade. 
 
 
VI 
 
A JUSTIÇA DA LEI 
 
 18 
 
O homem em busca de felicidade e a disciplina da Lei. 
 
 
Temos falado da Divina Providência, da vontade de Deus, das desilusões e dos sofrimentos 
da vida, num quadro único em que cada coisa esta conexa a outra, e todos os fatos e 
problemas estão ligados entre si, revelando-nos cada vez mais a unidade do pensamento 
diretor central, a sabedoria e a bondade de Deus. Mas o assunto é vasto e aparecem sempre 
novos aspectos a contemplar, surgem novos problemas a resolver e novas perguntas a 
responder. Um problema leva a outro, cada resposta provoca outra pergunta. Iremos assim 
avançando de maneira a compreender cada vez melhor qual é o grande plano com que Deus 
dirige a nossa vida e como dirige a existência do universo. Nesta viagem teremos de ir ainda 
mais longe que às mais magnificentes e longínquas estrelas, porque elas estão fechadas nas 
dimensões do espaço e do tempo, enquanto o pensamento pertence às dimensões espirituais 
superiores. 
Mas, continuemos a desenvolver o nosso assunto atual. Vimos em que impasse nos 
encontramos na vida. E verificamos isto apenas num rápido esboço de explicação. Temos de 
compreender melhor como funciona este jogo que parece tão cruel e sem sentido; enfim, 
compreender as suas causas e finalidades. O embaraço é este: parece impossível atingir na 
terra a felicidade, apesar de ser o que todos mais almejam. A crueldade do jogo está neste fato: 
ter absoluta necessidade de uma coisa que nunca se. chega a possuir. Por que somos 
condenados a esta traição? 
Todos procuram a felicidade. Quanto mais é primitivo e ignorante o ser, tanto mais acredita 
na ilusão e que seja possível encontrá-la na Terra. Mas, ao mesmo tempo, ele tem de 
compreender que uma felicidade, ao ser atingida, não é mais felicidade. O homem se acostuma 
a tudo e tudo perde o valor com o hábito. A satisfação habitual de todos os desejos acaba no 
enfado. Tudo vale e satisfaz enquanto e luta de conquista, esforço para realizar. Se após atin-
gida a primeira meta, não surgisse outro desejo para alcançar resultados maiores, e com isso, 
um novo esforço, tudo acabaria no tédio. Se nós recebermos tudo de graça, sem ter dado, para 
ganhá-lo, prova do nosso valor, e sem ter assim um verdadeiro direito a posse, tudo acabaria 
anulado no vazio produzido pela sensação de nossa inutilidade. Na justiça da Lei está escrito 
que desfrutaremos de uma satisfação em proporção à necessidade que ela vai compensar, e ao 
esforço que fizermos para atingi-la. É agradável comer quando temos fome, beber quando 
estamos com sede e possuir as coisas de que necessitamos e pelas quais lutamos. Mas, quem 
tem e sempre teve de tudo, de tudo está farto e cansado. Isto chega até a destruir o desejo de 
viver e é justo que seja assim, porque se trata de uma vida inútil. Desse modo, os mais 
desafortunados são os que nasceram demasiadamente ricos, sem terem conhecido 
necessidades ou feito esforços para aprender alguma coisa ou procurá-la; são os que não têm 
nada a desejar. 
Assim, nós mesmos somos constituídos de maneira que não nos é possível aprender e 
progredir, sem desejar, lutar e sofrer. E como somos, queremos permanecer o mais possível 
apegados à vida, dentro dessa dura escola, de modo que seja feito, até no último dia, todo o 
esforço para aprender a lição que nos é indispensável para ascender. Esta é a mecânica íntima 
do jogo da nossa vida. Este é o método sábio e maravilhoso que a Lei de Deus usa para im-
pulsionar no sentido do Alto, sem constrangimento, um ser que tem de manter-se livre, porque 
se não o fosse, não poderia depois ser julgado responsável e levado a aceitar as 
conseqüências dos próprios atos. Nesta Lei manifesta-se também uma vontade absoluta de que 
a evolução se cumpra, e isto para o bem da criatura, porque a evolução é a senda da felicidade. 
Mas a criatura não pode ser escravizada por Deus, que apesar de Todo-Poderoso, não é 
escravista. Então, que faz a Lei para que seja possível atingir seu objetivo absoluto sem ter de 
empregar a coação? A Lei cerca a criatura de paredes invisíveis, dentro das quais ela fica presa 
como um pássaro na gaiola, paredes contra as quais ela irá bater com a cabeça e machucar-se, 
até reconhecer a existência dessas paredes e perceber que ir contra elas é loucura que não 
 
 19 
pode gerar senão dor. 
Assim, vai-se aprendendo cada vez mais a arte do sábio comportamento, em disciplina, 
ordem e obediência à Lei, até que a criatura não vá mais bater contra as duras paredes dessa 
Lei, livrando-se, assim, do choque da desilusão e do sofrimento. Isto porque a gaiola é prisão 
apertada só para o ser que não sabe andar dentro dela e nela movimentar-se com inteligência; 
mas, é palácio maravilhoso para quem o souber e já tenha batido muitas vezes contra aquelas 
paredes, de maneira a não provocar mais, com os seus movimentos errados, a reação que se 
chama dor. A Lei é realmente um palácio maravilhoso para os que aprenderam a conhecer a 
disposição dos seus apartamentos e instalações, a localizar as portas e as janelas, as quais 
permitem toda a liberdade, desde que os movimentos sejam inteligentemente ordenados. A Lei 
é palácio maravilhoso, repetimos, para ali morar a nossa alma, com tanto maior satisfação 
quanto mais se aprenderam as regras do sábio comportamento, e com tanto maior sofrimento 
quanto menos se conhecem estas regras. É um palácio feito de andares sobrepostos, que se 
apoiam uns por cima dos outros, em perfeita lógica, com passagens e escadas dos inferiores 
aos superiores. É um palácio em que as paredes falam e raciocinam, em que o mobiliário e as 
demais comodidades crescem em beleza à medida que se sobe para os andares superiores. 
Ainda mais, é u'a máquina que obedece quando sabemos apertar os botões que a 
movimentam. A Lei torna-se assim um extraordinário veículo para quem tiver desenvolvido a 
inteligência necessária ao seu controle, um veículo de sabedoria, de poder e de felicidade. Mas, 
o homem atual ainda não possui essa inteligência, de maneira que, para ele, a maquina 
funciona muito mal, produzindo apenas atritos, choques e sofrimentos. 
Este estudo da estrutura da Lei, que, queiramos ou não, é a nossa casa, dentro da qual 
temos de morar, leva-nos a uma conseqüência importante: ensina-nos o caminho para viver 
bem, fugindo à dor. Como vimos, na lógica da Lei, o sofrimento é tanto maior quanto mais se 
desce aos andares inferiores do palácio, até que nos seus subterrâneos encontram-se as 
cadeias torturantes a que se costuma chamar inferno; e tanto menor à medida que se sobe para 
os andares

Continue navegando