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Serviço Social em Equipe Multidisciplinar - Livro Texto II

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Unidade II
5 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS NOVAS MODALIDADES DE 
SUBORDINAÇÃO DO TRABALHO
Como já informado, com o grande crescimento da industrialização e a formação das cidades, as 
pessoas que moravam em regiões rurais ou não industrializadas vinham para esses centros em busca de 
oportunidade de trabalho, visando ao melhoramento de sua qualidade de vida e de sua família.
As cidades não tinham estrutura para recebê-los, e as indústrias não tinham vagas de emprego para 
todos, pontos que intensificavam o número de desempregados e os problemas sociais, inquietações/
movimentos populares, de forma que a burguesia e o Estado se sentiram ameaçados pela sociedade que 
presenciava tais injustiças sociais.
O Estado, em resposta a essa realidade, atuava de forma paliativa, caritativa, conjuntamente com 
a Igreja Católica, com o objetivo de “acalmar as inquietações” dos trabalhadores, sem ações eficientes, 
efetivas e eficazes.
O Serviço Social surge dessa benemerência e dessa caridade atrelada às instituições religiosas, 
representadas, principalmente, pela Igreja Católica, cujas atuações eram de caráter assistencialista, sem 
embasamento teórico e metodológico, sem reflexão crítica sobre as possibilidades interventivas. Assim, 
as ações supriam os interesses da Igreja, do Estado e da burguesia.
Tal meio de colocar em prática a profissão foi denso desde seu surgimento formal (década de 1930) 
até o movimento de reconceituação (década de 1960), podendo ser caracterizado como a “esquerda 
profissional”, pois um grupo de técnicos sociais começou a questionar as intervenções dos assistentes 
sociais, e, assim, iniciou-se uma crítica à profissão. O movimento foi de suma importância para que a 
categoria profissional se distanciasse das ações caritativas sem o empoderamento técnico, apropriada 
de embasamentos teórico-metodológicos, com senso crítico.
O assistente social tem como foco de sua intervenção os reflexos da questão social, pois, com o 
conflito existente entre capital e trabalho, intensificam-se as problemáticas sociais.
Atualmente ainda vivenciamos o movimento de reconceituação, pois é preciso, de forma contínua, 
acompanhar as transformações societárias e, com isso, reconsiderar e repensar a profissão com a mesma 
dinamicidade que ocorre na sociedade.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a possibilidade do trabalho do assistente social 
não só ganhou embasamento, mas também os mínimos sociais foram reconhecidos pelo Estado como 
direitos sociais, incluindo a moradia: 
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Serviço Social em equipe multidiSciplinar
Art. 6º – São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade 
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição 
(BRASIL, 1988).
Nessa perspectiva de garantia de direitos, o Estado responde às demandas sociais com as políticas 
sociais, campo de atuação do assistente social que realiza a mediação de interesses de tais atores: 
Estado, sociedade e mercado. Nesse sentido, trazer para o campo das práticas as legislações é pensar 
na totalidade existente no cotidiano do indivíduo. Por esse motivo, utilizamos o item seguinte para 
representar as legislações, como a construção e as ideologias no território, pois não há uma consonância 
entre as áreas e as necessidades. 
A fragmentação do espaço urbano, o contínuo crescimento e adensamento 
da periferia e o aprofundamento da segregação e exclusão socioterritorial 
são as principais características do processo de urbanização brasileiro. Esse 
processo possui íntima relação com o mercado imobiliário formal e informal, 
cuja dinâmica privatiza a renda fundiária gerada coletivamente e ocasiona 
a formação de núcleos que não se articulam com a malha urbana existente, 
produzindo enormes áreas vazias no interior do espaço urbano (BRASIL, 
2004, p. 20).
Os interesses humanos são diversos, pois somos únicos e com construções diferenciadas; porém, 
como técnicos, temos de entender para quem trabalhamos e o que queremos com nossas intervenções. 
As cidades não dispõem de áreas suficientemente capazes para atender à demanda de acordo com as 
necessidades dos sujeitos.
Nesse sentido, como forma de proteção, os sujeitos vulnerabilizados, por exemplo, utilizam áreas 
inapropriadas para a manutenção da vida, não podendo ser entendidos como oportunistas, mas como 
pessoas que não tiveram acesso aos itens essenciais para sua vida.
Os limites estruturais do mercado de moradias para oferta de habitações 
em número suficiente, com qualidade e localização adequadas, sob os 
aspectos ambiental e social, combinados com a ausência de políticas 
públicas que tenham como objetivo ampliar o acesso à terra urbanizada, 
têm levado um contingente expressivo da população brasileira a viver em 
assentamentos precários marcados pela inadequação de suas habitações e 
pela irregularidade no acesso à terra, comprometendo a qualidade de vida 
da população e provocando a degradação ambiental e territorial de parte 
substantiva das cidades (BRASIL, 2004, p. 21).
Pensar na efetivação dos direitos é refletir as diferenças cotidianas e as necessidades individuais, ou 
seja, a “legal, real e ideal”, como diz Vera Telles (2006), pois a primeira indica os interesses do Estado, 
que, por vezes, possui legislações desconexas com a realidade, ou seja, onde se vive, a necessidade dos 
sujeitos; e nós, técnicos, temos o entendimento da cidade que seria ideal, com habitações de acordo 
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com as características do cidadão, respeitando-o em sua totalidade, com moradias horizontalizadas, 
próximas aos serviços públicos e privados.
O assistente social, com sua formação, tem conhecimento técnico e crítico para compreender o 
indivíduo, a localidade onde mora e para onde será inserido, se necessário, de forma singular, utilizando 
desses saberes para minimizar os traumas e rompimentos de sua história, preparando-o para a 
transformação de sua vida social.
5.1 Reestruturação do capital, fragmentação do trabalho e Serviço Social
Em abril de 1993, foi realizado, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o fórum 
de debates “O uno e o múltiplo nas relações entre as áreas do saber”, em que foi adotada metodologia 
favorável ao exercício crítico da reflexão, caminhando para níveis operacionais. Os temas foram 
debatidos por filósofos, historiadores, psicólogos, assistentes sociais e educadores, permitindo um 
debate transdisciplinar.
Unidade e multiplicidade confrontam-se historicamente em um campo tensional e, dentro 
das diferentes áreas do conhecimento, assiste-se à multiplicação de perspectivas e ao confronto de 
abordagens. Um mesmo fenômeno pode ser compreendido com metodologias variadas quando abordado 
por particulares formas de integração de informações/conhecimento de várias áreas distintas.
Importante e também desafiadora é a manutenção das significações originárias, não no sentido da 
perspectiva da unidade integral ou na simples somatória, mas sim no sentido transcodificado.
Monismo epistemológico é aqui compreendido por uma unidade do conhecimento humano, ou 
seja, todo conhecimento humano deve pautar-se por um mesmo modelo. Alguns pensadores, filósofos 
e cientistas insistem no monismo. Outros, ao contrário, preferem crer que cada área do conhecimento 
humano, tendo um objeto próprio, uma metodologiaprópria, não pode transferir a metodologia 
de um campo para o outro, dando o nome de pluralismo epistemológico. Vejamos dois pensadores 
representativos de cada corrente:
• Descartes, como representante do monismo epistemológico: deve-se ter um mesmo tipo de 
certeza, a do tipo matemático, a demonstração que não deixa dúvida.
• Aristóteles, como representante do pluralismo epistemológico: tem-se a segmentação do 
conhecimento e a não transferência de metodologias propugnada, cada segmento tendo um 
grau de certeza que lhe é próprio.
Atualmente, as tendências globalizantes parecem esconder certo desrespeito às especificidades de 
áreas do saber; o conhecimento humano se constrói e se manifesta em um coeficiente de poder que 
atravessa a sociedade, em razão de representações valorativas.
A atividade do conhecer é, ao mesmo tempo, qualificada para a superação do enviesamento 
ideológico que ela traz em si, quer pela crítica, quer pela denúncia, tornando-se arma contra o poder. 
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Nessa complexidade, o saber só pode exercer-se interdisciplinarmente, e o conhecimento só adquire 
sentido no cenário culturalmente mais amplo.
A unidade e a multiplicidade compõem um movimento único, sendo a multiplicidade desterritorializante, 
e a unidade, conservação; o sentido que a relação uno/múltiplo nas áreas do saber e do poder toma é 
determinada pelas relações que sustentam certa forma de vida e sobrevivência humana. Geralmente, o 
tema pós-moderno é visto sob o estigma do irracionalismo, que está intensamente presente no mundo 
contemporâneo, em comportamentos, em práticas de vivências sociais ou em práticas políticas.
Esse irracionalismo tem até interferência no saber, mas não significa irracionalidade da ciência. Ela 
hoje trabalha também com referências externas à tradição científica, por exemplo, provenientes da 
tradição oriental do taoismo. Nada disso implica irracionalismo, e, em tal sentido, a ciência nunca é 
irracional.
A questão contemporânea em relação à multiplicidade pode ser assim entendida: em termos 
conceituais, o múltiplo não significa simplesmente multiplicação indefinida; a multiplicidade irá valorizar 
o que se passa “entre” o que se elabora, não na continuidade e totalidade (isto é, de acordo com um 
ponto de vista), mas “transversalmente”, na associação de signos heteróclitos, o que não implica simples 
elogio da fragmentação, uma vez que esta pode postular uma realidade que já existe (e se apresenta 
fragmentariamente) ou um conjunto que ainda virá a existir, retirando a violência dos fragmentos e suas 
relações diferentes e impossíveis de serem reduzidas à unidade.
Unidade e multiplicidade são, assim, componentes de um único movimento que procura dar conta 
das coisas no momento presente – e para isso não há uma linguagem adequada.
No campo educacional, apesar das experimentações e iniciativas teóricas e técnicas de 
organização de sistemas, ainda é mantida acentuada distância entre discursos modernizantes e 
práticas modernizadoras. Continua valendo o pressuposto de que a educação objetiva a realização 
de um programa que reunifique a experiência por exigência do dever, da formação e necessidade do 
cumprimento de objetivos e produção de ações, com o mínimo de consenso. Os educadores sabem que 
hoje a prática pedagógica exige a coexistência de múltiplas referências teóricas. Assim, é impossível 
ignorar as transformações.
Foi criada, na civilização ocidental, uma oposição entre o uno e o múltiplo. O movimento da 
identidade, no decorrer da vida, é constituído pela combinação de igualdade e de diferença em relação 
a si e aos outros. Sempre estamos recompondo as identidades.
O embate entre ter condições de agir como unidade na multidisciplinaridade redunda na exclusão 
do diverso ou nessa multidisciplinaridade, que redunda na aceitação das diferenças. Atualmente, 
há um movimento para reconhecer essa multidisciplinaridade entre os homens, mas também há 
um movimento para recompor a uniformização. A meta é o reconhecimento e a incorporação das 
diferenças sociais e o estímulo de uma nova forma de troca entre os saberes socialmente construídos 
e transformados.
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A ação profissional é perpassada e regulada pelos instituídos sociais, que acabam homogeneizando 
o que é heterogêneo, sem crítica e sem a liberdade das alternativas que poderiam ser possíveis. No 
âmbito do Serviço Social, da Filosofia, da História, da Antropologia e em outros domínios das ciências 
sociais, uma questão que vem preocupando é o uno e o múltiplo nas áreas do saber. Procura-se, em seus 
espaços específicos de atuação, discutir e formular modos de lidar com a complexidade e a pluralidade 
do social, questionando abordagens generalizantes e homogeneizadoras.
Essas abordagens tendem a ignorar e desqualificar as diferenças e tensões que permeiam o fazer-se 
social como anomalias ou disfunções a serem extirpadas, controladas ou superadas, pois trazem em seu 
bojo noções de ciências objetivas, de teoria perfeita, totalizada com estatuto de verdade.
Nos vínculos da história entre saber e regimes de poder, podemos exemplificar as práticas jurídicas 
e judiciárias, as quais são definidoras de modos de determinação da verdade e modelares em relação a 
outras esferas da ação humana, dos saberes à política e à ação no dia a dia.
No debate pós-moderno, quanto à questão da unidade e da multiplicidade, considera-se que o 
múltiplo não é só a justaposição de elementos, pois é preciso considerar as relações desses elementos. 
O conhecimento é resultante de uma tensão de forças múltiplas e heterogêneas de uma práxis em 
perspectiva não consensual e não totalizante.
Na realidade brasileira, significativas mudanças sociais e políticas, nesses últimos vinte ou trinta anos, 
forjaram lutas diferenciadas e multidirecionadas em várias dimensões do social, adquirindo visibilidade 
política, com a emergência de novos sujeitos populares na cena histórica. Criaram-se, assim, novos 
espaços políticos; emergiram práticas disciplinadoras e ideias homogeneizadoras do social no mundo 
capitalista, no que diz respeito à construção de uma organização social de natureza produtiva, ou seja, 
para o trabalho, e, no plano social, a quanto se desenvolve uma forma de sociabilidade política capaz de 
destruir a ideia de ação coletiva que determine o curso da sociedade.
Nessas sociedades capitalistas, esse mecanismo engendra-se apoiado em práticas e discursos técnicos, 
profissionais, da mídia e dos políticos; promove a construção de um imaginário coletivo na mesma 
medida e com igual interesse em um projeto social e político para todos os cidadãos, com o discurso do 
avanço para o progresso. O destaque da sociedade e o poder político são expressões dessas articulações 
e facilitam a representação do Estado como universalidade, tomando para si o papel regulador dos 
conflitos e ordenador do espaço social por meio da lei e da prestação dos serviços públicos.
O Estado, em sua complexidade, centraliza e personifica, nesse processo, as funções decisórias da 
nação, não podendo aparecer como sociais ou coletivas, mas tão somente como privadas. O “povo”, nesse 
panorama, apresenta-se sob uma concepção neutra, envolvendo, ao mesmo tempo, indiferenciadamente, 
todos os cidadãos, com seus mais variados interesses, mas destituídos de poder diante de um Estado que 
assume, em suas mãos, os destinos da nação.
Outra dimensão desse mecanismo é a concepção de sujeito individual, com uma identidade singular 
e privada do “eu” produzido por saberes que se engendram ese articulam nessas sociedades. Em sua 
constituição, esse sujeito traz duas marcas:
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• a individualização como o centro do qual partem as ações livres e responsáveis;
• o sujeito como consciência individual soberana da qual irradiam ideias e representações postas 
como objetos domináveis pelo intelecto.
Como oposição a essa concepção de sujeito individual, Marilena Chauí (1980) refere-se aos 
movimentos sociais como novos sujeitos. Esses movimentos são considerados como expressão de 
indivíduos que passam a definir-se e a reconhecer-se mutuamente como sujeitos que aparecem como 
reposição do conceito de reabertura do espaço político retraído pela sociedade capitalista.
Os sujeitos como individuais acabam por ser desresponsabilizados de sua importância no 
encaminhamento da vida pública e da orientação dos destinos sociais, deixando essa responsabilidade 
unicamente para o Estado.
Nós, como trabalhadores intelectuais, preocupamo-nos com a construção de caminhos mais 
democráticos, não sendo possível desprezar propostas de democratização que nasçam do próprio 
conhecimento, incorporando sujeitos sociais que anteriormente foram excluídos das explicações 
históricas.
Também não devemos perder de vista as condições históricas em que os saberes se forjaram, além 
do seu significado político de emergir e sua propagação como saber. Devemos seguir na direção de um 
novo direito, de uma forma de sociabilidade que incorpore a ação coletiva. O conhecimento histórico 
deve ser pensado e trabalhado como um saber em permanente construção e articulado às próprias 
transformações da sociedade, mediadas por interesses e valores.
A partir do momento em que valorizamos a especialização, acabamos por favorecer métodos, categorias e 
critérios determinados e a prejudicar explicações de mecanismos mais amplos, confinando-nos aos limites da 
especialização. Abrindo espaços para uma investigação nas áreas do conhecimento, para o reconhecimento e 
a incorporação das diferenças sociais, estimulamos um novo tipo de diálogo entre as áreas, para construir os 
caminhos da investigação em colaboração mútua.
Vamos dialogar sobre critérios e referenciais de análise em torno de temáticas de interesse comum. 
Assim, iremos formulando esses referenciais em conjunto, a despeito da variedade de objetivos que são 
únicos para cada área. Por isso, trata-se de um aprendizado que exige tolerância, respeito e flexibilidade.
A ruptura com o princípio da permanência que, em nossas instituições, produz práticas sociais 
reprodutoras do já produzido, é necessária para se falar em identidade atualmente.
É fundamental um olhar crítico e rigoroso para o real, o estimular da nossa consciência crítica de 
modo que lance as raízes da possibilidade de construção de práticas sociais múltiplas, plurais, capacitadas 
a contribuir efetivamente para que se produza o novo. Porém, a tradição brasileira é de uma sociedade 
fundada na autocracia, que estratifica saberes, concedendo a prática a partir da ausência de movimento 
imanente do real, do princípio da permanência.
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A influência positivista nas origens da universidade brasileira orienta-se, há muito tempo, por 
formulações que reduzem o próprio exercício do saber à transmissão de conhecimento acumulado. 
Temos a possibilidade de investir no impulso inaugural do novo quando nos dispomos a viver sob o 
signo da contradição, a cada momento aprendendo algo novo, considerando que a vida se constrói a 
cada dia.
Precisamos construir identidade que evidencie quão fecunda é a relação entre as áreas do saber para 
as práticas sociais brasileiras, em uma época marcada pelo agravamento da questão social. Consolidar, 
fortalecer uma nova prática social exige que aprendamos a visualizá-la a partir de uma perspectiva 
histórica e a reconhecê-la como:
• expressão do saber, uma vez que toda prática social é teoria sendo movimentada, saberes sendo 
articulados, construção coletiva em busca de objetivos determinados socialmente e estabelecidos 
através da história;
• prática educativa, uma vez que toda prática social concebida na perspectiva que temos enfatizado 
é realmente uma prática educativa. É, assim, prática do encontro, da possibilidade do diálogo, da 
construção partilhada.
A instituição é criada para permitir a operacionalização de políticas sociais direcionadas aos cidadãos; 
assim, é um espaço mais do usuário do que do profissional, pois a razão de ser da instituição é o usuário.
Uma exigência fundamental relacionada à concepção de saber como espaço do múltiplo é como 
promover o estabelecimento de uma nova relação entre profissionais, considerando que nossas formações 
devem nos proporcionar os fundamentos para a construção do saber coletivo. É também das diferenças 
das profissões que podem surgir possibilidades para trabalharmos em prol de causas comuns. Em toda 
prática profissional, sempre há caminhos críticos, e as vias de superação somente são encontradas por 
aqueles que as procuram pacientemente e corajosamente.
A diferenciação entre conhecimento e pensamento se dá desta forma, segundo Marilena Chauí 
(1980, p. 26):
[...] o conhecimento é a apropriação intelectual de certo campo de objetos 
materiais ou ideias como dados, isto é, como fatos ou como ideias. O 
pensamento não se apropria de nada – é um trabalho de reflexão que 
se esforça para elevar uma experiência (não importando qual seja) à sua 
inteligibilidade, acolhendo a experiência como indeterminada, como não 
saber (e não como ignorância) que pede para ser determinado e pensado, 
isto é, compreendido.
Para que o trabalho do pensamento se realize é preciso que a experiência 
fale de si para poder voltar-se sobre si mesma e compreender-se. O 
conhecimento tende a cristalizar-se no discurso sobre; o pensamento se 
esforça para evitar essa tentação apaziguadora [...].
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A esfera do saber amplia-se na perspectiva do risco, da criatividade, diversa do âmbito estrito do 
conhecimento, que é configurado como um exercício mais intelectual e formal. Consequentemente, 
essas características trazem dinamismo, fortalecimento na busca por experiência, pesquisa, prática com 
disposição para descoberta, empreendimento de um aprendizado e elaboração de conhecimentos.
O que nos mantém em constante procura é a vivacidade do saber, pois esse abarca o conhecimento, 
porque o propicia e conduz, mas não cabe dentro dele. Há algum tempo, o Serviço Social vem alimentando 
uma preocupação com o conhecimento. Na composição e organização de mestrado e doutorado na 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (na época do fórum de debates tratado no livro que serve 
como referência para este texto), destacava-se como uma de suas linhas de pesquisa a “construção do 
conhecimento em Serviço Social”.
Procurando a direção para constituir um novo conhecimento, essas linhas de pesquisa indicavam a 
intenção de rever o Serviço Social do ponto de vista:
• das fontes de conhecimento de que se alimenta;
• das possibilidades de sistematização dos conhecimentos produzidos pela pesquisa e pela prática 
profissional.
Como dizem as organizadoras de “O uno e o múltiplo nas relações entre as áreas do saber”, o Serviço 
Social é uma profissão que tem por atraente uma prática – social, educativa, política – de enfrentamento 
da “questão social”, principalmenteno que tange às interfaces pobreza/riqueza e às recorrências do 
progressivo empobrecimento da população (MARTINELLI; ON; MUCHAIL, 1995).
A partir dessa definição clara e precisa, podemos compreender que a atuação do Serviço Social é 
também concretizada nas relações da esfera microssocial, e não somente na esfera macrossocial, ou 
seja, conjuntural, estrutural, havendo o confronto com o binômio solidariedade e barbárie no plano 
macrossocial.
No cotidiano, a profissão é confrontada com as carências e necessidades fundamentais do 
homem; ainda assim, o Serviço Social não assume o desafio de constituir-se em uma profissão 
produtora de conhecimentos, mesmo que se leve em conta a dimensão da especificidade de sua 
proposta profissional.
Podemos considerar que a profissão tem condições de produzir conhecimentos, argumentando 
que as práticas por ela desenvolvidas caracterizam-se por certo modo de apropriação e aplicação dos 
conhecimentos das ciências a formas peculiares de ação profissional e de atuação na realidade social – 
apropriação, aplicação, ação e intervenção – capazes, por sua vez, de possibilitar a produção de “outros” 
ou de “novos conhecimentos” (MARTINELLI; ON; MUCHAIL, 1995).
A prática do Serviço Social revela o modo único pelo qual compreende e pretende alterar uma 
determinada realidade, lidando com as situações-limite que envolvem problemas sociais, mesmo sendo 
uma profissão de natureza interventiva. Um modo inédito de exteriorizar e sistematizar conhecimentos já 
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elaborados pode ser a apropriação e a transformação de conhecimentos subjacentes ao agir profissional. 
A prática neles fundamentada, ao mesmo tempo, propicia a elaboração de outros conhecimentos.
A articulação dos conhecimentos que buscamos na Sociologia, nas Ciências Políticas e Econômicas, 
na Psicologia, na Filosofia e em outras faz-se necessária no intuito de criarmos metodologias de trabalho 
mais evidentes e capazes de trazer à luz a produção da prática profissional desenvolvida por nós.
O Serviço Social é uma profissão de prática, e sua intermediação com as “ciências puras” permite 
a construção de conhecimentos para as chamadas “ciências aplicadas”. Assim, contribui efetivamente 
para o avanço das formas de abordagens práticas do real, e a originalidade do conhecimento construído 
está na maneira pela qual articula o conhecimento, transformando tal articulação em mediações 
para que se possa agir especificamente. Também contribui para que se construam coletivamente 
os conhecimentos no interior do conjunto das ciências sociais, demarcando a legitimidade de sua 
configuração profissional. Conforme Etges, (1993, p. 79), em seu livro Produção de Conhecimento e 
Interdisciplinaridade, “a interdisciplinaridade é o princípio da máxima exploração das potencialidades 
de cada ciência, da compreensão e exploração de seus limites, mas, acima de tudo, é o princípio da 
diversidade e da criatividade”.
Serviço Social é uma área de atuação interdisciplinar por excelência, uma vez que articula os diversos 
conhecimentos de modo específico, próprio, em um movimento crítico entre prática-teoria e teoria-
prática. A interação com outras áreas é primordial para abrir-se à interlocução diferenciada com outros. 
A interdisciplinaridade o enriquece.
Para compreendermos essa interdisciplinaridade como postura profissional, temos de aprender a 
conviver com as diferenças, com o múltiplo; buscar amadurecimento profissional que se reverta em um 
novo saber ético e social.
5.2 Os serviços na contemporaneidade: o trabalho nos espaços 
ocupacionais
É recorrente na contemporaneidade o trabalho em equipe de diversos segmentos profissionais, 
portanto utilizaremos este espaço para tratarmos de trabalho multidisciplinar, sendo necessário 
abordar alguns conceitos, como: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e 
pluridisciplinaridade.
O trabalho interdisciplinar, entre qualquer área e em qualquer estrutura de trabalho, seja no serviço 
público, em organizações governamentais ou não governamentais, ou em empresas, deve sempre buscar 
atingir objetivos comuns: a qualidade no atendimento, a eficácia das ações, a finalidade do tipo de 
trabalho que nos propomos a desenvolver, independentemente de sua formação.
Como define o filósofo brasileiro Hilton Japiassu,
[...] os termos multi e pluridisciplinaridade pressupõem uma atitude de 
justaposição de conteúdos de disciplinas heterogêneas ou a integração 
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de conteúdos numa mesma disciplina, atingindo-se, quanto muito, o 
nível de integração de métodos, teorias e conhecimentos. Quando nos 
situarmos no nível da multidisciplinaridade, a solução de um problema 
exige informações tomadas de empréstimo a duas ou mais especialidades 
sem que as disciplinas levadas a contribuir para aquelas que a utilizam 
sejam modificadas ou enriquecidas. Estuda-se um objeto de estudo sob 
vários ângulos, mas sem que tenha havido antes um acordo prévio sobre 
os métodos a seguir e os conceitos a serem utilizados.
No nível pluridisciplinar o agrupamento das disciplinas se faz entre 
aquelas que possuem algumas relações entre si, visando à construção de 
um sistema de um só nível e com objetivos distintos, embora excluindo toda 
coordenação.
No sistema multidisciplinar uma gama de disciplinas é proposta 
simultaneamente para estudar um objeto sem que apareçam as relações 
entre elas.
No sistema pluridisciplinar justapõem-se disciplinas situadas no mesmo 
nível hierárquico de modo que se estabeleçam relações entre elas.
Em relação à interdisciplinaridade tem-se uma relação de reciprocidade, de 
mutualidade, em regime de copropriedade que possibilita um diálogo mais 
fecundo entre os vários campos do saber. A exigência interdisciplinar impõe 
a cada disciplina que transcenda sua especialidade, formando consciência 
de seus próprios limites para acolher as contribuições de outras disciplinas. 
A interdisciplinaridade provoca trocas generalizadas de informações e de 
críticas, amplia a formação geral e questiona a acomodação dos pressupostos 
implícitos em cada área, fortalecendo o trabalho em equipe. Em vez de 
disciplinas fragmentadas, a interdisciplinaridade postula a construção de 
interconexões, apresentando-se como arma eficaz contra a pulverização do 
saber.
Em relação à transdisciplinaridade, termo cunhado por Piaget, se prevê 
uma etapa superior que eliminaria, dentro de um sistema total, as fronteiras 
entre as disciplinas. O movimento pós-moderno se utiliza do paradigma 
transdisciplinar. (JAPIASSU, 1976).
O tema da interdisciplinaridade apresenta nos textos publicados nos últimos anos as seguintes linhas 
centrais do debate:
• as bases fisiológicas e epistemológicas da prática interdisciplinar para as ciências em geral e para 
as ciências sociais em particular;
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• a interdisciplinaridade como proposta de organização do ensino e da pesquisa em Serviço Social;
• as práticas interdisciplinares em campos específicos de atuação do Serviço Social;
• as bases filosófico-políticas do pluralismo como exigência de uma abordagem democrática à 
práxis científica e profissional.
Nas relações interdisciplinares, é necessário impedir que interesses de múltiplas associações sigam 
no sentido da fragmentação corporativa ou particularista por meio do conflito entre a necessidade de 
uma vontade coletiva(ou segundo a abordagem gramsciana, de projetos com vocação hegemônica) e a 
conservação dessa multiplicidade, diversidade e pluralismo de sujeitos.
As ciências são sempre aproximativas, não esgotam o real para o próprio desenvolvimento de nossa 
posição e, de modo geral, da ciência, precisamos da postura pluralista, com abertura para o diferente, 
respeito pela posição alheia. Essa posição nos leva a ficarmos atentos aos nossos próprios erros e limites, 
além de nos fornecer sugestões.
Com base na diversidade, a formação de vontades e saberes coletivos – os quais possuem diferenciados 
níveis de consenso e convenção – requerem uma unidade interna dinâmica. Os projetos hegemônicos 
e o conhecimento científico em ciências sociais implicam essa formação. Os valores e concepções de 
mundo atravessam a produção de verdades nas ciências sociais e são objetivados a serem compartilhados 
intersubjetivamente por conjuntos de pessoas.
Empenhar-se para elaborar uma consciência coletiva e considerar o ponto de vista do outro implica, 
muitas vezes, a conciliação com o ponto de vista contrário e, neste sentido, não se trata de ecletismo 
no mau sentido da palavra.
Na área de saúde mental, por exemplo, visualizamos campos de saber envolvidos na teorização e nas 
novas práticas. Entre outras, podemos nos lembrar das seguintes disciplinas:
• Filosofia e Epistemologia;
• Psiquiatria;
• Psicologia;
• Psicanálise;
• Sociologia;
• o campo da saúde pública;
• o campo das ciências políticas e institucionais.
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 Lembrete
Recorreremos ao entendimento de Segre e Ferraz (1997, p. 542): “Saúde 
é um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade”.
A partir de diferentes classificações indicadas por Jupiassu (1976), podemos assim entender os 
conceitos e os níveis de prática interdisciplinar:
Quadro 1
Prática interdisciplinar Conceito Níveis
Multidisciplinaridade
Conjunto de disciplinas a serem 
trabalhadas simultaneamente, sem 
que as relações existentes entre elas 
apareçam.
É um tipo de sistema de um só 
nível, com objetivos comuns, mas 
sem nenhuma cooperação.
Pluridisciplinaridade
Associação de disciplinas para 
uma realização comum, mas sem 
modificar a visão das coisas ou das 
situações e os próprios métodos de 
cada disciplina.
É um tipo de sistema de um só 
nível, objetivos múltiplos; com 
cooperação, mas sem coordenação.
Interdisciplinaridade 
auxiliar
Quando uma disciplina recorre 
ao emprego de metodologias de 
pesquisas próprias ou originais de 
outras áreas do conhecimento.
É um tipo de sistema de dois níveis 
que admite um nível de integração 
ao menos teórico.
Interdisciplinaridade
Interação de duas ou mais 
disciplinas que pode ir da 
simples comunicação de ideias à 
integração mútua dos conceitos da 
epistemologia, da terminologia, dos 
procedimentos.
É um tipo de sistema de dois níveis 
e objetivos múltiplos; tendência à 
horizontalização das relações de 
poder.
Transdisciplinaridade
Coordenação de todas as disciplinas 
sobre a base de uma axiomática; 
implica, além da cooperação 
entre as várias disciplinas, um 
entendimento que as organiza e 
ultrapassa.
É um tipo de sistema de níveis e 
objetivos múltiplos; tendência à 
horizontalização das relações de 
poder.
Em termos de profissões e campos de conhecimentos envolvidos, têm-se também profissões e áreas 
do saber que constituem “recombinações” de uma ou mais disciplinas. O Serviço Social é um desses 
casos, assim como a Enfermagem, a Terapia Ocupacional, a Educação Física, a Fonoaudiologia. Essas 
áreas integram equipes multiprofissionais de saúde mental.
A integração buscada hoje, na área da saúde mental, está centralizada, sobretudo, no objetivo 
histórico de revisão dos paradigmas que reduziram e aprisionaram a loucura como objeto de um saber 
exclusivamente médico e de superação de formas assistenciais que apenas segregam, no sistema público 
de saúde, desrespeitando, assim, a cidadania do doente mental.
O Serviço Social, assim como outras profissões e áreas do saber, constitui-se em recombinações 
de uma ou mais disciplinas, no que se refere a profissões e campos aplicados de conhecimento. Os 
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conflitos socioinstitucionais entre os saberes se dão diretamente na prática assistencial em instituições 
e organizações corporativas, em que esses saberes estão sedimentados.
Precisamos ter clareza de que a proposta de interdisciplinaridade reconhece de forma dialética a 
necessidade de diferentes olhares para um mesmo objeto, ao constatar a complexidade dos fenômenos 
e a busca de uma integração que não interfira diretamente na autonomia e na criatividade interna de 
cada disciplina integrante, não podendo, assim, prescindir da especialização.
Na atual conjuntura, os pactos sociais e científicos passam a ser internacionalizados, por meio da 
criação de blocos regionais de nações e da própria globalização. Assim, há a necessidade também de 
uma razão comunicativa e de um diálogo que sustentem a convivência humana e a gestão democrática 
no plano nacional e internacional.
Não significa necessariamente uma imposição de um saber totalitário, quando se ampliam 
e integram em um campo de saber as diversas disciplinas em ciências sociais. Pelo contrário, 
estimula a visão do todo, uma abertura por meio do conhecimento mais ampliado, com suas 
especificidades mantidas.
Para compreendermos os conflitos e processos de poder nas práticas interdisciplinares, devemos 
considerar quatro elementos básicos:
• processo de inserção histórica na divisão social e técnica do trabalho e da constituição dos saberes 
como estratégia de poder;
• mandato social sobre um campo específico;
• institucionalização de organizações corporativas;
• cultura profissional.
Cada profissão tem a sua história, o seu mandato social, suas organizações por meio de conselhos, 
sindicatos, associações e uma cultura conforme a sociedade em que se insere, por meio de valores 
culturais, identidades sociais, preferências.
As barreiras impostas – no que diz respeito à troca de saberes – às práticas interprofissionais 
colaborativas e flexíveis se dão pelo fato de a interdisciplinaridade conviver, na prática profissional, com 
um conjunto de estratégias de saber/poder, de competição e de processos institucionais e socioculturais 
muito fortes.
As propostas de prática interdisciplinar precisam ser concebidas e analisadas com a devida 
consideração das estruturas históricas e institucionais. É fundamental, para uma análise crítica das 
práticas interdisciplinares, uma compreensão mais específica das identidades profissionais e da dinâmica 
da cultura.
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As identidades construídas pelas categorias e grupos profissionais, assim como outras formas de 
identidade social, dão segurança e status por meio do estabelecimento dos padrões de competência e 
da organização dos dispositivos de ação.
Como condições para que os profissionais se engajem em práticas interdisciplinares, é preciso que 
haja adesão às propostas de mudança de suas identidades convencionais. As condições de emprego, 
como um mínimo de reciprocidade quanto a salários dignos, condições de trabalho compatíveis e 
jornada de trabalho que evite o multiemprego, são fatores que influenciam o compromissocom o 
trabalho e o investimento em treinamento e supervisão.
As estruturas históricas e instituições extremamente poderosas e complexas devem ser levadas em 
consideração na análise das propostas de prática interdisciplinar, pois possuem uma dinâmica própria 
que pode tender a uma resistência quanto aos processos de mudança técnica, social e política.
Podem-se levar em consideração algumas sugestões para o desenvolvimento de propostas no 
trabalho multidisciplinar, conforme segue:
• estimular a discussão de legislações profissionais em geral e do sistema ou área específicos de 
trabalho, assim como dos estatutos desses serviços, no intuito de descobrir brechas que permitam 
melhor distribuição de responsabilidades legais pela assistência entre diversos profissionais, o que 
possibilitaria, assim, a flexibilização dos mandatos sociais;
• seleção de profissionais, recrutamento dos que se identificam politicamente com projeto 
assistencial inovador, que possuam flexibilidade e competência para o desenvolvimento do 
trabalho de acordo com a prática proposta;
• criar, entre os trabalhadores da equipe, uma vontade política que seja a mais consensual possível 
em torno de um projeto teórico, político e assistencial que contemple novas perspectivas e 
experiências concretas. Um projeto político-assistencial que seja fundamental para a criação 
de balizas mais gerais de orientação e avaliação, em termos profissionais, que esteja acima das 
veleidades e particularidades das categorias ou subgrupos profissionais;
• estimular a negociação constante nas relações institucionais do serviço, uma estrutura democrática, 
mecanismos de discussão e decisão horizontais, sem privilégios corporativos, o que não significa, 
de modo algum, democratismo ou complacência generalizada, tornando, assim, difícil a prestação 
de contas e a cobrança dos deveres de cada um;
• criação de dispositivos grupais e institucionais, possibilitando aos profissionais que reconheçam 
suas fragilidades, limites de sua abordagem, troca de experiências. A supervisão pode ter uma 
função importante na implementação da democratização das equipes e da interdisciplinaridade;
• em relação à estrutura institucional, é importante a criação e a negociação de dispositivos de 
defesa e autonomia relativas dentro do serviço, no que diz respeito a cobranças corporativas, 
administrativas e institucionais conservadoras que venham de fora, propiciando, assim, um clima 
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de maior segurança interna para a ousadia e experimentação de novos dispositivos técnicos, 
assistenciais e éticos;
• reconhecer a importância da conexão de ensino e pesquisa aos novos serviços;
• constituir um processo mais coletivo no estabelecimento de metodologias, técnicas e abordagens;
• ouvir os usuários e, quando for o caso, os familiares destes, prevendo mecanismos de escuta e 
participação ativa.
No cotidiano institucional ou empresarial, os profissionais de diferentes áreas enfrentam relações 
cuja qualidade interfere no alcance dos resultados, pois são culturas profissionais diversas objetivando 
propósitos comuns.
Os profissionais de Serviço Social nas empresas estão inseridos em equipes interdisciplinares 
e/ou multidisciplinares. Conforme citado, nos projetos desenvolvidos pelos assistentes sociais, 
o trabalho interdisciplinar é feito em uma abordagem preventiva, diminuindo o enfoque da 
abordagem individual, gerando crescimento tanto profissional quanto em relação aos resultados 
para os usuários ou funcionários atendidos.
Em uma pesquisa, um dos profissionais de Serviço Social empregado de uma empresa de economia 
mista relatou que as ações, antes, eram mais voltadas para possíveis resoluções de problemas. Atualmente, 
há um novo campo de ação para a área, em educação continuada, desenvolvimento de pessoas, equipe 
interdisciplinar, inserção nos recursos para trabalhar a qualidade de vida, autogestão, desenvolvimento 
e empregabilidade.
Podemos constatar que as empresas, atualmente, adotam princípios com fortes traços de 
cooperação, harmonia, confiança e comprometimento; possibilitam e abrem espaço para um trabalho 
em equipe com abordagem interdisciplinar. Em nossa profissão é muito importante o investimento no 
aperfeiçoamento, para estarmos aptos a trabalhar com novas situações colocadas em nosso cotidiano 
profissional. Assim, investindo na nossa qualificação profissional, poderemos preservar nossos espaços 
de atuação e legitimar nossa prática profissional.
Em um mesmo ambiente de trabalho, a multidisciplinaridade, mesmo não sendo uma prática 
caracterizada pelo intercâmbio, pode ser expressa pela pacificidade. Quanto à interdisciplinaridade, esta 
necessariamente implica uma relação de sujeitos: reciprocidade, discussão, trocas entre especialistas 
das profissões envolvidas no contexto, respeito pela visão de mundo do outro, ampliação da consciência 
crítica do conjunto.
Para um bom trabalho interdisciplinar, devemos procurar sempre aprender a escutar o outro. O ato 
de escutar e respeitar o outro leva ao mútuo enriquecimento e é determinante para que o profissional 
se torne hábil no enfrentamento das questões a serem analisadas conjuntamente por diferentes 
profissionais.
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Precisamos ter consciência da realidade das instituições e empresas que tendem a cobrar 
especificidade e valorizar os profissionais por isso e podemos contribuir para uma ação interdisciplinar 
diante das diferentes situações de maneira efetiva e competente.
A formação em Serviço Social permite uma visão ampla no enfrentamento do genérico, e, considerando 
que diferentes profissionais estão presentes nas relações de trabalho, é de se esperar diversidade de 
relações diante de várias situações. Cabe o reconhecimento de que a interdisciplinaridade determina a 
cada disciplina a tarefa de transcender sua especialidade e acolher contribuições de outras disciplinas.
6 REESTRUTURAÇÃO NOS BANcOS E AÇÃO DO SERVIÇO SOcIAL
Como previamente analisado por nós, a natureza humana tem passado por diferentes e intensificadas 
transformações (biológicas e sociais), as quais afetam de maneira direta ou indireta as seguintes áreas:
• desenvolvimento;
• território;
• psicologia;
• física;
• cultural;
• ambiental;
• entre outras.
No entanto, essas ações não acontecem de maneira isolada, e ao entendermos sob esta ótica, ou 
seja, ao acatarmos que fatores externos influenciam as características do ser humano e sua socialização 
(relações sociais), temos de ficar atentos às mudanças, sobretudo, às estruturais. 
Como exemplo, temos, nos primórdios, a população indígena, que age para promover o bem coletivo 
e a proteção de todos os que fazem parte do grupo instituído, mas, no decorrer da historicidade humana, 
os interesses individuais não atingem o objetivo coletivo.
O homem tem a capacidade de transformar conscientemente objetos para satisfazer seus desejos 
(pessoais ou não) e intensifica cada vez mais a necessidade de transformar-se. Esse desejo é potencializado 
pelo mercado de consumo, já que o valor do homem está no que ele tem, e não no que ele é.
Ao refletir que variações ocorridas foram necessárias para gerar condições de sobrevivência, foi 
preciso “ajustar” a necessidade do capital à sociedade, sendo isso conotado como medida protetiva de 
sua espécie. Por que isso é possível? Pelo fato de o ser humano possuir a capacidade teleológica, ou seja, 
de prever, planejar seus objetivos, a ação, e caracterizá-la antes de acontecer, provocando uma ação 
“refletida” e não imediatista.Infelizmente, porém, tal prática caiu em desuso por diversos profissionais.
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Indo ao encontro do mundo dos desejos, Dupas (2001, p. 29) coloca que “as ideias apresentam 
anseios humanos e exercem um poder decisivo na história”. Idealizamos aquilo que queremos possuir 
de maneira concreta e, possivelmente, abstrata. Tal modo de agir, e até mesmo de pensar, pode estar 
associado à globalização.
A globalização foi-se preparando nesses dois processos anteriores por 
meio de uma intensificação das dependências recíprocas (BECK, 1998), do 
crescimento e da aceleração de redes econômicas e culturais que operam 
em escala mundial e sobre uma base mundial. Mas foram necessários os 
satélites e o desenvolvimento de sistemas de informação, manufatura e 
processamento de bens com recursos eletrônicos, o transporte aéreo, os 
trens de alta velocidade e os serviços distribuídos em nível planetário para 
que se construísse um mercado mundial, onde o dinheiro e a produção 
de bens e mensagens se desterritorializassem, as fronteiras geográficas se 
tornassem porosas e as alfândegas fossem muitas vezes inoperantes. Ocorre 
nesse momento uma interação mais complexa e interdependente entre focos 
dispersos de produção, circulação e consumo [...]. Longe de mim sugerir um 
determinismo tecnológico; quero apenas demonstrar o papel facilitador da 
tecnologia. Na verdade os novos fluxos comunicacionais informatizados 
geraram processos globais ao se associarem a grandes concentrações de 
capitais industriais e financeiros, com a flexibilização e eliminação de 
restrições e controles nacionais que limitavam as transações internacionais 
(CANCLINI, 2007, p. 42).
A globalização não aconteceu (e não acontece) isoladamente ou temporariamente, e sim como um 
fenômeno que só foi possível com a tecnologia, a comunicabilidade e a interdependência dos países, sob 
a ótica do acúmulo da riqueza, da concentração do poder e da economia. A globalização influenciou os 
povos em diversos aspectos, por exemplo:
• político;
• cultural;
• educacional;
• de saúde;
• familiar;
• de trabalho;
• de meios de produção;
• entre outros.
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Além disso, a globalização, sucintamente, é a interação global (de diversos países), sendo marcada 
pelas características de quebra de fronteiras, unificação econômica e influência do capitalismo, que gera 
a acentuação das desigualdades em diferentes campos, avanços da tecnologia e pesquisas.
É preciso perguntar: se a globalização existe, provavelmente beneficie alguém, mas quem? Alguns 
estudiosos economistas defendem que os grandes beneficiários dela sejam:
• países desenvolvidos, com grandes economias de exportação, mercado interno e presença mundial 
cada vez maior, ou seja, influentes mundialmente.
Também trouxe alguns aspectos positivos para a sociedade, como:
• a internet, permitindo maior facilitação na comunicabilidade com pessoas de qualquer parte do 
mundo, assim, aproximando os povos e as famílias;
• novos estudos em diversas áreas, promovendo a discussão de assuntos de interesse coletivo;
• melhoramento do transporte.
Contudo, por estar associada ao capitalismo, a globalização acentua o crescimento desigual da 
sociedade, pois nem todos têm o mesmo acesso; o que diferencia é o poder de compra e o real interesse 
no processo. Para satisfazer o mercado, é proposta a quebra de fronteiras da economia na globalização 
que, por sua vez, intensifica o comércio internacional, potencializando a mudança dos hábitos de 
consumo de quase todos os povos do mundo, e, por consequência, o governo começa a rever suas 
políticas econômicas.
Ao mesmo tempo, isso influencia as instituições bancárias que se internacionalizam e buscam 
a hegemonia do mercado consumidor, com o intuito do aumento do lucro, quando todas as 
transações financeiras passam a ser feitas com a mediação dos bancos; por exemplo, grande parte 
das organizações solicita ao empregado que tenha conta em determinado banco para pagamento 
do salário e outros benefícios; com isso, o colaborador, em muitos casos, precisa recolher taxas 
sobre as transações realizadas.
Quando abordamos trocas de hábitos de consumo, falamos, por exemplo, de veículos automotores, 
criados como meio de transporte mais rápido e individualizado para o consumidor e que, atualmente, 
são considerados como artigo de luxo, com acessórios para atrair maior número de consumidores, que, 
por vezes, preferem comprar um determinado modelo por conta destes, perfazendo a ideia de trocar na 
mesma medida em que o mercado faz outro lançamento de modelo. 
Com esse mercado consumidor, os países não se limitam ao mercado interno, pois podem exportar 
produtos para outros países, bem como comprar tecnologias que não fabricam, uma constatação admitida 
até na China. Há pouco tempo, este país era o maior exemplo de economia fechada, e hoje é campeão 
de captação de investimentos estrangeiros, de olho em um mercado de 1 bilhão de consumidores 
exacerbados; por características peculiares e nem sempre elogiáveis, pode lançar produtos com grande 
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poder de competição no mercado externo. Tal expansão visa ao aumento do lucro, que é o que move a 
arena dos mercados.
A guerra é cada vez mais econômica, e o campo de batalha é o mercado mundial altamente 
globalizado. A invasão atual se dá instantaneamente on-line, via redes mundiais de computadores. 
Segundo alguns cientistas políticos, a globalização é o movimento sobre o qual se constrói o processo 
de ampliação da hegemonia econômica, política e cultural ocidental das nações.
Os interesses nela colocam o aumento da lucratividade e da expansão do mercado consumidor em 
primeiro plano, e somente depois se articula o pensamento coletivo, ou seja, a influência negativa que 
este estabelece na população que não faz parte do empresariado.
Por haver interesses de cunho econômico, as articulações societárias também são influenciadas 
por tais preceitos, não permitindo uma participação consciente, autônoma, reflexiva e desprendida 
de interesses individuais do ser humano no interior das suas sociedades, pois estes são vistos como 
consumidores e possíveis geradores de lucro, e não como cidadãos, sujeitos de direitos, com necessidades.
Com tal perspectiva de sobreposição do interesse individual sobre o coletivo, a economia no 
melhoramento de questões sociais fere diretamente os direitos legalmente instituídos em um Estado 
Democrático de Direito, provocando a diminuição de suas ações, direcionando-as de acordo com o 
interesse do capital/mercado, intensificando a exclusão social de maneira geral, bem como seus reflexos.
Diante de tudo o que discutimos neste item, ainda é possível reconstruir e organizar uma sociedade 
com cidadania plena e participativa?
Ao nos respaldarmos na Constituição Federal de 1988 para esta reflexão, nos deparamos com os 
fundamentos do país:
Art. 1º – A República Federativa do Brasil, [...] constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa;
V – o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio 
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição 
(BRASIL, 1988).
Constitucionalmente o artigo citado colocaa soberania do Estado, ou seja, poucos (representantes) 
pensando por muitos; talvez não seja a melhor forma de democracia. Tal lei posta também o trabalho 
como valor social, entretanto com livre-iniciativa, denotando visão capitalista.
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Art. 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais;
IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).
O bojo do artigo 3º é composto por objetivos que levam a entender que o foco de atuação é a 
igualdade, mas indiretamente também coloca a questão industrial quando fala sobre o desenvolvimento.
Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações 
internacionais pelos seguintes princípios:
I – independência nacional;
II – prevalência dos direitos humanos;
III – autodeterminação dos povos;
IV – não intervenção;
V – igualdade entre os Estados;
VI – defesa da paz;
VII – solução pacífica dos conflitos;
VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X – concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração 
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando 
à formação de uma comunidade latino-americana de nações (BRASIL, 
1988).
No artigo 4º, há uma contradição ao discursar “independência nacional” com o modelo econômico 
vigente, visto que não existe esse preceito, pois, como vimos no decorrer deste livro-texto, vivemos sob 
a dependência, principalmente, mercantil.
Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade. [...] (BRASIL, 1988).
No artigo 5º, é posto claramente que somos iguais perante a lei, independentemente de características, 
mas será que é isso é respeitado na prática? Como técnicos, compactuamos com a igualdade ou com a 
desigualdade no cotidiano profissional? Estabelece também a inviolabilidade da propriedade, favorecendo 
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os grandes latifundiários (donos de grandes áreas); estes fazem parte dos nossos representantes, logo 
precisam proteger os interesses pessoais.
“Art. 6o – São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a 
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma 
desta Constituição” (BRASIL, 1988).
O artigo 6º é um dos mais interessantes para nossos estudos, pois afirma como direito dez áreas, 
cabendo uma reflexão: se é direito, de quem é o dever de sua promoção? A Constituição colocará para 
cada item suas formas de efetivação. 
Os artigos 7º, 8º, 9º, 10 e 11 colocam as questões direcionadas aos trabalhadores.
O artigo 14 direciona a área política e, neste, vemos um retrocesso quanto à cidadania, à autonomia 
e à liberdade, ao colocar a obrigatoriedade do voto aos maiores de 18 anos não igualando os analfabetos 
e maiores de 70 anos na condição de representantes do povo, pois o voto dessa população é facultativo, 
bem como o dos que têm entre 16 e 18 anos.
No artigo 144, são postas questões de segurança, bem como seus representantes e respctivas 
responsabilidades.
Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade 
de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade 
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, 1988).
É um direito de todos ter acesso a serviços que levem à segurança pública, bem como dever do 
Estado a prestação destes serviços; entretanto, a sociedade também é responsabilizada na sua dinâmica.
No artigo 193, temos: “a ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o 
bem-estar e a justiça sociais”. Aqui evidenciamos a responsabilidade que é posta ao trabalho, mas e 
quanto às pessoas que não o possuem?
O artigo 194 dispõe que a “seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de 
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à 
previdência e à assistência social”. Então a seguridade, que tem seu tripé formado por saúde, previdência 
e assistência social, mais uma vez discursa como direito e não explicita de quem é o dever da promoção. 
O parágrafo único complementa:
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Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a 
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I – universalidade da cobertura e do atendimento;
II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações 
urbanas e rurais;
III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;
V – equidade na forma de participação no custeio;
VI – diversidade da base de financiamento (BRASIL, 1988).
Vamos direcionar as observações ao inciso III, que estabelece “seletividade e distributividade na 
prestação dos benefícios e serviços”, ou seja, os benefícios e serviços não são para todos.
No artigo 196, temos no texto que “a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). 
Inova quando dispõe o aspecto de proteção (prevenção) como um dever do Estado e não coloca 
condições de uso.
O artigo 201 traz em seu bojo a previdência social, que tem como beneficiários somente os 
contribuintes, ou seja, não é para todos, “será organizada sob a forma de regime geral, de caráter 
contributivo e de filiação obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e 
atuarial, e atenderá, nos termos da lei”.
Nos artigos 203 e 204, temos a direção para a assistência social:
Art. 203 – A assistência social será prestada a quem dela necessitar, 
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II – o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a 
promoção de sua integração à vida comunitária;
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora 
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a 
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser 
a lei.
Art. 204 – As ações governamentais na área da assistência social serão 
realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 
195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes:
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I – descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as 
normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos 
programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades 
beneficentes e de assistência social;
II – participação da população, por meio de organizações representativas, na 
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis.
Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a 
programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por 
cento de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos 
no pagamento de:
I – despesas com pessoal e encargos sociais; 
II – serviço da dívida; 
III – qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos 
investimentos ou ações apoiados (BRASIL, 1988). 
Como observamos, é colocada como direito de todos a quem dela precisar, mas por qual motivo 
“selecionar” os beneficiários de uma lei que deveria ser para todos? É o que acontece costumeiramente, 
visto que, como muitos programas e serviços, selecionam muitos que precisam, mas não se “enquadram” 
no perfil dos atendidos, permeando o não acesso.
Do artigo 205 ao 214, temos o assunto atrelado à educação; no 215 e no 216 à cultura; e no artigo 
217, ao desporto.
Art. 205 – A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será 
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno 
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho.
[...]
Art. 215 – O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais 
e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização 
e a difusão das manifestações culturais.
[...]
Art. 217 – É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não 
formais, como direito de cada um, observados:
I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto 
à sua organização e funcionamento;
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II – a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto 
educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento;
III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não 
profissional;
IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação 
nacional (BRASIL, 1988). 
A educação é colocada como direito de todos e dever do Estado e da família, responsabilizando, mais 
uma vez, o cidadão. A inclusão não depende somente de ter vaga na organização escolar. Quanto ao 
acesso à cultura, é de responsabilidade do Estado sua garantia, entretanto é necessária a promoção do 
interesse pela cultura, pois não temos esse hábito; já em se tratando do esporte, é direito singular sua 
prática, e dever do Estado sua fomentação.
Voltando à questão da globalização, temos de entender que ela trouxe a política neoliberal e, com isso, 
a redução de despesas públicas que seriam destinadas a setores como saúde, assistência e previdência 
social; a flexibilização de direitos trabalhistas; desemprego estrutural; aumento da desigualdade; reflexos 
da exclusão social; e a grande intensificação da diferença entre as camadas sociais; além da privatização 
de instituições bancárias.
Ao ser imposta a lógica competitiva das relações mercantis (bancos), visando à ascensão produtiva e 
econômica dos detentores do meio de produção, por consequência, temos também uma sociedade competitiva, 
ou seja, que não consegue ver o outro como igual, e sim como adversário, alimentando o desejo de destruição.
 Observação
O neoliberalismo é um conjunto de ideias que defende um mercado 
livre e global, em oposição ao keynesianismo. Os neoliberais enfatizavam a 
abertura da economia com a liberação financeira e comercial.
Diante do problema exposto quanto à formação da cidadania plena e autônoma em um ambiente 
globalizado, faz-se necessária uma prática complexa e não superficial direcionada aos princípios 
fundamentais estabelecidos em nosso Código de Ética de 1993.
Essa nova arquitetura do Estado-nação que, segundo Tostes (2004, p. 57), é “uma estratégia de 
institucionalização de identidade de uma certa coletividade”, tem sido influenciada e moldada por 
outra consequência vinda do crescimento tecnológico da modernidade globalizada, ou seja, a falta de 
parâmetros conceituais para explicar os acontecimentos vivenciados no presente, pois os significados 
de clássicos conceitos, como liberdade, igualdade, soberania, entre outros, já não é mais algo absoluto 
ou estático; antes, foram relativizados em uma época de insegurança e incerteza permanentes. Somos 
“lançados em um vasto mar aberto, sem cartas de navegação e com todas as boias de sinalização 
submersas e mal visíveis” (BAUMAN, 1999, p. 93).
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Os que apoiam a globalização na relação mercantil a associam diretamente com o progresso (termo 
amplo e diferenciado, dependendo do sujeito), mas cabe uma pergunta: o que é exatamente progresso?
Numa visão capitalista, é o mercado gerando produtos para o consumo, não preocupado com os 
reflexos da questão social, e sim com o empoderamento dos meios de produção e crescimento do lucro, 
prática bastante difundida entre os bancos.
Mas como pensar em progresso na medida em que, para muitos, lhes são comprometidos a dignidade, 
a cidadania, a identidade, as relações e o próprio ser humano? Lembre-se de que uma nação justa em 
todos os aspectos se faz de estruturas bem-solidificadas, seja no social, no econômico, na saúde, na 
educação, na segurança, no lazer e na cidadania, que, juntos, formam o que chamamos de vida plena, 
porém em conjunto com a população.
Podemos fazer uma analogia dos interesses bancários, do empresariado em relação ao território, pois, 
de acordo com o texto “O Dinheiro e o Território”, a “geograficidade se impõe como condição histórica 
[...] a partir do conhecimento do que é o território” (SANTOS, 2007, p. 13), ou seja, “a geograficidade, 
como essência define a relação do ser-no-mundo e não do ser-no-espaço” (HOLZER, 1997, p. 80). Desta 
forma, este conceito atrela-se à construção histórica da qual o indivíduo é acometido, na medida em 
que se relaciona com o mundo, a partir de um território que se trata do “lugar em que desembocam 
todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a 
história do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência” (SANTOS, 2007, 
p. 13).
Na medida em que o indivíduo verifica a possibilidade de obter rendimentos com a comercialização 
do excesso produzido, surge, em seu cotidiano, o dinheiro e uma contradição: “o dinheiro, que tudo 
busca desmanchar, e o território, que mostra que há coisas que não se podem desmanchar” (SANTOS, 
2007, p. 13).
O território não é apenas o conjunto dos sistemas naturais e de sistemas de 
coisas superpostas. [...] tem que ser entendido como o território usado, não 
o território em si. O território usado é o chão mais a identidade (SANTOS, 
2007, p. 14).
Para Sack (1983), território é a área geográfica em que um indivíduo ou grupo influencia objetos, 
pessoas e relacionamentos existentes, ou seja, com o intuito de controlá-la, sendo uma categoria 
de análise. Completando o direcionamento de Milton Santos, dessa forma, trata-se de um território 
utilizado, o qual possui uma identidade que é “o sentimento de pertencer àquilo quenos pertence [...]. 
Assim, é o território que ajuda a fabricar a nação, para que a nação depois o afeiçoe” (SANTOS, 2007, p. 
14).
Nesse momento,
o dinheiro aparece em decorrência de uma vida econômica tornada 
complexa, quando o simples escambo já não basta, e, ao longo do tempo, 
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acaba se impondo como um equivalente geral de todas as coisas que existem 
e são, ou serão, ou poderão ser, objeto de comércio. Desse modo, o dinheiro 
pretende ser a medida do valor que é, desse modo, atribuído ao trabalho e 
aos seus resultados (SANTOS, 2007, p. 14).
Milton Santos (2007, p. 14-5) faz um apontamento interessante na medida em que “num primeiro 
momento há um dinheiro local, expressivo de contextos geográficos limitados e de um horizonte 
comercial limitado. Era o tempo de um mundo cuja compartimentação produzia alvéolos que seriam 
quase autocontidos”, ou seja, tinha rotatividade local, pois o território era influenciado somente pelos 
resquícios do saber do sítio,
porque então as técnicas eram de alguma forma herdeiras da natureza 
circundante ou um prolongamento do corpo. Elas eram ao mesmo tempo 
o resultado desse afeiçoamento do corpo à natureza e desse comando da 
natureza sobre a história possível, de tal maneira que a tecnicidade, a partir 
dos objetos fabricados além do corpo, era limitada (SANTOS, 2007, p. 15).
Pode-se visualizar que “a vida material de algum modo se impunha sobre o resto da vida social” 
(SANTOS, 2007, p. 15), e nessa influência a terra começa a ganhar valor comercial, pois “o valor de cada 
pedaço de chão lhe era atribuído pelo próprio uso desse pedaço de chão [...], o território assim delineado 
rege o dinheiro; o território era usado por uma sociedade localizada, assim como o dinheiro” (SANTOS, 
2007, p. 15).
Na medida em que a comercialização foi crescendo, houve paralelamente “a interdependência 
crescente entre sociedades, com a produção de um número maior de objetos e de um número maior 
de valores a trocar, a complexificação do dinheiro, com o alargamento do seu uso e da sua eficácia” 
(SANTOS, 2007, p. 15). Entretanto, era preciso determinada segurança nessas trocas e, nesse momento, 
o “dinheiro começa sua trajetória como informação e como regulador” (SANTOS, 2007, p. 15).
Cria-se o Estado territorial, o território nacional, o Estado nacional, que 
passam a reger o dinheiro. [...] É evidente que o dinheiro nacional sofre 
modulações internacionais. [...] Mais profundamente a partir da presença 
forte do Estado, esse dinheiro é representativo das relações então profundas 
entre Estado territorial, território nacional, Estado nacional, nação. Era um 
dinheiro relativamente domesticado, o que era feito dentro dos territórios 
(SANTOS, 2007, p. 16).
Com a facilitação da troca de informações entre pessoas e empresas, as relações “permitem que 
as mais diversas técnicas se comuniquem” (SANTOS, 2007, p. 17) e, nesse ponto, causa dependência e 
distância cada vez mais aos indivíduos, pois as relações ficam intermediadas por aparelhos tecnológicos, 
quais sejam, televisão, telefone, internet, entre outros.
Essas técnicas da informação que, afinal, a partir do planeta, produzem um 
mundo (e é por isso que se fala de globalização), e que nos levam à ilusão 
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da velocidade como matriz de tudo, como necessidade indispensável e que 
certamente criam uma fluidez potencial transformada nessa fluidez efetiva 
a serviço de capitais globalizados, de tal modo que o dinheiro aparece como 
fluido dos fluidos, o elemento que imprime velocidade aos outros elementos 
da história. No entanto, se o dinheiro que comanda é dinheiro global, o 
território ainda resiste. [...] Em outras palavras, o território também pode 
ser definido nas suas desigualdades a partir da ideia de que a existência 
do dinheiro no território não se dá da mesma forma. [...] Mas, sobretudo, o 
comando se dá a partir do dinheiro global (SANTOS, 2007, p. 17).
Logo, “o dinheiro aumenta sua indispensabilidade e invade os mais numerosos aspectos da vida 
econômica e social [...]. O dinheiro é, cada vez mais, um dado essencial para o uso do território” (SANTOS, 
2005, p. 99). Mas quem sustenta esse dinheiro?
[...] é sustentado por operações da ordem da infraestrutura. É um dinheiro 
sustentado por um sistema ideológico. Esse dinheiro global é o equivalente 
geral dele próprio. E por isso ele funciona de forma autônoma e a partir de 
normas (SANTOS, 2007, p. 17).
Ainda de acordo com Santos (2007, p. 18), vivemos em uma era de ditaduras, pois “a ditadura do 
dinheiro não seria possível sem a ditadura da informação”.
No texto solicitado para análise, o autor faz uma comparação do momento contemporâneo com 
o da década de 1980, pois “há 25 anos, empolgava-nos a assimilação da diferença entre o veraz e o 
não verdadeiro, entre a aparência e a existência, entre o ideológico e o real” (SANTOS, 2007, p. 18). 
Atualmente a globalização promove 
[...] um mercado avassalador, dito global, é apresentado como capaz de 
homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são 
aprofundadas. Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores 
hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante 
o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o 
culto ao consumo é estimulado (SANTOS, 2005, p. 19).
As empresas buscam maior mercado consumidor e assumem a lógica da competitividade; para isso, 
adotam medidas que têm como resultado seu crescimento e adotam o sistema de fusões (produção 
material e de informação). “Essas fusões reduzem o número de atores globais e, ao mesmo tempo, a 
partir da noção de competitividade, conduzem as empresas a disputarem o menor espaço, a menor fatia 
do mercado” (SANTOS, 2007, p. 18).
Mas o Estado não pode ser a inteligência que as empresas precisam, pois
[...] essas lógicas individuais necessitam de uma inteligência geral, e essa 
inteligência geral não pode ser confiada aos Estados, porque estes podem 
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decidir atender aos reclames das populações. Então, são esses governos 
globais, representados pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco 
Mundial, pelos bancos internacionais regionais, como o BID, pelo consenso 
de Washington, pelas Universidades centrais produtoras de ideias de 
globalização e pelas universidades subalternas que aceitam reproduzi-las 
(SANTOS, 2007, p. 19).
Dessa forma, é preciso entender que o conteúdo do território é diferente de outros momentos da 
história, principalmente, com a globalização nas mais diferentes áreas, “seja o conteúdo demográfico, o 
econômico, o fiscal, o financeiro, o político” (SANTOS, 2007, p. 20). Essa instabilidade é visualizada nos 
territórios e na sociedade e os compõe, pois 
[...] a presença das empresas globais no território é um fator de desorganização, 
de desagregação, já que elas impõem cegamente uma multidão de nexos que 
são do interesse próprio, enquanto ao resto do ambiente nexos que refletem 
as suas necessidades individualistas, particularistas. Por isso, o território 
brasileiro se tornou ingovernável. E como o território é o lugar de todos os 
homens, de todas as empresas e de todas as instituições, o país também se 
tornou ingovernável, como nação, como Estado e como município (SANTOS, 
2007, p. 20-1).
Para reflexão, vale finalizar com a observação de que

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