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Universidade Estadual da Paraíba/Guarabira Centro de Humanidades Geografia Econômica Prof. Msc. Thiago L. B. Queiroz A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NO CAPITALISMO GLOBALIZADO 1 Primeira Revolução Industrial Historicamente, o avanço do capitalismo pelo mundo permitiu que a Europa acumulasse capital que foi utilizado em investimentos e mecanização da produção. Essa evolução técnica, marcada pela substituição da manufatura pela maquinofatura, ampliou ainda mais a economia de mercado. O capital é composto de dinheiro acumulado, de matérias-primas, de instrumentos de trabalho que são empregados na produção de novas matérias-primas, de equipamentos, entre outros. A Inglaterra possuía capital, estabilidade política e equipamentos necessários para tomar a dianteira neste primeiro período, conhecido como Primeira Revolução Industrial, que ocorreu entre meados do séc. XVIII e meados do séc. XIX. A mecanização se estendeu do setor têxtil para a metalurgia, para os transportes, para a agricultura e para outros setores da economia. As fábricas empregavam grandes números de trabalhadores. Economistas da época desenvolveram a doutrina econômica liberal, ou liberalismo econômico, defendendo a propriedade privada e a livre concorrência como a base para o desenvolvimento econômico. O Estado deveria se limitar a garantir a propriedade privada não intervinda na economia. A lei da oferta e da procura de mercadorias se encarregaria de regular os mercados. O liberalismo econômico caracterizou essa fase do capitalismo conhecido como Capitalismo Industrial. Pode-se dizer que o capitalismo produziu um novo espaço geoeconômico: um espaço de produção industrial agrícola, pecuária e extrativa; um espaço de troca comercial; um espaço de circulação de riqueza e de consumo. As cidades se 1 Temática adaptada da obra Geografia Geral: espaço natural e socioeconômico dos autores COELHO, Amorim de. e TERRA, Lygia. São Paulo: Moderna, 2001, por QUEIROZ, Thiago L. B. de. desenvolviam a ganhavam novos equipamentos à medida que recebiam novos moradores. O capitalismo propiciou também uma nova função para as cidades: a produção industrial. No capitalismo surgiu além da burguesia, uma outra classe social, o proletariado, trabalhador das indústrias que passou a produzir grande parte das riquezas deste novo modo de produção. Contudo, o processo de desenvolvimentos do capitalismo foi lento e ocorreu de maneira diferenciada nas diversas regiões do planeta. Segunda Revolução Industrial Tendo início na Inglaterra, a grande revolução no modo de produzir mercadoria se espalhou para outros países da Europa e para os EUA e o Japão. A partir de meados do séc. XIX, novas invenções tecnológicas se sucederam. Com a invenção dos trens a vapor e a construção de estradas de ferro, era possível ir muito mais longe, transportando mais mercadorias em tempo muito menor. Os automóveis também começavam a fazer parte das paisagens desse incrível e novo mundo tecnológico. Grandes modificações ocorreram nas condições de vida das pessoas e na velocidade e na qualidade dos transportes, entre outras. Todas estas inovações influenciaram a aceleração do contato entre culturas e a própria reorganização do espaço e do capitalismo. Nessa fase o Estado maiúsculo passou a participar cada vez mais da economia, regulando crises econômicas e o mercado e criando uma infra-estrutura nos transportes, na mineração e em setores que exigiam muito investimento, abrindo caminho para o capital privado, além de investir em políticas sociais. Para equipar as unidades produtoras com as novas tecnologias, era necessário aumentar o espaço de produção, distendendo grandes somas de capital, o que seria impossível para as pequenas e médias empresas, que faliram ou se uniram a outras, formando grandes empresas altamente lucrativas. Algumas dessas grandes empresas passaram a dominar determinados ramos de produção, dando origem aos oligopólios. Com a finalidade de aumentar ainda mais os lucros, exterminar pequenas concorrentes e impor preços, muitas firmas se fundiram em uma só, formando os trustes, que passavam a controlar um produto desde a retirada da matéria-prima necessária a sua fabricação até a sua distribuição. Os grandes trustes muitas vezes se unem e formam um cartel, fazendo acordos a cerca de medidas de interesse comum ou de vantagens recíprocas, dividindo mercados e estabelecendo preços etc. Alguns países elaboraram leis ante trustes e de restrinção a formação de cartéis. A partir do final do séc. XIX, a fase da livre concorrência ficava para trás e o capitalismo se tornava cada vez menos competitivo e mais monopolista. Empresas ou países monopolizavam o comércio. Era a fase do capitalismo financeiro ou monopolista. Financiando toda essa expansão e os investimentos em novas tecnologias, os bancos adquiriam cada vez mais importância, pois faziam empréstimos as empresas e posteriormente investiam no comércio e na indústria. Como resultado desta fusão, surgia o capital financeiro, que passou a dominar e a controlar a economia dos países, adquirindo cada vez mais poder. No final do séc. XIX, as grandes empresas possuíam filiais em diversos países, sendo por isso, chamadas de multinacionais e mais recentemente de transnacionais, termo mais apropriado, pois elas atingem mercados muito além de suas fronteiras. No final do séc. XIX, as potencias capitalistas iniciaram a disputa pela redivisão e pela incorporação de novos territórios. Essa nova fase expansionista, caracterizada pelos monopólios e pólo domínio do capital financeiro, ficou conhecida como imperialismo. Lugares distantes, antes isolados, iam aos poucos se rendendo e se incorporando ao capitalismo mundial. O modo de vida de populações inteiras, dos mais distantes lugares do planeta, se desestruturava para se reestruturar conforme os preceitos da sociedade de consumo. O continente asiático e africano haviam sido alvo da cobiça expansionista do séc. XVI, mas as potencias da época se limitaram a estabelecer feitorias no litoral, para assim possibilitar o comércio. No séc. XIX, porém, os países imperialistas, além de dividir entre se os continentes africano e asiático impuseram dependência econômica aos países da América Latina. Essa nova modalidade de colonialismo, que se diferenciava do colonialismo do séc. XVI pelo fato de garantir mercados por meio da dependência econômica é chamada de neocolonialismo. O mundo foi redividido pelos centros de poder: inicialmente a Inglaterra e a França, seguidas pela Bélgica, pela Alemanha, pela Itália, e pela Rússia, que também disputavam mercados. Toda essa disputa entre os países por áreas coloniais e de influencia e por expansão de mercados acabou por envolver as potencias da época em dois conflitos mundial: a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. O uso de tecnologias modernas chegou às guerras. As batalhas, que antes ocorriam em terra, atingiram os céus e os mares. Terminadas as grandes guerras, que levaram ao enfraquecimento geopolítico dos países europeus, diversos movimentos de libertação nacional surgiram nas colônias africanas e asiáticas. Ocorreu então um rápido processo de descolonização desses continentes, o que deu origem a dezenas de países independentes. Terceira Revolução Industrial Após as duas grandes guerras, o mundo capitalista se reorganizou, retornando o seu crescimento, com destaque para a criação e a ampliação de novas atividades, como a informática, a química fina, a biotecnologia, a pesquisa espacial e etc. O Estado exerciao papel de centralizador das economias dos países. As empresas transnacionais continuavam a se expandir pelo mundo. Para essas empresas, interessadas no mercado internacional, não existiam fronteiras. Elas expandiam suas atividades, ultrapassando as fronteiras nacionais e percorrendo distâncias geográficas nunca antes vistas, dominando os mercados de diversos países do mundo e exercendo poder econômico e político sobre eles. Essa mobilidade das empresas e do capital acentuou a internacionalização da economia. Tudo isso somado a revolução tecnológica, principalmente a que se deu na informática e nas telecomunicações, foi a base da globalização. As pesquisas em informática, em química fina e em biotecnologia reforçaram e facilitaram o processo de monopolização, pois os países mais ricos e as grandes empresas dominavam e dominam a tecnologia moderna, manipulando toda a economia mundial. Esses novos avanços tecnológicos provocaram outras transformações no sistema capitalista, dando início a fase da Terceira Revolução Industrial. Nas indústrias o processo de produção se acelerava com a automação da produção, baseada na utilização de computadores e de braços mecânicos. As novas tecnologias em computação e em telecomunicações e as facilidades nos transportes permitiram uma expansão ainda maior das empresas transnacionais, tornando possível a localização de unidades produtoras e peças em diversos países ou continentes do mundo, de acordo com as vantagens de custos e fiscais, além de mão-de- obra e matéria-prima baratas. Assim, tornou possível espalhar o processo de produção juntando-se as peças provenientes de diversos lugares na montagem do produto final. Os produtos passavam a não ter mais nacionalidade definidas. Aos países desenvolvidos cabe, evidente, a produção de peças que requerem maior tecnologia. Dessa forma, a tradicional Divisão Internacional do Trabalho (DIT) sofreu modificações. O capital também adquiriu maior mobilidade. Uma rede financeira expandiu-se pelo mundo. Houve uma ampliação do controle sobre o setor produtivo por parte do setor financeiro, que passou a gozar de grande autonomia em relação aos bancos centrais e as instituições oficiais. O volume cada vez maior do capital produtivo passou a ser destinado à especulação. Fundos de pensão e de seguros passaram a operar nos mercados sem a intermediação das instituições financeiras oficiais. Os investidores realizaram transações em nível global com o auxilio da informática. Os controladores desses capitais voláteis fazem investimentos especulativos que podem sair de um país de uma hora para outra, bastando que se aperte um botão (via internet) para produzir imensos desequilíbrios financeiros e instabilidade política. Foi o que aconteceu no México no final de 1994. Em nove dias, oito bilhões de dólares deixaram o país provocando o chamado “efeito tequila”: a queda, em todo o mundo, das cotações de títulos dos países em desenvolvimento. Portanto, é a chamada fase do capitalismo financeiro, da globalização financeira. Os países subdesenvolvidos e socialistas aumentaram seu endividamento na década de 1970, acentuando-se a inda mais as desigualdades entre os blocos de países. Organismos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Acordo Geral de Tarifas de Comércio (GATT), organismos controlados pelos países ricos, passaram a fornecer empréstimos e a interferir cada vez mais no destino desses países. Desde a primeira revolução tecnológica o trabalho artesanal e personalizada vinha sendo substituído pela produção em massa e padronizada das fábricas. No início do séc. XX, Henry Ford introduziu inovações no processo de produção, em suas fábricas de automóveis, com a finalidade de produzir mais em tempo menor, conhecidas como regime fordista. Foi instituída uma divisão e hierarquização do trabalho. Cada trabalhador realizava apenas uma etapa do processo produtivo. No sistema de linha de montagem, uma esteira move as peças, enquanto o trabalhador permanece fixo, realizando tarefas especializadas, simples e repetitivas. Nesse caso, os trabalhadores não necessitavam de muita qualificação e os produtos finais são homogeneizados, de qualidade padronizada e com preço relativamente baixo. Fredrick Taylor sistematizou o processo fordista propondo a separação entre trabalho intelectual e manual. Como o regime fordista incorporou a doutrina de Taylor, é chamada também de fordista/taylorista. Durante muito tempo, o modelo fordista predominou na produção industrial. A inflexibilidade desse modelo, do qual cada operário deve entrar no ritmo repetitivo e na rotina da esteira de montagem, resultou em problemas como alguns produtos defeituosos, sendo necessário despender-se enormes somas com fiscalização e controle de qualidade. Para inserir alguma mudança no produto, era necessário fazer uma reestrutura total das máquinas e da linha de montagem. O chamado modelo pós-fordista, ou capitalismo flexível foi introduzido na economia a partir de experiências realizadas na fábrica Toyota, no Japão, na década de 1950. O chamado modelo toyotista utilizava trabalho em equipes e máquinas de ajuste flexível, tornando possíveis modificações rápidas, difíceis de serem realizadas no esquema fordista/taylorista. Esse modelo possibilitava também reduzir custos e fugir da padronização rígida e massificada do fordismo, diversificando e variando a produção, além de possibilitar a desconcentração espacial da atividade industrial. O papel do Estado A partir de idéias da teoria econômica, neoliberal, o papel do Estado se modifica nessa fase. Ele deixa de ser o regulador da economia. Inicia nos EUA e Inglaterra, na década de 1980, uma fase de desregulamentação, ou seja, são retirados os regulamentos que podem impedir a expansão e ação das empresas. De protetor das economias nacionais, o Estado passa a promover a abertura dos países para o mercado exterior e a privatização das empresas estatais, entregando-as a grandes grupos. Nos países subdesenvolvidos, a venda das companhias estatais é uma condição imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial (BM), em troca de ajuda econômica. No neoliberalismo, o Estado se descompromete com os investimentos sociais em educação e saúde, reduzindo cada vez mais suas obrigações e os direitos dos cidadãos. É o chamado Estado mínimo. Na Europa, tem início em 1999 o processo de circulação de uma moeda única, o Euro, que passava a substituir as moedas nacionais de onze países europeus, representando mais um passo para a globalização. A Globalização Desde que as sociedades estabeleceram contatos entre se, houve a troca de informações de técnicas e de cultura. Em determinados períodos da história da humanidade esses contatos foram acelerados. As grandes navegações e as expansões colonialistas e imperialistas foram alguns dos momentos que permitiram ao europeu expandir a sua civilização. A ampliação dos espaços de lucro (obtenção de mercado, locais de investimento e fontes de matérias-primas), conduziu a globalização. Até a Revolução Industrial, o processo de globalização foi lento. No processo de industrialização, a padronização de hábitos de consumo foi feita por intermédio de uma mídia poderosa, utilizando meios de comunicação de massa. O processo de globalização, utilizando os avanços tecnológicos (meio-técnico-científico- informacional), produziu a maior aceleração de todos os tempos. Informações, hábitos, técnicas que levavam anos ou décadas para ir de um continente ao outro passaram a poder chegar instantaneamente. Ocorreu ainda uma interligação acelerada dos mercados.A globalização se faz sentir não só na esfera econômica. Ao longo do séc. XX, a globalização do capital foi conduzindo a globalização da informação, dos padrões culturais e de consumo. A globalização é, portanto, um conjunto de mudanças que estão ocorrendo na esfera econômica, financeira, comercial, social, e cultural, emplacando a uniformização global de padrões econômicos e culturais. Trata-se de um processo em curso, uma nova faze do capitalismo e do imperialismo, comandado pelas grandes empresas transnacionais, que procuram abrir novos mercados. O poder dessas empresas ultrapassa cada vez mais o poder das economias nacionais. Vale ressaltar que nem todos os países se inserem na economia global no mesmo ritmo.
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