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AS MULHERES URBANAS NA DITADURA MILITAR DO BRASIL

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AS MULHERES URBANAS NA DITADURA MILITAR DO BRASIL (1964 - 1985): 
A LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO DO PAÍS
RESUMO
Esta monografia apresenta um breve estudo sobre a participação feminina na luta contra a Ditadura Militar que ocorreu entre 1964 a 1985 no Brasil, onde o país ficou sob o comando de militares. Esse período foi muito importante para a ruptura de estereótipos que eram muito comuns nessa época. As mulheres urbanas não tinham nenhuma participação ativa na política e na economia, para elas restava apenas o espaço doméstico. Com a Ditadura Militar, as mulheres puderam escrever uma nova história e com a participação ativa no Regime o sexo feminino contribuiu para novos relatos e novos olhares para a história do Brasil. É de extrema relevância saber por que tantas pessoas foram mortas, em especial as mulheres que foram as primeiras a sair às ruas a procura de seus maridos, pais, amigos e filhos torturados, presos ou desaparecidos. Na Ditadura Militar a tortura foi utilizada como forma de controlar os indivíduos e manter os sistemas de organização social vigente. Para as forças repressivas, os motivos do Estado em torturar, eram maiores do que o direito à vida. Os torturadores por serem do sexo masculino, transformavam a sexualidade feminina como seus fetiches. Quando eram presas, as mulheres urbanas tinham pela frente não apenas a tortura, mas também a violência sexual. As sombras e o terror da Ditadura Militar no Brasil continuam escondendo muitos detalhes. Em especial a luta e a participação das mulheres nos movimentos de resistência ao Regime, que não deve ser menosprezada e sim destacada. A memória das mulheres que participaramativamente na luta contra o Regime Militar, foi ‘escondida’ durante muitos anos, prevalecendo assim, a memória dos grandes vencedores desse período. Para recuperar a luta feminina pela democratização da sociedade é necessário revelar sua memória e os registros importantes que foram deixados de lado pelo simples fato de ser contado e exaltado por mulheres. As guerrilheiras foram de fundamental importância para derrubar o Regime Militar do poder, pois de acordo com sua 'sensibilidade feminina' poderiam adentrar lugares em que os homens não tinham acesso. São essas mulheres que ajudam para uma nova visão da história e para novas descobertas. Muitas militares registraram seus depoimentos para ficar gravado na memória da população o que aconteceu nesse período, “para que não se esqueça, para que jamais aconteça”.
Palavras chave: Brasil. Mulheres. Torturas. Memória.
ABSTRACT
This monograph presents a brief study of female participation in the fight against the military dictatorship that took place between 1964 to 1985 in Brazil, where the country was under military command. This period was very important to break down stereotypes that were common at that time. Urban women had no active participation in politics and the economy, they remained only the domestic space. With the military dictatorship, women could write a new story and with the active participation in the Scheme females contributed to new stories and new looks at the history ofBrazil. It is extremely important to know why so many people were killed , especially women who were the first to take to the streets in search of their husbands, fathers , friends and children tortured , imprisoned or missing . Military Dictatorship in torture was used as a way to control people and maintain effective systems of social organization. For the repressive forces of the state the reasons for torture, were larger than the right to life. The torturers for being male turned female sexuality as their fetishes. When they were arrested, urban women were facing not only torture, but also sexual violence. The shadows and the terror of the military dictatorship in Brazil still hiding many details. In particular the struggle and the participation of women in resistance movements Regime, which should not be overlooked but highlighted. The memory of the women, who actively participated in the struggle against the military regime, was ' hidden ' for many years, so prevalent, the memory of the big winners of this period. To retrieve the female fight for the democratization of society is necessary to reveal your memory and important records that were set aside by the simple fact of being counted and exalted by women. The guerrillas were of fundamental importance to overthrow the military regime of power, since according to their ' feminine sensibility ' could enter places where men had no access. It is these women who help to a new view of history and newdiscoveries. Many military recorded their statements to be recorded in the memory of the people what happened during that period, "to be sure, that never happens."
Keywords: Brazil. Women. Torture. Memory.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Ao longo da história do Brasil, a luta da resistência das mulheres é recorrente. Durante a ditadura civil-militar, implantada com o golpe de 1964, as mulheres também foram protagonistas, como militantes da resistência e como organizadoras da sociedade civil para o retorno do país à democracia.1 
O estudo da presente monografia gira em torno das mulheres urbanas na Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), destacando sua participação ativa na luta contra o Regime. Esse tema está intimamente ligado com os dias atuais, principalmente agora que a atual presidente do Brasil é uma mulher que sofreu torturas nos porões da ditadura, por ser contra o sistema antidemocrata da época.
A minha perspectiva anterior a esse trabalho, assim como de tantas outras pessoas, era de que as mulheres não tiveram nenhuma participação na luta contra o Regime Militar, de que elas não foram importantes para o retorno do país a democracia. Minha percepção era apenas a visão generalizada, ou seja, uma visão patriarcal, no qual retirava toda e qualquer participação feminina desse período histórico de lutas e resistências. Mas com esse trabalho busco contribuir para a percepção do papel dessas mulheres apontando que elas foram tão importantes quanto os homens, que fizeram valer a força da vida e resistiram bravamente às violências e torturas cometidas pelos militares.
Nos dias atuais muitas coisas mudaram, as mulheres passaram a participar mais ativamente na política e também da própria sociedade brasileira. Porém, em muitos cargos profissionais elas ainda sofrem preconceito e principalmente quando exercem alguma função tipicamente dita como masculina. Mesmo com tantos preconceitos, as mulheres não desistiram e atualmente possuem mais voz, trabalham em cargos de diretoria e assim como no período da Ditadura Militar lutam dia-a-dia por um país mais democrático.
A participação feminina na política daquela época era um avanço na ruptura para a quebra de estereótipos. Com a Ditadura Militar, a mulher participa desse período da história, não em relatos como agente passiva e sim como protagonista. A mulher que optava por sair do seu clássico papel era excluída da sociedade, porém, esse preconceito fez com elas pudessem transitar mais facilmente na política, atuando em papeis que os homens tinham dificuldade em fazer, participando em todas as frentes da resistência. Quando eram presas sofreram vários tipos de violência, além das torturas ainda tinham pela frente a violência sexual.
Assim, no capítulo 01 apresento o contexto do Brasil nos anos de 1964 a 1985, quando o Brasil ficou sobre o governo dos militares, com violações de direitos humanos, constitucionais, políticos e sociais. No capítulo02 aponto alguns caminhos pelos quais as mulheres desse período ousaram participar para tornar o país mais democrático, cito também os tipos de torturas sofridas por elas. No capítulo 03 interpreto meu objeto de estudo sob a perspectiva de memória, com vários relatos de sobreviventes, para que as torturas, violações de direitos humanos, mortes e assassinatos não caiam no esquecimento da população e para que nunca volte a acontecer.
A ditadura militar esconde vários detalhes que ainda continuamobscuros e são de grande importância dar espaço e revelar memórias que foram escondidas e não registradas durante muito tempo, em principal a das mulheres que sobreviveram a esse período. Esse tema tem sido discutido diariamente na sociedade principalmente após a presidente Dilma Roussef decretar uma lei que visa investigar violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988 no Brasil por agentes do estado, chamada Comissão Nacional da Verdade2. A lei que a institui foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 18 de novembro de 2011 e foi instalada oficialmente em 16 de maio de 2012. Com isso minha pesquisa está inserida no contexto de que é importante lembrar a cada dia o que aconteceu nesse período, como as torturas, violências, violação de direitos. Para que isso jamais aconteça novamente. 
CAPÍTULO 1: ENTENDER OS PROCESSOS E DESDOBRAMENTOS DO REGIME MILITAR
1.1- Entendo como se deu o golpe militar
João Goulart tomou posse no dia 7 de setembro de 1961, com contas públicas fora de controle e uma dívida externa preocupante. Seu programa político eram as chamadas reformas de base, que segundo o governo, era um conjunto de medidas para alterar as estruturas econômicas, sociais e políticas do Brasil, permitindo o desenvolvimento econômico autônomo e o estabelecimento da justiça social. “É fácil perceber que as reformas de base não se destinavam a implantar uma sociedade socialista. Eram apenas uma tentativa de modernizar o capitalismo e reduzir as profundas desigualdades sociais do país, a partir da ação do Estado 3”.
Entre as principais medidas estavam às reformas bancária, fiscal urbana, tributária, administrativa, agrária e universitária. Por ter sido eleito pelo parlamento, João Goulart não levou adiante essas reformas, porque seus poderes estavam restringidos pelo sistema parlamentarista e suas ações estavam limitadas. 
Em seu governo Jango trabalhou com a questão de recuperar os poderes presidencialistas, por isso realizou um plebiscito no qual a população deveria decidir em definitivo sobre o sistema do governo e “em janeiro de 1963, cerca de 9,5 milhões de um total de 12,3 milhões de votantes responderam ‘não’ ao parlamentarismo. Retorna assim o sistema presidencialista, com João Goulart na chefia do governo 4”.
A grave crise econômica e financeira herdada de governos anteriores continuou a piorar e a situação se afundou ainda mais com a inflação.Para enfrentar esse e outros problemas o economista Celso Furtado, ministro do Planejamento, lançou o Plano Trienal, que visava combater a inflação, combinado com o crescimento econômico e as reformas sociais. “O Plano Trienal era um conjunto coerente de medidas, que buscavam resolver problemas de longo e de curto prazo5”.
Diversos setores que se beneficiaram com a inflação passaram a criticar o Plano Trienal e não apoiaram João Goulart, desejando a ruína do governo e do golpe. Sem apoio de empresários e sindicalistas, Jango não teve como manter o Plano. Ao mesmo tempo, ocorreram muitas greves que foram deflagradas pelos trabalhadores, principalmente por conta da contínua dos altos preços. 
Mesmo cercado por todos os lados. Jango não deixou de lutar por suas reformas. Aceitou o conselho por seu círculo de íntimo para preterir os políticos e levar sua luta diretamente ao povo. João Goulart marcou vários comícios em muitos lugares do país. O primeiro grande comício foi no dia 13 de março, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. “Ele ficou conhecido como o ‘comício Central’ por ter sido realizado na Praça da República, situada em frente à Estação da Central do Brasil. Cerca de 150 mil pessoas aí se reuniram sob a proteção de tropas do I Exército para ouvir a palavra de Jango e Brizola [...] 6”.
Esse comício tinha como proposta as Reformas de Base e principalmente reforma agrária, que era uma série de reformas que feriam os interesses da classe média alta,porque haveria distribuição de bens e terras e por isso desagradava os setores mais altos da sociedade. Nessa época quando era falado em pobreza, distribuição igualitária de renda e saúde significava ser comunista, mesmo que não fosse o caso. 
Descontente com essa situação os mais afortunados da sociedade como o clero, as famílias e os setores políticos mais conservados se organizaram em marchas contra essas Reformas.  Assim organizaram a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que era um movimento de base religiosa, onde o objetivo era envolver o povo contra o então chamado comunismo pelos opositores do Presidente.
A Marcha contou com cerca de 300 mil pessoas. Em 1964 o Jornal Folha de São Paulo publicou uma nota relatando sobre a Marcha da Família;
Com ‘vivas’ à democracia e à Constituição, mas vaiando os que consideram ‘traidores da pátria’, os manifestantes se posicionaram defronte da catedral e nas ruas próximas. Ali, oraram pelos destinos do país. E, através de diversas mensagens, dirigiram palavras de fé no Deus de todas as religiões e de confiança nos homens de boa-vontade. Era um “repúdio” a qualquer tentativa de ultraje à Constituição Brasileira e a defesa dos princípios, garantias e prerrogativas democráticas constituíram a tônica de todos os discursos e mensagens dirigidos das escadarias da catedral aos brasileiros, no final da passeata 7.
A Marcha acabou representando o apoio de uma parte expressiva da população a uma intervençãomilitar, dando fim às ideias ousadas citadas no comício de João Goulart. Boa parte da população que era contra as ideias do Presidente apoiaram o golpe, sem saber que futuramente iria se transformar numa ditadura.
Dessa forma foi vitoriosa a ação golpista e as forças armadas tomaram o poder em 1º de abril de 1964, quase sem resistência. Todo o movimento nacional e popular não tinha condições de enfrentar a força das armas. Dessa forma chega ao final à gestação e o Brasil entra na fase de grandes mudanças 8.
1.2 - Castelo Branco: a tentativa de institucionalizar
O golpe militar firmou-se, e com ela a ditadura. Após a implantação dos militares no governo do Brasil, o país ficou marcado por um sistema autoritário que permitiu e ordenou vários tipos de violência, um sistema político com abuso de poder, além de várias mortes, assassinatos e desaparecimentos. 
Os conspiradores militares e civis que depuseram João Goulart em março de 1964 tinham dois objetivos. O primeiro era ‘frustrar o plano comunista de conquista de poder e defender as instituições militares’; o segundo era ‘reestabelecer a ordem de modo que se pudessem executar reformas legais’. O primeiro foi fácil, O segundo seria muito mais difícil 9.
Dias após a derrubada do Presidente João Goulart do poder, o governo sentiu a necessidade de montar uma forma de comandar e ordenar o domínio do povo. Era um mecanismo para manter a ‘legalidade’ no domínio dos militares, estabelecendo para eles poderesextra-constitucionais. “[...] Em outras palavras: foi necessário montar um Estado cada vez mais forte, apesar de se manterem alguns disfarces da normalidade democrática 10”.
Dessa forma, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica criaram os Atos Institucionais, que depois passaria a ser chamado de Ato Institucional número 1, ou AI-1, em 9 de abril de 1964, que deveria ser único e acabou sendo o primeiro de uma série, o documento contava com onze artigos e “ expandia os poderes do Executivo, limitava os do Congresso e do judiciário [...] 11”.
O Ato Institucional (AI-1) estabeleceu as eleições indiretas para Presidente da República, gerando como primeiro eleito pelo Colégio Eleitoral o general Humberto de Alencar Castelo Branco, com o mandato até 31 de janeiro de 1966. Em seu pronunciamento alegou democracia, porém fez o contrário disso e assumiu uma posição autoritária 12.
De acordo com o AI-1 o Presidente Castelo Branco eliminou pessoas que eram prejudiciais no governo e esse comando ficou conhecido como “Operação limpeza”, sob o seu comando centenas de pessoas foram torturas. 
Milhares foram presos através do país na ‘Operação Limpeza’, inclusive membros de organizaçõescatólicas, como o Movimento de Educação de Base (MEB), a juventude Universitária Católica (JUC) e outras atividades de organização ou caritativas atraíram a suspeita da inteligência militar ou do DOPS, a polícia política 13.
A ditadura foi tomando corpo e em 17 de outubro de1965, com duração prevista até 15 de março de 1967 (fim do mandato de Castelo) o presidente Castelo Branco, decretou o Ato Institucional nº 2. Ele suspendeu a constituição de 1946, a democracia e a eleição direta para presidente da república, decretou quais punições poderiam ser deferidas contra os que fossem acusados por crime político. “O AI- 2 reforçou ainda mais os poderes do presidente da República ao estabelecer que ele poderia baixar atos complementares ao ato, bem como decretos – leis em matéria de segurança nacional 14”.
Em seu governo foi instituído o bipartidarismo, só estava autorizado o funcionamento de dois partidos: Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Enquanto o primeiro era de oposição, de certa forma controlada, o segundo representava os militares 15. 
Em fevereiro de 1966 o Planalto decidiu que necessitava de um terceiro Ato institucional ou AI-3, onde foi estabelecida eleição indireta dos governadores do Estado através de assembleias estaduais. O governo editou também o Ato Institucional nº 4 ou AI-4 em dezembro de 1966, que tinha como principal objetivo promulgar uma nova constituição16. 
1.3 - Costa e Silva: os militares endurecem
O país não vivia e um bom momento político e outro general aceitou a responsabilidade dada pelo Congresso, o ministro da Guerra Arthur da Costa e Silva. O Presidente Costa e Silva foi o segundo presidente no regime militar. Com ele no poder o Brasil enfrentou aolado dos militares a chamada “linha dura” com o objetivo de desarticular as oposições. Dessa maneira, a candidatura de Arthur Costa e Silva ganhou força para que as liberdades democráticas fossem aniquiladas e o regime finalmente consolidado.
Vence a chamada “linha dura”, com o nome do general Costa e Silva, ministro da Guerra, que será facilmente referendado por um Congresso que, no mesmo ano, sofre mais seis cassações, nova decretação de recesso e cerco por tropas militares 17.
Consequentemente foi crescendo a indignação dos vários setores, que resolveram partir para a luta armada e tentar acabar com esse regime, para que o sistema político no país fosse mais democrático. Desde 1967, o movimento estudantil tornou-se a principal forma de oposição ao regime militar. Nos primeiros meses de 1968, várias manifestações tinham sido reprimidas com violência. 
A situação piorou quando em março de 1968, a polícia invadiu um restaurante frequentado por estudantes universitários no Rio de Janeiro e matou Édson Luis Lima Souto, um jovem de 18 anos. Em protesto contra a ditadura e o assassinato do estudante Édson Luís de Lima Souto, os estudantes, professores, padres progressistas, entre outros, organizaram uma passeata, na zona conhecida como Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968, essa manifestação ficou conhecida como Passeata dos Cem Mil 18.
1.4 - O AI-5
No mês de julho de 1968, o governo militar proibiu qualquer manifestação pública nopaís, o que gerou a prisão e mortes de vários estudantes. A legalização da repressão ocorreu através do AI-5, Ato Institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968. Ao contrário dos outros Atos Institucionais, o AI-5 não tinha prazo para duração. O AI-5 representa o início da violência mais escancarada 19.
.Com o novo Ato, o governo suspendeu o habeas corpus por crime político, implantou a censura aos meios de comunicação, as pessoas tinham a liberdade vigiada. Foi o momento mais duro do regime, dando poder aos governadores para punir com 'legalidade' os que fossem contra o regime ou considerados como tal. 
Enquanto a repressão se fortalecia, o general Costa e Silva sofreu uma trombose cerebral em agosto de 1969 e foi retirado do cargo de Presidente. O vice-presidente, Pedro Aleixo, foi impedido pelos militares que dirigiam o regime de assumir o cargo presidencial e foi indicado o ex-chefe do Serviço Nacional de Informações, Emilio Garrastazu Médici, como novo presidente do Brasil. 
Médici toma posse em 30 de outubro com mandato até 15 de março de 1974, dando início a um governo que, sob o lema “Segurança e desenvolvimento”, representará a fase de mais violenta escalada repressiva em toda a história da República 20.
1.5 - Crescimento econômico
Ao comando do general Médici, o Brasil viveu o período mais autoritário da ditadura brasileira, conhecido como “anos de chumbo”.  A repressão política foi o traço marcante do seu comando. O governo repressivo brasileiropassou a atuar de forma desumana e inflexível sobre a oposição.
Nesse período o país vivenciou cenas terror, mas também vivenciou um período de grande crescimento econômico. Esse crescimento fez com que o período de 1968-1973 fosse conhecido como a época do “milagre econômico” ou “milagre brasileiro”.
O período 1968-1973 é conhecido como “milagre” econômico brasileiro, em função das extraordinárias taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) então verificadas, de 11,1¢ ao ano (a.a). Uma característica notável do “milagre” é que o rápido crescimento veio acompanhado de inflação declinante e relativamente baixa para os padrões brasileiros, além de superávits no bálano de pagamentos 21.
O “milagre brasileiro” acabou em 1973, quando ocorreu a crise do petróleo. Essa crise fez crescer o preço do produto e ocasionou um declínio mundial. A extração de petróleo no Brasil estava muito abaixo das necessidades econômicas do país, a nação foi atingida com o aumento do preço do barril 22.
1.6 - O governo Geisel
Com a crise do petróleo e fim do crescimento econômico, foi encerrado o governo do general Médici como presidente e a partir de 1974, o presidente da República passou a ser eleito por um Colégio Eleitoral formado pelo Congresso Nacional. Foi então que o alto comando militar indicou o general Ernesto Geisel que assumiu a presidência em 15 de março de 1974, para dar uma nova etapa do Regime Militar.
A emenda nº 1 da Constituição de 1967 modificou aforma de escolha do presidente da República. Previu-se a criação de um Colégio Eleitoral, composto de membros do congresso e delegados das Assembléias Legislativas dos Estados. Geisel foi o primeiro escolhido pelo Colégio Eleitoral. Eleito em janeiro de 1974, tomou posse a 15 de março daquele ano 23.
Seu lema político previa uma ‘distensão lenta, gradual e segura’ (de acordo com palavras de Geisel), com a aplicação do projeto de “distensão política”. Ele permaneceu no mandato presidencial durante cinco anos e durante esse período aplicou uma política que tinha em vista constitucionalizar o regime militar, mas que não fosse democrático. Os seus primeiros meses de mandato tornou-se rotina os “desaparecimentos”, porque os órgãos de opressão optavam a esconder as prisões seguidas de mortes, pois já não tinham mais desculpas quando os opositores apareciam mortos 24.
Em abril de 1977, o presidente Geisel juntamente com o Executivo introduziu um conjunto de modificações constitucionais para impedir uma nova vitória do MDB (movimento democrático brasileiro) nas eleições legislativas do ano seguinte, dentre essas modificações ocorreu o fechamento do Congresso. Esse conjunto de reformas constitucionais ficou conhecido como “Pacote de Abril” 25. 
1.7 - O governo Figueiredo
Nos dias finais do ano de 1977 a ditadura dava mostras de esgotamento, agravado pelo aumento da inflação, da dívida externa e do empobrecimento da população. “Frente à crise que se avizinhava, osgenerais como já se tornara costume desde 1964, procuram mais uma vez canalizar as divergência entre suas diversas correntes para a sucessão presidencial” 26. Em meio a essa grande tensão, Geisel indicou como seu sucessor um membro da “comunidade de informação”, o general João Figueiredo (ex-chefe do SNI).
Figueiredo assumiu a presidência em 15 de março de 1979,com a maioria da sociedade pedindo redemocratização do país. Em seu mandato a abertura política se tornou mais forte e as manifestações populares conseguiram pressionar o governo para o fim da ditadura. Ele foi o responsável pela abertura democrática do regime ditatorial, com medidas como a criação de eleições diretas para governadores.
Com muita pressão da população, o governo militar decretou anistia política em agosto de 1979, a Anistia permitiu a volta dos exilados e a liberação de presos políticos. Inicialmente, o projeto de Anistia não iria beneficiar todos envolvidos com crimes políticos, no entanto, o projeto de lei sofreu alterações que perdoava todos os acusados de praticar tortura e devolvia direitos políticos plenos aos exilados 27.
No governo de Figueiredo foi realizada também a reforma partidária. A Lei Orgânica dos Partidos, de 22 de novembro deu início ao pluripartidarismo, ou seja, novos partidos foram fundados como o PT (partido dos trabalhadores) liderado pelo sindicalista Luís Inácio da Silva (Lula), o PDT (Partido Democrático Trabalhista) liderado por Leonel Brizola, o PMDB(Partido do Movimento Democrático Brasileiro) que reunia os remanescentes do antigo MDB, e do PDS (Partido Democrático Social), onde se concentraram os grupos políticos de apoio ao governo militar, substituindo a antiga ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Apesar da crise deflagrada pelo Rio-centro, quando uma bomba estourou no colo de um militar nas proximidades de um comício, o processo de abertura continuou 28.
1.8 - Diretas, Já
Em março de 1983, o deputado federal Dante de Oliveira apresentou um projeto de emenda pelas eleições diretas para presidente em 1985. Esse movimento trouxe o povo de voltas às ruas e durante esse evento realizaram diversas manifestações populares em muitas cidades brasileiras como, passeatas e comícios. 
A campanha agora assumira um ar festivo. Os partidários das diretas envergavam camisetas (algumas com as cores da bandeira brasileira) com a inscrição ‘Quero votar para presidente’, Os comícios eram sempre ordeiros, mostrando uma disciplina que surpreendia os observadores nacionais e estrangeiros 29.
No dia 16 de abril de 1983 em São Paulo ocorreu à passeata com número recorde de 1,5 milhão de pessoas, com o apoio de diversos setores da sociedade, como estudantes, artistas, intelectuais, esportistas, cidadãos comuns, sindicalistas, entre outros, para formar o Movimento chamado Diretas, Já. 
Aprovar uma emenda constitucional não era uma tarefa fácil, não bastava obter a maioria simples, eram necessários 2/3 dos votos doplenário. O movimento foi suplantando na noite de 25 para 26 de abril. Mesmo sendo aprovada por 298 votos contra 65, com 3 abstenções e 113 deputados ausentes, ficaram faltando exatos 22 votos para a obtenção o quórum mínimo necessário de dois terços. Dessa forma ficou definida a eleição indireta para presidente 30.
Mesmo com a derrota o Movimento não desistiu. “A campanha chegara mais perto da vitória do que alguém teria ousado prever um ano ou mesmo seis meses atrás. Não menos importante, seus organizadores haviam realizado as maiores concentrações políticas jamais vistas no Brasil 31”.
Com a rejeição da emenda, o país realizou em 1984 sua última eleição indireta para presidente da República. O PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) indicou Tancredo Neves, enquanto o PDS (Partido Democrático Social) escolheu Paulo Maluf. Com 480 votos no Colégio Eleitoral, enquanto Paulo Maluf recebeu 180 votos. Tancredo venceu a eleição em 15 de janeiro de 1985, data que simboliza o fim de mais de vinte anos de ditadura militar 32.
As comemorações pela vitória de Tancredo duraram pouco tempo. No dia 14 de março de 1985, o ex-governador de Minas Gerais foi internado as pressas em um hospital de Brasília e morreu (cuja causa não foi informada de imediato), no dia 21 de abril daquele ano antes de tomar posse de Presidente da República.
Assim, o vice-presidente José Sarney assumiu o cargo no lugar de Tancredo, permanecendo no poder ate 1989, quando foi eleitodemocraticamente Fernando Collor de Mello. 33 E com isso, foi finalizado o período de mais de vinte anos em que o Brasil esteve nas mãos dos militares. 
CAPÍTULO 2: AS MULHERES URBANAS NA DITADURA MILITAR
2.1 - Rupturas de estereótipos
A Ditadura Militar (1964-1985) foi um período muito importante para a ruptura de estereótipos que eram muito comuns nessa época no Brasil. As mulheres urbanas34, não tinham nenhuma participação ativa na política e na economia, para elas restava apenas o espaço doméstico. “Os conflitos armados, as guerras, a militarização da sociedade etc., reforçam e atualizam os estereótipos sexistas 35”.
Ao longo da história do Brasil, a luta da resistência das mulheres é recorrente. Durante a ditadura civil-militar, implantada com o golpe de 1964, as mulheres também foram protagonistas, como militantes da resistência e como organizadoras da sociedade civil para o retorno do país à democracia 36.
De acordo com Ridenti (1990), a participação das mulheres nas esquerdas armadas era um avanço para a ruptura de estereótipos do sexo feminino, no qual seu lugar era restrito ao espaço privado e doméstico, a mulher vivia em função do mundo masculino e para ela sobrava apenas ser o que eles determinavam, ou seja, assuntos domésticos.
A relação entre mulher e política tem sido tema tabu na sociedade brasileira. O lugar do homem é no comando do mundo político, à mulher resta o privado, onde muitas vezes os homens também comandam. Invadir o espaçopúblico, político e masculino foi o que fizeram estas mulheres ao se engajarem nas organizações de esquerda, clandestinas para fazer oposição, juntamente com os homens, ao regime militar. Ousara participar da política, espaço que marca a diferença e a exclusão.37
As mulheres militantes quando assumiam ser uma revolucionária, não eram encaradas como sujeito histórico, eram encaradas como mulheres anormais, porque não estavam no espaço destinado a elas, ou seja, no santuário do lar. Elas eram renegadas pela sociedade em que viviam, inclusive por sua família, que preferia ver a mãe, filha, irmã e/ou esposa morta do que uma revolucionária com sede de mudança e redemocratização. 
A família da militante além de sentir vergonha por ela não seguir o destino proposto de mãe, esposa e dona-de-casa, não a reconhecia, não aceitava ter alguém em sua família que era contra os princípios já previstos para uma mulher.
A mulher no contexto da Ditadura Militar não tinha nenhuma liberdade em relação à política, nessa época, sendo a única alternativa para que não fosse julgada seria exercer o clássico papel de mãe, esposa e dona-de-casa. “A norma era a não participação das mulheres na política, exceto para reafirmar seus lugares de "mães-esposas-donas-de-casa, como ocorreu com os movimentos femininos que apoiaram o golpe militar de 1964 38”.
A urbana que optava a ser militante era julgada pela sociedade, por não aceitar o seu papel que estava previamente proposto. Segundo Bastos(2004), “o lugar da mulher era o espaço doméstico, e sua função dedicar-se ao marido e aos filhos. Ao homem estava reservado o espaço público e o comando da arena pública 39”.
Á mulher coube o papel de santa-mãezinha para dar a base para a construção da família ideal, reproduzindo os ideais cristãos e a procriação da população, num projeto de Estado moderno e de cristianização. Era o controle de invisível sobre o visível no cotidiano de tantas mulheres, que acabavam ficando sempre sozinhas, uma vez que o processo de colonização proposto obrigava o nomadismo dos homens. Elas eram obrigadas a ficar sozinhas e ainda escolher entre ser um exemplo de moral ou se tornar uma desqualificada aos olhos dos outros, demonizada por todos e ainda excluída do convívio social 40
2.2- Novos relatos para a história
Ao perceber a situação de terror que ocupava as ruas, muitas mulheres optaram a sair do seu clássico papel de mãe, esposa e dona-de-casa, para ajudar seus maridos, filhos e amigos, a lutar por umpaís mais justo. Com a ditadura militar a mulher urbana pôde contar uma nova história, no qual não eram relatos de mulheres como coadjuvantes e sim como protagonistas. Elas foram protagonistas, como militantes da resistência e como organizadoras da sociedade civil para o retorno do país à democracia. 
Muitas militantes tentavam romper os vários séculos de submissão ao entrarem para a política. Ao optar a participação no mundo político as militantes eram julgadas pordois motivos; deixar o lugar destinado a elas e adentrar no mundo que era exclusivamente de homens, ou seja, a política. 
A mulher militante cometia dois pecados aos olhos da repressão: o de se insurgir contra a política golpista, fazendo-lhe oposição e de desconsiderar o lugar destinado socialmente à mulher, rompendo os padrões estabelecidos para os dois sexos. Faziam política, coisa de homens e invadiam o espaço público, lugar de homens 41.
O lugar da mulher era o espaço privado no lar e o lugar do homem era o lugar público, na área política. No período anterior a Ditadura Militar a mulher não tinha nenhuma participação importante na sociedade e por isso não era encarada como sujeito político. Como diz Colling, “ao feminino caracterizado como natureza, emoção, amor, intuição é destinado o espaço privado; ao masculino, cultura, política, razão, justiça, poder, o espaço público 42”.
Ao analisar a história percebo que ela é contada e exaltada principalmente por homens, deixando de lado e excluindo toda a participação feminina. Dessa forma a mulher é relatada como ser inferior, que não foi importante para as mudanças que ocorreram. Segundo Costa, “as mulheres, como todas aquelas que nunca foram reconhecidos pela historiografia, não têm a sua história registrada 43”.
Com a participação ativa no Regime Militar o sexo feminino contribuiu para novos relatos e novos olhares para a história do Brasil. Os homens que normalmente escrevem e contam as histórias, porisso deixam em segundo plano o gênero feminino, destacando sempre o lado heróico masculino e apenas relatando a mulher como um ser coadjuvante, por isso elas aparecem nas histórias como cozinheira e costureira, ou seja, feitos que desde sua infância foram obrigadas a aprender.
Com a honrosa exceção da princesa Isabel, que aparece sistematicamente como “libertadora” e nunca como “governante”, o Brasil parece ter tido sua história parida exclusivamente por homens. O relato oficial sobre nossa trajetória como nação é estritamente masculino; nos retratos oficiais, nossos heróis têm, quase sempre, barba e bigode 44.
De acordo com Joffily, “entendia-se que ao se falar no ser humano, sempre grafado ao masculino – o Homem -elas estivessem aí subsumidas 45”. Porém, aos poucos as mulheres foram buscando cada vez mais mudanças na historiográfica brasileira. Elas não queriam mais ser o 'sexo-frágil', elas queriam ir à luta, queriam mostrar que poderiam ser muito mais do que a sociedade mostrava.
2.3 - Corpos das torturadas
A tortura foi utilizada como forma de controlar os indivíduos e manter os sistemas de organização social vigente. Existiu essa prática em todas as sociedades, independente de sua origem étnica, localização geográfica, etc.46 Porém, foi aplicada no Brasil com mais força na Ditadura Militar. 
Os algozes não distinguiam sexo, idade, situação física e psicológica, grávidas, mães ou pais. Os carrascos torturavam qualquer pessoa que achavam suspeitasde atividades subversivas. O que variava era a forma de tortura de cada um, tendo as mulheres como principais alvos dos torturadores. 
Não se tratava apenas de produzir, no corpo da vítima, uma dor que a fizesse entrar em conflito com o próprio espírito e pronunciar o discurso que, ao favorecer o desempenho do sistema repressivo, significasse sua sentença condenatória. Justificada pela urgência de se obter informações, a tortura visava imprimir à vítima a destruição moral pela ruptura dos limites emocionais que se assentam sobre relações efetivas de parentesco. Assim, crianças foram sacrificadas diante dos pais, mulheres grávidas tiveram seus filhos abortados, esposas sofreram para incriminar seus maridos 47. 
Para as forças repressivas, os motivos do Estado em torturar, eram maiores do que o direito à vida. O sistema repressivo não fazia diferença entre homens e mulheres, o que mudava era a forma de tortura. Quando eram presas, as mulheres urbanas tinham pela frente não apenas a tortura, mas também a violência sexual, até mesmo as freiras foram estupradas por militares. 
A tentativa de destituir a mulher de seu lugar feminino, de mulher, de mãe, não encontrou nos porões da ditadura qualquer trégua. O lugar de cuidadora e de mãe foi vulnerado com a ameaça permanente aos filhos também presos ou sob o risco de serem encontrados onde estivessem escondidos. O aviltamento das mulheres que acalentavam sonhos futuros de maternidade foi usado pelos torturadorescom implacável vingança, questionando-lhe a fertilidade após sevícias e estupros48.
Os torturadores por serem do sexo masculino, transformavam a sexualidade feminina como seus fetiches.
A bancária Inês Etiene Romeu, 29 anos, denunciou: [...] A qualquer hora do dia ou da noite sofria agressões físicas e morais. “Márcio” invadia cela para “examinar” meu ânus e verificar se “Camarão” havia praticado sodomia comigo. Este mesmo “Márcio” obrigou-me a segurar o seu pênis, enquanto se contorcia obscenamente. Durante este período fui estuprada duas vezes por “Camarão” e era obrigada a limpar a cozinha completamente nua, ouvindo gracejos e obscenidade, os mais grosseiros [...]49.
Os algozes agrediam as crianças para atingir a mãe. Nem sequer as mulheres grávidas eram poupadas. Além das diferenças sexuais, a mulher tinha outra fragilidade que a tornava ainda mais vulnerável, a gravidez.
Em 1974, com uma barriga de seis meses de gestação, a militante do grupo revolucionário MR-8 Nádia Nascimento foi presa, junto com o seu companheiro, em São Paulo. “Já foram logo me dizendo que filho  de comunista não merecia nascer. Arrancaram minha roupa na frente do meu companheiro, que já estava muito machucado pela tortura, e perguntavam se ele queria que me torturassem, diziam que dependia dele. Ameaçaram me estuprar na frente dele, mesmo grávida. Até que, em um dado momento, me colocaram na cadeira do dragão. Ali, comecei a sangrar por causa dos choques e perdi meu filho”,conta Nádia [...]50.
Muitas mulheres urbanas em seu processo de tortura eram pressionadas a cada instante a declarar o que os militares desejavam. Uma dessas formas, além de agredir as crianças para atingi-lás, era quando os militares mostravam pessoas que já tinham sido torturadas anteriormente. 
A assistente social Ilda Brandle Siegl, de 26 anos, declarou em seu depoimento no Rio, em 1970: [...] (o) que mais influiu no ânimo de depoente foi o fato de ser mostrado a ela um rapaz, que hoje sabe ser Flávio de Melo e que se encontrava arrocheado no braço e com o rosto inchado, e disseram à depoente que, se não concordasse em colaborar, ficaria igual a ele: [...] que disseram a ela que a tortura ali era científica, não deixava marca; que foi espancada e despiram a depoente e provocaram choques elétricos; que, enquanto um aplicava choque, o Dr. Mimoso abanava a depoente para que a mesma não desmaiasse; que havia pausa a critério médico; que aplicaram choques nos seios, no umbigo e na parte interna das coxas; que, após, foi jogada numa cadeira, já que não podia ficar de pé; [...] 51.
Muitas militantes ficaram com marcas perpétuas e irreversíveis das torturas em seu corpo. Houve também muitas mulheres que morreram sobre forte tortura:
Algumas foram cingidas com uma cinta de aço que, paulatinamente apertada, levou-as à morte; outras foram assassinadas a sangue frio; muitas foram estupradas, mutiladas e atingidas pelas armas. Algumas enlouqueceram pela dor e pelabrutalidade e não sobreviveram aos choques elétricos. Todas, em sua provável maioria, foram despidas à força em algum momento 52.
Mas também houve muitas mulheres que sobreviveramas torturas e fizeram valer a força da vida. Muitas das sobreviventes por terem sua sexualidade corrompida e os frutos do ventre arrancados, preferiam se calar, para que não caísse em domínio público. Outras tantas com sede de vingança e indignação e optaram por denunciar na Justiça Militar o que padeceram, ou tiveram seus casos relatados por maridos ou companheiros 53. 
2.4 - Contribuição feminina para o fim da Ditadura
As revolucionárias e militantes não deixaram se abalar pelo simples fato de ser mulher, por isso a cada dia tentaram mudar o cenário político para escrever uma nova história.
Se historicamente o feminino é entendido como subalterno e analisado fora da história, porque sua presença não é registrada, libertar a história é falar de homens e mulheres numa relação igualitária. Falar de mulheres não é somente relatar os fatos em que esteve presente, mas é reconhecer o processo histórico de exclusão de sujeitos 54.
Mesmo tendo a sua participação menor nas lutas armadas do que a dos homens, as mulheres urbanas não deixaram isso abalar seu instinto de mudança. Sendo discriminada por serem mulher, mesmo dentro da própria organização contra a ditadura, muitas militantes esconderam sua sexualidade e se comportaram e se vestiam como homens, porque só assim poderiam sertratada de forma igualitária. Como diz Colling, “como espaço fundamentalmente masculino, impunha-se às mulheres a negação de sua sexualidade como condição para a conquista de um lugar de igualdade ao lado dos homens 55”.
As militantes urbanas tinham que provar a todo o momento que poderiam ser tão boa revolucionária e guerrilheira quanto os homens, onde os mesmos não as achavam competentes o suficiente para ocuparem lugares de destaque entre os grupos opostos ao Regime Militar. 
Esta subversiva estava fora dos padrões de mulher aceitável e ideal, ou era puta ou homossexual. Isso fica evidente no termo que os militares usam para caracterizar a mulher militante: “Puta Comunista”, duas palavras que desqualificam a mulher como agente político e ativo que eram 56.
A questão de gênero perpassa a questão social e a questão política. Não é por ser de esquerda, preocupado com os destinos gerais do país que o militante terá uma percepção de igualdade entre os sexos. Ele também entende que o comando político deve ser dos homens. Talvez por este motivo raramente encontramos dirigentes femininas nos grupos clandestinos. Homens e mulheres esqueciam que a luta pela igualdade passa pelo reconhecimento das diferenças 57.
Porém, posteriormente em seu livro Colling (2008) afirma que, os militantes só passariam a dar relevância a essa discussão no final dos anos 70, com a reorganização da esquerda brasileira. 
Ao mesmo tempo em que esses fatos ocorriam, outras mulheres dasociedade civil e de organizações sociais se organizavam em movimentos de protestos e de indignação, nas ruas e nas praças, dentro das universidades e das escolas, em igrejas, nos sindicatos, nas fábricas, na cidade e no campo. Algumas se agigantaram em ações determinantes para que setores da sociedade se reunissem em movimento de crítica e de campanha pelo fim da ditadura 58. 
Entre esses movimentos, existiu a luta pela anistia que inicialmente foi organizado pelas mulheres com o nome de Movimento Feminino pela Anistia (MFPA) liderado por Therezinha Zerbeni, e posteriormente teve o nome de Comitês Brasileiros pela Anistia (CBAs). Esse comitê ocorreu devido à indignação de vários setores da sociedade para acabar de vez com a ditadura e para ter de volta os direitos humanos; Com ênfase na luta pela anistia, volta de todos os exilados, banidos e cassados, luta contra as perseguições políticas, as prisões e torturas, revogação da Lei de Segurança Nacional, entre outros. “O I Congresso pela Anistia, realizado em novembro de 1978, em São Paulo, foi um marco na consolidação dos comitês de anistia, que chegaram a ser sessenta em todo o Brasil 59.”
Ocorreu também outro movimento apenas com mulheres em 1980. O CBA/SP foi uma manifestação comovente nas ruas de São Paulo. Durante a visita ao Brasil do ditador argentino Jorge Rafael Videla. Sob o comando de Ruth Escobar que propôs que todas se vestissem de preto, com lenços brancos na cabeça com os nomes dosdesaparecidos e nas mãos matracas. Elas se reuniram na escadaria do Teatro Municipal e seguiram pelo Viaduto do Chá até o Largo São Francisco. 
Hoje, estão reintegradas à cena social, política e cultural do país mulheres que foram atingidas mais duramente pela ditadura civil-militar. Muitas que protagonizaram movimentos sociais de libertação e/ou estivera clandestinas e exiladas continuam, em diferentes patamares, sustentando novos projetos para o país 60.
O Regime Militar não tinha espaço para mulheres, porém ao contrário disso a mulher esteve à frente de lutas nesse período. Elas emprestaram seus talentos e competências na luta contra a ditadura civil-militar compondo tanto a frente armada como o apoio logístico.
As revolucionárias não se abalaram com a discriminação que sofreram, porque sabiam que ao optar a sair do seu clássico papel, elas iam sofrer de qualquer jeito. As mulheres foram essenciais para as mudanças do cenário político do Regime Militar. Em relação à quantidade de militantes contra a ditadura, a mulher sempre esteve em número inferior do que os homens. 
“É praticamente impossível resgatar, em termos quantitativos, a participação feminina na resistência ao estado da exceção. Acredita-se que as mulheres representavam entre 20% e 25% dos militantes e do total de presos políticos, e 10% dos cerca de 400 mortos e desaparecidos políticos 61”.
Ainda de acordo com Joffily, certas quantidades de mulheres que não queriam ir de fato à luta armada,ajudaram seus filhos, maridos, irmãos e amigos da forma que era possível, de uma forma menos visível. Elas ofereciam sua casa como esconderijo ou lugar para reuniões dos clandestinos. 
As militantes sabiam que se fosse em sua casa os militares não iam suspeitar, porque era casa de uma 'dona-de-casa' que estava apenas fazendo o seu papel social, cuidar do lar. Essas mulheres que além de oferecer seu lar, cuidavam de alguns feridos e ofereciam também o que a mulher devia saber de melhor, “cozinhar” e “passar”. 
As mulheres foram fundamentais no combate ao regime em todas as suas fases. Seu engajamento nos movimentos pela anistia dos presos políticos, que muitas vezes culminaram com passeatas exclusivamente femininas, são a parte mais conhecida dessa militância. Mas, nas organizações de esquerda Ditadura, elas também foram importantes. Guardavam armas e abrigavam militantes (aliás eram preferidas para essa função, pois levantavam menos suspeitas), traduziam jornais comunistas estrangeiros, participavam das aulas de doutrinas ideológicas, da elaboração dos planos de assaltos e sequestros, tinham aulas de tiro e muitas foram a Cuba fazer curso de guerrilha 62.
De acordo com Joffily, “as mulheres tiveram papel importante na luta armada, tanto no campo quanto na cidade. Em número significativo, estiveram à frente de ações da guerrilha urbana, como sequestro de diplomatas e assalto a bancos 63”. 
As guerrilheiras foram de fundamental importância para derrubar oRegime Militar do poder, pois de acordo com sua 'sensibilidade feminina' poderiam adentrar lugares em que os homens não tinham acesso.
Há familiares que seguem buscando seus desaparecidos, aliados ás mulheres e aos homens que continuam acreditando que o Brasil pode avançar na direção de um resgate pleno, lúcido e inquestionável de nossa história, para que, enfim, os brasileiros possam se olhar frente a frente, sabendo quem são e quais foram os lugares que ocuparam na construção de nossa história recente 64.
CAPÍTULO 3- PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE JAMAIS ACONTEÇA
3.1 – História e memória
O período chamado Ditadura Militar do Brasil que durou mais de duas décadas, ficou marcado por três fases diferentes. A primeira foi o Golpe de Estado, em abril de 1964, e a estabilidade do novo regime. A segunda começano ano de 1968 com a decretação do Ato Institucional nº5 (AI-5), denominado anos de chumbo, período em que o regime alcançou seu mais alto grau de repressão. A terceira ficou marcada pela posse do general Ernesto Geisel, em 1974, - ano em que os desaparecimentos aos militantes se tornaram rotina- onde se iniciou uma lenta abertura política para o fim do regime 65.
Os anos entre 1964-1985 ficaram marcados por um período conturbado, de injustiças e violações dos direitos humanos que ate hoje continua obscuro. Os mais atingidos desse período não se calaram diante ameaças dos algozes e dia-a-dia lutaram para que osverdadeiros culpados fossem devidamente julgados e condenados. “No Brasil, assim como em outros países, a questão da repressão política é, quase sempre, levantada, debatida e estudada a partir de denúncias dos atingidos ou de relatos das entidades que se voltam para a defesa dos Direitos Humanos 66”. 
É de extrema relevância saber por que tantas pessoas foram mortas, em especial as mulheres que foram as primeiras a sair às ruas a procura de seus maridos, pais, amigos e filhos torturados, presos ou “desaparecidos”. Para isso existe “a importância de rememoração, do recorda-se das imagens de um passado fadado ao esquecimento adquire suma importância no marco de uma memória coletiva da barbárie humana 67”.
Essas guerreiras que fizeram valer a força da vida guardaram em sua memória os acontecimentos mais marcantes desse período. Seus sofrimentos, torturas, tristezas e mortes presenciadas, são assuntos delicados e que ate os dias de hoje continuam sem explicação. “Pelo ato de se fazer a memória temos a exata noção de que ‘algo importante ocorreu no passado e ainda hoje ele o é’, assim a memória é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações [...] 68”.
Muitos deles vinham assistir para aprender a torturar. [...] Eu vejo a cara do estuprador. [...] Era um homem gordo, que me dava choques na vagina e dizia: ‘Você vai parir eletricidade’. Depois disso, me estuprou ali mesmo. [...] Em todas as vezes em que eu era pendurada, eu ficava nua, amarrada pelospés, de cabeça para baixo, enquanto davam choques na minha vagina, boca, língua, olhos, narinas. Tinha um bastão com dois pontinhos que eles punham muito nos seios. [...] O estupro foi nos primeiros dias, o que foi terrível para mim. Eu tinha de lutar muito para continuar resistindo. Felizmente, eu consegui. Só que eu não perco a imagem do homem. É uma cena ainda muito presente. Depois do estupro, houve uma pequena trégua, porque eu estava desfalecida. [...] Eles tiveram muito ódio de mim porque diziam que eu era macho de agüentar. [...] Me tratavam como uma pessoa completamente desumana. Eu também os enfrentei muito. Com certa tranquilidade, eu dizia que eles eram seres anormais, que faziam parte de uma engrenagem podre. Eu me sentia fortalecida com isso, me achava com a moral mais alta 69.
A importância de tornar visíveis os nomes, faces, derrotas e vitórias das mulheres urbanas na Ditadura Militar são com intuito de legalizar a participação delas na luta contra o Regime. “Ao homenagear mulheres brasileiras que resistiram à tirania do poder e o enfrentaram, resgata-se a memória de acontecimentos singulares e iluminam-se lacunas ainda existentes em nossa história 70”.
3.2- Memórias das mulheres urbanas na luta contra o Regime
As sombras e o terror da Ditadura Militar no Brasil continuam escondendo muitos detalhes. Em especial a luta e a participação das mulheres nos movimentos de resistência ao Regime, que não deve ser menosprezada e sim destacada. “Aquestão de gênero ganha, hoje, novos contornos. O debate político sobre qual papel e a dimensão do Estado que queremos tem implicações diretas sobre o bem-star das mulheres 71”. 
A memória das mulheres que participaram ativamente na luta contra o Regime Militar, foi ‘escondida’ durante muitos anos, prevalecendo assim, a memória dos grandes vencedores desse período. Por serem tratadas como seres inferiores, elas tiveram suas memórias silenciadas e desqualificadas, dita como sem importância durante muitos anos.
Na luta pela memória do período da ditadura no Brasil, prevaleceu a memória daqueles que foram vencidos pelo regime, mas que venceram nos entraves da construção da memória. Entretanto, a memória dos vencidos que venceram foi pautada em outras inúmeras memórias que foram esquecidas, silenciadas ao longo do processo de cicatrização do trauma político do período ditatorial 72.
Para recuperar a luta feminina pela democratização da sociedade é necessário revelar sua memória e os registros importantes que foram deixados de lado pelo simples fato de ser contado e exaltado por mulheres. Assim, “não havendo memória não haverá lembrança e não haverá passado e aquilo que é importante ser lembrado ficará esquecido, correndo o risco de se tornar uma lenda, um mito 73”. Com a revelação da memória dos 'esquecidos' que foram silenciados durante muito tempo, surge outra versão da história. Essa nova versão não é dita como inferior e sim como de extrema importânciapara a descoberta de novos acontecimentos.
A participação da mulher em movimentos de resistência à ditadura militar no Brasil ainda é pouco pesquisada, sua participação é relatada como inferior, sem importância. Por serem vista e tratada como incapazes, elas tiveram que ao todo momento se igualar aos homens, negando ate a sua condição feminina. 
Julgavam-se sem importância para serem presas junto com os homens, as representações de inferioridade são demonstradas com a forma de linguagem, para quem ultrapassa barreiras, resta à desqualificação como indivíduos desviante e acabam assumindo para si o discurso masculino.74
Muitas militantes que sobreviveram a esse Regime preferem silenciar as torturas, as mortes e os massacres que presenciaram como forma de esquecer que um dia já passaram por isso, mas ao contrário, outras tantas preferem relatar toda a sua participação e sofrimento que testemunharam, para que isso jamais aconteça. Como cita uma sobrevivente desse período.
Minha filha nasceu em setembro de 1976, durante o governo Geisel. Eu tive de fazer o parto num hospital, fiz uma cesariana, sofri muita pressão. [...] Eu a entreguei para a minha sogra, pois minha família estava todo no exílio. Foi a pior coisa da minha vida, a mais dolorida. A separação de uma criança como três meses é muito dura para uma mãe, é horrível. [...] De toda a minha história, essa é a mais dramática. A minha gravidez resultou do primeiro caso de visita íntima do Rio deJaneiro. Meu marido estava preso na ilha Grande e, quando da passagem do governo Médici para o Geisel, havia uma reivindicação para que nos encontrássemos. Fazia cinco anos que não nos víamos. Foi nessa conjuntura que eu fiquei grávida. A nossa prisão foi muito violenta. Fomos levados para o DOI-Codi, onde fomos muito torturados. As torturas foram tudo que você pode imaginar. Pau de arara, choque, violência sexual, pancadarias generalizada. Quando chegamos lá, tinha um corredor polonês. Todas as mulheres que passaram por ali sofreram com a coisa sexual. Isso era usado o tempo todo 75.
3.3- Memórias das mulheres no exílio
Após a legalização do Ato Institucional nº 05 (AI-5) em 1968, ocorreu o início no Brasil à violência mais escancarada. Esse Ato marcou o endurecimento do regime, que ficou conhecido como os “anos de chumbo” e partir daí qualquer atividade que fosse considerada como ‘subversiva’ era dita como crime 76. 
Com isso muitas pessoas que eram contra a Ditadura foram obrigadas a se exilarem e entre eles haviam várias mulheres, que iam viver em outro país por basicamente dois motivos: em razão da sua própria vida como militante política ou para acompanhar seus maridos, irmãos, amigos e filhos militantes.
São exiladas as perseguidas, as punidas, as presas e torturadas. São exiladas as que sofreram perseguições indiretas. Esposas, mães, filhas e amantes. São exiladas as que perderam suas condições de trabalho, também aquelas que não puderam suportar osufoco numa sociedadeonde a ditadura desenvolveu e potenciou tantas foras de opressão. E ainda aquelas que teimaram em ser livres onde as liberdades estavam cerceadas.77
A convivência com outra realidade e com outro tipo de cultura foi traumática. Existia certa dificuldade em relação à nova língua, comida diferente, educação dos filhos, solidão, etc. Mesmo com todas essas dificuldades, não foi pior do que as limitações que elas tiveram para deixar o país de exílio, ou as que decidiram voltar e desapareceram. Essa constatação não diminui a culpa de quem provocou as formas de exílio. Como cita Costa, “se para algumas pessoas as condições impostas acrescentaram dificuldades e riscos, nem por isso aquelas que melhor puderam exercer a sua vontade de sair deixaram de sofrer pressões que pesaram decisivamente em suas escolhas 78”.
Existiram várias formas de exílio, por várias razões e outra tantas formas de lidar com essa situação, independente dos motivos foi uma experiência totalmente nova. Ocorreu também o exílio dentro do próprio país para as mulheres que viviam na clandestinidade, essa forma de viver era considerada como 'exílio' porque a militante abandonava toda a sua vida. Após cair na clandestinidade a mulher não morava no mesmo lugar, não tinha o mesmo nome, não tinha os mesmos direitos de antes, etc., ou seja, era uma estrangeira dentro do próprio país. 
Para muitas delas o pior do exílio foi à separação dos filhos, ou porque ficam ou porque voltam,a decisão de ser exilada é condicionada com a presença do filho, assim como a decisão de sair é condicionada a eles também. Houve também muitas discussões acerca da decisão de terem filhos na condição de exilada. Os filhos são laços muito importantes para a vida de uma mulher, principalmente para quem está fora do seu estado/país de origem e a perda de um filho representou uma mudança na vida delas.
No dia 8 de dezembro de 1965, com a criançada, tomei o ônibus com destino ao Rio, de onde dois dias depois deveria partir para o Chile. [...] Ao decolar do Rio, a gente teve a convicção de que aquela não era uma viagem comum. Quando eu olhava os meninos dentro do avião, tão pequenininhos, três ainda de mamadeira, eu sentia um medo muito grande e a sensação da enorme responsabilidade que estava assumindo: eu os estava arrastando para longe do país deles, mudando mesmo seus destinos, num projeto de vida que eu próprio desconhecia. […] Os meninos foram crescendo, a gente cada vez mais integrada na vida chilena...o Brasil em certo momento nos parecia mais remoto. […] Nós voltamos sem ódio nem traumatismo. Se alguma coisa aprendemos nestes anos de exílio, foi aproveitar o que de bom a vida nos oferece e deixar o resto pelas margens do caminho. 79
Em relação às mulheres exiladas processadas judicialmente, o governo fazia distinção de classe social.
A maioria das presas e exiladas de extração social mais pobre foram incriminadas por serem mães, irmãs ou esposas deesquerdistas militantes, não por participarem diretamente de atividades consideradas subversivas da ordem estabelecida. Ao contrário das mulheres intelectualizadas processadas, as quais, em geral, participavam ativamente das ações da esquerda, inclusive das armadas 80.
3.4- Feminismo e integração
Foi também no exílio que a maioria das mulheres militantes tiveram uma consciência “feminista” que começou a surgir em Paris. Além de tratar de assuntos gerais, tratava a condição da mulher na luta política e no cotidiano, abordava também a questão do machismo no interior da própria organização política. Elas perceberam que eram discriminadas dentro da sua organização. “Era a primeira vez que se deparavam com o machismo de seu companheiro de esquerda [...] 81”. 
Na teoria as militantes deveriam ser tratadas e respeitadas da mesma maneira que o homem dentro da organização. Como diria a militante Sonia, “a gente era militante, soldado da revolução, e soldado não tem sexo! 82”. Porém isso não acontecia, os homens da organização precisavam das mulheres para compor uma fachada legal, de um casal normal, mas eles não as tratavam de forma igualitária. Em seu depoimento a militante Sonia deixa isso bem claro. 
[...] eu já sentia alguns problemas como mulher, por exemplo, os companheiros achavam que as mulheres não tinham muita condição de participar das ações. [...] Esse troço eu sentia. Era qualquer coisa do gênero: vocês partem do princípio de que todo mundo é igual,então vamos demonstrar! Agora, é claro que na orientação política da organização a influência das mulheres era muito menor do que a dos homens 83.
Não se deve supor, contudo, que as mulheres eram completamente submissas nos grupos de oposição ao Regime. Muitas mulheres chegaram a ocupar cargos de comando, mesmo que raramente e muitos homens da organização fizeram as tarefas caseiras, dita como ‘feminina’. “Caíra o tabu da virgindade; havia questionamento da monogamia; assumia-se no discurso a total igualdade entre o sexo; etc. 84”
3.5- Ser mulher e militante
Como já dito, a mulher quando optava entrar no mundo da política e das organizações opostas ao Regime, era julgada e condenada por sair do clássico papel de mãe, esposa e dona-de-casa que já lhe estava predestinadas. A sociedade não admitia que a mulher fizesse parte das esquerdas armadas e por isso as julgavam e não as aceitavam de nenhuma forma.
Quando eram presas pelos militares, as mulheres urbanas tinham pela frente não apenas a tortura, mas também a violência sexual. O sistema repressivo não fazia diferença entre homens e mulheres, o que mudava era a forma de tortura. Para as forças repressivas, os motivos do Estado em torturar, eram maiores do que o direito à vida. 
As mulheres urbanas não tinham nenhuma participação ativa na política e na economia, para elas restava apenas o espaço doméstico. Com a Ditadura Militar, as mulheres puderam escrever uma nova história e com a participação ativano Regime Militar o sexo feminino contribuiu para novos relatos e novos olhares para a história do Brasil.
Houve muitas mulheres que sobreviveram as torturas e fizeram valer a força da vida. Muitas das sobreviventes por terem sua sexualidade corrompida e os frutos do ventre arrancados, preferiam se calar, para que não caísse em domínio público. Outras tantas com sede de vingança e indignação optaram por denunciar na Justiça Militar o que padeceram, ou tiveram seus casos relatados por maridos ou companheiros.
São essas mulheres que ajudam para uma nova visão da história e para novas descobertas. Muitas militares registraram seus depoimentos para ficar gravado na memória da população o que aconteceu nesse período, “para que não se esqueça, para que jamais aconteça 85”.
Hecilda Fontenelles Veiga, ex-militante da Ação Popular (AP), era estudante de Ciências Sociais quando foi presa, em 6 de outubro de 1971, em Brasília (DF). Hoje, vive em Belém (PA), onde é professora do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Quando fui presa, minha barriga de cinco meses de gravidez já estava bem visível. Fui levada à delegacia da Polícia Federal, onde, diante da minha recusa em dar informações a respeito de meu marido, Paulo Fontelles, comecei a ouvir, sob socos e pontapés: ‘Filho dessa raça não deve nascer’. [...] Fomos levados para o Batalhão de Polícia do Exército do Rio de Janeiro, onde, além de me colocarem na cadeira do dragão, bateram emmeu rosto, pescoço, pernas, e fui submetida à ‘tortura cientifica’, numa sala profusamente iluminada. [...] As sensações que aquilo provocava eram indescritíveis: calor, frio, asfixia. [...] Aí, levaram-me ao hospital da Guarnição em Brasília, onde fiquei até o nascimento do Paulo. Nesse dia, para apressar as coisas, o médico, irritadíssimo, induziu o parto e fez o corte sem anestesia. Foi uma experiência muito difícil, mas fiquei firme e não chorei. Depois disso, ficavam dizendo que eu era fria, sem emoção, sem sentimentos. Todos queriam ver quem era a ‘fera’ que estava ali 86.
Rose Nogueira, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), era jornalistaquando foi presa em 4 de novembro de 1969, em São Paulo (SP). Hoje, vive na mesma cidade, onde é jornalista e defensora dos direitos humanos.
‘Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente [...]. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido [...]. Segurei os seios o leite escorreu [...]. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça comum olhar de louco [...]. Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu filho. ‘Vamos quebrar a perna’, dizia um. ‘Queimar com cigarro’, dizia outro 87.
Lúcia Coelho, ex-militante do Partido Operário Comunista (POC), eraprofessora da Faculdade de Medicina da USP quando foi presa em 15 de julho de 1971, em São Paulo (SP), juntamente com seu marido Ruy Coelho, vice-diretor da Faculdade de Filosofia da USP. Hoje, vive na mesma cidade, é psicólogo e presidente da Sociedade Rorschach de São Paulo.
Cheguei na Oban e a violência começou no interrogatório, com choque elétrico. [...] Eles faziam piadas sobre o corpo das mulheres, se em feio, jovem, velho gozavam dos defeitos. [...] Eles abusava, violentaram, de uma maneira ou outra, humilhavam, tornam objeto. Eles faziam a gente se sentir uma porcaria. [...] Eles tinham um prazer na tortura. [...] Depois da Oban, fui para o Dops e para o Tiradentes onde a coisa foi ficando mais de tortura psicológica e não física. Mas sempre com aquele horror de saber que a qualquer momento a gente poderia voltar para a Oban 88.
Maria Amélia De Almeida Teles, ex-militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), era professora de educação artística quando foi presa em 28 de dezembro de 1972, em São Paulo (SP). Hoje, vive na mesma cidade, é diretora da União de Mulheres de São Paulo e integra a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2008, na categoria Defensores de Direitos Humanos. 
Fomos levados diretamente para a Oban. Tiraram o César e o [Carlos Nicolau] Danielli do carro dando coronhadas, batendo. Eu vi que quem comandava a operação do alto da escada era o Ustra [coronelreformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra]. [...] A primeira forma de torturar foi me arrancar a roupa. Lembro-me que ainda tentava impedir que tirassem a minha calcinha, que acabou sendo rasgada. [...] Com tanto choque e soco, teve uma hora que eu apaguei. [...] Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido. Fiquei nessa cadeira, nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. [...] Mas com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques. Quando me viu, a Janaína perguntou: ‘Mãe, por que você está azul e o pai verde?’. O Edson disse: ‘Ah, mãe, aqui a gente fica azul, né?’. Eles também me diziam que iam matar as crianças. Chegaram a falar que a Janaína já estava morta dentro de um caixão 89.
Damaris Lucena, ex-militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), era feirante quando foi presa em 20 de fevereiro de 1970, em Atibaia (SP). Hoje, vive em São Paulo (SP).
Estávamos na nossa casa em Atibaia. Éramos eu, meu marido e meus filhos. A polícia cercou a casa, arrebentou o portão e bateu na porta. Meu marido estava dormindo. Mandaram chamá-lo e queriam levá-lo para prestar esclarecimento, mas ele pegou um fuzil e disse que não ia. Quando ele saiu na porta, a bala já bateu no peito dele, mas ele ainda estava vivo. Quando caiu, deram trinta, quarenta balas nocorpo. [...] Foi aí que ele morreu, e todos os homens entraram na casa. Eles diziam: ‘Mata ela e os filhos dela, mata essa puta’. Saquearam a casa toda. [...] Quando eu cheguei na delegacia, o pau comeu solto: arrancaram os meninos de mim, me jogaram no chão, pisaram em cima de mim, eu rolava no chão toda ensangüentada. [...] Era soco, pontapé, batiam no meu quadril. [...] Eu me urinava toda, e eles berravam: ‘Essa mulher tá podre, tira essa mulher fedorenta daqui’. Minha vagina ficou toda arrebentada por causa dos choques. Eu tive de fazer uma operação em Cuba, onde levei noventa pontos. Meu útero e minha bexiga ficaram para fora, eu estou viva por um milagre. [...] Nesses dias, eu não conseguia comer, porque, além da comida parecer ‘resto’, cheia de ponta de cigarro e palito, eu estava com a boca inchada. Então, só tomava uma xícara de café. Tinha também xingamento dos nomes mais pesados. De vez em quando, vinham e davam uma bofetada na nossa cara 90.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Primeiramente gostaria de registrar o quão enriquecedor e desafiador foi à realização da presente monografia, onde a mesma envolveu uma ampla revisão acerca da Ditadura Militar no Brasil em específico, a luta das mulheres urbanas contra o Regime Militar. Foi de extrema importância entender o envolvimento Delas num mundo que era exclusivamente masculino, a política. Elas tiveram durante muito tempo sua história não revelada e esse trabalho é uma das formas encontradas por mim para divulgar sua memória.
Cumpri todos os objetivos propostos, para isso fiz de utilização três capítulos. No capítulo inicial fiz uma pequena análise que demonstrou como ocorreu a Ditadura Militar no Brasil, ele serviu como base para compreender os capítulos posteriores. Em seguida, no segundo capítulo dei enfoque na quebra de estereótipos e na fundamental importância das mulheres na luta contra o Regime, e por último, utilizei no terceiro capítulo relatos de memória dessas mulheres que ajudaram a mudar o cenário do país. 
A Ditadura Militar no Brasil, iniciou em 1 de abril e 1964 com o golpe militar e terminou em 15 de janeiro de 1985 com a eleição do novo presidente do país, na época, Tancredo Neves. O Regime durou vinte e um anos e ficou caracterizado pela falta de democracia, violações dos direitos humanos e constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram contra o regime militar.  A Ditadura serviu para a ruptura de estereótipos que eram muito comuns nessa época no Brasil. As mulheres urbanas não tinham nenhuma participação ativa na política e na economia, para elas restava apenas o espaço doméstico, porém ao perceber a situação de terror que ocupava as ruas, muitas mulheres optaram a sair do seu clássico papel de mãe, esposa e dona-de-casa, para ajudar seus maridos, filhos e amigos, a lutar por um país mais justo. 
As sombras e o terror da Ditadura Militar no Brasil continuam escondendo muitosdetalhes, em especial a luta e a participação das mulheres nos movimentos de resistência ao Regime, que não deve ser menosprezada e sim destacada. Por serem do sexo feminino, os torturadores as transformavam como suas taras e além das torturas as mulheres sofriam a violência sexual, muitas delas ficaram com marcas perpétuas em seus corpos e outras tantas não agüentaram o sofrimento e chegaram à falência. Assim é de extrema importância tornar visíveis os nomes, faces, derrotas e vitórias das mulheres urbanas na Ditadura Militar com intuito de legalizar a participação delas na luta contra o Regime
Esse tema deve ser levado em consideração para quem estuda História, porque aborda a questão da luta feminina pela redemocratização do país nos períodos da Ditadura Militar, que permaneceu ‘escondida’ durante vários anos. As mulheres que participaram ativamente contra os militares sofreram bastante pelo julgamento da sociedade e ainda mais por seus torturadores. Para escrever esse objeto de estudo tive como principal inspiração as mulheres que sobreviveram a esse período. Mães que perderam seus filhos ainda grávidas devido as torturas excessivas, esposas que perderam seus maridos nas guerrilhas e principalmente mulheres que fazem valer a força da vida e registram sua história dia-a-dia para que isso não caia no esquecimentoe para que nunca mais aconteça.
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