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Historia Moderna - Aula 1

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HISTÓRIA MODERNA 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Lorena Zomer 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Olá, vamos conversar? Nesta aula, abordaremos conteúdos relativos à 
Idade Moderna. Você sabe o que essa divisão temporal significa? Como ela é 
demarcada e balizada por acontecimentos históricos? Em busca dessas 
respostas, nesta aula analisaremos diversos temas, como o próprio conceito de 
Idade Moderna e como os acontecimentos que servem de parâmetros 
cronológicos desse período foram escolhidos posteriormente. Junto a isso, 
também discutiremos sobre noções de tempo e de temporalidade, visto que as 
organizações sociais têm as mais diversas formas de pensar o seu tempo, isto 
é: não se trata apenas de estudarmos tempos culturais diferentes em um mesmo 
calendário, mas de diversos calendários. Assim, cada sociedade concebe o seu 
tempo e também escolhe, (in)conscientemente, as suas demarcações. Não 
menos importantes são as mudanças econômicas e sociais ocorridas entre os 
séculos XIII e XV no Ocidente, mais precisamente na Europa, visto que essas 
transformações permitiram novos olhares e sociabilidades naquele continente, 
entre eles o desenvolvimento do pensamento humanista e do renascimento 
cultural, comercial e científico. 
TEMA 1 – MARCAÇÕES TEMPORAIS EM HISTÓRIA 
O que diferenciou o período moderno, na Europa, da época que lhe é 
anterior? Nesse primeiro momento, vamos problematizar como uma época é 
diferenciada das demais e de que formas são construídas essas diferenciações. 
É importante ressaltar que as temporalidades e espacialidades podem ser 
baseadas em acontecimentos naturais; porém, na maior parte dos casos, elas 
são históricas e escolhidas posteriormente à época a que se referem. A partir do 
momento que se tornam históricas, também podem ser arbitrárias, visto que são 
frutos de escolhas e podem não representar um olhar múltiplo dos 
acontecimentos históricos, representando objetivos e intenções de certos 
grupos. Assim, nós, historiadores, devemos buscar sempre compreender como 
os grupos sociais perceberam a si e ao seu tempo no âmbito dos acontecimentos 
que compõem a nossa historiografia, a fim de melhor entendermos o passado, o 
presente e o futuro. 
 
 
3 
1.1 Como são definidas as temporalidades e espacialidades no estudo 
histórico 
O historiador italiano Jacob Burckhardt (2009, p. 33), do século XIX, 
afirmava que a essência da história é a sua eterna mutabilidade. O historiador 
chama atenção para o caráter transitório da história, visto que esta é formada 
por acontecimentos que quem a descreve julga importantes e relacionados a 
determinado tempo. Portanto, é possível dizer que as temporalidades e divisões 
cronológicas são também históricas. Nesse contexto, outro historiador, o 
holandês Johan Huizinga (2021), preconizava que não é possível pensar em 
novos modelos culturais de arte ou beleza ou até nos modelos gregos clássicos 
se estando preso aos princípios do período medieval. Para Huizinga (2021), era 
preciso esquecer o período medieval naquilo que remetia à escuridão e destacar 
a arte que havia florescido nele. No entanto, para ele mesmo, diversas práticas 
sociais anteriores persistiam no mundo moderno, do mesmo modo como este 
não era sentido, como tal, por todos. Por isso, é importante a demarcação de 
macroacontecimentos para a organização da própria história. 
Historiadores entenderam que o que se intensificou com a Queda de 
Constantinopla, em 1453, foi a mudança de organização política que mais tarde 
seria entendida como a queda do antigo regime e a ascensão dos Estados 
absolutistas e, posteriormente, já mais para o fim do período moderno, da 
burguesia, cujo símbolo máximo é a Revolução Francesa, em 1789. O que 
entendemos até aqui é que os acontecimentos maiores são marcos de 
processos que começam antes deles e terminam depois da data escolhida, ou 
seja: podemos dizer que as decisões que levam à tomada de Constantinopla se 
iniciam antes dela, da mesma forma que a tomada corrobora para que outros 
fatos, 10 ou 50 anos depois, ocorram. 
Para organizar o tempo e os acontecimentos, optamos pela divisão 
temporal quadripartite, em relação aos períodos da historiografia, isto é: a divisão 
da história em antiga, medieval, moderna e contemporânea faz parte de uma 
escolha cronológica tradicional das escolas francesas metódica e dos Annales. 
Sua organização se deu entre o fim do século XIX e o início do XX, visto que foi 
nesse período que a história foi reconhecida como ciência e, portanto, disciplina 
de conhecimento. Para que isso ocorresse, era preciso que a história tivesse 
métodos, objetos de análise, problemáticas e teorias próprias. Esse 
 
 
4 
reconhecimento, como se sabe, ocorreu nas próprias instituições europeias e, 
assim, a divisão quadripartite, como é conhecida, tem na perspectiva de mundo 
ocidental o seu modelo. Sobre isso, Jean Chesneaux (1995, p. 94-95) afirma que 
essa escolha privilegia a Europa como referência, o que reduz o lugar dos povos 
não europeus nesse modelo de narrativa histórica. Portanto, nosso atual 
assunto, a Idade Moderna, diz respeito a um conceito historiográfico europeu. 
TEMA 2 – O CONCEITO DE IDADE MODERNA E DE MODERNIDADE 
O conteúdo da obra Historia universalis breviter ac perspicue exposita 
(Cellarius, 2011) estava relacionado ao contexto da Antiguidade, da Idade Média 
e a um novo período que, nesse caso, surgia em oposição ao medieval, 
caracterizado como uma época de trevas (Koselleck, 2006, p. 31). O conceito 
de Idade Moderna aparece, então, ainda em meados do século XVII, com 
Cellarius (2011), segundo o historiador alemão Reinhart Koselleck (2006). O 
objetivo primário de tal designação era romper qualquer relação estabelecida ou 
comparada com o período anterior, que para os intelectuais da época de 
Cellarius (2011) era uma Idade das Trevas ou, como a conhecemos, Idade 
Média. Para Koselleck (2006), as práticas políticas e humanistas do período já 
prometiam uma perspectiva de futuro que não era a cristã, prevista e relacionada 
à providência divina. Com esse apontamento ou expectativa é que Koselleck 
(2006) afirma que houve essa necessidade de tratar a Idade Média como um 
passado a ser esquecido. Junto a essas discussões, também é pertinente a crise 
do feudalismo, a qual é concomitante às mudanças capitalistas e à emergência 
de uma economia monetária, ao renascimento das cidades, aos novos olhares 
direcionados à natureza, a Deus e ao ser humano. 
Assim, é possível dizer que mundo moderno é diferente de 
modernidade, embora essas sejam ideias que se cruzam. Se, por um lado, o 
período moderno diz respeito ao tempo de transição entre o tempo medieval e o 
contemporâneo, marcado por dois acontecimentos, a Queda de Constantinopla, 
em 1453, e a Revolução Francesa, em 1789, ao mesmo tempo não é possível 
entender o período moderno sem a modernidade. 
Sobre isso, é importante ressaltar que há outras discussões pertinentes, 
acerca desses conceitos. Segundo Tzvetan Todorov (2019), esse período 
moderno – e sua modernidade – só foram possíveis pela ocupação da América, 
que alterou tanto o horizonte europeu como a própria concepção vigente até 
 
 
5 
então de mundo, para além do advento de uma ideia de modernização e de 
desenvolvimento tecnológico. Além disso, Enrique Dussel (1995) lembra que as 
categorias do que é ser moderno ou de modernidade são próprias de uma 
colonialidade do saber, que é europeia, em relação ao restante do mundo 
(incluindo a América), isto é: são termos regionais que foram apropriados de 
forma universal, a fim de sustentar um longo processo de dominação. Para 
Dussel (1995), a fim de pensar em outras possibilidades fora da Europa, é 
preciso pensar a categoria de transmodernidade, como um ato particular 
europeu, mas que transformou todo o mundo a partir da ocupação da América e 
da criação da própria ideia de Ocidente.De modo geral, o conceito de 
modernidade, no contexto moderno, para Dussel (1995) ou Todorov (2019), 
implica alterações materiais e subjetivas das relações de poder políticas, 
culturais, sociais e econômicas em todo o mundo, depois da ocupação da 
América. 
Essas transformações fizeram emergir outras noções de tempo e de 
sociabilidade no mundo ocidental. A fim de organizar essas mudanças é que 
historiadores, a partir dos séculos XIX e XX, demarcaram os acontecimentos 
supracitados. O mundo moderno – com sua modernidade – é um tempo de 
transição, cujas experiências culturais do renascimento estão intrinsecamente 
ligadas às mudanças econômicas e políticas e não, em menor intensidade, 
àquelas cristãs relacionadas a quase todas as instituições. 
Não é possível falar em moderno e modernidade, porém, sem considerar 
o renascimento e o capitalismo. As pessoas podem perceber que os novos 
produtos, culturas e sociabilidades são diferentes, mas entendê-los como partes 
de uma nova política e economia só começa a se tornar mais perceptível para 
os intelectuais com a discussão e divulgação das ideias iluministas e das 
mudanças decorrentes da Revolução Industrial. Esta configura a consolidação 
de um novo sistema econômico, que utilizava forças de produção, formas 
diferentes de se perceber e pagar pelo tempo, bem como se vinculava a uma 
nova ideia, de economia de mercado com vasta circulação de mercadorias. 
Nesse mesmo mundo convivem a escravidão e a servidão, ao menos até o fim 
da Revolução Francesa (na Europa), as práticas de encomienda e de 
assalariamento. 
 
 
 
6 
2.1 A consciência do próprio tempo 
Num tempo em que temos consciência sobre as diferenças entre os 
apresentados quatro períodos da história, não é possível dizermos – e nem 
deveríamos – que aqueles que viviam no período medieval o criticavam por ser 
medieval; afinal, como nos lembra Marc Bloch (2002), somos todos filhos do 
nosso tempo. Koselleck (2006, p. 31) afirma que é ainda no período humanista 
que os conceitos de Idade Média, Antiguidade e Idade Moderna começam a ser 
forjados; no entanto, tais conceitos são com mais força disseminados a partir do 
século XVII, segundo o historiador, quando as sociedades passaram a viver, no 
que entendemos como modernidade, conscientes, ao menos em parte, desse 
processo. 
Essa consciência não pode ser vista da mesma forma como entendemos 
a consciência que historiadores dos séculos XX/XXI têm sobre aquele tempo, 
mas como o modo como se percebiam sujeitos e percebiam as mudanças que 
vivenciavam os indivíduos daquele tempo, mesmo que continuidades também 
sejam comuns. Logo, o período moderno deu ao sujeito social uma noção de 
indivíduo para além do coletivo ou da providência divina, fazendo-o estabelecer 
uma outra relação para consigo mesmo e com o mundo em que vivia ou, como 
afirma Burckhardt (2013, p. 140), um ser espiritual de seu tempo, o qual estava 
em crise, em transição. 
2.2 Da crise do feudalismo ao conceito de Idade Moderna 
Para Falcon e Rodrigues (2000), o período moderno também tem sua 
marca na transição do feudalismo para o capitalismo, considerando-se ainda as 
adaptações absolutistas e burguesas operadas a partir dos séculos XVI e XVII. 
Entre as mudanças ocorridas – que não são homogêneas e concomitantes – 
estão o aumento do fluxo das navegações, que geraram inovações como 
aparelhos auxiliares de navegação como a bússola, o desenvolvimento da 
cartografia, de novos produtos e culturas. Ressaltamos a participação, nas 
navegações, de diversos países, como a Holanda, a Espanha, a França e a Itália. 
Entre diversos acontecimentos que marcaram essa transição, podemos 
citar a peste negra. A necessidade de se buscar uma solução para a epidemia 
ocasionou uma maior busca por pesquisas e conhecimento sobre o corpo 
humano, o que aumentou o espaço de atuação e o debate sobre a ciência. É 
 
 
7 
importante destacar que essas mudanças se tornam maiores quando somadas 
a outras acontecimentos, como o advento do comércio ultramarino, a 
colonização da América, o renascimento e a Revolução Industrial, que deram 
juntos um sentido à modernidade e ao período moderno europeu. 
TEMA 3 – RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO 
Nesse contexto, é importante considerarmos o renascimento comercial e 
o urbano que ocorreram no Ocidente Europeu a partir dos séculos XIII e XIV. 
Além de se estudar em quais condições emergiram, é preciso considerar suas 
implicações sociais, especialmente pelo poder e destaque ocupado pela 
burguesia, logo posteriormente. Pouco antes do renascimento, muitas dessas 
cidades europeias, portuárias ou não, já sentiam que estava em curso um 
processo de urbanização e de criação de novas formas de comércio (Burckhardt, 
2013, p. 221). 
Isso ocorreu depois de séculos em que essa região havia sido dominada 
em parte ou ameaçada pelo Império Turco-Otomano, que disputava forças com 
o Império Romano do Oriente, e das consequências da peste negra. Nesse 
sentido, uma maioria da população era camponesa, iletrada e não tinha acesso 
à cultura artística mais tradicional. Com o aumento dos burgos, aqueles centros 
de comércio que existiam dentro ou entre os territórios feudais, a necessidade 
de cunhagem de moedas se intensificou, bem como a criação de vilas em torno 
desses burgos. Isso estava aliado ao comércio baseado em trocas, no crédito e 
em moedas, decorrentes das muitas mercadorias que chegavam à Europa pelas 
novas rotas do Mediterrâneo. Tanto o comércio ambulante se tornou comum, 
fazendo com que surgisse uma nova classe, a burguesia; quanto as feiras livres 
se tornaram espaços e estilos próprios de fazer comércio. É importante ressaltar 
que isso ocorria em vários países da Europa, como nas cidades da região de 
Flandres ou da França, embora na Itália houvesse muita força no poder 
comercial de Veneza, Florença, Gênova, justamente por estarem no curso do 
circuito comercial marítimo do Mediterrâneo. 
Portanto, circulação de mercadorias, novas transações financeiras e 
novas associações de produção também surgiam. Além disso, após a crise do 
feudalismo, houve necessidade de renovação do ensino jurídico, naquele 
contexto, de mudanças nas feiras e nas cidades para atender a públicos maiores, 
dos viajantes até aqueles que se mudavam para as novas cidades. Regulações 
 
 
8 
de pesos e medidas do sistema comercial foram criados ou inovados, até pela 
procura por artigos diferentes (muitos de luxo), de especiarias, para os quais não 
havia padrão de consumo, anteriormente. 
A Itália, naquele período, era um conjunto de reinos independentes como 
os de Milão, Veneza, entre outros; e os chamados Estados papais, os quais 
reconheciam Roma como sua capital. Esses últimos permaneceram nessa 
configuração até o fim do século XIX, quando ocorreu a unificação da Itália, 
restando apenas o Estado do Vaticano como algo para além do Estado italiano. 
3.1 Atividade mercantil no Mar Mediterrâneo 
A proximidade com o Mediterrâneo permitiu que a Itália fosse 
preponderante no comércio local e regional envolvendo de especiarias 
(temperos) a artigos de luxo, como perfumes, sedas e porcelanas. Isso 
intensificou, ali, a regulamentação de pesos, de medidas, a unificação e a 
cunhagem de moedas, bem como as práticas de usura, da busca pelo lucro, de 
empréstimo, de penhor e de câmbio. Boa parte dessas ações ocorriam nos 
núcleos populares novos das recentes institucionalizadas cidades, como nas 
feiras italianas. A partir dos séculos XV e XVI, avanços tecnológicos como a 
invenção da caravela, que navegava de forma mais rápida e segura, permitiu 
maior distanciamento do comércio das margens do Mediterrâneo, o que 
propiciou que italianos estendessem ainda mais o domínio e o número de 
interlocutores de suas práticas comerciais. 
A Rota da Seda, para o Oriente, despertou a atenção de navegantes 
profissionais e aventureiros. Da mesma forma, navegadoresde outras regiões 
orientais tornaram limitadas as formas de passagem do Oriente para o Ocidente, 
a fim de receberem mais impostos ou lucrarem mais com a venda dos produtos 
orientais. No entanto, outros países do Ocidente também se interessaram por 
essas rotas. Isso se deve à Tomada de Ceuta, em 1415, quando portugueses 
fundaram uma colônia que passou a servir de entreposto para si e para o seu 
comércio com outros países. Para tanto, portugueses instalaram no local um 
sistema de abastecimento de comida, de armas, de correio etc. Novas rotas, 
novas formações políticas e esse tipo de comércio e de dominação colonial 
incentivaram uma disputa entre os países europeus, num tempo em que o 
mercantilismo começava a se estruturar. 
 
 
9 
O comércio ultramarino ampliou a própria noção de comércio e, com as 
matérias-primas e os metais disponíveis em abundância nas colônias, países 
europeus, em especial a Inglaterra, puderam implementar a primeira fase da 
Revolução Industrial. Essas condições permitiram que o capitalismo se tornasse 
um sistema econômico e político muito diverso do que havia no mundo feudal. 
Nos séculos seguintes, o período moderno configurou-se como um novo tempo, 
em que todos os aspectos da vida social foram alterados, chegando ao que hoje 
chamamos de modernidade. 
TEMA 4 – HUMANISMO 
4.1 O que é o humanismo? 
As transformações econômicas e políticas decorrentes do capitalismo 
comercial somente ocorreram porque houve também transformações no 
pensamento cultural no Ocidente Europeu. E um dos principais condicionantes 
dessas transformações foi o humanismo, o qual podemos definir brevemente 
como um sistema teórico gestado nas discussões universitárias europeias ainda 
na Baixa Idade Média, especialmente nos cursos de direito. Nesse contexto, o 
humanismo é entendido como todo conhecimento relacionado aos seres 
humanos e seus comportamentos e organizações: temas ligados à literatura, à 
filosofia, à medicina, à história, à matemática ou qualquer área de conhecimento 
tem, em alguma medida, como objeto compreender o ser humano. 
Importa ressaltar que apenas a historiografia do século XIX nomeia o 
humanismo como tal. A historiografia também faz observações sobre o 
humanismo, em uma perspectiva de aproximação com o mundo medieval, 
mesmo que quisesse dele se distanciar. Para Peter Burke (1999), a filosofia 
escolástica medieval permanece em certas observações depreciativas dos 
humanistas, bem como aponta que Lorenzo d’Médici pede a Giovanni 
Bentivoglio, então governante de Bolonha, uma cópia dos comentários de Jean 
Buridan à Ética de Aristóteles e a Leonardo da Vinci a obra de Alberto da 
Saxônia. Para Burke (1999), o que ocorre são inovações permeadas por 
influências medievais. 
A expansão do humanismo para a literatura e a arte se deu nos séculos 
XIV e XV, inicialmente na Itália e no meio universitário, e é apontada como uma 
das principais matrizes do renascimento, que se desenvolveu nos cursos de 
 
 
10 
direito e filosofia como uma doutrina de valorização do homem e do que é 
humano e tinha como características o enaltecimento do trabalho manual, da 
cultura greco-romana e da sua concepção de homem, a exaltação da natureza, 
da racionalidade e de uma arte, além de racional, também naturalista. Além 
disso, outra mudança é vinda dos comerciantes e banqueiros italianos, que 
começaram a financiar atividades relacionadas à arquitetura, tanto de 
construção quanto de restauração, que passaram a ser vistas como 
investimentos financeiros. Nesse espaço, objetos pictóricos, esculturais, 
arquitetônicos, teórico-filosóficos e literários típicos da cultura greco-romana 
vieram à tona e inspiraram artistas e escritores italianos, não só pelo seu valor 
monetário, mas por representarem um novo modelo de vida. 
Na literatura, os humanistas escritores tinham seus temas relacionados à 
Antiguidade como o tempo inspirador ideal. Entretanto, diversos também se 
aproximavam de perspectivas teológicas, afinal o humanismo não tinha por 
objetivo negar o cristianismo, mas dar centralidade ao conhecimento sobre o ser 
humano. Conforme Phélippeau (2013) Thomas Morus, teólogo anglicano inglês, 
criou a ideia de utopia e baseava-se também no conhecimento grego. Para ele, 
era possível um mundo com menos diferenças e com mais distribuição de renda. 
Morus defendia o conhecimento geral mais amplo para todos, incluindo o ensino 
de línguas, exceto o de latim, por considerá-lo medieval. No entanto, Morus 
(citado por Phélippeau, 2013) não negava a providência divina nem os dogmas 
da Igreja em que congregava. Assim, tal como Burke (1999) aponta a 
permanência de costumes medievais na modernidade, é possível dizer que, para 
Morus (citado por Phélippeau, 2013), há novas possibilidades de se pensar o 
mundo, a sociedade e o indivíduo em uma perspectiva humanista, mas com 
continuidades do mundo medieval. Como historiadores, devemos considerar que 
não é possível que homens de seu tempo, herdeiros de práticas e de tradições 
medievais, sejam totalmente inovadores. O que Burke (1999) afirma é que, entre 
continuidades, sempre há rupturas. 
É importante considerar ainda a influência bizantina – e também da cultura 
grega, devido aos conflitos italianos com otomanos – no território italiano. Não 
menos importante para o processo renascentista foi a invenção da imprensa na 
Europa – a revolução provocada por Gutenberg, que permitiu a divulgação de 
escritos e ideias do movimento humanista. Houve, nesse período, uma mudança 
curricular na maior parte das faculdades de direito, entre elas a de Bolonha, na 
 
 
11 
Itália, com base no que chamamos de studia humanitatis, cujo objetivo central 
era a valorização do ser humano, do trabalho manual e da cultura greco-romana 
clássica, bem como a definição do que é um ser humano, de qual é a natureza 
dessa humanidade. 
4.2 O ambiente universitário e o desenvolvimento do humanismo 
Muitos cursos ou faculdades surgiram no período moderno, tais como de 
medicina, filosofia, teologia e letras, além de novas disciplinas como Poesia, 
História, Matemática, Eloquência, nesse processo de reforma curricular do studia 
humanitatis que culmina no início do humanismo. Os humanistas seriam os 
futuros docentes em escolas e universidades do período. Studia humanitatis é, 
portanto, uma das inovações do período humanista. Antes disso, no medieval, 
era comum que as disciplinas (ou conhecimentos) fossem organizados sob duas 
denominações: Trivium, que reunia disciplinas como Gramática, Retórica, 
Dialética; e Quadrivium, conjunto com Aritmética, Geometria, Astronomia e 
Música. Com a influência do humanismo, por volta do século XV essas 
disciplinas são reorganizadas com focos diferentes. Entre as novas disciplinas, 
a Poesia aborda elementos subjetivos e afetivos; a Filosofia Moral, os costumes 
e a formação moral; a História surge associada à oratória política. 
Essa reorganização não implica, por exemplo, simplesmente esquecer o 
latim, considerada a língua central eclesiástica do período medieval. Os 
humanistas entendiam, naquele período, que o latim como língua deveria ser 
reavivado como em sua origem, a fim de compreender os seus princípios e 
significados esquecidos ou escondidos pelos interesses católicos. Para além do 
que literalmente estava escrito (ao contrário da ideia do latim como língua morta, 
uma perspectiva medieval), para os humanistas a releitura do latim permitia 
entender as suas criações literárias e estéticas, os seus princípios humanos e, 
por fim, a experiência e a subjetividade presentes nos temas estudados e 
discutidos. Dessa forma, o humanismo se relaciona com o renascimento, porque 
é por essa reorganização e pela centralidade dos escritos em latim relidos pelos 
humanistas que o processo dará destaque à cultura grega clássica. Trata-se de 
uma possibilidade de fazer renascer os aspectos mais bonitos de uma épocapara aqueles que viviam o período moderno, além do latim ser uma língua antiga 
e partilhada por boa parte do que se entendia por humanidade nos séculos XIV 
e XV. 
 
 
12 
Outra área em que a Itália tem destaque é a do direito. A universidade 
mais antiga da Europa tem sede na cidade de Bolonha, no norte da Itália, datada 
de 1088. O direito civil e o canônico deram origem à faculdade, que era separada 
do que se entendia por teologia na época e não tinha um caráter nacionalista. 
Mais que isso, a faculdade de direito era especialista no direito romano, cujos 
fundamentos havia resgatado e passado a debater com base em direitos civis, 
individuais e comuns. Entre seus objetos de estudo estava o Código de 
Justiniano, do século VI, que foi sistematizado e se tornou justamente um modelo 
que se alastrou por boa parte da Europa, com base nas fontes geradas pela 
Universidade de Bolonha. 
Além desses aspectos, o ensino do direito na Universidade de Bolonha se 
dava de uma forma filosófica, ou seja, as palavras que compunham os decretos 
e normas não eram discursadas, mas analisadas em seus sentidos jurídicos. 
Esse tipo de docência diferia de uma prática hierárquica e engessada como a 
veiculada pela Igreja, e estimulou o que mais tarde viria a ser uma das máximas 
defendidas pelas universidades: a de liberdade de cátedra ou autonomia 
universitária. 
TEMA 5 – O CONCEITO DE RENASCIMENTO 
O termo renaissance foi utilizado pelo historiador francês Jules Michelet 
(1855) para representar um acontecimento ligado à França do fim do século XV, 
época em que o seu país invadiu os Estados italianos. Para Michelet (1855), o 
renascimento é o resultado de um esforço intelectual e artístico para harmonizar 
a arte e a razão, proporcionando a reconciliação do belo com o verdadeiro. O 
que o historiador está afirmando no século XIX é que o renascimento evidencia 
a existência de uma relação intrínseca entre o pensamento humanista e os novos 
comportamentos estéticos e sociais europeus, os quais, além de frisar a 
revalorização da arte em parte do continente, também formaram princípios 
filosóficos e literários próprios. 
Se Jules Michelet (1855) foi o primeiro a usar o termo para se referir à 
França do século XVI, quando o renascimento estava se expandindo para outros 
países europeus, Jacob Burckhardt (2009) afirma que o renascimento foi um 
processo em que a consciência humana reviu seus valores sobre a vida e o 
mundo a partir do momento que passou a buscar a beleza e a perfeição com 
base na razão, da Itália para outras regiões da Europa. Para ele, a Idade Média 
 
 
13 
tinha as duas faces da consciência, objetiva e subjetiva, cerradas por um véu, 
que mantinha a fé junto a preconceitos e ilusões que não permitiam que o 
homem compreendesse o mundo como ele naturalmente era. Nesse sentido, a 
Itália teria rasgado esse véu para entender mais objetivamente como as coisas 
eram construídas, ao passo que o homem também se tornou um ser consciente 
e espiritual de seu tempo (Burckhardt, 2013, p. 140). 
Assim, quando Burckhardt (2013) afirma que o renascimento se trata 
também de uma revisão, é possível pensar em um exemplo: A criação de Adão, 
uma pintura de Michelangelo de 1511, traz Deus, envolto em uma nuvem cujo 
formato é de um cérebro, buscando tocar Adão (Figura 1). 
Figura 1 – A criação de Adão (1508-1515), de Michelangelo 
 
Crédito: Michelangelo/CC-PD. 
A pintura de Michelangelo faz parte de uma trilogia de pinturas e se 
encontra dentro da Capela Sistina, situada nos edifícios do Vaticano e 
pertencente ao papado. Assim, causa espanto a ideia de um cérebro estar 
relacionado a Deus, visto que o desenho é sinônimo de conhecimento. É 
possível se questionar se a razão emana de Deus? Ou os temas são bíblicos 
apenas por estarem dentro de uma igreja e serem uma encomenda do Vaticano? 
O que se pode entender é que o renascimento é uma arte inspirada pela razão 
e também pela fé, e que o mundo moderno não é aquele que deixa tudo para 
trás, mas que se posiciona e critica a hierarquia e, em especial, as 
consequências causadas pela falta de autonomia e liberdade do próprio 
conhecimento. 
 
 
14 
O renascimento pode ser analisado como um processo que fez renascer 
a arte grega clássica ou ainda rememorar as práticas e a cultura do período 
romano. Jacob Burckhardt (2013, p. 139-140) sugere que os povos que 
compunham a Península Itálica, quando formaram seus Estados modernos, 
viram em suas tradições antigas uma forma de dar sequência à sua história, 
porque vislumbravam nesse período uma fase grandiosa. Mas, mais importante 
que determinar a inspiração que italianos tiveram para liderar o acontecimento 
que foi o renascimento, é crucial entender que há nele uma renovação dos 
princípios humanistas em todas as suas possibilidades de análise e de formas 
estéticas. O renascimento e sua arte são mais que pintura, literatura etc.; são 
uma estratégia de representar subjetividades e perspectivas de disputas 
políticas e culturais europeias do período em que se estabelece. 
NA PRÁTICA 
São muitos os produtos que passaram a fazer parte da realidade de 
regiões da Europa com o crescimento e o incentivo às viagens comerciais pelo 
Mediterrâneo e pelo Oriente. Com essas viagens e produtos, também chegaram 
saberes e técnicas ao Ocidente, o qual vivenciou o renascimento comercial e 
urbano e se transformou, entre os séculos XIII e XV. Para conhecer mais sobre 
especiarias, rotas comerciais e transformações do período moderno, você pode 
pesquisar e encontrar alguns dos diversos produtos que chegaram à Europa 
Ocidental por meio das rotas do comércio marítimo e terrestre, caminhos comuns 
a partir do século XIII. Após fazer esse levantamento, elabore um mapa 
conceitual mostrando a origem desses produtos, os locais onde eram 
comercializados, como eles chegavam à Europa, quais eram seus destinos e 
como eram consumidos. Como exemplos, temos, entre esses produtos: algodão 
e especiarias da Índia (temperos e condimentos como cravo, canela, noz-
moscada e pimenta); seda, ouro e porcelana da China; tapetes, seda, prata da 
Península Arábica, entre outros. Para essa pesquisa, indicamos o site: 
<http://www.diercke.com> (Dierche International Atlas, [S.d.]). 
FINALIZANDO 
Retome, agora, os principais tópicos abordados nesta aula: 
• Conceito de Idade Moderna 
 
 
15 
• Mudanças econômicas e sociais ocorridas entre os séculos XIII e XV no 
Ocidente Europeu 
• Desenvolvimento do pensamento humanista 
• Conceito de renascimento 
 
 
 
16 
REFERÊNCIAS 
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Zahar, 2002. 
BURKE, P. O renascimento italiano: cultura e sociedade na Itália. São Paulo: 
Nova Alexandria, 1999. 
BURCKHARDT, J. A civilização do renascimento italiano. Lisboa: Editorial 
Presença, 2013. 
_____. A cultura do renascimento na Itália: um ensaio. Tradução de Sérgio 
Tellaroli. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009. 
CELLARIUS, C. Historia universalis breviter ac perspicue exposita. 
Charleston: Nabu Press, 2011. 
DIERCKE INTERNATIONAL ATLAS. Brunsvique, [S.d.]. Disponível em: 
<https://www.diercke.com/>. Acesso em: 27 ago. 2021. 
DUSSEL, E. The Invention of the Americas. Nova York: Continuum, 1995. 
FALCON, F. J. C.; RODRIGUES, A. E. M. Tempos modernos: ensaios de 
história cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 
HUIZINGA, J. O outono da Idade Média. São Paulo: Penguin, 2021. 
KOSELLECK, R. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos 
históricos. Tradução de Wilma Patrícia Mass e Carlos Almeida Pereira. Rio de 
Janeiro: Contraponto, 2006. 
MICHELET, J. Historie de France au seizième siècle: renaissance. Paris: 
Chamerot, 1855. 
PHÉLIPPEAU, M. Thomas Morus e a abertura humanista. Morus: Utopia e 
Renascimento, Campinas, v. 9, 2013. 
TODOROV, T. A conquista da América. São Paulo: Martins Fontes, 2019.

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