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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE PEDAGOGIA CAMILA ANDRESSA ROMANO O CONSELHO TUTELAR E A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS MARINGÁ 2012 2 CAMILA ANDRESSA ROMANO O CONSELHO TUTELAR E A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado ao Curso de Pedagogia, Para cumprimento das atividades exigidas na disciplina do TCC. Coordenação: Profª Aline Frollini Lunardelli Lara. Orientação: Profª Dra. Ivana Veraldo. MARINGÁ 2012 3 O CONSELHO TUTELAR E A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), como requisito parcial à obtenção do título de Pedagoga. COMISSÃO EXAMINADORA _____________________________________ Profª Dra. Ivana Veraldo (Orientadora) Universidade Estadual de Maringá _____________________________________ Profª Dra. Leonor Dias Paini Universidade Estadual de Maringá ____________________________________ Profª Dra. Leila Pessôa da Costa Universidade Estadual de Maringá Aprovado em Maringá, 19 de outubro de 2012. 4 Dedicatória Dedico esta monografia: aos meus pais, Celso e Cidinha, que me deram muito apoio nos momentos mais difíceis da vida; às minhas irmãs, cunhados, sobrinhos e afilhados que sempre estiveram ao meu lado; às minhas amigas e amigos (em especial Mayara Pulga) que nunca mediram esforços para me ajudar; a todos os meus professores e, principalmente, à Professora Ivana Veraldo que, por ser paciente comigo e por me ensinar que por mais que achamos que o nosso conhecimento já é profundo, estamos enganados, pois o conhecimento é algo que está sempre se renovando. Obrigado por tudo! Você vai morar sempre no meu coração. 5 AGRADECIMENTOS Passada este período de quatro anos, e agora, fazendo uma retrospectiva das várias pessoas que, de alguma forma, me ajudaram na conclusão deste trabalho, penso que não daria para nominar a todos, pois ficaria muito extenso e a leitura seria cansativa e também porque correria o risco de esquecer alguém. Desta forma, prefiro agradecer a todos, de forma generalizada, que de alguma forma, direta ou indiretamente me auxiliaram neste trabalho, que para mim foi muito importante e difícil. E não podendo deixar de lado agradecer a minha orientadora, Dra. Ivana Veraldo. Quero te agradecer muito pela paciência, compreensão e ajuda incondicional para a conclusão dessa etapa tão importante da minha vida. Você é uma pessoa a qual não quero perder contato jamais. A todos que, de alguma forma, me ajudaram muito nestes quatro anos de faculdade, para alcançar meus objetivos. 6 ROMANO, Camila Andressa. O Conselho Tutelar e a violência nas escolas. Maringá, 2012. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de Maringá. RESUMO No Brasil, a partir dos anos 90, as crianças e os adolescentes passam a ter maiores garantias e direitos. A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, representa esse contexto no qual, internacionalmente, a Organização das Nações Unidas (ONU) passa a exigir maior atenção aos casos de maus tratos e abusos dos menores. Surge em nosso país o Conselho Tutelar (CT) com o objetivo de fiscalizar e garantir os direitos das crianças e dos adolescentes. Nessa mesma década, aumenta significativamente os casos de violência escolar e o CT assume a função de abordar esses casos. Estudiosos da questão atestam a precária formação dos conselheiros no que se refere ao tratamento da questão da violência nas escolas e defendem a sua melhoria e ampliação como garantia de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes. Nosso trabalho de conclusão de curso teve a finalidade de realizar uma pesquisa de cunho bibliográfico sobre a atuação do CT frente à questão da violência nas escolas. Palavras Chave: ECA, Conselho Tutelar, Violência Escolar. Abstract In Brazil, from 90s, children and adolescents now have more rights and guarantees. The creation of the Child and Adolescent (ECA) in 1990, this is the context in which, internationally, the Organization of the United Nations (UN) now requires greater attention to cases of mistreatment and abuse of minors. Surge in our country the Guardian Council (CT) in order to monitor and ensure the rights of children and adolescents. In that same decade, significantly increases the cases of school violence and CT assumes the role of addressing these cases. Scholars attest to the issue of poor training of counselors in regard to addressing the issue of violence in schools and defend their improvement and expansion as collateral rights of children and adolescents. Our completion of course work aimed to conduct a search of bibliographic stamp on the role of CT against the issue of violence in schools. Keywords: ECA, Guardianship Council, School Violence. 7 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ECA Estatuto da Criança e do Adolescente CT Conselho Tutelar UEM Universidade Estadual de Maringá TCC Trabalho de Conclusão de Curso 8 SUMÁRIO 1. Introdução 9 2. O Conselho Tutelar 11 2.1 O Conselho Tutelar: história e funções 11 2.2 O Conselho Tutelar e a nova concepção de infância 14 3. O papel do Conselho Tutelar frente à violência nas escolas 17 3.1 Violência nas escolas 17 3.2 O Conselho Tutelar e a violência nas escolas 21 4. Breves conclusões 27 5. Referências 28 9 1. Introdução A partir da segunda metade do século XX as crianças e os adolescentes passam a ser foco de atenção especial no cenário internacional. Várias convenções são realizadas com o objetivo de refletir sobre as formas de garantir que esse contingente da população tenha mais acesso aos direitos sociais. Que a vulnerabilidade social e econômica atinge com mais evidência exatamente as crianças e os adolescentes e, por esse motivo, são eles que precisam de proteção especial. Surgem instituições internacionais que se preocuparam com a guarda desses direitos, como o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). No Brasil, somente após o fim do governo militar é que de fato foi desencadeado um movimento em favor da concretização dos direitos especiais das crianças e dos adolescentes, em 1990 é criado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA estabelece uma estruturação em todas as esferas sociais a fim de garantir os direitos da criança e do adolescente, criando assim, na esfera municipal o Conselho Tutelar (CT), órgão que protege as crianças e os adolescentes e acompanha os casos de maus tratos e abusos dos mesmos. Os casos mais frequentes que os CTs acompanham tem sido os de violência doméstica e os de violência nas escolas. Nossa pesquisa focou sobre a atuação do CT no que se refere aos casos de violência nas escolas. Como estamos no último ano do curso de Pedagogia e, a partir do próximo ano enfrentaremos o mercado de trabalho, interessa-nos conhecer comoas escolas enfrentam esse fenômeno. Sabemos que um dos órgãos que colaboram com a escola no combate à violência é o CT. Nesse sentido, procuramos verificar de que forma o CT trata o tema. Quando iniciamos nossa pesquisa pretendíamos realizar entrevistas com alguns Conselheiros de Maringá para verificar na prática quais eram os encaminhamentos que esse órgão dava a esses casos; principalmente, tentando 10 entender se haveria um protocolo único de comportamento entre os conselheiros. Contudo, verificamos que alguns dos conselheiros que pretendíamos entrevistar haviam se candidatado a vereador em Maringá e isso nos desmobilizou, pois ficamos com receio de contaminar nossa investigação com as questões políticas da cidade. Além disso, descobrimos também que para realizar entrevistas teríamos que seguir uma trajetória burocrática na UEM, o que também cooperou para nos desmobilizar. Sendo assim, resolvemos realizar apenas uma pesquisa de cunho bibliográfico sobre como os Conselhos Tutelares concebem a questão da violência nas escolas. Dividimos nosso TCC em dois capítulos. No primeiro, tratamos da gênese dos CT, o modo como são constituídos e mostramos as suas funções. No segundo capítulo, primeiro apresentamos uma breve reflexão sobre o que é violência escolar e depois, a partir de uma revisão bibliográfica, mostramos qual tem sido o papel do CT frente à violência nas escolas. 11 2. O Conselho Tutelar O Conselho Tutelar (CT) é um órgão que assumiu, nas últimas décadas, grande importância na sociedade já que é ele que garante a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Já existem unidades tutelares em quase todos os municípios do Brasil e elas são encarregadas de identificar e acolher crianças e adolescentes em situação de risco no país. O CT representa a ação do Estado frente à vulnerabilidade desse contingente populacional. Neste capítulo, na primeira parte vamos contar um pouco da história da criação dos Conselhos Tutelares no Brasil, seus objetivos e funções mais gerais; na segunda parte vamos mostrar qual contexto internacional e qual paradigma de infância explica a criação dos Conselhos Tutelares. 2.1 Conselho Tutelar: história e funções O Conselho Tutelar surgiu em 13 de julho de 1990 juntamente com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). É uma entidade vitalícia, ou seja, quando é criado não pode mais ser extinto. É autônomo em suas determinações, o que é decidido pelo órgão não recebe interferência de fora e também não julga, não faz parte do judiciário, não aplica medidas judiciais. Antes de surgir o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), existia em 1927 o Código de Menores, que ficou popularmente conhecido como o Código Mello Mattos, pois, em 1923, Mello Mattos foi o primeiro Juiz de Menores da América Latina. Esse Código era para a proteção aos menores com alguma situação irregular. Essas crianças eram consideradas carentes, infratores ou abandonados, na verdade eram vitimas da falta de proteção dos atos antissociais. Segundo Martins, (2004) o código se deu pelo fato da mudança dos padrões familiares burgueses, porque a educação passou a ser responsabilidade da família e da escola e as mesmas passaram a substituir a rua. Caracterizado também pelos progressos da vida privada, no qual as crianças e os adolescentes 12 mais pobres passam a ser disciplinados para o trabalho proletário. Contudo, não foi obtido êxito nessa organização, pois começou a ter mais casos de abandono de menores e as casas filantrópicas e assistencialistas passaram a prestar assistência disciplinares, a fim de tornar os menores em potencial econômico, isto é, civilizados e trabalhadores. O Código de Menores de 1927 dispunha sobre a assistência, proteção dos menores de 18 anos. Entre 18 a 21 os menores deixariam de ser titulados de acordo com as suas situações e passariam a enquadrar o grupo dos menores em situação irregular. No Brasil, os Códigos de Menores de 1927 e 1979 adotaram, progressivamente, políticas eminentemente estatais para o atendimento à criança e ao adolescente, concretizando-se um processo de institucionalização responsável por uma trajetória jurídica que quase sempre levava o “menor” à condição de presidiário (Da Silva, 1997; Apud Martins, 2004, p.65). Após 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) surgiu para garantir maior proteção e seguridade para as crianças e adolescentes diante da família e da sociedade em que vivem. Segundo Martins: O Direito Brasileiro passou ter um novo paradigma em relação à infância e juventude: crianças e jovens foram elevados à condição de titulares de direitos fundamentais. O ECA revogou o Código de Menores que teve vigência até 1989, superando toda uma política repressiva e de caráter assistencialista chamada de "Doutrina Jurídica do Menor em situação irregular", que, a partir de uma óptica exclusivamente jurídica, era incapaz de dar conta da realidade como um todo e de acompanhar o complexo movimento social (Martins, 2004, p.65). O ECA vem para garantir os direitos da criança e dos adolescentes e coibir as causas de maus tratos e abusos sofridos pelos mesmos. Para isso tornou-se necessário a criação de conselhos para que realmente os direitos fossem assegurados. Assim surge o Conselho Tutelar, criado com a finalidade de fiscalizar as entidades de atendimento e defesa da criança e do adolescente. O CT é um órgão autônomo, colegiado, permanente, com participação de profissionais especializados e com equipe interdisciplinar (Martins, 2004, p.63). Dessa forma o ECA regulamenta o seguinte quanto ao CT. Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: 13 I - municipalização do atendimento; II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais (ECA, 1990, art.88) Os Conselhos Tutelares são compostos por 10 membros eleitos pela comunidade para acompanharem as crianças e os adolescentes e decidirem em conjunto sobre qual medida de proteção para cada uso. Devido ao seu trabalho de fiscalização a todos os entes de proteção como o Estado, a comunidade e a família, o Conselho goza de autonomia funcional, não tendo nenhuma relação de subordinação com qualquer outro órgão do Estado. O Conselho Tutelar atende às crianças e adolescentes que tiverem direitos ameaçados por ação ou omissão da sociedade ou do Estado, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis, ou em razão de sua conduta. Atende e aconselha os pais e responsáveis, a aplicar algumas medidas, tais como encaminhamento a cursos ou programas de orientação e promoção a família e tratamento especializado. Conforme Neto: As crianças e adolescentes são vitimas frágeis e vulneradas pela omissão da família, da sociedade e, principalmente, do Estado, no que tange ao asseguramento dos direitos elementares da pessoa humana (Neto, 2010, p.1). Segundo a lei, é considerada criança o indivíduo de idade até doze anos incompletos, enquanto o adolescente é aquele que estiver entre doze e dezoito anos de idade, garantindo que ambos devem desfrutar de todos os direitos fundamentais. Os casos que podem e devem ser encaminhados para o Conselho Tutelar são os de discriminação, exploração, negligência, opressão, violência e crueldade que apresentem como vítimas as crianças ou adolescentes. Assim que recebem uma denúncia de violação de qualquer direito de uma criança ou adolescentes, oConselho Tutelar passa a acompanhar o caso devidamente, para assim definir a melhor maneira de resolver o problema e retornar ao indivíduo o direito de poder usufruir de tudo aquilo que está previsto em lei, ou seja, no Estatuto da Criança e do Adolescente. Caso os pedidos não sejam atendidos, o Conselho Tutelar tem 14 como papel também encaminhar o caso ao Ministério Público, para que assim sejam tomadas todas as providências jurídicas necessárias. Visando à garantia de direitos, algumas atribuições foram incumbidas ao Conselho Tutelar, estatutariamente asseguradas às crianças, aos adolescentes e às suas famílias; entre elas: atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas e aplicando-a as medidas necessárias, atender e recomendar os pais ou responsáveis pela criança ou adolescente as medidas que devem ser feitas, encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente, expedir notificações. Os conselheiros tutelares, guardiões diretos dos interesses de crianças e adolescentes e responsáveis imediatos pela defesa da violação de direitos, precisam ser pessoas capacitadas, profundas conhecedoras da realidade com que vão trabalhar e sabedora dos instrumentos de defesa que poderão utilizar em prol dos tutelados. Por isso, mais do que dever legal, é imperativo moral que a sociedade que elege diretamente os conselheiros tutelares, que os remunera para que bem exerçam o seu dever público, exija qualificação e conhecimento da realidade daqueles que se dispõe a assumir este compromisso. 2.2 O Conselho Tutelar e a nova concepção de infância Os Conselhos Tutelares são órgãos criados para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes. A preocupação com esse segmento da população não é uma exclusividade do Brasil, faz parte de um contexto internacional e representa um novo paradigma de infância. É sobre isso que vamos tratar nessa parte do TCC. Os Conselhos Tutelares e o ECA fazem parte de uma teia de relações que se constroem no contexto atual em torno dos direitos das crianças; fazem parte de um conjunto de medidas que representam uma nova concepção sobre a infância, na qual as crianças são concebidas como sujeitos de direito, em condição de proteção especial. 15 A infância não é apenas um período biológico da vida do indivíduo, mas também uma condição social, histórica e cultural que é determinada pela forma como os homens organizam-se nos diferentes períodos históricos. Infância é uma categoria construída socialmente e muda de significado conforme ocorrem transformações na sociedade. Até o período medieval a criança não era concebida como um ser diferente do adulto. No final do século XIX, surgiram instituições voltadas ao atendimento da infância, quando esta passa a ter então visibilidade na história. Paulatinamente, os tempos modernos vão ressignificando o conceito de infância, até chegarmos ao século XX, quando o pesquisador brasileiro Kuhlmann Júnior (1988), afirma: É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto de experiências vividas por elas em diferentes contextos históricos, geográficos e sociais é muito mais do que uma representação feita por adultos sobre essa fase da vida. É preciso conhecer as representações de infância e considerar as crianças concretas, localizá-las nas relações sociais, etc, reconhecê-las como produtoras de história (KUHLMANN JÚNIOR, 1998, p.31). A forma como Kuhlmann Júnior percebe a infância, como condição especial, representa um paradigma internacional. Essa forma de conceber a infância nasceu depois do fim da Segunda Guerra Mundial. O marco inicial desse paradigma é a Declaração dos Direitos da Criança de 1959, baseada na Declaração Universal dos Direitos do Homem (de 1948), ela foi aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU). A Declaração afirma ser a criança sujeito que deve gozar de proteção e cuidados especiais e deve beneficiar-se de oportunidades e facilidades para se desenvolver de maneira sadia e normal e em condições de liberdade e dignidade. Depois da Declaração de 1959, outro marco importante do novo paradigma de infância é a Convenção sobre os Direitos da Criança adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 1989. No Brasil, desde o fim da Ditadura Militar, com o processo de democratização, o novo paradigma sobre a infância vem influenciando projetos e leis, gerando inclusive a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA-1990). O ECA é uma lei que dispõe sobre a proteção integral da criança e 16 do adolescente e atribui essa responsabilidade à família, à comunidade, à sociedade em geral, mas principalmente ao poder público, ao Estado. A Constituição Cidadã de 1988 já resgatara a tese dos direitos dos cidadãos em geral e o ECA regulamentou os direitos das crianças e dos adolescentes, inspirado pelas diretrizes fornecidas pela Constituição de 1988 e por normativas internacionais, como as ditadas na Declaração dos Direitos da Criança de 1959 e na Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989. No pós-guerra, paralelamente ao crescente processo de democratização, construiu-se e espalhou-se em alguns países a noção de direitos sociais, e foi nesse período que as crianças começaram a ganhar espaço considerável nas decisões que afetam sua vida, sua família e sua comunidade. É sob o prisma desse novo paradigma de infância que surge o ECA e os CTs. 17 3 O Papel do Conselho Tutelar frente à Violência nas Escolas Nosso objetivo, nesta parte do TCC, é o de elaborar uma reflexão sobre como o Conselho Tutelar tem se posicionado frente à questão da violência nas escolas. Primeiro, vamos apresentar o conceito de violência nas escolas que adotamos e depois mostrar como alguns autores que pesquisaram a atuação dos Conselhos Tutelares analisam a concepção que esse órgão tem desse fenômeno que tanto assola as escolas do mundo todo. 3.1 Violência nas escolas Para esclarecer as formas de violência que acontecem nas instituições escolares, Charlot (2002, p.2) nos traz três definições: a violência na escola, a violência da escola e a violência à escola. A primeira, a violência na escola, é a que não tem vínculo com a instituição, ou seja, ela acontece no ambiente escolar, mas não tem relação com a educação. A segunda, a violência da escola, consiste na relação entre a ação e o tratamento que os estudantes suportam dos responsáveis pelo corpo da escola. Quanto à violência à escola, a terceira forma, tem como intenção de atingir a instituição escolar e as pessoas que a representam. Schilling (2008) também mostra diferentes formas de violência que ocorrem. Primeiro: a violência à escola, realizada por ex-alunos que sentem que a escola é inútil. Ela também considera violência contra a escola quando os governantes e gestores abandonam o prédio, quando há desvio de verbas, salários ruins, a não valorização dos docentes, etc. Segundo: a violência da escola, que se apresenta com todas as formas de descriminação, de não ensinar, ou seja, uma instituição sem o compromisso com a aprendizagem, ou as ações agressivas que podem ocorrer entre os alunos e também com alunos e professores. Terceiro: a violência na escola relacionada aos prédios abandonados, depredações; professores desmotivados, roubos, furtos, agressões, ameaças e brigas. Este tipo de violência vem também de conflitos gerados em casa ou na comunidade, no qual as crianças por serem vítimas 18 acabam sofrendo interferências no dia a dia da escola, assim há necessidadede uma conexão, um elo entre professores e alunos. Percebe-se que Charlot e Schilling possuem formas parecidas de conceituar a violência escolar. Vera Candau (2000, p. 6), que também estuda esta temática, afirma que quando o bairro tem um índice elevado de violência acaba assustando o corpo da escola que vem de fora, de outras localidades. É difícil chegar, entrar na escola, permanecer e sair dela. Para Candau “muitas vezes, tais ocorrência associadas às agressões [...] às escolas, provocam medo, sentimento de impotência e angustia nos(as) educadores(as)”. A autora chama a atenção para a banalização da violência propalada pela mídia: [...] a banalização da violência pelos veículos de comunicação, principalmente a TV, a discriminação sexual, a violência contra a mulher e contra a criança na família ou na sociedade e a agressão aos semelhantes com palavras e atitudes, por motivos banais do cotidiano.(CANDAU, 2000, P. 7) O excerto acima mostra que a ênfase dada aos atos violentos nas instituições escolares pela mídia reforça a violência. Além disso, os estudantes ao perceberem o quanto é valorizado aquele ato, tendem a gostar de aparecer na mídia e ficar em evidência. Já os que não estão fazendo parte do noticiário, querem fazer, é neste momento que muitos optam por fazer atrocidade com outros alunos, professores e também depredando os prédios escolares. Assim, as ações passam a ser uma situação de normalidade pela sua frequência. Para Sposito (1998, p. 73) a escola tornou-se violenta por não estar respondendo mais às necessidades dos alunos. Para a autora: A violência seria apenas a conduta mais visível de recurso ao conjunto de valores transmitidos pelo mundo adulto, representados simbólica e materialmente na instituição escolar, que não mais respondem ao seu universo de necessidades. (SPOSITO, 1998, p. 73). Sposito (1998) segue dizendo que as crianças não se importam com a alfabetização e não conseguem entender porque tem de aprender aqueles conteúdos que não são nada interessantes, então “[...] os alunos estão na escola, mas são pouco permeável à sua ação” (SPOSITO, 1998, p. 73). 19 De acordo com Guimarães (1996, apud AQUINO, 1998, p. 10) há um acumulo de violência nas escolas, que não são apenas vindas de fora para dentro, mas produzidas também pela escola. As instituições se apropriam do que a sociedade produz e são transmitem nas escolas, com autoridade e força. “È importante argumentar que, apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural, as escolas também produzem sua própria violência e sua própria indisciplina” (GUIMARÃES, 1996). Para Aquino (1998) não se pode afirmar que aquilo que acontece no interior das escolas é apenas o reflexo do que ocorre fora dela. Para ele a violência escolar é uma adaptação da violência fora da escola, uma nova versão. Em suas palavras: [...]é mais do que evidente que as relações escolares não implicam um espelhamento imediato daquele extra-escolares. Ou seja, não é possível sustentar categoricamente que a escola tão-somente “reproduz” vetores de força exógenos a ela. É certo, pois, que algo de novo se produz nos interstícios do cotidiano escolar, por meio da (re)apropriação de tais vetores de força por parte de seus atores constitutivos e seus procedimentos instituídos/instituintes (AQUINO, 1998, p.10). Ainda de acordo com Aquino (1998), a escola passou a ser vista como um campo de batalhas, no qual os educadores passaram a manifestar sua insatisfação, ao invés de transmitir conhecimentos e difundir ideias. Para Aquino: A imagem, entre nós já quase indica, da escola como lócus de fomentação do pensamento humano – por meio da recriação do legado cultural – parece ter sido substituída, grande parte das vezes, pela visão difusa de um campo de pequenas batalhas civis; pequenas, mas visíveis o suficiente para causar uma espécie de mal-estar coletivo nos educadores (AQUINO, 1998, p.08). Para o autor quando o indivíduo é forçado a fazer algo ou não fazer, o mesmo está sendo violentado, está sendo forçado a contrariar suas vontades (AQUINO, 1998, p.14). É inegável que ao executar alguma ação fora de seus interesses o sujeito pode fazer, mas é humilhante e causa uma sensação de mal- estar. A escola esta sempre impondo atitudes comportamentais, porque não negociar algumas das normas institucionais com pais e filhos, porque a família deve participar da vida escolar de seu filho. 20 A escola é considerada um espaço de convivência e de formação cidadã, contudo também tem se transformado num ambiente de violência. Analisando a partir de um ponto histórico, Gonçalves e Sposito (2002), a década de 90 é considerada um período em que a escola pública passa por mudanças no padrão de violência, deixando de ser caracterizada apenas como vandalismo e partindo para as agressões interpessoais entre os estudantes, entre professores, entre estudantes e professores. Tornam cada vez mais frequentes os chingamentos, as ameaças, os constrangimentos. Comportamentos propagados nas cidades de grande, médio e até de pequeno porte, incluindo até as regiões menos desenvolvidas do país. É nessa época que passa se a ter maior preocupação com a segurança dos direitos da criança e do adolescente estabelecidos pelo ECA, fortalecendo assim os Conselhos Tutelares ou seja o estado passa a debater uma forma de manter a ordem nos municípios pelo fato do inchaço populacional, principalmente no espaço escolar que passa a ser cada vez mais frequentado por crianças e adolescentes. Schmidt e Pereira mostram como a violência nas escolas se constitui num problema social: Assim quando o estado começa a desenhar uma proposta de intervenção pública sobre o fenômeno da violência buscando delinear estratégias para a reversão do fenômeno e seu enfrentamento. Quando desigualdades e injustiças sociais são reconhecidas e assumidas por um dos setores da sociedade, com objetivo de enfrentá-las, torná-las públicas e de transformá-las em demanda política, podemos dizer que a violência escolar constitui- se como uma questão social (SCHMIDT e PEREIRA, 2007, p.3) Por esta razão, a escola deve considerar a violência escolar como advinda do meio social e não somente com um problema interno. Nessa mesma linha de raciocínio Candau (2000) afirma que: As relações entre violência e escola não podem ser concebida exclusivamente como um processo de "fora para dentro", a violência presente na sociedade penetra no âmbito escolar afetando-o, mas também como um processo gerado no próprio 21 interior da dinâmica escolar: a escola também produz violência (CANDAU, 2000, p.1). A prática de ilicitudes por parte de crianças e adolescentes deve sempre ser considerada nas condições em que a pessoa se encontra, pois deve se ter o respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, levando em consideração que a conduta dela é uma questão de imaturidade , refletida por meio de uma condição bio-psicológica. Para Neto (2010). Dentre os direitos fundamentais consagrados à infância e juventude, avulta em importância o pertinente à educação, observado também que o sistema educacional se constitui - juntamente com a família - extraordinária agência de socialização do ser humano (isto sem contar com a possibilidade de significativa interferência, enquanto aparelho ideológico do Estado, na formação do pensamento acerca da própria sociedade e do papel que cada um pode nela desempenhar (NETO, 2010, p.1). Charlot (2002) nos mostra que é necessário analisar a fonte que origina a violência nas escolar: Quando se analisam os estabelecimentos onde a violência escolaré grande, encontra se uma situação de forte tensão, inversamente, quando se analisam aqueles em que a violência diminui encontra se uma equipe de direção e professores que souberam reduzir o nível de tensão. A questão fundamental é esta: Os índices violentos se produzem sobre um fundo de tensão social e escolar forte; em tal situação, uma simples faísca que sobrevenha (um conflito as vezes menor), provoca a explosão (ato violento). É preciso, portanto, dedicar se as fontes dessa tensão (CHARLOT, 2002, p.439). Perguntamo-nos se os conselheiros tutelares tem conhecimento dessa realidade. 3.2 O Conselho Tutelar e a violência nas escolas Tivemos dificuldade de encontrar material bibliográfico para compor essa parte de nossa reflexão. Parece haver pouco interesse científico sobre a atuação dos CTs no que se refere à violência nas escolas. Esse hiato pode, inclusive, ser 22 mobilizador da elaboração de um futuro projeto de pesquisa a ser apresentado para a seleção do mestrado. Dos poucos textos que encontramos extraímos o que segue. Digiácomo (2007) escreveu um interessante artigo sobre os “Conselhos Tutelares: alguns aspectos (ainda) controvertidos” e nele relata o seguinte: Com efeito, o combate à violência deve buscar primordialmente suas raízes, que obviamente se encontram além dos limites da escola, que acima de tudo precisa assumir sua missão legal e constitucional de promover, junto aos educandos, “o pleno desenvolvimento da pessoa” e “seu preparo para o exercício da cidadania” (art. 205, caput da Constituição Federal verbis/omissis), e não se tornar em mais um foco de opressão e desrespeito aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes (DIGIÁCOMO, 2007; Apud MUCHINSKI, 2009) Nessa passagem deixa claro que a escola deve cumprir sua função social sem desrespeitar os direitos das crianças e dos adolescentes. Mas, além disso, o que é mais importante, ele reconhece que as causas da violência tem raízes fora da escola. Charlot (2002) ressalta a importância do diálogo na solução dos problemas de violência, enfatizando que deve haver uma interação entre a escola e seus agentes. Isso fica bem claro na afirmação seguinte: O problema não é fazer desaparecer da escola a agressividade e o conflito, mas regulá-los pela palavra e não pela violência, ficando bem entendido que a violência será bem mais provável na medida em que a palavra se tornar impossível. De sorte que fica logo bem claro que a questão da violência na escola não deve ser enunciada, somente em relação aos alunos: o que está em jogo é também a capacidade de a escola e seus agentes suportarem e gerarem situações conflituosas, sem esmagar os alunos sob o peso da violência institucional e simbólica (CHARLOT, 2002, p.436). 23 Obviamente, os conselheiros tutelares estão entre esses agentes dos quais trata Charlot. Azevedo e Guerra, (1995); Apud De Souza, Da Silva Teixeira et al., (2003) consideram que os professores denunciam pouco os maus tratos e que talvez isso ocorra porque não há concientização dos profissionais que lidam com crianças e adolescentes. Para os autores: A freqüência de denúncias de maus tratos sofridos pelos alunos, por parte dos profissionais que trabalham com crianças e adolescentes, seja da área de saúde, seja da de educação ou do bem-estar social, é baixa, o que indica o pouco envolvimento ou desconhecimento destes profissionais sobre a questão. Sendo assim, consideramos que o fato de o CT não estar registrando estas ocorrências não pode ser analisado isoladamente. Por isso, quando o ECA determina que a escola deve denunciar ao CT os casos de maus-tratos envolvendo seus alunos, torna-se necessária a realização de um trabalho de conscientização de seus profissionais - bem como de todos aqueles que trabalham nesta área - acerca desta questão, para que estes estejam aptos a enfrentá-la (Azevedo e Guerra, 1995; Apud De Souza, Da Silva Teixeira et al., 2003, p.78). Os conselheiros conhecem profundamente o ECA, mas também pautam sua atuação segundo seus preceitos e suas convicções pessoais. Por esse motivo é primordial que se ofereça a eles mais formação para que qualifiquem melhor o discurso e a prática. Eles devem possuir maior conhecimento dos princípios contidos no ECA e uma maior convivência com a população atendida, neste caso a escola. Essa é a opinião de De Souza, Da silva Teixeira et al (2003): A formação dos conselheiros precisa ser continuada, na direção do aprimoramento de uma visão crítica e atualizada dos mecanismos e contextos da escola, considerando principalmente as necessidades da parcela da população mais excluída do acesso aos direitos sociais. A concepção de educação do ECA é emancipatória, busca diminuir a desigualdade social e melhorar a qualidade de vida do cidadão. Cabe principalmente ao poder público, que tem a prerrogativa da justiça social, responsabilizar-se pela formação do 24 conselheiro de forma que esta perspectiva política emancipatória seja contemplada (De SOUZA, Da SILVA TEIXEIRA et al., 2003, p.80). Por outro lado, a escola espera o CT apenas como um órgão punidor das crianças e adolescente que causaram problemas os quais ela não pode resolver. Muitas vezes, os agentes da educação acabam vendo o CT como ameaçador. Por isso, a formação dos agentes da educação também é necessária, desde o conhecimento das leis é até mesmo no trabalho da interação entre escola e CT. Isso poderia evitar muitos conflitos. Para Bastos (2010) os problemas entre os Conselhos Tutelares e os Agentes da Educação não passam de equívoco em relação à interpretação do ECA, havendo também uma falta de compreensão pelo fato dos mesmos demonstrarem interesse em estudar as leis. Quando a indisciplina da escola gerar violência tendo como consequências agressões verbas e físicas; se o violador for uma criança deverá ser encaminhando para o Conselho Tutelar, pois por de traz de uma criança violenta pode estar uma família negligênte. Mas esta intervenção do conselho não visa dar punição para a criança. Além de se detectar uma possível negligência por parte de sua família, que o leva aquelas atitudes, poderá determinar que a família conduza aquela criança para algum programa específico, como disciplina os artigos 98 e 101, Incisos do I ao VII, do ECA. Existindo ato infracional cometido por adolescente, a situação será tratada pela delegacia policial, que fara os devidos encaminhamentos à Promotoria Criminal, que noticiará ao Juizado da Vara da Infância e Juventude da Comarca onde o fato aconteceu (147 § 1°, ECA), que poderá aplicar-lhe medidas sócio-educativas. Ou seja, o Conselho Tutelar não aplica medida sócio-educativa em adolescente infrator (Bastos, 2010, p.4). Muitas vezes o CT assume funções que seriam da escola, como a disciplinarização. Pois, não há uma delimitação clara de quais seriam, de fato, as prioridades de atendimento do CT com relação aos encaminhamentos escolares, fazendo com que haja uma demanda significativa de questões 25 disciplinares que seriam, em princípio, tarefa da escola (De Souza, Da Silva Teixeira et al., 2003, p.77). Em estudos sobre o papel do CT frente às queixas de violência nas escolas De Souza, Da Silva Teixeira et al., (2003) relatam que não há um procedimento comum entre os conselheiros: Não foram mencionadas pelos conselheiros diretrizes de uma ação do CT em relação ao atendimento à queixa escolar, pelo menos no momento da realização da pesquisa. Pelos relatos apresentados, osencaminhamentos e ações a esse respeito acabam sendo assumidos individualmente pelos conselheiros, cada qual com sua prática. Por exemplo, quando informados sobre brigas que aconteceram na escola, os conselheiros costumam chamar todos os envolvidos, sejam eles alunos, professores ou funcionários da escola. Mas, se o problema envolve ameaça de violência e agressão, pode-se abrir um boletim de ocorrência e encaminhá- lo ao ministério público (De SOUZA, Da SILVA TEIXEIRA et al., 2003, p.77) . O CT deve ser informado de todos os casos em que as crianças e os adolescentes sejam vítimas da família, da sociedade e do Estado, principalmente nos casos em caso o aluno seja vítima, assegurando seus direitos, tal como Souza (2010) cita abaixo. Todas as vezes que uma escola encaminha um caso envolvendo uma criança ou adolescente, na qualidade de vítima, é fundamental que, além do atendimento pelo CT, o Município possua todos os programas e diretrizes fixadas pelo ECA em perfeito funcionamento. Lamentavelmente, na prática, os municípios brasileiros ainda não criaram os programas e medidas legais para garantir a proteção dos novos direitos infanto-juvenis e os conselheiros tutelares acabam sendo responsáveis pela má qualidade e/ou insuficiência dos serviços públicos municipais, principalmente nas sensíveis áreas médica e social. Ora, a proteção integral do aluno-vítima exige o cumprimento do ECA por todos os municípios brasileiros. Enfim, espera-se que com a forte atuação do Conselho Tutelar, ao lado das famílias e do Poder Público e, se necessário, exigindo-se correção de atitudes ilegais, por parte de todos que violem direitos infanto-juvenis, consiga-se reverter e/ou minimizar 26 os problemas, sendo que restará completado o terceiro passo na proteção do aluno-vítima (SOUZA, 2007, p21) Bem, como vimos, seria mais objetivo afirmar então que o Conselho Tutelar não possui uma única concepção de violência nas escolas e nem ao menos um único protocolo sobre como resolver os casos. Depende da capacidade de cada conselheiro de conhecer a lei, de defender os direitos das crianças e dos adolescentes, de conhecer a escola, suas funções etc. Constatado isso, seria fundamental que cada conselheiro passasse por um processo de capacitação sobre essa questão tão importante. Portanto, as relações entre escola, agentes e CT são essenciais para o combate à violência escolar considerando sempre que o aluno é um ser social e que seus direitos devem ser garantidos. 27 4 Breves Conclusões Apesar de termos tratado da atuação do CT no que se refere à violência nas escolas, queremos chamar a atenção nessa breve conclusão para o fato de que o CT é chamado a atuar depois que o fenômeno da violência já ocorreu, mas, especialistas nessa temática tem defendido a tese de que seria mais significativo adotar medidas preventivas para evitar as ocorrências do que apenas se preocupar com as punições. Além disso, é óbvio que aquele que comete violência na escola precisa também ser tratado com atenção e não somente a vítima. Não basta instalar câmeras de segurança nas escolas, estabelecer regras para evitar o abuso, manter uma caixa de sugestões e de queixas, colocar os monitores ou vigilantes na cantina, no recreio e em outras zonas de risco; é necessário fazer campanhas de prevenção, organizar grupo de estudos, realizar palestras, levando informações para a comunidade escolar no sentido de prevenir a violência. A violência na escola é um tema complexo, multifatorial, que só pode ser enfrentado com um trabalho em rede e a atuação do CT em parceria com a escola é fundamental. Nossa pesquisa nos faz concluir pela necessidade de formação dos conselheiros para que eles possam lidar com maior capacidade e competência esses casos. É preciso que conheçam o ECA, a escola, as formas de violência, e as possibilidade de tratamento da questão, dos agressores e das vítimas. Caso venhamos a realizar a seleção para o mestrado pretendemos perseguir essa temática, possivelmente realizando um estudo de campo. 28 5 Referências AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. A. Violência doméstica na infância e na adolescência; Domestic violence in infancy and adolescence. 1995. BASTOS, J. G. P. Conselho Tutelar Mediador de uma Transição Cultural. Rio de Janeiro, 2010. CANDAU, V. M. CANDAU, V.M. (org) Reinventar a escola. Petrópolis, Ed.Vozes, 2000. CANDAU, V. M. Direitos humanos, violência e cotidiano escolar. In: CANDAU, V. M. (Org.). Reinventar a escola. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 137-166. CHARLOT, B. A violência na escola: como os sociólogos franceses abordam esta questão. Sociologias, Porto Alegre, ano 4, nº 8, jul/dez 2002, p. 432-443. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/soc/n8/n8a16.pdf> Acesso em: 24. jun. 2011. DE SOUZA, M. P. R.; DA SILVA TEIXEIRA, D. C.; DA SILVA, M. C. Y. G. 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