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CAUSAS DA PRATICA DO ATO INFRACIONAL TCC

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 
FERNANDA CAMILA SINIGALIA SACCUCHI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAUSAS DA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016 
 
 
FERNANDA CAMILA SINIGALIA SACCUCHI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAUSAS DA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL 
 
Monografia apresentada ao Curso de Direito da 
Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade 
Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a 
obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
 
Orientadora: Professora Adriana Coelho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA 
2016 
 
 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
FERNANDA CAMILA SINIGALIA SACCUCHI 
 
 
 
 
 
CAUSAS DA PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL 
 
 
 
 
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de 
Direito da Universidade Tuiuti do Paraná 
 
Curitiba, de de 2016 
 
 
 
Prof. Dr. PhD Eduardo de Oliveira Leite 
Universidade TUIUTI do Paraná 
 Curso de Direito 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Professora Adriana Coelho 
 Universidade TUIUTI do Paraná 
 Curso de Direito 
 
 
 
 
Professor: Universidade TUIUTI do Paraná 
 Curso de Direito 
 
 
 
 
Professor: Universidade TUIUTI do Paraná 
 Curso de Direito 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse trabalho aos meus pais que 
estão sempre ao meu lado me apoiando e 
incentivando para que eu me torne uma 
pessoa melhor. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus, pela força, coragem e fé durante essa longa 
caminhada. 
 
Aos meus pais, que com muito carinho e apoio, não mediram esforços para que eu 
chegasse até esta etapa de minha vida. 
 
À professora Adriana, pela paciência na orientação e incentivo que tornaram 
possível a conclusão desta monografia. 
 
Agradeço também a todos os professores da Universidade Tuiuti do Paraná, que 
foram tão importantes na minha vida acadêmica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Peça a Deus que abençoe seus planos e 
eles darão certo”. 
(Provérbios 16:3) 
 
 
RESUMO 
 
Salienta-se que subsiste, hodiernamente, um vasto número de crimes cometidos por 
adolescentes, sendo considerados como atos infracionais. Tais condutas são 
penalizadas de acordo com o instituído no Estatuto da Criança e do Adolescente, 
que, dentre outras penalidades, dispõe acerca da advertência e da prestação de 
serviços à comunidade. Contudo, a ausência de um regramento jurídico mais severo 
implica na prática reiterada de crimes e contravenções, eis que sendo menores de 
dezoito anos, não serão penalizados na forma prevista no Código Penal, que, 
indubitavelmente, traz em seu bojo uma normatização menos branda. No entanto, 
oportuno mencionar que a ausência de uma legislação que imponha sanções mais 
severas as crianças e adolescentes não é o único fundamento para a prática 
reiterada de atos infracionais, eis que subsistem diversos outros motivos que 
ensejam a marginalização dos infantes, consoante restará demonstrado ao longo 
deste trabalho monográfico. 
 
Palavras-chave: Atos infracionais. Menor. Medidas sócioeducativas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 8 
2 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DOS DIREITOS DA 
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE......................................................... 
 
9 
2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA 
E DO ADOLESCENTE........................................................................... 
 
9 
2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO ATO INFRACIONAL............................... 12 
3 A PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL.................................................... 15 
3.1 PRINCÍPIOS INSCULPIDOS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE..................................................................................... 
 
15 
3.1.1 Princípio da prioridade absoluta............................................................. 15 
3.1.2 Princípio do melhor interesse do menor................................................. 16 
3.1.3 Princípio da dignidade da pessoa humana............................................ 16 
3.2 A BASE FAMILIAR................................................................................. 18 
3.3 DADOS ESTATÍSTICOS........................................................................ 20 
4 MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS........................................................... 23 
5 CAUSAS DO ATO INFRACIONAL........................................................ 32 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 38 
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Hodiernamente, constata-se em diversos meios de comunicação, como, por 
exemplo, rádios, jornais de grande circulação, internet e noticiários televisivos a 
exposição de crianças e adolescentes a situações imbuídas de violência, desamparo 
social e miséria. 
Muitos menores conseguem se coadunar com a realidade fática vivenciada, 
seja em um ambiente violento ou com poucas condições sociais, mas, contudo, 
outras acabam se revoltando e, consequentemente, se marginalizando, tendo em 
vista ser, na concepção do menor, o melhor caminho a ser trilhado. 
Nesta toada, crianças e adolescentes acabam entrando para o mundo do 
crime e, assim, praticando diversas condutas contidas na lei penal incriminadora. 
Entretanto, não se deve olvidar que se trata de menores de dezoito anos e, portanto 
inimputáveis, nos moldes estabelecidos pelo artigo 104, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
Sendo inimputáveis, não praticam crimes propriamente ditos, mas sim atos 
infracionais, ainda que a conduta esteja descrita como crime ou contravenção penal, 
conforme dispõe o artigo 103, do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Assim sendo, indubitavelmente, as medidas cabíveis para a penalização dos 
adolescentes encontram-se insertas no Estatuto da Criança e do Adolescente, 
mormente em seu artigo 112, sendo denominadas como medidas sócioeducativas. 
Elide-se, portanto, a aplicabilidade das penas constantes no Código Penal Brasileiro 
e demais Leis Extravagantes. 
Diante disso, surge a seguinte indagação: tais medidas sócioeducativas 
possuem, efetivamente, o condão de reprimir o adolescente pela prática do ato 
infracional, ou serve apenas de aparato para estimulá-lo a cometer outros delitos, na 
medida em que não subsiste uma normatização mais severa para os crimes de 
grande potencial ofensivo? 
Ora, parece que não, eis que subsistem diversos fatores que ensejam 
demasiadamente a prática do ato infracional, tanto na órbita familiar, quanto na 
social, conforme restarádemonstrado ao longo do presente trabalho monográfico. 
 
 
9 
 
2 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS ACERCA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE 
 
2.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE 
 
Insta salientar, inicialmente, que na Idade Antiga a família romana regia-se 
pelo poder paterno marital, eis que o pai perfazia a figura da autoridade familiar, 
cabendo ao mesmo exercer o poder absoluto sobre seus filhos, independentemente 
da menoridade. Portanto, enquanto vivessem na casa dos genitores, os filhos não 
possuíam quaisquer direitos, sendo apenas objeto de relações jurídicas, conforme 
ensina Andréa Rodrigues Amin (2010). 
Paulatinamente, os direitos das crianças passaram a ser reconhecidos, 
mormente com o advento do Cristianismo, que, de acordo com Andréa Rodrigues 
Amin (2010, p. 4), "(...) trouxe uma grande contribuição para o início do 
reconhecimento de direitos para as crianças: defendeu o direito à dignidade para 
todos, inclusive para os menores". 
Dentro do contexto brasileiro, a proteção aos menores restou instituída pela 
Igreja Católica, que, mediante a Roda dos Expostos, passou a albergar crianças 
vítimas de abandono. Contudo, conforme assevera Josiani Rose Petry Veronese 
(1999), "(...) na Casa dos Expostos, devido à escassez de recursos materiais e 
humanos, era grande o numero de crianças que não resistiam às precárias 
condições a que eram submetidas". 
O Decreto n.º 5.083/1926 foi o primeiro Código de Menores instituído no 
Brasil, trazendo em seu bojo uma normatização que albergava crianças expostas e 
abandonadas. Posteriormente, tal regramento jurídico foi substituído pelo Decreto 
17.943-A, de 12 de outubro de 1927, ocasião em que foi intitulado como Código 
Mello Mattos. A aludida legislação estabelecia que caberia a família suprir as 
necessidades fundamentais do menor, independentemente de sua condição 
financeira, consoante ensina Andréa Rodrigues Amin (2010). 
Além do mais, mediante uma análise mais acurada acerca dos Documentos 
Internacionais, muito embora a Declaração dos Direitos da Criança de Genebra 
(1924) tenha sido a primeira normatização em reconhecer os direitos das crianças e 
dos adolescentes, o grande marco histórico foi a Declaração Universal dos Direitos 
10 
 
da Criança (1959), ocasião em que se ponderou a imprescindibilidade da proteção 
das crianças, conforme esclarece Andréa Rodrigues Amin (2010). 
Não se deve olvidar, ainda, que em 1941 foi instituído o Serviço de 
Assistência ao Menor (SAM), que, de acordo com Irma Rizzini (1995), surgiu com o 
escopo de abrigar e distribuir os menores nos educandários, além de orientá-los e 
fiscalizá-los, instigando a iniciativa privada a criar mecanismos que visassem prestar 
assistência as crianças e adolescentes abandonados. 
Andréa Rodrigues Amin (2010) menciona que com o advento da Lei n.º 
4.513/1964 restou instituída a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor 
(FUNABEM), ocasião em que o Estado passou a interferir com mais afinco nas 
questões atreladas a criança e ao adolescente. 
Nesta toada, Martha de Toledo Machado (2003, p. 27) dispõe que: 
 
Se no final do século XIX, início do século XX, já existiam casas públicas de 
custódia de crianças e adolescentes, por volta da década de 1960, com a 
criação da Funabem e das Febens estaduais, o Poder Pública passa a 
interferir de modo mais significativo na questão, ampliando 
quantitativamente o atendimento. 
 
Ademais, não se deve olvidar que com a promulgação da Lei n.º 6.697/1979 
restou instituída a questão da liberdade assistida, conforme esclarece Marcos 
Antônio Santos Bandeira (2006, p. 153), senão vejamos: 
 
A liberdade assistida, pelo menos no seu aspecto estrutural, já era 
conhecida da legislação “menorista” e identificada como “liberdade vigiada” 
no Código Mello Matos, de 1927, todavia, já no Código de Menores de 1979 
modificava a nomenclatura para “liberdade assistida”, todavia, sem perder 
as características essenciais de uma medida repressiva e expiatória, sem 
qualquer conteúdo pedagógico, pois alcançava o “menor com desvio de 
conduta”, nos termos do disposto no Art. 2º, V e VI c/c o Art. 38 do Código 
de Menores, que era “vigiado” e fiscalizado, nos mesmos moldes do que 
acontece com o imputável em relação ao sursis, sem que houvesse um 
programa de atendimento ou entidade responsável para promover ou 
orientar, socialmente, o adolescente, no sentido de afastá-lo do mundo da 
criminalidade, oportunizando-lhe ou criando condições para se tornar um 
cidadão. 
 
Nota-se, portanto, que no decorrer dos anos diversas legislações foram 
promulgadas com o escopo de regulamentar as situações de violência que envolva 
criança e adolescente, como, por exemplo, o Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Programas de incentivo também foram criados, como o Sistema Nacional Sócio 
educativo (SINASE). 
11 
 
Sobre o tema, Gabriel José Chittó Gauer, Silvio José Lemos Vasconcellos e 
Tácia Rita Davoglio (2012, p. 183/184) explicam que: 
 
São incontestáveis os avanços na legislação brasileira que foram 
conquistados ao longo dos anos no sentido de promover regramentos às 
ações destinadas ao enfrentamento de situações de violência envolvendo 
crianças e adolescentes e que estão em consonância com a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos e, em especial, com acordos internacionais 
na área dos direitos da criança e do adolescente da qual o Brasil é um dos 
signatários, sendo o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
um exemplo disso. Mais especificamente na área da socioeducação temos 
o Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase) que atua como uma política 
nacional, e, no Rio Grande do Sul, o Programa de Execução de Medidas 
Socioeducativas de Internação e Semiliberdade (PEMSEIS). 
 
Com o advento da Constituição Federal de 1988, restou consagrado no texto 
constitucional o princípio da proteção integral das crianças e adolescentes, 
notadamente em seu artigo 227. Tendo em vista que se encontram em situações de 
vulnerabilidades e, portanto, merecem um tratamento especial, faz-se necessário a 
criação de mecanismos que instrumentalizem sua proteção, conforme ensina Maria 
Berenice Dias (2015, p. 49/50). 
 
A consagração dos direitos de crianças, adolescentes e jovens como 
direitos fundamentais (CF 227), incorporando a doutrina da proteção integral 
e vedando referências discriminatórias entre os filhos (CF 227 § 6.º), alterou 
profundamente os vínculos de filiação. Como afirma Paulo Lôbo, o princípio 
não é uma recomendação ética, mas diretriz determinante nas relações da 
criança e do adolescente com seus pais, com sua família, com a sociedade 
e com o Estado. A maior vulnerabilidade e fragilidade dos cidadãos até os 
18 anos, como pessoas em desenvolvimento, os faz destinatários de um 
tratamento especial. Daí a consagração constitucional do princípio que 
assegura a crianças, adolescentes e jovens, com prioridade absoluta, direito 
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária. Também são colocados a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (CF 227). 
 
Hodiernamente, com o escopo de dar mais efetividade aos direitos das 
crianças e dos adolescentes, além da Constituição Federal de 1988, vige no 
ordenamento jurídico brasileiro a Lei n.º 8.069/1990, a qual traz em seu bojo, 
mormente em seu artigo 2.º, preceitos que os individualizam, eis que "Considera-se 
criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e 
adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade". 
Luiz Antonio Miguel Ferreira(2008, p. 10) dispõe acerca da importância da 
promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
12 
 
O advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº. 8.069, de 
13.07.1990) proporcionou uma mudança significativa no que diz respeito ao 
direito do menor. Representou uma alteração de princípios, congregando as 
transformações ocorridas em nível nacional e internacional. 
 
Por conseguinte, Marcos Antônio Santos Bandeira (2006) menciona que tal 
distinção tem o desiderato de identificar aqueles que estão sujeitos a medidas 
sócioeducativas, elidindo-se, assim, sua aplicabilidade para os indivíduos que não 
se coaduna com a delimitação conceitual trazido pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente. 
 
2.2 CONTEXTO HISTÓRICO DO ATO INFRACIONAL 
 
Há de se mencionar que o instituto do ato infracional perfaz um fenômeno 
antigo, eis que desde o período imperial já havia grande preocupação com as 
infrações cometidas por menores. Sob a égide das Ordenações Filipinas, a 
imputabilidade penal passou a ser atribuída aos maiores de sete anos de idade. 
Andréa Rodrigues Amin (2010, p. 5) explica que: 
 
Durante a fase imperial tem início a preocupação com os infratores, 
menores ou maiores, e a política repressiva era fundada no temor ante a 
crueldade das penas. Vigentes as Ordenações Filipinas, a imputabilidade 
penal era alcançada aos sete anos de idade. Dos sete aos dezessete anos, 
o tratamento era similar ao do adulto com certa atenuação na aplicação da 
pena. Dos dezessete aos vinte e um anos de idade, eram considerados 
jovens adultos e, portanto, já poderiam sofrer a pena de morte natural (por 
enforcamento). A exceção era o crime de falsificação de moeda, para o qual 
se autorizava a pena de morte natural para maiores de quatorze anos. 
 
Ressalta-se, ainda, que o Código Criminal do Império do Brasil de 1830 
elidia a responsabilização dos menores de quatorze anos. Contudo, como o advento 
do Código Penal da República, mormente em 1890, passou-se a considerar como 
inimputável os menores de nove anos, ou, sendo maiores de nove anos e menores 
de quatorze anos, não obtivesse o discernimento necessário para agir, nos moldes 
explicitados por José Celso de Mello Filho (1999). 
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Marco Antônio Cabral dos Santos 
(2010, p. 216/217) salienta que: 
 
A capacidade de "obrar com discernimento", presente nos dois códigos, era 
portanto o fator determinante de uma possível aplicabilidade das penas 
13 
 
sobre menores que estivessem na faixa dos nove aos 14 anos, sendo 
motivo de inúmeras polêmicas não só entre juristas, mas também entre os 
pais dos ditos "delinquentes", que na esperança de verem soltos seus filhos, 
de tudo faziam para comprovar a incapacidade mental e a consequente 
irresponsabilidade dos mesmos. 
 
Com o advento do Decreto 17.943-A/1927, ocorreram algumas ressalvas 
acerca das medidas punitivas para as crianças a adolescentes, conforme ensina 
Andréa Rodrigues Amin (2010, p. 6). 
 
Já no campo infracional crianças e adolescentes até os quatorze anos eram 
objeto de medidas punitivas com finalidade educacional. Já os jovens, entre 
quatorze e dezoito anos, eram passíveis de punição, mas com 
responsabilidade atenuada. Foi uma lei que uniu Justiça e Assistência, 
união necessária para que o Juiz de Menores exercesse toda sua 
autoridade centralizadora, controladora e protecionista sobre a infância 
pobre, potencialmente perigosa. 
 
Nesta toada, nos moldes delimitados por Gabriel José Chittó Gauer, Silvio 
José Lemos Vasconcellos e Tácia Rita Davoglio (2012), até 1980 a única legislação 
que trazia em seu bojo um arcabouço protetivo acerca dos direitos das crianças e 
dos adolescentes era a Lei n.º 6.697, de 10 de outubro de 1979, também 
denominada como Código de Menores, fazendo um apanhado dos atos delituosos, 
assim como de atitudes comportamentais do menor que ensejasse medidas de 
reeducação. 
Além do mais, não se deve olvidar que a Lei n.º 6.697/1979 adentrava-se na 
esfera do menor de forma demasiada, eis que a privação da liberdade não era 
aplicada apenas aos autores do ato infracional, mas também as crianças e 
adolescentes carentes. Contudo, com o advento da Constituição Federal de 1988, o 
aludido contexto histórico sofreu algumas transformações, eis que o menor passou a 
ser consagrado como sujeito de direito, o que culminou o ápice de sua proteção 
integral. 
Sobre o tema, Paulo Eduardo Lépore e João Rafael Mião (2015, p. 160) 
esclarece que: 
 
Na vigência do Código de 1979, a privação da liberdade dos infantes por 
meio da aplicação de medida de internação era abrangente, pois poderia 
ser aplicada tanto aos autores de ato infracional, quanto às crianças e 
adolescentes carentes, em situação de abandono, sem qualquer distinção. 
[...] 
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e, posteriormente, a 
edição do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei 8.069/90), 
14 
 
houve grande evolução no âmbito de proteção aos infantes, pois o 
ordenamento jurídico brasileiro passou a ser norteado pela Doutrina da 
Proteção Integral. 
A partir dessa mudança paradigmática, crianças e adolescentes passaram a 
ter status de sujeitos de direitos, posto serem considerados pessoas em 
situação peculiar de pessoa em desenvolvimento físico, psíquico e moral, 
conforme detalha o art. 227 da CF [...]. 
 
Neste diapasão, a Constituição Federal de 1988, com o desiderato de elidir a 
aplicabilidade do Direito Penal aos menores de dezoitos anos e, assim, sujeitá-los a 
uma normatização própria de responsabilização (Estatuto da Criança e do 
Adolescente), trouxe à baila, mormente em seu artigo 228, que, "São penalmente 
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação 
especial". 
Assim sendo, nota-se que o ato infracional vem delimitado no artigo 103, do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, dispondo que "Considera-se ato infracional a 
conduta descrita como crime ou contravenção penal". 
O ato infracional perfaz, portanto, a violação de normas que definem os 
crimes e contravenções, quando praticados por crianças ou adolescentes, 
consoante ensinam Bianca Mota de Moraes e Helane Vieira Ramos (2010). 
Válter Kenji Ishida (2015, p. 255) esclarece que "Dessa forma, a conduta 
delituosa da criança e do adolescente é denominada tecnicamente de ato 
infracional, abrangendo tanto o crime como a contravenção". 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
 
3 A PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL 
 
3.1 PRINCÍPIOS INSCULPIDOS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE 
 
3.1.1 Princípio da prioridade absoluta 
 
Denota-se que o artigo 4.º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, dispõe 
que caberá à família, à sociedade e ao Poder Público criar mecanismos que 
viabilizem a efetivação dos direitos inerentes as crianças e aos adolescentes. Trata-
se, portanto, do princípio da prioridade absoluta. 
 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos 
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, 
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária. 
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: 
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; 
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância 
pública; 
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; 
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com 
a proteção à infância e à juventude. 
 
Neste diapasão, urge mencionar que, indubitavelmente, as criançase 
adolescentes devem estar sempre à frente na escala de preocupação da sociedade, 
da família e do Estado, eis que as necessidades dos menores devem ser supridas 
antes de qualquer outra, conforme ensina Wilson Donizeti Liberati (1991, p. 30). 
Sobre o princípio da prioridade absoluta, João Batista Costa Saraiva (2003, 
p. 53) explica que: 
 
Tal princípio está reafirmado no art. 4º do ECA. Neste dispositivo estão 
lançados os fundamentos do chamado Sistema Primário de Garantias, 
estabelecendo as diretrizes para uma Política Pública que priorize crianças 
e adolescentes, reconhecidos em sua peculiar condição de pessoa em 
desenvolvimento. 
 
Nesta toada, Andréa Rodrigues Amin (2010, p. 20) menciona que "Seja no 
campo judicial, extrajudicial, administrativo, social ou familiar, o interesse infanto-
juvenil deve preponderar. Não comporta indagações ou ponderações sobre o 
16 
 
interesse a tutelar em primeiro lugar (...)" 
 
3.1.2 Princípio do melhor interesse do menor 
 
Inicialmente, importante mencionar que o princípio do melhor interesse da 
criança encontra-se insculpido no artigo 5.º, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, o qual traz em seu bojo que "Nenhuma criança ou adolescente será 
objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou 
omissão, aos seus direitos fundamentais". 
Sobre o tema, Paulo Lôbo (2011, p. 75) explica que: 
 
O princípio do melhor interesse significa que a criança — incluído o 
adolescente, segundo a Convenção Internacional dos Direitos da Criança — 
deve ter seus interesses tratados com prioridade, pelo Estado, pela 
sociedade e pela família, tanto na elaboração quanto na aplicação dos 
direitos que lhe digam respeito, notadamente nas relações familiares, como 
pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade. 
 
Assim sendo, com o advento do princípio do melhor interesse, a criança e o 
adolescente deixaram de ser considerados meros objetos, transformando-se em 
sujeitos dotados de proteção legal, cujos direitos que lhes são inerentes possuem 
absoluta prioridade quando comparado aos demais membros, conforme esclarece 
Guilherme Calmon Nogueira da Gama (2008). 
 
3.1.3 Princípio da dignidade da pessoa humana 
 
Indubitavelmente, o princípio da dignidade da pessoa humana mostra-se um 
instituto de suma importância no ordenamento jurídico pátrio, eis que é um dos 
fundamentos da República Federativa do Brasil. O artigo 1.º, inciso III, da 
Constituição Federal, assim estabelece: 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
[...] 
III - a dignidade da pessoa humana; 
[...] 
 
17 
 
Nesta toada, Rolf Madaleno (2013, p. 45) corrobora os fatos acima 
articulados, mencionando que os direitos atinentes à criança e ao adolescente, ora 
insertos no artigo 227, da Constituição Federal, como, por exemplo, educação, lazer 
e respeito, perfazem garantias mínimas de vida, os quais devem ser 
obrigatoriamente observados, na medida em que atuam no desenvolvimento físico e 
mental do menor. 
 
A dignidade humana é princípio fundamental na Constituição Federal de 
1988, conforme artigo 1°, inciso III. Quando cuida do Direito de Família, a 
Carta Federal consigna no artigo 226, § 7°, que o planejamento familiar está 
assentado no princípio da dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável. Já no artigo 227, prescreve ser dever da família, da sociedade 
e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, 
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-lo a salvo de toda a 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão, pois que são as garantias e os fundamentos mínimos de uma 
vida tutelada sob o signo da dignidade da pessoa, merecendo especial 
proteção até pelo fato de o menor estar formando a sua personalidade 
durante o estágio de seu crescimento e desenvolvimento físico e mental. 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe acerca do tema em seu 
artigo 18, estabelecendo que "É dever de todos velar pela dignidade da criança e do 
adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, 
aterrorizante, vexatório ou constrangedor". 
Neste passo, extrai-se do artigo acima colacionado que as crianças e 
adolescentes devem ser tratadas de forma digna, respeitosa, cuja obrigação impõe-
se a toda a sociedade, de modo indistinto, conforme leciona Luiz Antonio Miguel 
Ferreira (2008). 
Sobre o princípio em espeque, Francismar Lamenza (2012, p. 27) explica 
que: 
 
A dignidade reside essencialmente em aspectos basilares da vida de 
nossas crianças e adolescentes. São fundamentais para uma vida digna 
saúde, alimentação, água potável, vestuário, moradia, paz espiritual, 
educação e renda. São elementos aparentemente de simplicidade para o 
observador, mas de caráter essencial para que todos os demais direitos daí 
derivem. 
 
Derradeiramente, Maria Berenice Dias (2015) explica que o princípio da 
dignidade da pessoa humana fundamenta o Estado Democrático de Direito, sendo 
considerado, inclusive, como um macroprincípio, na medida em que todos os demais 
18 
 
princípios dele se irradiam. 
 
3.2 A BASE FAMILIAR 
 
Inicialmente, vale mencionar que a família é à base do indivíduo, eis que é 
por meio dela que o menor se desenvolverá, cujo ambiente deverá ser dotado de 
carinho, afeto e respeito. Sob este prisma, o artigo 19, do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, dispõe acerca da convivência familiar: 
 
Art. 19 Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no 
seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada 
a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de 
pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. 
 
Nesta toada, Válter Kenji Ishida (2015, p. 45) traz à baila o instituto da 
convivência familiar, que: 
 
Pode ser conceituado atualmente como o direito fundamental da criança e 
adolescente a viver junto à sua família natural ou subsidiariamente à sua 
família extensa. Trata-se de uma ampliação do previsto no art. 9º da 
Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) que prevê o direito da 
criança em não ser separada dos pais contra a vontade dela. 
 
Sob este enfoque, insta salientar que, nos moldes delimitados por Marcia 
Maria Silva Lopes de Carvalho (2015, p. 186). "A família ainda é o lugar mais seguro 
para crescer, lugar de origem da história pessoal e espaço no qual acontecem às 
relações mais espontâneas". 
Neste diapasão, cumpre mencionar que à proteção à criança e ao 
adolescente encontra amparo constitucional, cabendo à família, à sociedade e ao 
Estado, criar mecanismos que resguardem, efetivamente, os direitos que lhes são 
inerentes. 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
Corroborando os fatos acima articulados, Andréa Rodrigues Amin (2010, p. 
19 
 
11) assevera que: 
 
A Carta Constitucional de 1988, afastando a doutrina da situação irregular 
até então vigente, assegurouàs crianças e adolescentes, com absoluta 
prioridade, direitos fundamentais, determinando à família, à sociedade e ao 
Estado o dever legal e concorrente de assegurá-los. 
 
Não se olvide, inclusive, que a aludida proteção encontra amparo no item 11, 
das Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da Delinquência Juvenil, senão 
vejamos: 
 
11. Como a família é a unidade central encarregada da integrarão social 
primária da criança, deve-se prosseguir com os esforços governamentais e 
de organizações sociais para a preservação da integridade da família, 
incluída a família numerosa. A sociedade tem a obrigação de ajudar a 
família a cuidar e proteger a criança e garantir seu bem-estar físico e 
mental. Deverão ser prestados serviços apropriados, inclusive o de creches 
diurnas. 
 
Oportuno mencionar, ainda, que o artigo 229, da Constituição Federal, 
dispõe que "Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os 
filhos maiores têm o dever de ajudar a amparar os pais na velhice, carência ou 
enfermidade". 
Nesta toada, não se deve olvidar que "(...) a educação é sempre uma tarefa 
pessoal dos pais, que não podem ser substituídos por uma fantasmática 
escolarização precoce, nem pelo assessoramento pedagógico (...)", consoante 
leciona Jorge Trindade (1993, p. 78). 
Sendo assim, nota-se que a ação dos genitores na educação dos menores 
mostra-se de suma importância para o seu desenvolvimento, de modo a integrá-lo 
de forma sadia dentro do contexto social. Robert Kail (2004, p. 274) dispõe acerca 
do tema: 
 
Uma visão simplista da educação das crianças é que a ação dos pais é tudo 
o que realmente importa. Ou seja, com seu comportamento, os pais 
determinam direta e indiretamente o desenvolvimento dos filhos. Essa visão 
dos pais como todo-poderosos fazia parte das primeiras teorias psicológicas 
[...] e é sustentada até hoje por alguns pais de primeira viagem. Mas a 
maioria dos teóricos, atualmente, encara as famílias de uma perspectiva 
ecológica [...]. Ou seja, as famílias constituem um sistema de elementos que 
interagem - pais e filhos se influenciam uns aos outros [...]. 
 
Diante disso, não pairam dúvidas de que a família perfaz um instrumento de 
20 
 
suma importância para o desenvolvimento da criança e do adolescente, eis que é 
por meio dela que o menor receberá afeto e limitações. A ausência de tais condutas, 
dentro do arrimo familiar, poderá ensejar diversos transtornos aos indivíduos, como, 
por exemplo, o desejo de buscar no ato de delinquência a valorização e o 
reconhecimento, conforme pondera Gabriel José Chittó Gauer, Silvio José Lemos 
Vasconcellos e Tácia Rita Davoglio (2012). 
 
3.3 DADOS ESTATÍSTICOS 
 
Insta salientar, inicialmente, que as condutas ensejadoras dos atos 
infracionais remontam o século XIX, eis que desde aquela época, mormente entre os 
anos 1900 e 1916, já se vislumbravam a prática de tais condutas por menores. 
Acertadamente, Marco Antônio Cabral dos Santos (2010, p. 210) leciona acerca do 
tema: 
 
Desde o século XIX, quando se passou a elaborar estatísticas criminais em 
São Paulo, o menor de idade sempre esteve presente. A especialização dos 
aparelhos policiais e o constante aperfeiçoamento das técnicas importadas 
de controle e vigilância resultaram em estatísticas cada vez mais precisas 
acerca da ocorrência de crimes na cidade. Entre 1900 e 1916, o coeficiente 
de prisões por dez mil habitantes era distribuído da seguinte forma: 307,32 
maiores e 275,14 menores. 
A natureza dos crimes cometidos por menores era muito diversa daqueles 
cometidos por adultos, de modo que entre 1904 e 1906, 40% das prisões de 
menores foram motivadas por "desordens", 20% por "vadiagem", 17% por 
embriaguez e 16% por furto ou roubo. 
 
Silvia Helena Koller, Normanda Araújo de Morais e Elder Cerqueira Santos 
(2009, p. 18/19), com supedâneo nos dados extraídos do Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE), fazem alusão acerca do número de menores 
infratores no Brasil, que, em 2001, perfazia a monta de 16.802.021 adolescentes 
entre quinze e dezenove anos de idade, ao passo que em 2005, estimou-se em 
34.195.733, incluindo-se jovens entre quinze a vinte e quatro anos. 
 
A juventude brasileira compõe uma parcela expressiva da população do 
País. Em 2001, essa parcela correspondia a 16.802.021 adolescentes entre 
15 e 19 anos de idade e 14.408.060 entre 20 e 24 anos de idade, um uma 
população de 170 milhões (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - 
IBGE, 2001). A projeção de jovens entre 15 a 24 anos, para 2005, era de 
34.195.733, ou seja, um considerável aumento em quatro anos. Atualmente, 
no Brasil, existem mais de 35 milhões de jovens entre 15 e 24 anos, o 
equivalente a 20% da população do País [...]. 
21 
 
Nesta toada, Simone Paludo (2011, p. 139/140) menciona que em 2006, de 
acordo com os dados obtidos pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da 
Presidência da República (Secretaria Especial dos Direitos Humanos [SEDH]) houve 
um aumento de 363% no número de adolescentes que cumpriram medida privativa 
de liberdade. Em 2008 foram 16.868, sendo, posteriormente, majorado para 16.940, 
em 2009. 
 
Tratar dos valores morais daqueles que transgridem regras e leis parece 
contraditório, especialmente quando o cenário nacional oferece cada vez 
mais visibilidade para a violência cometida pelos adolescentes. No ano de 
2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da 
República (Secretaria Especial dos Direitos Humanos [SEDH], 2006) 
divulgou um crescimento de 363% em relação ao número de adolescentes 
em conflito com a lei que cumpriram medida privativa de liberdade. O 
referido percentual revelou um aumento em relação ao número daqueles 
jovens que cometeram algum ato infracional mediante grave ameaça ou 
violência à pessoa, ou reiteraram no cometimento de outras infrações 
graves ou, ainda, descumpriram uma medida anteriormente imposta. 
[...] 
O número de adolescentes que cometem delitos graves continua 
crescendo, passando de 16.535 em 2007 para 16.868 em 2008 e para 
16.940 internos no sistema socioeducativo de meio fechado no país em 
2009 (SEDH, 2008, 2009). 
 
De modo a demonstrar que o delinquência juvenil não se trata de um 
problema inserto apenas no contexto brasileiro, salienta-se que nos Estados Unidos, 
os adolescentes são responsáveis por mais de um quarto dos assassinatos e, no 
que tange ao roubo de carros, por mais da metade, conforme entendimento 
corroborado por Roberto Kail (2004). 
Neste diapasão, com o escopo de melhor elucidar a questão atinente ao 
número de atos infracionais, mormente em 2015, colaciona-se a tabela abaixo, cujos 
dados foram extraídos da Fundação Casa. Nota-se que os números são alarmantes, 
sendo os casos mais corriqueiros aqueles atrelados ao roubo qualificado, que perfaz 
o total de 4.319 (43,96%). 
Por sua vez, os atos infracionais de menor incidência encontram-se 
intrinsecamente ligados ao estupro, na medida em que sua estimativa foi de 56 
casos (0,56%).1 
 
 
1
 GIRO INTERIOR. Confira os dados de atendimento a menores infratores no Estado. Disponível em: 
<http://www.giromarilia.com.br/noticia/giro-interior/confira-os-dados-de-atendimento-a-menores-
infratores-no-estado/2363>. Acesso em: 23 ago. 2016. 
22 
 
FIGURA 1: DADOS ESTIMATIVOS ACERCA DA PRÁTICA DO ATO 
INFRACIONAL 
FONTE: Fundação Casa. 
 
Assim sendo, nota-se que os casos mais corriqueiros acerca da prática do 
ato infracional encontram-se intimamente ligado ao roubo, tráfico de drogas e furto, 
sendo que tais delitos, direta ou indiretamente, possuem cunho patrimonial, o que se 
percebe, desde logo, que os atos praticados poradolescentes estão atrelados a 
miserabilidade vivenciada pela camada menos abastada da sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
4 MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS 
 
Importante mencionar, em um primeiro momento, que as medidas 
sócioeducativas se destinam apenas aos adolescentes, posto que as crianças não 
estão a elas submetidas. 
Nos moldes delimitados por Válter Kenji Ishida (2015, p. 287), a medida 
sócioeducativa pode ser entendida como sendo "(...) a providência originada do juiz 
da infância e da juventude através do devido processo legal de natureza educativa, 
mas modernamente também com natureza sancionatória como resposta ao ato 
infracional cometido por adolescente". 
Assim sendo, mostra-se imperioso mencionar que uma vez transitada em 
julgado à sentença que julgou procedente o pleito de medida sócioeducativa, nasce 
para o Estado a possibilidade de se executar o título executivo judicial, conforme 
esclarece Marcos Antônio Santos Bandeira (2006). 
Consoante entendimento corroborado por Francismar Lamenza (2012, p. 
194), "O magistrado, ao final do procedimento de apuração do ato infracional, 
constatadas materialidade e autoria com relação a ele, poderá aplicar ao 
adolescente medidas socioeducativas, que guardem natureza reeducativa (...)", que, 
nos moldes instituídos pelo artigo 112, do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
será de advertência, reparação do dano, prestação de serviços, liberdade assistida, 
semi-liberdade e, ainda, internamento em estabelecimento educacional. 
 
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente 
poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: 
I - advertência; 
II - obrigação de reparar o dano; 
III - prestação de serviços à comunidade; 
IV - liberdade assistida; 
V - inserção em regime de semi-liberdade; 
VI - internação em estabelecimento educacional; 
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. 
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade 
de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. 
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação 
de trabalho forçado. 
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão 
tratamento individual e especializado, em local adequado às suas 
condições. 
 
Diante disso, passando-se a análise das medidas sócioeducativas acima 
elencadas, há de se ressaltar que o artigo 115, do Estatuto da Criança e do 
24 
 
Adolescente, dispõe que "A advertência consistirá em admoestação verbal, que será 
reduzida a termo e assinada". 
Nota-se, portanto, que a advertência será aplicada nos casos em que se 
vislumbrar a prática de um ato infracional de menor potencial ofensivo, carecendo, 
assim, de uma reprovação menos branda, conforme assevera Marcos Antônio 
Santos Bandeira (2006). 
No mesmo sentido é o entendimento de Bianca Mota de Moraes e Helane 
Vieira Ramos (2010, p. 839), asseverando que "Na prática, tem ficado restrita aos 
atos infracionais de natureza leve, sem violência ou grave ameaça à pessoa e às 
hipóteses de primeira passagem do adolescente pelo Juízo da Infância e da 
Juventude, por ato infracional". 
Sob este prisma, O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul 
assim se posicionou: 
 
EMENTA. ECA. ATO INFRACIONAL. DESCLASSIFICAÇÃO PARA 
CONTRAVENÇÃO PENAL. IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR. 
ADVERTÊNCIA. CABIMENTO. 
1. A conduta desenvolvida pelos adolescentes, segurando os braços e os 
cabelos da vítima com a intenção de baixar as calças dela, constitui fato que 
configura importunação ofensiva ao pudor público e configura a 
contravenção penal tipificada no art. 61 da LCP, sendo merecedor de 
reprovação pela sociedade e da medida socioeducativa compatível com a 
natureza do fato e com as condições pessoais dos infratores. 
2. Não se pode cogitar de fragilidade da prova, quando o fato é admitido 
pelos infratores e apontado pelas testemunhas e pela vítima. 
3. Sendo inequívoca a prática infracional pelos infratores, impõe-se o juízo 
de procedência da representação, com a devida desclassificação, pois 
merece crédito a palavra da vítima, quando o seu depoimento é claro e 
coerente. 
4. A aplicação da medida socioeducativa de advertência é branda, mas 
ainda assim necessária para mostrar aos jovens a reprovação da sociedade 
pelo comportamento desenvolvido e para incutir neles o senso de 
responsabilidade e de limites, a fim de que aprendam a respeitar os seus 
semelhantes. Recurso desprovido.
2
 
 
Por sua vez, a obrigação de reparar o dano encontra-se inserta no artigo 
116, do Estatuto da Criança e do Adolescente, a qual será aplicada nos casos em 
que subsistirem reflexos patrimoniais ante a prática do ato infracional, senão 
vejamos: 
 
 
2
 JUSBRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação n.º 70064428188. Disponível em: 
<http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/202432151/apelacao-civel-ac-70064428188-rs>. Acesso 
em: 27 ago. 2016. 
25 
 
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a 
autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a 
coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o 
prejuízo da vítima. 
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser 
substituída por outra adequada. 
 
Nota-se que nos casos em que o dano mostrar-se reparável à vítima, o Juízo 
competente poderá aplicar a pena de reparação do dano, que é mais amena, eis 
que possui apenas reflexos patrimoniais. Ademais, Francismar Lamenza (2012) 
menciona que nos casos em comento, o magistrado deverá observar a capacidade 
econômica do menor em reparar o dano, na medida em que tal obrigação não se 
transmite aos genitores, eis que se trata de obrigação personalíssima. 
Aliado a isso, Marcos Antônio Santos Bandeira (2006, p. 147) explica que: 
 
Finalmente, quando se tratar, por exemplo, de atos infracionais similares a 
furto, roubo, apropriação indébita, a simples devolução da res furtiva ou 
objeto do ato infracional já satisfaz às exigências do cumprimento da 
medida de reparação de danos. 
 
Acerca da pena de reparação de danos, o Tribunal de Justiça do Rio Grande 
do Sul assim decidiu: 
 
EMENTA. ECA. ATO INFRACIONAL. DANO. PROVA. ADEQUAÇÃO DAS 
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE ADVERTÊNCIA CUMULATIVAMENTE 
COM A DE REPARAÇÃO DO DANO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: 
INAPLICABILIDADE NO CASO CONCRETO. 
1. Comprovada a autoria e a materialidade do ato infracional, impõe-se o 
juízo de procedência da representação e a aplicação de medida 
socioeducativa compatível com a gravidade do ato infracional e com as 
condições pessoais do infrator. 
2. Mostram-se adequadas as medidas socioeducativas de advertência 
cumulativamente com a de reparação do dano, pois dessa forma o 
adolescente tomará consciência de que deve respeitar o patrimônio alheio. 
3. Não se pode cogitar, no caso, da incidência do princípio bagatela, sob 
pena de estimular o jovem a prosseguir seu caminho desprovido de limites e 
a desrespeitar o patrimônio alheio, desconsiderando regras de 
comportamento essenciais para a vida em sociedade.
3
 
 
Por outro lado, o artigo 117, do Estatuto da Criança e do Adolescente, 
dispõe acerca da prestação de serviços à comunidade, que não excederá seis 
meses, cujas tarefas serão distribuídas de acordo com a aptidão do adolescente. 
 
3
 JUSBRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Apelação n.º 70053362851. Disponível em: 
<http://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/112694629/apelacao-civel-ac-70053362851-rs>. Acesso 
em: 27 ago. 2016.26 
 
Veja-se: 
 
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de 
tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis 
meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros 
estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou 
governamentais. 
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do 
adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas 
semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a 
não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho. 
 
Marcos Antônio Santos Bandeira (2006) menciona que a prestação de 
serviços comunitários encontra-se intrinsecamente ligado ao princípio da intervenção 
mínima do Estado, eis que elide o seu encarceramento, criando mecanismos que 
possibilitem o adolescente a refletir sobre as consequências provenientes do ato 
infracional. 
Nesta toada, Bianca Mota de Moraes e Helane Vieira Ramos (2010) 
esclarecem que a prestação de serviços à comunidade perfaz uma medida 
sócioeducativa de grande valia, eis que o índice de reincidência daqueles que 
cumprem a aludida penalidade é baixíssimo. 
Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça assim se posicionou: 
 
EMENTA. HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE. PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME 
DE FURTO QUALIFICADO. ALEGADA INEXISTÊNCIA DE PROVAS. 
PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. REAPRECIAÇÃO DE MATÉRIA FÁTICO-
PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. MEDIDA 
SOCIOEDUCATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE. 
CABIMENTO. ORDEM DE HABEAS CORPUS DENEGADA. 
1. As instâncias ordinárias, após exame do conjunto fático-probatório dos 
autos, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa, concluíram pela 
existência de elementos coerentes e válidos a embasar a procedência da 
representação instaurada em face dos Pacientes pelo delito de furto 
qualificado. 
2. A análise da tese relativa à absolvição depende do reexame minucioso 
de matéria fático-probatória, sendo imprópria na via estreita do habeas 
corpus, remédio constitucional de rito célere e de cognição sumária. 
3. Não existe qualquer impedimento legal à fixação da medida de prestação 
de serviços à comunidade no caso de ato infracional análogo ao crime de 
furto qualificado, quando o Juízo da Infância e da Juventude, 
fundamentadamente, demonstrar a necessidade da medida para 
ressocialização do Adolescente. Inteligência do art. 117, e parágrafo único, 
do Estatuto da Criança e do Adolescente. 
4. Ordem de Habeas corpus denegada.
4
 
 
4
 JUSBRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus n.º 241087. Disponível em: 
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23942188/habeas-corpus-hc-241087-rs-2012-0088954-7-
stj>. Acesso em: 27 ago. 2016. 
27 
 
O artigo 118, do Estatuto da Criança e do Adolescente, traz em seu bojo a 
questão da liberdade assistida, com o objetivo de orientar e auxiliar o adolescente, o 
qual se dará pelo prazo mínimo de seis meses. O orientador, dentre outras 
atribuições, deverá criar mecanismos que viabilizem a inserção do adolescente no 
mercado de trabalho, nos moldes explicitados no artigo 119, do mesmo diploma 
legal. 
 
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a 
medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o 
adolescente. 
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a 
qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. 
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, 
podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por 
outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. 
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade 
competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros: 
I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes 
orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou 
comunitário de auxílio e assistência social; 
II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, 
promovendo, inclusive, sua matrícula; 
III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua 
inserção no mercado de trabalho; 
IV - apresentar relatório do caso. 
 
Corroborando o contido nos artigos acima colacionados, Francismar 
Lamenza (2012, p. 195/196) assevera que: 
 
Essa medida é aplicável ao jovem em casos que tenham certa gravidade e 
que demandem um acompanhamento mais prolongado do adolescente, de 
sua família e de suas atividades. Se houver cometimento de atos mais 
severos, essa medida poderá ser cumulada com a prestação de serviços à 
comunidade, como acontece com certa frequência na prática. Tal medida 
vem acompanhada de entrevistas que serão realizadas por equipe 
interprofissional, podendo ser vinculada ou não ao Poder Judiciário (por 
meio de convênios com os municípios, universidades privadas etc.). 
 
Sob este enfoque, o Superior Tribunal de Justiça assim decidiu: 
 
EMENTA. HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE. PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO 
DELITO DE FURTO. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. 
MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE LIBERDADE ASSISTIDA. ART. 118 DO 
ECA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INVIABILIDADE NA ESPÉCIE. 
1. O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça não têm 
mais admitido o habeas corpus como sucedâneo do meio processual 
adequado, seja o recurso ou a revisão criminal, salvo em situações 
excepcionais. 
28 
 
2. O paciente ostenta outras anotações delitivas e reconhece que seus atos 
estão relacionados ao vício em crack, evidenciando-se o caráter habitual na 
prática de pequenos furtos. 
3. Apesar do pequeno valor da res, para que o princípio da insignificância 
seja aplicado, são necessários alguns requisitos: mínima ofensividade da 
conduta do agente, nenhuma periculosidade social da ação e reduzidíssimo 
grau de reprovabilidade do comportamento, fatos que não estão presentes 
no caso analisado. Adequada a aplicação da medida socioeducativa de 
liberdade assistida. 
4. Habeas corpus não conhecido.
5
 
 
Bianca Mota de Moraes e Helane Vieira Ramos (2010) dispõem acerca da 
importância do papel do orientador, eis que cabe ao mesmo conduzir a medida, 
além de providenciar elementos que sirvam de embasamento para a análise judicial, 
de modo que o magistrado possa decidir acerca da manutenção, revogação e, 
ainda, da substituição da medida. 
O artigo 120, do Estatuto da Criança e do Adolescente, traz à baila a 
questão da semiliberdade, que possibilita a realização de atividades externas, ainda 
que não haja autorização judicial. As realizações de atividades escolares e de 
profissionalização mostram-se obrigatórias, utilizando-se, para tanto, os recursos 
que estejam disponíveis na sociedade. 
 
Art. 120. O regime de semi-liberdade pode ser determinado desde o início, 
ou como forma de transição para o meio aberto, possibilitada a realização 
de atividades externas, independentemente de autorização judicial. 
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, devendo, 
sempre que possível, ser utilizados os recursos existentes na comunidade. 
§ 2º A medida não comporta prazo determinado aplicando-se, no que 
couber, as disposições relativas à internação. 
 
Insurge-se, assim, que o regime de semiliberdade, nos moldes dispostos por 
Jussara de Goiás (1999) poderá ser determinado pelo magistrado desde o início do 
cumprimento da medida sócioeducativa, ou, posteriormente, como método do menor 
transacionar para meio aberto. 
Além do mais, de acordo com Marcos Antônio Santos Bandeira (2006, p. 
166), a semiliberdade poderáser aplicada nos casos em que se constatarem crimes 
considerados como médio potencial ofensivo, como, por exemplo, lesões corporais 
graves, estupro e roubo. 
 
 
5
 JUSBRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus n.º 253769. Disponível em: 
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24352935/habeas-corpus-hc-253769-es-2012-0190248-0-
stj>. Acesso em: 27 ago. 2016. 
29 
 
O juiz poderá aplicar a medida socioeducativa de semiliberdade como 
resposta a qualquer ato infracional praticado pelo adolescente, 
principalmente aqueles similares aos crimes de médio potencial ofensivo, 
como lesões corporais graves, homicídio, estupro, roubos etc., desde que, 
analisando as circunstâncias, a gravidade e as condições pessoais do 
adolescente, seja a medida considerada como a mais adequada para 
aquele caso concreto. 
 
Acertadamente, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina assim se 
posicionou: 
 
EMENTA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO 
INFRACIONAL. EQUIPARAÇÃO A TRÁFICO ILÍCITO DE 
ENTORPECENTES (LEI N. 11.343/06, ART , 33, CAPUT). PROCEDÊNCIA 
DA REPRESENTAÇÃO. APLICAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE 
SEMILIBERDADE. RECURSO DEFENSIVO. SUBSTITUIÇÃO DA MEDIDA 
SOCIOEDUCATIVA. INVIABILIDADE. GRAVIDADE DO ATO 
INFRACIONAL SEMILIBERDADE MANTIDA. 
Mostra-se adequada a aplicação da medida socioeducativa de 
semiliberdade ao adolescente que pratica conduta análoga ao crime de 
tráfico ilícito de entorpecentes, notadamente porque, ao mesmo tempo em 
que procura inibir a reiteração de atos infracionais, não o exclui do convívio 
social. RECURSO NÃO PROVIDO.
6
 
 
Por outro lado, o artigo 121, do Estatuto da Criança e do Adolescente, traz à 
tona a questão do internamento, que, de acordo com Marcos Antônio Santos 
Bandeira (2006), perfaz, indubitavelmente, a medida mais severa de intervenção 
estatal na esfera do indivíduo. 
 
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos 
princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de 
pessoa em desenvolvimento. 
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe 
técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. 
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção 
ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis 
meses. 
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três 
anos. 
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente 
deverá ser liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade 
assistida. 
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. 
§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização 
judicial, ouvido o Ministério Público. 
§ 7
o
 A determinação judicial mencionada no § 1
o
 poderá ser revista a 
qualquer tempo pela autoridade judiciária. 
 
 
6
 JUSBRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação n.º 20140118032. Disponível em: 
<http://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25176567/apelacao-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-
apl-20140118032-sc-2014011803-2-acordao-tjsc. Acesso em: 27 ago. 2016>. 
30 
 
O artigo 122, do Estatuto da Criança e do Adolescente traz em seu âmago 
as hipóteses em que será cabível a medida de internação, que, dentre outros 
aspectos, ressalta a possibilidade de sua implementação quando o ato infracional for 
cometido mediante grave ameaça ou violência. 
 
Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: 
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência 
a pessoa; 
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; 
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente 
imposta. 
§ 1
o
 O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá 
ser superior a 3 (três) meses, devendo ser decretada judicialmente após o 
devido processo legal. 
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra 
medida adequada. 
 
Neste diapasão, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal assim decidiu: 
 
EMENTA. INFÂNCIA E DA JUVENTUDE. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO 
A HOMICIDIO QUALIFICADO CONSUMADO CONTRA DUAS VÍTIMAS 
DIFERENTES. PROVA SATISFATÓRIA DA MATERIALIDADE E AUTORIA. 
ADEQUAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAMENTO. 
GRAVIDADE EXTREMA DO FATO IMPUTADO. PRECARIEDADE DAS 
CONDIÇÕES SOCIOFAMILAIRES DO MENOR. RECURSO 
DESPROVIDO. 
1 MENOR SUBMETIDO A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE 
INTERNAMENTO POR PRAZO INDETERMINADO EM RAZÃO DE 
PRATICAR ATOS INFRACIONAIS ANÁLOGOS AO TIPOS DO ARTIGO 
121, § 2º, COM A QUALIFICADORA DOS INCISOS I E IV, EM RELAÇÃO A 
UMA VÍTIMA, E A DO INCISO IV, EM RELAÇÃO À OUTRA, NA FORMA 
DO ARTIGO 70, TODOS DO CÓDIGO PENAL. AGINDO SOB A 
ORIENTAÇÃO DE PESSOA IMPUTÁVEL JUNTO COM UM COMPARSA 
TAMBÉM IMPUTÁVEL, ELE SEGUIU AS VÍTIMAS, UM CASAL DE 
NAMORADOS, QUANDO SAÍRAM DE UM BAR SITUADO NA VILA 
PLANALTO E OS SURPREENDEU EM PLENA VIA PÚBLICA, 
DISPARANDO VÁRIOS TIROS. O COMPARSA QUE ARQUITETOU O 
CRIME E FORNECEU AS ARMAS NECESSÁRIAS À CONSUMAÇÃO 
TINHA UMA DESAVENÇA COM A VÍTIMA HOMEM, CUJA NAMORADA 
FOI TAMBÉM ALVEJADA PELO SIMPLES FATO DE ESTAR JUNTO COM 
ELE MOMENTO DO FATO. 
2 AS PROVAS ORAIS E PERICIAIS COLHIDAS ENSEJAM JUÍZO DE 
CERTEZA SEGURO PARA JUSTIFICAR A IMPOSIÇÃO DA MEDIDA 
EXTREMA, EIS QUE TESTEMUNHAS INSUSPEITAS ESCLARECERAM A 
DESAVENÇA EXISTENTE ENTRE A VÍTIMA HOMEM E A TURMA DO 
REPRESENTADO, QUE CONFIDENCIOU A ALGUNS AMIGOS A 
AUTORIA DAS MORTES E FORMA COMO ACONTECERAM. 
3 RECURSO DESPROVIDO.
7
 
 
 
7
 JUSBRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Apelação n.º 57786420098070001. Disponível 
em: <http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/17096125/ape-57786420098070001-df-0005778-
6420098070001-tjdf>. Acesso em: 27 ago. 2016. 
31 
 
Acerca do instituto da internação, Gabriel José Chittó Gauer, Silvio José 
Lemos Vasconcellos e Tácia Rita Davoglio (2012) explicam que: 
 
Ela pode durar um período máximo de três anos e a liberação será 
compulsória caso o jovem complete 21 anos, Para a desinternação deverá 
haver autorização judicial e o Ministério Público deve ser ouvido. Por ser 
medida extrema, a internação acontecerá somente quando tratar-se de ato 
infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, por 
reiteração no cometimento de outras infrações graves ou por 
descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. 
Neste último caso, não poderá ser superior a três meses. A internação 
deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescente, em local 
distinto do destinado ao abrigo, obedecendo à rigorosa separação por 
critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. 
 
De acordo com Bianca Mota de Moraes e Helane Vieira Ramos (2010), o 
período de internação deve ser breve, eis que o menor está em processo de 
formação e, portanto, possui o direito fundamental à liberdade, a qual deverá 
prevalecer, sempre que possível. 
Além do mais, não se deve olvidar que "A internação deverá ser cumprida 
em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao 
abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e 
gravidade da infração", conforme se depreende do artigo 123, do Estatuto da 
Criança e do Adolescente. 
Derradeiramente, há de se mencionar que a aplicabilidade das medidas 
sócioeducativas insertas no Estatuto da Criança e do Adolescente mostram-se 
diversas do sistema adotado pelo Código Penal, eis que não traz em seu âmago 
uma sanção proveniente para cada tipo penal, ficandoa cargo do magistrado o 
dever de analisar cada caso concreto e, discricionariamente, aplicar a medida que 
entender viável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
5 CAUSAS DO ATO INFRACIONAL 
 
Ressalta-se que, desde os tempos remotos, já subsistia na sociedade os 
atos infracionais, sendo o mais comum o crime de "vadiagem", inserto nos artigos 
399 e 400, do Código Penal. Sob este enfoque, muitas crianças e adolescentes 
eram alvos de prisões arbitrárias, eis que, pelo simples fato de não possuírem uma 
ocupação, eram alvo de criminalização. Nota-se, portanto, que desde os primórdios 
da sociedade os menores já eram vitimizados pela rejeição do mercado de trabalho, 
situação que muito se assemelha ao que vem se vivenciando, hodiernamente, no 
contexto brasileiro. 
Corroborando tal entendimento, Marco Antônio Cabral dos Santos (2010, p. 
222) assevera que: 
 
A criminalidade infantil estava quase sempre condicionada ao que se 
convencionou chamar crime de "vadiagem", previsto nos artigos 399 e 400 
do Código Penal. As ruas da cidade, repletas de trabalhadores rejeitados 
pelo mercado formal de mão de obra e ocupados com atividades informais, 
era palco de inúmeras prisões motivadas pelo simples fato de as "vítimas" 
não conseguirem comprovar, perante a autoridade policial, sua ocupação. 
Boa parte dessas prisões arbitrárias tinham como alvo menores, que 
perambulando pelas ruas, eram sistematicamente capturados pela polícia. A 
correção que o Estado lhes imputava passava necessariamente pela 
pedagogia do trabalho. 
 
Indubitavelmente, àqueles que possuem condições de vida mais precárias, 
insertos nas favelas e periferias, estão mais propícios a cometerem atos delituosos, 
eis que, hodiernamente, não se deve olvidar que tais indivíduos, em muitas 
ocasiões, sequer conseguem arrumar um emprego, o que acaba desvirtuando-os 
para a criminalização. 
Nesta toada, Antônio Luiz Serpa Pessanha (2001, p. 89/90) assevera que: 
 
A população mais carente de uma cidade como São Paulo foi jogada para a 
periferia. Migrantes, sobretudo nordestinos, que chegam em busca de 
melhores oportunidades de trabalho, também ficam confinados nos bairros 
periféricos, nas favelas e cortiços, onde as condições de vida são precárias. 
Este ambiente só pode gerar seres humanos amargurados e revoltados. 
Partindo disto é fácil concluir que o nosso maior problema reside na 
periferia. A situação fica ainda mais drástica quando se percebe o término 
de empregos, vinculado ao advento da tecnologia avançada e à 
globalização que fecja as portas da indústria para o homem, que cada vez 
mais é substituído pelas máquinas. 
 
Diverso não é o entendimento de José Celso de Mello Filho (1999, p. 17/18), 
33 
 
que, acertadamente, menciona que a carência dos direitos insculpidos na 
Constituição Federal, mormente a profissionalização, educação e lazer ensejam o 
aumento exacerbado da marginalização de crianças e adolescentes. 
 
Vê-se dessa proclamação constitucional, que são imensos os desafios que 
se apresentam às instituições governamentais e às organizações sociais, 
especialmente num país como o Brasil, cujo quadro social - notadamente na 
área da infância e da juventude - se mostra manchado por graves carências 
que comprometem, de maneira particularmente séria, o exercício, por 
nossas crianças e por nossos jovens, do direito à subsistência, à saúde, à 
educação, ao lazer e à profissionalização, afetando-lhes, de modo tão 
injusto quanto inaceitável, o seu direito indisponível à dignidade e ao 
respeito como pessoa humana. 
[...] 
A questão da criminalidade juvenil - que se vincula, em sua própria origem, 
ao desprezo inconsequente e irresponsável pelos direitos dos adolescentes, 
a quem se nega, injustamente, em diversos pontos de nosso País, o acesso 
à educação, ao lazer, à profissionalização e à saúde, dentre outras 
prerrogativas básicas - representa, em seus aspectos essenciais, uma 
questão de caráter político-social, que reclama o cumprimento, pelo Poder 
Público e pela comunidade, de deveres impostergáveis resultantes de um 
contrato social por eles nem sempre cumprido. 
 
Jussara de Goiás (1999, p. 27) corrobora o entendimento acima articulado: 
 
E aqui não falo só da miséria provocada pelo empobrecimento não, falo da 
miséria social dos valores humanos e éticos, que está vitimizando tantos 
o(a)s filho(a)s dos pobres quanto o(a)s filho(a)s das elites, que também 
cometem ato infracional. Todos eles(as) estão sendo encaminhados para as 
Febem's, Caje's (Centro de Atendimento Juvenil Especializado), ou 
qualquer outro nome que se dê às unidades de internação de adolescentes 
em conflito com a lei. 
 
Waldyr de Abreu (1995) dispõe acerca da vulnerabilidade da criança e do 
adolescente, que, imbuído de condições de extrema miséria, proporciona uma 
passagem célere da condição de vítima para o de infrator, na medida em que 
necessita realizar furtos e/ou roubos para sua sobrevivência. 
Inclusive, oportuno ressaltar que a questão da miserabilidade já se mostrou 
discutível na jurisprudência, consoante entendimento emanado do Tribunal de 
Justiça do Distrito Federal, que, nos moldes instituído em sua decisão, ressaltou que 
a condição sócio-econômica desfavorável do menor não tem o condão de justificar 
sua conduta. 
 
EMENTA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. APLICAÇÃO 
DE MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA DE SEMILIBERDADE. ATO 
INFRACIONAL EQUIPARADO AO ART. 12 DA LEI 6.368/76. 
34 
 
RAZOABILIDADE. LEVANDO-SE EM CONTA A GRAVIDADE DO ATO 
INFRACIONAL, AS CONDIÇÕES PESSOAIS DO REPRESENTADO, O 
FATO DE ELE JÁ POSSUIR OUTROS ANTECEDENTES INFRACIONAIS 
E, AINDA, APRESENTAR UM QUADRO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA, A 
APLICAÇÃO DE OUTRA MEDIDA MAIS BRANDA REPRESENTARIA 
AFRONTA ÀS REGRAS E AOS PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM O 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. -A MEDIDA DE 
SEMILIBERDADE NÃO OBSTA QUE O MENOR CONTINUE A ESTUDAR 
E A TRABALHAR, ALIÁS, TAIS ATIVIDADES SÃO OBRIGATÓRIAS, NOS 
TERMOS DO ART. 120 DA LEI MENORISTA. -A CONDIÇÃO SÓCIO-
ECONÔMICA DESFAVORÁVEL NÃO JUSTIFICA A CONDUTA DO 
MENOR, CASO ASSIM SE ENTEDESSE, ESTAR-SE-IA ELEVANDO A 
POBREZA À CONDIÇÃO DE CAUSA DE EXCLUSÃO DE ILICITUDE. -
NEGADO PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME.
8
 
 
Por outro lado, Robert Kail (2004), pontua quatro hipóteses que contribuem 
para o comportamento delinquente, quais sejam: a classe social, os processos 
familiares, o autocontrole e as forças biológicas. 
Neste toada, não se deve olvidar que os atos infracionais são praticados em 
todas as camadas sociais, mas, indubitavelmente, tornam-se mais frequentes nas 
camadas menos abastadas da sociedade. Os processos familiares também têm o 
condão de influenciar, eis que a ausência da supervisão adequada dos filhos, aliado 
ao fato do menor encontrar-se inserto em um ambiente imbuído de brigas e 
ameaças, também enseja a criminalidade do menor. 
Acerca da desestrutura familiar, oportuno colacionar o julgado proveniente 
do Tribunal de Justiça do Paraná: 
 
EMENTA: APELAÇÃO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 
REPRESENTAÇÃO JULGADA PROCEDENTE. ATO INFRACIONAL 
EQUIPARADO AOS CRIMES DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES. 
ARTIGO 33, CAPUT, DA LEI 11.343/06. INSURGÊNCIA RECURSAL. TESE 
DE NEGATIVA DE AUTORIA. AFASTAMENTO. CONJUNTO 
PROBATÓRIO ROBUSTO A DEMONSTRAR A AUTORIA E A 
MATERIALIDADE DO ATO INFRACIONAL IMPUTADO AO 
ADOLESCENTE. DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS HARMÔNICOS. 
PROVAS COLHIDAS NA SEDE JUDICIAL EM CONSONÂNCIA COM OS 
DEMAIS ELEMENTOS PROBATÓRIOS COLIGIDOS NOS AUTOS. 
CONDENAÇÃO QUE SE MANTÉM. APLICAÇÃO DE MEDIDA 
SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. SUPOSTA DESPROPORÇÃO. 
PRETENSÃO DE SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDA DIVERSA. NÃO 
ACOLHIMENTO. REITERAÇÃO EM INFRAÇÕES GRAVES. 
ADOLESCENTE QUE OSTENTA OUTRAS REPRESENTAÇÕES,DUAS 
DAS QUAIS PELO MESMO ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO TRÁFICO, 
E QUE POSSUI FAMÍLIA DESESTRUTURADA, ESTANDO FORA DA 
ESCOLA, NÃO TENDO, APÓS SUAS LIBERAÇÕES DAS INTERNAÇÕES 
ANTERIORES, DADO CONTINUIDADE AOS ENCAMINHAMENTOS 
 
8
 JUSBRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Apelação n.º 32974120038070001. Disponível 
em: <http://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7296360/apelacao-apl-32974120038070001-df-
0003297-4120038070001>. Acesso em: 27 ago. 2016. 
35 
 
REALIZADOS. PRÁTICA HABITUAL DE ATOS INFRACIONAIS QUE 
DEMONSTRA A NECESSIDADE DA MEDIDA EXTREMA DA 
INTERNAÇÃO, NO INTERESSE DO PRÓPRIO MENOR. LAUDO TÉCNICO 
INFORMATIVO QUE REVELA A NECESSIDADE DA INTERNAÇÃO, QUE, 
NO CASO EM CONCRETO, ENCONTRA RESPALDO NO INCISO I I, DO 
ARTIGO 122 DA LEI Nº 8.069/90. PRECEDENTES DO STJ E DESTA 
CORTE.SENTENÇA ESCORREITA. RECURSO DESPROVIDO.
9
 
 
Ademais, crianças e adolescentes que carecem de autocontrole também se 
tornam mais propícias a cometerem atos infracionais, eis que agem de modo 
impulsivo, e, portanto, de imediato, sem fazer uma análise mais acurada acerca das 
consequências de sua conduta. Da mesma forma, as forças biológicas também 
acarretam um comportamento agressivo e impulsivo, que poderão acarretar a 
criminalidade do menor. 
 
Classe social. O crime adolescente acontece em todas as camadas sociais, 
mas é mais frequente entre adolescentes de classes sociais mais baixas. 
Essa relação pode refletir diversos fatores. Primeiro, o crime é mais comum 
em bairros de classe baixa; assim, os modelos criminais adultos estão mais 
facilmente disponíveis para as crianças. Segundo, os adolescentes de 
classe mais baixa muitas vezes são malsucedidos na escola e não recebem 
muitos incentivos em relação ao resultado de seus esforços acadêmicos; a 
atividade criminal é um campo em que eles podem se destacar e obter o 
reconhecimento dos colegas. [...]. Terceiro, as tensões constantes da vida à 
beira de um desastre econômico podem reduzir a eficácia da educação 
parental nos lares das classes mais baixas [...]. 
Processos familiares. O comportamento delinquente muitas vezes está 
relacionado à supervisão inadequada por parte dos pais. Os adolescentes 
que não são supervisionados (porque, por exemplo, os pais trabalham fora) 
são muito mais propensos a se envolver em atos deliquentes. Os pais 
também podem contribuir para o comportamento delinquente se a sua 
disciplina não é sistemática e o relacionamento conjugal é marcado por 
conflitos constantes [...]. 
Autoncontrole. À medida que a maioria das crianças se desenvolve, elas se 
tornam mais capazes de controlar o próprio comportamento. Tornam-se 
mais capazes de inibir as tendências impulsivas, de adiar a gratificação e de 
considerar o impacto de seu comportamento sobre os outros [...]. Vendo um 
novo aparelho de CD ou um carro, os jovens delinquentes são tentados a 
roubá-lo, simplesmente para poderem tê-lo de imediato. [...]. 
Forças biológicas. O comportamento agressivo e impulsivo, parte comum do 
comportamento anti-social, tem raízes biológicas. Alguns jovens anti-sociais 
aparentemente herdam uma predisposição para se comportarem agressiva 
e impulsivamente [...]. 
 
Além do mais, oportuno mencionar que Maria de Lurdes Trassi Teixeira 
(1994) pontua diversos aspectos que podem ensejar a prática de delitos por crianças 
e adolescentes, como, por exemplo, a ausência da figura paterna e/ou materna, a 
 
9
 JUSBRASIL. Tribunal de Justiça do Paraná. Apelação n.º 12786515. Disponível em: <http://tj-
pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/187581180/apelacao-apl-12786515-pr-1278651-5-acordao>. 
Acesso em: 27 ago. 2016. 
36 
 
ausência de um ambiente seguro e, ainda, situações de violência física e 
psicológica, que figurou como vítima. 
Acerca do instituto familiar, Paula Gomide (1999, p. 37) explica que: 
 
A família se enfraqueceu enormemente em nossa sociedade. Sua unidade 
interna foi minada pela pauperização, assolada pela arbitrariedade policial 
nos grandes bairros periféricos, pelo tráfico de drogas, pelo alcoolismo, pela 
violência, pela prostituição e pelo abandono dos filhos. Sem que os pais 
assumissem nenhuma responsabilidade sobre seus filhos, as mães 
repetiam casamentos similares várias vezes, perdendo-se os filhos dos 
primeiros matrimônios na rejeição e na violência das relações familiares 
degradadas. 
 
Além do mais, vale salientar que, nos moldes corroborados por Paula 
Gomide (1999, p. 39), "(...) os comportamentos anti-sociais somente se 
desenvolvem se houver condições propícias na família". 
Por sua vez, além das hipóteses acima elencadas, Jorge Trindade (1993, p. 
44) explica que, em muitas ocasiões, os atos infracionais podem ser cometidos pelo 
uso exacerbado de drogas. 
 
Definir delinquência juvenil resulta, portanto, difícil, posto que alguns 
teóricos incluem nesse conceito não só comportamentos delitivos, senão 
condutas irregulares e anômicas, como, por exemplo, a indisciplina, as 
fugas do domicílio familiar, o consumo de drogas, os transtornos afetivos e 
os fenômenos de inadaptação, que tendem a se confundir, apesar da 
possibilidade de um menor ser inadaptado sem, todavia, ser delinquente. 
 
Sob este prisma, indubitavelmente, "Hoje, um dos fatores responsáveis pelo 
aumento da criminalidade está ligado ao tráfico de drogas, e, nas grandes cidades, o 
crescimento da violência e as disputas entre as quadrilhas do crime organizado 
estão diretamente relacionadas", nos moldes delimitados por Sandra Mári Córdova 
D'Agostini (2003, p. 53). 
Com o desiderato de demonstrar que o tráfico de drogas também tem o 
condão de fazer surgir atos infracionais, colaciona-se o julgado do Tribunal de 
Justiça de Santa Catarina: 
 
EMENTA. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATO 
INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE POSSE DE DROGA PARA 
CONSUMO PRÓPRIO (ART. 28 DA LEI N. 11.343/2006). 
REPRESENTAÇÃO REJEITADA NA ORIGEM ANTE A AUSÊNCIA DE 
OITIVA INFORMAL DO ADOLESCENTE (ART. 179 DO ECA). RECURSO 
MINISTERIAL. ALEGADA PRESCINDIBILIDADE DA MEDIDA. 
ACOLHIMENTO. OITIVA INFORMAL DO MENOR QUE SE DESTINA A 
37 
 
AUXILIAR O REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO A ESCOLHER 
PELO ARQUIVAMENTO DO FEITO, REMISSÃO OU REPRESENTAÇÃO. 
PROMOTOR DE JUSTIÇA QUE, DIANTE DOS ELEMENTOS DE 
CONVICÇÃO EXISTENTES NOS AUTOS, ENTENDEU CABÍVEL A 
REPRESENTAÇÃO, AFASTANDO, IMPLICITAMENTE, A POSSIBILIDADE 
DE ARQUIVAMENTO OU REMISSÃO. PRECEDENTES DO SUPERIOR 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DESTE TRIBUNAL. DECISÃO CASSADA. 
RECURSO PROVIDO. 
1. De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a oitiva 
informal do adolescente, ato de natureza extrajudicial, não é pressuposto 
para o oferecimento da representação, servindo apenas para auxiliar o 
representante do Ministério Público a decidir sobre a necessidade ou não da 
instauração da ação socioeducativa, nos termos do art. 180 da Lei n.º 
8.069/90. Precedentes. (...). 3. Agravo regimental a que se nega 
provimento.
10
 
 
Derradeiramente, Gabriel José Chittó Gauer, Silvio José Lemos 
Vasconcellos e Tácia Rita Davoglio (2012, p. 207) mencionam que "Os adolescentes 
que cometem uma infração possuem, em sua maioria, histórico de problemas 
comportamentais na infância". 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10
 JUSBRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação n.º 20140539157. Disponível em: 
<http://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25321522/apelacao-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-
apl-20140539157-sc-2014053915-7-acordao-tjsc>. Acesso em: 27 ago. 2016. 
38 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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