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Nature (inato) vs. Nurture (adquirido) - Raça, QI e Genética

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NATURE (INATO) VS. NURTURE (ADQUIRIDO): RAÇA, QI E GENÉTICA 
 
IGUALDADE E DIVERSIDADE* 
 
 
 
Joana Inês Pontes 
PhD Candidate 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto, 2008 
 
 
 
 
*  artigo  realizado  no  seminário  de  História  e  Filosofia  das  Ciências,  sob  a  orientação  da  Professora  Doutora 
Maria Manuel Araújo Jorge na FLUP e posteriormente publicado numa revista de Filosofia. 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Durante as últimas décadas têm sido publicados inúmeros artigos científicos acerca das relações 
entre raça, QI e realizações culturais (Jensen & Eysenck, 1969; Herrnstein & Murray, 1994; Rusthon 
& Ankey,  1996;  Lynn &  Vanhanen,  2002).  Segundo  estes  artigos,  as  divergências  de QI  apuradas 
entre  indivíduos  pertencentes  a  diferentes  grupos  étnicos  devem‐se,  em  parte,  a  explicações 
genéticas. O presente artigo tem por objectivo demonstrar (contrariamente à maioria das análises 
depreciativas) que se, porventura, a possibilidade genética é adoptada como ideal, ela não deve ser 
negativamente considerada, mas reconhecida como um contributo vantajoso no melhoramento da 
vida  social  do  ser  humano.  Existem  duas  razões  para  defender  esta  posição:  i)  a  apologia  da 
diversidade genética não tem quaisquer  implicações no  ideal de  igualdade: as pessoas devem ser 
sempre  avaliadas  e  respeitadas  enquanto  indivíduos  e  segundo  a  igualdade  na  consideração  de 
interesses  (tais como: o  interesse em evitar a dor, em satisfazer necessidades básicas, etc.) e não 
em função dos ‘agrupamentos’ étnicos nos quais estão inseridos; ii) a possibilidade de se conhecer 
o ser humano na sua completude (i. e. nos seus anseios, virtudes, forças, fraquezas, limitações, etc.) 
não  só  é  absolutamente  fascinante  como  nos  permite  criar  infra‐estruturas  políticas  e  sociais 
eficazes para compensar essas mesmas desigualdades.  
 
Palavras‐chave: Raça, QI, Genética, Igualdade, Diversidade Racial e hereditariedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
Lágrima de Preta 
 
Encontrei uma preta 
que estava a chorar, 
pedi‐lhe uma lágrima 
para a analisar. 
 
Recolhi a lágrima 
com todo o cuidado 
num tubo de ensaio 
bem esterilizado. 
 
Olhei‐a de um lado, 
do outro e de frente: 
tinha um ar de gota 
muito transparente. 
 
Mandei vir os ácidos, 
as bases e os sais, 
as drogas usadas 
em casos que tais. 
 
Ensaiei a frio, 
experimentei ao lume, 
de todas as vezes 
deu‐me o que é costume: 
 
nem sinais de negro, 
nem vestígios de ódio. 
Água (quase tudo) 
e cloreto de sódio. 
 
António Gedeão (1961) 
 
 
 
 
 
 4 
INTRODUÇÃO: FAZ SENTIDO DEFENDER A DIVERSIDADE GENÉTICA? 
 
«O bosque seria muito triste se só cantassem os pássaros que cantam melhor.» 
 
Rabindranath Tagore, s/n 
 
O debate do  inato versus  adquirido  tem sido ubíquo na história das  ciências do  comportamento, 
sendo  que  as  abordagens  das  ciências  sociais  e  das  ciências  biológicas  ao  estudo  do 
comportamento  têm  sido  quase  mutuamente  exclusivas.  Todavia,  um  número  crescente  de 
trabalhos,  sobretudo  na  área  de  psicologia  e  neurologia,  têm  vindo  a  documentar  o  efeito 
primordial  de  factores  genéticos  (face  a  ambientais)  na  demarcação  da  raça,  personalidade, 
comportamento e QI (quociente de inteligência). Tais resultados sugerem que os efeitos de factores 
sociais  na  expressão  do  comportamento  e  da  personalidade  devem  ter  como  base  processos 
biológicos, i. e. explicações genéticas. Os estudos de adopção trans‐racial (em que crianças de uma 
determinada raça são adoptadas e educadas por pais de outra raça), os estudos sobre a regressão 
para o nível médio (que compara pais e  irmãos de grupos raciais diferentes) e os estudos sobre a 
influência da depressão consanguínea (que estudam os filhos de pais aparentados entre si por laços 
de sangue) fornecem a prova de que os genes são responsáveis pelas diferenças entre as raças, em 
termos  de  QI,  personalidade,  atitudes  e  outros  comportamentos,  nos  quais  desempenham  um 
papel determinante. Na sua maioria, estes estudos convergem na ideia segundo a qual «the Brain 
size matters»  (Rushton,  J.  P., & Ankney,  C.  D.,  1996),  ou  seja,  a  dimensão  do  cérebro  faz  toda  a 
diferença, pois as divergências nas capacidades cognitivas estão directamente correlacionadas com 
as diferenças de dimensão do  cérebro,  a  idade, o  sexo,  a  classe  social  e  a  raça  (Rusthon,  J.  P., & 
Ankney, C. D., 1996; Penke, Denissen, Miller, 2007). 
Encontra‐se  perfeitamente  estabelecido,  pelas  ciências  do  comportamento,  que  existe  uma 
grande  variabilidade  dentro  de  cada  grupo  racial,  bem  como  notórias  diferenças  médias  na 
dimensão do  cérebro e na  capacidade  cognitiva  (QI)  entre  as  raças  (Lynn, R., & Vanhanen, 2002; 
Jensen & Rusthon, 1988). Aliás, existe um consenso ético universal de que nós tratamos as pessoas 
como  indivíduos. No entanto, certos grupos de opinião muito activos nos meios académicos e de 
comunicação social proíbem, pura e simplesmente, o público de participar numa discussão franca 
sobre o assunto. Para muitos, é  inquietante que o  facto de  se mencionar que as  raças divergem, 
possa  conduzir  à  criação  de  estereótipos,  limitando  a  igualdade  na  consideração  de  interesses  e 
oportunidades.  
Um dos desafios que se coloca é o seguinte: ‘Suponhamos que se revela que um determinado 
grupo étnico (raça X) tem um QI médio superior ao de outro (raça y) e que esta diferença se deve, 
em parte, a factores genéticos. Asserção: x é geneticamente superior em QI a y.’ Será isto racismo 
defensável?  Teremos,  por  isso,  que  rejeitar  o  princípio  da  igualdade?  Ou  será  apenas  a  prova 
 5 
científica  do  quão  rico  e  diversificado  o  potencial  genético  humano  é,  e  a  sua  importância  na 
consideração da igualdade de interesses?  
Alguns comentadores lidam com a natureza provocatória destas pesquisas (Helfrich:’provocate 
paper’;  B.  Spinath:  ‘explosive  potential’),  mas  serão  este  género  de  investigações  especialmente 
provocantes ou,  pelo  contrário,  importantes pesquisas  sociais  e  culturais,  provocativas devido ao 
impacto  que  provocam nos  ‘interesses’  e  filosofias  de  vida? Outros  autores  levantaram questões 
acerca das consequências étnicas e políticas da  investigação da  inteligência a nível nacional  (Allik, 
Asendorpf, F. Spinath), tais como: qual é o valor científico de mapas‐mundo (mapas mundi) com as 
diferenças  de  QI?  Qual  é  o  objectivo  de  figuras  a  ilustrarem  as  correlações  negativas  entre  as 
capacidades cognitivas a nível nacional? 
Antes  de  existirem  quaisquer  testes  de  inteligência  e  comportamento,  filósofos  (Aristóteles, 
Voltaire,  D.  Hume),  investigadores  (Broca,  Darwin,  Galton),  assim  como  todos  os  fundadores  da 
teoria da evolução e antropologia acreditavam na existência de uma ligação entre raça, inteligência 
e realizações culturais. Até Freud acreditava que existiam diferenças raciais até certo ponto. Hoje, 
um  vasto  conjunto  de  investigações  científicas  comprova  aquilo  em  que  anteriormente  apenas 
podíamos acreditar: a  raça é, efectivamente, «mais do que uma questão de pele»  (Rushton,  J. P., 
2000), é uma realidade biológica com implicações na ciência e na vida quotidiana social (Herrnstein 
& Murray, 1994; Jensen, A. R., 1998; Lynn, R., & Mikk, J., 2007); por isso, qualquer investigação que 
envolva estudos comparativos entre raças não deve, em momento algum,ser menosprezada. 
Este artigo pretende esclarecer que o reconhecimento da diferença racial e das discrepâncias a 
ela  coligadas  não  é  fruto  de  racismo,  xenofobia  ou  de  uma  qualquer  tentativa  de  menorizar  a 
igualdade  inerente  a  cada  ser  humano,  mas  de  um  elucidado  reconhecimento  da  existência  de 
diversidade/pluralidade  genética  –  uma  das maiores  riquezas  da  humanidade.  Tendo  como  base 
uma quantidade razoável de estudos acerca das diferenças raciais, acredito ser possível defender a 
diversidade  genética,  sem  agredir  ética  e  psicologicamente  a  sociedade  e  que  a  abolição  da 
utilização  do  termo  «raça»  não  tem  quaisquer  repercussões  nos  defensores  do  racismo  –  pelo 
contrário. O reconhecimento da diversidade racial abre a possibilidade de aprofundar o estudo da 
raça na sua completude, i. e. de conhecermos melhor quais são os seus anseios, virtudes, fraquezas, 
forças, etc., que nos permitirão responder de forma mais eficaz às suas carências, pois só quando 
considerarmos  os  genes  e  o  ambiente  em  conjunto  é  que  estaremos  aptos  a  compreender  a 
complexidade  dos  problemas  humanos,  e  é  só  com  esse  conhecimento  que  a  sociedade  poderá 
tentar resolvê‐los. O primeiro passo implica, assim, honestidade intelectual acerca das raças, da sua 
evolução e comportamento  (desprovidos de  ‘tabus’) para podermos progredir no sentido de uma 
sociedade mais esclarecida, humanizante e preparada para superar as adversidades na diversidade.  
 6 
NATURE VS. NURTURE: ATÉ ONDE VAI A INFLUÊNCIA GENÉTICA? 
 
«Nature is all that a man brings with himself into the world; nurture is every influence that affects 
him after his birth.  The distinction is clear: the one produces the infant such as it actually is, 
including its latent faculties of growth and mind: the other affords the environment  
amid which the growth takes place, by which natural tendencies may be 
 strengthened or thwarted or wholly new ones implanted».  
 
Francis Galton, 1874 
 
Um dos fenómenos mais estudados e também mais complexos da biologia (estudo de organismos 
vivos)  e  da  psicologia  (estudo  da  mente)  é  o  de  saber  como  é  que  as  pessoas  se  desenvolvem 
mentalmente,  i.  e.  que  factores  contribuem  para  o  desenvolvimento  mental  do  indivíduo:  a 
natureza (i. e. a composição biológica ou genética de uma pessoa) ou o ambiente (como é que uma 
pessoa é criada, por quem e onde)? Como é que os  indivíduos desenvolvem a capacidade para a 
aprendizagem, a memória, a inteligência, e a personalidade? Por que é que dois ou mais indivíduos, 
nascidos  e  criados  pelos  mesmos  pais  (e,  consequentemente,  detentores,  de  uma  composição 
genética  similar)  se  transformam,  frequentemente,  em  indivíduos  com  acentuadas  diferenças  de 
gosto, forças e fraquezas? Por que é que algumas pessoas, contrariamente ao seu irmão e/ou irmã, 
desenvolvem doenças mentais? O que está na  causa de  tais diferenças,  i.  e. o que pesa mais no 
pêndulo: a genética ou o ambiente? 
                    
Fig. 1: Pêndulo da opinião sobre a influência da nature vs. nurture. 
 
Tal  como  a maioria  dos  estudos  que  pertencem  à mente,  neste  também não  existem muitas 
respostas  liminares.  Os  cientistas  e  investigadores  do  campo mental  desenvolvem  teorias muito 
diferentes  a  respeito  de  como  as  pessoas  crescem e  se  desenvolvem mentalmente. Uma  grande 
parte dos  investigadores  acredita que o  ambiente/cultura  em que uma pessoa é  criada  contribui 
para  a  formação  integral  da  sua  personalidade  e  inteligência,  podendo  mesmo  promover  ou 
NATURE  NURTURE 
 7 
impedir o desenvolvimento de determinadas doenças físicas ou mentais (Watson, J. B., Tolman, E. 
C., Skinner, B. F., Pavlov, I. P.): «Dêem‐me uma dúzia de crianças saudáveis (...) deixem‐me escolher 
o mundo no qual irão ser criadas e garanto‐vos que poderei pegar numa ao acaso e orientá‐la para 
que  se  torne  um  perito  duma  especialidade  à  minha  escolha  –  médico,  advogado,  artista, 
comerciante,  maestro  e,  até  mesmo,  mendigo  –  quaisquer  que  sejam  os  seus  talentos,  as  suas 
tendências,  as  suas  inclinações,  as  suas  capacidades,  a  sua  raça,  ou  os  seus  antepassados». 
(Watson,  J.  B.,  1930);  uma outra parte  (bem menor)  sustenta que a biologia  joga um papel mais 
importante que o ambiente e que as pessoas estão geneticamente programadas para se tornarem 
naquilo  que  são,  por  isso,  coisas  como  alcoolismo  ou  mesmo  a  inteligência  são  biologicamente 
herdados,  pois  nada  no  ambiente  poderá  modificá‐las  de  forma  radical  (Jensen,  A.  R.,  Lynn,  R., 
Rushton, J. P., Wilson, E. O., Weinberg, R. A.).   
Embora o zeitgeist (espírito da época) do mundo da psicologia ocidental considere que ambos 
os  factores  (genético  e  ambiental)  contribuem  de  modo  idêntico  (50%‐50%)  para  o 
desenvolvimento mental do  indivíduo,  influenciando de modo «interacionista»  (Ridley, M., 2003), 
muitos estudos mostram que os gémeos (sejam eles de que tipo forem) detêm maior probabilidade 
de  possuírem  uma  inteligência  similar  (Bouchard  Jr,  T.  J.,  1990).  Aliás,  quanto mais  próxima  é  a 
ligação  biológica,  mais  forte  é  a  similitude  na  inteligência.  Todavia,  existem  também  algumas 
similitudes  na  inteligência  entre  crianças  que  não  possuem qualquer  relação  de  parentesco  (i.  e. 
não  são  irmãos  ou  gémeos),  mas  foram  criadas  conjuntamente  na  mesma  casa,  contudo,  este 
género  de  similitudes  não  são  tão  elevadas  quanto  as  que  se  encontram  entre  os  irmãos  e,  em 
especial, os gémeos. Em geral, o que estes estudos nos  indicam é que não existe um único factor 
definitivo que influencie directamente e de forma única a inteligência: quer a «herança genética», 
como  o  modo  e  local  em  que  o  indivíduo  é  criado  exercem  extrema  influência.  Isto,  porque  a 
inteligência não se encontra 100% determinada pela genética, logo, qualquer que seja a inteligência 
natural de um indivíduo (mesmo considerando que se encontra maioritariamente determinada pela 
genética),  ela poderá  ser melhorada ou obstruída  (nem que  seja numa percentagem minoritária) 
pelo ambiente (moral, político, ético, educacional, social, etc.), em que o indivíduo se desenvolve.  
Assim,  o  problema  aqui  em  disputa  não  é  saber  se  a  genética  determina  em  100%  o 
desenvolvimento  do  indivíduo,  ou  se  pode  ser  utilizada  como  factor  isolado  na  comparação  de 
grupos  étnicos  (esta  questão  está  ultrapassada),  mas  o  de  saber  até  que  ponto  estamos 
geneticamente  determinados,  i.  e.,  qual  é  percentagem  de  influência  dos  factores  biológicos  no 
desenvolvimento:  será 30%, 50% ou 80%,  como afirmou o psicólogo americano Arthur  Jensen na 
década de 60? E, acaso a genética desempenhe o papel mais importante, será isso razão suficiente 
para defender o racismo?  
 8 
A IGUALDADE E AS SUAS IMPLICAÇÕES: DESIGUALDADE OU DIVERSIDADE RACIAL? 
  
«Sempre afirmei: os homens são iguais. A única verdadeira distinção 
 é a diferença que pode existir entre eles» 
 
Henri Monnier, 1828 
 
O princípio de que os seres humanos são todos iguais faz hoje parte integrante da ortodoxia política 
e ética dominantes. Os pressupostos  racistas que  foram em tempos partilhados por grande parte 
dos europeus na viragem do século são, nos dias de hoje, totalmente inaceitáveis, pelo menos na 
vida pública. É absolutamente impensável agredir ou insultar um indivíduo devido à tonalidade de 
pele,  fisionomia  ou  qualquer  outra  característica  que  se  apresente  desigual  ao  da  maioria  dos 
indivíduosda  comunidade  dominante:  não  só  porque  é  anti‐ético,  mas  porque  é  desprovido  de 
sentido. Afinal, o que significa fazer parte da maioria? Será que fazer parte da maioria é fazer parte 
da normalidade? Então e se viajássemos para um país no qual todos os indivíduos tivessem apenas 
um olho:  como nos  sentiríamos? Provavelmente deficientes diante dos outros e  com vontade de 
regressar para junto da ‘nossa tão familiar comunidade’ (com dois olhos), que julgávamos ser, até 
então, o padrão da normalidade. Entenda‐se que não há civilizações normais e outras anormais e 
não é por  correspondermos a um padrão  que os outros  são despropositados: o que existem  são 
centenas de civilizações e de seres humanos diferentes, com características próprias e que devem 
ser respeitados na sua diversidade.  
 Mas apesar de a igualdade ser um princípio reconhecido e fomentado nas sociedades actuais, 
isto  não  quer  dizer  que  os  racistas  tenham  desaparecido  completamente,  mas  que  têm, 
simplesmente, de disfarçar o  seu  racismo se quiserem que a  sua política e as  suas  ideias  tenham 
alguma  hipótese  de  aceitação  geral.  Por  exemplo,  um  poeta  não  poderia  agora  escrever  sobre 
«raças  inferiores  à  margem  da  lei»  e  manter  ou  aumentar  a  sua  reputação,  como  fez  Rudyard 
Kipling  em 1897. A  própria África  do  Sul  abandonou o apartheid  («vida  separada»),  uma palavra 
legalmente  adoptada  em  1948  para  designar  um  regime  segundo  o  qual  os brancos  detinham  o 
poder e os povos restantes eram obrigados a viver separadamente, de acordo com regras que os 
impediam de ser verdadeiros cidadãos.  
Actualmente,  proferimos:  todos  diferentes,  todos  iguais,  independentemente  da  raça  ou  do 
sexo; contudo, o que estamos exactamente a proclamar quando dizemos que os homens são todos 
iguais?  Que  não  existem  quaisquer  diferenças  entre  o  homem  e  mulher  ou  que  os  homens 
(provenientes  ou  não  do mesmo  grupo  étnico)  são  exactamente  ‘iguais’? Mas  então,  por  que  se 
passeiam alguns de Ferrari e outros de Ford? Por que conseguem alguns correr 100 metros em 10 
segundos,  enquanto  outros  necessitam  de  15  ou  20?  Como  se  justifica  que  alguns  indivíduos  se 
 9 
tornem  grandes  empresários,  enquanto  outros,  talvez munidos  por  um  espírito  diferente,  nunca 
criam novas  estruturas  na  sociedade?  Por  que  não  andamos  todos  na  faculdade? Os  racistas,  os 
sexistas, bem como outros adversários da  igualdade, não  têm deixado de assinalar que, qualquer 
que  seja  o  critério  escolhido,  «não  é  pura  e  simplesmente  verdade  que  todos  os  seres  humanos 
sejam  iguais  (…)  é  um  facto  incontroverso de que os  seres  humanos diferem entre  si  e  que  essas 
diferenças se verificam em tantas características, que a busca de uma base factual sobre a qual se 
possa assentar o princípio da igualdade parece condenada ao fracasso.» (Singer, P., 2002). Tal como 
diz o ditado, cada um é como cada qual: uns são altos, outros baixos; uns bonitos, outros feios; uns 
têm  olhos  azuis,  outros  não;  uns  são  excelentes  jogadores  de  futebol,  alguns  grandes  génios  da 
música,  outros  excelentes  empregados  de  mesa;  uns  preocupam‐se  com  a  vida,  outros  não.  E 
poderíamos  continuar  com  infinitas  divergências.  Os  homens  possuem,  de  facto,  características 
diferentes entre si e quanto a isso, pouco ou nada podemos fazer – embora a ciência já possibilite 
operações plásticas extraordinárias,  tais  como mudar de  sexo ou alterar o pigmento da pele  (um 
dos excelentes exemplos da utilização desta potencialidade cientifica é Michael Jackson). 
Quando questionamos os fundamentos do princípio de que todos os seres humanos são iguais 
e procuramos aplicar esse mesmo princípio a casos particulares, o consenso começa  levemente a 
desaparecer.  Um  dos  indícios  deste  fenómeno  foi  o  furor  registado  quando  A.  Jensen  e  H.  J. 
Eysenck, nos finais dos anos 60, declararam que as variações de inteligência entre diferentes raças 
se baseavam na genética. Num extenso artigo publicado na revista Harvard Education Review, em 
1969, intitulado How Much Can We Boost IQ and Scholastic Achievement?, Arthur Jensen abordou, 
numa pequena secção, as causas prováveis do facto indiscutível de, em média, os afro‐americanos 
não  conseguirem  resultados  tão elevados  como os  restantes americanos nos  testes  canónicos de 
quociente  de  inteligência.  Jensen  resumiu  as  conclusões  a  que  chegou,  do  seguinte modo:  «Não 
temos mais do que diversas linhas de indícios, nenhuma das quais é  isoladamente conclusiva, mas 
que, no  seu  conjunto  fazem não  ser de  rejeitar a hipótese de os  factores genéticos  terem grande 
importância  na  diferença  média  de  inteligência  entre  Brancos  e  Negros.  A  predominância  dos 
indícios é, na minha opinião, menos consistente com uma hipótese estritamente ambiental do que 
com uma hipótese genética, que, note‐se, não exclui a influência do ambiente ou da sua interacção 
com factores genéticos.» (Jenson, A., 1969).  
Esta  passagem, muito  reservada,  surgiu  no meio  de  um  estudo minucioso  de  uma  questão 
científica  complexa  publicada  numa  revista  académica.  Deste  modo,  não  surpreenderia  se 
realmente  tivesse  passado  despercebida  à  maioria  do  público,  exceptuando,  como  é  óbvio,  os 
cientistas que trabalham na área da psicologia e/ou da genética. Contudo, por incrível que pareça, 
foi  largamente  citada  na  imprensa  popular,  numa  tentativa  desmesurada  de  defender  o  racismo 
 10 
com  bases  científicas.  Jensen  foi  acusado  de  difundir  propaganda  racista  e  comparado  a  Hitler. 
Muitas das suas conferências  foram boicotadas e os alunos que frequentavam a Universidade em 
que  leccionava  exigiram  a  sua  imediata  expulsão. H.  J.  Eysenck,  Professor  britânico  de  Psicologia 
conhecido como um grande entusiasta e apoiante das  teorias de  Jensen,  recebeu um tratamento 
semelhante ao do seu colega na Grã‐Bretanha, na Austrália e nos EUA. É  importante notar que o 
argumento de Jensen não declara que as pessoas de origem europeia registam a inteligência média 
mais elevada entre os Americanos: «a sua secção procurou assinalar alguns indícios de que são os 
americanos de ascendência  japonesa e chinesa que registam os melhores resultados nos testes de 
raciocínio abstracto (embora sejam oriundos de estratos com um nível socioeconómico mais baixo), 
do que os americanos de ascendência europeia» (Singer, P., 2002).  
As  contestações  à  utilização  de  explicações  genéticas  para  justificar  a  alegada  diferença  de 
inteligência entre as diversas raças é, apenas, uma mera manifestação no interior de uma oposição 
bem mais geral e típica às explicações genéticas em outras áreas sociais particularmente sensíveis, 
como, por exemplo, a velha questão social da diferença entre os sexos. Largos  foram os anos em 
que  a mulher  foi  descriminada  pelo  homem  e  se  alegava  a  existência  de  factores  biológicos  por 
detrás  do  domínio  masculino.  Felizmente,  o  movimento  feminista  alterou  esta  visão 
monopolizadora  (machista)  ao  reivindicar  a  igualdade de  direitos  entre  os  sexos  e  reconhecendo 
que,  embora  as  diferenças  biológicas  tenham a  sua  dose  de  influência  –  por  exemplo,  o  homem 
possui,  normalmente,  um  comportamento  mais  agressivo,  enquanto  a  mulher  apresenta, 
maioritariamente,  um  comportamento mais  afectuoso  –  isso  não  é  justificação  para  a  prática  de 
descriminação. Hoje, a igualdade entre o Homem e Mulher é trivial – muitos dos jovens já nasceram 
envolvidos numa sociedade igualitária – porém, nem sempre foi assim.A integração da mulher na 
população activa e o seu acesso ao estatuto de cidadã em termos iguais aos dos homens é um dos 
mais importantes traços da nova sociedade. No passado, as mulheres tinham menos direitos que os 
homens: salvo raras excepções, não detinham direito de voto; sem a autorização dos maridos não 
podiam sequer possuir passaporte, não podiam sair do país, não podiam ter conta bancária, assinar 
contratos  comerciais,  alugar  casa  e  abrir  empresas;  o  adultério  masculino  era  tolerado,  mas  o 
adultério feminino era legalmente punido. Presentemente, as mulheres representam cerca de 50% 
da  população  activa  em  toda  a  Europa  e  são  maioritárias  nas  escolas,  nas  universidades,  na 
Administração  Pública,  nos  serviços  e  na  saúde.  Cerca  de  dois  terços  dos  diplomas  de  ensino 
superior obtidos anualmente em Portugal vão para as mulheres. As mulheres têm agora acesso a 
todas as profissões (podem ser empresárias, juízas, diplomatas, etc.).  
A mentalidade mudou:  a  igualdade  entre  os  homens  e  as mulheres  está,  nos  dias  de  hoje, 
assegurada na  lei.  Isto  significa que apesar de existirem diferenças  genéticas entre o homem e a 
 11 
mulher, quer na fisionomia, como no comportamento, a humanidade «aprendeu» a  jogar com as 
vantagens/desvantagens  dessas  divergências  e,  sobretudo,  a  reconhecer  que  a  igualdade  de 
interesses  e  oportunidades  que  cada  ser  humano  detém  na  sociedade  são  totalmente 
independentes  do  sexo.  O  desafio  que  se  coloca  é,  então,  o  seguinte:  será  possível  defender  a 
igualdade racial ao mesmo tempo que se acentua a diversidade genética entre as raças? Sim, desde 
que  consideremos  a  igualdade  na  consideração  de  interesses  e  estejamos  conscientes  da 
proficuidade do conhecimento dessas diferenças para a melhoria da qualidade de vida social do ser 
humano.  
A  generalizada  oposição  às  explicações  genéticas  também  possui  ligações  óbvias  com  a 
intensidade  dos  sentimentos  suscitados  pelas  abordagens  sociobiológicas  no  estudo  do 
comportamento  humano.  Neste  caso,  a  preocupação  é  a  de  que,  se  o  comportamento  social 
humano  for  encarado  como  decorrente  de  outros  mamíferos  sociais,  poderemos  ser  levados  a 
pensar que  fenómenos como a hierarquia, o domínio masculino e a desigualdade  fazem parte da 
evolução  da  natureza  e  são  imutáveis.  Recentemente,  o  desenvolvimento  do  Projecto  Científico 
Internacional  destinado  a  traçar  o  Mapa  do  Genoma  Humano  (1990)  –  i.  e.  a  fornecer  uma 
descrição  científica  e minuciosa  do  potencial  genético  humano  –  projectado  para  durar  15  anos, 
provocou enormes protestos, sobretudo, devido à apreensão sobre aquilo que um tal mapa possa 
revelar  quanto  às  diferenças  genéticas  entre  seres  humanos  e  que  tipo  de  utilização  poderá  ser 
feita com tais informações.  
Não  é  da  nossa  competência  avaliar  os  méritos  científicos  das  explicações  biológicas  do 
comportamento humano em geral  ou,  então,  das  diferenças  raciais  em particular  entre  as  raças, 
mas as implicações que podem ter essas teorias na sociedade, sobretudo, relativamente ao ideal de 
igualdade. Note‐se que para fazer tal  reflexão não é preciso determinar se essas teorias estão ou 
não correctas, ou se são sólidas, basta centrarmo‐nos no seguinte problema: existem vários estudos 
que demonstram a existência de diferenças de QI entre grupos étnicos e que tal diferença se deve, 
em  parte,  a  factores  genéticos  (Herrnstein  & Murray’s,  1994;  Jensen,  1998;Rusthon,  J.  P.,  2000; 
Lynn & Vanhanen’s, 2002); suponhamos que tais estudos estão efectivamente correctos e que são 
socialmente aceites, significaria  isso que os poderíamos utilizar para defender cientificamente a 
desigualdade e colocar em causa a nossa perspectiva acerca da igualdade racial?  
Na  verdade,  seria  lamentável  que  o  nosso  cepticismo  acerca  destas  questões  nos  levasse  a 
negligenciá‐las  e  que  mais  tarde  se,  porventura,  tais  teorias  fossem  apresentadas  publicamente 
como ideais, pudessem – ao encontrar um público confuso e pouco preparado para lidar com elas – 
ter  implicações  para  o  ideal  da  igualdade,  quando  na  verdade  não  têm.  Neste  sentido, 
começaremos  por  esclarecer:  i)  de  que  falamos  quando  falamos  em  ‘diferença  no  quociente  de 
 12 
inteligência  médio  entre  diferentes  grupos  étnicos’  –  que  estudos/teorias  estão  em  causa?  ii) 
porque  são  umas  pessoas  mais  «inteligentes»  do  que  outras:  que  factores  (genéticos  ou 
ambientais) são responsáveis, pelo menos em parte, por essa diferença. 
 
DIFERENÇA RACIAL: A IMPORTÂNCIA DO QI 
 
«Os testes de QI (quociente de inteligência) medem a inteligência  
e prevêem o sucesso na vida real.» 
 
Phillipe Rusthon, 2000 
 
Em  primeiro  lugar,  é  preciso  perceber  que  quando  falamos  de  diferenças  de  inteligência  entre 
grupos étnicos referimo‐nos, usualmente, a diferenças nos resultados de testes de QI. Os testes de 
QI  são  habitualmente  utilizados  pelos  psicólogos  para  avaliarem  aquilo  a  que  chamamos  de 
«inteligência» ou «capacidade mental». Os testes de QI estão longe de serem perfeitos, no entanto, 
eles  são extremamente úteis, pois não só medem a  inteligência,  como nos permitem dizer muito 
acerca do sucesso de um indivíduo na vida real. O padrão normal de QI é 100, o que significa que a 
pontuação  média  que  as  pessoas  obtêm,  maioritariamente,  nos  testes  de  QI  é  de  100.  Isso 
acontece,  porque  os  resultados  dos  testes  de  QI  têm  a  conhecida  distribuição  «normal».  Numa 
distribuição normal, a maioria dos valores aglomeram‐se em torno de uma média – poucos valores 
diferem significativamente dela. Ao aglomerarem‐se criam uma espécie de curva em forma de sino, 
conhecida como IQ Bell Curve (Curvatura do sino), abaixo ilustrada: 
 
 
 
Fig. 2: IQ Distribuição da pontuação de QI – retirado de: 
www.iqscorenow.com/what_is_a_normal_iq_score.html 
 
 13 
A  pontuação  média  normal  de  QI  (68%)  oscila  entre:  não  muito  inteligente  (QI  pelos  85  ‐ 
«dull») até brilhante  (QI cerca de 115  ‐ «bright»). Um QI de 70 sugere‐nos a existência de algum 
tipo de deficiência, enquanto que QI’s de 130 ou mais indicam indivíduos sobredotados. A média de 
QI nos Orientais é cerca de 106, nos Brancos por volta dos 100 e nos Negros flutua pelos 85. Este 
padrão é verificado por todo o mundo e sustentado por diversificados estudos, sendo importante 
assinalar que os negros de África possuem, na generalidade, um QI mais baixo que os Negros que 
vivem na América ou na Europa. 
No  entanto,  é  necessária  uma  palavra  de  precaução  quanto  ao  uso  da  sigla  «QI»,  em 
detrimento do uso da palavra «inteligência». «QI» é a sigla de «quociente de inteligência», mas isso 
não quer dizer que «um teste de QI meça exactamente aquilo a que chamamos de ‘inteligência’ nos 
contextos comuns, embora exista,  como é óbvio, uma correlação entre ambos»  (Singer, P., 2002): 
geralmente,  as  pessoas  consideradas  «inteligentes»  pelos  restantes  membros  do  seu  meio 
sociocultural obtêm resultados mais altos nos testes de QI, enquanto que as menos «inteligentes» 
alcançam resultados menos bons. Mas  isto não mostra o grau de correlação existente e uma vez 
que o conceito de inteligência é extremamente vago, não existe forma correcta de o fazer.  
Alguns  psicólogos  procuraram  ultrapassar  esta  dificuldade  definindo  a  inteligência  apenas 
como  ‘aquilo  que  é medido  pelos  testes  de  inteligência’:  «Por  inteligência  entendo  ‘competência 
cognitiva  geral’  ou  g,  que  refere  arazoável  sobreposição  existente  entre  diversos  processos 
cognitivos.  Esta  sobreposição  é  uma  das  mais  consistentes  descobertas  da  investigação  das 
diferenças individuais entre as faculdades cognitivas humanas durante o ultimo século» (Plomin, R., 
2000). Esta noção de um tipo único, genérico e mensurável de  inteligência é geralmente  referida 
como  «g»  e  foi  identificado  por  um  oficial  do  exército  inglês  que  se  tornou  psicológico,  Charles 
Spearman,  num  famoso artigo de  investigação datado de 1904.  Spearman analisou os  resultados 
escolares obtidos em diferentes disciplinas por um grupo de crianças e verificou que esses mesmos 
resultados tinham uma relação positiva, e que tal correlação se devia a uma capacidade intelectual 
geral  –  o  factor  g.  Entretanto,  decorreram  décadas  de  argumentação  entre  os  psicólogos,  no 
sentido  de  apurar  a  existência,  ou  não,  de  uma  tal  entidade  individual.  Os  seus  apoiantes 
salientaram  que  o  QI  é  útil  para  a  previsão  do  sucesso  escolar,  porque:  i)  é  relativamente 
consistente ao longo de toda a vida e;  ii) de uma maneira geral, as pessoas que obtêm resultados 
elevados num teste de determinada competência cognitiva têm resultados igualmente elevados em 
testes  de  outras  competências. Mas  embora  a  declaração de  Spearman  tivesse  adquirido  grande 
aceitação,  que  perdura,  em  certa medida,  até  hoje,  só  por  volta  de  1940  é  que  ficou  claro  que 
sempre que um grupo de pessoas era submetido a um conjunto de testes mentais, as correlações 
entre  os  resultados  eram  totalmente  positivas  e  o  factor  geral  na  capacidade  humana  era, 
 14 
realmente, um factor significativo e  incontornável: «o factor g é responsável por cerca de metade 
da variabilidade na capacidade intelectual da população em geral» (Plomin, R., 2000).  
Portanto,  quando  os  psicólogos  usam  a  sigla  «QI»  não  se  estão  a  referir  à  noção  de 
«inteligência» que usamos no quotidiano, nem a substituí‐la por outra, mas a  introduzir um novo 
conceito de «inteligência», que é muito mais fácil de medir, mas que pode ter um significado muito 
diferente. A distinção entre inteligência e QI  levou algumas pessoas a desprezar os resultados dos 
testes de QI, por acharem que em nada se relacionavam com a aptidão cognitiva; outros demasiado 
confiantes  nas  potencialidades  do  QI  acabaram  por  lhe  atribuir  primazia  sobre  quaisquer  outras 
aptidões. Na verdade, QI não é o mesmo que  inteligência, porém, existe uma conexão racionável 
que nos permite  recolher  resultados  significativos – daí  a  sua  importância. Assim, para não gerar 
confusões  e  uma  vez  que  a  palavra  «inteligência»  significa  muitas  coisas  diferentes,  falar‐se‐á 
somente em diferenças de QI, em detrimento de diferenças de inteligência, pois os dados de que 
dispomos não permitem sustentar mais do que isso. 
 
CONTROVÉRSIA ACTUAL ENTRE RAÇA E «QI»: PODEM OS GENES DIZER‐NOS ALGUMA COISA? 
 
«Toda a nossa política social está baseada no facto da inteligência deles [dos africanos]  
ser a mesma que a nossa. Mas todas as experiências dizem que não é bem assim (…)  
Quem tenha que lidar com empregados negros sabe que isto não é verdade. 
  
James Watson, 2007 
 
Em  14  de  Outubro  de  2007,  o  biólogo  molecular  norte‐americano  de  79  anos,  James  Watson, 
vencedor  do  prémio  Nobel  da  Medicina  em  1962,  por  ser  um  dos  descobridores  da  estrutura 
molecular do ADN em 1953 e muito famoso no meio académico pelas suas opiniões polémicas (as 
quais lhe valeram o apelido de ‘Honest Jim’) deu uma entrevista à revista do Jornal londrino Sunday 
Times,  afirmando‐se  «pessimista»  sobre  o  futuro  da  África,  pois  as  políticas  sociais  para  o 
continente eram baseadas no facto de a inteligência dos negros ser igual à dos brancos, apesar das 
experiências nos dizerem que não é bem assim. Em consequência destas declarações, centenas de 
cientistas  oriundos  de  várias  partes  do  mundo  escreveram  artigos  ou  manifestaram‐se 
publicamente  a  respeito  das  opiniões  de Watson,  a maioria  contra  elas;  o Museu de Ciências  de 
Londres e a Universidade de Edimburgo cancelaram as conferências que ele iria dar naquela mesma 
semana  e  o  laboratório  de  Cold  Spring  Harbor  demitiu‐o  –  embora Watson  já  tivesse  difundido 
posições  semelhantes  no  seu  livro  Avoid  Boring  People  (Evite  Pessoas  Chatas),  lançado  em 
Setembro do ano de 2007.  
 15 
Acusado de racista, extremista e colocado ao lado da figura de Hitler, Watson não parece ter 
recebido um tratamento muito diferente daquele que Jensen e Eysenck sofreram na década de 60 
ao afirmarem que os afro‐americanos obtinham resultados  inferiores nos testes de  inteligência, e 
que  tal  se  devia,  maioritariamente  (80%),  a  factores  genéticos.  Isto  demonstra  que  não  houve 
qualquer mudança de mentalidade e que o público permanece ignorante quanto a este género de 
estudos  e  pouco  preparado  para  lidar  com  situações  nas  quais  se  declara  abertamente  a 
diversidade racial – algo natural ao longo da história humana.  
Mas muito  antes  de  James Watson  fazer  os  tão  publicitados  «comentários  racistas»,  outros 
cientistas (Burt, C., Jensen, A. R., Eysenck, H. J., Herrnstein e Murray’s, Lynn e Vanhanen’s, Rusthon, 
J.  P.)  publicaram,  ao  longo  dos  últimos  150  anos,  vários  artigos  a  descrever  a  evidência  das 
diferenças  de  QI  entre  grupos  étnicos.  Jensen  (1969)  em  Harvard  Educational  Review,  após  a 
realização de vários testes de  inteligência concluiu que: 1) os testes de QI medem a dimensão da 
capacidade geral  (general‐ability) que possui grande relevância social; 2) as diferenças  individuais 
no QI  têm uma  elevada  hereditariedade;  3)  os  programas  educacionais mostram‐se,  geralmente, 
ineficazes na mudança do status da capacidade geral em  indivíduos e grupos; 4) as diferenças de 
classe  social  no  QI  têm  uma  componente  genética  apreciável  e,  por  fim,  a  mais  controversa  de 
todas; 5) a medida das diferenças entre grupos de Negros e Brancos no QI possuem, provavelmente 
algum componente genético. Mais  tarde, num  livro  intitulado The G Factor  (1998)  Jensen mostra 
que  g  –  factor  geral  da  capacidade  cognitiva  –  é:  1)  o  aspecto  mais  previsível  nos  testes  de 
capacidade cognitiva; 2) está relacionado com a dimensão do cérebro, índices de hereditariedade e 
outros factores biológicos; e 3) mostra uma medida significativa de diferenças nos grupos raciais. 
 Herrnstein  &  Murray’s  (1994)  no  livro  The  Bell  Curve  –  Inteligence  and  Class  Struture  in 
American Life, que se tornou best‐seller nos Estados Unidos, também reforçaram a evidência de um 
factor  geral  de  leitura  nas  diferenças  de  QI,  o  que  levou  o  pêndulo  da  influência  da  Genética 
(nature)  Vs.  Ambiente  (nurture)  a  inclinar‐se  na  direcção  da  ‘genética’,  pelo menos  aos  olhos  do 
grande público, acabando por gerar uma enorme controvérsia na psicologia, sociologia, educação e 
política,  já para não mencionar os media. Charles Murray, cientista político norte‐americano e co‐
autor deste polémico livro, embora mais novo que James Watson, sofreu o mesmo tipo de crítica ao 
defender, juntamente com Richard Herrnstein, psicólogo e professor de Harvard, que: i) o QI pode 
prever o sucesso académico e profissional: grupos com baixo QI predizem abuso infantil, crime e 
delinquência,  má  saúde,  propensão  para  acidentes,  geração  de  crianças  fora  do  casamento, 
divórcios  antes  de  decorridos  cinco  anos  de  casamento  e  mesmo  o  acto  de  fumar  durante  a 
gravidez; grupos com QI elevadopossuem mais indivíduos de capacidades superiores: enquanto os 
Orientais  (detentores  de QI’s mais  elevados)  desenvolveram  sociedades  complexas  na  Ásia,  e  os 
 16 
brancos (com QI’s intermédios) produziram civilizações complexas na Europa, os africanos (com QI’s 
inferiores aos restantes) não foram capazes de o fazer; ii) os testes de QI apontam para a diferença 
entre as raças e demonstram a força da hereditariedade: em média, os Orientais obtêm melhores 
resultados  de  QI  que  os  Brancos,  os  quais  conquistam,  geralmente,  uma  média  melhor  que  os 
Negros: as diferenças entre Brancos e Negros em termos de QI surgem muito cedo, normalmente, a 
partir dos três anos de vida, e não são somente devidas a diferenças de classe social, mas sobretudo 
à hereditariedade.  
Em geral, aquilo que Herrnstein & Murray (1994) procuraram demonstrar no seu livro é que «a 
inteligência de um indivíduo – geneticamente herdada, não menos de 40%, nem mais de 80%, dos 
seus pais – têm mais influência que o fundo socioeconómico sobre o qual se irão desenvolver as suas 
experiências futuras» (Manolakes, 1997). A parte da obra que mais captou a atenção pública foi a 
questão  das  diferenças  de QI  entre  Africanos,  Americanos  e  Caucasianos.  O  autores  afirmaram 
que: 1) os asiático‐americanos possuem um QI médio mais elevado que os americanos brancos, e 
que;  2)  os  americanos‐brancos  têm  uma  média  de  QI  superior  aos  americanos  negros.  Foram 
também realizadas  investigações sobre as diferenças raciais nos sub‐componentes de  inteligência. 
Hernerrstein  & Murray  relatam  que:  1)  a  pontuação  dos  Asiáticos  é  normalmente,  a mesma  ou 
ligeiramente  inferior  à  pontuação  dos  americanos  brancos  nos  testes  de  QI  verbais,  mas  mais 
elevada  no  QI  ‘espacial‐perceptual’;  2)  os  americanos  negros  tendem  a  obter  pontuações  mais 
elevadas que os brancos em sub‐testes que envolvem aritmética e memória imediata, enquanto os 
brancos pontuam mais nos sub‐testes de capacidade ‘espacial‐perpectual’. Os autores reconhecem 
que  as  causas  dessas  diferenças  podem  ser  ambientais,  porém,  as  diferenças  de QI  parecem  ser 
demasiado grandes para serem explicadas somente por influências ambientais: 1) fornecem muita 
pontuação; 2) estudos entre descendentes da mesma raça apresentam resultados análogos.  
A partir do momento em que o QI começa a ser  largamente entendido como geneticamente 
determinado, Herrnstein & Murray apresentaram sugestões acerca das implicações da  inteligência 
(geneticamente  herdada)  na  vida  pública,  política  e  social.  Os  autores  expressam  resistência  às 
intervenções  educacionais  e  ambientais,  argumentando  que  o  dinheiro  gasto  dessa  forma  é  um 
autêntico desperdício, pois a América está‐se a tornar uma sociedade de «castas cognitivas», sendo 
que a casta mais baixa inclui uma larga proporção de Africo‐Americanos, daí a afirmação de que o 
«capital  genético»  da  sociedade  está  a  ser  afectado,  pois  os  grupos  de  inteligência  inferior 
(coincidentes  com a  classe mais baixa)  reproduz‐se numa  taxa mais elevada que as  classes de QI 
superior.  Entenda‐se  que  apesar  destes  estudos  parecem  apontar  de  uma  forma  radical  para  a 
divergência entre as  raças,  seria  incorrecto da nossa parte caracterizar ou apelidar The Bell Curve 
como  o  livro  da  «Curva  Racista»  ou  «Geneticista»,  apenas  porque  apresenta  sugestões  bem‐
 17 
intencionadas para melhorar a vida pública em função de resultados obtidos em testes de QI. Note‐
se que mesmo os depreciadores desta tese, tais como Wahlsten (1997) reconhecem a importância 
do seu contributo para o debate psicológico actual.  
Mas  Herrnstein & Murray  (1994)  não  são  os  únicos  a  defender  a  diferença  racial  no QI  e  a 
estabelecer  relações  com  o  desenvolvimento  das  nações.  Na  realidade,  o  livro  The  Bell  Curve 
«apenas»  veio  reforçar  os  resultados  já  obtidos  pelo  Psicólogo  Britânico  Richard  Lynn  em  1991, 
num  artigo  intitulado  The  Evolution  of  race  Differences  in  Intelligence  (1991).  A  compilação  dos 
dados obtida ao longo de 20 anos de investigação resultou na apresentação de um padrão global de 
resultados de QI: os orientais do Anel do Pacífico  têm QI entre 100 a 111; os Brancos da Europa 
possuem um QI de 100 a 103 e; os Negros que vivem em África têm um QI de cerca de 70 – a média 
mais baixa até hoje registada – confira‐se os resultados no quadro abaixo: 
 
 
 
Fig. 3: Retirado da terceira edição não abreviada de Raça, Evolução e Comportamento (pág.15 a 16) 
 
Estes  resultados  adquiriram  enorme  popularidade  no  livro  IQ  and  the  Wealth  of  Nation, 
publicado por Richard Lynn e Tatu Vanhanen (2002), no qual se discutem as correlações existentes 
entre as diferenças no quociente médio de inteligência nacional (QI) e a riqueza das nações. Lynn & 
Vanhanen (2002) explicaram a evidência desta relação ao mostrar que o QI é um dos factores que 
contribui de forma determinante para as diferenças de riqueza a nível nacional e para as diferenças 
nas taxas de crescimento económico. Segundo os autores, o gigantesco desenvolvimento nos países 
de primeira linha mundial (nomeadamente, a América do Norte e a Europa) deve‐se, sobretudo, ao 
elevado nível de  inteligência da sua população, que está, de acordo com Vanhanen, directamente 
relacionado  com  o  facto  de  a  maioria  da  população  desses  países  ser  de  raça  Caucasiana. 
Inversamente,  o  subdesenvolvimento  de  países  como  a África  é  consequência  directa  dos  baixos 
QI´s da população, ocasionado pelo facto dos habitantes desses países serem predominantemente 
 18 
Negros. Lynn & Vanhanen (2002) chegam à conclusão, após a análise de 81 nações, que países cujo 
QI  seja  inferior  a  90  correm  um  sério  risco  de  desenvolvimento.  Em  justificação,  apresentam  a 
seguinte lista: «Hong Kong: 107; Coreia do Sul: 106; Japão: 105; Taiwan: 104; Holanda, Alemanha e 
Áustria: 102; Suécia: 101; Finlândia: 97; Índia: 85; Tanzânia: 72; Nigéria: 67; Serra Leone: 64; Etiópia: 
63; Guiné Equatorial: 59».  
As  diferenças  médias  de  QI  registadas  por  Hernerrstein,  Murray,  Lynn  e  Vanhanen,  foram 
progressivamente  obtidas,  de  modo  similar,  por  muitos  outros  estudiosos.  Kenneth  Owen, 
utilizando as Matrizes Progressivas de Raven (que medem o raciocínio e não a informação cultural 
específica)  obteve  um  QI  de  70  para  africanos  negros  que  frequentavam  o  sistema  escolar  sul‐
africano. Fred Zindy, um zimbabueano negro, através de um estudo semelhante  realizado no seu 
país, com jovens dos 12 aos 14 anos, constatou os mesmos resultados, sendo interessante sublinhar 
que os estudantes Mestiços da África Do Sul  têm um QI de 85,  i. e. o mesmo que os Negros nos 
Estados Unidos, Grã‐Bretanha e Caraíbas. Os métodos genéticos (tais como os utilizados em testes 
de paternidade) indicam‐nos que «estes Mestiços têm cerca de 25% de antepassados Brancos (25% 
White Ancestry) e os seus QI’s situam‐se no ponto intermédio, ou seja, entre os Negros ‘puros’ (70) e 
os Brancos ‘puros’ (100).» (Rusthon, J., P., 2000).  
Mais recentemente, Roland G. Fryer, Jr. e Steven D. Levitt (2007) num artigo intitulado Testing 
for  Racial  Differences  in  the Mental  Ability  of  Young  Children  também  chegam  à  conclusão  que 
existem  diferenças  de  QI  notórias  entre  as  diversas  raças,  as  quais  se mantêm  ao  longo  do  seu 
desenvolvimento  social: «Em testes de  inteligência, os Negros pontuam sistematicamente pior do 
que os Brancos. (…) Mesmo depois de ter em conta factores demográficos e sócio‐económicos tais 
como  salário  parental,  educação,  profissão,ambiente  familiar,  peso  de  nascença,  região  e 
urbanicidade, permanece mesmo assim uma diferença racial substancial nos resultados dos testes 
entre  Brancos  e  Negros.  Os  Asiáticos  tendem  a  ter  resultados  médios  sistematicamente  mais 
elevados  do  que  as  outras  raças»  (Fryer  &  Levitt,  2007).  Segundo  este  artigo,  as  acentuadas 
diferenças de QI averiguadas entre as raças evidenciam uma forte componente genética: qualquer 
que seja o ambiente em que se desenvolve, o QI enquadra‐se sempre na mediania do grupo étnico 
ao qual pertence, daí a possibilidade de se «catalogar».  
John Philippe Rusthon, Professor de Psicologia da Universidade de Westen Ortario, no Canadá, 
muito  conhecido  pelo  seu  trabalho  de  investigação  na  inteligência  e  nas  diferenças  raciais, 
apresenta conclusões idênticas, embora mais arrojadas, nas suas publicações. Rusthon verifica que 
quando  pessoas  de  diferentes  raças  realizam  testes  de  QI,  tendem  a  registar‐se  diferenças  nos 
resultados  médios  que  obtêm.  Segundo  as  suas  investigações,  essas  diferenças  encontram‐se 
estreitamente relacionadas com a dimensão do cérebro (que é diferente entre as várias raças): «Os 
 19 
Orientais  têm  (em média)  os  maiores  cérebros  e  os  mais  altos  QI´s;  os  Negros  os  menores  e  os 
Brancos colocam‐se numa posição intermédia. As diferenças no tamanho dos cérebros explicam as 
diferenças de QI, quer dentro dos grupos, quer entre grupos» (Rusthon, J. P. 2000). Estes resultados 
foram  progressivamente  divulgados  em  revistas  científicas.  Em  Brain  size  and  cognitive  ability: 
Correlations  with  age,  sex,  social  class,  and  race,  da  Revista  Psyconomic  Bulletin  and  Review, 
Rusthon, juntamente com Ankney (1996), utilizando a recente técnica da Imagem por Ressonância 
Magnética  (‘Magnetic  Resonance  Imaging’  –  MRI)  para  medir  o  volume  do  cérebro  humano, 
encontraram ao longo de oito estudos (envolvendo mais de trezentos e oitenta e um adultos) uma 
correlação de 0,44 entre o QI e a dimensão do cérebro. É importante sublinhar que esta correlação 
obtida com a MRI é mais elevada do que a correlação anteriormente observada de 0,20, através da 
simples  utilização  de  medidas  do  tamanho  da  cabeça  (embora  0,20  seja  significativo).  Durante 
trinta e quatro estudos, Rusthon e Ankney apuraram que a correlação de 0,44 entre a dimensão do 
cérebro e o QI é tão alta como a correlação entre a classe social em que o indivíduo nasceu e o seu 
QI em adulto, o que demonstra, de modo evidente, que o tamanho do cérebro possui ligações com 
as realizações culturais – razão pela qual merece atenção redobrada. 
A defesa da existência de uma correlação acentuada entre o QI e o tamanho do cérebro não é 
nova (recorde‐se os estudos de Paul Broca em 1980) e tem vindo a ser largamente publicitada. Num 
artigo publicado na Revista Intelligence, Rusthon (1997), através da análise dos dados obtidos pela 
Collaborative  Perinatal  Project,  que  registam  o  tamanho  do  volume  craniano  em  centímetros 
cúbicos e os  resultados de QI de cerca de 50 mil  crianças, desde o nascimento até aos  sete anos 
(Broman, Nichols, Shaugnessy, e Kennedy, 1987), verificou que as diferenças raciais na medida do 
cérebro não só subsistem como são observadas desde o nascimento: 
 
Fig. 4: Capacidades cognitivas em centímetros cúbicos. Dados desde o nascimento até aos 7 anos obtidos no U.S. 
Perinatal Project, dados de adultos do exército dos E.U.A. Em Rusthon, J. P., 1997, Intelligence, 25, pág. 15 
 20 
Segundo  o  gráfico,  desde  o  nascimento  até  aos  sete  anos  de  idade,  as  crianças  Asiático‐
americanas  registam  volumes  cranianos maiores  que  as  crianças  Brancas,  as  quais,  por  sua  vez, 
registam  volumes  cranianos  superiores  aos  das  crianças  Negras.  Entre  cada  uma  das  raças,  as 
crianças com maiores capacidades cranianas obtiveram pontuação mais elevada nos testes de QI. 
Pelos sete anos, os asiático‐Amercianos pontuaram um QI de 110, as crianças Brancas pontuaram 
um QI de 108 e as crianças Negras registaram um QI de 90. Isto comprova que as diferenças raciais 
no  tamanho  do  cérebro/QI  não  se  relacionam  com  a  estatura  física  dos  indivíduos,  dado  que  as 
crianças asiático‐Americanas desde o nascimento até aos sete anos são, em geral, as mais baixas e 
de estrutura física mais leve, enquanto que as crianças Negras são as mais altas e pesadas.  
A  razão  comummente  apresentada  pelos  investigadores  para  o  facto  dos  cérebros  maiores 
serem  ‘mais  inteligentes’  é que, normalmente, eles contêm mais neurónios e conexões, o que os 
torna  mais  eficientes  (Haier,  1995)  –  razão  pela  qual  possuem maior  probabilidade  de  sucesso. 
Quanto maior  for a  capacidade cerebral, maior é a  flexibilidade do cérebro diante dos desafios e 
problemas que enfrenta. Neste sentido, Rusthon argumenta que os Orientais têm, em média, mais 
uma polegada cúbica de matéria cerebral do que os Brancos, que por sua vez têm, em média, mais 
cinco polegadas cúbicas do que os Negros: «Uma vez que uma polegada cúbica de matéria cerebral 
contêm milhões de células cerebrais e centenas de milhões de conexões, as diferenças de tamanho 
cerebral ajudam‐nos a explicar as diferenças raciais no QI» (Rusthon, 2000). 
Mas as «razões» apresentadas por Rusthon  (e partilhadas por muitos outros  investigadores), 
para  a  justificação  da  correlação  entre  o  cérebro  e  os  resultados  de  QI,  não  são  universais  e 
invariáveis. De facto, ainda não foram realmente identificados os genes responsáveis por este tipo 
de conexões, embora elas existam. Ian J. Deary, em A Inteligência (2001) analisou o modo como as 
diferenças de inteligência psicométrica se relacionam com o tamanho do cérebro, a sua actividade 
eléctrica,  a  eficiência  do  processamento  visual  e  a  rapidez  das  reacções  simples,  acabando  por 
chegar  à  seguinte  conclusão:  «existe  uma  modesta  correlação  entre  o  tamanho  do  cérebro  e  a 
inteligência  psicométrica.  Pessoas  com  cérebros maiores  obtêm  tendencialmente  resultados mais 
elevados nos  testes mentais.  Porém, ainda não  conseguimos descobrir  a  razão dessa associação» 
(Deary, I., 2001).  
Aquilo que efectivamente os estudos científicos nos dão certeza é que: i) diferentes dimensões 
de cérebros correspondem – sem variações relevantes – a diferentes raças: os orientais possuem, 
em média, os cérebros maiores, os Negros os mais pequenos e os Brancos situam‐se no meio; ii) a 
dimensão  do  cérebro  está  intimamente  relacionada  com  determinadas  apetências,  como  o  QI, 
sendo que os cérebros com maior dimensão atingem resultados de QI mais elevados: os Orientais 
possuem, em média, os QI’s mais altos, seguidos dos Brancos e, por último, dos Negros.  
 21 
De acordo com um vasto conjunto de investigadores – entre eles, Bouchard, T. J., Loehlin, J. C., 
Plomin, R., Rusthon,  J.P., Herrnstein, R.  J., Lynn, R., etc. – as diferenças no QI entre os Negros, os 
Orientais e os Brancos possuem uma base hereditária determinante, a qual Rusthon denomina de 
base genética: «(…) a hereditariedade do QI é de cerca de 50% para os Negros, Orientais e outros 
grupos, como é o caso dos Brancos. Por isso, existe uma base genética para a inteligência em todas 
as  raças»  (Rusthon,  2000).  A  melhor  prova  e  também  a  mais  utilizada  para  explicar  que  as 
diferenças  de  QI  têm,  efectivamente,  uma  base  genética  ou  hereditária  são  os  estudos  de 
hereditariedade, nomeadamente os estudos realizados entre gémeos (Bouchard, T. J.), os estudos 
de  adopção  (Loehlin,  J.  C.)  e,  sobretudo,  os  estudos  de  adopções  trans‐raciais  entre  crianças 
Orientais,crianças Negras e crianças Mestiças.  
Um  estudo  trans‐racial  muito  famoso  entre  crianças  Orientais,  Negras  e  Mestiças  é  o  do 
Minnesota Tranracial Adpption Study de Sandra Scarr e Richard A. Weinberg  (1983).  Inicialmente, 
os autores pensavam que o seu estudo provaria que um bom  lar  (i. e. um ambiente  familiar com 
excelentes condições económicas e culturais) poderia aumentar o QI de crianças Negras – à partida 
mais desfavorecidas. Mas,  no  final  do estudo,  os  investigadores  constataram que o padrão  racial 
coincidia  totalmente  com  aquele  que  era  previsto  pela  teoria  genética,  pois  à  medida  que  as 
crianças se foram aproximando da idade adulta, os resultados de QI tenderam progressivamente a 
assemelhar‐se  da  média  de  QI  dos  respectivos  grupos  raciais.  Assim,  embora  aos  sete  anos  as 
crianças Negras registassem um QI de 97 – bastante acima do QI médio dos Negros e quase igual à 
média  dos  Brancos  (100)  –  aos  dezassete  anos  já  só  registavam  um QI  de  89,  enquanto  que  as 
crianças Brancas um QI de 106 e as crianças mestiças um QI de 99. Estes  resultados,  juntamente 
com  os  dados  da  performance  académica,  das  classificações  dentro  das  turmas  e  dos  testes  de 
aptidão, comprovaram o mesmo padrão – confira‐se abaixo: 
 
 
 
Fig. 5: Retirado de Raça, Evolução e Comportamento (3ª Ed.) (p. 187) 
 22 
O conjunto de resultados obtidos no quadro conduziu os investigadores à seguinte conclusão: 
«os  adoptados  provenientes  de  ambos  os  pais  Afro‐Americanos  revelaram  um  QI  que  não  era 
especialmente  superior  aos  das  crianças  Negras  que  cresceram  em  famílias  Negras»  (Scarr,  S., 
1983).  Apesar  de  inseridos  num  ambiente mais  favorável,  as  crianças Negras  não  demonstraram 
uma melhoria significativa face a crianças Negras criadas por pais Negros – recorde‐se que um QI de 
70 ou 80 apenas é frequente em Negros que vivam na África. Portanto, aquilo que este estudo de 
adopção  trans‐racial  nos demonstra  é que:  i)  crescer  e desenvolver‐se num ambiente  familiar  da 
classe média  Branca,  não  faz  baixar  o  QI  médio  dos  Orientais,  nem  aumentar  o  QI  dos  Negros, 
embora se tenha denotado uma ligeira melhoria nos resultados obtidos pelas crianças ao longo do 
estudo; ii) os genes são, de facto, responsáveis, pelo menos em parte (50%) pelas diferenças de QI 
entre as raças – dada a incapacidade do ambiente/cultura de as modificar. 
Este  estudo,  tal  como  outros,  demonstra  que  as  diferenças  raciais  são  causadas  pela  acção 
simultânea  dos  genes  e  do  ambiente,  razão  pela  qual  o  factor  genético  não  deve  ser  alvo  de 
ataques  abusivos,  nem menorizado  face  ao  ambiental  –  apesar das  contestações  provocadas por 
alguns deles – mas considerado um factor relevante e útil, na medida em que nos pode ajudar: i) a 
compreender  melhor  a  complexidade  e  o  funcionamento  de  cada  raça:  a  descobrir  as  suas 
potencialidades,  as  suas  forças,  os  seus  anseios,  as  suas  virtudes,  as  suas  fraquezas,  etc.  para 
melhor  lidar  com  elas;  ii)  a  criar  condições  sociais  mais  equitativas  em  prol  da  diminuição  das 
desigualdades, no sentido de melhorar a qualidade de vida dos  indivíduos, ou seja, de possibilitar 
«a  realização,  para  o  maior  número  possível  de  homens  e  mulheres  e  pelo  tempo  mais  longo 
possível, das condições de vida correspondentes à dignidade humana» (Vidal, M., 1993).  
 
CRENÇA NA CRENÇA DE QUE AS DIFERENÇAS RACIAIS NÃO TÊM IMPLICAÇÕES NA IGUALDADE 
 
«Algumas pessoas acreditam que a crença nas diferenças raciais é tão perniciosa,  
que mesmo quando é verdade, deve ser esmagada.» 
 
Daniel Dennett, 2006 
 
Normalmente,  quando  se  registam  diferenças  nos  testes  de  QI,  independentemente  da 
justificação apresentada para as explicar, a existência dessas diferenças não é realmente posta em 
causa, mesmo por quem se opõe de forma drástica às perspectivas defendidas por Jensen, Eysenck 
ou  Rusthon  (Singer,  P.,  2002).  Os  testes  são  precisos,  cientificamente  controlados  e  os  seus 
resultados são claros. Logo, o ponto mais polémico deste debate não reside na análise dos dados, 
mas na questão ‘a priori’ de se saber se esses estudos são realmente possíveis e legítimos. Afinal, o 
que é isso de fazer estudos com ‘raças’? Será que é possível e legítimo comparar raça e QI? 
 23 
Apesar dos inúmeros estudos realizados, da evidência dos seus resultados e da sua aceitação 
no meio científico, existe uma quantidade razoável de investigadores que considera esses estudos 
fraudulentos e desprovidos de credibilidade. Segundo a óptica desses refutadores, não faz sentido e 
é totalmente impossível fazer estudos comparativos entre raça e QI, pois o próprio conceito de raça 
é  produto  de  uma  construção  social,  logo,  não  pode  ser  submetido  a  parâmetros  de  estudo 
científico. Num artigo  intitulado  Intelligence,  Race  and Genetics,  da Yale University,  publicado  na 
revista American Psycologist (2005), vários investigadores (Sternberg, R. J., Grigorenko, E. L. e Kidd, 
K.  K.)  defendem  que  o  conceito  de  raça  é  uma  construção  social  e  que  os  estudos  acerca  do 
relacionamento  entre  as  raças  podem  servir  extremidades  sociais,  mas  nunca  extremidades 
científicas:  «Onde  é  que  a  raça  se  ajusta  no  teste  de  padrão  genético?  Realmente,  não  cabe  em 
parte  nenhuma.  A  raça  é  um  conceito  social  construído,  não  biológico.  Deriva  do  desejo  de  uma 
pessoa classificar. Os povos parecem ser naturais classificadores». Os autores do artigo vão ainda 
mais longe ao afirmarem que nenhum gene foi, até hoje, ligado de modo conclusivo à inteligência, 
por  isso,  qualquer  tentativa  de  estabelecer  uma  ligação  genética  entre  a  raça  e  a  inteligência  é 
impraticável  neste  tempo,  dado  que  a  hereditariedade  (conceito  «empírico‐genético»)  é 
inadequada  para  proporcionar  tal  ligação:  «Um  número  de  académicos  reincidia  ter  estudado 
relacionamentos entre  inteligência, a  raça e a genética  (por exemplo, Herrnstein & Murray, 1994; 
Rushton,  1995).  A  tese  deste  artigo  é  que  estes  estudos  não  estão  radicados  em  construções 
científicas  mas  em  crenças  populares  acerca  delas.  Há  uma  grande  diferença  entre  estudar 
relacionamentos  com  base  em  construções  científicas  e  estudar  relacionamentos  tendo  por  base 
crenças populares. O maior problema é quando se estuda o último mas se acredita que se está a 
estudar o primeiro» (Sternberg, R. J., Grigorenko, E. L. e Kidd, K. K., 2005). 
Estes autores sustentam a crença de que a raça é um conceito cultural, portanto, os estudos 
entre  as  raças  e  as  suas  diferenças  (QI)  apenas  podem  acentuar  a  falta  de  idoneidade  dos 
investigadores envolvidos.  Isto significa que os estudos científicos  realizados nesta área, ao  longo 
dos últimos 150 anos por  investigadores como Broca, Bouchard, Lynn,  Jensen, Deary ou Rusthon, 
envolvendo  desmesurados  financiamentos,  não  passaram  de  um  embuste.  Mas  então,  e  os 
resultados obtidos? O que fazer com eles? Será legítimo ignorar ou destruir anos de trabalho numa 
área tão complexa como esta, envolvendo respeitadas equipas de investigadores e colaboradores, 
só  porque  se  ‘acredita  que  a  raça  não  é  um  conceito  biológico’  e  que,  em  consequência, 
contrariamente  às  provas  científicas,  deixa  de  ‘ser  possível  existirem  quaisquer  diferenças  no  QI 
‘entre as raças’? Deveremos, por isso, descurar e declinar estes estudos? 
Existem duas coisas a respeito desta crítica que é importante sublinhar: i) não é pelo facto de 
desaprovarmosou  não  acreditarmos  nestes  estudos  que  eles  deixam  de  existir  ou  de  ter  a  sua 
 24 
validade  científica  ‘real’:  por  exemplo,  existem  dados  clínicos  claros  sobre  a  diferente 
susceptibilidade  a  doenças  de  pessoas  pertencentes  a  diferentes  etnias,  bem  como  a  diferente 
reacção  a  medicamentos,  embora  esses  resultados  sejam  considerados  inaceitáveis  por  alguns 
investigadores  e  entidades  que  subsidiam  a  investigação  –  o  que  não  os  invalida;  ii)  não  é 
transformando  o  conceito  de  raça  num  conceito  unicamente  cultural  que  a  subsistência  de 
‘diferenças’  entre  as  diversas  raças  deixa  de  existir  e  que  o  problema  do  racismo  se  resolve.  Os 
racistas não desaparecem apenas porque a  raça  se  torna um conceito  cultural  (do mesmo modo 
que não se multiplicam apenas porque a raça é entendida como um conceito biológico): para um 
racista, as  justificações ou as provas são totalmente arbitrárias, aquilo que realmente importa são 
as  ‘crenças  pessoais’  (de  ‘foro  íntimo’)  que  o  conduzem  a  agir  daquela  forma.  Deste  modo,  a 
abolição  do  termo  raça  como  conceito  biológico  apenas  permite  classificar  o  racismo  como  um 
movimento  ‘irracional’  e  cientificamente  ilegítimo,  ao mesmo  tempo que  se  abre  a  possibilidade 
aos  racistas  de  justificarem os  seus  actos  com  ‘crenças  culturais  irracionais  e  injustificáveis’.  Se  a 
raça é um produto cultural e o homem tem tendência para ‘classificar’ os que pertencem a outras 
culturas,  por  serem  ‘diferentes’  da  sua,  então  os  racistas  são  ‘classificadores  revolucionários’: 
descriminam os que são exteriores à sua cultura por  ‘razões e crenças estritamente culturais’ que 
edificam o seu próprio grupo. Assim, a discriminação racial é fruto do reconhecimento pessoal da 
‘existência de diferenças entre as raças’, as quais levam à formação de crenças sólidas acerca dessa 
diferença.  
Como referi e sublinho novamente, não é da competência deste trabalho avaliar ou optar por 
teorias, mas esclarecer que não há motivo para controvérsias exacerbadas quanto às origens das 
diferenças entre os seres humanos. Isto, porque os estudos científicos acerca das diferenças entre 
as raças não têm implicações perniciosas face ao ideal de igualdade, pelo contrário, ajudam‐nos a 
compreender  melhor  a  complexidade  e  diversidade  do  ser  humano,  bem  como  a  promover 
condições sociais mais eficazes em função das suas precariedades. É necessário compreender que a 
aceitação da igualdade entre os diversos seres humanos relaciona‐se com o conjunto de crenças 
que enformam o pensamento e a mentalidade de cada um. Logo, mesmo que a hipótese genética 
esteja  correcta,  i.  e.    que  as  diferenças  de  QI  entre  as  raças  se  devam,  realmente,  a  factores 
genéticos (Herrnstein & Murray; Rusthon & Ankey; Lynn, R., & Vanhanen, T,; Fryer, Jr. & Levitt, S. 
D.) as  implicações não são tão drásticas, nem tão reconfortantes para os  racistas genuínos, como 
muitas  vezes  se  pensa.  Existem,  segundo  a  minha  óptica,  três  razões  que  me  parecem  ser 
suficientes para defender esta teoria (Singer, P., 2002):  
(i)  qualquer  que  seja  a  origem  das  diferenças  entre  as  raças,  o  condicionamento  cultural 
pode atenuar ou acentuar essas diferenças: a hipótese genética não implica que devamos reduzir 
 25 
os  nossos  esforços  para  vencer  outras  causas  de  desigualdade  entre  as  pessoas  (ex:  habitação 
precária;  acesso  à  escolaridade).  Independentemente  do  grupo  racial  em  que  estão  inseridas,  as 
pessoas  não devem  ser  impedidas  pelo  seu  ambiente de  fazer  o melhor  possível,  pelo  contrário, 
talvez  até  devêssemos  empenhar  mais  esforços  no  auxílio  dos  que  partem  de  uma  posição 
desvantajosa, no sentido de atingirmos um resultado mais igualitário;  
(ii)  as  pessoas  devem  ser  avaliadas  enquanto  indivíduos,  não  podemos  simplesmente 
agrupá‐las e a partir daí retirar as conclusões: o facto de um QI médio de um grupo racial ser mais 
elevado que outro isso não permite a ninguém dizer que todos os membros do grupo com QI mais 
elevado  têm um QI  superior ao de  todos os membros do grupo de QI menor –  isto é claramente 
uma  falsidade  relativamente  a  qualquer  grupo  racial  –  nem  que  um  determinado  indivíduo  do 
grupo com QI mais elevado tem um QI superior ao de um determinado  indivíduo do grupo de QI 
inferior – em muitos casos, isto seria falso. Estes quocientes são apenas – como já referi – médias, 
que nada dizem acerca do indivíduo ‘em si’. Logo, qualquer que seja a causa das diferenças entre o 
QI  médio,  não  há  qualquer  justificação  para  a  segregação  racial  em  qualquer  campo  social:  os 
membros de diferentes grupos raciais devem ser tratados como indivíduos. 
(iii) o princípio da igualdade não se baseia em qualquer igualdade real partilhada por todas 
as  pessoas:  defendo,  tal  como  já  foi  postulado,  que  a  única  base  defensável  para  o  princípio  da 
igualdade é a consideração de interesses, sendo que os interesses humanos mais importantes não 
são afectados por essas diferenças de inteligência, como por exemplo: o interesse em evitar a dor, 
em  desenvolver  as  suas  próprias  capacidades,  em  satisfazer  as  necessidades  básicas  de 
alimentação, de abrigo, de desfrutar de relação pessoais, de ser livre, de construir os seus próprios 
projectos sem interferências, etc. (Singer, P., 2002). 
Deste modo, o estatuto de  igualdade não está dependente da  inteligência. Ainda que grupos 
raciais obtenham diferentes resultados médios de QI, isso não serve de base para negar o princípio 
moral  de  que  todos  os  seres  humanos  são  iguais,  i.  e.  de  que  todos  têm  os mesmos  direitos  e 
oportunidades. Os  racistas que defendem o contrário arriscam‐se a  ter que se  resignar perante o 
primeiro  génio  que  encontrem.  Tal  como  escreveu  Thomas  Jefferson  numa  carta  em  resposta  a 
Henri Gregoire e à sua tentativa de refutar a perspectiva então comum de que os Africanos eram 
desprovidos  de  inteligência:  «Pode  ter  a  certeza  de  que  não  há  pessoa  que  deseje  mais 
sinceramente  que  eu,  ver  uma  refutação  total  das  dúvidas  que  eu  próprio  acalentei  e  exprimi 
quanto  ao  grau  de  compreensão  que  lhes  foi  atribuído  pela  natureza,  nem  ninguém  deseja mais 
sinceramente descobrir que eles estão em pé de igualdade connosco (...) mas, qualquer que seja o 
seu grau de talento, não constitui medida dos seus direitos. Lá por o Sir Isaac Newton ser superior 
em  compreensão  aos  outros,  não  foi,  por  isso,  senhor  da  propriedade  ou  pessoa  de  outros». 
 26 
(Jefferson, T., 1809). Qualquer que seja o nível de QI de um indivíduo, ele apenas poderá ser útil ao 
mesmo, pois as diferenças de QI não são utilizadas como medida de estabelecimento de deveres e 
direitos  para  o  universo  populacional:  todos  os  cidadãos  têm  os  mesmos  direitos, 
independentemente do sexo, do QI, da tonalidade de pele, etc.  
Assim, perante a questão de se saber se é ou não legítimo continuar a comparar a Raça e o QI, 
a resposta é: evidentemente, uma vez que: i) os testes de QI desempenham um papel importante 
na nossa sociedade: o QI de uma pessoa é um factor que mede as perspectivas de cada um para 
melhorar  o  seu  estatuto  profissional,  rendimento  ou  classe  social;  ii)  os  testes  de QI  prevêem  o 
sucesso  académico  e  profissional  de  igual  forma  para  os  Brancos,  os  Negros  e  os  Orientais, 
permitindo‐nos «classificar»  as  raças  e estabelecer um padrão:  em média,  os Orientais obtêm os 
resultados mais altos, os Negros os mais baixos, enquanto os Brancosse situam no meio, mas mais 
próximos dos Orientais; iii) as mesmas diferenças raciais aparecem tanto em testes que foram feitos 
para  serem  culturalmente  isentos,  como nos  testes  de QI  comuns:  «Na  realidade,  os Negros  até 
obtêm  resultados  ligeiramente  mais  altos  nos  testes  de  QI  comuns,  do  que  naqueles  que  são 
‘culturalmente isentos’ – este facto está em oposição com a teoria cultural» (Rusthon, J. P., 2000). 
Neste sentido, o problema em causa é o seguinte:  se existirem realmente  factores genéticos 
nas  diferenças  raciais  de  QI,  como  nos  indica  Jensen,  Herrnstein  e Murray’s  ou  Rusthon,  haverá 
igualmente factores genéticos nas diferenças de estatuto profissional, rendimentos e classe social. 
Logo,  se  estamos  interessados  na  igualdade  e  na  defesa  da  dignidade humana não poderemos 
ignorar o QI, nem os estudos a ele associados, não esquecendo, porém, que a igualdade nada lhe 
diz respeito. 
CONCLUSÃO: VALE A PENA CONTINUAR A INVESTIGAR A ORIGEM DAS DIFERENÇAS?  
 
«As ideias que revolucionam o mundo avançam a passo miúdo.» 
 
George W. Hegel 
 
Apesar das controversas suscitadas pelos estudos entre a Raça e o QI, sobretudo pela procura 
de  um  factor  genético  que  explique  e  esclareça  definitivamente  a  origem  dessas  diferenças, 
defendo peremptoriamente que a busca pela origem e explicação dessas diferenças é vantajosa, na 
medida em que nos permite conhecer melhor o ser humano e criar situações sociais equitativas.     
Acredito que é possível defender a diversidade genética sem agredir ética e psicologicamente a 
sociedade e que não existem motivos para rejeitarmos uma investigação mais completa e profunda 
das diversidades raciais. Afinal, vale sempre a pena conhecermos mais e melhor acerca daquilo que 
nos  caracteriza  e  determina.  Aliás,  seria  uma  pena  que  a  crença  na  crença  de  que  existe  uma 
igualdade real entre os homens nos impedisse de prosseguir com estas fascinantes investigações. 
 27 
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