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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA APOSTILA Material de apoio às disciplinas: ZOO 426 – Bovinocultura de Leite ZOO 436 – Produção de Bovinos de Leite ZOO 484 – Manejo e Administração na Bovinocultura de Leite Prof. Marcos Inácio Marcondes Departamento de Zootecnia/UFV 2 Apresentação Este material foi elaborado por alunos das disciplinas ZOO 627 – Tópicos em Bovinocultura de Leite e ZOO 795 – Tópicos Especiais em Bovinocultura Leiteira, como parte integrante da avaliação das disciplinas. A intenção da elaboração desta apostila é compor um material relativamente novo sobre os principais tópicos abordados nas disciplinas ZOO 426 – Bovinocultura de Leite, ZOO 436 – Produção de Bovinos de Leite, ZOO 484 – Manejo e Administração na Bovinocultura de Leite, oferecidas pelo Departamento e Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa aos estudantes dos cursos de Zootecnia, Medicina Veterinária e Agronomia. Dessa forma, o material aqui contido não tem qualquer interesse de originalidade ou publicação e os autores entendem que o mérito do material deve ser inteiramente dedicado às fontes que foram consultadas para originar este documento. Prof. Marcos Inácio Marcondes Produção de bovinos de Leite DZO/UFV 3 SUMÁRIO Cadeia produtiva do leite no Brasil .................................................................... 10 1. O que é uma Cadeia Produtiva? .......................................................... 10 2. Estudo de Cadeias Produtivas ............................................................. 12 2.1 Sistema ................................................................................................. 12 2.2 Logística ................................................................................................ 13 2.3 Engenharia de Sistema ......................................................................... 13 2.4 Formatação da Cadeia Produtiva ......................................................... 14 2.5 Gerenciamento da Cadeia Produtiva .................................................... 14 2.6 Estrutura organizacional da Cadeia frente ao Mercado ....................... 15 3. Caracterização do Sistema Agroindustrial do Leite .............................. 16 4. Visão Geral da Agroindústria do Leite .................................................. 20 4.1 A regulação no mercado nacional de lácteos ....................................... 25 4.2 Efeitos da heterogeneidade tecnológica sobre a produção de leite .... 26 5. O Comércio Mundial de Lácteos .......................................................... 28 6. Balança Comercial Brasileira ................................................................ 28 7. Importações Brasileiras ........................................................................ 30 8. Exportações Brasileiras de Lácteos ..................................................... 31 9. Exportações Por Classe de Produto ..................................................... 32 9.1 Leite Concentrado ................................................................................. 32 9.2 Leite em pó integral, desnatado ou adocicado ..................................... 33 9.3 Queijos .................................................................................................. 35 10. Perspectivas do Cenário do Leite ......................................................... 37 10.1 Perspectivas macroeconômicas ......................................................... 38 10.2 Perspectivas para o setor lácteo: curto prazo .................................... 39 10.3 Preços ................................................................................................. 40 10.4 Perspectivas para o setor lácteo no longo prazo ............................... 40 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 42 Cria e Recria de fêmeas leiteiras ....................................................................... 44 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 44 2. Manejo da vaca Gestante ........................................................................... 45 2.1. Escore corporal em vacas ................................................................... 45 2.2. Recomendações para um bom parto .................................................. 46 3. Cuidados com bezerros ao nascimento ............................................... 47 3.1. Desinfecção do umbigo ....................................................................... 47 3.2. Placenta dos bovinos ........................................................................... 48 4 3.3. Colostro .......................................................................................... 49 3.4. Identificação ................................................................................... 58 3.5. Descorna .............................................................................................. 59 4. Manejo sanitário .................................................................................... 60 4.1. Vacinação ............................................................................................ 61 5. Alimentação na fase de cria .................................................................. 62 5.1. Digestão do Leite ........................................................................... 65 5.2. Aleitamento de bezerros ................................................................ 66 5.3. Uso de Substitutos do leite ou Sucedâneos .................................. 69 5.4. Fornecimento de concentrado ....................................................... 72 5.5. Fornecimento de volumoso ............................................................ 74 5.6. Fornecimento de água ................................................................... 75 6. Desmama .............................................................................................. 75 6.1. Desmama precoce ............................................................................... 76 7. Sistemas de criação de bezerras ............................................................... 77 8. Recria de Bezerras ..................................................................................... 81 8.1. Fases da Recria ................................................................................... 84 8.2. Controle do Crescimento ..................................................................... 86 8.3. Desenvolvimento da glândula mamária ............................................... 89 8.4. Relação Energia: Proteína ................................................................... 91 8.5. Como avaliar a recria ........................................................................... 92 9. Recria em confinamento ............................................................................. 93 10. Recria a pasto ........................................................................................... 94 11. Literatura Citada ....................................................................................... 95 MANEJO DE VACAS LACTANTES EM SISTEMA DE PASTEJO .................... 99 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 99 2. SISTEMAS DE PASTEJO .................................................................. 100 2.1 Pastejo com lotação contínua ............................................................. 101 2.2 Pastejo rotacionado ............................................................................102 2.3 Pastejo diferido ................................................................................... 110 2.4 Pastejo em faixa e pastejo “primeiro-ponta” ....................................... 111 3. MANEJO DA PASTAGEM .................................................................. 112 3.1 Escolha da forrageira .......................................................................... 112 3.2 Considerações sobre manejo das pastagens .................................... 114 3.3 Ganho por área e ganho por animal ................................................... 114 4. SUPLEMENTAÇÃO ............................................................................ 117 4.1 Consumo de matéria seca .................................................................. 117 5 4.2 Suplementação concentrada .............................................................. 119 4.3 Volumosos conservados para o período de estacionalidade ............. 123 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 124 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 125 MANEJO NUTRICIONAL DE VACAS LEITEIRAS NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO..................................................................................................... 129 1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 129 2. ACESSANDO AS RESERVAS ENERGÉTICAS ................................ 130 a. Peso corporal ................................................................................... 131 b. Perímetro torácico ........................................................................... 132 c. Status metabólico ............................................................................ 132 d. Escore de condição corporal (ECC) ................................................ 133 e. Utilizando a ultrassonografia para acessar as reservas energéticas 141 3. PERÍODO DE TRANSIÇÃO E BALANÇO ENERGÉTICO NEGATIVO (BEN) ............................................................................................................ 144 4. DOENÇAS E DISTÚRBIOS METABÓLICOS ASSOCIADOS AO BEN 148 a. Cetose .............................................................................................. 148 b. Hipocalcemia ................................................................................... 151 c. Deslocamento de abomaso ............................................................. 156 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 157 6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 157 Fatores genéticos e ambientais que interferem no intervalo de partos ........... 162 1. Introdução ................................................................................................. 162 2. Intervalo de partos (IDP) ........................................................................... 162 3. Fatores que interferem no IDP .................................................................. 163 A. Efeito de Ambiente .............................................................................. 163 i. Escore da condição corporal (ECC) ................................................... 164 ii. Detecção e repetição de cio ............................................................... 166 iv. Inseminação artificial (IA) e monta natural ...................................... 168 v. Estresse térmico .............................................................................. 169 vi. Idade da Vaca .................................................................................. 170 vii. Ano do parto .................................................................................... 171 viii. Mês do parto .................................................................................... 172 ix. Efeito de rebanho ............................................................................ 173 x. Nutrição............................................................................................ 173 6 xi. Outras estratégias visando melhoria no manejo do período de transição .................................................................................................... 181 xii. Problemas sanitários relacionados ao Intervalo de Parto ............... 184 B. Efeitos genéticos ................................................................................. 188 i. Grupo genético .................................................................................... 188 ii. O animal .............................................................................................. 188 4. Referências bibliográficas ................................................................... 189 5. ANEXO ................................................................................................ 192 i. Escore de condição corporal .............................................................. 192 FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO .......................................................................... 197 1. Introdução ........................................................................................... 197 2. Importância do conhecimento da fisiologia da lactação ..................... 198 3. O úbere da vaca.................................................................................. 198 3.1 Ligamentos suspensórios ................................................................... 198 3.2 Componentes do úbere ...................................................................... 199 3.3 Células secretoras .............................................................................. 201 3.4 Sistema sanguíneo, linfático e nervoso da glândula mamária ........... 202 4. Mamogênese ...................................................................................... 203 4.1 Período pré-natal ................................................................................ 204 4.2 Período pré-gestação ......................................................................... 205 4.3 Período gestacional ............................................................................ 206 4.4 Período de lactação ............................................................................ 207 4.5 Influência hormonal sobre a mamogênese ........................................ 207 4.6 Interferência da taxa de crescimento animal sobre o desenvolvimento da glândula mamária ................................................................................ 208 5. Lactogênese ........................................................................................ 209 6. Galactopoese ...................................................................................... 210 7. Papel dos hormônios sobre a lactogênese e galactopoese ............... 210 7.1 Progesterona ....................................................................................... 210 7.2 Prolactina (PRL) .................................................................................. 212 7.3 Estrógeno ............................................................................................ 212 7.4 Hormônio do crescimento (GH) .......................................................... 212 7.5 Lactogênio placentário (LP) ................................................................ 215 7.6 Glicocorticóides ................................................................................... 215 7.7 Hormônios tireoidianos ....................................................................... 215 7.8 Calcitonina .......................................................................................... 216 7.9 Hormônio da paratiréoide (PTH) .........................................................216 7.10 Insulina e glucagon ........................................................................... 216 7 7.11 Ocitocina (OXT) ................................................................................ 216 8. Apoptose das células secretoras ........................................................ 217 9. Fisiologia da Glândula Mamária no Período Seco ............................. 218 9.1 Fase de Involução Ativa ...................................................................... 218 9.2 Fase de involução constante .............................................................. 220 9.3 Fase de colostrogênese ...................................................................... 220 10. Biossintese dos compostos do leite .................................................... 220 10.1 Água .................................................................................................. 221 10.2 Lactose .............................................................................................. 222 10.3 Proteína ............................................................................................. 225 10.4 Gordura ............................................................................................. 228 10.5 Minerais ............................................................................................. 232 10.6 Outros componentes do leite. ........................................................... 233 11. Colostro ............................................................................................... 234 12. Referências bibliográficas ................................................................... 235 FATORES QUE AFETAM a composição do leite ............................................ 238 1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 238 2. Glândula mamária ............................................................................... 239 3. Composição química do leite. ............................................................. 241 4. Fatores que afetam a composição do leite ......................................... 247 4.1 Relação Volumoso:Concentrado ........................................................ 247 4.2 Níveis de Proteína na Dieta ................................................................ 253 4.3 Tipo de concentrado e seu processamento ....................................... 259 4.4 Fornecimento de gordura .................................................................... 260 4.5 Aditivos ................................................................................................ 261 4.6 Ajuste na Dieta .................................................................................... 261 4.7 Manejo alimentar ................................................................................ 263 4.8 Estação do ano ................................................................................... 264 4.9 Ordem e Estágio de lactação ............................................................. 264 4.10 Efeitos genético-ambientais .............................................................. 265 4.11 Efeitos inter-raciais ........................................................................... 266 4.12 Influência das infecções na glândula mamária ................................. 267 4.13 A homogeneização do leite .............................................................. 267 4.14 Variação ao longo da ordenha .......................................................... 269 4.15 Temperatura de armazenamento da amostra .................................. 269 4.16 Tempo de armazenagem .................................................................. 270 4.17 Outros fatores que afetam a composição do leite ............................ 271 8 5. CONCLUSÃO ..................................................................................... 271 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 272 MANEJO REPRODUTIVO E ÍNDICES ZOOTECNICOS EM GADO DE LEITE .......................................................................................................................... 279 1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 279 2. PARÂMETROS A SEREM AVALIADOS NO MANEJO REPRODUTIVO DE GADO DE LEITE. ................................................................................... 279 2.1 Índices Zootécnicos: ........................................................................... 279 2.2 Período de serviço (PS) e intervalo de partos (IP) .......................... 280 2.3 Idade a puberdade e ao primeiro parto ........................................... 282 2.4. Período de lactação (PL) ................................................................... 283 3. ÍNDICES DE AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE REPRODUTIVA EM GADO DE LEITE .......................................................................................... 284 3.1 Previsão do intervalo de partos (PIP) ................................................. 284 3.2 Período em dias até o primeiro cio ..................................................... 285 3.3 Serviços por concepção (SC) ............................................................. 285 3.4 Taxa de concepção ao primeiro serviço (TCPS) ................................ 286 3.5 Taxa de concepção com menos de três serviços. ............................. 286 3.6 Percentual de vacas com período de serviço acima de 120 dias ...... 286 3.7 Período seco ....................................................................................... 287 3.8 Taxa de gestação (TG) ....................................................................... 287 3.9 Taxa de natalidade (TN) ..................................................................... 287 3.10 Produção percentual de bezerros desmamados: ............................. 288 4. Manejo Reprodutivo de Touros .......................................................... 292 4.1 O Touro ............................................................................................... 292 5. Evolução e Estabilização de Rebanhos Leiteiros ............................... 294 6. Controle leiteiro ................................................................................... 294 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 296 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................... 297 AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE ....... 300 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 300 2. CONCEITO E CLASSIFICAÇÕES DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE ............................................................................................................ 300 3. CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE ................................................................................ 301 3.1 Renda Bruta da Atividade Leiteira. ..................................................... 301 3.2. Custo de Produção de Leite .............................................................. 301 3.3 Medidas de Resultado Econômico ..................................................... 304 9 3.4 Atividade Leiteira X Leite .................................................................... 306 3.5 Ponto de Nivelamento e Resíduo ....................................................... 311 3.6 Fluxo de Caixa .................................................................................... 312 4. VIABILIDADE ECONÔMICA E INDICADORES-REFERÊNCIA DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE – RESULTADOS REAIS .............. 314 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................318 6. Bibliografia Citada: .................................................................................... 318 10 CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NO BRASIL Timotheo Souza Silveira (timsilveira@gmail.com) Marcos Inácio Marcondes (marcos.marcondes@ufv.br) 1. O que é uma Cadeia Produtiva? Cadeia Produtiva, ou o mesmo que supply chain, de forma simplificada pode ser definida como um conjunto de elementos (“empresas” ou “sistemas”) que interagem em um processo produtivo para oferta de produtos ou serviços ao mercado consumidor. Em virtude da globalização, evolução dos mercados consumidores, e implementações tecnológicas dos processos produtivos; o conceito de cadeia produtiva tem aprimorado. Especificamente, no caso de produtos de origem vegetal, cadeia produtiva pode ser visualizada como a ligação e inter-relação de vários elementos segundo uma lógica para ofertar ao mercado commodities agrícolas in natura ou processadas. Neste contexto, conforme a metodologia de proposta pela EMBRAPA, atuam neste sistema cinco segmentos constituídos dos seguintes atores (Figura 1) (SCHULTZ, 2001): Figura 1 – Esquema de Cadeia Produtiva. Fonte: Silva, 2005 a) Fornecedores de Insumos: referem às empresas que têm por finalidade ofertar produtos tais como: sementes, calcário, adubos, herbicidas, fungicidas, máquinas, implementos agrícolas e tecnologias. b) Agricultores: são os agentes cuja função é proceder ao uso da terra para produção de commodities tipo: madeira, cereais e oleaginosas. Estas produções são realizadas em sistemas produtivas tipo fazendas, sítios ou granjas. c) Processadores: são agroindustriais que podem pré-beneficiar, beneficiar, ou transformar os produtos in-natura. Exemplos: (a) pré- beneficiamento - são as plantas encarregas da limpeza, secagem e armazém de grãos; (b) beneficiamento - são as plantas que padronizam e empacotam produtos como: arroz, amendoim, feijão e milho de pipoca; (c) transformação - são plantas que processam uma determinada matéria prima e a transforma em produto acabado, tipo: óleo de soja, cereal matinal, polvilho, farinhas, álcool e açúcar. 11 d) Comerciantes: Os atacadistas são os grandes distribuidores que possuem por função abastecer redes de supermercados, postos de vendas e mercados exteriores. Enquanto os varejistas constituem os pontos cuja função é comercializar os produtos junto aos consumidores finais. e) Mercado consumidor: é o ponto final da comercialização constituído por grupos de consumidores. Este mercado pode ser doméstico, se localizado no país, ou externo quando em outras nações. Conforme a Figura 1, os atores da cadeia produtiva estão sujeitos a influências de dois ambientes: institucional e organizacional. O ambiente institucional refere aos conjuntos de leis ambientais, trabalhistas, tributárias e comerciais, bem como, as normas e padrões de comercialização. Portanto, são instrumentos que regulam as transações comerciais e trabalhistas. O ambiente organizacional é estruturado por entidades na área de influência da cadeia produtiva, tais como: agências de fiscalização ambiental, agências de créditos, universidades, centros de pesquisa e agências credenciadoras. As agências credenciadoras podem ser órgãos públicos como às secretarias estaduais de agricultura ou empresas privadas. Estas em alguns casos possuem a função de certificar se um determinado seguimento da cadeia atende quesitos para comercialização. Isto ocorre, por exemplo, na certificação dos produtos com Identidade Preservada - IP. O entendimento do conceito de cadeia produtiva possibilita: (1) visualizar a cadeia de forma integral; (2) identificar as debilidades e potencialidades; (3) motivar o estabelecimento de cooperação técnica; (4) identificar gargalos e elementos faltantes; e (5) certificar dos fatores condicionantes de competitividade em cada segmento. Sob a ótica de cada participante, a maior vantagem da adoção do conceito está no fato de permitir entender a dinâmica da cadeia, principalmente, em compreender osimpactos decorrentes de ações internas e externas. Por exemplo, no caso de ações internas pode ser citado o efeito decorrente da organização de agricultores em cooperativas. Nesta situação estes passam a: (i) comprar e comercializar insumos, (ii) armazenar e comercializar commodities, e (iii) beneficiar ou transformar matérias primas. Isto geralmente imprime maior grau de competitividade. Como ações externas podem ser citados os impactos decorrentes, por exemplo, da: (i) alteração ou criação de alíquotas de impostos, (ii) imposição de barreiras alfandegárias aos produtos destinados a exportação, (iii) normatização de procedimentos de classificação, e (iv) definição de exigências por parte do mercado consumidor quanto aos padrões de qualidade física, sanitária e nutricional. O conceito de cadeia produtiva é fundamental para o estabelecimento do agronegócio. Este tem demandado constante aprimoramento das cadeias produtivas. Neste cenário, por exemplo, podem ser estabelecidas metas, tais como: Promover o aprimoramento dos métodos de produção e comercialização. Isto requer adoção de novas tecnologias e técnicas de gerenciamento. Identificar e desenvolver novos serviços e funções para uma dada commodity. Isto pode configurar, por exemplo, na: (i) organização e 12 treinamento dos fornecedores para o atendimento dos padrões de comercialização; (ii) introdução de inovações tecnológicas, (iii) promoção de exportação, e (iv) reorientações de pesquisas e práticas extensionistas. Promover inovações nas atividades agrícolas. Produtos de alto valor comercial requerem a constante inovação tecnológica. Isto é uma conseqüência natural devido às exigências do mercado, o que ocorre devido a forte concorrência entre os fornecedores. Gerenciar os métodos de controle de qualidade. Programas de alimentos seguros utilizam o conceito de cadeia produtiva para verificar os fatores que impactam negativamente as qualidades física, sanitária e nutricional, ao longo da cadeia. Neste caso, pode ser aplicada a técnica APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP –Hazard Analysis and Critical Control Point). Esta tem por objetivo identificar e controlar sistematicamente os perigos que podem afetar a saúde do consumidor. Isto pode ser realizado por meio: (a) do uso do manual BPF - Boas Práticas de Fabricação, que descreve normas de higiene pessoal, limpeza e sanitização de instalações agroindustriais; (b) da adoção do MIP - Manejo Integrado de Pragas; e (c) da observância de normas de segurança no trabalho. 2. Estudo de Cadeias Produtivas Para o estudo, análise, planejamento e gerenciamento de cadeias produtivas é importante o entendimento dos seguintes conceitos: (1) sistema, (2) logística e (3) engenharia de sistemas. 2.1 Sistema De acordo com SCHMIDT e TAYLOR (1970) sistema pode ser definido como um conjunto de elementos que interagem segundo uma lógica para o alcance de uma ou mais metas. Assim, por exemplo, no caso de uma fábrica, os elementos são as diversas máquinas (estações de trabalho) dispostas segundo um fluxograma lógico em que a meta é a fabricação de um ou mais tipos de produtos. Essa definição está altamente relacionada aos propósitos de estudo de sistemas, o que segundo NEELAMKAVIL (1987) implica em: entender, analisar, projetar, modificar, preservar, e se possível controlar a performance. Para atingir estes objetivos é necessário no estudo de sistema: (i) selecionar o conjunto de elementos de acordo com os objetivos do estudo, (ii) estabelecer a inter-relação dos elementos, (c) definir a fronteira do sistema, e (iv) selecionar a variáveis de interesse. Se assim for feito, todosfatos de interesse serão englobados no estudo. Considerando os aspectos abordados, uma cadeia produtiva constitui em um sistema. Deste modo, para a condução de estudos de cadeias produtivas devem ser utilizados os mesmos ferramentais empregados no estudo de sistemas. 13 2.2 Logística Logística pode ser conceituada como: a) “Logística - é o processo de planejar, implementar e controlar, eficientemente, ao custo correto, (i) o fluxo e armazenagem de matérias- primas, (ii) o estoque durante a produção e produtos acabados, e (iii) as informações relativas a estas atividades, desde o ponto de origem até o ponto de consumo. Isto visando atender aos requisitos do cliente”. (Council of Logistics Management) b) Logística - É o sistema de administrar qualquer tipo de negócio de forma integrada e estratégica; planejando e coordenando todas as atividades, otimizando todos os recursos disponíveis, visando o ganho global no processo no sentido operacional e financeiro. (definição de Marcos Valle Verlangieri, diretor do Guia Log). c) Logística Empresarial - Trata-se de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de consumo final, assim como dos fluxos de informação que colocam os produtos em movimento, com o propósito de providenciar níveis de serviço adequados aos clientes a um custo razoável. (definição de Ronald H. Ballou em seu livro "Logística Empresarial"). Portanto, ao sumarizar estes conceitos, tem-se que: Logística é um conjunto de métodos de controle contábil, tributário, financeiro e operacional dos fluxos de matérias primas e produtos acabados deste os pontos de fornecimento até os pontos consumidores, envolvendo fatores, tais como: estruturas de armazenagem; plantas de pré-beneficiamento, beneficiamento, ou de transformação, estações de transbordos, modais de transporte e meios de comunicação. 2.3 Engenharia de Sistema O termo Engenharia de Sistemas pode ser definido como a arte de planejar, implementar, operacionalizar e gerenciar sistemas produtivos de forma otimizada considerando fatores de ordem operacional, econômica e ambiental. Para tanto, devido à complexidade dos sistemas reais devem ser empregados ferramentais de Pesquisa Operacional - PO. Pesquisa Operacional – PO (Researches Operations - RO) pode ser definida como o ramo da matemática que disponibiliza ao homem, o tomador de decisão, uma coletânea de ferramentas que possibilitam a modelagem de sistemas reais. As ferramentas podem ser técnicas de controle de processo (estatística aplicada), programação linear, teoria de jogos, redes neurais e simulação de processos. No caso específico da simulação, a sua adoção tem trazido benefícios, tais como: (a) previsão de resultados na execução de uma determinada ação, (b) redução de riscos na tomada decisão, (c) identificação de problemas antes mesmo de suas ocorrências, (d) eliminação de procedimentos em arranjos industriais que não agregam valor, (e) redução de custos com o emprego de recursos (mão-de-obra, energia, água e estrutura física), (f) revelação da integridade e viabilidade de um determinado empreendimento em termos técnicos e econômicos, e (g) condução de experimentos tipos: análise de sensibilidade, comparação de cenários, otimização e simulação de Monte Carlo. 14 Para o uso da técnica de simulação é necessária a implementação de modelos. Estes tratam da descrição da lógica do funcionamento de sistemas reais. Para a implementação dos modelos em computadores são utilizadas: (a) linguagens de programação, como: FORTRAN, Visual Basic, C e PASCAL, ou (b) linguagens de simulação, como: SLAM, GPSS, GASP, POWERSIM, ARENA e EXTEND. O estudo e análise de cadeia produtiva devem partir do princípio que esta é um sistema. E este é constituído por diferentes elementos agrupados em seguimentos conforme representado na Figura 1. Desta forma, as seguintes ações devem ser implementadas: (1) identificar os elementos e tipificar suas funções - o que implica em destacar qual é o produto final de cada segmento; (2) compor a lógica de ligação e inter- relação de cada elemento considerando os passos anteriores e subseqüentes; (3) compreender os fluxos produtos ao longo da cadeia; (4) compor as matrizes de custo; (5) identificar para cada ponto às parecerias e as concorrências; (6) delimitar os limites do sistema; (7) especificar recursos em termos humanos, insumos, tecnologias e capital; e (6) identificar os gargalos do sistema. Em complementação devem ser estudados os fluxos de capital e das transações sócios econômicas identificando a distribuição de benefícios entres os atores do sistema. Ao implementar estas ações, pode ser observada a necessidade do emprego dos conceitos de sistemas, logística e engenharia de sistemas. 2.4 Formatação da Cadeia Produtiva A constituição das cadeias produtiva não segue padrões pré- estabelecidos. Pois, cada arranjo depende de inúmeras variáveis, que normalmente estão associadas aos contextos regionais e as exigências de mercado. Uma cadeia produtiva dedicada significa que fluxos de insumos, matérias primas, produtos e capitais, bem como, os repasses de tecnologia ocorrem sob regências contratuais. E estes são estabelecidos para garantir a fidelidade entre os segmentos e elementos da cadeia. Sob esse cenário são definidas estratégias para o estabelecimento de competitividade e o uso dos recursos de logística. É amplamente reconhecido, que a cooperação entre os segmentos e elementos da cadeia é a ferramenta mais eficaz para o sucesso no mercado interno e externo. Ou seja, quanto mais efetiva é a cooperação; maior presença de mercado e competitividade são estabelecidas. Uma cadeia produtiva com integração horizontal, os elementos de um dado segmento podem executar a mesma função em várias cadeias, como também, vários elementos podem executar a mesma função em um dado segmento. Neste caso, há maior liberdade dos elementos quanto ao repasse de produtos. No entanto, isto faz requerer maior grau de capitalização dos elementos. 2.5 Gerenciamento da Cadeia Produtiva A forma de análise das relações entre fornecedores e clientes iniciou na década de oitenta visando melhorar o desempenho de empresa por meio de práticas, tais como: (i) analisar e otimizar os fluxos internos de atividades, (ii) 15 eliminar as atividades que não agregam valor, (iii) reduzir custos, (iv) reduzir os prazos de entrega, e (v) melhorar o fluxo de informação entre os componentes da cadeia. Estas práticas surgiram em razão das mudanças sociais, econômicas e de mercado, implementadas principalmente pelas necessidades do agronegócio globalizado. Assim, as empresas que antes tinham preocupações restritas aos mercados domésticos foram instigadas a buscar novas oportunidades em mercados externos. Além disto, tem sido observado nestes últimos anos a mudança de comportamento dos clientes finais. Estes tornaram mais exigentes em termos das qualidades físicas, sanitárias e nutricionais dos alimentos. E estes quesitos estão em alta voga na regência do comércio exterior. Sendo assim, tem tornado difícil para uma empresa, individualmente, alcançar níveis de controle de processos a custos otimizados que propiciem a oferta de produtos competitivos. Isto tende a agravar quanto os concorrentes são elementos de cadeias produtivas bem estruturadas. Diante deste cenário, surge as necessidades de gestão de processos o que obrigatoriamente envolve o aprimoramento da relação dos elementos da cadeia de tal forma: (i) possibilitar maior cooperação entre os seguimentos da cadeia, (ii) potencializar e otimizar a produção, (iii) reduzir os riscos individuais, e (iv) repassar aos parceirostecnologias para aprimorar os processos produtivos. Esta postura trás uma mudança do paradigma de competição entre os elementos e segmentos da cadeia. Pois, fica claro que a competitividade tem início com a formatação e gestão da cadeia e não apenas na disputa do mercado consumidor. Deste modo, na gestão de cadeias produtivas têm sido empregadas técnicas como: (1) PDCA (Plan, Do, Check, and Action) - que visa organizar e propor seqüência de operações para otimizar processos produtivos; (2) JIT (Just in Time), MRP (Materials Resource Planning) e ERP (Enterprise Resource Planning) – que visam planejar os processos de produção e os controles de estoques; (3) PDM (Product Data Managment): implica no uso de recursos contábeis e de informática para monitorar em tempo real (just time) a movimentação de matérias primas e produtos acabados; e (4) SCM (Supply Chain Managment) – que é aplicada com o intuito de planejar, gerenciar, implementar e otimizar: (i) os fluxos de matérias primais e produtos acabados – o que é definido como rastreabilidade, (ii) o emprego de recursos tecnológicos, financeiros, mão-de-obra e de outras espécies, e (iii) o intercambio de informações deste a base dos processos produtivos até o mercado consumidor, isto em dois sentidos 2.6 Estrutura organizacional da Cadeia frente ao Mercado A estrutura brasileira de mercado pode ser chamada de atomizada, pois sua produção se encontra pulverizada com a participação de pequenos, médios e grandes produtores. Tal fato não favorece a disseminação de informações, elevando assim os custos de captação, armazenamento. Segundo Campos e Piacenti (2007), a produção brasileira de leite está concentrada nos estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. Além disso, a estrutura organizacional da indústria de laticínios sofreu transformações nos últimos anos. Verifica-se um aumento na participação de mercado das empresas relativamente menores, caracterizado especialmente 16 por elevações na captação de leite destinado ao processamento e, como consequência, as empresas de maior porte apresentaram queda nas parcelas de mercado e diminuição em suas receitas. De acordo com a teoria microeconômica, existem diversas estruturas de mercado. A concorrência perfeita é uma estrutura que apresenta um grande número de vendedores e compradores e, assim sendo, a ação de uma empresa ou consumidor não afeta o preço, pois suas produções são mínimas frente ao total produzido. As barreiras na concorrência perfeita são inexistentes, podem entrar ou sair do mercado sem ônus. Para maximizar seu lucro, a firma deve escolher um nível de produção que iguale a receita marginal ao custo marginal, no ramo crescente da curva deste. Em outro extremo está o monopólio, representando uma única empresa dominando a oferta de produtos ou serviços, que não têm substitutos próximos. Segundo Varian (2006), o monopolista reconhece sua influência sobre o preço do mercado e escolhe o nível de preço e de produção que maximize seus lucros totais. As barreiras à entrada de novas empresas nesse mercado são bastante fortes, já que o monopolista pode modificar seu nível de produção ou até mesmo o preço por ser o único ofertante no mercado. Os preços no monopólio são mais elevados do que os considerados na concorrência perfeita. O monopsônio é um tipo de estrutura existente pelo lado da demanda, caracterizando-se como único comprador de matéria-prima ou produto primário. O oligopólio, por sua vez, caracteriza-se pelo número reduzido de firmas dentro do mercado e pelo reconhecimento de sua interdependência mútua. Dessa forma, cada uma das empresas pode influenciar seu preço de mercado ao variar sua produção. O inverso não é verdadeiro, pois cada firma não é grande o suficiente para atuar como monopolista dentro do mercado. A interdependência entre as firmas, isto é, o poder de ação de uma delas influenciar o preço ou a parcela de mercado das outras, faz com que cada uma leve em conta as ações e reações de empresas terceiras (MARTIN, 1993). Essa estrutura de mercado possui barreiras à entrada, pois as economias de escalas, as patentes e a intensidade de capital configuram impedimentos para a chegada de novas firmas. Assim, os agentes econômicos que agem nessa estrutura podem exercer poder de mercado. Quando o mercado se aproxima da estrutura de concorrência perfeita, havendo um elevado número de empresas, produtos homogêneos e liberdade de entrada, as firmas possuem poucas estratégias disponíveis, além de buscar reduzir os custos. Esse mercado tem bom desempenho quando produz uma quantidade próxima à da concorrência perfeita (CARLTON & PERLOFF, 2005). 3. Caracterização do Sistema Agroindustrial do Leite O sistema agroindustrial do leite, assim como os diversos sistemas agroindustriais ou cadeias produtivas, é formado por diversos agentes que o compõe, sendo os mesmos formados por segmentos “antes da porteira”, “dentro da porteira” e “após a porteira” (ARAÚJO, 2007). No SAG do leite, os segmentos antes da porteira são representados pelos fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos. O segmento dentro da porteira é representado pela produção primária do leite, ou seja, por produtores 17 especializados ou não. O segmento após a porteira é representado pelo processamento e distribuição do leite. No segmento dentro da porteira há uma divisão entre produtores especializados e produtores não especializados. Segundo Jank e Galan (1998) os produtores especializados possuem como atividade principal a produção de leite, investindo em tecnologia, rebanhos leiteiros especializados, know-how, economias de escala, diferenciação do produto, qualidade, dentre outros. Já os produtores não especializados, também conhecidos como “extratores”, trabalham com tecnologia rudimentar, onde o leite é um subproduto do bezerro de corte, representando uma atividade de subsistência e não empresarial e são responsáveis pelo excedente de leite de baixa qualidade no mercado. O segmento após a porteira compreende a indústria de processamento e distribuição. O processamento é representado por indústrias de laticínios (adquire a matéria-prima leite, processa e produz diversos derivados lácteos) divididas em empresas multinacionais, ou seja, grandes grupos privados controlados por capital de origem externa; os grupos nacionais; cooperativas de produtores de leite que visam aumentar o poder de barganha dos produtores (cooperativas singulares ou de primeiro grau e as cooperativas centrais ou de segundo grau); comerciais importadores que têm grande influência no mercado de derivados de lácteos, ao internalizarem, a preços altamente competitivos, produtos importados de origem diversa; pequenos laticínios, que adquirem, industrializam produtos lácteos e atuam geralmente no mercado regional (JANK & GALAN, 1998). 18 19 A análise abaixo se baseia nos pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças do SAG do leite brasileiro. Entendendo-se por pontos fortes todas as características positivas de destaque na instituição e que a favorecem no cumprimento do seu propósito. Os pontos fracos podem ser definidos como as características negativas, na instituição, que a prejudicam no cumprimento do seu propósito (COSTA, 2007). As oportunidades são todos os fatores externos previsíveis para o futuro que, se ocorrerem afetarão positivamente as atividades da empresa (COSTA, 2007). Já as ameaças são fatores externos previsíveis para o futuro, que se acontecerem afetarão a organização de forma negativa. Segue a análise SWOT para o Sistema Agroindustrial do leite brasileiro. Pontos Fortes Pontos Fracos Baixos custos de produção de leite Condições edafoclimáticas adequadas. Sinergias potenciaisleite/agricultura; Elevada capacidade instalada e bom nível tecnológico da indústria Sistema adequado de distribuição de derivados; Relevância da cadeia produtiva do leite na economia brasileira; Aumento do mix de produtos lácteos Baixissimo índices de produtividade e qualidade da matéria-prima; Elevada participação do mercado informal; Relações produtoX industria muito Instáveis; Baixa capacidade de coordenação do SAG; Baixa sensibilidade à qualidade ao longo do SAG; Assimetria de informações. Oportunidades Ameaças Elevada elasticidade-renda da demanda no mercado Facilidade de incorporação de tecnologias de sucesso; Revisão dos padrões de qualidade da matéria-prima; Condições para exportar lácteos Crescimento do segmento de food service Maiores ganhos de renda nas classes C, D e E, incorporando grande contingente de novos Competição dos produtos importados Fortes diferenças de interesses no SAG: leite/corte, formal/informal; Desajustes das variáveis macroeconômicas; Novos hábitos de consumo (produtos substitutos); Poucas Campanhas governamentais que visem à promoção dos produtos lácteos; Competição das áreas de produção de leite com atividades 20 consumidores; Implementação de vários programas sociais do governo nas esferas federal, estadual e municipal de maior rentabilidade; A preocupação ambiental e adaptação às novas exigências por preservação; Envelhecimento da População. Fonte: Jank &Galan, 1998 4. Visão Geral da Agroindústria do Leite O sistema agroindustrial do leite no Brasil é caracterizado atualmente por grandes empresas laticinistas de capital internacional e de capital nacional, além de empresas de natureza cooperativista. Nos anos 70 e 80 verificou-se a intensificação da presença de multinacionais se instalando no país por intermédio, principalmente, de aquisições de pequenos laticínios em dificuldades, acentuando a tendência de concentração em mercados formados de produtos com maior valor agregado (iogurtes, queijos finos, petits suisses, etc. As cooperativas, por sua vez, concentraram esforços na consolidação e ampliação das Centrais para tentar dominar o mercado de leite pasteurizado e responder à unificação dos grandes mercados urbanos (Wilkinson, 1993). Entretanto, estudos do PENSA (1997) demonstraram que a desregulamentação do mercado lácteo, a partir de 1990, levou à concentração neste segmento de empresas, com prejuízo para as cooperativas. Das nove centrais cooperativas existentes até os anos oitenta, restaram a Paulista (SP) e a Itambé (MG). As demais, ou foram adquiridas ou entraram em processo de insolvência. O exemplo mais representativo desta tendência é o da Batavo (PR), a qual recentemente repassou o controle acionário à uma empresa multinacional (a italiana Parmalat) (Jank & Galan, 1997). No início da década de 90, a desregulamentação do mercado e o fim do tabelamento dos preços do leite, que durou cerca de 45 anos, deixou toda a cadeia produtiva de leite brasileira exposta à um ambiente totalmente novo e vulnerável. Mais do que isso, deixou exposto todos os problemas de ineficiência, baixa produtividade com o uso de técnicas rudimentares para coleta de leite, indústrias com problemas de deficiência tecnológica e atravessadores que controlam a venda para o comércio varejista, elevando os preços ao consumidor final. Além disso, a formação MERCOSUL, que facilitou a importação maciça de produtos finais, sobretudo manteiga e queijos, a liberação de preços de leite, tanto ao produtor como ao consumidor, a profunda retração de demanda promovida pelo Plano Collor e a saída do Governo dos programas sociais de distribuição de leite, são outros fatores que vieram a agravar ainda mais a situação do setor laticinista brasileiro. O aumento das importações de insumos lácteos nesse período refletiu-se no aparecimento de diferentes estratégias corporativas dentro do complexo leiteiro. As empresas multinacionais, e algumas nacionais, aproveitaram-se dos baixos preços do leite em pó no mercado mundial, cuja importação deprime ainda mais o preço da matéria-prima doméstica, para aumentar suas margens. O setor cooperativista, por outro lado, defende a modernização da base da oferta doméstica, numa visão mais de 21 longo prazo. A curto prazo, porém, este setor é prejudicado por seu compromisso com a matéria-prima doméstica mais cara e também pela necessidade de processar e estocar a produção excedente decorrente de exportações (Wilkinson, 1993). A sazonalidade da produção leiteira representa outro grande obstáculo à modernização, na medida em que leva a oscilações entre a super -oferta e a escassez de matéria-prima. Este fato dificulta a formação de preços estáveis, aumentando os custos de estocagem, bem como custos operacionais decorrentes dos períodos de ociosidade. Pode-se dizer que no Brasil as transações entre o segmento produtor e o de transformação ficou caracterizado por contratos informais estabelecidos entre a indústria e o pecuarista, mediado pelo transportador responsável pela linha de leite e garantido pela necessidade de formação de cotas com os laticínios, para obter remuneração razoável no período de safra (Farina, Azevedo & Saes, 1997). Ainda segundo Farina, Azevedo & Saes (1997), os produtores nunca entenderam muito bem a razão da sistemática do preço cota/excesso, ou seja, na safra recebem um preço menor e por isso não tem capacidade de capitalizarem-se, justamente quando sua produção é maior. Este fato, segundo os autores, explica, em parte, a infidelidade dos produtores quando as queijarias ou outras indústrias lhes oferecem preços maiores nos períodos de baixa produção, sem garantir a absorção na safra. Trata-se aqui de um exemplo de comportamento oportunista dos agentes envolvidos. Uma questão pode ser formulada neste ponto do trabalho. Diante de um contexto de grandes ameaças e incertezas, operacionalizar uma cadeia produtiva ou uma rede de empresas (laticínio e produtores rurais) seguindo os princípios do SCM com mecanismos de governança apropriados pode gerar benefícios mútuos aos agentes e fornecer maior eficácia e eficiência ao sistema como um todo? Isto se traduziria em integração de funções de planejamento de produção, otimização de custos de produção e custos logísticos, financiamentos para modernização de equipamentos (produção de leite tipo B – sabe-se que o leite tipo C ou de qualidade inferior deverá desaparecer no médio prazo), serviços de assistência técnica aos integrantes da rede e com mecanismos de governança do tipo contratos de longo prazo (a especificidade dos ativos tende a aumentar) a fim de se evitar o comportamento oportunista dos agentes. A cadeia produtiva do leite está entre as mais importantes da agropecuária nacional, sendo responsável por uma parcela significativa do agronegócio. A cada R$1,00 de aumento da produção no sistema agroindustrial do leite, tem-se uma elevação de, aproximadamente, R$ 5,00 no Produto Interno Bruto (PIB), o que faz com que o produto esteja à frente de outros setores do agronegócio brasileiro (ALVIM et al., 2002). Quanto ao mercado internacional, nos últimos anos, a adoção de técnicas mais sofisticadas viabilizou o aumento da captação de leite in natura. Além disso, a expansão da demanda de leite e derivados tem também contribuído para o crescimento da produção leiteira. 22 O leite é um dos produtos mais importantes da agropecuária brasileira, movimentando, em 2006, cerca de US$ 18 bilhões (CNA, 2007)1. Estimativas relacionadas ao ano de 2004 indicam que o setor emprega aproximadamente quatro milhões e meio de pessoas, das quais mais de um milhão sãoprodutores (CNA, 2007). Ao longo dos últimos dez anos, principalmente, a base produtiva nacional tem se modernizado, apesar de manter a grande heterogeneidade entre produtores e regiões. Seguindo o mesmo caminho, a indústria de laticínios tem ampliado suas bases de atuação e potencializado o valor nutritivo dos produtos lácteos, movimentando o mercado com uma série de bebidas enriquecidas com vitaminas, minerais e ômegas, assim como leites especiais para pessoas que não conseguem digerir a lactose (ALVES, 2004). O aumento da utilização de produtos diferenciados no mercado fomenta o crescimento da produtividade trazendo um “pedido” do mercado para o aumento da eficiência do produtor (CARNEIRO, 2002). Em termos mundiais, a produção de leite foi estimada em 5,49 milhões de toneladas no ano de 2006 (Tabela 1), sendo 66,5% desse volume produzido na Europa e na América. Importante é destacar que a produção de leite européia está se reduzindo e apresentou uma queda de 3,4% no período de 1996 a 2006, enquanto os maiores avanços em produção foram observados na Ásia (58,9%), África (46,9%) e Oceania (30,1%), durante esse período. Tabela 1 – Evolução da produção mundial de leite. Distribuição nos continentes no período selecionado Continente Produção Mundial de leite (mil t) Variação Total 1996 2001 2006 Europa 216.800 210.544 209.441 -3,4% 38% América 130.889 143.588 156.595 19,6% 28,5% Ásia 84.412 98.557 134.170 58,9% 24,4% Oceania 19.068 24.060 24.674 30,1% 4,5% África 16.797 21.419 24.674 46,9% 4,5% TOTAL 467.976 498.168 549.694 17,5% 100% Fonte: FAO, 2009. Considerando o período entre 1996 e 2006, a produção mundial cresceu 17%. Tomando por referência os principais competidores deste mercado nesse mesmo período, a produção da Nova Zelândia avançou 45% e a do Brasil, 33%, ambas com crescimento bastante superior à média mundial. A produção dos Estados Unidos acompanhou a média internacional, enquanto as da Austrália e da Argentina apresentaram desempenho menor que a média mundial: no caso da Austrália houve aumento de 14%, enquanto na Argentina houve recuo de 11% (ZOCCAL, 2008). Em 2007, o Brasil era o 6º maior produtor mundial de leite (Tabela 2), com cerca de 25 bilhões de litros. Entre os países analisados, o Brasil perde apenas para Estados Unidos, Índia, China, Federação Russa e Alemanha. Mesmo em sexto lugar em termos de produção (Tabela 2), o Brasil ocupa uma posição desfavorável no âmbito mundial de produtividade (Tabela 3). Entretanto, 1 Os valores incluem bases de toda a cadeia produtiva agroindustrial do leite. 23 devido ao relativo menor custo dos fatores de produção, encontra-se bem posicionado em termos de custo de produção (US$/L) (Tabela 4). No que se refere à produtividade da pecuária leiteira, a brasileira é quase três vezes inferior à da Nova Zelândia e sete vezes menor que a dos Estados Unidos. Destaque-se, mais particularmente, que muitos países de pouca expressividade na produção e comercialização de lácteos apresentam produtividade bastante superior à brasileira. Tabela 2 – Produção de leite inspecionado por país em 2007 Países Produção de Leite (mil t) 2007 Análise Percentual Total Acumulado 1º Estados Unidos 84.189 15,02% 15,02% 2º Índia 42.140 7,52% 22,54% 3º China 32.820 5,86% 28,39% 4º Federação Russa 31.950 5,7% 34,09% 5º Alemanha 27.900 4,98% 39,07% 6º Brasil 25.327 4,52% 43,59% 7º França 23.705 4,23% 47,82% 8º Nova Zelândia 15.842 2,83% 50,65% 9º Reino Unido 14.450 2,58% 53,22% 10º Ucrânia 12.300 2,19% 55,42% 11º Polônia 11.800 2,11% 57,52% 12º Itália 11.000 1,96% 59,49% 13º Turquia 11.000 1,96% 61,45% 14º Paquistão 11.000 1,96% 63,41% 15º Holanda 10.750 1,92% 65,33% 16º Argentina 10.500 1,87% 67,20% 17º Austrália 10.350 1,85% 69,05% 18º México 9.599 1,71% 70,76% 19º Japão 8.140 1,45% 72,22% 20º Canadá 8.000 1,43% 73,64% Outros 147.725 26,36% 100,00% TOTAL 560.487 100,00% Fonte: FAO, 2009. É certo que em países como o Brasil, onde a heterogeneidade da produção leiteira é muito expressiva, a média é um indicador pouco representativo. Todavia, é igualmente verdadeiro que se trata de uma realidade de muitos países que, ainda assim, conseguem alcançar patamares melhores que o brasileiro. Já no âmbito de custo de produção, o posicionamento nacional é melhor: o Brasil encontra-se no segundo grupo de maior competitividade, entre US$ 0,18 e US$ 0,23 por litro, ao lado de Nova Zelândia e Austrália (Tabela 4). Nesse quesito, é superado somente pela Argentina, que possui o menor custo de produção, enquanto os Estados Unidos têm o custo mais elevado (CARVALHO, 2006). 24 Tabela 3 - Pecuária de leite: produção, produtividade e custos em países selecionados País Produção de leite (milhões t) Produtividade (t/vaca) Custo de produção (US$/kg) Estados Unidos 82,5 9,1 0,23 a 0,30 Austrália 10,3 4,9 0,18 a 0,23 Nova Zelândia 14,5 3,5 0,18 a 0,23 Brasil 25,3 1,2 0,18 a 0,23 Argentina 8,1 4,1 < 0,18 Fonte: FAO, 2009. Tabela 4 – Produção de leite, número de vacas ordenhadas e produtividade nos quinze principais países produtores de leite (2007) Ranking Países Produção de Leite (mil t) Vacas Ordenhadas (mil cabeças) Produtividade (kg/vaca/ano) 1º Estados Unidos 84.189 9.132 9.219 2º Dinamarca 4.600 555 8.288 3º Canadá 8.000 1.005 7.960 4º Japão 8.140 1.095 7.434 5º Países Baixos 10.750 1.443 7.450 6º Reino Unido 14.450 2.010 7.189 7º Alemanha 27.900 4.030 6.923 8º México 9.599 1.610 5.962 9º França 23.705 3.799 6.240 10º Itália 11.000 1.814 6.064 11º Austrália 10.350 2.017 5.131 12º Polônia 11.800 2.727 4.327 13º Argentina 10.500 2.200 4.773 14º Nova Zelândia 15.842 4.150 3.817 15º Ucrânia 12.300 3.347 3.675 16º Federação Russa 31.950 9.400 3.399 17º China 32.820 10.557 3.109 18º Turquia 11.000 4.350 2.529 19º Irã 6.450 4.300 1.500 20º Paquistão 11.000 9.170 1.200 21º Brasil 25.327 20.700 1.224 22º Índia 42.140 38.000 1.109 Fonte: FAO, 2009. Ao compararmos os anos de 2006, 2007 e 2008 dos principais países, é possível verificar um pequeno crescimento em animais, produção de leite e produtividades. Quando verificamos a média geral de todos os países nesses termos é possível concluir que nos últimos anos tem existido pouco avanço em termos de melhoria de genética animal, ou mesmo em coeficientes técnicos. Dentro da realidade de competição existente hoje, podemos dizer que essa está baseada na cadeia 25 produtiva, em sua eficiência de processo, gerenciamento de custos e subsídios. O mercado mundial do leite, portanto refém das variações existente no mercado futuro e spot, nas variações de rendas dos países subdesenvolvidos e nas variações de outros produtos industrializados. Pouco se pode afirmar sobre essa relação, mas de forma analítica temos a consciência da quantidade ofertada já bem definida de leite. 4.1 A regulação no mercado nacional de lácteos Para a compreensão da evolução dos parâmetros que representam a pecuária de leite no Brasil, é preciso considerar os frequentes procedimentos regulatórios, sobretudo entre 1945 e 1994. O exemplo mais facilmente identificável refere-se ao período em que o governo brasileiro fixou o preço do leite ao produtor e ao consumidor. Nesse período, 46 anos, além da classificação em A, B e C, as duas primeiras com pouca expressão quantitativa no mercado, não havia diferenciação do produto (NACIF, 2008) e, por falta de estímulos, todos os segmentos da cadeia produtiva ficaram estagnados tecnicamente (BRESSAN, 2001). É importante frisar que o fato de o leite ser tabelado nunca significou que havia remuneração adequada ao produtor, muito menos estabilidade de preços reais. A inflação elevada foia tônica de quase todo o período e os preços recebidos pelos produtores eram muito instáveis. Hoje, decorridos 17 anos do término do tabelamento, produzir leite ainda envolve considerável risco financeiro (NACIF, 2008). De uma forma ou de outra, os produtores se adaptaram a essas circunstâncias e, como maneira de reduzir custos, quase sempre optaram pelo crescimento extensivo da produção em detrimento da via intensiva. O sistema de produção foi coerente com a dotação de fatores: os fatores abundantes – recursos naturais e mão-de-obra de baixo nível de qualificação – foram intensamente empregados, sendo poupados aqueles de oferta relativamente inelástica, como capital e mão de obra qualificada (VILELA et al., 2001). Após a liberalização comercial, os preços aos produtores se mantiveram em níveis tão baixos quanto os fixados pelos reguladores, principalmente devido às importações subsidiadas na origem, à explosão inflacionária, que exacerbou a instabilidade dos preços, e à baixa demanda interna por produtos lácteos (ALVES, 2000). Em síntese, se a origem dos problemas mudou, esses permaneceram no período que se seguiu à liberalização comercial. Os reflexos dessas oscilações repercutiram quantitativamente no setor. O Brasil apresentou crescimento médio para produção de leite de 3,15% entre 1990 e 2007, taxa anual superior ao crescimento médio mundial (1,0%) (Figura 2). Essa expansão é resultado da reestruturação do setor, com consequente aumento de produtividade. No período, o País passou de importador líquido de produtos lácteos para exportador líquido, e a participação brasileira na produção mundial de leite aumentou de 3,1% para 4,5% (NACIF, 2008). 26 Figura 2 – Evolução da produção de leite de vaca no Brasil, em bilhões de litros - 1990 a 2007. Fonte: FAO, 2009. Em relação à demanda, entre 1990 e 2004, o consumo calculado (resultado da produção interna mais importação e menos a exportação) aumentou 3,12% ao ano (FAEMG, 2006). Nos anos 1990, o consumo per capita cresceu em média 2,80% ao ano, respondendo ao Plano Real, já que este aumentou o poder de compra do consumidor (FAEMG, 2006). 4.2 Efeitos da heterogeneidade tecnológica sobre a produção de leite A dualidade tecnológica é uma característica de destaque na produção de leite brasileira. Convivem, lado a lado, produtores que utilizam alta tecnologia e alcançam elevados índices de produtividade e produtores que conduzem uma pecuária leiteira ainda rudimentar (CARNEIRO, 2001). Tal dicotomia reflete nas quantidades produzidas de leite, uma vez que há pequeno número de produtores de mais de 1.000 litros de leite/dia e grande número de produtores até 50 litros de leite/dia (FAEMG, 2006). Por sua vez, há uma importante participação do pequeno número de produtores de 1.000 litros na produção total de leite nacional. Segundo Cunha (2000), citado por Vilela et al (2001), a produção de leite no Brasil concentra-se nas mãos de poucos produtores de maior produção. Atualmente, como consequência da evolução do setor lácteo no Brasil, a característica mais marcante da maioria dos produtores de leite é a baixa produtividade dos fatores de produção. Nesse contexto, embora alguns grupos de produtores possam ser classificados como eficientes, a maioria ainda permanece com baixo índice de eficiência econômica. Essa baixa produtividade média se deve ao número excessivo de estabelecimentos de pequeno porte, somado à pequena eficiência setorial (CUNHA, 2001). Esses fatores, para Vilela et al. (2001), apresentam-se como ponto estratégico a ser explorado, uma vez que o Brasil apresenta grande potencial para incremento na 27 produção leite, através de medidas relativamente simples de melhoria na condução da atividade, buscando ganhos na eficiência produtiva das fazendas leiteiras. Em termos numéricos, de acordo com ANUALPEC (2008), houve recuo no número de estabelecimentos de todas as unidades da Federação, exceto no Distrito Federal, entre os anos de 2000 e 2006. Considerados apenas os estados com mais de 10.000 estabelecimentos em 1996, as maiores reduções ocorreram no Maranhão e em Tocantins, e as menores na Paraíba e em Rondônia. A queda no número de estabelecimentos foi menor que o crescimento da produção de leite por estabelecimento. Nacif (2008), comentando discussão estabelecida por Farina (1996) sobre as mudanças ocorridas no sistema leiteiro após 1994, relata que a redução do número de estabelecimento revela uma tendência: os “safristas” (empresários que produzem leite predominantemente somente na época das águas) estão sendo expulsos do mercado por serem economicamente inviáveis, e a produtividade média deverá aumentar em consequência da especialização, estando a atividade nas mãos da maioria de produtores capazes de conduzi-la em bases comerciais, com condições de investir. A modificação sofrida em 1994 (retirada do preço do controle governamental) empurrou os produtores para a competitividade, trazendo-lhes como benefício a modernização e a adoção de novas tecnologia (KOZEN, 1998). A escala de produção média cresceu mais de 60%, mas, em termos absolutos, ela ainda é muito pequena. O maior aumento da escala ocorreu na Região Sul, particularmente no Estado de Santa Catarina. A produção média anual por estabelecimento catarinense se expandiu mais de 170% no período, porém, ainda está longe das médias de Goiás e Rio de Janeiro, que são as maiores do país, 31.051 l e 31.782 l, respectivamente (ANUALPEC, 2008). A produção de leite brasileira apresenta a característica de sazonalidade, uma vez que a produção é maior no verão (geralmente período de chuvas nas regiões brasileiras) do que no inverno (período da seca). Este comportamento é reflexo do sistema de produção a pasto (extensivo). Naturalmente, a sazonalidade da produção é acompanhada pela sazonalidade de preço, ampliando a volatilidade da receita dos empresários rurais e dificultando as tomadas de decisão (ZOCCAL, 2008). De fato, os preços de todos os produtos lácteos seguem essa tendência de sazonalidade durante o ano, sendo mais baixos durante o período das chuvas, quando a oferta de leite aumenta, e mais altos na seca (entressafra). Essa característica é fundamental para o entendimento e planejamento de ações dos gestores e financiadores durante o ano (GOMIDE, 1998). Fazendo uma análise comparativa entre os estados brasileiros de maior produção leiteira – Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo – apenas neste último não houve aumento de produção nos últimos anos (ANUALPEC, 2008). Em São Paulo, as crises puseram em cheque o modelo produtivo altamente intensivo que vinha sendo largamente adotado. Este fato resultou em liquidações maciças de rebanhos de alta produtividade, contribuindo para o resultado negativo. Outros fatores também podem ter atuado no mesmo sentido, como o avanço da cana-de-açúcar e dos reflorestamentos disputando espaço com a bovinocultura de leite (NACIF, 2008). 28 5. O Comércio Mundial de Lácteos O Brasil mostra-se competitivo no mercado lácteo mundial pelo fato de apresentar um dos menores custos de produção de leite do mundo, por se tratar de produção a pasto. Além disso, o País apresenta grande capacidade de aumento de produção tanto na horizontal quanto na vertical. Na horizontal, possui 105 milhões de hectares a serem incorporados de maneira sustentável à produção (Vilela, 2004). Isso, somado a outras vantagens, como o clima e o solo, aumentam sua capacidade produtiva. Quanto ao crescimento vertical, com o aumento da produtividade por meio do melhoramento genético, nutricional e de manejo e a disponibilidade de tecnologias para recuperação e aumento de produtividade de áreas degradadas, o País poderá se tornar uma das grandes potências na produção mundialde lácteos. Além destas vantagens produtivas, soma-se um potencial mercado consumidor. O Brasil ainda está abaixo da média de consumo recomendado pela Organização Mundial de Saúde que é de 175 litros/hab./ano, chegando a menos de 140. Algumas ações dos governos dos diferentes países de incentivo ao consumo e a oferta crescente de novos produtos tais como os alimentos funcionais à base de leite, o leite com controle de lactose, as linhas de produtos específicas para gestantes, recém-nascidos e adolescentes, entre outras, trabalham a favor do aumento do consumo e do mercado internacional de leite e derivados. Considerando que 90% dos orientais apresentam intolerância à lactose, esses novos produtos podem agregar um enorme contingente de novos consumidores (Balde Branco, 2004), bem como ajudar no aumento do consumo no ano de 2009. Todavia, a expansão do comércio exterior de lácteos depende, não somente da expansão do consumo, mas do aumento de acesso aos mercados. Sabidamente o mercado de lácteos ainda é o mais distorcido pelo protecionismo, notadamente da Europa, dos Estados Unidos e do Japão. Contudo, a principal causa da redução do comércio internacional de lácteos deve ser atribuída aos elevados preços de 2007 e parte do ano de 2008. Os preços médios praticados pelo Brasil no mercado de leite em pó integral, não- adocicado, em média cresceram 56%, indo de US$ 2,26 para US$ 3,52/ kg de 2006 para 2007. O do queijo fundido, outro importante produto da pauta de exportação brasileira, apresentou um crescimento de 18%, indo de US$ 2,46 para US$ 2,92/kg de 2006 para 2007 e deste ano para 2008 de 75%, chegando em US$ 3,91/kg. 6. Balança Comercial Brasileira No período de 1996 a 2006, portanto dez anos, as vendas externas de lácteos aumentaram 1.043% em volume, e as importações diminuíram 71,5%. Em 1996, o Brasil exportava para apenas 15 países, em 2006, este número passou para 96 e em 2008 foi de 94 países nos cinco continentes. Quanto às importações de lácteos do Brasil, tanto o número de países fornecedores quanto os valores das importações diminuíram. Em 1996, o Brasil importava lácteos de 33 países e em 2006 de 20, e em 2008 de 17. Pelo que se observa nas Figura 3 e Figura 4, a balança comercial brasileira de lácteos deixa explícita a marcante baixa nas importações seguida de constante alta das 29 exportações a partir do ano de 1999 até 2004. Nota-se também um crescimento das importações entre 2004 e 2006 quando se atingem 96 mil toneladas de lácteos e a balança comercial fica negativa em US$ 20 milhões (Comtrade, 2009). Nos anos subsequentes ficam estáveis em torno das 70 mil toneladas e as exportações crescem e obtêm-se preços elevados pelos produtos logrando superávit de US$ 32,29 e US$ 65,54 milhões nos anos de 2007 e 2008, respectivamente. Analisando este comportamento, pode-se afirmar que as importações de lácteos ficam restritas a alguns produtos específicos. Outro fato importante é que o setor está se consolidando no mercado internacional, e a grande lição de 2004 é a demonstração da capacidade do setor em superar obstáculos, achar, expandir e manter mercados, e a lição de 2006, quando a balança voltou a ficar negativa, é que o Brasil como uma economia de mercado e aberta, está sujeita às leis da procura e da oferta no âmbito internacional. Nesta condição, havendo oportunidades, entre peneurs tomarão vantagens e importarão mercadorias que lhes deem lucro. Isto impõe uma condição crescente de vigilância com relação a praticas desleais de mercado e, principalmente, pelo aumento da produtividade dos fatores de produção, que garantam competitividade. Figura 3 – Balança Comercial de Lácteos (2000 a 2008 milhões de US$). Fonte. Embrapa (2009). 30 Figura 4 – Balança Comercial de Lácteos (2000 a 2008 mil toneladas). Fonte: Embrapa (2009) 7. Importações Brasileiras As importações brasileiras de lácteos, de acordo com os dados do Comtrade, em 2008, tiveram a seguinte performance: o Brasil importou 79 mil toneladas de produtos lácteos, provenientes, principalmente da América, Europa e Oceania (Figura 5). No mesmo período, o País enviou para o exterior 368 mil toneladas de produtos lácteos e bateu a marca de US$ 500 milhões pela primeira vez. Das importações de 2008, 79% dos produtos vieram do continente americano, sendo 64,8% do volume total da Argentina, 16,7% do Uruguai, 13,3% dos Estados Unidos, e os 5,2% restantes do Paraguai, Chile e Canadá. Em volume, 11,9 mil toneladas vieram da Europa. Os principais países europeus fornecedores de lácteos para o Brasil foram Polônia com 51,7%, França com 41,9%, e Alemanha com 5,3%. Da Oceania veio o total de 2 mil t, sendo 51,3% da Austrália e o restante da Nova Zelândia. As principais mercadorias importadas pelo Brasil em 2008 foram, em termos de volume, o soro (38,4 mil toneladas, US$ 56,31 milhões) e em seguida o leite em pó, considerando integral e desnatado (29,1 toneladas, US$ 114,42 milhões) e queijos (3,3 mil toneladas e US$ 22,28 milhões). O soro no ano de 2006 já representava mais de 32% de todas as importações brasileiras de lácteos, em volume 31 Figura 5 – Percentual de Volume das Importações Brasileiras de Lácteos por Continente (2008). Fonte: Embrapa (2009) 8. Exportações Brasileiras de Lácteos O comportamento das vendas externas no período analisado demonstra uma certa descontinuidade, haja vista que em 1997 e 1998 houve uma retração das vendas de 44,7% e 30%, respectivamente. No ano de 1999 inicia-se uma recuperação, atingindo 32% de aumento das exportações, em relação a 1998; esse aumento persiste até 2004 quando se obteve o superávit da balança comercial (Fig. 3). Em 2003 o crescimento da balança registra aumento de 95,7%. Em 2004, o crescimento foi de 67,3%, quando o setor exportou US$ 98,9 milhões com volume de 71,5 mil t, alcançando superávit comercial. Em 2006, o País aumentou ainda mais as exportações, atingindo um total de 90,9 mil t e US$ 140,61 milhões, porém voltou a ter déficit na balança comercial de US$ 4,48 milhões. No período analisado houve, em média, uma baixa dos preços recebidos pelos exportadores. Os preços oscilaram, havendo aumentos e decréscimos. Na média dos anos em estudo e considerando os preços recebidos como a divisão dos valores pagos pelo volume exportado de todos os produtos, os preços foram de US$ 1.705,8/t com um decréscimo de 4,5% ao ano. Contudo, os preços de 2003 cresceram 8,8% e, em 2004, 28,1%. A melhoria dos preços internacionais em 2003 e 2004, e a enorme alta de 2007 em relação ao ano anterior (44,9%) e de 2008 (15,7%), somadas à grande vitalidade da exportação, explica o superávit da balança comercial brasileira naqueles anos. A exportação em 2007 atingiu 98,6 mil toneladas e a de 2008 144,3, um incremento de 35%, e superávit de US$117,33 em 2007 e em 2008 de US$ 283,29 milhões. Além do aumento das exportações, a elevação dos preços em 2007 e 2008 explica em parte o superávit comercial brasileiro de lácteos. A grande elevação dos preços pode ser explicada pela expansão da demanda e pela falta de produtos no mercado internacional devido às dificuldades na produção da Oceania e da Europa. A expansão das vendas brasileiras pode ser explicada também pelo ganho de experiência em mercado internacional que as empresas brasileiras vêm acumulando 32 nestes últimos anos, aliada a um sensível aumento do entendimento da importância da qualidade dos produtos como veículo de acesso a importantes mercados e pela falta de produto de grandes players como a Oceania e a Europa. 9. Exportações Por Classe de Produto A Tabela 5 mostra os principais produtos lácteos e suas quantidades comercializadas. O crescimento de alguns produtos é surpreendente. A quantidade exportada de leite
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