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As aventuras de Sherlock Holmes

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As aventuras de Sherlock Holmes
Capítulo 1 - A liga dos Ruivos
Quando reviso minhas anotações de Sherlock Holmes entre os anos 1882 e 1890, vejo tantos casos raros e interessantes que é difícil escolher alguns para pôr no papel. Um deles ocorreu no ano passado. Fui visitar meu amigo Holmes em seu apartamento na Baker Street e o encontrei conversando com um senhor muito gordo e de cabelo bem ruivo.
- Senhor Wilson - disse Holmes dirigindo-se a ele -, deixe-me apresentá-lo ao doutor Watson, meu companheiro e ajudante. Por favor, comece de novo seu relato. 
O senhor Wilson mostrou o anúncio do jornal no qual se oferecia um cargo na Liga dos Ruivos por 4 libras por semana. O único requisito era ter essa cor de cabelo. O criador da Liga era um milionário ruivo, que, ao morrer, queria repartir sua fortuna entre aqueles que tivessem essa cor de cabelo em troca de um trabalho simples, Wilson, dono de uma casa de penhores na Praça Coburg, soube disso por seu empregado, soube disse por seu empregado Spaulding, que o encorajou a se apresentar. 
- Na rua indicada no anúncio havia muitos ruivos aspirantes ao cargo, mas nenhum com o ruivo intenso do meu cabelo - disse Wilson. - Spaulding abriu passagem e eu entrei no escritório. 
Duncan Ross, o ruivo que fazia a seleção, ficou assombrado com o meu cabelo e me explicou que eu trabalharia das dez às duas copiando a Enciclopédia Britânica e que não poderia faltar nem um dia. Como no meu negócio eu costumava receber os clientes à tarde, meu empregado podia cuidar de tudo pela manhã, então aceitei. No dia seguinte, comecei a trabalhar e o senhor Ross passava de vez em quando para comprovar se eu estava no meu lugar. Cada semana ele me pagava as 4 libras; e então começou a passa uma vez por semana e depois deixou de passar, mas eu nunca ousei me ausentar. E foi assim, até esta manhã, quando vi o escritório fechado e um cartaz que dizia: “A Liga dos Ruivos foi desfeita”. Perguntei ao porteiro, mas não havia ouvido falar da Liga nem de Ross. Pedi conselho ao meu empregado e ele me disse par esperar notícias, mas o salário é tão bom que eu não quero perdê-lo, por isso vim aqui.
- Há quanto tempo esse empregado, Spauding, estava com você quando lhe sugeriu entrar na Liga? - perguntou Holmes. - Quase um mês. Coloquei um anúncio e o escolhi porque parecia esperto e não me custaria muito, já que estava disposto a trabalhar por meio salário enquanto aprendesse o ofício. Claro que tem seus defeitos: adora fotografia e passa horas no porão relevando fotos. 
- Como é esse Spaulding? - Baixo, forte a ágil, de uns 30 anos com uma mancha branca na testa. 
- Foi o que eu imaginei! - exclamou Holmes. - Bem, senhor Wilson, hoje é sábado; espero lhe dar a solução na segunda-feira.
Eu disse a Holmes que tudo era muito estranho.
- Quanto mais esquisita é uma coisa, menos misteriosa ela é. Vou fumar um cachimbo para pensar - e sentando-se na poltrona, acendeu seu cachimbo e fechou os olhos. 
Pouco depois, pulou do seu assento e me propôs e sairmos juntos. Fomos até a Praça Coburg, que estava deserta. De todas as casas velhas de tijolos, Sherlock Holmes parou diante da que anunciava o negócio de Wilson e bateu na porta. Um jovem abriu a porta.
- Com licença, eu só queria lhe perguntar como faço para ir até a Rua Strand.
- A terceira à direita e a quarta à esquerda - respondeu sem vacilar. - Um cara esperto - comentou Holmes quando fomos embora -, o quarto cara mais esperto de Londres. 
A casa era de esquina e, ao dar a volta, estávamos no centro de Londres.
- Vejamos, temos aqui uma loja, a filial do City Bank, um restaurante e uma taberna. É isso. Agora, vamos a um concerto musical.
Depois do concerto, Holmes me disse:
- Um grande crime está sendo preparado. Vou precisar da sua ajuda esta noite. Você poderá vir às dez com sua pistola? 
- A essa hora estarei em Baker Street.
Confesso que eu continuava sem saber o que havia por trás do assunto do ruivo, apear de ter visto e ouvido o mesmo que Sherlock Holmes.
Quando cheguei em Baker Street à noite, havia dos homens com Holmes. Um eu já conhecia: era o policial Jones. O outro estava vestido com um traje luxuoso e usava chapéu.
- Deixe-me apresenta-lo ao senhor Merryweather.
- Espero que esta saída seja de bom proveito. É a primeira vez que eu perco meu jogo de cartas - disse ele.
- Este jogo será mais emocionante, por você aposta 30.000 libras e senhor Jonas poderá pegar o seu homem. 
- O nome dela é John Clay. Ele é assassino, ladrão, caloteiro e falsificador - disse o policial. 
- O avô dele era duque e ele estudou em Oxford. Estou há anos atrás dele. 
Holmes pegou seu chicote de caça e fomos à mesma rua dessa manhã. O senhor Merryweather nos conduziu por uma porta lateral e após passar por vários corredores, chegamos, com um lanterna, a um porão cheio de caixas.
Holmes examinou com sua lupa as fendas entre os ladrilhos do chão. 
- Teremos que esperar uma hora, até que o senhor Wilson vá se deitar. Estamos no porão de um dos principais bancos de Londres, cujo diretor é senhor Merryweather. Ele dirá a vocês por que os ladrões estão interessados por este porão. 
- Estas caixas guardam o ouro que recebemos do Banco da França.
- Agora devemos desligar a lanterna e espera-los no escuro - disse Holmes. - Escondam-se atrás destas caixas. Quando eu iluminar os ladrões, cerquem-nos. 
Deixei minha pistola preparada e Holmes desligou a lanterna. A espera no escuro me parecia eterna. De repente, surgiu uma luz do chão: uma linha amarela que foi ficando maior até aparecer uma mão. Imediatamente, o piso se levantou, e pelo buraco surgiu o corpo de um jovem. Quando ele saiu, ajuda a puxar seu companheiro, um ruivo baixinho.
Nesse momento, Holmes saltou sobre o primeiro e o agarrou pelo pescoço. O outro conseguir escapar pelo buraco, apesar de o policial tê-lo pego pela jaqueta.
A luz da lanterna iluminou um revólver, mas o chicote de Holmes prendeu a mão do jovem e a arma caiu.
- Não tem escapatória, John Clay - exclamou Holmes. - Três policiais estão esperando seu amigo na outra saída.
- Tudo calculado, meus parabéns a você - disse ele.
- E a você também - respondeu Holmes. - Sua ideia dos ruivos foi muito original.
De volta à Baker Street, Holmes me explicou:
- Como pode ver, Watson, a finalidade do cargo na Liga era manter o senhor Wilson fora de casa algumas horas por dia, para que eles pudessem escavar o túnel até o porão do banco. As 4 libras por semana eram um custo baixo, pois iam roubar milhões.
Quando ouvi que o empregado trabalhavam pela metade do salário, soube que ele tinha um bom motivo. Além do que, passava muito tempo no porão. Visitei a casa para ver as joelheiras das calças, que efetivamente estavam desgastadas de se ajoelhar para escavar. Soube que seria esta noite porque hoje haviam fechado e escritório da Liga e, por ser sábado, teriam mais tempo para escapar.
- Que bom que você deduziu tudo!
Capítulo 2 - O mistério do Vale do Boscombe
Minha esposa e eu estávamos tomando café da manhã quando recebi um telegrama de Sherlock Holmes para ir com ele até o Vale de Boscombe resolver um caso. Em meia hora estava dentro do trem com ele.
- Eles pensam que se trata de um assassinato e todas as provas acusam o filho da vítima; mas exatamente por parecer tão simples, acaba sendo um caso muito difícil - ele disse. 
Ele me contou que no Vale de Boscombe vivia o senhor Turner, que possuía a maior parte das terras. Ele as havia comprado com a fortuna que juntou na Austrália. 
Em uma de suas fazendas vivia o senhor McCarthy, que conheceu nas colinas australianas. Esse homem tinha um filho, e Turner , uma filha; ambos eram viúvos e aposentados. 
- Segunda-feira - continuou Holmes -, McCarthy saiu de casa perto das três e foi andando até a lagoa de Boscombe. Não voltou mais. Naquela manhã ele havia dito à sua governanta que tinha um encontro às três horas, mas não sabemos com quem. Um guarda o viu caminhando sozinho e, pouco depois, viu o filho de McCarthy, James, seguindo-o com uma escopeta.A filha do caseiro do Vale os viu discutir perto da lagoa e viu como o filho levantou a mão para o seu pai. a garota foi correndo para casa e, logo depois de contar para os seus pais, chegou o jovem McCarthy com o braço direito manchado de sangue, pedindo ajuda, pois havia encontrado seu pai morto. Correram todos para lá e observaram que o morto tinha golpes na cabeça que podiam ter sido feitos com a escopeta do filho, que encontraram jogada ao lado, na grama. O jovem foi detido imediatamente.
- As evidências apontam para ele - disse eu.
- Não se pode confiar nas evidências à primeira vista. Além disso, a filha de Turner acredita na inocência dele e contratou Lestrade, da Scotland Yard, que me chamou. E eu acho significativo o fato de o jovem não ser surpreendido ao ser detido.
- Isso foi uma confissão - afirmei.
- Não, porque ele se declarou inocente. Se ele tivesse ficado surpreso, eu suspeitaria dele, pois ele sabe que as provas vão contra ele. 
- E qual é a versão dele? - perguntei.
- Disse que havia estado três dias em Bristol e que chegou naquela manhã mas seu pai não estava. Pegou a escopeta e foi até a lagoa caçar coelhos. Pelo caminho, viu o guarda, mas assegura que ele não estava seguindo seu pai; de fato, nem sabia que ia na mesma direção que ele. A uns 90 metros da lagoa, ouviu o grito “Cuiii!”, que era um sinal habitual entre o pai e ele; então saiu correndo e o encontrou perto da lagoa. O pai lhe perguntou irritado o que ele fazia ali. Então os dois discutiram e ele foi embora, mas estava a 150 metros quando ouviu um grito espantoso e voltou. Foi quando viu seu pai no chão, com ferimentos na cabeça. Soltou a escopeta e o pegou em seus braços, mas ele morreu logo após balbuciar algo sobre um rato. O jovem viu um tecido cinza no chão enquanto corria até seu pai, mas não o viu mais quando foi buscar ajuda. Outra pista é que se negou a dizer ao juiz o motivo da discussão com seu pai. 
- Ele não querer dizer as estranhas palavras do moribundo levantam suspeitas.
- Mas se ele teve imaginação para inventar que o seu pai falou de um rato antes de morrer, como não teve para nos dar o motivo da discussão? Eu partirei do princípio de que o jovem está dizendo a verdade.
Chegamos de trem ao nosso destino e Lestrade nos esperava na plataforma. 
- O caso está muito claro - disse ele já na pousada -, mas a senhorita Turner tinha ouvido falar de você e queria saber a sua opinião. Aí está ela!
Uma jovem encantadora e muito nervosa entrou. Com rápida intuição feminina, soube quem era Sherlock Holmes e lhe disse:
- Sei que James não fez isso! Nós nos conhecemos desde crianças. Você acha que ele é inocente?
- Acho que é bem provável que seja.
- Além disso, tenho certeza de que James discutiu com o pai dele por minha causa e por isso não quis dizer ao juiz. Eles sempre discutiram porque o senhor McCarthy queria que nos casássemos, mas ele é muito jovem e não queria se casar ainda...
- Seu pai também era a favor desse casamento? - perguntou Holmes.
- Não, ele também não queria. 
- Posso visitar seu pai amanhã?
- O médico não vai deixar. Meu pai está doente há anos, e isso o fez piorar, pois era seu único conhecido de quando trabalhava nas minas australianas de Victoria.
- As minas onde ficou rico, estou certo?
- Isso mesmo. Por favor, diga a James que eu sei que ele é inocente.
Holmes foi com Lestrade visitar James na prisão. Enquanto isso, eu pude como médico analisar o ferimento mortal. Do relatório policial, deduzi que o golpe havia sido dado por trás. Isso favorecia o acusado, embora seu pai tenha podido dar a volta antes de ser golpeado. O estranho era a menção ao rato, pois ninguém delira depois de um golpe. Ao chegar, Holmes me contou:
- Creio que o filho também não sabe quem fez isso. O triste é que ele está apaixonado pela Turner, mas há alguns anos, enquanto ela estava em um internato, ele se envolveu com uma garçonete de Bristol e se casou. Nem sei pai sabia disso, porque o havia expulsado de casa. Foi com ela que ele esteve esses três dias em Bristol. Agora, a garçonete, ao descobrir isso, desmanchou com ele e diz que o casamento deles não teve valor legal.
- Então, quem matou o pai?
- Há dois anos detalhes fundamentais: primeiro, o pai tinha um encontro na lagoa e não era com o seu filho, pois ele nem sabia quando retornaria; e segundo, o pai gritou “Cuiii!” antes de saber que seu filho tinha voltado.
Na manhã seguinte, fomos à fazenda com Lestrade, que explicou:
-- Fiquei sabendo que o senhor Turner não cobrava dinheiro a McCarthy por viver em sua fazenda e lhe ajudou muito.
- E não lhe parece estranho que se McCarthy devia tanto a ele, apoiasse tão fortemente casar seu filho com a filha de Turner, que é a herdeira, sabendo que Turner se opunha a isso?
- Lá vamos nós às deduções! 
Na fazenda, Holmes pediu à governanta que lhe mostrasse as botas que McCarthy usava no dia de sua morte e também um par das de seu filho. Mediu-as em vários lugares e depois todos nós fomos pela trilha até a lagoa.
Sherlock Holmes se transformava quando seguia um rastro. Encurvava os ombros, esticava o pescoço, franzia a testa e seus olhos brilhavam ao se concentrar em algo.
A lagoa ficava no limite entre o terreno da fazenda de McCarthy e a floresta de Turner, atrás da qual se avistava sua mansão. Havia uns metros de grama úmida entre a lagoa e a floresta, e essa umidade permitia ver a marca que o corpo golpeado fizera ao cair; mas Holmes podia ler muitas coisas mais. Ele ia de um lado para o outro com sua lupa. 
- Eu tinha que ter chegado aqui antes que estivesse tudo pisoteado! - disse o policial.
- Vamos ver, aqui há três rastros diferentes deixados pelos mesmos pés, que são os do jovem McCarthy: duas vezes andando e uma correndo, pois mal se vê o salto da boca. Isto confirma o seu relato: ocorreu até chegar perto do seu pai, que jazia no chão. E isto aqui? São passos na ponta dos pés, e além do mais, são de ponteiras quadradas. Que botas mais esquisitas! Vêm, vão, voltam... claro, isso foi por causa de uma capa caída, mas de onde vinham? 
O rastro levou Holmes até uma enorme faia. Ali, ele observou com a lupa as folhas, a grama, a casca da árvore. Viu uma pedra, examinou-a e a guardou. 
As pegadas o levaram por um caminho da floresta até a estrada. 
- É um caso muito interessante - disse. - Imagino que esta casa cinza seja a do caseiro. Vou falar um pouco com ele e talvez escreva alguma observação. Não demoro.
Dez minutos depois ele se juntou a nós. Holmes pegou a pedra e disse:
- O assassinato foi cometido com isto. A grama crescia embaixo dela, de modo que só estava há alguns dias ali. Sua forma coincide com as feridas.
- E o assassino? - perguntou Lestrade.
- É alto, canhoto, manca um pouco da perna direita, fuma cigarros e usa piteira.
- Mas que é? Não vou sair em busca de um canhoto manco! - protestou Lestrade.
- Eu lhe dei uma chance. Esta tarde estarei ocupado e talvez volte para Londres no trem noturno. Adeus.
Na pousada, Holmes me explicou:
- O “Cuiiii!” não era para chamar o filho, mas sim a pessoa com quem ele iria se encontrar. É um grito típico australiano, de modo que essa pessoa deve ter vivido na Austrália.
- E o rato? - perguntei.
Holmes pegou um mapa da colônia australiana de Victoria e disse:
- Eu pedi este mapa ontem à noite telegrafando para Bristol. Se eu tampar isto com a mão, o que se lê?
- LARAT.
- E agora? - disse tirando a mão.
- BALLARAT.
- Exato. Essa foi a palavra que o moribundo disse. Ele estava tentando dizer o nome de seu assassino, fulano, de Ballarat, que é a cidade mineira que viveu a febre do ouro na Austrália. E essa pessoa vivia por ali, porque só é possível chegar à lagoa pela fazenda ou pela propriedade. Eu soube que ele mancava porque a pegada do pé direito estava sempre menos clara, e é canhoto porque o golpe foi dado do lado esquerda. Tinha fumado atrás da árvore enquanto McCarthy falava com o filho, pois vi as cinzas e a ponta do cigarro, que não mostrava marcas de lábios, pois ele usava uma piteira.
- Já sei dequem se trata. É o...
- O senhor Turner! - anunciou o garçom.
Um homem de cabelo grisalho, entrou lentamente, seus braços grandes indicariam energia, mas tinha o rosto pálido e a expressão exausta.
- Recebeu meu bilhete? - perguntou Holmes.
- Sim, o caseiro me trouxe.
- Sei tudo sobre McCarthy. 
- Deus tenha piedade de mim! Eu nunca teria deixado que condenassem o rapaz. Eu já teria confessado se não fosse pela minha filha, e se me prenderem agora...
- Talvez não chegue a isso, eu não sou policial, mas o jovem deve ficar solto. 
- Eu tenho pouco tempo de vida, sabe?
Holmes pegou uma pena e um papel.
- Conte-nos a verdade e eu escreverei para que você assine depois. Watson servirá como testemunha. Eu não apresentarei esta confissão a menos que seja necessário.
- Nas minas da Austrália eu não tive sorte - disse o velho - e terminei em uma gangue assaltando e roubando os carrinhos de ouro. Uma vez, matamos vários soldados, mas, embora eu tenha apontado a minha pistola ao condutor do carro, não disparei contra ele. Era McCarthy e ele memorizou o meu rosto. Fugimos com o outro e voltamos para a Inglaterra. Eu me separei dos meus amigos, comprei uma propriedade e quis levar uma vida respeitável. Casei e tive uma filha. Depois de um tempo, encontrei com McCarthy em Londres. Ele ameaçou ir até a polícia se eu não ajudasse ele e o seu filho, que estavam na miséria. Eles vieram comigo e eu já não pude mais me livrar deles. Ele me pedia tudo o que desejava, mais ainda quando minha filha cresceu, pois temia que ele descobrisse sobre o meu passado. Eu lhe dei tudo: terra, casa, dinheiro, até que ele me pediu minha filha. Aí eu me neguei. Não que eu não gostasse do rapaz, mas ele tinha o sangue dele. McCarthy me ameaçou, eu lhe desafiei e combinamos de nos encontrar na lagoa. Quando eu cheguei, eu o vi com filho e esperei atrás de uma árvore; mas conforme eu o escutava, insistindo com seu filho que se casasse com minha filha, fiquei mais irritado. Eu fiz isso, senhor Holmes, não podia suportar que minha filha sofresse o mesmo que eu. Eu o golpeei e seu grito fez com que seu filho voltasse. Eu já estava escondido na floresta, mas retornei para buscar minha capa que havia caído.
- Não sou ninguém para julgá-lo - disse Holmes enquanto o homem assinava.
James McCarthy foi absolvido no julgamento, graças a um relato que Holmes apresentou ao advogado de defesa. E Turner morreu pouco tempo depois, de modo que os dois jovens puderam viver felizes juntos, sem conhecer o passado obscuro dos seus pais.
Capítulo 3
O carbúnculo azul
Dois dias depois do Natal, fui visitar meu amigo Holmes e o encontrei deitado no sofá com seu roupão roxo, rodeado de jornais. Em uma cadeira havia um chapéu preto desgastado, uma lupa e umas pinças.
- Atrás desse simples chapéu há uma história terrível, não? - eu lhe disse.
- Não, não mesmo! Você conhece Peterson, o emissário? Ele o encontrou e me trouxe na manhã de Natal junto com um ganso, que agora deverá estar comendo. De madrugada, ao voltar para sua casa, viu na rua um homem cambaleando e com um ganso no ombro, quando se aproximaram uns meliantes. Um derrubou-lhe o chapéu, então o homem levantou sua bengala para se defender mas, sem querer, quebrou a vitrine que havia atrás. Peterson correu para ajudar o homem, mas tanto o senhor quanto os agressores se assustaram e saíram correndo. O homem deixou o chapéu e o ganso na fuga. No forro do chapéu há duas iniciais: “H.B.” e na pata do ganso havia um cartão que dizia “Para Henry Baker”, mas há tantos assim em Londres que Peterson não sabia o que fazer e os trouxe para mim. Hoje ele levou o ganso porque ele ia estragar. 
- E esse senhor não colocou um anúncio?
- Não. Só podemos obter pistas pelo chapéu. É evidente que o dono era rico há uns anos, mas agora atravessa maus momentos. É consideravelmente velho, tem cabelo grisalho, e não faz exercício.
- Você está brincando comigo! Como sabe disso?
- O chapéu é muito bom, então ele tinha dinheiro há alguns anos que o comprou; mas se não comprou outro desde então, é porque já não tem mais dinheiro, embora para parecer um senhor distinto, ele oculte as manchas com tinta. Esses fios brancos indicam sua idade avançada, e o pó que se vê não é da rua, mas sim da penugem de uma casa; isso e as manchas de suor me fazem ver que quase não sai de casa e se cansa e sua ao andar.
Então chegou Peterson correndo. 
- O ganso, senhor! - exclamou. - Olhe o que minha mulher encontrou dentro! - e mostrou uma pedra preciosa. 
- Não será o carbúnculo azul da condessa?
- Exatamente - disse Holmes -, nos jornais falam do roubo cometido no dia 22. O encanador John Horner foi acusado de tê-lo roubado do porta-joias da condessa após consertar uma grade no quarto dela no hotel Cosmopolitan. James Ryder, gerente de serviços do hotel, declarou que esteve com ele enquanto reparava a grade, mas teve que sair e, quando voltou, Horner havia ido embora e viu o porta-joias aberto. Ryder avisou a polícia e Horner foi preso, mas resistiu e insistiu ser inocente. Agora é preciso descobrir como o carbúnculo foi parar dentro do ganso. Primeiro, colocarei um anúncio no jornal para que o dono do ganso e do chapéu venha busca-los esta tarde.
Holmes escreveu uma nota para que a publicassem nos jornais da tarde e encarregou Peterson de comprar outro ganso.
Ao guardar o carbúnculo, Holmes comentou:
- Que preciosidade! Mas muitos crimes e roubos já foram cometidos para conseguir este carbúnculo azul, em vez de vermelho.
Á tarde, um homem com a barba grisalha, uma boina e um agasalho muito gasto se apresentou.
- O senhor Henry Baker, suponho - disse Holmes. - Este chapéu é seu?
- Sim, senhor, sem dúvida - respondeu.
- O ganso... Fomos obrigados a comê-lo, pois ia estragar.
- Vocês o comeram! - exclamou.
- Mas suponho que este outro ganso lhe servirá igual, não? - insinuou Holmes.
- Oh, claro! - disse ele. 
Vendo sua inocência, Holmes perguntou?
- Poderia me dizer onde o comprou?
- Sim, na Pousada Alpha. Por alguns centavos por semana, o dono garantiu um ganso no Natal.
Holmes se despediu dele e me propôs ir até a Pousada Alpha investigar essa pista. Lá averiguou que os gansos haviam sido comprados no mercado de Convent Garden de um tal de Breckinridge. Fomos até sua barraca no mercado, mas o vendedor ficou irritado com as perguntas de Holmes. 
- Por que todo mundo quer saber para quem vendi meus gansos? - disse.
- Não sei que interesse os outros têm. Eu apostei que o ganso que comi era do campo - respondeu Holmes.
- Então você perdeu sua aposta, porque ele foi criado em Londres - disse Brieckinridge.
- Impossível, não acredito - disse Holmes.
- Quanto você aposta?
- Uma libra, e tenho certeza que você vai perder.
- Você vai ver já, senhor sabe-tudo. Aqui nos meus livros diz assim: 24 gansos comprados da senhora Oakshott, de Brixton Road, e vendidos para Alpha. Está convencido?
Sherlock Holmes fez uma cara de desgosto e lhe deu a libra perdida. Ao nos afastarmos, meu amigo me confessou rindo que a melhor maneira de arrancar informações era com uma aposta. Nesse momento, ouvimos na barraca de Breckinridge um homem baixinho perguntar a mesma coisa. Esperamos ele ir embora, então Holmes o parou na rua e ofereceu dar-lhe informações sobre os gansos em seu apartamento. O homem aceitou, trêmulo e esperançoso. Era James Ryder, o gerente de serviços do hotel.
Já em Baker Street, Holmes explicou que o ganso acabara indo parar em sua casa. 
- E se tornou muito especial, porque ele pôs esse ovo azul brilhante.
O homem se levantou cambaleando.
-- Acabou o jogo, Ryder - disse Holmes.
O homem olhava com olhos assustados.
- A tentação de ficar rico de repente foi muito forte, hein? Que malvado! Você não se importou em acusar Horner! Você sabia que esse encanador esteve metido antes em uma situação similar e que imediatamente suspeitariam dele, então você quebrou a grade e pediu a Horner para que a consertasse; então roubou a joia quando ele já havia ido embora e o acusou. 
O homem caiu no chão e suplicou.- Tenha compaixão, por Deus! Jamais fiz nada de mau e não tornarei a fazer.
- Você chora agora, mas pensou muito pouco no pobre Horner.
- Vou fugir, assim não poderei manter minha acusação e o deixarão livre.
- Conte o que você fez com o carbúnculo.
- Não sabia onde colocá-lo, então fui ate a casa da minha irmã, a senhora Oakshott, que cria gansos. Enquanto eu fumava no pátio, ocorreu-me que poderia esconder o carbúnculo fazendo com que uns dos gansos o engolisse, pois minha irmã havia me oferecido um pelo Natal. Peguei um branco com uma listra preta nas penas da cauda e lhe enfiei a pedra goela abaixo. Nesse momento minha irmã apareceu, e quando me virei, o ganso escapuliu, e se juntou aos outros. Minha irmã disse que havia preparado outro ganso para mim, mais um insisti que queria aquele. Eu o peguei e levei para um amigo que sabia como se desfazer de coisas roubadas. mas a surpresa foi que, quando abrimos ganso, o carbúnculo não estava lá. Voltei para a casa da minha irmã e ela me disse que havia dois gansos com a mesma listra na cauda, mas que havia vendido todos eles no Covent Garden. Fui correndo ao mercado, mas o comerciante não me disse a quem havia vendido... E agora, o que será de mim? Meu Deus! - e se desmanchou em lágrimas.
Fez-se um longo silêncio e, por fim, Holmes se levantou e abriu a porta.
- Saia daqui! - disse a ele, muito sério.
- Deus abençoe! - ele falou e correu para fora da sala.
- No final das contas, a polícia não me contratou. Se Horner estivesse em perigo, não havia soltado Ryder, mas este homem ficou tão assustado que não testemunhará contra ele e não voltará a roubar.
Capítulo 4
O polegar do engenheiro
Entre os casos de Sherlock Holmes, houve um que chegou a ele por mim e foi realmente extraordinário.
Aconteceu no verão de 1889, um pouco depois do meu casamento. Eu exercia medicina novamente e havia deixado meu amigo em seu apartamento em Baker Street.
Um dia, bem cedo, fui chamado para atender um jovem ferido, com uma mão envolvida em um lenço manchado de sangue. Ele estava muito pálido e parecia bem alterado.
- Sinto muito tê-lo acordado, mas sofri um grave acidente esta noite. Cheguei de trem e perguntei por um médico na estação. 
Meu nome é Victor Hatherley, engenheiro hidráulico.
Ele tirou o lenço e estendeu a mão. Dava para ver que o polegar havia sido cortado e que sangrara muito.
- Isto foi feito com algo muito pesado e cortante. Foi um acidente, não?
- Nada disso, foi uma agressão. Terei que ir à policia, embora seja uma história tão extraordinária que duvido que acreditem em mim; não tenho provas.
- Nesse caso eu o recomendo que vá até o meu amigo Sherlock Holmes. Eu mesmo o acompanharei se quiser. 
- Sim, preciso contar o que aconteceu.
Fomos até a casa de Sherlock Holmes. Meu amigo estava com roupão lendo o jornal. Ele nos recebeu com sua habitual amabilidade e providenciou café da manhã para três.
Depois acomodou o engenheiro no sofá. 
- Sente-se e conte sua história. Se estiver cansado, descanse e tome um pouco de conhaque.
- Obrigado, já me sinto um pouco melhor. Trabalho por conta própria como engenheiro em um escritório em Londres, mas quase não tenho clientes. Ontem, chegou no escritório um homem alto e muito magro, o coronel Stark. Após comprovar que ninguém nos escutava, ele me disse que tinha uma missão secreta e a confiava a mim por ser órfão e solteira, já que assim a informação seria mais bem guardada. Eu não gostava do seu olhar insistente e pedi que se explicasse. Ele me ofereceu 50 libras por uma noite de trabalho, apesar de na realidade ser apenas uma questão de verificar uma máquina de prensa hidráulica e dizer o que havia quebrado, pois ele mesmo a consertaria. Eu deveria ir de trem à noite até Eyford e lá ele me apanharia em sua carruagem. Insistiu que me pagaria muito bem por ir àquela hora. Antes de aceitar, eu quis saber mais e ele me explicou que em seus campos haviam descoberto uma jazida de terra argilosa que tinha muito valor e que nos campos vizinhos havia ainda mais; porém como não tinha dinheiro para comprar esses campos, começou a extrair a argila escondido, assim juntaria o dinheiro para comprar os outros campos antes que os vizinhos soubessem seu verdadeiro valor. Para isso utilizava a prensa hidráulica. Eu o fiz perceber que era um maquinário enorme para um trabalho muito simples, mas ele disse que usava seu próprio método. Por fim, combinamos de encontrar em Eyford às onze da noite e eu lhe garanti que não contaria a ninguém. Ele me pegou na estação e me colocou dentro de uma carruagem puxada por um cavalo.
- Viu se o cavalo parecia bem disposto ou cansado?
- Oh, muito bem disposto. O trajeto durou uma hora. O coronel disse que eram apenas 10 quilômetros, mas eu calculei 18. Ele não falou e não parou de olhar para mim. A casa onde chegamos estava às escuras. De repente, uma porta se abriu uma mulher saiu com uma lamparina. Os dois conversaram em alemão e eu notei que ele estava assustado. O coronel me faz entrar em um quarto escuro, deixou a lamparina e foi embora. Dali a pouco, a mulher entrou apavorada e sussurrou em um inglês mal falado que eu devia ir embora antes que fosse tarde demais. Eu, que não queria perder 50 libras, disse a ela que ainda não tinha feito o meu trabalho. Ela insistiu, mas quando ouvimos uma porta batendo no andar de cima ela saiu correndo. O coronel chegou com um homem baixinho e gorducho que, pelo jeito de falar, pareceu ser inglês. 
Levaram-me para ver a máquina, passando por corredores e escadas. Ao final, o coronel parou diante de uma porta baixa e a destrancou.
Entramos em um quartinho quadrado. Ele me explicou que estávamos dentro da máquina e o teto era a prensa que descia até o chão com a força de toneladas. Eu saí e, ao baixar as alavancas do controle, detectei o defeito e expliquei o que era. Voltei ao quartinho, pois não acreditava nessa história de argila, e vi que não no chão havia restos de metal. Então, o coronel me viu, e, furioso, fechou a porta e ativou a máquina. Eu gritei desesperado que me deixasse sair. O teto já estava descendo sobre mim, quando vi um raio de luz entre a madeira da parede, que ia se alargando ao empurrar para trás um pequeno painel. Passei por esse buraco e caí do outro lado, exatamente quando escutei o rangido da lamparina e o choque do teto com o chão. Alguém puxou minha mão e vi a mulher de antes, que me obrigou a fugir. De repente, ouvimos vozes e a mulher me colocou em um dormitório para que eu pulasse pela janela. Subi no parapeito enquanto ela pedia ao rufião que meu deixasse ir embora: - “Você me prometeu que isso não aconteceria de novo. Ele não vai dizer nada!” - ela gritava; mas ela a empurrou, vejo com um machado até a janela a me desferiu um golpe. Minha mão se soltou e eu caí no jardim. Levantei-me e corri, mas fiquei enjoado e percebi que ele havia me cortado o polegar e sangrava muito. Caí desmaiado no roseiral. Era quase de manhã quando despertei e não vi nem a casa e nem o jardim. Eu estava perto da estrada, próximo à estação de trem. Lá ninguém conhecia Stark e, como a delegacia estava longe, vim até Londres.
Sherlock Holmes procurou um recorte de jornal em seu arquivo e leu que fazia um ano que outro jovem engenheiro havia desaparecido à noite. Depois disse: 
- Sem dúvida, o coronel é um homem capaz de tudo. Temos que nos apressar. Iremos a Scotland Yard e depois a Eyford.
Horas depois, o engenheiro, Holmes, o inspetor Bradstreet, outro policial e eu estávamos em um trem. Bradstreet traçou um perímetro circular em um mapa da região. 
- Disse que percorreu uns 18 quilômetros desde a estação - afirmou o inspetor. - Deve ser ao sul, onde não há vilas. 
Cada um deu uma opinião diferente até que Holmes apontou o centro do círculo. 
- Mas, e o trajeto de 18 quilômetros? 
- Contando a ida e a volta. Se o cabalo estivesse descansado seriam 9 quilômetros.
- Talvez, mas o que eles fazem?
- São falsificadores de moeda em grande escala - garantiu Holmes -, e utilizam a máquina para fazer metal.
- Nós vamospegá-los - garantiu o inspetor.
Mas não foi assim, porque ao chegar à estação de Eyford vimos um incêndio. Soubemos que a casa do doutor Becher havia se incendiado à noite.
- É um alemão muito alto e magro?
- Não, é inglês e gorducho, mas em sua casa vive um estrangeiro - esclareceram.
Corremos para lá e o engenheiro identificou as roseiras onde ele desmaiou.
- Sem dúvidas, sua lamparina de óleo ateou fogo nas paredes de madeira da prensa - disse Holmes -, mas ao persegui-lo, eles não perceberam. Temo que agora estejam longe.
E assim foi. Um camponês disse ter visto um carro muito rápido, com várias pessoas e caixas grandes, que deviam conter as moedas falsas, pois os bombeiros encontraram níquel e estranho, mas não em moedas.
No jardim havia pegada de duas pessoas, uma de pés pequenos e outra de pés grandes. Provavelmente o inglês ajudou a mulher a levar o engenheiro até a estrada. Os bombeiros ficaram muito perturbados quando encontraram um dedo polegar em uma janela do segundo andar.
Arthur Conan Doyle 
Este escritor escocês nascido em Edimburgo (1859-1930) era filho de católicos irlandeses. Estudou Medicina por decisão de sua família, mas deixou de exercer a profissão graças ao sucesso de suas narrativas sobre Sherlock Holmes. A partir daí ele se dedicou a escrever romances históricos, de ficção científica e livros de guerra. No entanto, toda sua obra se viu ofuscada pelo sucesso das aventuras de Sherlock Holmes, que foram publicadas incialmente em fascículos na revista Strand a partir de 1891, depois reunidas em um livro de doze aventuras em 1892. O personagem já havia aparecido em seu romance Um estudo em vermelho (1887), mas o acerto do autor foi escolher a forma de contos curtos, nos quais exaltava a extraordinária capacidade de observação e de raciocínio dedutivo do detetive. Sua popularidade o obrigou a seguir escrevendo contos sobre ele, apesar da vontade do próprio Conan Doyle.
Contexto Histórico
Embora o detetive Sherlock Holmes seja um personagem excêntrico, retrata perfeitamente o cavaleiro inglês da época vitoriana: eficiente e orgulhoso de si, confiante, determinado, individualista, patriota, que resolve tudo e faz justiça com as próprias mãos porque se considera superiormente qualificado para praticá-la. Este herói entusiasmou o público britânico da época, que sentia orgulho nacional de pertencer ao país mais poderoso do mundo. O longo reinado da rainha Vitória (1837-1901) corresponde à época de consolidação do Reino Único como primeira potência mundial, graças à grande expansão do Império Britânico e às mudanças socioeconômicas e tecnológicas trazidas pela Revolução Industrial.
No entanto, a prosperidade do Reino Unido se apoiava em uma realidade social cheia de injustiças e corrupção. Conan Doyle, fiel observador de seu tempo, mostra os crimes, intrigas, roubos e outras misérias, que existiam sob a rígida moral oficial da aparentemente impecável sociedade vitoriana.
O sucesso da série de histórias sobre Sherlock Holmes se deve também ao fato de que o autor ambientou na cidade de Londres, tal como era, descrita em detalhes em suas ruas, edifícios e costumes. O público leitor da época via como estavam próximos de crimes e mistérios em um cenário reconhecível e cotidiano.

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