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AULA I – INTRODUÇÃO AO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Prof. Ms. Adriano Felix 1. HIERARQUIA DAS NORMAS JURÍDICAS (“Pirâmide Normativa” de Hans Kelsen e Princípio da Supremacia da Constituição): todas as normas do sistema jurídico devem ser verticalmente compatíveis com o texto constitucional. A validade de uma norma está, assim, diretamente relacionada à sua conformidade com a Constituição. O controle de constitucionalidade consiste justamente na aferição da validade das normas face à Constituição. A partir desse controle, as normas são consideradas inconstitucionais / inválidas (quando em desacordo com a Constituição) ou constitucionais / válidas (quando compatíveis com a Constituição). Assim, é por meio do controle de constitucionalidade que se busca fiscalizar a compatibilidade vertical das normas com a Constituição e, assim, garantir a força normativa e a efetividade do texto constitucional. * “Pirâmide da hierarquia de normas”: 2. PRESSUPOSTOS DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE: a) Constituição escrita e rígida. Da rigidez, decorre o princípio da supremacia formal da Constituição, eis que o legislador ordinário não poderá alterá-la por simples ato infraconstitucional (cujo procedimento de elaboração é mais simples). Para que essa relação fique mais clara, basta pensarmos em um Estado que adote uma constituição flexível. Ora, nesse Estado, qualquer lei que for editada terá potencial para modificar a Constituição; não há, portanto, que se falar na existência de controle de constitucionalidade em um sistema de constituição flexível. A rigidez constitucional é, assim, um pressuposto para a existência do controle de constitucionalidade. b) Existência de um mecanismo de fiscalização das leis, com previsão de, pelo menos, um órgão com competência para o exercício da atividade de controle. O Poder Constituinte Originário deve definir quais serão os órgãos competentes para decidir acerca da ocorrência ou não de ofensa à Constituição e o processo pelo qual tal decisão será formalizada. O órgão competente para exercer o controle de constitucionalidade pode exercer tanto função jurisdicional quanto função política. No primeiro caso, integrará a estrutura do Poder Judiciário; no segundo, integrará a estrutura de outro Poder. No Brasil, compete ao Judiciário exercer o controle de constitucionalidade das leis, embora haja a possibilidade de os demais Poderes, em situações excepcionais, também realizarem esse controle. 3. ORIGEM HISTÓRICA DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. 3.1. Caso Marbury vs Madison (1803). O caso foi julgado em 1803 nos Estados Unidos, pelo Juiz John Marshall. Na ocasião, o juiz John Marshall afastou a aplicação de uma lei por considerá-la incompatível com a Constituição, realizando o controle difuso de constitucionalidade. A decisão é célebre, pois não havia previsão, na Constituição norte-americana, para a realização do controle de constitucionalidade. Mesmo assim, o juiz John Marshall o fez, consolidando a supremacia da Constituição em relação às demais normas jurídicas, bem como o poder-dever dos juízes de negar a aplicação às leis contrárias ao texto constitucional. 3.2. Constituição da Áustria, de 1920. A constituição austríaca, inspirada nas propostas de Hans Kelsen, criou um Tribunal Constitucional, órgão encarregado de exercer o controle abstrato da constitucionalidade das leis. Ao contrário do sistema americano (no qual qualquer juiz poderia decidir sobre a constitucionalidade das leis), o sistema instituído pela Constituição austríaca outorgava tal competência exclusivamente a um órgão jurisdicional especial. Esse órgão não julgaria nenhuma pretensão concreta, mas apenas o problema abstrato de compatibilidade lógica entre a lei e a Constituição. Assim, a Constituição da Áustria, de 1920, foi a primeira a prever um controle concentrado (abstrato) de constitucionalidade. 4. SISTEMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 4.1. Controle judicial (ou jurisdicional). Nesse sistema, é o Poder Judiciário que detém a competência para declarar a inconstitucionalidade das leis. Esse modelo nasceu nos Estados Unidos. 4.2. Controle político. Fica caracterizado quando o controle de constitucionalidade é realizado por órgão político, desprovido de natureza jurisdicional. Esse modelo é adotado pela França, no qual o controle de constitucionalidade é realizado por um Conselho Constitucional. 4.3. Controle misto. Nesse sistema, a fiscalização da constitucionalidade de algumas normas cabe ao Poder Judiciário; outros tipos de normas, por sua vez, têm sua constitucionalidade aferida por órgão político. 4.4. Sistema de Controle de constitucionalidade brasileiro? No Brasil, o sistema de controle é preponderantemente judicial. É do Poder Judiciário a competência para controlar a constitucionalidade de leis e atos normativos, mas há também alguns controles políticos. No entanto, o controle político não é por tipo de lei, ao ponto de excluir o Judiciário, conforme seria no controle misto. Por isso, a doutrina prefere nomear o sistema brasileiro como controle preponderantemente judicial. 5. MOMENTOS DE CONTROLE 5.1. Controle preventivo (ou “a priori”). Fica caracterizado quando a fiscalização de constitucionalidade incide sobre a norma em fase de elaboração, ou seja, incide sobre projeto de lei e de emenda constitucional. É um controle que se aplica no curso do processo legislativo. No Brasil pode ser de dois tipos: a) Controle político-preventivo. É realizado pelo Poder Legislativo e pelo Poder Executivo, incidindo sobre a norma em fase de elaboração. O controle preventivo feito pelo Poder Legislativo diz respeito ao trabalho das Comissões de Constituição e Justiça, que analisam as proposições legislativas quanto à sua constitucionalidade. Já o controle preventivo do Poder Executivo se manifesta através da possibilidade de veto presidencial a um projeto de lei em razão de sua inconstitucionalidade. Trata-se do chamado veto jurídico a um projeto de lei. b) Controle judicial-preventivo. Trata-se da possibilidade excepcional de que o STF analise se o direito dos parlamentares ao devido processo legislativo está sendo respeitado. Explico. O processo de elaboração das normas (emendas constitucionais, leis ordinárias, leis complementares, etc.) deve respeitar uma série de regras previstas na Constituição (quórum de presença, quórum de deliberação, impossibilidade de violação a cláusulas pétreas). Se as regras do processo legislativo forem desrespeitadas, abre-se a possibilidade para que o parlamentar (Deputado ou Senador) impetre mandado de segurança junto ao STF. Nessa situação, os parlamentares estarão, via mandado de segurança, tentando garantir o respeito ao seu direito líquido e certo ao devido processo legislativo. É importante observar que apenas os parlamentares é que terão legitimidade para impetrar mandado de segurança com vistas a garantir o cumprimento das regras do processo legislativo constitucional. Suponha, por exemplo, que esteja tramitando na Câmara dos Deputados uma proposta de emenda constitucional (PEC) que viole uma cláusula pétrea. Um Deputado poderá, então, impetrar mandado de segurança junto ao STF, a fim de que seja sustada a tramitação da PEC. Um cidadão jamais terá tal prerrogativa; a legitimidade é exclusiva dos parlamentares. Observação: o mandado de segurança deverá ser impetrado por parlamentar integrante da Casa Legislativa na qual a proposta de emenda constitucional ou projeto de lei estiver tramitando. É interessante notar que a perda da condição de parlamentar restará por prejudicar o mandado de segurança,extinguindo-o, por perda de legitimidade ad causam para propor a referida ação. O mandado de segurança também ficará prejudicado, por perda de objeto, caso o processo legislativo termine antes da apreciação do mérito pelo STF; em outras palavras, caso a PEC ou o projeto de lei sejam aprovados, o mandado de segurança perderá o objeto e será extinto. 5.2. Controle repressivo (“a posteriori”). Caracteriza-se pela fiscalização de constitucionalidade incidente sobre norma pronta, que já integra o ordenamento jurídico. a) Controle político-repressivo. Em regra, o controle repressivo é realizado pelo Poder Judiciário, que analisa a constitucionalidade de normas já prontas. No entanto, existe a possibilidade excepcional de que o Poder Legislativo realize o controle repressivo de constitucionalidade. Isso acontecerá em 2 (duas) situações diferentes: - O art. 49, V, CF/88, estabelece que é competência exclusiva do Congresso Nacional “sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa”. Esse controle se dá por meio de decreto legislativo expedido pelo Congresso Nacional, que irá sustar uma lei delegada ou um decreto presidencial. - O art. 62, CF/88 prevê que as medidas provisórias serão submetidas à apreciação do Congresso Nacional. Se a medida provisória for rejeitada pelo Congresso com fundamento em inconstitucionalidade, estaremos diante de um controle político-repressivo. b) Controle repressivo realizado pelos Tribunais de Contas. Destaca- se, ainda, que o TCU ou os Tribunais de Contas Estaduais e Municipais, ao exercerem suas atividades de Controle Externo, poderão, de modo incidental (em um caso concreto) deixar de aplicar lei que considerem inconstitucional. Nesse sentido, dispõe a Súmula 347/STF que “o Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos do Poder Público”. Note que a Corte de Contas não tem competência para declarar a inconstitucionalidade das leis ou atos normativos em abstrato, apenas podendo o fazer em casos concretos. c) Controle judicial-repressivo. Caberá aos juízes e Tribunais do Poder Judiciário efetuar o controle de constitucionalidade das normas prontas, já integrantes do ordenamento jurídico. Por meio do controle judicial- repressivo, fiscaliza-se a validade das leis e atos normativos do Poder Público, avaliando sua conformidade com a Constituição. QUESTÕES: 1. Considerando os conceitos do direito, julgue o item que segue. De acordo com a hierarquia das leis, a Constituição Federal está subordinada às leis complementares, pois elas regulamentam o que falta na Constituição. [ ] Certo. [ ] Errado. 2. No que concerne aos Tratados Internacionais de proteção dos direitos humanos e sua evolução constitucional no direito brasileiro à luz da Constituição Federal, eles são caracterizados como sendo de hierarquia a) supraconstitucional, independentemente de aprovação pelo Congresso Nacional. b) constitucional, dependendo de aprovação pelas duas casas do Congresso Nacional, pelo quórum mínimo de 3/5, em dois turnos, em cada casa. c) infraconstitucional legal, dependendo de aprovação pelas duas casas do Congresso Nacional pelo quórum mínimo de 3/5 de cada casa. d) infraconstitucional legal, independentemente de aprovação pelo Congresso Nacional, bastando a assinatura do Presidente da República. e) constitucional, independentemente de aprovação pelas duas casas do Congresso Nacional, bastando a assinatura do Presidente da República. 3. Acerca de normas constitucionais, teoria geral da constituição e análise do princípio hierárquico das normas, julgue o item a seguir. O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias não possui a mesma natureza jurídica das normas constitucionais inseridas na Constituição Federal de 1988 (CF), razão pela qual é de hierarquia inferior a estas. [ ] Certo. [ ] Errado. 4. Com relação às constituições em seus sentidos formal e material, julgue o item a seguir. As normas que integram uma constituição escrita possuem hierarquia entre si, de modo que as normas materialmente constitucionais ostentam maior valor hierárquico que as normas apenas formalmente constitucionais. [ ] Certo. [ ] Errado. 5. Considera-se mecanismo de controle político preventivo de constitucionalidade: a) a ação direta de inconstitucionalidade. b) o veto presidencial a projetos de lei. c) a argüição de descumprimento de preceito fundamental. d) o recurso extraordinário. e) a sustação congressual de ato do Executivo que exorbite dos limites de delegação legislativa. 6. Acerca da organização dos poderes, da organização do Estado e da advocacia pública, julgue os itens que se seguem. No âmbito do controle político de constitucionalidade repressivo, decreto presidencial que não observe os limites do poder regulamentar poderá ser sustado pelo Congresso Nacional. [ ] Certo. [ ] Errado. 7. Acerca do controle de constitucionalidade, julgue o item seguinte. Embora a regra geral do controle de constitucionalidade brasileiro seja o controle judicial repressivo, admite-se o controle político repressivo, por exemplo, quando o Congresso Nacional susta atos normativos do Poder Executivo que exorbitem os limites da delegação legislativa. [ ] Certo. [ ] Errado. GABARITO DAS QUESTÕES: 1 (Errado); 2 (b); 3(Errado); 4(Errado); 5 (b); 6 (Certo); 7(Certo).
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