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CEFAC Curso de Especialização Fonoaudiologia Clínica VOZ EFEITOS MEDICAMENTOSOS NA PREGA VOCAL “Organismo Humano... Buscas Incessantes... Achados e Perdidos...” WILMA THEREZA MEGALE REZENDE São Paulo 1997 CEFAC Curso de Especialização Fonoaudiologia Clínica VOZ EFEITOS MEDICAMENTOSOS NA PREGA VOCAL “Organismo Humano... Buscas Incessantes... Achados e Perdidos...” MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VOZ WILMA THEREZA MEGALE REZENDE São Paulo 1997 SUMÁRIO LISTA DE TABELA RESUMO 1 - INTRODUÇÃO 2 - DISCUSSÃO TEÓRICA 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS 4 - ANEXOS 5 - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 6 - GLOSSÁRIO RESUMO Este trabalho tem por finalidade mostrar como a laringe reage à ação farmacológica e familiarizar os profissionais da voz , principalmente os fonoaudiólogos da área da voz , sobre o impacto da droga no organismo e como isto pode alterar a função vocal. Em função disto , esse trabalho enfatiza a importância , a partir de vários procedimentos médicos no tratamento de doenças , dos cuidados especiais na administração da droga quanto à dosagem e tempo de uso aos pacientes profissionais da voz , assim como esclarecer os possíveis efeitos colaterais da droga na voz. Como Explicar? De repente , a folha se fazia dançarina , pela orquestração , em surdina , da ventania !... Soltou-se do ramo , planou , e se foi , num estranho bailar , como pluma a se agitar no ar ... Rodopiou , e se deixou levar pela mão do vento ... Último impulso , apenas um momento , antes de resvalar no chão para cumprir um ciclo , uma destinação ... Ao pó retornar , e seiva , sustento levar , em novo alento , à romaria , de onde partiu , um dia , nas asas da ventania ... Ilza Montenegro INTRODUÇÃO Este tema foi escolhido a partir da curiosidade que a muito me acompanhava: “Que efeito este remédio trará em mim ?!” ou “Será que não me fará mal ?!” . Porém , tais perguntas na sua maioria , eram acompanhadas de respostas evasivas. Em função de um desses acasos da vida , como diria minha avó , acabei me tornando fonoaudióloga , cuja formação está tanto no âmbito humano quanto no âmbito funcional. Com um conhecimento mais aprofundado da produção da fala e suas variáveis , assim como das patologias e seus tratamentos , minhas indagações que a princípio eram apenas curiosidades , passaram a ter um caráter científico. Como fonoaudióloga clínica , deparei-me inúmeras vezes com indagações de pacientes , principalmente aqueles profissionais da voz , à respeito dos medicamentos que estavam sendo ingeridos , que muitas vezes não eram prescritos com finalidade específica a um distúrbio da voz , com preocupações a respeito de sua qualidade vocal. Em outros momentos , deparei-me com um outro perfil de pacientes cujas indagações diziam respeito ao motivo pelo qual tomavam tal medicamento. Esta experiência clínica também é compartilhada por outros fonoaudiólogos que como eu , na sua maioria , não tem um conhecimento sobre esta área , até mesmo porquê , a nossa área clínica não nos remete a tais procedimentos. Aprimorando meu “saber”dentro da Especialidade Voz quanto aos aspectos envolvidos na fonação tais como: sistema psiconeurológico ; sistema respiratório ; musculatura extrínseca da laringe ; musculatura intrínseca da laringe ; mucosa da prega vocal ; trato vocal ; assim como , patologias da voz e seus tratamentos clínico, fonoaudiológico e cirúrgico, houve a necessidade de buscar um melhor conhecimento da área terapêutica atual que dispõe de um arsenal de substâncias medicamentosas. Movida pelo interesse e a necessidade de um conhecimento detalhado dos efeitos medicamentosos na produção vocal , busquei na literatura através de relatos , artigos e livros , referências ao assunto nos quais , novas pesquisas e estudos, assim como a continuidade destes, foram citados por alguns como necessário à fim de se obter maior número de dados e consequentemente condutas clínicas mais eficazes. 1 Os passos clínicos da fonoterapia são determinados primeiramente por uma anamnese detalhada aliada ao exame da condição física geral, afastando a presença de patologia. Sabe-se que a voz envolve complexas interações de todo o organismo e, diversas afecções dentro e fora da laringe podem acarretar, ou pelo menos, contribuir com a disfunção vocal (PINHO e TSUJI, 1996 ). É imprescindível ainda o exame otorrinolaringológico geral. A partir disto, faz-se necessário que nós fonoaudiólogos estejamos a par do quadro clínico geral do paciente, dos medicamentos ingeridos, para que estejamos cientes dos possíveis efeitos colaterais , relacionados ou não com uma disfunção vocal. Conduzindo desta forma nossa ação terapêutica. Todos os médicos que cuidam de profissionais da voz devem estar familiarizados com os fenômenos induzidos pela droga que podem alterar a função vocal (SATALOFF, LAWRENCE, HAWKSHAW, ROSEN, 1987 ). Qualquer profissional ao lidar com um grupo de pacientes mais selecionados, cuja profissão depende basicamente de uma adequada performance vocal, seja falada ou cantada, deve ter um conhecimento prévio dos medicamentos a serem administrados, expondo o paciente a uma margem pequena ou quase nula dos possíveis efeitos colaterais. O fonoaudiólogo como profissional da voz, precisa interar-se de tal assunto, mesmo que não faça parte de sua atuação clínica prescrever medicamentos, tornando-se um profissional com conhecimentos específicos, para interagir e/ou intervir com outros profissionais envolvidos. Assim, esse trabalho tem por finalidade mostrar através de um levantamento bibliográfico , que os efeitos da droga podem ser potencialmente prejudiciais à mucosa da prega vocal. 2 DISCUSSÃO TEÓRICA Buscando na literatura material para o desenvolvimento do trabalho, esbarrei-me inúmeras vezes com questões como : “saúde geral do paciente”, “hábitos de vida do paciente”, dentre outras, que levaram a pesquisar sobre o fundamento básico da farmacologia e como o organismo humano, mais especificamente o sistema laríngeo, reage a esta ação. 3 Desta forma, a revisão da literatura será apresentada em duas partes. A primeira parte irá deter informações sobre os princípios farmacológicos básicos e a Segunda parte mostrará as drogas e seus efeitos na fisiologia laríngea. 2.1 Princípios Farmacológicos Básicos: A princípio não havia um interesse em descrever o Sistema Nervoso Autônomo, porém com o decorrer do trabalho houve uma necessidade de buscar na literatura sua definição e o seu papel no organismo. O qual será abordado com uma breve revisão, na intenção de facilitar nossa compreensão dos caminhos percorridos pelos medicamentos no organismo, e como este reage de forma desejada e/ou indesejada. Segundo Guyton A C., em seu livro a Fisiologia Humana (1985), o sistema nervoso autônomo controla as funções internas do corpo. É dividido em dois componentes distintos: (1) o sistema nervoso simpático, também denominado sistema nervoso somático, aquele que relaciona o organismo com o meio e (2) o sistema nervoso parassimpático, também denominado sistema nervoso da vida vegetativa, relaciona-se com a inervação das estruturas viscerais. Os dois componentes são estimulados por múltiplos centros cerebrais, localizados, principalmente, no hipotálamo e tronco cerebral. Uma das diferenças fisiológicas entre o simpático e o parassimpático é que este tem ações sempre localizadas a um órgão ou setor do organismo, enquanto as ações do simpático, embora possam também ser localizadas, tendem a ser difusas atingindo vários órgãos. Porém ambos atuam de forma equilibrada. Assim, entre todas as funções simpáticas são especialmente importantes as de (1) controlaro grau de vasoconstrição na pele, (2) controle de sudorese pelas glândulas sudoríparas, (3) controle da freqüência cardíaca, (4) controle da pressão sangüínea arterial, (5) inibição das secreções e dos movimentos gastrintestinais e (6) aumento do metabolismo na maior parte das células do corpo. Quando os nervos simpáticos de uma pessoa tiverem destruídos, ela não consegue “ ligar seu motor ” , ou seja, não consegue 4 atingir os altos níveis de vigor que são, muitas vezes, necessários para a realização de atividades rápidas, intensas e excitantes. Já as fibras do sistema nervoso parassimpático no nervo oculomotor por exemplo, controlam a focalização dos olhos e dilatação das pupilas; as fibras parassimpáticas nos nervos vago e glossofaríngeo controlam a secreção salivar, a freqüência cardíaca, a secreção gástrica, a secreção pancreática e muitas das contrações da parte superior do tubo gastrintestinal; e, finalmente, as fibras parassimpáticas, de origem sacral, controlam o esvaziamento da bexiga e do reto. As diferenças farmacológicas entre o sistema nervoso simpático e parassimpático dizem respeito à ação de drogas. As drogas que imitam a ação do sistema nervoso simpático são denominadas simpaticomiméticas. Existem também drogas que imitam as ações do parassimpático e são denominadas parassimpaticomiméticas. Com esta breve abordagem, faz-se necessário uma introdução quanto à farmacologia. Droga, de modo amplo, é qualquer agente químico que afeta os processos vitais. A utilidade de uma droga para a terapia depende da sua capacidade de produzir efeitos desejados com efeitos colaterais apenas toleráveis. Para produzir seus efeitos característicos, a droga deve estar presente em concentrações apropriadas nos seus locais de ações, dependendo da extensão e da velocidade de sua absorção, distribuição, ligação ou localização nos tecidos, biotransformação e excreção. A absorção, distribuição, biotransformação e excreção de uma droga, envolvem sua passagem através das membranas celulares. Portanto, é essencial considerar os mecanismos pelos quais as drogas atravessam as membranas e as propriedades físico- químicas das moléculas e membranas que influenciam essa transferência. As características importantes de uma droga são seu tamanho e sua forma molecular, a solubilidade no local de sua absorção, o grau de ionização e a lipossolubilidade relativa das suas formas ionizada e não ionizada. 5 A absorção da droga, refere-se a velocidade com que uma droga deixa seu local de administração e a extensão em que isso ocorre. Assim, as drogas são absorvidas, distribuídas e excretadas. Embora existam vários tipos de excreções, os efeitos da maioria das drogas resultam da sua interação com os componentes macromoleculares funcionais do organismo, que funcionam como um receptor. Essa interação altera a função do componente celular pertinente e, dessa maneira, inicia a série de alterações bioquímicas e fisiológicas que são características da resposta da droga. A relação entre a concentração de uma droga (dose) e a magnitude da resposta que é observada (efeito) pode ser complicada por diversas considerações, como potência e eficácia. Os efeitos das drogas nunca são idênticos em todos os pacientes ou mesmo em determinado paciente em diferentes ocasiões. Em geral uma droga é descrita pelo seu efeito predominante ou pela ação considerada como base daquele efeito. Entretanto, essas descrições não devem obscurecer o fato de que nenhuma droga produz um único efeito. Quando ingerido medicamentos, deve-se ter em mente que as respostas da droga são individualizadas, pois sofrem influências de idade, sexo, estado de saúde, do organismo, do indivíduo, dentre outros, interferindo tanto quantitativa quanto qualitativamente. Segundo pesquisas do farmacologista F. GENE MARTIN (1983, 1984, 1988), há um fenômeno aceito sobre a influência da expectativa de um efeito no tipo e no grau obtido. Assim, quando uma droga é administrada com uma determinada dosagem e o efeito não é o esperado, normalmente, a dosagem é aumentada esperando um melhor resultado, tendo em mente a relação proporcional dose-efeito. Porém, pesquisas alertam que isto pode não ocorrer, pelo contrário, o indivíduo pode ter uma reação alérgica à droga, o que igualmente pode ocorrer com uma pequena dosagem. 6 A partir disto, considerou-se a hipótese de que o efeito esperado nem sempre ocorre, surgindo efeitos colaterais não desejados “que mais freqüentemente apresentam ramificações para a produção da voz” (MARTIN, 1983,1984,1988). Uma determinada droga, ao ser administrada tem uma importância maior na sua eficácia do que na sua potência. Com um acompanhamento médico, verificando o efeito terapêutico esperado e controlando os efeitos colaterais indesejáveis, a melhora torna-se mais rápida e eficaz na sua maioria. Esses princípios farmacológicos básicos, adicionados aos cuidados especiais no que se refere ao metabolismo da população idosa, é a base para um melhor entendimento da reação-resposta do organismo a um determinado medicamento. 2.2 Droga e Seus Efeitos na Fisiologia Laríngea: A laringe humana protege a via aérea da aspiração de fluídos e alimentos, tendo assim, a função biológica como papel fundamental. Segundo BOONIE e MCFARLANE (1994), a vocalização laríngea desempenha um papel vital na expressão tanto da comunicação emocional quanto na lingüística. Vários aspectos como coordenação e propriocepção, fluxo de ar, equilíbrio de fluídos, secreção do trato respiratório superior, estrutura das pregas vocais, auditivos e mistos (COLTON e CASPER, 1994) estão evolvidos na fonação normal. Qualquer alteração nestes aspectos, afetará de forma direta ou indiretamente na produção vocal. Particularmente, encontrei dificuldades em compreender de forma clara a reação do sistema nervoso central aos agentes químicos. Revendo a literatura, encontrei no livro de COLTON e CASPER, 1994, uma explicação mais resumida e objetiva dessas reações, que mostrarei a seguir. Quando o sistema nervoso central reage aos agentes estimulantes, incluindo as anfetaminas, o sulfato de dextroanfetamina (Dexedrina), a cocaína e o fenilpropanolamina - o agente ativo dos auxílios dietéticos; ou quando o sistema nervoso central reage aos 7 depressores, incluindo o álcool, os barbitúricos, os tranqüilizantes como o Diazepan (Valium) e o cloridrato e clordiazepoxida (Librium) e hidrato cloral, a coordenação, inclusive o controle motor fino do comportamento fonatório pode ser afetado. Segundo LUDLOW, SCHULZ e NAUNTON (1988), “o uso de Diazepan como um tratamento para disfonia ou outros distúrbios de movimento afetando a voz pode, em alguns indivíduos, resultar em uma piora dos sintomas” (p. 75,76) Segundo SATALOFF, LAWRENCE, HAWHSHAW e ROSEN, (1987),os antihistamínicos usados para tratar alergias afetam as glândulas salivares e as membranas que secretam o muco respiratório. Antihistamínicos são freqüentemente combinados com agentes “sympathomimetic ou parasympatholytic, que reduzem e espessam a secreção da mucosa e podem reduzir a lubrificação ao ponto de produzir uma tosse seca” ( p. 318 ). Antihistamínicos têm reações adversas como efeitos sedativos, prejudicando a sensibilidade e sonolência. Reações que são individualizadas e diretamente relacionadas a dosagem. Há outros fatores já conhecidos que não são medicamentosos, porém, ressecam as secreções das vias aéreas superiores como ressecamento do ambiente, freqüentemente encontrado nos vôos de aviões, em lugares com ar condicionado e em cidades cuja altitude é alta e o ambiente seco. O uso de medicamento para edema, como diuréticos e outros medicamentos não esteróides, devem ser rigorosamenteadministrados com acompanhamento médico devido aos efeitos colaterais causados pelo ressecamento. 8 O uso de um agente diurético por razões não diretamente relacionadas ao edema de prega vocal, pode reduzir o número de fluído normalmente desejável na mucosa laríngea ( COLTON e CASPER, 1990 ). Já os corticosteróides – agentes antiinflamatórios extremamente eficientes – podem ter efeitos colaterais como irritação gástrica, com provável úlcera e hemorragia, insônia, ressecamento leve da mucosa, mudança de humor e irritabilidade. Esteróides inalados são usados no tratamento da asma crônica, porém apresentam efeitos colaterais como: arqueamento de pregas vocais, dor de garganta e disfonia. Estes efeitos estão relacionados a dose e a todos os tipos de esteróides inalados. Tais achados foram relatados por WILLIANS, BAGHAT, STABLEFORTH, CAYTON, SHENOI e SKINNER (1983), numa pesquisa realizada com quatorze (14) pacientes que tomaram corticosteróides inalados. Tais sintomas desapareceram, alguns meses depois da discontinuidade da inalação com esteróide. A asma é acompanhada freqüentemente por: tosse, chiados, aspiração profunda e hiperventilação; fatores irritadiços que podem afetar o funcionamento laríngeo (WATKIN e EWANOWSKI , 1979). Estes autores relataram resultados com vinte e um (21) indivíduos asmáticos crônicos dependentes de esteróide específico – acetomida triancinolona em aerosol. Mudanças significativas foram observadas, que duraram até um (1) a dois (2) anos após o cessamento da droga. Freqüência fundamental da voz sofreu grande mudança. SATALOFF, LAWRENCE, HAWHSHAW e ROSEN (1987), recomendam o uso de esteróide somente se houver compromisso profissional, que está sendo dificultado pela inflamação da prega vocal. Além de alertarem quanto ao abuso do esteróide, apesar de os esteróides funcionarem muito bem. O uso prolongado de esteróide pode causar fadiga do músculo vocal. Sprays, vaporizadores e inaladores, não são recomendados para uso aos profissionais da voz, pois podem desenvolver inflamação de contato devido a sensibilidade aos 9 “propellants” usados nos inaladores, e também podem causar ressecamento da mucosa. A maioria dos inaladores não é recomendada para pessoas que usam a voz profissionalmente. Medicamentos contra tosse, freqüentemente incluem agentes que têm efeito colateral secundário de ressecamento nas secreções do trato vocal. Assim como, os medicamentos contra diarréia, alergia, resfriado, sinusite, doenças de movimento e insônia que possuem antihistamínicos. Quase todos os agentes hipertensivos ressecam as membranas mucosas das vias aéreas superiores. Tal como os medicamentos gastroenterológicos e o uso de forma inadequada da Vitamina C. Com relação aos analgésicos, estes devem ser evitados, pois o seu uso mascara a dor, uma função fisiológica de proteção importante, que não será reconhecida até que o efeito do analgésico passe, podendo prejudicar as pregas vocais quando o indivíduo tender a superenfatizar o uso da voz. Isto porque os analgésicos com efeito anestésico local como: a Benzocaína (Americain), a Lidocaína (Xilocaína), Cloridrato de procaína ( Novocain) ou Fenol, podem ser os principais ingredientes nas pastilhas e sprays. Medicamentos endócrinos podem afetar a qualidade vocal de forma temporária na sua maioria, porém sua administração deverá ser feita com supervisão médica periódica. O uso de aspirina deve ser administrada com muito cuidado, principalmente pelo usuário da voz profissional, pois a aspirina possui propriedades anticoagulantes, que ingerida concomitantemente com outro medicamento de conteúdo também acetilsalicílico ou pôr indivíduos que tenham um distúrbio de sangramento, corre um risco maior de hemorragia de prega vocal. A aspirina causa aumento da circulação sanguínea na periferia das pregas vocais. Com a associação do atrito de uma prega contra a outra, há um aumento da fragilidade capilar, ocasionando o estravazamento de sangue para fora dos tecidos (PINHO S.M.R, 1997). 11 10 Andrógenos, são utilizados no tratamento de desequilíbrio hormonal, no tratamento de endometrioses e como parte de quimioterapia para câncer da mama. Os halterofilistas utilizam tal medicamento para aumento de massa muscular, provocando aumento de massa das pregas vocais, resultando uma mudança de voz irreversível. Pesquisas com Danazol - um andrógeno sintético – mostram um rebaixamento do pitch da voz. A literatura reporta os Beta Bloqueadores como eficazes no combate da síndrome do medo, porém elas afetam o batimento cardíaco, pressão sangüínea, podendo ainda provocar ataques de asma em pacientes suscetíveis. Portanto, tal medicamento não é aconselhável para cantores. Os Broncodilatadores como: abulterol ( Proventil, Ventaolin), sulfato de metaproterenol ( Alupent) e outros são usados principalmente como agentes anti-asma. As drogas causam broncoconstrição mais freqüentemente como uma reação alérgica. Os efeitos podem variar de um desconforto mais suave e respiração dificultosa até um efeito significativo. Muitos irritantes ambientais como pólen, pó e fungos produzem efeitos semelhantes. Os medicamentos gastroenterológicos, na sua maioria pode provocar dor de cabeça, dor abdominal, náusea, diarréia, faringite, depressão, desidratação e rinites. Ocasionalmente também pode causar efeitos ressecantes suficientes para impedir a performance do paciente, seja ele profissional da voz ou não ( SATALOFF, LAWRENCE, HAWKSHAW, ROSEN, 1994 ). Com este breve levantamento bibliográfico, fica claro que todo medicamento deve ser administrado com cuidado e ter um acompanhamento médico periódico, acompanhando de perto os efeitos colaterais. As repostas para um medicamento sofre influências do metabolismo, da composição corpórea, idade, sexo, dentre outras. 12 Para SATALOFF, LAWRENCE, HAWHSHAW e ROSEN (1987), otimizar a relação entre os efeitos desejados e os efeitos colaterais não desejados requer uma individualização para cada paciente e especialmente em profissionais da voz, nos quais qualquer efeito colateral leve pode ser incapacitante. Portanto, uma avaliação cuidadosa com uma anamnese detalhada do paciente, deve ser mantida desde o primeiro contato. Tendo assim, um número maior de dados relevantes, associado a um conhecimento prévio dos efeitos colaterais na voz, pela ingestão de qualquer substância química pelo médico. Enfatizando sempre dos cuidados especiais no que se refere aos pacientes profissionais da voz, à fim de não prejudicar sua performance vocal, falada ou cantada. CONSIDERAÇÕES FINAIS 13 O objetivo na escolha de tal tema passou por modificações ao longo deste estudo. Partiu de uma simples curiosidade, a uma necessidade dentro da minha proposta de trabalho como terapeuta da voz. Vários caminhos percorri para finalização deste, alguns momentos de surpresa, com os dados obtidos; outros momentos frustrantes, por não conseguir compreender de forma mais objetiva o conteúdo da literatura médica e, conseqüentemente, não ter condições de transpor em uma linguagem mais clara para o campo da Fonoaudiologia, o que levou-me a concluir que tal estudo seria mais enriquecedor se compartilhado com um médico otorrinolaringologista. Mesmo assim, este trabalho foi de grande importância para o meu aprimoramento profissional dentro da Especialidade Voz, pois proporcionou-me informações mais detalhadas sobre os efeitos medicamentosos na prega vocal. À medida que os dados eram armazenados, novas informações eram adquiridas, algumas até então para mim desconhecidas, e novas indagações eram refeitas à partir da ausência de material brasileiro nesta área. Já se sabe, que devido aonosso clima tropical algumas fórmulas de certos produtos como a Coca-Cola tem seu conteúdo alterado para resistir enquanto produto ou ao consumidor. O mesmo procedimento é feito com as químicas utilizadas nos medicamentos, porém há pouco interesse na área de pesquisas brasileiras em mostrar e/ou descobrir quais os efeitos de diversas drogas sobre a mucosa laríngea. Muitos caminhos ao meu ver, devem ser percorridos dentro deste universo de pesquisa e dentro das trocas profissionais em um trabalho de equipe multiprofissional. Porém, a idéia inicial de SATALOFF, quanto à necessidade de um médico ao lidar com profissionais da voz, familiarizar-se com os possíveis efeitos colaterais, na minha opinião, resume de forma clara e objetiva a real importância dos 1cuidados essenciais ao se administrar, mesmo que em pequenas dosagens ou em um curto prazo de tempo, um simples comprimido. 14 Devemos programar nossa conduta terapêutica juntamente com os profissionais envolvidos, com um único propósito de oferecer melhores recursos e informações ao paciente, evitando assim surpresas desagradáveis. Como sugere SATALOFF (1991), em seu trabalho, todo profissional da voz, principalmente cantores e atores, devem sempre levar em suas viagens, em suas turnês prolongadas ou não, todos os tipos de medicamentos conhecidos e freqüentemente usados, estando prevenido para qualquer imprevisto como resfriados, alergias, dores de cabeça, dores gástricas entre outros incômodos. Nós, como terapeutas da voz, devemos sempre ter em mente que lidamos com umas das partes essenciais do homem a - voz - pois ela representa todas as nossas emoções, desejos, vontades e pensamentos. 15 GLOSSÁRIO: 1) ANFETAMINA: Possui ação estimulante do sistema nervoso central. Ao contrário da Adrenalina, ela é eficaz após administração oral e seus efeitos duram várias horas. 2) SULFATO DE DEXTROANFETAMINA: O sulfato de anfetamina é um pó branco, hidrossolúvel, apresentando-se em comprimidos de 5 e 10mg. O isômero d é apresentado como sulfato de dextroanfetamina, em cápsulas de liberação prolongada e 5, 10 e 15 mg. 3) FENILPROPANOLAMINA: Droga simpaticomimétiac, utilizada por via oral como descongestionante nasal; com melhor efeito sobre a rinite alérgica. 4) DROGAS BLOQUEADORAS b - ADRENÉRGICAS: Utilizadas no tratamento de distúrbios cardiovasculares, inclusive hipertensão, angina do peito e arritmias cardíacas. Ex.: Propranolol. 5) DIAZEPAM: É um dos Benzodiazepínicos, utilizados no tratamento da ansiedade e grande número desses compostos com propriedades sedativas, ansiolíticas, anticonvulsivantes e de relaxamento muscular. 6) BARBITÚRICOS: Drogas sedativo-hipnóticas, hoje substituídas pelos Benzodiazepínicos. Atuam deprimindo reversivelmente a atividade de todos os tecidos excitáveis, sendo o SNC extraordinariamente sensível, com efeito muito discreto sobre o músculo liso ou estriado cardíaco. 16 7) HIDRATO DE CLORAL: Assim como os barbitúricos, é dotado de reduzida atividade analgésica, podendo a dor originar excitação e delírio. 8) CORTICOSTERÓIDES: O córtex adrenal sintetiza 2 classes de esteróides: os corticosteróides e os androgênios. Os efeitos dos corticosteróides são numerosos e amplos. Eles influenciam o metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, o equilíbrio hidroeletrolético e as funções do sistema cardiovascular, dos rins, músculos esqueléticos, sistema nervoso e outros órgãos e tecidos. 17 BIBLIOGRAFIA Aronson, A. E. – Phisiology of the Larynx. In Aronson, A. E. Clinical Voice Disorder. New York Thieme Inc., pp. 15-18, 1985. Colton R. H. C., Casper J. R. – Understanting Voice Problems; A Phisicologient Perspective for Diagnosis and Treatment, 1990. Goodman and Gilman - As Bases Farmacológicas da Terapêutica, Editora Coogan – RJ ; Chapter 1, 2 e 3, pp. 1-41 , 1987. Guyton A C. – Fisiologia Humana, Ed. Guanabara – RJ; Chapter 4, pp. 155, 1985. Ludlow C. L. , Schulz G. M. , Nauton R. F. – The Effects of Diazepam on Intrinsic Laryngeal Muscle Activation During Respiration and Speech. In Journal of Voice, Vol. 2, No. 1, pp. 70-77, 1988. Martin F. G. – Drugs and Vocal Function. In Journal of Voice, Vol. 2, No. 4, pp. 338-344, 1988. 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